MENOS É MAIS: COMO CONSEGUIR IMAGENS de impacto COM POUCOS RECURSOS
Roberto Weigand é artista gráfico, ilustrador e capista. Colabora para as principais revistas e editoras do país. Trabalhou com infografia e ilustração na Revista Veja. Em 1999, recebeu o Prêmio Jabuti de Ilustração Infanto-juvenil e, no mesmo ano, iniciou seus trabalhos como capista da Revista Istoé, onde colaborou — por cinco anos — desenvolvendo um novo padrão de capas para a publicação. Este trabalho obteve reconhecimento nacional com o recebimento de dois prêmios ESSO de Criação Gráfica, em 2000 e 2002. Em 2004, deixou a revista e abriu sua empresa, a Lumpe Design Ilustração e imagem.
w w w. l u m p e d e s i g n . c o m . b r
roberto@lumpedesign.com.br
Apresentação Não apenas no início de carreira, mas durante todo o curso de nossa vida profissional, enfrentamos problemas comuns: a falta de recursos para viabilzar projetos, o despreparo técnico para lidar com determinadas situações, o gosto gráfico duvidoso por parte de chefes e clientes, etc… O design gráfico e editorial no Brasil ainda é pobre como indústria. O cliente típico de pequenos escritórios de design normalmente não está preparado para desembolsar alguns reais a mais para comprar fotos ou ilustrações, muito menos pagar produtoras (o que é isso?!), maquiadores ou modelos para que seu material gráfico tenha qualidade — e isso se reflita em uma imagem coorporativa séria e profissonal. Por outro lado, grandes agências e escritórios de design produzem design de qualidade internacional. Até porque as empresas que as contratam trazem uma cultura americana ou européia onde se valoriza o design como um meio de comunicação eficiente e que dá lucros. Em minha experiência profissional tive a oportunidade de encarar todas estas situações. Clientes que pagam por uma capa ou ilustração o faturamento médio de um mês do nosso estúdio, e outros que acham caro meio salário mínimo. Trabalhar com muitos recursos simplifica tudo, é mais bacana. Mas trabalhar com o mínimo nos obriga a criar soluções que podem ser bem mais ricas graficamente. De qualquer forma, é importante o designer saber o que pode ser feito com muitos ou poucos recursos. Isto sempre fará a diferença para novas oportunidades de trabalho. Roberto Weigand
Trabalhando com Imagens Criar imagens é um exercício intelectual, sensível e artístico. Mas é também resolver o problema do cliente. Uma boa imagem pode passar ao leitor o clima e o conteúdo da matéria, e neste caso, deve ser apresentada com destaque. Mas não é raro que editores e diagramadores usem ilustrações apenas para preencher espaços que sobraram na diagramação ou unicamente para deixar a página mais bonitinha. Independente do uso, há algum tempo ilustrações construídas com fotos têm tido bastante espaço em revistas, jornais e anúncios. E talvez todo o potencial desta linguagem ainda não tenha sido bem explorado. Há três formas básicas de utilização desta técnica. A primeira, é a montagem simples, “fusão cromática”, que consiste em juntar pedaços de fotografias em uma só imagem. A segunda, que exige um pouco mais de talento e criatividade, é a ilustração fotográfica, que difere da anterior por intervir de forma artística nas imagens. Uma grande vantagem desta forma de ilustrar é que ela não pede que as imagens tenham uma excelente qualidade, pois elas serão alteradas no produto final. Outra vantagem diz respeito ao tempo de execução, bem menor do que o de uma ilustração convencional, pois não se comeca do zero. No que diz respeito ao custo, podemos fazer algumas considerações. Uma imagem de alta qualidade comprada em um banco de imagens gira em torno de R$ 700,00. Se o trabalho for feito por um profissional da casa (com imagens de banco próprio ou royalties free) sai quase de graça, e se terceirizada, em torno de R$ 500,00 com a criação, ou entre R$ 200,00 a R$ 300,00, somente a execução. Não contabilizamos aí o incalculável valor artístico e intelectual de a publicação produzir material originalmente produzido para ela, o que não passa em branco para o leitor.
Usando objetos para ilustrar Eis bons exemplos de como se ilustrar com objetos. Para a matéria de Inteligência Artificial, propomos um Einstein robô. Para sua montagem, usamos pedaços de brinquedos, fios e até um pegador de macarrão para fazer o bigode. Para a matéria de economia, montamos o trem com coisas de escritório (clips, calculadora, caneta) e objetos metálicos como engrenagens de relógio, pesos e ferramentas.
A fotografia como matéria prima Ter um banco de imagens próprio é muito importante para quem trabalha com montagens ou ilustrações fotográficas. Pequenas editoras não fornecem fotos e não tem verba para comprar imagens para fornecer ao artista. Às vezes, uma simples foto de uma gravata ou uma lâmpada pode resolver o nosso problema. Mas ilustrar com fotos prontas é diferente que criar algo do zero. Ficamos sujeitos às imagens disponíveis. Então, para começar, esqueça o esboço e vá pesquisar imagens. Deve-se ter um olhar atento, pois as imagens é que vão sugerir as possibilidades de criação. Um bom banco de imagens deve ser organizado por temas para facilitar a procura, por exemplo, “violência”, “ciência”, “economia” e etc. As fontes dessas fotos podem ser CDs de imagens “royalty free” — de pessoas e objetos — ou sua própria máquina digital. Aliás, pode ser bem útil pegar sua digital e sair tirando fotos por aí: objetos do dia a dia — são os mais usados — brinquedos, coisa do escritório, roupas e etc. Uma imagem nunca deve ser desprezada por sua qualidade. Às vezes, com um bom tratamento, o resultado pode se tornar um estilo de ilustrar. Pedaços de imagens também podem ser ressaltados com resultados surpreendentes. É importante em tempos de internet ter cuidado com direitos autorais! Utilizar imagens dos outros pode virar uma dor de cabeça. Quando o cliente fornecer uma imagem, certifique-se que ele tem poder sobre os direitos autorais. Os contratos de cessão de direitos normalmente tem uma cláusula onde o autor (ilustrador) se responsabiliza pela origem das imagens.
Ilustrando com apenas um objeto O trabalho nesta imagem sobre preconceito foi “construir” tipos étnicos descriminados usando apenas um pino de boliche. Através de deformações e ajustes de saturação conseguimos fazer o pino caracterizar um obeso, um baixinho, um negro, um oriental, uma mulher e um homossexual.
Dois exemplos de como melhorar uma foto com uma certa habilidade e conhecimento de Photoshop. O cheeseburguer não era novo, foi mal embrulhado, enfim, não dava a menor vontade de devorá-lo. Redesenhamos o formato do pão e tiramos os amassados. O queijo teve que ser redesenhado. Os hamburgueres foram recuperados e limpos e a salada foi tirada de outra foto. No caso da cerveja, alguém resolveu tomar um gole antes, a garrafa estava suja e foto não tinha contraste. O copo foi recuperado apenas com o ajuste de curvas, em regiões selecionadas. A garrafa deu mais trabalho. Além dos ajuste de curvas, foi necessário limpar sua superfície, aumentar o nível da cerveja (é a mesma espuma do copo). As gotas de suor foram adicionadas no final.
Tirando leite de pedra Nas grandes redações, os editores de arte tem vários truques para melhorar suas imagens. Tirar interferências (objetos ou pessoas indesejáveis), unir em uma foto pessoas fotografadas em diferentes lugares, prolongar fundos para poder aumentar a área da foto — e assim melhorar a composição — e até mesmo tirar papadas e olheiras de personalidades idosas. No nosso dia a dia, também passamos por dificuldades. Nosso material fotográfico é muito ruim, na hora da foto tudo deu errado, a única referência que temos está na internet — e em baixa resolução. Não vamos nos desesperar. Para começar, uma foto digital que normalmente consideramos ruim tem 80% de chance de ser recuperada, com algum trabalho. Além dos tratamentos convencionais de curvas e níveis, podemos fazer um tratamento localizado (com seleção) em áreas que estão piores. Podemos trocar um fundo ou mesmo “causar” um efeito que disfarce a má qualidade. Além disso podemos redesenhar a foto, utilizando pedaços de outras fotos. Outro recurso pouco considerado pelos “photoshopeiros” é o misturador de canais (Channel Mixer). Usando com critério podemos recuperar cores e dar mais contraste à foto através do canal da cor preta. Aliás, os canais em CMYK são uma arma poderosa de selecão de áreas de tratamento. Também use com critério. O último recurso que temos é ilustrar sobre a foto. Dá uma canseira, exige algum talento, mas pode salvar o seu trabalho.
Quem apresentou o problema foi o editor. A foto do José Wilker estava com resolução insatisfatória. Havia a mão no queixo e ele não estava com a roupa de seu personagem. Unimos as duas fotos e disfarçamos a falta de qualidade com um novo fundo e uma textura de tela de pintura, que foi aplicada sobre a foto do ator. A mão foi retirada e seu rosto reconstruído utilizando como referência outras fotos do ator.
CHANNEL MIXER Outro recurso pouco considerado pelos “photoshopeiros” é o misturador de canais (Channel Mixer). Visualizando cada canal separadamente, percebemos que as áreas onde a tinta é depositada (marcada em preto) é diferente para cada cor de impressão. O misturador de canais consiste em projetar uma situação de cor de um canal em outro. No caso ilustrado aqui, a matéria sobre confinamento exigia mais impacto. Analizamos os canais de cor onde havia mais contraste. Eram eles o Cyan e o Black. Note que em fotografias coloridas de pessoas, o preto se encarrega apenas de dar volume para o rosto, e aparece quase sempre pouco preenchido, ao contrário dos outros canais. Projetamos os dois canais nos canais do Magenta e do Yellow, conseguindo um resultado mais constrastado, diferente de converter para grayscale ou mesmo tirar a saturação. O resto do serviço foi feito através de ajustes de curvas.
UTILIZANDO O QUE TEMOS À MÃO A capa da matéria sobre empregos sugeriu uma imagem onde uma cidade era construída de classificados de jornal. Usamos o programa Scketch Up para construir o panorama de volumes da cidade. O Scketch Up é um software de 3D simples , que não requer conhecimentos específicos de modelagem. Mas ele nos dá a volumetria e as sombras, de forma intuitiva. A imagem foi renderizada e exportada para o Photoshop, onde as máscaras onde entrariam os classificados foram feitas. Escaneamos alguns classificados e aplicamos nas máscaras, respeitando a perspectiva.
MODERNIDADE Para ilustrar uma matéria sobre novidades em informática, fomos para o lado inverso: montamos um computador feito de objetos antigos e utilidades de cozinha com o seguinte título ”Sua máquina está atualizada?”. A execução foi simples. Posicionamos os objetos recortados e aplicamos Layers de ajuste e saturação para deixá-lo no mesmos tom, deixando a impressão, à primeira vista, de ser um PC.
Crianças não identificadas Este é caso de imagem de capa e abre de matéria que surgiram de uma dificuldade. Tratava-se de uma reportagem sobre filhos de viciados em crack: “Os filhos do crack”. Por lei, deve-se preservar a identidade de menores de idade que passem por situações vexatórias. Normalmente, encobre-se os olhos do menor com tarjas ou cria-se um efeito de quadriculado. Na capa, optamos por não esconder os olhos das crianças e sim seus rostos, matendo a expressão comovente de seus olhares. No abre de matéria, partimos para uma linguagem mais gráfica, revelando apenas os olhos no meio do auto-contraste da foto.
O RAIO-X DA SAÚDE A matéria de Economia falava sobre o alto custo dos planos de saúde particulares, porém a imagem que ilustrou a matéria não teve custo nenhum. Utilizamos uma imagem de Raio-X de uma mão e a foto de uma nota de R$100,00 invertida e colorizada. Assim, conseguimos transmitir a idéia de que o paciente (a mão no Raio-X) paga um preço (a nota) alto pela assistência médica.
aPOCALIPSE Para a matéria sobre um eventual fim do mundo, utilizamos 4 imagens: um globo, uma foto de raios, uma de terra seca e outra de fogo. A textura da terra seca foi aplicada sobre o globo terrestre. Diferenciamos os continentes mudando a cor e dando volume. Os raios e o fogo foram aplicados em Layers no modo Hard Light.