Judaísmo - A minha jornada continua

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JudaĂ­smo: a minha jornada continua

Floriano Pesaro



Floriano Pesaro

JudaĂ­smo: a minha jornada continua

SĂŁo Paulo Antonio Floriano Pereira Pesaro 2018


AGRADECIMENTOS À minha avó, Gabriella Coen Pesaro, a meus pais, Lucília e Giorgio; a meus irmãos, Fábia e Eduardo; à minha esposa, Maria Eugênia; e a meus filhos, Rodrigo e Fernando, com muito carinho.

Foto: Acervo Digital do Autor

Umberto Pesaro, Eduardo Coen, Giugitta Piazza Coen, Gemma e Vittorio Camerini, Silvia, Elena e Giorgio Pesaro. 1948.

Foto: Acervo Digital do Autor

Com a minha avó, Gabriella Coen Pesaro.


S

ociólogo, político brasileiro, eleito Deputado Federal em

2014 pelo PSDB-SP com 114 mil votos. Vereador da cidade de São Paulo (2008 e 2012), liderou a bancada tucana por quatro vezes consecutivas e foi considerado o melhor parlamentar do Legislativo paulistano pela ONG Voto Consciente por duas vezes. Servidor público desde 1995, foi diretor de Projetos no Ministério da Educação durante o governo FHC, quando participou da criação e implantação do FIES e do Bolsa Escola (hoje Bolsa Família). Entre 2005 e 2006 foi secretário Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (governo José Serra), onde criou e implementou os programas “São Paulo Protege” e “Ação Família– viver em comunidade”, além do lançamento da inédita campanha “Dê mais que esmola, dê futuro”, que afastou do trabalho infantil mais de duas mil crianças na capital. Durante as gestões de Geraldo Alckmin à frente do Estado de São Paulo, foi secretário-adjunto da Casa Civil (2003-04) e Secretário de Estado do Desenvolvimento Social (2015-18), onde inaugurou seis novas unidades da rede de restaurantes populares Bom Prato, além de deixar mais seis autorizadas; ampliou e aprimorou a cobertura do Programa Vivaleite, maior programa de distribuição de leite in natura do Brasil; e ampliou para mais de três mil vagas de atendimento a dependentes químicos no Programa Recomeço.

Foto: Acervo Digital do Autor


EXPEDIENTE

Realização Floriano Pesaro

Coordenação e Conteúdo Mendy Tal

Diagramação/ Projeto Gráfico Renata Colombini Puosso


SUMÁRIO

Prefácio

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Apresentação

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Capítulo 1 – Política e Ética

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Capítulo 2 – Reflexões

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Capítulo 3 – Celebrações

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Palavras finais

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Foto: Acervo Digital do Autor

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PREFÁCIO

D

e tempos em tempos, sinto a necessidade de

compartilhar com vocês minhas ideias, minhas ações e minha produção intelectual. É no decorrer de alguns anos que aprimoro minha visão de mundo, que aperfeiçoo meu saber e que aplico tudo isso nas minhas ações. Com um trabalho incessante, que pude desenvolver em todas as escalas políticas, no universo municipal, estadual e federal, vou, a cada dia, desenvolvendo novos pensamentos e linhas de trabalho que quero comunicar a todos vocês. Este livro é uma nova coletânea de artigos e discursos que escrevi para uma infinidade de momentos. Minha relação com vocês, com a política e com nosso povo são, além das minhas reflexões, a fonte de onde bebo para criar este cabedal de escritos. Novamente, a ênfase é o meu caminho judaico, mas não posso deixar de agregar meu entendimento do mundo em que vivo e da minha relação com este mundo. Mas, como sempre o calendário judaico tem a riqueza de se ressignificar a cada ano, respeitando nossos ancestrais, nossa história e interpretando nossas datas mais sombrias e nossas datas mais alegres. Espero que esta coletânea possa mostrar a vocês quem fui e quem sou, compartilhando mais um pouco a minha identidade judaica. Boa leitura!

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APRESENTAÇÃO F

loriano Pesaro, sociólogo formado pela USP, não nega sua formação. Baseia seu desempenho

e esforço político – hoje é Deputado Federal pelo PSDB - na defesa das causas sociais. Coloca, a serviço de diversos segmentos da sociedade, a grande experiência adquirida em suas atuações nas três esferas do poder público. Foi vereador em São Paulo, Secretário-adjunto da Casa Civil e Secretário de Estado do Desenvolvimento Social, durante as gestões de Geraldo Alckmin à frente do governo paulista e ocupou cargos na administração pública: diretor de Projetos no Ministério da Educação, durante o governo FHC; secretário Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, no governo de José Serra. Acompanho sua jornada há um bom tempo. Floriano Pesaro é um realizador incansável. Sua trajetória é marcada por importantes realizações. Criou e implantou, por exemplo, o Programa de Financiamento Estudantil (FIES) e foi gestor do Programa Nacional da Bolsa Escola, ambas ações em âmbito nacional. Aprimorou a cobertura do Programa Viva Leite, de distribuição de leite in natura do Brasil e ampliou o atendimento a dependentes químicos no Programa Recomeço, na alçada do governo de São Paulo. Na esfera municipal, elaborou a Lei 15.276, que estabelece diretrizes para a Política Municipal de Prevenção e Combate ao Trabalho Infantil. Nesta edição de “Judaísmo: a minha jornada continua”, livro que apresento nesta abertura, Floriano Pesaro oferece uma coletânea de artigos e discursos escritos para diversas ocasiões, agrupados em três vertentes distintas: “Política e Ética”, ”Reflexões” e “Celebrações”. O livro, nas palavras de seu autor, é resultado da necessidade em compartilhar com os outros suas ideias, ações e produção intelectual. A coleção sustenta e ilustra o quanto a sua prática política está próxima de sua identidade judaica. O quanto preceitos e saberes ancestrais do povo judeu norteiam suas realizações. O primeiro deles, é Tikun Olam, o conceito de reparar o mundo. Entre os diversos textos desta coletânea há um dedicado exatamente a este princípio, que é o de promover ações para diminuir as mazelas sociais que enfrentamos, como fome, pobreza e desigualdade. O princípio da Tzedaká, cuja palavra significa justiça e está atrelado à ideia de caridade, também pilar de conduta judaica, é outro deles. Floriano aborda este tema no texto intitulado “Justiça e Caridade”. Os dez mandamentos, o nosso conjunto de leis, também são objeto de reflexão em “Os Dez Mandamentos e o Século XXI”, em que o autor aborda questões sobre a responsabilidade social. É justamente no âmbito de matérias e interesses judaicos e dos desafios cotidianos que se impõem aos judeus brasileiros e em todo o mundo, que eu e Floriano temos tido convivência mais próxima.

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Na qualidade de Presidente da Confederação Israelita Brasileira – CONIB, órgão de representação política da comunidade judaica no país, nos associamos na lida de ações que atendam a pleitos, reivindicações, direitos e anseios dos judeus brasileiros e na defesa da legitimidade do Estado de Israel. Em um momento em que muitos tentam demonizar Israel, que usam o termo antissionismo para praticar o clássico antissemitismo, em que discursos de ódio se propagam pela internet, Floriano Pesaro é uma corajosa voz dissonante. “Judaísmo: a minha jornada continua: ” está repleto de páginas em defesa do Estado Judeu, única democracia do Oriente Médio, cercado de vizinhos hostis, mas ainda assim uma nação próspera, empreendedora e feliz. Pesaro chama a atenção, por exemplo, para as ações equivocadas e malintencionadas do movimento de boicote a Israel. Fala de seu desapontamento por ver que um cientista como o físico britânico, Stephen Hawking (1942-2018) deixou-se levar por este movimento que, a título de protestar contra ações do governo israelense, acaba por promover o ódio e a discriminação. Também são objeto de seus escritos a guerra civil da Síria e a parcialidade dos organismos internacionais; o crescimento do antissemitismo na Europa e nos Estados Unidos; a atuação belicista do Irã e a ameaça que paira na busca do domínio da tecnologia de armas nucleares. São avaliações que merecem leitura e reflexão. São objeto de sua preocupação e de sua atenção tanto as grandes questões que envolvem a sobrevivência e a continuidade de Israel e dos judeus da diáspora, como a tradição expressa nas festas e preceitos. O calendário de celebrações judaicas oferece a ele combustível: a importância da liberdade, expressa em Pessach; a coragem e a resistência, embutidas em Chanuká; a renovação, presente em Rosh Hashaná. Volto aqui ao princípio do Tikun Olam. Segundo a tradição, é nosso dever aprimorar a obra divina, havendo espaço e tempo para que os seres humanos possam dar sua contribuição e aperfeiçoamento. Neste sentido, a teoria e a prática de Floriano Pesaro em sua jornada política somam-se na busca ativa por uma sociedade brasileira e por um mundo mais igualitário.

Fernando K. Lottenberg Presidente da Conib – Confederação Israelita do Brasil

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POLÍTICA E ÉTICA

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eu interesse pela política vem de há muito tempo.

Bem antes de escolher uma faculdade, já entendia que éramos responsáveis por trazer um bem maior para o povo brasileiro e assim comecei a me informar sobre os caminhos que poderiam me preparar para ser um político de bem. Escolhi então a sociologia, que é a área das ciências humanas que estuda o comportamento humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. Bem jovem, comecei minha jornada política no partido que mais combinava com minha visão de mundo, o PSDB. Meu entendimento da missão de um político sempre abrangeu a necessidade de ser uma pessoa ética, engajada e consciente dos anseios da população. Meu trabalho nestes anos todos é a pura expressão de minhas convicções, com a prioridade de atender aqueles que mais precisam, e tenho usado todos os meus recursos humanos para diminuir a desigualdade, para respeitar a diversidade com a busca da tolerância em nosso país. Certamente, a defesa do Estado de Israel e de toda a comunidade judaica faz parte da minha crença política, pois faço parte desta mesma comunidade e porque entendo que o judeu de hoje não pode prescindir de ter sua própria pátria.

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A Declaração de um País, de um Povo

Tive a honra e o prazer de receber grande parte da comunidade judaica em minha casa legislativa, a Câmara dos Vereadores de São Paulo, no passado dia 27 de Maio para prestar uma justa homenagem ao nosso querido cônsul Ilan Sztulman, agraciando-o com a Medalha Anchieta, por serviços prestados na cidade de São Paulo. Ao pesquisar sobre Israel, para compor meu discurso, deparei-me com uma joia rara e emocionei-me de tal forma que tenho que compartilhar com vocês. Coube-me conhecer a Declaração de Independência do Estado de Israel. Sempre soube dos fundamentos, da história, da base religiosa e da tradição que embasam o surgimento desta nossa nobre nação, mas, em tempos de mídia tendenciosa, políticas fundamentalistas e falta de interlocutores responsáveis, a descoberta deste texto lapidar foi um bálsamo. Afinal, uns e outros conclamam leviana e acintosamente boicotes contra Israel como se se estivessem convocando pessoas para assistirem a um jogo de futebol, como se fossem grandes cientistas sociais, ou conhecedores dos contextos políticos das regiões envolvidas. Será que algumas dessas pessoas se dignaram a pesquisar como surgiu Israel, qual é o país que foi estabelecido no dia 14 de Maio de 1948 (05 de Iyar de 5708)? Pois, eis então a tradução da Declaração do Estabelecimento do Estado de Israel: ERETZ-ISRAEL [(Hebrew) - A Terrra de Israel foi o lugar de nascimento do povo judeu. Aqui, sua identidade política, religiosa e espiritual foi moldada. Aqui, eles conheceram pela primeira vez sua condição de Estado, criaram seus valores culturais, de importância nacional e universal e deram ao mundo o Livro dos Livros. Após serem exilados depois de sua terra, o povo manteve a fé com eles durante sua Dispersão e nunca deixou de rezar e esperar por seu retorno à sua terra e pela restauração de sua liberdade política na mesma. Motivados por este vínculo tradicional e histórico, os judeus se empenharam em sucessivas gerações em se restabelecerem em sua antiga terra natal. Nas décadas recentes, eles cá retornaram em grandes quantidades. Pioneiros, ma'pilim (Hebrew) – imigrantes chegaram a Eretz Israel desafiando a legislação restritiva e defensores, ressuscitaram o língua hebraica, fizeram o deserto florir, construíram vilarejos e cidades e criaram uma comunidade próspera, que controla sua própria economia e cultura, que ama a paz, mas que sabe se defender, trazendo as bênçãos do progresso para todos os habitantes do país e ansiando por tornar-se nação independente. No ano de 5657 (1897), com a convocação do pai espiritual do Estado Judeu, Theodore Herzl, o Primeiro Congresso Sionista reuniu-se e proclamou o direito do povo judeu ao renascimento em seu próprio país.

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O direito foi reconhecido na Declaração de Balfour de 02 de Novembro de 1917 e reafirmado no Mandato da Liga das Nações que, em particular, deu sanção internacional à conexão histórica entre o povo judeu e Eretz Israel e o direito do povo judeu de reconstruir seu Lar Nacional. A catástrofe que recentemente havia atingido o povo judeu – o massacre de milhões na Europa – foi outra declaração da urgência de solucionar o problema de sua falta de um lar ao restabelecer em Eretz Israel o Estado Judeu, o que abriria as portas da terra natal para todo judeu e conferiria ao povo judeu o status de membro com privilégios amplos do comitê das nações. Sobreviventes do holocausto nazista na Europa, assim como judeus de outras partes do mundo continuaram a emigrar para Ertz Israel, sem deixarem se intimidar pelas dificuldades, restrições e perigos e nunca cessaram de reivindicar seu direito a uma vida de dignidade, liberdade e labuta honesta em sua lar nacional. Na Segunda Guerra Mundial, a comunidade judaica local contribuiu plenamente com as nações amantes da liberdade e do amor à paz contras forças do mal nazista e, através do sangue de seus soldados e de seus esforços de guerra, ganhou o direito de ser reconhecida entre os povos que fundaram as Nações Unidas. Em Novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas passou uma Resolução convocando o estabelecimento do Estado Judeu em Eretz Israel; a Assembleia Geral exigiu que os habitantes de Eretz Israel tomassem certos passos necessários de sua parte para a implementação dessa resolução. Este reconhecimento pelas Nações Unidas do direito do povo judeu de estabelecer seu Estado é IRREVOGÁVEL. Este direito é o direito natural do podo judeu de ser mestre de seu próprio destino, como todas as outras nações, em seu próprio estado soberano. Consequentemente, nós, os membros do Conselho do Povo, representantes da Comunidade Judaica de Eretz-Israel e do movimento sionista, aqui reunidos no dia da cessação do Mandato Britânico sobre Eretz-Israel e, em virtude de nosso direito natural e histórico, e na força da resolução da Assembléia Geral da ONU, pela presente declaramos o estabelecimento de um Estado judeu em Eretz-Israel, a ser conhecido como ERETZ ISRAEL, Estado de Israel. Declaramos que, com efeito, a partir do momento do término do mandato hoje à noite, na véspera do Shabbat, dia 6 de Iyar de 5708 (15 de maio de 1948), até o estabelecimento das autoridades, regulares eleitas do Estado, de acordo com a Constituição que será adotada pela Assembléia Constituinte Eleita no mais tardar a 01 de outubro de 1948, o Conselho do Povo atuará como Conselho Provisório de Estado, e seu órgão executivo, a Administração do Povo, será o Governo Provisório do Estado Judeu, a ser chamado de "Israel".

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O ESTADO DE ISRAEL ESTARÁ ABERTO PARA IMIGRAÇÃO JUDAICA E PARA O RECEBIMENTO DE EXILADOS; IRÁ PROMOVER O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS PARA O BENEFÍCIO DE TODOS OS SEUS HABITANTES; SERÁ BASEADO NA LIBERDADE, JUSTIÇA E PAZ COMO IMAGINADO PELOS PROFETAS DE ISRAEL, ASSEGURARÁ COMPLETA IGUALDADE DE DIREITOS SOCIAIS E POLÍTICOS A TODOS OS SEUS HABITANTES, INDEPENDENTEMENTE DE RELIGIÃO, RAÇA OU SEXO, IRÁ GARANTIR A LIBERDADE DE RELIGIÃO, CONSCIÊNCIA, LÍNGUA, EDUCAÇÃO E CULTURA, IRÁ PROTEGER OS LUGARES SAGRADOS DE TODAS AS RELIGIÕES, E SERÁ FIEL AOS PRINCÍPIOS DA CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS.

O Estado de Israel está preparado para cooperar com as agências e representantes das Nações Unidas a implementar a resolução da Assembléia Geral de 29 de Novembro de 1947, e tomará medidas para trazer a unidade econômica de toda Eretz-Israel. Fazemos um apelo às Nações Unidas para assistir o povo judeu no construão do seu Estado e para receber o Estado de Israel no cocílio das nações. Apelamos - exatamente em meio ao ataque lançado contra nós há meses - aos habitantes árabes do Estado de Israel para que mantenham a paz e participem da construção do Estado baseando-se em uma cidadania plena e igual, através de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes. Nós estendemos nossa mão a todos os estados vizinhos e seus povos numa oferta de paz e boa vizinhança, e apelamos a eles para estabelecermos laços de cooperação e ajuda mútua com o soberano povo judeu, estabelecido em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para fazer a sua parte em um esforço comum para o desenvolvimento de todo o Oriente Médio. Nós apelamos ao povo judeu em toda a Diáspora para que se unam aos judeus de Eretz-Israel nas tarefas de imigração e construção e que os apoiem na grande luta para a realização do antigo sonho - a redenção de Israel. Colocando nossa confiança no "Rocha de Israel", afixamos nossas assinaturas a esta proclamação nesta sessão do Conselho de Estado provisório, sobre o solo da pátria, na cidade de Tel-Aviv, neste sábado 5º dia de Iyar de 5708 (14 de maio de 1948).

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David Ben-Gurion Daniel Auster

Rachel Cohen

Moshe Kolodny

Mordekhai Bentov

Rabbi Kalman Kahana

Eliezer Kaplan

Yitzchak Ben Zvi

Saadia Kobashi

Abraham Katznelson

Eliyahu Berligne

Rabbi Yitzchak Meir Levin

Felix Rosenblueth

Fritz Bernstein

Meir David Loewenstein

David Remez

Rabbi Wolf Gold

Zvi Luria

Berl Repetur

Meir Grabovsky

Golda Myerson

Mordekhai Shattner

Yitzchak Gruenbaum

Nachum Nir

Ben Zion Sternberg

Dr. Abraham Granovsky

Zvi Segal

Bekhor Shitreet

Eliyahu Dobkin

Rabbi Yehuda Leib Hacohen

Moshe Shapira

Meir Wilner-Kovner

Fishman

Moshe Shertok

Zerach Wahrhaftig

David Zvi Pinkas

Herzl Vardi

Aharon Zisling

Se as pessoas se dignarem a ler o que os fundadores deste país inigualável idealizaram para o estado de Israel, perceberiam que o intuito e a determinação do povo judeu é a paz. Já sofremos muito, já lutamos muito. Queremos viver e crescer. Queremos nos tornar um povo livre em nossa terra, para

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reverenciar a Rocha de Israel.

Jerusalém, capital de Israel.

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A Guerra Mundial da Síria Há 7 anos começava um conflito que hoje preocupa e envolve os maiores jogadores do cenário mundial. O que era um conflito entre o governo sírio e rebeldes que queriam derrubá-lo se transformou em uma das maiores carnificinas do século XXI. A história conta que os rebeldes contra o governo eram, entre si, várias facções com diferentes plataformas e frágeis alianças, mas dispostos a demover o governo para atingir um grau maior de liberdade civil e religiosa. Num curto período, rebeldes conseguiram fazer frente ao exército de Bashar Al-Assad, mas aliados como a Rússia, o Irã e o grupo terrorista Hezbollah conseguiram que os militares rechaçassem o avanço rebelde. Hoje, temos vários atores com suas próprias agendas. De forma resumida, a Turquia quer combater os curdos do norte da Síria, o Irã quer derrotar os rebeldes sírios apoiados pela Arábia Saudita, os EUA estão focados no Estado Islâmico e Putin ganha terreno político ao "enfrentar o Ocidente". Alianças e rivalidades se sobrepõem, com apenas um vencedor: Bashar al-Assad. Ele pode estar lutando contra o Estado Islâmico pelo controle da Síria, mas é a ascensão do ISIS que o mantém no poder. Os dados de fatalidades nesta guerra são grandiosos. Em 2016, de uma população estimada em 22 milhões antes da guerra, a Organização das Nações Unidas (ONU) identificou 13,5 milhões de sírios que necessitam de assistência humanitária, dos quais mais de 6 milhões estão internamente deslocados dentro da Síria e cerca de 5 milhões são refugiados fora da Síria. E a desgraça continua. A Siria hoje está completamente destruida, desprovida de qualquer estrutura, com suas cidades arrasadas pelas bombas. O presidente simplesmente escolhe ficar no seu cargo ao invés de garantir a vida de sua população. Mesmo quando houve conversações para buscar uma paz, Assad simplesmente se recusou a abrir mão da presidência. Com tudo isso, o mundo deveria se preocupar com o cabedal de armas ilegais e evidentemente perigosas que estão sendo utilizadas ou armazenadas no país. O presidente não tem o menor pudor em lançar armas químicas contra suas cidades. Com o apoio tácito da Russia, ele fez uso destas armas para garantir sua vantagem territorial. Nem mesmo o ataque americano como represália à utilização destas armas, fez com que Bashar se intimidasse e ele continuou a fazer uso deste armamento proibido pelo resto do mundo. Mais além, Israel denunciou que o Irã fez da Síria uma ponta de lança para seus projetos militares e lançamento de mísseis de última geração.

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Numa ação extremamente corajosa, após informações cruciais levantadas pelo seu Serviço Secreto, o Mossad, Israel destruiu mais de 200 mísseis de alta potência. Os documentos estão aí para provar. A profecia de que o Acordo Nuclear assinado pelo Irã, Alemanha e mais os cinco integrantes do Conselho de Segurança da ONU seria completamente desconsiderado, aconteceu. A Guerra da Síria está se provando muito perigosa para Israel. Além de termos os terroristas do Hezbollah ao lado de nossa porta norte, prometendo a destruição de nosso país, o conflito chamou para nosso quintal o perigo de um Irã nuclear. Com toda a desgraça que esta guerra já produziu para o pobre povo da Síria, devemos ficar alertas para que o conflito nao se estenda à nossa terra. Por enquanto, precisamos repudiar com todas as nossas forças o uso de armas químicas e devemos manter um alerta e eliminar qualquer sombra de risco para Israel, mesmo se nossas ações não tenham

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o aplauso da mídia. Já estamos acostumados com isso.

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A Irreparável Timidez da ONU A Organização das Nações Unidas é uma organização internacional fundada em 1945 após a Segunda Guerra Mundial por 51 países comprometidos com a manutenção da paz e da segurança internacionais, desenvolver relações amistosas entre as nações e promover o progresso social, melhores padrões de vida e direitos humanos. Desde a sua criação o mundo tem a ONU como o baluarte da razão e do consenso mundial. É fato. Nós mesmos, judeus, emocionamo-nos às lágrimas ao lembrarmos a data de 16 de Setembro de 1947 quando, sob a batuta do brasileiro Oswaldo Aranha, foi aprovado o plano da Partilha da Palestina, possibilitando a criação do Estado de Israel. A ONU é responsável por incontáveis ações humanitárias, educacionais, de desenvolvimento sustentável e justiça social e tem buscado ajudar populações mais vulneráveis deste planeta. Em sua história, a ONU foi fórum de debates importantes para a preservação da paz mundial e foi fundamental para o final de crises importantes como a da Baía dos Porcos, nos anos 60 e particularmente da Guerra Fria. A ONU teve papel protagonista também durante a fatídica Guerra do Vietnã. Foi importante para acabar com a crise da Sérvia e muitos outros conflitos na história moderna. Desde sua formação, a Organização criou agências especializadas em áreas específicas de atuação, como a UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a OMS Organização Mundial da Saúde, a AIEA Agência Internacional de Energia Atômica, entre tantas outras, para melhor servir o povo dos países afiliados no que tange às tantas questões que afligem as gerações deste nosso século. No entanto, hoje estamos aqui analisando uma grande vulnerabilidade desta nobre organização. Nos últimos tempos, a ONU tem fracassado em implementar planos de paz que impeçam massacres ignóbeis como este que têm virado rotina na Síria. Sua capacidade de ação diante de ditadores assassinos é quase nula. Negociadores hábeis e dignos como os secretários gerais U Thant, Javier Perez de Cuellar, Kofi Annan e e Ban Ki moon não conseguem avaliar o tamanho do mal e da sede de poder que residem na alma de cada líder sanguinário que comanda ou comandou tropas em, Ruanda, Somália, Sudão e, atualmente, na Síria. Não é só este fator que inibe e impede uma ação mais efetiva de polícia e de controle das forças de paz da ONU. A Organização, quando se vê diante de problemas eminentemente políticos, territoriais, não consegue obter consenso de seus membros, que obedecem suas próprias agendas e esquecem os valores básicos de integridade humana.

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Assim, tanto em votações dos países com direito de veto, quanto todos os outros membros, cada qual busca seus interesses e alianças locais convenientes e isto pode inviabilizar uma ação mais coerente da ONU. A verdade é que causa uma grande frustração verificar que o mundo se revolta com massacres e mais massacres acontecendo na Síria e não há um organismo mundial capaz de agir com a humanidade necessária para impedir isto ou responsabilizar os culpados por esta carnificina. Deveremos ser capazes de criar uma outra dinâmica dentro desta organização tão basilar para o planeta que seja suprapolítica, que se limite a resguardar a dignidade humana de um povo, para que ele não se

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torne refém de políticos assassinos.

Edifício da ONU em Nova Iorque.

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A Onda Infame de um Gesto Estamos em uma época perigosa. Pensamos que o mundo andava mais civilizado, que as dolorosas lições de duas Guerras Mundiais haviam ensinado a Europa sobre a imbecilidade do ódio. Mas, claramente, este não é o caso. Infelizmente, cada vez mais, sinais alarmantes surgem no velho continente. A última moda abjeta surgida na França é a tal da quenelle, o gesto nazista ao contrário criado por um comediante francamente antissemita chamado Dieudonné M’bala M’bala. Explorando um humor azedo e divagando desvarios, este personagem maléfico usa expressões como “IsraeiHeil,” e “Shoahnanas” fazendo um trocadilho com a palavra Shoá e ananás, que significa abacaxi em inglês, além de ter comentado em seu show que estava triste por não existir mais as câmaras de gás para poder enviar um certo jornalista judeu para lá. Dieudonné concorreu para uma vaga no parlamento pelo partido ultra nacionalista de Le Pen e declarase violentamente antissionista e contra o sistema, o qual diz ser mantido por judeus. Este suposto comediante convidou também Robert Faurisson, um importante escritor francês que nega o Holocausto, para ser estrela de seu show. Tudo isso seria nojento, mas limitado, se Dieudonné não fosse atraente a uma plateia de jovens franceses sem perspectivas que vive na periferia e se sente oprimida pela fobia contra o Islã e acaba misturando tudo: raiva contra o sistema, raiva contra Israel, antissemitismo. Assim, em um de seus vídeos, Dieudonné chama a quenelle, o gesto nazista, como símbolo de “fé e coragem” e este foi o estopim da uma onda de propagação dos gestos que é lamentável e condenável. Personagens formadores de opinião o replicaram, nazistas infames fizeram o gesto diante de Auschwitz, vários jovens franceses o fizeram diante da escola de Toulouse onde foram assassinados quatro judeus. Quer dizer, uma onda se alastra e não podemos ficar indiferentes. As autoridades francesas têm se mostrado diligentes e cancelaram os shows de Dieudonné e buscam processá-lo de todos os modos, mas temos que fazer nosso papel: divulgar para que todos saibam e se indignem diante do que ocorre na França. O judaísmo e os judeus sofrem mais uma vez na Europa. 29% dos franceses dizem ter sentido na pele o antissemitismo nos últimos dois anos e afirmam ter histórias pessoais. Enquanto que a emigração para Israel no mundo subiu 1% em 2013, a França contribuiu com 49%, principalmente pela sensação de antissemitismo. Muitos analistas que sempre tiveram uma ideia mais amena do antissemitismo europeu, começam a suspirar mais profundamente ao pensar no quadro que se desenha. Nossas armas são as palavras, as ações punitivas, as demonstrações de repúdio. Que não sejamos testemunhas novamente da desumanidade.

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A Perigosa Fanfarrice do Irã O Irã. Antigo Império Persa. Terra de grandes sagas, descobertas, esplendor. Hoje, um país refém de governantes dissociados de qualquer sentido de coexistência entre nações e mesmo outros dentro de sua própria terra. Todos os dias lemos notícias desvairadas originadas no Irã e que desafiam qualquer lógica. Há muito que o país governado pelo insano Mahmoud Ahmadenijad vem desafiando o organismo máximo regulador de todas as nações, a ONU, e vem fabricando urânio enriquecido. Não só isso, o Irã também desafia a comunidade internacional enviando armas ilegais para a Síria, o Afeganistão e o Talebã. O relatório apareceu no website do Comitê de Segurança da ONU. Também, numa outra tentativa de bloquear toda e qualquer negociação sobre a fabricação de urânio enriquecido para fins bélicos, o Ministro da Inteligência do Irã, após dias de discursos altamente inflamatórios, acusou a França e a Alemanha de assassinarem seus cientistas nucleares. Obviamente, isto não impediu que o Irã fizesse testes com mísseis. Diante das sanções que a Comunidade Europeia e os Estados Unidos impuseram ao Irã, eis que a mídia e os generais iranianos começam a falar no bloqueio do estreito de Ormuz, por onde passa 20% do total das exportações mundiais de petróleo. Mas por que nós deveríamos nos importar com tudo isso? Qual é nosso interesse específico em saber e agir contra os descalabros das autoridades iranianas? O que deve nos sobressaltar e motivar contra o estado iraniano é a sistemática perseguição de Mahmoud Ahmadenijad e seus lacaios contra o povo judeu e o Estado de Israel. Para eles, a aniquilação de nossa terra e nosso povo é quiçá mais importante do que o próprio bem estar dos seus semelhantes. Sua insistência em desobedecer a ONU e fabricar armas nucleares tem o objetivo de nos destruir, sua retórica busca nos denegrir. Suas alianças têm sempre em mente criar uma frente anti-Israel. Suas alegações são tão inflamatórias e irracionais que poderiam parecer delírios, mas, poderíamos dizer que ninguém acreditaria na Inquisição ou na tese de uma raça pura e, infelizmente, o passado provou que devemos estar alertas. No último dia 26 de Junho, o vice-presidente do Irã, Mohammad Reza Rahim, declarou que os “sionistas” estimulam o tráfico de drogas, mas não as usam. Aliás, esta foi uma entre as dezenas de asneiras que este senhor proferiu e pelo menos 10 diplomatas ocidentais estavam em Teerã para ouvir. Parece que o governo do Irã não sabe que tráfico de drogas é motivado por dinheiro e não por considerações ideológicas, e o vício das drogas é um desafio do campo da saúde e da esfera social, que afeta todos os povos, de todos os tipos, raça, gênero e credo, e da mesma maneira. Responsabilizar o povo judeu por essa vulnerabilidade da sociedade é mostrar o nível de paranoia contra o povo judeu. Toda esta retórica poderia ser excentricamente cômica se não fosse potencialmente trágica. Devemos todos falar, escrever e buscar com que as autoridades de todas as instâncias se manifestem contra estes abusos para que isto não extrapole.

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A Herança dos Últimos Anos É inegável o carisma de nosso presidente Lula. Creio que não devemos desconstruir a excepcional imagem que o Lula criou no mundo, aplaudido quatro vezes em Copenhague e saudado em Davos como "Estadista Global", pois ele será o grande vendedor do Brasil a partir de 2011, qualquer que seja o novo presidente. Essa desconstrução poderia ser entendida como atitude de lesa-pátria. Todavia, seu veio populista e assistencialista, juntamente com o fisiologismo dos partidos que formaram a base do governo, acabaram gerando um legado de deficiências estruturais que exigirão grande esforço do futuro governo. Com a estabilização econômica conseguida pelas medidas dos governos de Fernando Henrique Cardoso, o PT, que conduz os rumos deste país há oito anos, deveria ter implementado projetos fundamentais para a consolidação da posição brasileira, tanto na arena política quanto na econômica, no cenário mundial. Lula, em seus dois ciclos executivos, não abordou as principais questões estruturais do país. O sistema logístico brasileiro, baseado no rodoviarismo, torna o frete de nossas exportações de commodities e minerais (graneis) abusivos e sem condições de competitividade. Anos foram desperdiçados, nada foi feito. O novo Brasil não é sustentável com o atual sistema educacional e de pesquisa cientifica, o descaso é completo e não me parece possível haver progresso sem pesquisa e educação. O que existe atualmente nem atende aos anseios do subproletariado integrado pelas ações sociais paliativas do próprio governo. Nenhuma política foi sequer enunciada. Na seara econômica, a grande dívida interna e o câmbio sobrevalorizado são questões que não contaram com criatividade qualquer de nossos governantes. Assim, exportações e desenvolvimento industrial sofrem sem perspectiva de alívio. O governo está lento e parece sem projeto eficaz nesta área. As tão necessárias reformas política, previdenciária, administrativa, sindical e tributária não evoluíram, pois o abissal corporativismo petista, aliado ao fisiologismo da base parlamentar do governo, agiu em nome de agenda própria, e não em nome da modernização do país. A elevação espetacular dos custos e despesas governamentais, a macro-corrupção e os privilégios da administração pública federal são uma herança maldita. A impunidade escandalosa fortaleceu o estado de insegurança jurídica, obstáculo ao desenvolvimento dos negócios e incompatível com a atual inserção mundial do Brasil. A mudança do Código de Processo Penal e da lei de aplicações penais não avançaram.

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Também, em nome de um populismo e de uma defesa arraigada do poder, foram cometidos, e continuam sendo, atentados à democracia. Só para citar alguns exemplos: a Lei da Mordaça, a política de cotas raciais, o Programa Nacional dos Direitos Humanos. No plano diplomático, o inegável carisma de Lula foi interessante e as sementes plantadas por FHC foram germinadas. O governo Lula jacta-se por levar o nome de nosso país para os quatro ventos do mundo enquanto ator ativo no cenário internacional e, sim, estamos sendo cada vez mais considerados e ouvidos em termos de geopolítica. Entretanto, quem olhar mais atentamente ao governo Lula pode também perceber que seu legado em política internacional aponta para este esquerdismo que despreza direitos humanos e democracia. Além de seus amigos de ‘carteirinha’, um ditador de direito, Fidel Castro e dois ditadores “de facto,” Hugo Chávez e Evo Moralez, o governante alinha nosso país com países contumazes em desrespeitar valores como o respeito humano e o governo democrático. Lula não teve o menor prurido em receber Mahmoud Ahmadinejad, que nada mais é do que um lunático beligerante, com a ameaça de criar armas nucleares. Em nome de uma ambição desmesurada por tornar-se porta-voz do Sul do mundo, Lula carrega o Brasil em uma empreitada perigosa, aliando nossa nação com pseudo democracias e com ditaduras declaradas. Estamos virtualmente em período de análise e ponderação quanto ao nosso futuro. Creio que a principal e mais abrangente consequência dessa situação é que a atual projeção alcançada pelo Brasil carece de sustentabilidade (educação e logística), pois tem mais base moral e é mais exemplar do que efetiva. O bom gerenciamento dessa questão será impossível com a atual composição de forças situacionistas. Nestes próximos meses devemos ficar atentos, muito atentos para que o debate político se concentre nas grandes questões do país.

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Considerações sobre um Acordo Há algumas semanas, vimos o dia amanhecer com um anúncio bombástico: o mundo conhecia um acordo internacional entre o Irã e os Estados Unidos, Grã Bretanha, França, China, Rússia e Alemanha que declarava uma aceitação, pelo Irã de regras para seu programa nuclear. O fato histórico foi obviamente objeto incessante da mídia mundial, pintado como um grande passo diplomático e como um enorme avanço para a paz. Entretanto, embora, sim, trazer o Irã para a mesa de negociações seja inédito e melhor do que um confronto em que milhares de inocentes poderiam sair feridos, devemos considerar alguns fatores: • O acordo não é exatamente esta obra prima em termos de garantia de que o Irã não tem objetivo de produzir armas nucleares, ou enriquecer urânio para fins escusos. • Fizeram assim com a Coréia do Norte e hoje vemos onde isso levou. Estamos sob a ameaça constante de seu poderia nuclear. • O pacto não exigiu que o Irã destruísse suas capacidades de enriquecer urânio acima de 5%, não exigiu que ele enriquecesse urânio em outro território (fato que constava na tentativa de acordo de 2010). • As inspeções do acordo devem ser feitas mediante visitas de agentes internacionais, que podem, ou não, receber informações fidedignas dos iranianos. • O entendimento firmado tem duração de seis meses apenas. É provisório e depende de fatores políticos como ainda a aceitação nos próprios cenários políticos internos dos países como os Estados Unidos, onde Barack Obama vê um Congresso questionando sua leniência com os iranianos e mesmo do Irã, que não abrirá mão facilmente de garantir seu poderio nuclear. • Tampouco, o histórico iraniano de construir unidades escondidas de enriquecimento de urânio atesta pelas boas intenções deste país. • O Irã estava sufocado diante das sanções econômicas e veio à mesa de negociações exatamente para aliviar um pouco a insatisfação popular decorrente deste aperto em seu bolso. • Obama, neste seu segundo mandato, arvora-se de grande articulador da geopolítica mundial e negocia acordos com Síria e Irã construindo para si uma imagem, acreditando que seu modo ocidental de ver o mundo é o modo que os outros também pensam. Pensando resumidamente, estou decepcionado e não confio que o Irã tenha qualquer boa intenção, seja quanto a Israel, quanto ao Ocidente, quanto às minorias iranianas. Estamos diante de um acordo perigoso. Especificamente para Israel, porque nos isola ainda mais e nos retrata como belicosos intransigentes, mas estamos cansados de saber qual é e sempre foi o discurso do Irã: ele quer nos eliminar do solo da Terra. Obviamente, devemos torcer para que este pacto assinado em Genebra possa ser cumprido e as boas intenções acabem prevalecendo. Que nossos receios não se concretizem, mas a impressão é que o mundo ficou um pouco mais perigoso.

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Domo de Ferro É impossível se calar diante da inquietante situação de Israel e da Faixa de Gaza nos últimos dias. A verdade é que estou extremamente preocupado, perplexo e revoltado. Antes de tudo, estou preocupado pelas vidas dos civis israelenses sob ameaça dos foguetes lançados sobre seus lares, seus trabalhos, suas escolas, pelas vidas dos soldados obrigados a se mobilizar e agir, pelas vidas dos palestinos inocentes reféns da violência do Hamas. Este Hamas violento e assassino que já lançou milhares de foguetes sobre o Estado de Israel nos últimos anos, mas que se exibe ao mundo como ofendido e indefeso quando os israelenses buscam eliminar a fonte das constantes e, então, insuportáveis agressões. Minha perplexidade advém do fato que é sabido e notório que o Hamas nunca aceitou e declara que nunca aceitará a existência do Estado de Israel. Esta organização terrorista utiliza civis como escudos humanos, até mesmo para utilizar como instrumento de mídia. O Hamas, desde 2005, tem contrabandeado para dentro do território de Gaza armas cada vez mais letais, que podem atingir milhares de civis inocentes no território israelense, sejam eles judeus, muçulmanos ou cristãos. Com esta operação, Israel busca desmantelar o arsenal e a infraestrutura do terror preparada ao longo dos anos, desde 2005 até hoje, e abolir o comando deste domínio palestino assassino. Já a minha revolta é imensa. O mundo tem testemunhado estes ataques de foguete há anos e com extrema intensidade nestas últimas semanas. Porém, assim que Israel exerceu seu legítimo direito de defesa, a mídia mundial, com seu viés característico, começou a noticiar o conflito como se Israel fosse o grande Golias agressor; como se crianças israelenses não fossem feridas, não tivessem traumas, não morressem... As notícias são tendenciosas, simplistas. Ninguém disse que a Comunidade Europeia e os Estados Unidos se alinharam com Israel e seu direito inalienável de defender seu país das agressões recebidas. Ninguém ressaltou a enormidade de bombas caídas no sul de Israel nas últimas semanas! A situação ainda requer muita atenção e cuidado, mas seria útil ver a imprensa mundial ser mais imparcial, pelo menos no que tange à exposição real dos fatos. Quanto a nós, ficaremos ainda preocupados e perplexos, mas prontos a alertar o mundo quem é quem neste triste conflito. Israel precisa de todas as nossas vozes em sua defesa. Nosso papel é esclarecer, retificar e impedir que difamem esta brava nação que luta para defender seus cidadãos da agressão terrorista. Israel temme a seu lado no âmbito político, social e onde necessário for.

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Jerusalém e a Pequena Diplomacia Brasileira Jerusalém, Ierushalaim Kedoshá, a cidade sagrada do povo judeu. Parte intrínseca da alma judaica. Cidade que acompanhou o sofrimento de nosso povo. Jerusalém é citada na Bíblia no Livro de Josué, como lar dos hebreus. Muitos tentaram e alguns conseguiram expulsar nosso povo de Ierushalaim. Os babilônios nos conquistaram e nos levaram à sua terra, mas, desde as margens dos rios da Babilônia, os judeus soluçavam e lembravam-se da cidade sagrada. Então, quiseram minar nosso povo de outra forma, obrigando a helenização de Ierushalaim, proibindo o estudo da Torá e os rituais judaicos. E os macabeus lutaram para conservá-la como nossa. Até que os romanos, no início do primeiro milênio, expulsaram novamente este povo de sua terra, de sua Jerusalém. Durante sua longa história, Jerusalém foi destruída pelo menos duas vezes, sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes, e capturada e recapturada 44 vezes. Mas durante quase 2 mil anos de separação de um povo e sua terra, nunca Jerusalém foi esquecida. Sempre foi parte primordial do sonho dos judeus. Em suas datas religiosas mais significativas, como em Iom Kipur, Ierushalaim foi citada e recitada, dando voz à aspiração de para lá voltar. O movimento sionista tem em seu nome esculpida a palavra Tsion, um dos nomes da cidade sagrada. Entretanto, mesmo durante o longo exílio, Jerusalém foi a terra de famílias judaicas. Desde sua fundação, sempre existiram judeus vivendo em Ierushalaim. Finalmente, a partir da fundação do moderno Estado de Israel, nós a reconquistamos. Depois de milhares de anos de luto e de anseios, a alegria chega e a mais sagrada cidade do Judaísmo, Jerusalém, volta a unificar-se. Mais uma vez escuta-se o shofar dentro dos muros da cidade de Davi. E, em 5 de Dezembro de 1949, o então primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion, proclama Jerusalém como capital de Israel. Desde então, todas as sedes legislativas, judiciais e executivas lá residem, exceto para o Ministério da defesa, que está localizado na Hakirya em Tel Aviv. E assim vemos a Jerusalém de hoje, uma cidade que apresenta outra face, o rosto de uma metrópole próspera, moderna, com suas avenidas, edifícios, arranha-céus, hotéis, shoppings, assemelhando-se a outras grandes cidades do mundo. Jerusalém, Cidade Santa, venerada por seus lugares sagrados não apenas para nós, judeus, mas também por pessoas de distintos credos; onde vivem judeus, católicos, muçulmanos, armênios, druzos e assim por diante. Em cujas ruas misturam-se homens seculares com religiosos, cada um influenciando com seu comportamento a vida do outro.

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É um mosaico de culturas e nacionalidades que confluem a partir de diferentes países e histórias; de povos cuja identidade e tradições permanecem intactas ao invés de fundirem-se em um cadinho de amálgama; de bairros que refletem os costumes e estilos de vida de seus habitantes, que vivem e trabalham juntos em uma coexistência rara. Jerusalém, uma cidade cujas pedras estão vivas e nos falam, onde seus aromas nos fazem viajar no tempo e ao redor do mundo, por países onde as comunidades judaicas já existiram ou ainda existem, mas que aqui acabam por se unificarem todas. Em julho de 1980, Israel aprovou a Lei de Jerusalém como Lei Básica. A lei declara Jerusalém a capital "completa e unida" de Israel. Entretanto, com todo seu passado e presente, certos governos ainda insistem em não considerá-la cidade de Israel, num grave erro de julgamento. Há poucas semanas, o Governo de Dilma Roussef resolveu, arbitrariamente, que no passaporte das pessoas brasileiras nascidas em Jerusalém não deve constar mais o país de nascença como sendo Israel. Esta resolução só vem ratificar o viés parcial que o governo brasileiro tem em relação ao Estado de Israel. Essa ação fundamenta-se na teoria de que Jerusalém ainda está sendo disputada entres os governos israelense e palestino. Entretanto, independentemente do caminho que se tome para a construção da paz entre os dois povos, certamente Jerusalém continuará a ser parte inseparável de Israel e um cidadão nascido em Jerusalém tem todo o direito de ostentar seu país de nascimento: Israel. Não se pode ignorar as histórias tão entrelaçadas como a desta cidade e do povo judeu e da terra de Israel. Podemos e devemos buscar a paz, mas Ierushalaim está e sempre estará encravada no Estado de Israel e na alma de nosso povo.

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“O oposto do amor não é nenhum ódio, é a indiferença. O oposto de arte não é a feiúra, é a indiferença. O oposto de fé não é nenhuma heresia, é a indiferença. e o oposto da vida não é a morte, é a indiferença”.

Elie Wiesel

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Mas o que é que acontece com a Diplomacia Brasileira? Há muito pouco tempo passamos pelo quase vexame de receber um déspota belicista, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. E agora, o Brasil prefere preterir a nomeação de um seu representante legítimo, o engenheiro Marcio Barbosa, para apoiar outro candidato estrangeiro, o egípcio Farouk Hosny, para dirigir um órgão da importância da UNESCO - organização da ONU para a colaboração internacional no setor de educação, ciência e cultura. Além do mais, lamentavelmente, este candidato apoiado pela diplomacia brasileira tem um histórico confirmado de anti-semitismo. Citando carta aberta de três dos intelectuais mais respeitados na França, o senhor Farouk Hosny afirma que “Israel nunca contribuiu para a Civilização, em qualquer era, pois sempre apropriou-se de contribuições de outros.” O mesmo senhor, ao responder a um deputado do Parlamento Egípcio que estava preocupado que livros israelenses pudessem fazer parte do acervo da Biblioteca de Alexandria, declarou: “Queime estes livros; se ainda houver algum por lá, eu mesmo os queimarei diante do senhor.” Não esqueçamos que pessoas com afã de incendiar livros, evoluem em sua loucura e acabam gostando de queimar, às vezes até pessoas! Como confiar um dos mais importantes cargos de responsabilidade cultural do planeta para alguém que disse que Israel era “auxiliado” em suas intrigas obscuras pela infiltração de judeus na mídia internacional e por sua diabólica habilidade de “espalhar mentiras”? Nesta empreitada de protesto contra a candidatura de Hosny Farouk, cerramos frente com pessoas do calibre do presidente francês Nicolas Sarkozy, da secretária de Estado Hillary Clinton, de vários governos asiáticos, europeus e da África. O Brasil, enquanto povo, certamente não quer a nomeação de uma pessoa perigosa, um incitador de idéias racistas, contumaz apologista do ódio e terror. E tampouco o povo brasileiro concorda em menosprezar um cidadão seu, legítimo postulante ao cargo. Este homem é o engenheiro Marcio Barbosa, que já é o diretor adjunto da UNESCO, foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo funcionários do governo e parlamentares que acompanham sua trajetória, um dos méritos de Marcio Barbosa, junto com o atual diretor-geral do organismo, o japonês Koïchiro Matsuura, foi levar de volta à UNESCO os Estados Unidos, que estavam afastados desde os anos 80. O caminho natural para a direção-geral da UNESCO deveria favorecer o Brasil, pois criamos expertise em várias áreas, como o programa Bolsa Família e a pesquisa e uso bem sucedido de alternativas energéticas - caso do etanol. Como bem disse o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Eduardo Azeredo: “Lamento o Itamaraty ter tomado essa decisão. Havia chances reais de o Brasil dirigir um órgão da importância da UNESCO. O governo deveria apoiar um dos brasileiros”. O tempo urge, e o tom dos protestos deve acentuar-se para evitar tal descalabro de nossa diplomacia.

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O Encontro do Peixe com a Arte de Pescar Ao ponderar sobre os programas sociais de hoje, deparei-me com uma colocação do brilhante e empenhado consultor Stephen Kanitz, em que ele avalia a escolha entre ‘dar o peixe ou ensinar a pescar’. Tendo sido agente ativo no processo de concepção e implantação de alguns projetos sociais em diversas esferas do governo, quero apresentar a origem de certos programas de transferência de renda, que foram exitosos em aliar as duas disposições e que culminaram na criação da rede de proteção social no Brasil. A história destes programas de cunho social de transferência de renda precisa ser lembrada e relembrada para que as novas gerações possam entender suas raízes.Tendo como fio condutor a premissa do PSDB de que o grande desenvolvimento social se daria através de uma ampla e profunda reforma no sistema educacional brasileiro, Vilmar Faria, um dos mais importantes articuladores de políticas públicas e sociais deste país, em conjunto com a inesquecível Dona Ruth Cardoso, elaborou de forma consistente em 1995 as bases para os programas de transferência de renda no Brasil. Assim, a transformação social brasileira tem início no governo FHC e se dá em várias frentes: com a reforma educacional, que começa com o Ministro Paulo Renato, e paralelamente é realizada a implantação de programas inovadores na área da saúde, sob administração do então Ministro José Serra – indo desde programas de Combate à AIDS, revisão das fontes de financiamento para o Sistema Único de Saúde até o Programa de Genéricos, para baratear o preço dos remédios. Fizeram parte também desta cesta de Programas de Transferência de Renda, o Bolsa Trabalho – em substituição à entrega de cestas básicas – e o Auxílio Gás – em substituição ao auxílio cruzado que havia na aquisição de gás pela população mais carente . Dentro do escopo do trabalho de Paulo Renato na Educação, sua decisão foi investir na soma de alguns programas que já estavam em fase piloto: Bolsa Escola – implantado no Distrito Federal. Renda Mínima – implantado pelo Ministério da Educação em alguns municípios brasileiros. Daí nasce a ideia de um grande programa de transferência de renda vinculado à Educação: o Bolsa Escola Federal (cuja implementação coube a mim, como Secretário) praticado nos 5.561 municípios brasileiros entre 2000 e 2002. Havia também o Peti- Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano. O auxílio do Bolsa Escola ia direto para a família, no entanto o seu pagamento estava vinculado à permanência da criança na escola. A área da saúde entra com um programa complementar ao Bolsa Escola Federal, chamado Bolsa Alimentação. O Bolsa Alimentação era destinado a mães em fase de amamentação, que recebiam incentivo para que pudessem manter a nutrição e as vacinas das crianças em dia. Os programas de transferência de renda no governo FHC cumpriam uma complementaridade estratégica: abrigavam a criança desde o seu nascimento (crianças de 0 a 6 anos) através do Bolsa Alimentação, e em fase escolar (de 6 a 15 anos) através do Bolsa Escola Federal. Supria-se assim a carência de crianças de 0 a 6 anos, em extrema pobreza, estimulando a nutrição, vacinação e a seguir, incitando a permanência da criança na escola. 30


Esta complementaridade é um exemplo que caracteriza a viabilidade de ‘dar o peixe’ para aqueles em situação de miséria, com o ‘ensinar a pescar’, propiciando programas de saúde e educacionais que permitem um progresso através da criação de infraestrutura para garantir o acesso da população a direitos básicos e com a viabilização do co-protagonismo, fazendo com que o beneficiário entenda e coopere de sua maneira com o bem estar de sua família. Entretanto, na época, quando o governo resolveu ampliar o programa com parcerias com vários municípios, já começamos a enfrentar picuinhas politiqueiras, como aconteceu na cidade de São Paulo, então governada pelo PT, em que detalhes burocráticos entravaram o processo. Não obstante, fomos felizes em realizar o mesmo processo (unificação de benefícios oriundos de programas de transferência de renda) com a implementação exitosa em outras grandes cidades, como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília. Em setembro de 2002, ainda no governo FHC, o então Ministro da Casa Civil, Pedro Parente convoca reunião com a participação de Ana Lobato (uma das intelectuais da concepção dos Programas de Transferência de Renda no Brasil) e se inicia o projeto de unificação de todos esses programas. Durante o período de transição do governo FHC-Lula, enquanto a equipe tucana se empenhava em evidenciar a importância de todo movimento e conquistas realizadas até então, a frustração foi testemunhar o novo governo anunciando a “novidade” do Programa Fome Zero, que ainda não tinha estratégias de implementação definidas. Hoje, o fator primordial de desapontamento e indignação ao analisarmos o contexto dos programas sociais praticados, é a constatação da infeliz flexibilização das contrapartidas para o recebimento dos benefícios. A parceria, o chamado à responsabilidade que os Programas de Transferência de Renda originais exigiam foram deixando de ter importância e a população veio a ser beneficiária então apenas de uma política absoluta e prioritariamente assistencialista. Paramos de ‘ensinar a pescar’! Como explicitei no início deste texto, não devemos negar a necessidade de ‘distribuirmos peixe’ para a camada mais desprivilegiada de nossa população. Somos sabedores de que, às vezes, as carências são de tal monta que não podem esperar a conscientização e a educação desta camada da população. Entretanto, se não houver uma férrea disposição de estabelecer mecanismos que eduquem e mobilizem a população para que sejam também atores de seu próprio desenvolvimento, ficaremos eternamente reféns desta perigosa política assistencial, que é sócia do clientelismo e do paternalismo condescendente.

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O Alcance Maligno do Hezbollah Nestes últimos tempos, enquanto as notícias se concentram nas mudanças que acontecem no Egito, com a tomada de poder pelos militares e a complexa divisão de forças que atuam e dividem o país, assistimos a Síria passar por um drama que nos assusta cada vez mais. O regime facínora de Bashar Assad enfrenta desde Janeiro de 2011 um conflito popular para depor este governo que ditatorial e corrupto, para se manter no poder, não hesitou em massacrar milhares de pessoas, inclusive populações inteiras com centenas e centenas de crianças. A ONU já contabilizou mais de 93 mil mortos nesta guerra civil e todas as tentativas de enviar forças de paz para que este presidente sírio entregasse o poder foram em vão. Uma verdadeira vergonha para a região. Entretanto, infelizmente já falamos disso. O que devemos atentar é a força crescente do Hezbollah nesta composição nefasta de forças de Assad. Suportado pelo regime do Irã, que envia sistematicamente armas para a Síria, os soldados do regime sírio contam com os disciplinados combatentes do grupo terrorista Hezbollah. Este grupo cruel, que se serve dos métodos mais propagandistas possíveis de recrutamento e lavagem cerebral para formar um exército ilegal de combatentes irredutíveis, presta um auxílio inestimável para que Assad consiga se manter no poder até hoje. É tão importante a participação do Hezbollah nesta guerra civil que até a União Europeia e o Conselho de Cooperação do Golfo condenaram a intervenção militar do Hezbollah na Síria e pediram uma solução política urgente para este país devastado pela guerra. Em uma declaração emitida conjuntamente em Bahrein, a União Europeia e o Conselho de Cooperação do Golfo denunciaram a “participação da milícia do Hezbollah e de outras forças estrangeiras nas operações militares na Síria.” O Ministro de Relações Exteriores do Bahrein encorajou o recém eleito presidente do Irã, Hassan Rouhani, para que buscasse o recuo dos combatentes do Hezbollah (apoiados por Teerã) como um gesto para facilitar o final da guerra civil na Síria. Não podemos deixar de citar a conivência da Rússia e da China com o sistema de Bashar Assad. Assim, há uma confluência de forças impedindo que se chegue a uma solução política pacífica no país. No que tange Israel, o crescimento da influência do Hezbollah só nos traz preocupação.

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Com a base já sedimentada do Hezbollah no Líbano, formada por casamatas de difícil localização e, por conseguinte, eliminação, o fator complicador para Israel é o tamanho da dívida que Assad terá com o grupo terrorista, caso mantenha o poder. O governo sírio não terá como não ceder às reivindicações deste grupo terrorista e é público e notório o ódio de Hezbollah pelo Estado de Israel. O Hezbollah será o Irã no nosso quintal em mais uma fronteira. As Forças de Defesa de Israel –TZAHAL – em seu twiter, colocam um vídeo de três minutos enfatizando o poder letal dos foguetes do Hezbollah e suas táticas terroristas e como estes terroristas podem nos incomodar. Assim, mais do que os islamistas no Egito e o perigo do Hamas, devemos estar atentos às forças no conflito no front sírio, para que não tenhamos o Irã em nossa porta dos fundos.

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O ISIS está Chegando às Portas de Israel

Israel tem um motivo a mais para ficar preocupado. Nosso panorama se agrava. Na província do Sinai, um grupo ligado ao ISIS, (Estado Islâmico), avocou responsabilidade pela maioria dos ataques na Província do Sinai nos últimos anos. Entre os ataques reivindicados pelo grupo desde a deposição do presidente Morsi, aconteceu a explosão de um ônibus repleto de turistas sul-coreanos. No final de junho, o ISIS montou uma operação multifacetada contra militares egípcios que culminou com a morte de quase 50 pessoas. O grupo também fez ameaça ao “Estado dos judeus”. Além disso, o grupo jihadista afiliado ao ISIS no Egito reclamou responsabilidade por um ataque de foguetes acontecido no dia 02 de Julho na península do Sinai no sul de Israel. Este episódio resultou no fechamento da rodovia que atravessa o deserto do Negev em direção à cidade mais ao sul de Israel, Eilat, decorrente da preocupação dos oficiais de segurança de Israel com a possibilidade de que o grupo Waliyat Sinai (Província do Sinai), o grupo terrorista filiado ao ISIS, responsável pelos ataques, possa estar planejando atacar Israel também. Israel até permitiu que o governo do presidente Sisi aumentasse os soldados ativos na região do Sinai, contrariando o que rezam os acordos de paz entre as duas nações. Os terroristas do (DA’ESH) - acrônimo árabe de Estado Islâmico do Iraque e Levante - também estão se aproximando da fronteira norte de Israel pela Síria. Os líderes, junto com o grupo terrorista Hezbollah, que é financiado pelo Irã, incitam constantemente Israel. Nossos militares já estão plenamente cientes da ameaça e do avanço dos guerrilheiros do ISIS em direção à fronteira do país com o norte e as colinas do Golã. Mas quem é o ISIS? É um califado que se afirma autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo. O grupo, em seu formato original, era composto e apoiado por vários grupos terroristas sunitas insurgentes, incluindo suas organizações antecessoras, como a Al-Quaeda no Iraque. O objetivo original do ISIS era estabelecer um califado nas regiões de maioria sunita do Iraque. Após o seu envolvimento na guerra civil síria, este objetivo se expandiu para incluir o controle de áreas de maioria sunita da Síria. Hoje, o grupo é reconhecido como terrorista pela ONU, pela Comunidade Europeia e todos os grandes países. O ISIS, ou Estado Islâmico, obriga as pessoas que vivem nas áreas que controla a se converterem ao islamismo, além de viverem de acordo com a interpretação sunita da religião e sob a lei sharia (o código de leis islâmico). Aqueles que se recusam podem sofrer torturas e mutilações ou serem condenados a penas de morte.

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O grupo é particularmente violento e já atacou minorias druzas, cristãos armênios, yazidis e outros. O ISIS já matou milhares de civis e parece ter prazer em fazê-lo. Em nome de uma luta santa, estes terroristas se converteram nos mensageiros do terror. O estado judeu deve ser mais um alvo para estes sanguinários. É este perigo adicional que o povo de Israel está prestes a enfrentar. Nossas fronteiras, que já não eram seguras, ficam assim mais perigosas, porque o Estado Islâmico é, de longe, o grupo terrorista mais cruel que se apresenta no mundo e temos que estar prontos para nos defender de um eventual ataque do ISIS. As Forças de Defesa de Israel devem estar prontas para retaliar este grupo que se alimenta com a

Imagem: Projetado por Paul Segal - Freeimages.com

destruição e vive da crueldade. Não há justificativa religiosa ou humana para o que o ISIS faz.

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O Massacre da Síria Estas últimas semanas têm sido preocupantes. Estamos presenciando momentos de transição no Oriente Médio que suscitam considerações profundas. As eleições pouco democráticas no Egito são assustadoras, mas hoje não podemos ignorar um fato ainda mais alarmante: o massacre cotidiano que ocorre na Síria. Este país, outrora um dos baluartes do Oriente, o grande Império Mesopotâmico, ingressou na mais nefasta lista da comunidade mundial. No dia 12 de Junho a ONU colocou as forças governamentais sírias e a sua milícia denominada shabiha em uma lista de 52 governos e grupos armados que recrutam, matam e atacam sexualmente crianças em conflitos armados. Há 15 meses, desde o início da conflituosa Primavera Árabe, a oposição síria tenta derrotar o ditador Bashaar Al-Assad e seu partido Baath de militares despóticos. O país passa por um banho de sangue e violência inéditos. Neste cenário, parece que não há prazo para a queda do governo. O negociador da ONU, o ex-Secretário Geral Kofi Annan, reconheceu o fracasso de seu plano de cessar-fogo e suspendeu sua missão de paz para a região, para preservar a vida dos observadores internacionais. A Síria estará novamente à mercê de um governo que não vê mal algum em torturar, matar e arrasar vilarejos oposicionistas para manter-se no poder indefinidamente. O Baath governa a Siria desde 1963. Israel sempre alardeou a impossibilidade de diálogo com os facínoras do governo da Síria. Já tivemos nossas grandes crises com a Síria. Sempre soubemos como eles trataram nossos soldados capturados. Por muitas vezes Bashaar Al-Assad fingiu querer iniciar uma negociação definitiva com Israel sobre o Golã para depois mostrar que era só uma retórica popularesca. Hoje, é seu próprio povo e o mundo civilizado que sentem a mão assassina deste governo criminoso. Até mesmo a Liga Árabe, sempre tão unida contra o povo hebreu, expulsou o governo sírio de suas hostes pela enormidade da matança que vem ocorrendo por lá. Só mesmo o Irã continua tenazmente apoiando o regime sírio para manter sua influencia na região. Também, as duas grandes potências mundiais Rússia e a China apoiam Bashaar Al-Assad, por interesses estratégicos e comerciais. O mundo todo pede que o governo da Síria seja deposto para o bem do cidadão sírio comum e nem mesmo a ONU consegue intervir de maneira eficiente. Há de haver um mecanismo que impeça carnificinas como a que está acontecendo na Síria. Enfim, a região passa por momentos tormentosos. Entre as eleições no Egito, que já se transformaram em grande perigo de revolta novamente, a situação na Síria e o dilema palestino, temos um desafio de sobrevivência agigantado. Como bem disse Davi Ben Gurion: “Em Israel, para poder ser realista, você precisa acreditar em milagres.”

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O Perigo do Isolamento Estamos testemunhando a emergência de atitudes que podem se proliferar e causar uma grande dor de cabeça para Israel: um isolamento cada vez maior no cenário mundial. Por enquanto, algumas instituições acadêmicas já decretaram boicotes contra as instituições israelenses, tais como a American Studies Association e a Modern Language Association. Anteriormente, outras instituições similares já haviam tomado ações estúpidas semelhantes contra instituições acadêmicas israelenses. As razões para estas ações é a construção de assentamentos nos territórios ocupados, considerados território palestino. Estas ações são tão aberrantes quanto politicamente questionáveis, pois nunca foram tomadas contra países como a Síria, que enfrenta uma guerra civil que matou já mais de 130 mil civis, a China, que invade o Tibet, a Arábia Saudita, o Irã, Ruanda, Sudão, Rússia, Venezuela, Cuba e tantos outros que não respeitam os direitos humanos. Felizmente, muitas das instituições acadêmicas que fazem parte das associações que decretaram os boicotes rejeitaram-no e declararam que eles aviltam a liberdade acadêmica e que Israel é um país extremamente liberal e seus intelectuais são pares dignos, com os quais querem e devem manter intercâmbio. Entretanto, muitos ameaçam Israel com o virtual isolamento mundial se por ventura as negociações de paz não chegarem a bom termo. O Secretário de Estado John Kerry chega mesmo a falar de uma terceira intifada - desta vez diferente, ela viria na forma do isolamento de Israel - como consequência do eventual fracasso das negociações de paz. O fator incômodo desta situação é que o ônus do possível aborto do processo de paz recaia primordialmente sobre a nação judaica, como se os palestinos estivessem totalmente abertos à solidificação da paz, e só os israelenses estivessem colocando empecilhos no processo de negociações. O primeiro ministro Benjamin Netanyahu afirma que um possível boicote é sinal de antissemitismo. Pode-se discutir se os Estados Unidos passam por alguma onda de antissemitismo como a que claramente assistimos ocorrer na Europa, mas o mundo certamente vê com maus olhos o Estado de Israel, graças a uma bem sucedida campanha de propaganda tendenciosa da esquerda, que retrata os palestinos apenas como um povo subjugado, sem salientar a dificuldade e o perigo que Israel enfrenta nas negociações e na defesa de seu território e na sua própria existência. A indústria, a agricultura e o setor financeiro israelenses, hoje florescentes, começam a se preocupar com a campanha de isolamento do país. Devemos todos torcer e agir para que isto não aconteça, incentivando, dentro do nosso alcance, intercâmbios sociais, culturais e comerciais de toda a sorte com instituições israelenses.

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O Terrorismo de Nossos Dias É muito triste. Estamos com uma nova catástrofe que se alastra no mundo. É muito triste. Estamos ficando acostumados a conviver com este desastre. A cada dia, ou a cada parte do dia, abrimos os sites de notícias para ver qual o atentado que aconteceu. Sem falar nas dezenas ou centenas de ataques que são evitados pelas forças de segurança no mundo todo. É muito triste. Parece que há atentados mais importantes do que outros atentados. Sofremos e nos indignamos quando o terror atinge pessoas e lugares que conhecemos bem. É uma grande injustiça, mas faz parte da natureza humana. O terrorismo tem história mais longa do que imaginamos, mas um dos mais importantes lemas do terror vem do famoso anarquista Michael Bakunin que afirmou: "Devemos espalhar nossos princípios, não com palavras, mas com ações, pois esta é a forma mais popular, a mais potente e a mais irresistível de propaganda". Usava-se até uma expressão francesa que dizia “propagande par le fait” ou seja propaganda pelos atos. Nos Estados Unidos, após a Guerra Civil, foi criada a organização terrorista Ku Klux Klan, que praticava assassinatos, linchamentos e atos de intimidação para defender princípios extremamente racistas. Até hoje ela tem um grande peso na violência que o país sofre. Na segunda metade do século XX começamos a ver o florescimento de grupos bem organizados de terroristas. Eram organizações separatistas ou de caráter político revolucionário. Foi uma época complicada com bombas e sequestros de pessoas e aviões. Entidades como o IRA (da Irlanda) o ETA (da Espanha), o Baader Meinhof (da Alemanha), os Tupamaros (do Uruguai), as FARC (da Colômbia), a Irmandade Muçulmana (países árabes) além de outras organizações menores e mais locais, perpetraram atentados famosos e chocantes pelo mundo afora. Havia até um garoto propaganda do terrorismo, com suas ações ousadas e sua imagem de invencível. Era Ilich Ramírez Sánchez, conhecido como Carlos, o Chacal. Fizeram até filmes sobre sua pessoa. No Oriente Médio, organizações como a OLP Organização de Liberação da Palestina, o Hezbolah, o Setembro Negro e o Hamas praticam atos com o objetivo explícito de eliminar Israel da face da Terra. Os atentados ignóbeis contra o povo de Israel são constantes. Hoje, o flagelo do terrorismo mudou seu modus operandi. Depois do famoso e desprezível ataque às Torres Gêmeas em Setembro de 2011 e o consequente fortalecimento das medidas contraterroristas, os assassinos encontraram modos mais criativos e inesperados para atingir o maior número de inocentes. Com a expansão da mídia e o surgimento e explosão das redes sociais, os terroristas descobriram o campo perfeito para aliciar soldados para sua guerra infame.

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As promessas de uma vida mais estruturada e compensadora através do fundamentalismo religioso e a possibilidade de se tornar um mártir atraem jovens isolados e sem perspectivas que encontram então objetivo em suas vidas. O engajamento destes personagens acontece basicamente pela propaganda virtual ou por discursos inflamados de outros elementos já convertidos. O treinamento então destes terroristas em potencial acontece no Iraque e na Síria, sob o manto do Estado Islâmico, ou ISIS. Estes jovens chegam ao Ocidente catequisados e preparados para atacar inocentes. Os atentados assim passam a ser cometidos por indivíduos, chamados Lobos Solitários, ou por pequenos grupos de pessoas, que se lançam contra a população de inocentes em lugares famosos e repletos de pessoas. O efeito é tão imediato quanto chocante. Corpos dilacerados, feridos ou mortos começam a aparecer em centenas de meios de comunicação e testemunhas boquiabertas explicam a sensação de serem vítimas destas ações. Com este grau de cobertura, sentimo-nos todos violentados. Em Israel, o povo judeu já vem sendo atacado por ações terroristas menores, mas não menos desoladoras, desde a Primeira Intifada. Infelizmente, a mídia ocidental tendenciosa e incapaz de analisar corretamente o conflito palestinoisraelense, tem o costume de desprezar a dor do povo judeu e de amenizar a culpa dos terroristas. Parece que se esquecem que o objetivo desses assassinos é conseguir a destruição completa do Estado de Israel. Não percebem que as escolas e os programas de animação infantil estimulam as crianças para que peguem em armas e destruam todo e qualquer israelense. A verdade é que este terrorismo disseminado é muito mais difícil de detectar e de evitar. Ficamos sujeitos a conviver com este tipo de tragédia em nosso cotidiano. Um tresloucado terrorista com uma faca pode de repente sair esfaqueando o maior número de pessoas que conseguir. Um motorista pode acelerar e jogar seu carro na calçada, atropelando inúmeros inocentes. Ainda é difícil ver a luz no fim do túnel. Nossa única resposta é vivermos nossas vidas como sempre vivemos e não deixar que o terror alcance um dos seus maiores objetivos, o de espalhar o medo. É muito triste, mas felizmente nossas vidas continuam como sempre, sem dar espaço àqueles que querem nos dominar pela dor.

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Primavera no Egito, Nuvens Pesadas em Israel As revoluções, no cômputo da história, muito têm nos ensinado. Mesmo a Revolução Francesa, sustentáculo dos ideais de liberdade e igualdade social no mundo, criou suas paranoias. O desenrolar da Revolução da Liberté, Egalité, Fraternité, cria o período do Grande Terror e um dos maiores revolucionários da história ocidental, Georges Danton, que acaba, ele mesmo, guilhotinado pela Revolução cria a seguinte pérola: « a revolução é como Saturno (figura da mitologia grega) e devora seus próprios filhos ». Também, em 1979, depois de um longo período de ditadura do Xá da Pérsia, ventos revolucionários varrem o país de Rheza Pahlevi e os aiatolás trocam a ditadura de um monarca corrupto por uma ditadura de extremistas religiosos que até hoje governam o país via terror. Mesmo assim, quando ventos revolucionários começaram a soprar pelas ditaduras árabes que circundam Israel, começamos todos a sonhar que talvez, talvez o mundo pudesse conhecer tempos mais justos. Certamente, tínhamos o receio de que o fundamentalismo corrente da região dominasse o universo político, mas ainda nos restava certa esperança. Entretanto, após estas últimas semanas, não posso deixar de explicitar minha grande preocupação com a mensagem vinda dos candidatos à presidência do Egito. Embora hoje já tenhamos um quadro mais definido, desde o início do processo todos os candidatos, em sua retórica, insistiam em colocar Israel como fonte de seus problemas. Isto não era um bom presságio. Não bastasse este cenário sombrio, houve também o cancelamento do acordo de gás entre os dois países. O que mais me surpreende neste quadro de eleições egípcias é que o povo deste país com cultura e tradição milenares possa estar nesta situação, vulnerável a lideranças que colocam o cerne dos problemas egípcios na relação com Israel. Tantos anos de ditadura com certeza geraram uma cadeia de dificuldades que não serão resolvidas apenas com o ímpeto revolucionário. A passagem para um estado democrático dependerá da determinação política do governo empossado, da criação de estruturas estáveis, do reconhecimento dos direitos do povo, da transmissão de poder sem revanchismo, enfim, de um conjunto de fatores por si só difíceis. Além disso, a conjuntura econômica global destes próximos anos não parece nada promissora, o que não dá margem a erros estratégicos. A crise na zona do euro criará efeitos ainda impossíveis de serem avaliados. Porém, oh, porém, em um primeiro instante, a retórica populista anti-Israel pode ser um belo estratagema para qualquer político mal intencionado. É um tapa-buraco palatável, um discurso meio saudosista, capaz de influenciar o jovem pseudo esquerdista antissionista e o fundamentalista que quer varrer Israel do mapa. Por tudo isso, estas próximas semanas são de fundamental importância para a manutenção da paz entre os dois lendários países, Israel e Egito. Perdoem-me a metáfora climática, mas rezemos por bom tempo!

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Duas Intifadas, a Real e a da Mídia Tenho acompanhado com um profundo desgosto os recentes acontecimentos em Israel. O país sofre com inúmeros ataques pessoais de terroristas com facas, com carros e com armas tentando tirar vidas de cidadãos inocentes. Em qualquer lugar de lá, de repente aparece um tresloucado para matar pessoas que transitam pelas ruas. É quase uma terceira intifada. O discurso destes assassinos é um mar de ódio. Eles não estão apenas reivindicando direitos para os palestinos. São pessoas que, alimentados por vídeos na rede social, alimentados por incitamento do Hammas e da Autoridade Palestina, querem exterminar o povo judeu. Entretanto, o que me deixa abismado e revoltado é a intifada da mídia. Todos os noticiários, nacionais e internacionais abordam os acontecimentos em Israel com uma tendenciosidade abjeta. As manchetes colocam esses assassinos palestinos como vítimas e não como agressores. Desde a BBC, passando pela CNN, pela imprensa francesa, espanhola e, certamente, pela imprensa brasileira, TODOS distorcem os fatos e culpam a vítima, neste caso Israel, ao invés de apurar e narrar a real situação. Com tantas tragédias acontecendo pelo mundo, parece que Israel é o grande agressor, em todas as instâncias. Esta intifada de mídia tem um caráter antissemita incrustado que envenena os demais povos contra nós, judeus. Devemos empreender todos os esforços possíveis para divulgar a sequência real dos acontecimentos e o ataque ao qual Israel tem sido vítima. Quero e torço muito pela paz e pelo estabelecimento de dois países para dois povos, mas é impossível achar uma linha de diálogo com aqueles extremistas que só pensam em nosso extermínio.

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Stephen Hawking e seu Boicote O mês de Maio de 2013 trouxe uma notícia tão inquietadora quanto decepcionante. Um cientista outrora admirável, seja por sua produção acadêmica, seja por sua historia de superação na vida e mesmo por seu reconhecimento universal, tomou uma decisão ABSOLUTAMENTE lamentável. Stephen Hawking, o físico teórico e cosmólogo britânico, um dos mais consagrados cientistas da atualidade, resolveu boicotar a Conferência Israelense do Presidente a ser realizada em Israel no próximo mês de Junho. Israel já vinha sendo o não destino para alguns pretensos detentores da moral e integridade. Desde 2006, foi criado um movimento para boicotar instituições acadêmicas israelenses, organizado por uma coalizão de grupos palestinos, ao qual pessoas como o cantor Bono e Stevie Wonder emprestam seu prestígio e apoio. Desta vez, foi o renomado cientista que resolveu acatar os insistentes pedidos da organização. Algumas coisas a serem consideradas nesta desastrada atitude de Stephen Hawking: Antes de tudo, a ironia do evento ao qual ele escolheu boicotar. Esta conferência específica está sendo organizada em homenagem aos 90 anos do presidente de Israel, o senhor Shimon Peres. Na história política recente deste país, Peres é o estandarte da luta pela paz. E tem sido por décadas. Seu compromisso com o diálogo, com amplas negociações e uma paz abrangente e duradoura com os palestinos é fato reconhecido. Shimon Peres é ganhador do Prêmio Nobel da Paz e, aos 90 anos, segue firme e forte, otimista e determinado com seu objetivo de uma solução de dois estados para Israel e Palestina. Também, há que se considerar que personagens do quilate e intelecto de Hawking deveriam saber que os boicotes são antiéticos quando se pensa que é o ideal da pesquisa livre que tonifica a empreitada científica. OU será que Stephen Hawking não acredita na livre troca de ideias? Neste sentido, Israel é um país democrático que apoia a igualdade, a liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade de religião e é comprometido com os direitos de seus cidadãos das minorias. Mas, de qualquer modo, acadêmicos e cientistas israelenses não são nem porta-vozes do governo, nem fantoches. Têm sido frequentemente sérias as discordâncias entre o governo e as universidades em Israel, com destaque para a independência das instituições acadêmicas do país. Um exemplo é a decisão do governo israelense no ano passado para atualizar o status de uma faculdade construída em Ariel - uma cidade no interior da Cisjordânia - a de uma universidade. Ela foi veementemente contestada por instituições de Israel de ensino superior (e por talvez 50% da população geral).

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Um segundo exemplo é a tentativa mal sucedida pelo governo israelense para encerrar Departamento de Política e Governo da Universidade de Ben-Gurion - que foi atacada por seus pontos de vista de esquerda. A oposição e pleito dos acadêmicos israelenses em todo o país -que alertaram para o perigo para a liberdade acadêmica – ajudaram a evitar o fechamento do departamento. Não que não haja momentos em que a ética deve se sobrepor. Entretanto, onde, então, está a declaração de Hawking contra o tratamento do povo maia na Guatemala; dos tâmeis no Sri Lanka, na Caxemira, na Índia; dos curdos na Turquia; dos Baha'i do Irã, dos xiitas do Paquistão, dos chechenos na Rússia ou talvez sobre o tratamento dos tibetanos na China, onde Hawking recentemente fez uma visita célebre? Ao invés de visitar a região e debater sobre suas dificuldades, ele resolve usar seu considerável prestígio e dizer que um país, só um país entre todas as nações do mundo, é merecedor de descrédito exclusivo????? Boicotes acadêmicos são contrários a tudo o que a academia representa. A globalização acadêmica, embora todos os seus perigos potenciais, está rompendo as fronteiras. Cientistas de diferentes nacionalidades e religiões trabalham juntos e tornam-se parte de um continuum - uma comunidade global. A fim de gerar condições favoráveis para as negociações, as pessoas devem falar e diferentes pontos de vista devem ser ouvidos. Por muitos anos, aqueles que queriam evitar negociações se recusam a falar com o outro lado - e isso é verdade em todas as partes do mundo (incluindo a Europa Ocidental), e não apenas no Oriente Médio. O primeiro obstáculo para a paz e uma solução justa para o conflito e refugiados problema israelopalestiniano é a falta de um diálogo real. O professor Hawking decepciona o mundo livre ao esquecer qual é a essência da academia: o livre intercâmbio de ideias.

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Tikun Olam e o Desenvolvimento Social O compromisso com o tikun olam é cada vez mais predominante no cenário atual do judaísmo. Sua disseminação como expressão que significa “justiça social” ou “ação social” começou a partir dos anos 50. Mas o termo e o conceito existem há pelo menos dois mil anos. A expressão tikun olam aparece pela primeira vez no Aleinu, uma prece que pode ter sido escrita no século II EC. Atualmente, o judeu observante recita o Aleinu três vezes ao dia. Na segunda parte da prece encontramos os dizeres “letaken olam bemalchut shadai” (estabelecer/consertar o mundo sob o reinado de Deus). “Letaken” aqui é o infinitivo do verbo; tikun é o substantivo da mesma raiz. É nesta expressão de fé que encontramos este compromisso tão reverenciado nas últimas décadas. Podemos inferir que uma das missões do tikun olam, de reparar o mundo, é terminar com as injustiças sociais, com a pobreza, com a fome, com a falta de moradia, com o abandono. Assim, o povo judeu tem como atribuição praticar ações que minimizem estas carências no mundo e, efetivamente, os judeus sempre criaram fundações e instituições para ajudar os necessitados. Certamente, com uma maior conscientização da importância do tikun olam, as comunidades, a partir dos anos 80 têm se empenhado a motivar suas congregações a abraçarem projetos de ação social de todos os tamanhos e formas. Nossa comunidade em São Paulo tem se mostrado incrivelmente presente neste processo. Somos, sem sombra de dúvida, exemplo para muitos. O número e o tipo de instituições que a comunidade judaica abriga são impressionantes e a dedicação de seus voluntários me emociona a cada visita que faço em qualquer uma destas inúmeras entidades. Tantas são estas organizações que não me atrevo a dar nomes porque, com certeza, seria injusto e esqueceria algumas delas. Como exemplo, creio que posso citar as duas maiores instituições: A Unibes – União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social – atende toda sociedade paulistana, no âmbito social, auxiliando crianças, jovens, adultos e idosos. A instituição recebe, principalmente, aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade e risco social. Os programas desenvolvidos pela Unibes, fundada há quase cem anos, têm como base dar oportunidades e ajudar a formar cidadãos autônomos. A instituição tem estrutura sólida que atende cerca de 14 mil pessoas atualmente, sendo que a faixa etária varia entre 2 e 100 anos. Os projetos são para criar soluções nas áreas de promoção humana, educação, saúde e cultura.

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E o Ten Yad- A Instituição Beneficente Israelita Ten Yad é uma das mais consagradas entidades que se dedicam a combater a fome no Brasil. Fundada em 1992 e atuando no Estado de S.Paulo, ela distribui mais de 700 toneladas de alimentos por ano, através de programas de segurança alimentar, programas de promoção e inclusão social e duas parcerias governamentais, uma com o Estado e outra com a Prefeitura do Município. Tivemos o imenso prazer de colaborar com as duas entidades sempre que solicitado. Na minha jornada profissional, sempre levantei a bandeira da ação social. Já na faculdade, cursei Sociologia, para compreender melhor as estruturas sociais e poder aprimorá-las. No campo profissional, fui secretário do Programa Nacional da Bolsa Escola, o primeiro do País na área de transferência de renda que deu origem aos programas sociais do atual Governo. Integrei a Comissão Especial constituída pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, do Ministério da Justiça, para acompanhar denúncias de exploração do trabalho forçado, trabalho infantil e outras formas de violação de direitos. Fui membro do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), do Ministério da Previdência e Assistência Social e Secretário Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da cidade de São Paulo. Com toda essa experiência, assim que fui convidado a ser Secretário Estadual de Desenvolvimento Social, tive a exata noção que era o meu compromisso de tikun olam me chamando novamente. Considerei os quase 114 mil votos que recebi e sei que a minha decisão pode gerar alguma frustração. Eu mesmo, senti uma pequena melancolia em não ir imediatamente ao Congresso Nacional. Entretanto, assumir a tarefa de reger a Secretária de Desenvolvimento Social é uma obrigação que alguém com o meu conhecimento na área e o meu comprometimento com a causa não tem o direito de recusar. É um dever que abrange uma enorme população e, longe de me imbuir do papel de salvador da pátria, creio ter ideias, energia e empenho para tentar amenizar a situação de vulnerabilidade de tantos desamparados de nosso Estado. Assim, licenciei-me provisoriamente do cargo de deputado federal e levanto novamente esta bandeira que me é tão cara, que é tão essencial ao povo judeu, a do tikun olam. Espero ainda que, no exercício da função, eu possa ajudar a nossa comunidade a valorizar seus projetos e ampliar o alcance desta atribuição de reparar o mundo.

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O Movimento Hostil O conflito palestino-israelense extrapola suas fronteiras de um modo perturbador. Existe um movimento extremamente pernicioso chamado BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) que pede ao mundo que se boicote, que se pare de investir e que se imponham sanções ao Estado de Israel. Esse BDS, fundado em 2005, faz a estranha comparação da situação na região com o apartheid na África do Sul e desrespeita a democracia israelense. Esse movimento se aproveita da retórica esquerdopata idealista das universidades e fomenta o boicote acadêmico, prejudicando as universidades israelenses e o intercâmbio de alunos e professores. O livro “The Case Against Academic Boycotts of Israel” (do inglês “O caso contra boicotes acadêmicos a Israel”), composto de 32 ensaios sobre a questão, mostra como o debate extrapola a academia e incita o antissemitismo. Em palestra, a autora de um dos textos, Donna Robinson Divine, disse que o BDS é mais prejudicial à academia do que ao Estado de Israel. Na verdade, o movimento BDS, em sua estrutura, antevê a substituição de Israel enquanto Estado judeu e democrático por uma entidade binacional de maioria palestina, é o que afirma um dos escritores do livro, Asaf Romirowsky. Algumas celebridades se recusarem a ir tocar em Israel, como Roger Waters, ex-integrante do Pink Floyd, e o U2. Também soubemos de cidades portuárias cujos funcionários se recusaram a descarregar navios de bandeiras israelenses. O BDS teve sua expressão também aqui no Brasil. Por um lado, viu-se o bom senso de Caetano Veloso e Gilberto Gil ao confirmarem seu show em Israel, evitando fazer parte do ridículo boicote. Infelizmente, depois, teceram comentários desairosos sobre o país. Entretanto, o pró-reitor da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, foi capaz de, vilmente, exigir a identificação de todos os cidadãos israelenses de seu corpo docente e discente, em um ato discriminatório inapelável. Há dois aspectos desse movimento a serem analisados. O primeiro é o psicológico. Embora a estratégia de boicote, desinvestimento e sanções agregue uma imagem de guerra econômica contra Israel, a verdade é que o efeito psicológico do movimento BDS é mais insidioso.

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Em geral, estudos mostram que a economia de Israel é suficientemente resiliente para suportar os efeitos limitados do BDS. Mas a cada vez que se anuncia um desinvestimento ou que um boicote é votado em uma universidade, reforça-se a posição de que Israel não merece um lugar entre as nações. Outro aspecto é que o boicote nos remete ao antissemitismo e às leis nazistas e fascistas de 1933 na Alemanha e de 1938 na Itália. O antissionismo de hoje esconde um antissemitismo arraigado nos mesmos preconceitos medievais do “libelo de sangue” e do “judeu tentando destruir a civilização”. Israel é uma nação jovem, democrática, inovadora, com seus defeitos, sim, mas digna de respeito mundial. É o país que abriga o Technion, um dos maiores institutos dedicados à tecnologia médica do mundo, da Universidade de Tel Aviv, que está perto de alcançar uma vacina que nos proteja tanto do mal de Alzheimer como de derrames, e do Hospital Ichilov, que isolou uma proteína que deve substituir a colonoscopia na detecção do câncer de cólon. Nossa tarefa é denunciar o BDS como um movimento antissemita, que visa destruir o estado judeu, e não só desocupar os territórios palestinos. A paz virá quando ambos os lados nutrirem a real aspiração de ver as necessidades alheias serem conquistadas.

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Israel: Muito Além das Facas Vivemos num mundo sui-generis. Parece que as palavras não têm mais valor verdadeiro. Ou não precisam ter, ou podem ser manipuladas. No mês de Outubro de 2017, Israel esteve sob intensa agressão. Foi um mês sangrento. Foram mais de 50 ataques de terror, a maioria envolvendo facadas, mas também através de veículos e armas de fogo. De repente, não mais do que de repente, jovens árabes ensandecidos, partiam para cima de cidadãos inocentes israelenses, no meio da rua, e atacavam estas pessoas com o intuito de matá-las. Mais de 100 pessoas foram feridas e 11 foram assassinadas. Muitos destes criminosos morreram em consequência destes ataques, alguns eram bem jovens, motivados por incitamento religioso e por mentiras referentes à visita de judeus ao Monte do Templo, onde fica a mesquita de Al-Aqsa. Nas redes sociais, apareciam vídeos de pessoas e até de autoridades da Palestina, estimulando estes jovens com frases “Morte aos Judeus”. O temor nas cidades israelenses era justificadamente grande. Afinal, você poderia estar andando pacificamente para o trabalho, para as compras e de repente, um palestino lhe atacaria com facadas. Entretanto, o povo judeu, como um todo, respondeu a esta ameaça de intifada com a coragem que lhe é peculiar e saiu às ruas, para mostrar que nada abate o espírito de um israelense. Este foi um modo de ataque perturbador, mas Israel ainda teve que conviver com uma forma de agressão que ultrapassava este caminho criminoso que os palestinos terroristas cometeram. Em todo mundo, movidos por um viés esquerdopata, a imprensa tratou com frieza os judeus feridos e mortos e pintou a situação de forma corrompida. Não foram poucas as manchetes que falavam de palestinos assassinados sem esclarecer que suas mortes eram consequência de agressões vis ao povo israelense. Quem abrisse um jornal ou assistisse às redes de televisão, poderia pensar que Israel estava atacando a Faixa de Gaza e a Cisjordânia e matando civis palestinos inocentes. Desde a BBC, passando pela CNN e as redes brasileiras, quem abrisse os jornais Folha de São Paulo, Le Figaro, Estadão (com exceção da Rede Record), poderia se apenar dos palestinos, pois a imprensa os pintava como quase mártires. As manchetes exclamavam “Palestino morto em ataque de Faca”, “Polícia israelense atirou em palestino”. E ainda “Jovem torna-se a sétima vítima palestina morta pelas forças de segurança de Israel após incidente de facadas em Jerusalém”.

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Este ataque da mídia internacional chega a ser quase ou tão sério como este início de intifada porque contamina a opinião mundial criando uma visão negativa de Israel. As pessoas só têm estas fontes de informação e criam em suas mentes uma imagem de Israel agressor contra a população palestina sofredora. A consequência desta mídia desfavorável ao nosso país é tão intensa que incentiva o BDS (Movimento de boicote aos produtos israelenses, contra nossa participação no mundo acadêmico, artístico e esportivo). Manifestações anti-Israel pipocam aqui e acolá, elegendo injustamente o país como praticante de uma política de apartheid contra o palestino sofredor. Não é pouca coisa. Toda esta percepção cria um sentimento contra Israel que é alimentado por um antissemitismo latente. Ficamos mais uma vez reféns do racismo, seja ele velado ou explícito, como nos ataques franceses contra sua população judaica. A guerra da mídia é mais uma que devemos enfrentar. O povo judeu não pode aceitar esta tendenciosidade porque nos prejudica muito. Parece que nosso povo precisa sempre ser melhor do que todos os outros, como se isso validasse a expressão “povo escolhido”. Aliás, o número de correspondentes internacionais que vivem e reportam desde Israel é maior do que em qualquer lugar no mundo. São jornalistas, com total liberdade de expressão, por estarem num país democrático. Com tantos conflitos acontecendo mundo afora, parece que as lentes sobre Israel são sempre mais presentes. Nem a guerra da Síria, com suas centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, tem a cobertura proporcional ao conflito israelense-palestino. Nós, que sabemos melhor o que acontece no Oriente Médio, devemos ser a voz da consciência e devemos utilizar todos os nossos recursos para desmistificar esta opinião deturpada que a imprensa divulga. Devemos usar as redes sociais, cartas para as redações e todos os meios possíveis para restabelecer a verdade do país hebreu. Do mesmo modo que o israelense enfrenta o ataque palestino, nós devemos enfrentar o ataque midiático.

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Israel: Antissionismo e Antissemitismo Estamos vivendo momentos conturbados. Quase todo o mundo ocidental tem se deixado levar pela onda avassaladora de organizações e pessoas que, erroneamente, acreditam que os palestinos são os pobres oprimidos do mundo. Os movimentos esquerdistas mundiais, sem qualquer embasamento sobre a história ou peculiaridades da região, incutem em seus partidários uma postura antissionista que aliena seus membros e induz a ter uma percepção de Israel como país opressor. Como consequência desta visão, foi criado o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) que incita o mundo ocidental a não consumir produtos israelenses, a impedir o intercâmbio de conhecimento ao recusar acadêmicos e artistas israelenses nas faculdades, congressos e todo tipo de instituição cultural onde possam ser convidados. O que todos parecem não saber é que este movimento BDS tem como uma de suas premissas primordiais a aniquilação do próprio país, Israel. Um movimento que prega a destruição de um país não pode jamais ter o apoio de uma sociedade democrata e das pessoas de boa vontade. De repente, Israel é o bicho papão que engole e destitui os palestinos de qualquer direito humano. Passeatas e discursos são organizados para impregnar no mundo o sentimento antissionista. Até mesmo os países mais civilizados são manipulados e se distanciam de Israel, sem oferecer uma alternativa de caminho para a paz. Políticos mundo afora têm a desfaçatez de sugerir que Israel é o único responsável pelo rompimento de vários processos de paz, desconsiderando os obstáculos que a Autoridade Palestina e seus dirigentes sempre impuseram para a construção de uma paz exequível. Hoje, Israel goza de um isolamento importante, advindo de uma visão global deturpada, porém crescente. Eu poderia discorrer sobre este tema, que é extremamente perigoso e cria um sentimento de antagonismo predador para com Israel, e leva a um isolamento injustificável. Entretanto, esta percepção de Israel faz aflorar na sociedade um sentimento mais antigo, pernicioso, que surge no íntimo das pessoas que veem Israel como a pátria judaica e opressora. O vetor do antissionismo remete ao renascimento do antissemitismo. Atualmente as pessoas dizem que são só antissionistas como fator de rejeição ao sentimento racista, mas seus atos refletem um antissemitismo latente que, de pouco em pouco mostra sua cara. Cada vez mais testemunhamos atitudes contra o judeu que vive particularmente na Europa, mas tantos outros países também compartilham este sentimento.

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Hoje, vivemos o absurdo de ver um judeu sendo agredido na França pelo simples motivo de usar uma kipá. Assistimos a manifestações na Alemanha onde gritam Jüde, lembrando as passeatas logo anteriores à Segunda Guerra Mundial. Outros países também têm suas passeatas com teor claramente antissemita. Hoje, também o judeu comum já percebe no ar o renascimento de um velado racismo que, cada vez mais, torna-se visível. Sentimo-nos desconfortáveis frente a este panorama. Entretanto, hoje, podemos respirar mais aliviados, pois Israel está lá firme e pronta a defender o judeu de qualquer lugar do mundo, vítima de alguma situação mais agressiva. Hoje, já não somos mais um povo sem nação.

Imagem: Projetado por Freeimages.com

Somos todos Israel.

Foto de Jerusalém.

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Considerações sobre os Princípios de Israel Atualmente Israel vem sendo injustamente acusada a respeito de tudo. Graças a um antissemitismo crescendo a passos rápidos, a um antissionismo acirrado e a uma mídia esquerdopata e tendenciosa, somos considerados como uma nação pária, sem justiça, acusada de invasões, responsável pela completa desobediência aos direitos humanos. Diferentemente do compromisso das nações árabes de aniquilar nosso país, os israelenses têm como premissa fundamental a obediência aos valores constantes em nossa Declaração de Independência. Há 68 anos, David Ben Gurion nos brindou com um emocionado discurso no dia do nascimento deste milagre que é Eretz Israel. Vale relembrar algumas de suas palavras: “A Terra de Israel foi o berço do povo judeu. Aqui a sua identidade espiritual, religiosa e política foi moldada. Aqui os judeus primeiro atingiram a condição de Estado, criaram valores culturais de significância nacional e universal e deram ao mundo o eterno livro de livros, a Torá. Depois de serem forçosamente exilados de sua terra, o povo conservou consigo sua fé durante sua Dispersão e nunca deixou de rezar e esperar por seu retorno a Israel e para a restauração, lá, de sua liberdade política. Impelidos por sua ligação histórica e de tradições, judeus lutaram, geração após geração, para se reestabelecer em sua antiga terra natal. Em décadas recentes, o povo judeu voltou em massa. Pioneiros, - imigrantes que vieram para Eretz-Israel, desafiando a legislação restritiva e fizeram desertos florescerem, reavivaram a língua hebraica, vilas e cidades foram construídas, e criaram uma próspera comunidade que controla a sua própria economia e cultura, amante da paz mas sabendo como se defender, trazendo as bênçãos do progresso para todos os habitantes do país e aspirando a um estado independente”. Ben-Gurion, este carismático sionista, na Declaração do Estabelecimento de Israel determina ainda as premissas fundamentais do país e seu povo:

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“O ESTADO DE ISRAEL será aberto para imigração judaica e para o recebimento de exilados; ele irá promover o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes; será baseado na liberdade, justiça e paz como imaginado pelos profetas de Israel; assegurará completa igualdade de direitos sociais e políticos a todos os seus habitantes, independentemente da religião, raça ou sexo; ele vai garantir a liberdade de religião, consciência, língua, educação e cultura; respeitará os lugares sagrados de todas as religiões; e será fiel aos princípios da Carta das Nações Unidas. O ESTADO DE ISRAEL está disposto a cooperar com os órgãos e representantes das Nações Unidas na implementação da resolução da Assembleia Geral do dia 29 de novembro de 1947 e tomará medidas para concretizar a união econômica de toda a Eretz-Israel. Apelamos às Nações Unidas para assistir o povo judeu no estabelecimento do seu Estado e para receber o Estado de Israel na comunidade das nações. Apelamos - mesmo no meio ao duro ataque lançado contra nós há meses - aos habitantes árabes do Estado de Israel para preservar a paz e participar da construção do Estado na base de uma cidadania plena e igual, através de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes. Nós estendemos nossa mão a todos os estados vizinhos e seus povos numa oferta de paz e boa vizinhança, e recorremos a eles para estabelecer laços de cooperação e ajuda mútua com o povo judeu soberano estabelecido em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para fazer a sua parte em um esforço comum para o desenvolvimento de todo o Oriente Médio.” E assim foi feito. Embora tivéssemos que lutar contra nossos vizinhos, embora o antissemitismo tenha continuado e se tenha encontrado uma nova forma de ódio aos judeus que é antisionismo, nossa nação nasceu e floresceu. Hoje, quando somos referência em tantas coisas como informática, medicina e tantas outras, podemos reafirmar este compromisso, norteados pelo sonho de Hertzl, de David Ben Gurion e de Golda Meir. Que as palavras de nosso antigo líder possam orientar o mundo todo para que nossos inimigos parem de denegrir nosso nome e nossa herança e que nos aceitem como parceiro. Que a imprensa perniciosa possa entender o cerne da carta do estabelecimento de Israel e que todos reconheçam nossos compromissos fundamentais.

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Terceira Guerra Mundial? Estamos vivendo momentos extremamente conturbados. Nossa impressão é que o mundo está em guerra. Uma guerra diferente, sem os traços de nação contra nação, mas mesmo assim, uma guerra. Até mesmo o Papa Francisco declarou que o que acontece hoje é uma guerra. Suas palavras foram: “É um tipo de terceira guerra mundial combatida em ‘pedaços’”. Desde Paris até Orlando, nos Estados Unidos, desde Bangladesh até a Nigéria, desde as colônias judaicas até Tel Aviv, desde Paris até Munique, um exército de terroristas assola nossa sociedade e seus soldados estão dispostos a morrer, desde que levem consigo dezenas e até centenas de cidadãos inocentes. Como assistimos, chocados, não temos mais a tranquilidade de estar comendo em um restaurante simpático e nem de comparecer em festividades, numa aglomeração de pessoas comemorando datas felizes. Nem mesmo podemos andar de trem serenos ou estudar livremente em universidades. Também, não podemos nem mesmo ser jovens meninas tentando estudar como as sequestradas pelo grupo extremista Boko Haram ou a adolescente Hallel Yafa dormindo em paz na sua casa, atacada, esfaqueada e morta por um palestino ensandecido. Hoje, os grupos assassinos se propagam pelo mundo todo e atingem todos os continentes. Além de grupos que organizadamente planejam ataques com logística, células com várias pessoas e poder de fogo intenso, temos uma nova forma de terrorista: o lobo solitário. O lobo solitário é, na maioria das vezes, uma pessoa como nós que é doutrinada pelas concepções fundamentalistas dos vários grupos terroristas, como o Hamas, o Hezbollah, o Isis, a Al Quaeda e até mesmo os grupos nazistas existentes atualmente. Este soldado, sem um exército tipicamente formado, acredita na narrativa destes grupos e se torna uma ponta de lança que irá adotar as posturas e as atitudes das organizações terroristas. Os lobos solitários aprendem a odiar a partir das postagens nas redes sociais e através da propaganda dos grupos e decidem agir em nome de suas novas concepções morais. O lobo solitário é alguém que, em nome de sua crença deturpada, organiza ataques sem o suporte tático das organizações de terror. Em geral, são homens radicalizados que escolhem alvos determinados e relacionados geralmente com os princípios de uma vida livre e prazerosa, e resolvem atacá-los como forma de agredir um modo de viver que consideram pecaminoso.

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As polícias do mundo todo estão atônitas e muito preocupadas com a dificuldade de detectar ou policiar este tipo de indivíduos porque, geralmente, eles agem sozinhos e mantêm pouca comunicação com outros terroristas. Em Israel, especificamente, eles aprenderam a atacar com fuzis e facas, e não escolhem alvos, qualquer um à sua frente é candidato à vítima. São todos leais servidores de causas extremistas, e os movimentos terroristas então assumem a autoria destes atos, vangloriando-se pela morte de inocentes. Infelizmente, parece mesmo que estamos em guerra. Uma guerra peculiar à qual não temos ainda determinado uma forma de responder à altura. O mundo não é mais o território onde antigos valores de liberdade costumavam ser respeitados e vivenciados.

Foto: Acervo Digital do Autor

Hoje, temos medo e nem mesmo sabemos de onde virá o perigo.

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A Insanidade da Unesco Há algum tempo, neste veículo, eu já havia criticado a ONU por sua incapacidade de lidar e oferecer alternativas para os muitos conflitos de todo o mundo. Agora, diante da insensatez de uma de suas agências, a Unesco, que declarou há um mês que a cidade de Jerusalém e especificamente O Monte do Templo são locais sagrados apenas para os muçulmanos, é necessário que falemos novamente sobre estes organismos que perderam qualquer noção da realidade. A Organização das Nações Unidas é uma organização internacional fundada em 1945 após a Segunda Guerra Mundial por 51 países comprometidos com a manutenção da paz e da segurança internacionais, com o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações e com a promoção do progresso social e de melhores padrões de vida e direitos humanos. Desde a sua criação, o mundo teve a ONU como o baluarte da razão e do consenso mundial. É fato. Podemos lembrar o quanto os judeus se emocionaram na data de 16 de setembro de 1947 quando, sob a batuta do brasileiro Oswaldo Aranha, foi aprovado o plano da Partilha da Palestina, possibilitando a criação do Estado de Israel. A ONU é responsável por incontáveis ações humanitárias, educacionais, de desenvolvimento sustentável, de justiça social e tem buscado ajudar populações mais vulneráveis deste planeta. Em sua história, a ONU foi fórum de debates importante para a preservação da paz mundial e foi fundamental para o final de crises complicadas como a da Baía dos Porcos, nos anos 60 e particularmente a da Guerra Fria. A ONU teve papel protagonista também durante a fatídica Guerra do Vietnã. Foi essencial para acabar com a crise da Sérvia e muitos outros conflitos na história moderna. Desde sua formação, a Organização criou agências especializadas em áreas específicas de atuação, como a UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a OMS Organização Mundial da Saúde, a AIEA Agência Internacional de Energia Atômica, entre tantas outras, para melhor servir o povo dos países afiliados no que tange às tantas questões que afligem as gerações deste nosso século. No entanto, hoje estamos aqui analisando uma grande vulnerabilidade desta nobre organização. Nos últimos tempos, a ONU tem fracassado em implementar planos de paz que impeçam massacres ignóbeis como este que tem virado rotina na Síria. Sua capacidade de ação diante de ditadores assassinos é quase nula. Negociadores hábeis e dignos como os secretários gerais U Thant, Javier Perez de Cuellar, Kofi Annan e Ban Ki Moon não conseguiram enfrentar o mal e a sede de poder que residem na alma de cada líder sanguinário que comanda ou comandou tropas em Ruanda, Somália, Sudão e, atualmente, na Síria. Não é só este fator que inibe e impede uma ação mais efetiva de polícia e de controle das forças de paz da ONU.

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A Organização, quando se vê diante de problemas eminentemente políticos e territoriais, não consegue obter consenso de seus membros, que obedecem suas próprias agendas e esquecem os valores básicos de integridade humana. Assim, tanto em votações dos países com direito de veto, quanto em assembleias gerais, as votações obedecem aos interesses e alianças convenientes para apenas alguns, e isto inviabiliza uma ação mais coerente da ONU. Notadamente, podemos citar a última votação da UNESCO referente à condição de Jerusalém e alguns de seus lugares sagrados. Historicamente em 1945, a UNESCO foi criada, a fim de responder à firme convicção de nações, forjada por duas guerras mundiais em menos de uma geração, que os acordos políticos e econômicos não são suficientes para construir uma paz duradoura. A paz deve ser estabelecida com base na solidariedade intelectual e moral da humanidade. A UNESCO se esforçou para construir redes entre as nações que permitem esse tipo de solidariedade, através da mobilização para a educação, de modo que cada criança, menino ou menina, tivesse acesso a uma educação de qualidade como um direito humano fundamental e como um pré-requisito para o desenvolvimento humano, através da construção da compreensão intercultural através da proteção do patrimônio e apoio à diversidade cultural. A UNESCO criou a idéia do Património Mundial para proteger os sítios de valor universal excepcional, e também protegendo a liberdade de expressão: uma condição essencial para a democracia, desenvolvimento e dignidade humanas. Hoje, eis que uma agência com esta nobreza de espírito se curva a interesses políticos regionais e resolve emitir uma resolução tão insana como a de 18 de Outubro, quando ignorou toda a História do mundo e qualificou Jerusalém, e especificamente o Monte do Templo, como sagrados unicamente aos muçulmanos. O monte do Templo, em alusão ao antigo templo, conforme é conhecido pelos judeus e cristãos, também chamado Nobre Santuário pelos muçulmanos, é um lugar sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos e também um dos locais mais disputados do mundo. Lá se encontram a Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha, construídos no século VII e que estão entre as mais antigas estruturas do mundo muçulmano. Por essa razão, o lugar é também referido pela imprensa e pelo mundo muçulmano como Esplanada das Mesquitas. Entretanto, trata-se do local mais sagrado do judaísmo, já que é no monte Moriá que se situa a história bíblica do sacrifício de Isaac. Foi este monte, lugar da “pedra do sacrifício” (a Sagrada Pedra de Abraão), que o rei David elegeu para construir um santuário que albergasse o objeto mais sagrado do judaísmo, a Arca da Aliança. As obras foram terminadas por Salomão, no que se conhece como Primeiro Templo ou Templo de Salomão e cuja descrição só conhecemos através da Bíblia, já que foi profanado e destruído por Nabucodonosor II em 587 a.C., dando início ao exílio judaico na Babilônia. Muitos anos depois, o Templo foi reconstruído, no que chamamos de Segundo Templo e que voltou a ser destruído em 70 d.C. pelos romanos.

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Porém, o muro ocidental, conhecido como Muro das Lamentações, não foi destruído e ainda se conserva, sendo considerado como o lugar de peregrinação mais importante para os judeus. Segundo a tradição judaica, é o sítio onde deverá construir-se o terceiro e último Templo, nos tempos do Messias. Quanto à Jeusalém, a cidade tem uma história que data do 4º milênio a.C., tornando-a uma das mais antigas do mundo. Jerusalém é a cidade santa do Judaísmo e o centro espiritual dos judeus desde o século X a.C. Contém também um número significativo de lugares antigos cristãos, além de ser considerada a terceira cidade santa do Islão. A primeira vez que a Bíblia cita Cristo em Jerusalém foi quando este tinha 12 anos e peregrinou à Jerusalém com seus pais para participar do Pesach, a Páscoa Judaica, como era de costume de todo judeu àquela época. Nesse período, Jesus ia ao Sagrado Templo aprender com os sábios judeus e acabou ficando para trás quando seus pais partiram. Quando Maria e José retornaram, encontraram o filho entre os mestres, espantando a todos com sua sabedoria. Os acontecimentes relativos à morte de Jesus aconteceram todos em Jerusalém e a Via Crucis mostra sua caminhada final com a cruz. Mas, efetivamente, há mais de 3.300 anos, Jerusaém sempre foi a capital judaica. Jerusalém é mencionada mais de 700 vezes na Bíblia. Os judeus do mundo rezam voltados para Jerusalém. Todos estes fatos reais atestam a importância de Jerusalém como cidade sagrada do judaísmo, do cristianismo e do islamismo. Negar a sacralidade de Jerusalém para as outras duas religiões monoteístas do mundo é negar a própria História do Mundo e a Bíblia. Por tudo isso, só podemos inferir que a UNESCO e a ONU têm se caracterizado como elementos de manobra de alguns países, majoritariamente muçulmanos, e que criam suas resoluções com um parti-pris absolutamente não condizente com suas histórias e seus propósitos. Justificadamente, as comunidades judaicas e cristãs do mundo ocidental repudiaram esta nefasta resolução da UNESCO e expressaram contundentemente sua revolta. No Brasil e no mundo, todas as organizações judaicas se manifestaram, através de documentos e textos citando este desvio de propósito da UNESCO. Este é um capítulo vergonhoso de duas entidades outrora criadas com princípios tão nobres. A realidade é que todos nós devemos estar alertas e denunciar a deturpação destas organizações, que deveriam pensar o mundo como um todo e promover o entendimento e a paz entre nações.

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“Existe apenas uma maneira radical de preservar o ser humano. Sem armaduras, tanques, aviões ou fortificações de concreto. A solução radical, senhoras e senhores, chama-se Paz!”.

Yitzhak Rabin

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A Lei Infame da Polônia Pretendia escrever um artigo sobre a importância do desenvolvimento social para que toda uma parcela do mundo pudesse ter uma melhor perspectiva de vida, mas a Polônia me trouxe de volta à questão que mais tem residido na minha alma: o enorme perigo da volta do nazismo. Nestas últimas semanas o Senado da Polônia aprovou polêmica lei sobre Holocausto. A Legislação prevê até três anos de prisão para quem acusar poloneses de cumplicidade em crimes nazistas e usar expressão "campos de extermínio poloneses". Como se uma lei pudesse apagar toda a responsabilidade polonesa pelo sofrimento de milhões de judeus. Desde Varsóvia até Apt, desde Lodzj até Stashow, todas as cidades e vilarejos já conviviam com um antissemitismo ferrenho. Muitos judeus afortunados conseguiram sair do país antevendo o que aconteceria. Muitos ainda vieram no apagar das luzes antes da Guerra. E, então, com a invasão nazista, milhares e milhares de poloneses puderam exercer seu profundo sentimento contra os judeus. Eles denunciavam de forma sistemática os judeus que estavam escondidos em porões e nas ruas, nas cidades pequenas ou disfarçados como cidadãos não judeus. Eles não tinham prurido em chantagear a população judia. Eles aceitavam cuidar de bebês e crianças judias para depois ficarem com elas e forçarem que elas aceitassem a fé cristã, recusando-se a devolvê-las depois da guerra. Os poloneses dilapidaram seus judeus. Roubaram joias, obras de arte e dinheiro. Eles invadiram propriedades e se apropriaram delas. O judeu, faminto, deslocado em busca de seus bens, voltaram às suas cidades para bater a porta na cara, pois sua casa já não era sua, suas joias já não os esperavam, suas posses não mais existiam.E a Polônia vem hoje e cria uma lei que nega toda esta perseguição? A população judaica polonesa foi a que mais morreu durante o nazismo. Sim, era uma das maiores populações de judeus no mundo, mas, claramente, o envolvimento do polonês alimentou a matança. Nesta nova fobia contra o judeu, até mesmo a ONU anda jogando no time dos antissemitas. Suas resoluções anunciando que Jerusalém só é sagrada para os muçulmanos é, inequivocamente, uma declaração antissemita. Aqui, nem se trata de atacar enfática e injustamente o Estado de Israel, mas é uma resolução que afeta o judeu do mundo todo. Sabemos também, que mesmo sem leis oficiais, centenas de eventos antissemitas estão acontecendo. Já nem podemos chamar de eventos, são mesmo uma grande onda racista. Nem mesmo são só antissionistas, são expressões globais de ordem nazista. Hoje, protegidos pela nossa Terra Sagrada, temos o compromisso de aumentar nosso tom de voz diante deste panorama. Não seremos mais o povo desenraizado e sujeito a estes ataques.

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Nossas instituições, confederações, agremiações, escolas, clubes, sinagogas, e todos os judeus temos a missão de defender nosso povo, seja procurando as vias da lei para isso, ou falando, escrevendo, fazendo demonstrações, apresentando discursos e denunciando mentiras. Que a Polônia venha me prender, mas sua cumplicidade em crimes nazistas é fato notório e os campos de concentração poloneses foram uns dos mais bem-sucedidos na esteira nazista. Eu e milhares e milhares de judeus no mundo somos obrigados a denunciar esta mais nova expressão de racismo da Polônia.

Imagem: Projetado por blog.radissonblu.com

E hoje, mais fortalecidos, dizemos, foi nazismo polonês sim!!!

Panorama da noite do castelo real em Varsóvia. Polônia.

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A Volta do Passado Hoje em dia, no século 21, o judeu está em perigo tanto quanto esteve nos dias e anos precedentes ao surgimento do nazismo. Sim, o antissemitismo existe no mundo desde a Antiguidade, desde a Pérsia da Rainha Esther, desde a tentativa dos gregos em querer assimilar nossa cultura e tradições, desde também os pogroms na Rússia e Polônia. Logo antes das políticas alemãs e de outros países europeus, os judeus nascidos nestes recantos se consideravam, ingenuamente, cidadãos alemães, poloneses, franceses, italianos, gregos e outros. A percepção desses judeus era que, como cidadãos legítimos destas nações, eles não seriam afetados pelo ódio porque eram tão alemães, franceses, italianos, poloneses, austríacos quanto qualquer outra pessoa lá nascida. Pouco a pouco, as leis anti-judeus foram surgindo nestes países e foram sendo publicadas e aplicadas, mas mesmo assim milhares de judeus, principalmente aqueles cidadãos de classe média e alta, da academia, da literatura, da música e muitos mais, deram pouca atenção a isso, interpretando que seus status nas referidas comunidades acabariam prevalecendo sobre suas origens judaicas. Ledo engano. O antissemitismo e o racismo desses povos foram sendo incitados e impregnaram a consciência coletiva da Europa. A onda racista culpava os judeus por todos os defeitos do mundo, especificamente pelo controle das finanças, das comunicações, ou simplesmente por serem diferentes, com uma cultura a tradição próprias. Entretanto, com o passar dos dias, meses e anos, o judeu perfeitamente adaptado nesses países percebeu que não passaria incólume da desgraça. A perseguição alcançaria todo e qualquer judeu. Mesmo aqueles casados com pessoas de origens diferentes seriam cruelmente atacados e suas posições nas respectivas sociedades não os protegeria da tragédia. Suas casas, suas riquezas, suas posições como pessoas diferenciadas não lhes valeriam para nada. Foram todos engolidos no que seria o maior e pior plano de destruição do povo judeu. Entretanto, a comunidade judaica parece ter esquecido um pouco desta história. Apesar de termos sobrevivido ao nazismo e fascismo, ainda acreditamos que passaremos incólumes a uma nova e crescente onda de antissemitismo. Milhares de judeus pensam que este ódio que está renascendo tem tudo a ver com a postura do Estado de Israel e as posturas palestinas. Existe a crença de que tudo isso passará quando o conflito árabe- israelense tiver sido resolvido. Vemos inclusive muitos judeus que protestam contra Israel, porque consideram o país como opressor. É fato que a política de Israel intensifica a tendência anti judaica do mundo, mas, infelizmente o problema é muito maior.

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O ódio contra judeus pelo simples fato de serem judeus ressurge de uma forma muito semelhante aos anos pré Segunda Guerra Mundial. Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos acontecem demonstrações que utilizam as mesmas frases nazistas de um passado recente. “Fora Judeus” “Morte aos Judeus” aparecem em protestos contra nosso povo. A manifestação mais recente que aconteceu na Polônia é a prova mais contundente desse ódio puro, mas inúmeros países nobres têm presenciado e ignorado muitas passeatas com estas características. Os símbolos efetivamente judaicos são motivos também para agressões e impropérios racistas. O judeu não se sente mais seguro nas ruas da Europa, mas muitos alimentam a ideia que tudo passará com a paz em Israel. Não. O que ocorre é produto puro e intransigente do antissemitismo mostrando sua face novamente. Subir no ônibus com uma kipá e ser selvagemente agredido por isso, bombas diante de nossa sinagogas e esfaqueamento de religiosos, agressões vocais e físicas contra nós cada vez mais são parte do cotidiano na Europa. O movimento ariano nos Estados Unidos está aumentando cada vez mais nos Estados Unidos e consideram o judeu como um povo inferior. O discurso geral novamente coloca o judeu como detentor das finanças do mundo e do controle dos meios de comunicação. Afirmam que o judeu e o judaísmo são o veneno que assola o mundo. Começamos novamente a ser indesejados e mais uma vez somos o bode expiatório para as classes políticas tanto da direita quanto da esquerda. Sim, hoje temos Israel como nosso porto seguro, com seu compromisso de receber todos os judeus do mundo, mas o perigo é que continuemos a nos sentir ingenuamente cidadãos dos nossos países de origem e nos considerarmos imunes a este ódio puro que renasce. O temor é que só abriremos os olhos quando for tarde demais. Parece que a história do Holocausto e as políticas públicas de promoção de diversidade já não nos valem para nada. Mesmo os discursos de tolerância que nossos líderes pregam parecem ser incapazes de garantir um futuro mais justo e a extinção do antissemitismo crescente. A resposta para tudo isso pode ser Israel, mas temos que ficar alertas para não sermos humilhados pelo mundo novamente.

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Floriano com o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley.

Floriano em todos os eventos que envolvam Israel.

Floriano em debate com o economista Pedro Parente- Clube dos 500.

Floriano e o Prefeito de São Paulo, Bruno Covas.

Com o Presidente do Clube A Hebraica, Daniel Leon Bialski.

Floriano no Impeachment da Ex-Presidente, Dilma Rousseff.

Floriano e o Governador Geraldo Alckmin na inauguraçao de equipamentos sociais no Estado de São Paulo, como secretário de Estado de Desenvolvimento Social.


Floriano sempre recebe com Fernando Henrique Cardoso.

Com Mendonça Filho (Mendoncinha), Ex-Ministro da Educação e Ex-Governador do Pernambuco).

Com o Ex-Ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer.

Floriano com a Presidente do Fundo Social de Solidariedade, Lu Alckmin, e com o Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo, Daniel Annemberg.

Coordenando a visita de líderes da comunidade judaica ao Governador Márcio França. Na reunião: Fernando Lottenberg, Cláudio Lottenberg, Jack Terpins Hélio Bialski e Mendy Tal.

Fotos: Acervo Digital do Autor


2


REFLEXÕES

N

esta minha jornada, entendi também que devemos

nos inspirar nos grandes filósofos e líderes mundiais para formular um pensamento mais embasado que estruture nossa visão de mundo. Extrair exemplos dos filósofos antigos, da sabedoria do judaísmo e dos políticos que sempre admirei foi a escola que preferi para meus pensamentos e ações decorrentes. Refletir a respeito das ideias de tantas pessoas de valor me ajudou a depreender um raciocínio próprio, uma forma de pensar que contempla a sabedoria dos que vieram antes de mim e a definição de minha missão na vida. Aprendi a analisar o que este mundo tem de positivo e de negativo e só então poder formular uma política positiva.

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Considerações sobre os Princípios de Israel

Atualmente Israel vem sendo injustamente acusada a respeito de tudo. Graças a um Antissemitismo crescendo a passos rápidos, a um antissionismo acirrado e a uma mídia esquerdopata e tendenciosa, somos considerados como uma nação pária, sem justiça, acusada de invasões, responsável pela completa desobediência aos direitos humanos. Diferentemente do compromisso das nações árabes de aniquilar nosso país, os israelenses têm como premissa fundamental a obediência aos valores constantes em nossa Declaração de Independência. Há 68 anos, David Ben Gurion nos brindou com um emocionado discurso no dia do nascimento deste milagre que é Eretz Israel. Vale relembrar algumas de suas palavras: “A Terra de Israel foi o berço do povo judeu. Aqui a sua identidade espiritual, religiosa e política foi moldada. Aqui os judeus primeiro atingiram a condição de Estado, criaram valores culturais de significância nacional e universal e deram ao mundo o eterno livro de Livros, a Torá”. Depois de serem forçosamente exilados de sua terra, o povo conservou consigo sua fé durante sua Dispersão e nunca deixou de rezar e esperar por seu retorno a Israel e para a restauração, lá, de sua liberdade política. Impelidos por sua ligação histórica e de tradições, judeus lutaram, geração após geração, para se reestabelecer em sua antiga terra natal. Em décadas recentes, o povo judeu voltou em massa. Pioneiros, - imigrantes que vieram para Eretz-Israel, desafiando a legislação restritiva e fizeram desertos florescerem, reavivaram a língua hebraica, vilas e cidades foram construídas, e criaram uma próspera comunidade que controla a sua própria economia e cultura, amante da paz mas sabendo como se defender, trazendo as bênçãos do progresso para todos os habitantes do país e aspirando a um estado independente” Ben-Gurion, este carismático sionista, na Declaração do Estabelecimento de Israel determina ainda as premissas fundamentais do país e seu povo: “O ESTADO DE ISRAEL será aberto para imigração judaica e para o recebimento de exilados; ele irá promover o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes; será baseado na liberdade, justiça e paz como imaginado pelos profetas de Israel; assegurará completa igualdade de direitos sociais e políticos a todos os seus habitantes, independentemente da religião, raça ou sexo; ele vai garantir a liberdade de religião, consciência, língua, educação e cultura; respeitará os lugares sagrados de todas as religiões; e será fiel aos princípios da Carta das Nações Unidas. O ESTADO DE ISRAEL está disposto a cooperar com os órgãos e representantes das Nações Unidas na implementação da resolução da Assembléia Geral do dia 29 de novembro de 1947 e tomará medidas para concretizar a união econômica de toda a Eretz-Israel.

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Apelamos às Nações Unidas para assistir o povo judeu no estabelecimento do seu Estado e para receber o Estado de Israel na comunidade das nações. Apelamos - mesmo no meio ao duro ataque lançado contra nós há meses - aos habitantes árabes do Estado de Israel para preservar a paz e participar da construção do Estado na base de uma cidadania plena e igual, através de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes. Nós estendemos nossa mão a todos os estados vizinhos e seus povos numa oferta de paz e boa vizinhança, e recorremos a eles para estabelecer laços de cooperação e ajuda mútua com o povo judeu soberano estabelecido em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para fazer a sua parte em um esforço comum para o desenvolvimento de todo o Oriente Médio.” E assim foi feito. Embora tivessemos que lutar contra nossos vizinhos, embora o antissemitismo tenha continuado e se tenha encontrado uma nova forma de ódio aos judeus que é antisionismo, nossa nação nasceu e floresceu. Hoje, quando somos referência em tantas coisas como informática, medicina e tantas outras, podemos reafirmar este compromisso, norteados pelo sonho de Hertzl, de David Ben Gurion e de Golda Meir. Que as palavras de nosso primeiro presidente possam orientar o mundo todo para que nossos inimigos parem de denegrir nosso nome e nossa herança e nos aceite como parceiro. Que a imprensa perniciosa possa entender o cerne da nossa carta do estabelecimento de Israel e que todos reconheçam nossos compromissos fundamentais.

REFLEXÕES

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A Bandeira de um País

Há alguns dias o mundo presenciou um ato que mancha a história milenar dos esportes. Sempre acreditamos que todas as competições esportivas ficavam acima dos conflitos políticos e das diferentes nacionalidades. Os milhares e milhares de praticantes, em qualquer que fosse o evento, deveriam respeitar seus adversários e tratar todos com a deferência que qualquer atleta merece. No mês de outubro, assistimos um dos pontos mais baixos da comunidade esportiva. Em uma competição acontecida em Abu Dhabi, Tal Flicker, um judoca israelense, ganhou a medalha de ouro. Na hora de subir ao pódio, pasmem, a organização do evento se recusou a estender no mastro a bandeira de Israel e a tocar Hatikva, o hino nacional do país. Tal Flicker, o campeão israelense, então, na hora da medalha, cantou desafiadoramente e sozinho, o hino de sua nação. Felizmente, a notícia deste desrespeito correu o mundo através de todos os tipos de mídia, seja nos jornais impressos, nos sites de notícia e no universo de das redes sociais e todos manifestaram, de uma forma ou de outra, o repúdio a este ato, totalmente em desacordo com a prática e a história desportiva. Já, antes desta ofensa para com Israel, durante os Jogos Olímpicos no Brasil, um judoca egípcio se recusou a cumprimentar seu adversário israelense que o havia derrotado. Estas manifestações de ódio fazem parte de um contexto mais amplo, a demonização do estado judeu. Pode haver alguma dúvida de que Israel é o país mais vilipendiado do mundo hoje? Nenhuma outra nação engendra tanto desprezo, seja medido em polegadas de coluna de jornal, protestos de rua ou pixels de computador. O único aspecto do ódio mais perturbador do que a sua onipresença virulenta é a falta de proporção com os erros reais (e alegados) de Israel. A Coréia do Norte funciona como um vasto gulag, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, derrama armas químicas em crianças e os irmãos Castro governam despoticamente a ilha cubana por cinco décadas, mas nenhum desses regimes ditatoriais desperta a fúria dirigida ao estado democrático judaico. A maioria dos europeus, de acordo com pesquisas, considera este pequeno país de oito milhões de pessoas como a maior ameaça para a paz mundial. Um soldado israelense dispara uma bala de borracha na Cisjordânia e isso irá gerar multidões venenosas em cidades ao redor do globo; as forças armadas paramilitares iranianas assassinam manifestantes pacíficos em plena luz do dia e o mundo emite apenas um protesto. Por que Israel é fruto deste ódio tão desmesurado? A resposta fácil é o antissemitismo e, embora o ódio aos judeus certamente contribua para gerar hostilidade a Israel, esta não pode ser a única explicação. Conhecemos isso porque Israel, desde a sua fundação em 1948, tem sido um estado judeu, e ainda assim seu status como vilão do mundo só foi conquistado décadas mais tarde. Grande parte do motivo da mudança nas atitudes do mundo pode ser atribuída a uma transformação básica na ótica do conflito no Oriente Médio. Quando Israel declarou sua independência em 14 de maio de 1948, fez isso como uma nação incipiente de sobreviventes do Holocausto e pioneiros agrários isolados, cercados por exércitos árabes hostis com a intenção de terminar o que os nazistas começaram.

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Nestas circunstâncias, não é difícil entender por que Israel ganhou a admiração de tantas pessoas em todo o mundo durante os primeiros anos de sua existência precária. Israel aceitou o Plano de Partição das Nações Unidas para a Palestina, que dividiria o território do mandato britânico entre árabes e judeus e colocaria Jerusalém sob uma forma de fiscalização internacional. Os árabes o rejeitaram, escolhendo a guerra contra o compromisso. Quando Israel ganhou essa guerra, também ganhou a admiração de grande parte do mundo (não árabe e não muçulmano). Aqui estava uma pequena nação, uma jovem democracia, defendendo-se contra a agressão que tinha como objetivo aniquilar o país. Diante de tais desafios, Israel, nos meados do século XX, era facilmente identificável como o David batalhando por sua própria sobrevivência contra o Golias árabe. A narrativa, no entanto, começou a mudar após a Guerra dos Seis Dias de 1967. Em meio à defesa contra outra tentativa árabe de destruí-lo, Israel conquistou parte da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, territórios que tinham, até aquela época, sido ilegalmente ocupados pela Jordânia e pelo Egito, respectivamente. Ambas as parcelas de terra eram povoadas de árabes, muitos das quais haviam fugido do Mandato da Palestina - por sua própria vontade ou por serem expulsas de suas casas pelas tropas israelenses - em 1948. Agora, o conflito poderia ser seria reformulado e Israel não era mais o pequeno país contra o vasto mundo árabe, mas era Israel poderoso contra os palestinos ocupados e apátridas (que começariam a abraçar uma denominação "palestina" distinta, em oposição à identidade nacional árabe). Em resumo, a luta de Israel para existir ao lado de seus vizinhos em paz passou de ser conhecida de conflito árabeisraelense (em que Israel era inegavelmente David) para o conflito israelo-palestino (em que seus inimigos começaram a afirmar que o estado judaico era, na verdade, Golias). Assim, todas as vozes esquerdopatas, que viam os palestinos como o povo oprimido, passaram a perceber Israel como país dominante e agressivo. Com esse apoio generalizado ao povo palestino, esta percepção tendenciosa do estado judeu gerou este ódio desmedido contra o país sionista e reacendeu o antissemitismo no mundo. Como a mídia abraça sempre as visões esquerdistas, esse ódio se disseminou mundo afora. Israel, os israelenses e, por consequência o povo judeu, começaram a ser atingidos por esta visão distorcida da história. Assim, mesmo os eventos desportivos, que deveriam estar acima de qualquer ato político, tornaram-se arenas para manifestações de ódio. A nobreza dos esportes foi contaminada indelevelmente. Entretanto, o mundo judaico pode contar com seu povo, que cria cidadãos como Tal Flicker, que orgulhosamente defende sua pátria no ato solitário de cantar o hino de Israel. É cedo para sabermos se esta atitude de Abu Dhabi vai se repetir ou se podemos esperar que o mundo perceba o perigo de contaminar o mundo esportivo com ações que representem o oposto de tudo que o esporte acredita. Porém, hoje, queremos cumprimentar este judoca que se colocou acima desta ofensa e levou seu hino para o pódio. Kol HaKavod, Flicker.

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A Defesa Inconteste do Sionismo Sionismo. A ideia de que o povo judeu deva ter o seu estado soberano em sua terra natal, na Terra de Israel. É simples assim. No entanto, hoje em dia, parece que o sionismo virou um palavrão, quase tão ofensivo quanto o nazismo, justamente este horror que nos flagelou. Ora, negar o sionismo é tão absurdo quanto negar as raízes históricas do povo judeu com a terra onde está novamente estabelecido. Jerusalém é parte de nossa história. A veracidade do muro e da construção do Templo são confirmadas por achados arqueológicos; temos lugares sagrados também na Judeia e na Samaria. Mas, o que é mais relevante, o sionismo é o movimento que motiva principalmente um povo, com pessoas que seguem ou não a religião judaica, a ter o direito de se estabelecer de forma independente em sua terra. Sim, podemos questionar o vácuo histórico ocorrido durante centenas de anos. Podemos sair de uma partilha e de toda uma acomodação territorial acontecida a partir dos anos 1920 na região por influência francesa e inglesa. Mas não foi a única acomodação e migração de povos que houve no curso da história terrestre. Temos como exemplo o modelo da Índia e Paquistão. Depois disso, tivemos o estabelecimento do Estado de Israel e sua demonização por todos os seus inimigos árabes. Desde 1948, quando aceitamos a partilha, estamos dispostos a estabelecer uma paz possível. Apesar destes constantes ataques, o sionismo floresceu. Israel chega ao século XXI com mais árvores do que no século anterior. E com uma taxa de crescimento populacional impressionante. O casal secular no país tem uma média de três filhos, tanta é sua confiança no futuro do sionismo. Na verdade, segundo qualquer critério, Israel está florescendo. A população é considerada como uma das mais felizes, saudáveis e mais bem educadas do mundo. Seu sistema de saúde faz com que sua taxa de expectativa de vida seja maior do que a dos Estados Unidos e de muitos países da Europa. Sua vida cultural e social é intensa e Israel é famosa por sua posição líder em tecnologia de ponta. Este país minúsculo conseguiu tudo isso graças ao sionismo e é um oásis de liberdades essenciais numa região em que ditaduras fundamentalistas grassam. Israel construiu um país multiétnico, multirracial e com diversidade religiosa. Todas as religiões lá têm liberdade de culto, diferentemente de outros países do Médio Oriente. Assim, poderíamos pensar que o sionismo seria admirado. Triste ilusão. O sionismo tem sido amplamente demonizado. Os cartazes nas manifestações mundiais chegam a angustiar qualquer judeu que tenha um pouco de memória do Holocausto. Aliás, deveriam assustar qualquer ser humano que se preocupa com a igualdade humana.

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Muitas razões subjacentes alimentam este sentimento. O antissemitismo histórico, aquele de origem medieval, sempre tende a aflorar quando os judeus, ou o estado judeu, neste caso, estão na berlinda. Mas, não é só o preconceito fanático. Acusam o sionismo de frustrar as aspirações nacionais do povo palestino, de oprimi-los e de desalojá-los. Embora as raízes do povo judeu com a terra de Israel datem de milênios antes dos palestinos, embora pudéssemos ter resolvido o conflito no campo das negociações em várias ocasiões, como 1947, 2000 e 2008, é sempre Israel e seu sionismo que são considerados os intransigentes nos avanços do processo de paz, mesmo que grande parte dos palestinos nem mesmo queria nos aceitar como um estado livre. Sim, temos muito que negociar. Devemos nos sentar à mesa e buscar a solução de dois estados com qualidade de vida para dois povos, com fronteiras estabelecidas e uma relação que desfaça esse ódio nas próximas gerações. Buscaremos o caminho da paz, mas nós defenderemos o sionismo e Israel com todas as nossas forças e lembraremos o que diz o nosso hino Hatikva:

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Viver nosso povo em liberdade em nossa terra...Eretz Tzion Ierushalaim!

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A Nova Moeda Corrente da Europa do Século 21 – O Novo Velho Antissemitismo

Europa, a Velha Senhora,— berço cultural e histórico de grande parte dos judeus que conhecemos. Este povo lá viveu momentos de ápice de esplendor e de inenarrável drama. Após o apocalipse do Holocausto, a Europa e o mundo pareciam ter aprendido a lição. A moral humana parecia haver se rebelado e o antissemitismo parecia ter levado um golpe mortal. Entretanto, no início deste novo século, o ódio aos judeus parece ressurgir num crescente assustador. A questão é saber se a desembocadura desta onda nefasta será uma outra catástrofe do gênero do Holocausto ou se todos seremos menos indiferentes e nos apresentaremos desde cedo para denunciar o mal que se aproxima. Como bem disse Umberto Eco, “o antissemitismo pode ser definido como uma das muitas formas de fanatismo que envenenaram o mundo através dos tempos. Se muitas pessoas acreditam na existência de um diabo que conspira para nos levar à ruína, por que não poderiam acreditar também numa conspiração judaica para dominar o mundo?” O que há no momento na Europa é um adendo ao antissemitismo original, sob a forma de demonização do Estado de Israel. Segundo a ADL (Anti Defamation League – A Liga Anti Difamação), com uma grande população de imigrantes árabes, o antisemitismo europeu apresentou um forte aumento a partir da Guerra dos Seis Dias, voltando ao nível da era de Hitler. Pessoas afirmam não ser antijudias e sim antissionistas. Paradoxalmente, com o sentimento xenófobo causado por estes mesmos imigrantes, movimentos neonazistas renascem e florescem e o judeu mais uma vez aparece como o responsável pelas graves dificuldades financeiras do continente. Há uma convergência tóxica entre as conspirações da extrema direita antijudaica, a extrema da esquerda judaica e do sentimento anti Israel. Só para citar, em Outubro de 2011, a sinagoga de Corfu foi queimada e já haviam sido queimadas duas outras sinagogas na Grécia. Muros são grafitados com inscrições antissemitas pelo continente afora. Na última década, sinagogas foram vandalizadas ou incendiadas na Polônia, Suécia, Hungria e na França. Cemitérios foram saqueados. Pessoas com kipot sofrem violências e temem por suas vidas na França e crianças sofrem bullying nas escolas.

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Nas últimas semanas, a evolução dos partidos fascistas na França e na Grécia é um fato que não pode ficar sem resposta. Todos nós, da comunidade judaica, seja na Europa, em Israel, aqui ou em Timbuktu, devemos mostrar o quadro assustador. Afinal, os antissemitas não gostam quando os judeus vivem em um país que não seja Israel. Mas, se um judeu decide morar em Israel, os antissemitas também não gostam. “Quando Israel, o único país cuja própria existência está sob ataque, é consistentemente escolhido para ser condenado, acredito que temos a obrigação moral de tomar partido. Não apenas porque é a coisa certa a ser feita, mas porque a história nos mostra que - e a ideologia anti-Israel nos conta isso muito bem - aqueles que ameaçam a existência do povo judeu, são, a longo prazo, uma ameaça a todos nós.” Primeiro Ministro do Canadá Stephen Harper, ao assinar o Protocolo para Combater o Antissemitismo.

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“É melhor ser controverso pelas razões certas do que popular pelas razões erradas”.

Shimon Peres

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A Contabilidade da Alma “Im ló ani, mi li? Se eu não me empenhar no trabalho profundamente pessoal de mudança interna, ninguém mais poderá fazê-lo por mim.” O calendário judaico traz a sabedoria inata que nos permite refletir e renovar sonhos a cada ano. Eis que novamente chegamos a estes dias intensos e solenes, que marcam datas tão capitais do calendário de todos os judeus. É a época mais sagrada para o judeu do mundo todo, mesmo para aquele que pouco se relaciona com a religiosidade. É que, mais uma vez, chega o período em que buscamos nos elevar, refletindo nos acertos e desacertos que marcaram o ano que passou. É a dimensão ética e humanista de Rosh Hashaná e Iom Kipur que se manifesta, incitando-nos a avaliar a lacuna entre o que defendemos como seres humanos conscientes e decentes e as ações que realizamos em nosso dia-a-dia. Ao realizar a contabilidade da alma, nos damos conta de que, às vezes, falhamos em transpor a distância entre nossa consciência e nossa conduta, entre os princípios nos quais acreditamos e as ações que realizamos. Mas, o judaísmo nos propicia a oportunidade de avaliação e então nos recorda que temos a obrigação de fazer com que a distância entre o que dizemos e o que fazemos se torne cada vez menor. Mas, mais, muito mais, este período sagrado nos permite pensar o futuro. Um futuro em que podemos assumir um maior compromisso para conosco, para com o outro, para com a sociedade e, hoje, mais do que nunca, para com o planeta. É uma época para que sonhemos e nos comprometamos com mais ética, mais justiça, mais bondade, mais benevolência, mais proatividade, mais consciência, mais tolerância, mais paz, mais vida. Quando o som sagrado do shofar chegar aos nossos corações, devemos lembrar que este instrumento milenar é um alarme que nos desperta de nossa inércia moral. Nossa tarefa é entender que algo maior nos é pedido: que sejamos parceiros de Deus no aperfeiçoamento deste mundo. Que nos seja permitido ter um ano frutífero e um ano repleto de boas ações. Que sejamos escritos e selados para um Bom Ano.

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Dois Estados – Um Judeu Estamos chegando ao dia 29 de Abril, a data final estipulada para as negociações de paz entre palestinos e Israel. Pelo mundo, parece que o calcanhar de Aquiles das tratativas é a exigência do primeiro ministro Benjamin Netanyahu para que os palestinos reconheçam Israel como estado judeu. De repente, não apenas os assentamentos são considerados crimes de guerra, mas o requisito do estado judeu pelo reconhecimento de sua própria definição é algo absolutamente inaceitável. A própria raison d’être do moderno Estado de Israel, ideia central da partilha da Organização das Nações Unidas e texto intrínseco da Declaração de Independência de Israel é ilegítimo para os palestinos. O que ressalta aos olhos é o secretário de Estado John Kerry não querer entender quão importante é esta definição para nosso povo e para a garantia de Israel como lar do povo judeu de todos os cantos do mundo. Israel é o porto seguro para o judeu da Tasmânia e da França, para o habitante da Venezuela e o do Irã. Para aquela senhora que foi atacada no metrô de Paris e para qualquer um que deixar de se sentir protegido no país em que vive. Ninguém pensa em um estado judeu fundamentalista, mas um estado judeu democrático que respeita o direito de todos os seus cidadãos e com total liberdade religiosa. A Suprema Corte Israelense é um dos órgãos mais independentes do mundo. Mas parece que os palestinos não estão dispostos a oferecer a Israel o que eles estão pedindo aos israelenses: reconhecimento pleno. No passado, Israel ignorou os anseios do povo palestino por um Estado, mas estamos em outra época e, desde o ano 2000 admite o estabelecimento de um estado palestino. Hoje, devemos falar de um passo adiante e devemos fazer as concessões necessárias para conseguirmos, se não a paz ideal, pelo menos a paz possível. Para tanto, há de haver certo compromisso de cada parte e este compromisso implica primordialmente na aceitação mútua. Infelizmente, aqui, o elementar parece surreal. Sei que os israelenses devem colaborar com o processo de paz e fazer concessões difíceis para que possamos chegar no dia 29 de Abril com algo concreto, seja com uma negociação nos assentamentos, conversações sobre Jerusalém e libertação de prisioneiros emblemáticos. Entretanto, os palestinos estão discutindo o princípio fundamental do Estado de Israel, princípio já aceito outrora por Yasser Arafat. Parece-me que toda vez que caminhamos um pouco para um possível avanço nas negociações, chega um momento em que forças palestinas começam a vetar passos adiante.No mínimo, é extemporânea e insustentável a recusa de Mahmoud Abbas em aceitar a definição do Estado judeu. A comunidade internacional, os israelenses e palestinos pacifistas e todos os que querem a paz devem insistir para que esta barreira caia e continuemos buscando uma real alternativa para a viabilização de dois estados, vivendo lado a lado no princípio da tolerância. É imprescindível que o povo israelense, mas definitivamente o povo e o comando palestino, demonstrem seu compromisso inabalável com as negociações de paz. Aceitar o Estado de Israel como estado judeu é o passo necessário.

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Israel, Pare de Pedir Desculpas Os israelenses não são os únicos que deveriam pedir desculpas por aquilo que aconteceu na segundafeira. Nós agimos exatamente como qualquer país progressista deveria agir quando sua soberania está sendo questionada. Nós tentamos fazê-lo por meios diplomáticos, tentamos apelar para a lógica, e apesar disso, quando centenas de “militantes da paz,” armados com bastões e facas estão determinados a combater “Sionistas,” o resultado é previsível. Ninguém neste país queria ver sangue sendo derramado; nem o de soldados, tampouco o da “liberal” tropa de linchamento. Muitas perguntas podem surgir no que tange à tática militar; à disponibilidade de informações pelo serviço de inteligência e às alternativas operacionais (para aqueles que esperam na esquina, sua hora chegará com todas as investigações e os comitês). Ainda assim, nosso principal erro enquanto nação é o conceito: a terminologia suíça que de algum modo implantou-se no Oriente Médio. Enquanto grupos de desordeiros estavam se organizando na Turquia, aqui em Israel nos referíamos a isto como uma “missão de paz.” Enquanto estavam planejando atacar soldados com bastões; nós debatíamos a essência da ajuda humanitária. Não era difícil perceber que não havia qualquer ligação entre o persistente provocador Raed Salah e a preocupação com os residentes de Gaza. Provocação Séria Era difícil ignorar o fato de que aqueles supostamente desejosos por oferecer ajuda rápida para os sitiados cidadãos de Gaza atrasaram-se em Chipre para conceder entrevistas pela mídia. Os membros destas “organizações interessadas” poderiam ter transferido seus produtos sob várias formas (algumas delas através do Exército de Israel, diretamente) e mesmo assim preferiram prejudicar a imagem de Israel. Quem se interessa quanto a alimentos para os sitiados quando se pode criar uma provocação séria? Então, o que deveremos fazer na próxima vez? Tentar a mesma coisa? Detê-los de forma agressiva, sem piscar sequer uma pestana? O bloqueio naval ao redor de Gaza foi imposto porque o Hamas estabeleceu um posto avançado iraniano bem debaixo de nossos narizes. Enquanto Israel não abrir mão do esforço de por fim a um fortalecimento militar em Gaza, enquanto não abrirmos mão do direito de nossos cidadãos do Sul viverem em paz e enquanto tivermos interesse em prevenir foguetes apontados para tel Aviv, não há opção a não ser filtrar qualquer coisa que possa chegar até a Faixa de Gaza. Não parece bom e as imagens produzidas não são bonitas, mas as vidas dos cidadãos israelenses são mais importantes do que qualquer protesto diplomático mordaz. E sim, insistir na vida aqui tem um preço. Eu simplesmente prefiro que o outro lado pague.

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Fronteiras Voláteis As fronteiras de Israel e os países limítrofes sempre foram complicadas. Desde 1948 tivemos que nos defender de vários países que não aceitaram a deliberação da ONU criando o Estado de Israel. Foram, infelizmente, muitas guerras em que o povo judeu teve que enfrentar inimigos múltiplos, perdendo vidas sagradas de nosso povo. Geralmente, tivemos a benção de impor nossas forças de defesa em detrimento dos adversários. Conquistamos territórios que foram essenciais para as negociações de tréguas ou de final do conflito. Notadamente, conseguimos uma calma cautelosa com o Egito e observamos a Síria e o Líbano acordarem e se darem conta que a superioridade de Israel não permitia uma guerra de fato. Os outros inimigos árabes também não se arriscaram a travar luta contra nosso país. Sim, tivemos as Intifadas e a guerra com os palestinos, que afetaram nossas relações internacionais, mas conseguimos evitar outra guerra com diversos adversários. Entretanto, há algumas décadas, a Síria e o Líbano foram recipientes de uma importante força terrorista, o Hezbollah. Contra eles, tivemos que lutar e também conviver com uma retórica belicista e cheia de ódio. No decorrer dos anos, vimos este movimento terrorista virar uma força tão grande dentro do Líbano e da Síria, que dão a impressão de ser um estado dentro de um estado. Sua influência nestes países só fez se agigantar. Israel conseguiu muitas vitórias ao eliminar altas personalidades do Hezbollah, mas esta organização terrorista ainda tem um poder relevante nestes dois países. É fato que estes terroristas sempre contaram com o apoio de outros países árabes, sendo o Irã seu maior aliado e responsável por sustentar suas hostes e prover material bélico. Ainda assim, Israel conseguiu conviver com esta ameaça ao longo dos anos. Conseguiu neutralizar inúmeros atentados terroristas e teve êxito ao ignorar a retórica bélica que o Irã e o Hezbollah mantiveram durante anos. Hoje, o cenário mudou. Hoje, o perigo aumentou. Há poucas semanas, o Irã lançou um drone que invadiu o espaço aéreo da nação judaica. O veículo foi prontamente abatido e Israel não hesitou em retaliar esta invasão. Entretanto, este fato coloca em evidência a presença crescente de bases iranianas no espaço geográfico da Síria. Obviamente, esta é uma escalada importante no grau de perigo para Israel. A força bélica do Irã não é desprezível e esta é mais uma variável a ser considerada na zona de conflito.

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Assim, os discursos também mudaram. De nossa parte, o primeiro ministro Benjamin Netanyau advertiu que qualquer iniciativa iraniana de nos atacar seria repelida prontamente de forma rigorosa, com toda a extensão de nossa força. Como contraponto, autoridades iranianas afirmaram que iriam arrasar e colocar Tel Aviv no chão. O fator complicador do cenário no momento é que o Irã possui armas extremamente mais perigosas que o Hezbollah, o Líbano e a Síria e a presença destas armas na fronteira norte de Israel é simplesmente inaceitável. Embora todos da região afirmem que não querem uma escalada do conflito, a verdade é que, hoje, nossa sensação de perigo iminente se potencializou. A possibilidade de uma guerra exigirá de Israel um planejamento de longo prazo, com a necessidade de usar forças terrestres também. No quadro geográfico deste tumulto, ainda temos na região forças russas auxiliando o governo sírio e isso povoa ainda mais a região e demanda uma atenciosa consideração do que pode ou não acontecer. Mais uma vez é possível afirmar que hoje, o cenário mudou. Hoje, o perigo aumentou. Vamos ficar atentos e esperar que as ameaças fiquem só na retórica e que não se tornem realidade.

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Justiça e Caridade Estender a mão aos necessitados é fundamental para o ser judaico. Os judeus são compelidos a dar pelo menos dez por cento do seu lucro líquido a instituições de caridade. As caixas de Tzedaká para recolher moedas para pessoas necessitadas podem ser encontradas em lugares centrais nas casas judaicas. É comum ver jovens judeus, em Israel e na diáspora, indo de porta em porta para angariar dinheiro para causas dignas. Tzedaká literalmente significa justiça em hebraico. Na Bíblia, tzedaká é usada para se referir à justiça, bondade, comportamento ético e outros. No hebraico pós-bíblico, Tzedaká remete à caridade, dando aos necessitados. As palavras justiça e caridade têm diferentes significados em português. Como é que em hebraico, uma palavra, Tzedaká, foi traduzida para significar justiça e caridade? Essa tradução é consistente com o pensamento judaico, já que o judaísmo considera a caridade como um ato de justiça. O judaísmo afirma que as pessoas necessitadas têm direito legal à alimentação, roupas e abrigo e que devem ser honradas por pessoas mais afortunadas. De acordo com o judaísmo, é injusto e até mesmo ilegal que os judeus não ofereçam caridade aos necessitados. Assim, dar caridade na lei e tradição judaicas é visto como auto-tributação obrigatória, em vez de doação voluntária. De acordo com um antigo sábio, a caridade é igual em importância a todas as outras mitzvot combinadas. Também, existe uma interpretação que o Divino permite que existam necessitados no mundo para que os mais afortunados possam expressar sua bondade exercendo esta mitzvá. É uma forma de sermos parceiros de Deus na construção de um mundo mais justo. (Tikun Olam). O judaísmo não limita a ação de Tzedacá apenas ao povo judeu. O ato engloba toda a humanidade. Na realidade, a caridade é uma questão importante em muitas e muitas religiões, mas no judaísmo ela é imbuída da noção de justiça. Maimônides, um dos maiores sábios de nossa tradição, dedica oito capítulos de sua obra para a mitzvá da Tzedacá, reiterando o papel central deste ato na nossa vida física e espiritual. Em todas as datas importantes do judaísmo, mesmo quando perdemos um ente querido, reforçamos veementemente a necessidade da Tzedacá. É comum que pessoas façam uma doação para homenagear a pessoa falecida. Em todos os atos festivos, reiteramos a todos os congregantes a importância de não pensarmos só em nós mesmos, vendo o mundo sob um aspecto mais inclusivo através da mitzvá da Tzedacá. Ao redor do mundo, quase todas as instituições judaicas, de um modo ou de outro, incentivam a caridade. Seja na forma de doação, seja na forma de criar organizações de suporte aos necessitados, seja no trabalho voluntário.

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A comunidade judaica no Brasil criou uma série de instituições beneficentes que fazem um trabalho essencial de suporte aos mais necessitados. A Unibes, o CIAM, o Ten Yad, O Projeto Chaverim, a OAT, o Projeto Felicidade são apenas algumas das organizações judaicas que buscam, de uma ou outra forma, aliviar o sofrimento da população. Na minha trajetória política, a ação social tem sido uma das mais importantes bandeiras e, portanto, temos sempre buscado subsídios para as instituições e procuramos também auxiliá-las com toda a nossa capacidade política.

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“Por causa da Tzedacá, o mundo sobrevive.” Rashi

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Nem lá Estamos Seguros? O sonho de todo judeu hostilizado por pogroms, pelo nazismo e pelo evidente antissemitismo da Europa era chegar até a América, pilar da liberdade e coexistência entre as minorias que lá aportavam. Durante décadas, os imigrantes judeus sentiram-se livres em uma terra de oportunidades iguais, os Estados Unidos. Com exceção de poucas manifestações pontuais, o antissemitismo não chegava a assustar a grande população judaica existente no país. Quando defrontado com o antissemitismo sempre presente na Europa, em maior ou menor expressão, o judeu americano sempre teve orgulho de se sentir judeu e americano, louvando seu modo de vida bem integrado no país. Pois bem, isso mudou. Desde há alguns anos, os movimentos pró-Palestina se infiltraram na esquerda americana e nos campi através do país. O antissemitismo então transvestiu-se de antisionismo e começou a disseminar o errôneo discurso do “grande opressor”, Israel, contra os “pobres e indefesos” palestinos. Esta retórica desvirtuada foi muito bem recebida nos Estados Unidos, assim como também na Europa. Mesmo sem conhecer realmente as intrincadas relações de Israel com a Palestina, mesmo sem uma visão informada sobre o conflito, milhares julgaram e julgam Israel como o único responsável pela ausência de paz na região. Até mesmo muitos judeus liberais, que têm uma inclinação esquerdista, escolheram carregar a bandeira contra Israel, no tocante à situação dos palestinos. Neste ambiente, podemos dizer que o Movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) encontrou um terreno fértil para seu discurso. O movimento, com sua postura altamente antissemita que prega a destruição completa do Estado de Israel, se impregnou em várias camadas da sociedade americana. Entretanto, a maior história de sucesso do BDS apresenta-se nos campos culturais e acadêmicos. A quantidade de artistas que abraça esta filosofia perigosa é importante. No campo da educação, os alunos das universidades foram amplamente contaminados pelos movimentos pró Palestina. Hoje, sempre quando um palestrante judeu é convidado para discursar nestas universidades, ele é hostilizado ruidosamente. O policiamento dos estudantes é feroz e impede a livre troca de sabedoria tão vital ao campo acadêmico. Os antisionistas de plantão atacam até mesmo a presença física do palestrante. O antissemitismo se revela paramentado de outros trajes, mas não há como negar o viés fascista destas manifestações. Além disso, há alguns meses, o antissemitismo em sua forma mais pura começa a mostrar seus dentes na América.

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Movimentos direitistas, que pregam a supremacia racial, encontraram eco nesta nova administração política de direita e começam, cada vez mais, a destilar seu ódio sobre a população judaica em geral. A rede social virou um paraíso para afirmações nacionalistas, puramente fascistas, com um discurso de ataque às minorias em geral, e ao judeu em especial. No campo da ação, esta facção da sociedade americana tem atacado todas as instituições judaicas pela comunicação de ameaça de bombas. Centros comunitários, escolas, sinagogas, todos eles foram obrigados a fechar, mandando crianças e adultos para casa, buscando promover a segurança de seus frequentadores. Também, cemitérios judaicos têm sido violados com túmulos destruídos e pichações nazistas. Os Estados Unidos já não são um porto seguro para nós. Ainda temos ampla representatividade no corpo da sociedade americana, mesmo no Governo Trump, que se denomina amigo de Israel, mas devemos ficar alertas para este aumento do antissemitismo no país. Atualmente, o judeu americano vive tempos de horizontes mais sombrios nesta terra que sempre abriu os braços para o judeu em busca da liberdade. É mister que abramos nossos olhos e que repudiemos enfaticamente estes atos. Não podemos ser reféns de uma sociedade que prega o antissemitismo aberto ou velado. Devemos recuperar nossa sensação de liberdade através da denúncia e de atitudes proativas para resgatar nossa tranquilidade. A verdade é que passamos a sentir um incômodo já conhecido pelo judeu no mundo todo. Não devemos permitir que outras tragédias aconteçam. Nossa voz há de ser ouvida.

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Jerusalém, Nossa Cidade Santa Que minha mão definhe, ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti! Que me grude a língua ao céu da boca se eu não me lembrar de ti e não considerar Jerusalém a minha maior alegria. Estas frases acima, escritas nos Salmos, descrevem nossa devoção em relação a Ierushalaim. A cidade mais essencial do povo judeu sofreu e sofreu. Muitos tentaram e alguns conseguiram expulsar nosso povo de Ierushalaim. Os babilônios nos conquistaram e nos levaram à sua terra, mas, desde as margens dos rios da Babilônia, os judeus soluçavam e lembravam-se da cidade sagrada. Então, quiseram minar nosso povo de outra forma, obrigando a helenização de Ierushalaim, proibindo o estudo da Torá e os rituais judaicos. E os macabeus lutaram e retomaram Jerusalém. Até que os romanos, no início do primeiro milênio, expulsaram novamente este povo de sua terra, de sua Ierushalaim. Nestes quase 2 mil anos de separação de um povo de sua terra, nunca Ierushalaim foi esquecida. Sempre foi parte primordial do sonho dos judeus. Em suas datas religiosas mais significativas, como em Iom Kipur, Ierushalaim foi citada e recitada, dando voz à aspiração de para lá voltar. O movimento sionista tem em seu nome esculpida a palavra Tsion, um dos nomes da cidade sagrada. Foram séculos e séculos de destruição e exílio, de um povo à espera de seu lar espiritual. E finalmente, em 07 de Junho de 1967, Ierushalaim nos foi resgatada em sua unificação. Escutamos boquiabertos, o som dos passos dos nossos jovens, nossos bravos soldados, entre tiros e instruções militares, caminhando emocionados, aos prantos. Prantos de tristeza pelos amigos caídos, mas prantos também de imensa emoção por se aproximarem do Kotel, o monumento maior do Judaísmo, a lembrança da era do Templo. Desde então, Jerusalém vive no centro das discussões de paz, sendo por nós definida como a capital religiosa e secular da Terra de Israel. Nestas últimas semanas, o presidente dos Estados Unidos declarou que a capital de Israel é a cidade de Jerusalém e que ele tomaria medidas para transferir sua embaixada para a cidade sagrada. Desde a época de Bill Clinton em 1995, passando por George Bush e Obama, de todos presidentes dos Estados Unidos, ouvimos a mesma observação. Quanto a Trump, nenhuma medida prática foi tomada ainda, mas muitos e muitos países condenaram seu discurso. Afirmaram que esta decisão prejudica o processo de paz. Porém contra fatos não há argumentos. A verdade é que há mais de 3.300 anos, Jerusalém já era a capital judaica. Ela nunca foi a capital de qualquer entidade árabe ou muçulmana. Mesmo sob o governo jordaniano, Jerusalém nunca foi uma capital árabe e nenhum líder árabe veio visitá-la.

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Jerusalém é mencionada na Bíblia dos judeus aproximadamente 700 vezes. Os judeus rezam voltados para Jerusalém; os muçulmanos rezam na direção de Meca. Se os muçulmanos estiverem entre as duas cidades, rezarão voltados para Meca, com as costas voltadas para Jerusalém. Foi o judeu Rei Davi quem fundou Ierushalaim e durante mais de 3.000 anos, sempre existiram judeus na cidade. Infelizmente, hoje em dia, os meios de comunicação e o mundo árabe criaram uma tremenda aberração e afirmam que a cidade santa é, prioritariamente, sagrada só para os muçulmanos. É vergonhoso saber que certas organizações, como a Unesco e mesmo a ONU, são regidas por uma politicagem, e preferem agradar um conjunto de países árabes, em detrimento da verdade. Nós, que tivemos nosso retorno ao nosso lar, Israel, em 1948, aprovado exatamente pela ONU, temos que constatar que esta organização já não se define pela igualdade e pela História. Aliás, sempre que surge esta discussão, parece que o mundo árabe esquece que a sua cidade sagrada é Meca. Enquanto os judeus do mundo todo rezam em direção a Ierushalaim, os muçulmanos voltamse para Meca. Em nossa liturgia, ansiamos literalmente poder voltar à nossa Capital Eterna. Às vezes, recitamos “O ano que vem em Jerusalém,” exatamente no final de nosso feriado mais sagrado, Iom Kipur. Assim, não há como dividir a Cidade de Davi. Sabemos que o mundo, ingenuamente levado pelos meios de comunicação e pela percepção deturpada dos palestinos, acaba desprezando os fatos e a História para colocar-se do lado de um povo que se declara oprimido. Talvez fosse o caso de pensar em outra estratégia para Ierushalaim se pudéssemos resolver o conflito israelense-palestino e selarmos a paz. Mas como fazer a paz se o sonho destes mesmos palestinos é eliminar Israel para sempre? Como fazer a paz se o governo palestino homenageia os terroristas que ferem nosso povo em atentados terroristas? Como fazer a paz se as crianças palestinas, desde cedo, são ensinadas a odiar nosso povo e são treinadas, em tenra idade, com fuzis, e sonham em destruir Israel? Como fazer a paz quando movimentos terroristas como o Hamas e o Hesbollah estão nas nossas fronteiras despejando o ódio e esperando qualquer fraqueza nossa para nos atacar? Já nos seria muito difícil ter que abrir mão de um pedacinho de nossa cidade mesmo que fosse para alcançar a paz, mas neste momento, não conseguimos ver, num futuro próximo, a disposição para a paz. Jerusalém é, assim, inteiramente nossa!! E que possa ser assim até a eternidade.

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“O difícil nós fazemos agora, o impossível leva um pouco mais de tempo”.

David Ben-Gurion

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Nossas Entidades, Nossa Força Somos 120 mil pessoas judias. Podemos contar assim, um a um, independentes, voz a voz, falando sozinhos, sem autoridade, personagens certamente interessantes, com suas próprias histórias e origens e tons sonoros abafados. Mas, podemos falar com uma voz muito mais poderosa, uma voz que nos representa enquanto povo judeu e comunidade organizada neste nosso Brasil. Desde que nos libertamos do Egito e recebemos os Escritos Sagrados, temos agido como povo e como comunidade organizada e, para tanto, devemos sempre buscar representações que signifiquem algo coletivo para o judeu. Certamente, em nosso cotidiano afiliamo-nos a instituições que falam mais forte aos nossos corações, às nossas convicções, ou mesmo à nossa história familiar. Frequentamos certas sinagogas porque nossos pais e avós já lá festejavam Rosh HaShaná ou Kipur; participamos de certas ações sociais porque nosso pais doavam ou eram voluntários dessas instituições porque as causas têm a ver com o que acreditamos, ou porque conhecemos alguém que sofre dessa ou daquela doença, ou simplesmente simpatizamos com a causa. Ainda temos a opção de participar de centros de convivência comunitária de caráter esportivo, social e cultural, para troca de experiências. Também existem muitos judeus que não participam de sequer alguma destas instituições e sentemse muito confortáveis em se autodenominarem judeus assim mesmo, pois o são. Sua judeidade independe de sua observância ou de sua interação com a comunidade. O que devemos saber é que todos estes cidadãos podem se sentir judeus, pois a comunidade e suas instituições, em caráter local, nacional e mundial, contam com um leque de entidades que buscam fortalecer o judaísmo, combater a intolerância, manter o diálogo inter-religioso, combater o terrorismo e promover a paz. No comando destas organizações, temos líderes incontestes de nossa comunidade agindo politicamente sempre na defesa dos interesses do Estado de Israel e do povo judeu, garantido que a liberdade de credo seja plena em todo o mundo e promovendo o diálogo constante. As entidades mais importantes e que congregam a grande maioria de nossas organizações são a Federação Israelita do Estado de São Paulo, a FISESP, a Confederação Israelita do Brasil, a CONIB e o Congresso Judaico Latino-americano, o CJL. A articulação que estas entidades realizam é essencial para que cada vez mais o diálogo se estabeleça e que nossa cultura e nossas tradições sejam conhecidas e respeitadas. O canal que estabelecem com o universo político é valioso e tenho testemunhado os resultados conquistados. O povo judeu não pode deixar de pensar coletivamente pois não somos totalmente livres do antissemitismo que, infelizmente, alastra-se pela Europa. Com estas entidades fortes, sentimo-nos mais fortes, nossa voz vai mais longe. Somos uma comunidade!

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Nosso Minuto de Silêncio Este mês de julho marca os 40 anos do massacre de Munique e milhares de representantes da sociedade civil sentiram a necessidade de unirem suas vozes às dos parentes e amigos dos atletas assassinados e solicitaram para que o Comitê Olímpico Internacional respondesse ao pedido de manter um minuto de silêncio na Abertura dos Jogos Olímpicos de Londres. Este pedido foi motivado unicamente por respeito à memória das vítimas do terror e pela esperança de que o esporte e a prática atlética pudessem ser uma força unificadora, transcendendo fronteiras e bandeiras. Os jovens mortos em Munique foram fazer parte de uma competição internacional respeitada por sua antiguidade, que sempre representou a paz e a confraternização mundial. A nacionalidade das vítimas de um ataque desta monta não deveria ser um obstáculo para esta homenagem ou para a condenação do terrorismo global. Não foram poucas as entidades governamentais, como o parlamento canadense, o senado norteamericano, o parlamento italiano, políticos influentes, como o Ministro de Relações Exteriores da Alemanha, o Sr. Guido Westerwelle, e mesmo várias instituições judaicas de todo o mundo que escreveram para o Comitê Olímpico solicitando a merecida homenagem. Eu mesmo, como membro diretor do International Council of Jewish Parliamentarians (Conselho Internacional de Parlamentares Judeus), assinei uma carta ao Presidente do Comitê, o senhor Jacques Rogue, pedindo que concedesse esta homenagem permitindo que a força do silêncio sobrepujasse o ruído do terrorismo. Infelizmente, o Comitê decidiu novamente menosprezar a magnitude do fato. Como se uma tragédia destas não houvesse ocorrido nunca nos Jogos Olímpicos. Como se qualquer um dos 11 atletas israelenses assassinados fosse só mais um nome em uma estatística esportiva a mais dos XX Jogos Olímpicos. Neste sentido, causa revolta também perceber que, apenas dois dias após o atentado de Burgas, na Bulgária, ninguém mais fala de nossos turistas inocentes mortos e feridos por radicais de mentes doentias. A banalização do terrorismo contra nosso povo gera tristeza e uma grave preocupação. Entretanto, quando nos deparamos com atitudes como a do Comitê Olímpico, percebemos que nossa luta vai além de detectar e impedir estes ataques facínoras. Enquanto a opinião mundial não cerrar fileiras de forma unânime contra toda forma de violência terrorista, enquanto não manifestar abertamente seu repúdio a todo e qualquer ato terrorista presente, passado ou futuro, só o que poderemos esperar é uma perigosa escalada desta aberração.

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Espero que cada pessoa de bem, cada israelense e cada judeu ou não, que se sinta pessoalmente atingido pela tragédia de 1972, seja no passado ou seja no dia 27 de Julho de 2012, faça seu próprio minuto de silêncio em memória de: Moshe Weinberg, Yossef Romano, Ze'ev Friedman, David Berger, Yakov Springer, Eliezer Halfin, Yossef Gutfreund Kehat Shorr, Mark Slavin, Andre Spitzer, Amitzur Shapira.

Foto: Acervo Digital do Autor

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O Dilema do Terrorismo Nestes dias conturbados temos que gritar Je suis Paris, Je suis Israel, Je suis Mali, Je suis Beirute, Je suis Estados Unidos, Je suis London. Somos todos atacados pela perversidade do terrorismo. Sentimo-nos tolhidos no mais essencial de nossos direitos humanos, a liberdade de ir e vir. Porque nos falta a segurança básica de poder viver sem medo que a violência nos ataque. A verdade é que choramos mais por Paris, porque a cidade representa o ideal do mundo ocidental, preconizando a liberté, egalité et fraternité, ou seja a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Paris é a epítome do mundo livre e moderno, onde o joie de vivre é percebido em suas ruas, bares, museus, galerias de arte e monumentos. Mas qualquer morte ou agressão provocada por um ato de terror nos deixa perplexos. Como deter esta onda de terrorismo provocada pelo Estado Islâmico ou o Hamas ou o Taleban? Antes de tudo, devemos unir todos os países através de uma cooperação de seus serviços de inteligência, no intuito de compartilhar informações que permitam desmantelar células infiltradas nos países que ponham em risco a segurança dos mesmos. Temos que prever e detectar estes lobos solitários e os grupos organizados antes que possam nos atacar. Mas o problema do extremismo é que ele nos ataca também de uma forma mais subliminar. O terrorismo fortalece a voz de agentes políticos fascistóides que ganham espaço apregoando soluções extremas, como fechar as fronteiras de forma definitiva, ou como qualificar todo e qualquer muçulmano como potencial terrorista. É um momento em que a extrema direita floresce e cujo perigo é estabelecer regimes xenófobos em estados onde vivenciamos um grau de liberdade para todos. Nós, como judeus, sabemos que a extrema direita é enfim uma forma de antissemitismo e mais uma forma de extremismo por si só. Como então diminuir a capacidade destes terroristas? De imediato, temos que juntar forças em uma coalizão que ataque de forma eficiente o ISIS, para que eles não tenham mais recursos financeiros advindos do petróleo contrabandeado e dos sequestros. Temos que fragilizá-los em seu próprio território, através de ataques militares por via aérea e pelo envio de tropas terrestres que nos permita aniquilá-los. Entretanto, devemos criar condições para que lideranças locais legítimas dos estados mais afetados pela guerra, como o Iraque e a Síria, aflorem para que pacifiquem a região e criem lá uma sociedade mais justa, propiciando assim uma estabilização de seus povos. Se não houver motivos, ninguém quer sair de sua terra natal. Quanto mais estáveis estejam os países dilacerados pela guerra, mais fácil será controlar a crise dos refugiados e o perigo que jihadistas se infiltrem entre os refugiados legítimos.

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Historicamente, já tivemos sucesso em invadir países dominados por facínoras, mas não tivemos a capacidade de garantir líderes no vácuo do poder que criamos. Estamos num momento confuso, onde a dor e a raiva nos toma em consequência dos atos abjetos que os extremistas perpetram contra inocentes. Mas não podemos nos deixar atormentar por tais sentimentos. Eles só estimulam ações impensadas. Devemos ter a clareza e a inteligência de pensar em soluções criativas para uma crise mundial tão disseminada e perigosa. No rastro da Festa das luzes, Chanucá, devemos eliminar a obscuridade e

Imagem: Projetado por Felipe Gatto

nos empenhar em fazer destas luzes uma realidade permanente em nosso planeta e dentro de nós.

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O Tempo e a História Guerra da Secessão, a Guerra Civil Americana entre o norte e o sul do país, de 1861 a 1865, um conflito em que morreram 620 mil pessoas. Nesse período, uma perseguição racista contra os negros aconteceu e os sulistas criaram associações racistas que faziam perseguições e matavam os negros. Guerra dos Cem Anos. Esta guerra identifica uma série de conflitos armados durante o século XIV envolvendo a França e a Inglaterra. Foi a primeira grande guerra europeia que provocou profundas transformações na vida econômica, social e política da Europa Ocidental e marcou o teor dos futuros confrontos entre as grandes monarquias europeias. Povos contra Povos. A História e o tempo nos ensinam que desafios outrora intransponíveis podem evoluir para outras realidades. O povo palestino e o estado de Israel vivem um destes desafios: São 63 anos de conflitos armados, de violência terrorista, de horizonte sombrio, do mundo envolvido para solucionar esta equação. Com a aproximação das eleições norte americanas, um dos países mais compromissados a resolver esta disputa, a política israelense começa a fazer parte do pano de fundo dos dois principais candidatos. Afinal, o voto judeu tem grande importância e tanto Mitt Roomney, o candidato republicano quanto Barack Obama, o presidente democrata candidato à reeleição, geram frases de efeito que ecoam na grande imprensa internacional. Na sua última visita ao Oriente Médio, Mitt Roomney fez declarações deselegantes e até mesmo desrespeitosas, chamando os palestinos de incultos. A verdade é que estas frases podem ser interessantes enquanto estrategia de campanha, mas perigosas no exercício do poder. Não tenho interesse especial em defender qualquer candidato nas eleições dos Estados Unidos, mas uma declaração veiculada na CNN me surpreendeu. O ministro da Defesa Ehud Barak declarou que, sob a presidência de Obama, o país estava recebendo muito mais para a segurança do Estado de Israel do que em qualquer outra época no passado. Entretanto, devemos imaginar que, numa era em que as comunicações e o volume de cabeças pensantes e as ideias e ideais podem se encontrar em todos os tipos de fórum, haverá de se encontrar líderes que tenham interesse em avançar no processo de paz. Líderes desprovidos de agendas próprias, como os visionários Menachem Begin, como Anwar Al Sadat, como Shimon Peres, como Jimmy Carter, como Henry Kissinger.

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A verdade é que quero crer que Israel concorda e saúda a existência de um novo país ao seu lado, a Palestina. Israel também tem plena consciência de que, dadas as mesmas condições, a capacidade cultural do povo palestino se equipara a de qualquer outro povo. Também é verdade que há vários elementos de difícil solução neste desafio. Jerusalém, sua inadmissível divisibilidade, até mesmo seu pertencimento questionado... a questão dos assentamentos... limites de autoridade. Enfim, não me julgo capaz nem de enumerar a miríade de pontos de conflito a serem resolvidos. Mas, creio que a paz, vidas salvas e um projeto de futuro valem a pena. A história e o tempo também nos ensinarão que Palestina e Israel serão como Inglaterra e França depois da Guerra dos Cem Anos. Como o Norte e o Sul depois da Guerra da Secessão. Alevai!... Inshalah!

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O Ódio pelo Ódio Há pouco tempo, assistimos a mãe do terrorista que entrou na casa de uma família inocente e matou três pessoas, louvar seu filho e demonstrar orgulho por sua atitude assassina. Diante deste desvario, passamos a ponderar sobre a relação do judeu com o ódio de outros povos. Desde que nos conhecemos como povo, temos sofrido e convivido com o ódio. Mark Twain meditou sobre o ódio aos judeus, por um lado, e sua persistência, por outro lado: "... Os judeus constituem apenas um por cento da raça humana. ...Corretamente, o judeu dificilmente deve ser ouvido, mas ele é ouvido, sempre foi ouvido. ...O Egito, a Babilônia e a Rosa Persa encheram o planeta de som e esplendor, odiaram os judeus e depois desapareceram e morreram; O grego e o romano seguiram, e fizeram um grande barulho, odiando os judeus e eles se foram. Outras pessoas surgiram e mantiveram sua tocha alta por um tempo, mas queimaram. Os soviéticos, os nazistas e outros. O judeu viu todos eles, sobreviveu a todos e agora ainda é o que ele sempre foi, não exibindo decadência, nenhuma fragilidade por sua idade, nenhum enfraquecimento de seus componentes, sem desaceleração de suas energias ...Tudo é mortal, menos o judeu; Todas as outras forças passam, mas ele permanece. O ilustre autor russo, Leon Tolstoi, avaliou a sobrevivência dos judeus, mas também sentiu que sua existência tinha que ver com um propósito único: "O que é o judeu? ...Que tipo de criatura única é essa quem todos os governantes de todas as nações do mundo destronaram e esmagaram e expulsaram e destruíram; perseguidos, queimados e afogados, e quem, apesar da raiva e da fúria, continua vivendo e florescendo? ...O judeu é o símbolo da eternidade. ...Ele é aquele que durante tanto tempo tinha guardado a mensagem profética e transmitiu a toda a humanidade. Um povo como este nunca pode desaparecer. O judeu é eterno. Ele é a personificação da eternidade.” Odiados ou amados, os judeus sempre foram tratados como diferentes. Eles são julgados por padrões diferentes, reverenciados, admirados e odiados mais do que qualquer outra nação na Terra. Talvez a face mais marcante sobre o ódio aos judeus seja a sua irracionalidade. São tantos motivos para odiar os judeus quanto as pessoas. Tudo o que perturba, machuca ou desagrada, as pessoas muitas vezes atribuem aos judeus. Os judeus foram culpados por manipular a mídia às suas necessidades, de anytes de usura e libelos de sangue de várias formas, envenenamento de poços, domínio do tráfico de escravos, deslealdade aos países de acolhimento, coleta ilegal de órgãos e propagação da AIDS. Além disso, os judeus são frequentemente acusados de "crimes" conflitantes. Os comunistas os acusaram de criar o capitalismo; os capitalistas os acusaram de inventar o comunismo. Os cristãos acusaram os judeus de matar Jesus e aclamado historiador e filósofo francês, François Voltaire, de inventar o cristianismo. Os judeus foram rotulados como guerreiros e covardes, racistas e cosmopolitas, sem espinhas e inflexíveis, e a lista poderia continuar para sempre. Claramente, o ódio dos judeus é irracional e profundo. Yehuda Bauer, Prof. de Estudos do Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém, acredita que o anti-semitismo permanece latente até que seja desencadeado, geralmente durante crises. 96


As múltiplas crises que estamos vendo em todo o mundo são, portanto, esperadas para continuar a exacerbar a atual onda de antissemitismo. Hoje vemos o antissemitismo recrudescer na Europa. Após um período em que este sentimento ficou latente após a constatação do genocídio de Hitler e o quase desaparecimento de nosso povo, o Velho Continente mais uma vez mostra sua face mais intolerante diante do judeu. Mesmo os Estados Unidos, que se definem como a Terra da Liberdade e da Oportunidade, começam a mostrar seus dentes raivosos para o povo judeu. Podemos dizer que o antissemitismo de nossos tempos teve um gatilho específico. Desde a criação do Estado de Israel o mundo escolheu paramentar seu ódio com as cores do antissionismo. Israel passou a ser o grande depositário desta raiva delirante. Hoje, o povo judeu é considerado um pária na sociedade mundial por ter conseguido restabelecer sua pátria em solo sagrado. Continuamos a ser odiados com os mesmos adjetivos do passado, mas parece que hoje descobriram um motivo palpável para nos desprezarem. Hoje temos uma nação avaliada como opressora, praticante do apartheid e inimiga da paz. Nossos detratores, a partir de nosso estabelecimento como nação e por causa de nosso conflito com os palestinos, sonham com o momento em que Israel será erradicado da Terra. Os árabes e especialmente os palestinos buscam nossa destruição com ataques terroristas assassinos em nosso solo ou no mundo todo. Convivemos quase diariamente com bombas sendo enviadas sobre nosso território, assistimos o surgimento de organizações terroristas com o simples objetivo de arrasar Israel e os judeus pelo mundo. E mais além, foi estabelecido um ódio institucionalizado. Líderes de muitos países árabes enaltecem os atos terroristas contra nós e seus responsáveis. Estes jovens assassinos são, se possível, recebidos na Palestina e enterrados com honras especiais. Entretanto, existe um fato que deve nos deixar mais pessimistas ainda. A organização terrorista Hamas, que domina a Faixa de Gaza, publicou livros escolares e vídeos educacionais que ensinam as suas crianças a odiar Israel e a almejar como futuro atacar indiscriminadamente nosso povo em qualquer lugar do mundo. Isto é, estamos vendo a formação de futuros terroristas desde sua mais tenra idade. Esta é, com certeza, a mais inédita e preocupante forma de ódio. Se não podemos confiar na formação de gerações que entendam o valor da tolerância, da diversidade e da paz, as perspectivas de uma paz futura tornam-se mais e mais sombrias. Todas as iniciativas de paz sempre foram contaminadas com a percepção que o palestino tem de Israel e nossa esperança era que isso fosse modificado desde que se dessem conta que viemos para ficar. Mas aprendemos que o caminho da paz se torna então mais espinhoso. Com certeza, o judeu, sobrevivente milenar de tantos ataques e tentativas de destruição, irá superar este imenso obstáculo que tem diante de si, mas seria e será muito mais rápido e proveitoso quando tivermos um interlocutor que esteja disposto a dialogar honestamente. Golda Meir, uma das mais paradigmáticas líderes do século XX, e uma das fundadoras de Israel, vaticinou: "Podemos perdoar os árabes por matarem nossos filhos. Não podemos perdoá-los por nos forçarem a matar seus filhos. Só teremos paz com os árabes quando amarem seus filhos mais do que nos odeiam".

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Os Dez Mandamentos e o Século XXI

O mundo atual acredita que o conceito de responsabilidade social é algo razoavelmente novo tendo em vista o sofrimento que tantas pessoas, povos, grupos sociais e minorias ainda enfrentam nos dias de hoje. Entretanto, como judeus, sabemos que princípios de responsabilidade social foram estabelecidos já nos Dez Mandamentos e muito do que se conhece como Leis sociais, Constituições, Declarações de Direitos, são regras e normas que interpretam de forma plausível os Dez Mandamentos. O judaísmo e sua ortopraxia exigem uma postura responsável diante de Deus, de seus pais, de si mesmo e de seu próximo. Aliás, o judaísmo criou a mais importante regra das relações sociais: "Não faça aos outros o que não quer que lhe façam." Ou seja, não faça o mal!! Não existe nenhuma outra regra necessária em uma sociedade liberal. Os teólogos judeus dizem que todos os outros mandamentos sociais são interpretações deste. É preciso aprender a compaixão para não prejudicar os outros. A importância dos Dez Mandamentos para a religião judaica é de maior magnitude porque não temos dogmas que sejam a pedra angular de nossa religião. Assim, este código de ética, recebido pelo povo enquanto povo constituído e sofrido, e o nosso livre arbítrio enquanto indivíduos é, afinal, o que podemos considerar como a definição do ‘povo eleito’. Sempre tive dificuldade em lidar com esta expressão, que me parecia preconceituosa, até que aprendi a vê-la dotada de certa responsabilidade maior de buscar agir de forma sagrada, criando o exemplo ético a ser seguido. ... • Honra teu pai e tua mãe • Não matarás. • Não adulterarás. • Não furtarás. • Não darás falso testemunho contra o teu próximo. • Não cobiçarás a casa do teu próximo ...

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Hoje, no século XXI, já não temos escolha. O mundo nos cobra uma atitude. E mesmo o Estado de Israel parece ser visto através de uma lente de aumento. Cada desvio de caminho que por lá acontece é noticiado como se fosse um crime de grandeza diferente. É como se Israel tivesse o pior serviço de Relações Públicas do mundo. Mas não. É porque de nós se espera muito. É porque a lente que nos examina tem outra graduação. Sim, temos uma responsabilidade de outa natureza. A ética dos Dez Mandamentos é nossa bússola, nossa escolha pessoal e nossa responsabilidade social. Todos os anos, nesta época de Shavuot, o dia no qual celebramos a grande revelação da Outorga da Torá no Monte Sinai, no ano 2448 AC., podemos nos imaginar no deserto, como povo constituído, recebendo esta missão, mais uma vez sendo fiéis depositários deste código ético social, que nos coloca à frente de um caminho que não pode mais esperar. As demandas sociais se multiplicam, a intolerância e a violência florescem. Como indivíduos, temos o livre arbítrio, como seres sociais e povo judeu eleito com a responsabilidade moral da compaixão, temos o dever de sermos parceiros de Deus no aperfeiçoamento deste mundo.

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Por que uma Educação Judaica? Por que uma educação judaica? Sabemos que desde os templos bíblicos a educação é uma fonte motriz do judaísmo. Na época do Templo surgiu o bar-mitzvá, quando, então, o pai conduzia seu filho de treze anos ao local sagrado, para que o sacerdote lhe impetrasse a bênção e lhe desse conselhos morais. Isto já era uma forma de educação judaica. Esse conceito pedagógico judaico mostra que o bat-bar mitzvá tem uma importância enorme no processo da formação da identidade judaica, pois é a forma de consagrar a continuidade de nossas cultura e tradição dentro de um mundo globalizado que oferece muitas diversidades, identidades e culturas deferentes. No bar-mitzvá, as crianças, além de se tornarem adultas frente à religião, aprendem a ler em hebraico e se habilitam num novo idioma. Também, nossos ritos religiosos possuem um componente histórico que educa pela simples narrativa de nossa narrativa, aliás, um mandamento bíblico, “vehigadeta lebinchá” – “e contarás ao teu filho”. A própria Torá, com sua leitura ritual, que se renova a cada ano é uma forma de educação judaica, em que aprendemos a formação do povo judeu, as diferentes interpretações possíveis e uma relação estreita com nossos ancestrais. As sinagogas de todo mundo igualmente mantêm os mais variados cursos para a educação tanto infantil quanto adulta, pois o ensino é um dos pilares de nossa tradição. Virtualmente todas as sinagogas tem como intuito serem também “batei midrash”, casas de ensino. Nossos rabinos se debruçam sobre nossos livros sagrados, buscando sabedoria para transmitir, para confortar, para aconselhar seus respectivos rebanhos. Os rabinos mais sábios, como multiplicadores, educam uma miríade de outros rabinos para que o judaísmo chegue até a pessoa comum. No âmbito mais secular, temos as escolas propriamente judaicas que apresentam um extenso programa para cativar seus alunos dentro de uma cultura e uma tradição judaicas. Lá, os alunos aprendem o hebraico, aprendem sobre nossas festas, aprendem sobre a ampla tradição de nosso povo e também aprendem a desenvolver um sionismo sadio, criando fortes laços com Israel. Atualmente, como a comunidade nem sempre matricula seus filhos em escolas propriamente judaicas, há uma tendência das sinagogas oferecerem cursos de educação judaica para crianças desde a tenra idade. É mais uma forma de manter e transmitir a identidade judaica, seja ela mais secular ou de cunho mais religioso. Os centros comunitários oferecem uma alternativa para todas as crianças e jovens que carecem de um contato mais explícito com a tradição judaica.

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No Brasil, contamos com várias escolas judaicas que capacitam nossos jovens a trilhar as melhores faculdades do país, tornando-os seres humanos que participarão ativamente da vida profissional, cultural e social de suas comunidades mais amplas. Enfim, educação judaica quase chega a ser um pleonasmo, porque a educação é parte intrínseca do judaísmo, e não podemos caracterizar o judaísmo sem o componente da educação. Por tudo isso, devemos estimular cada vez mais o ensino judaico de todas as formas, para que mantenhamos os ensinamentos bíblicos de nossos sábios na mente e no coração de nossas crianças e jovens, para que criemos uma identificação com Israel e para que eles, por sua vez, mantenham o

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mandamento de “vehigadeta lebinchá” – “e contarás ao teu filho” para as próximas gerações.

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Seis Dias que Mudaram um País Quem viveu sabe. Qualquer judeu, seja em Israel ou na diáspora, nunca poderá esquecer o que aconteceu no início de Junho de 1967. A Guerra dos Seis Dias, que hoje faz 50 anos, foi um divisor de águas para a pátria judaica. Nos meses que antecederam a guerra, o desgaste com os vizinhos e, na verdade, com todo os países árabes, atingiu o seu auge. Do alto das colinas do Golã, nossos kibutzim e cidades ao lado do lago Tiberíades eram atacadas quase todos os dias com artilharia e morteiros. No front do Egito, a verborragia beligerante do então presidente e ditador Gammal Abdel Nasser ameaçava a própria existência do Estado de Israel. Nesse tempo, os países árabes, em sua maioria, recebiam treinamento e informação da grande União Soviética e sentiam uma grande segurança em relação ao seu total de frotas aéreas, terrestres e seu número de soldados, expressivamente superiores aos números israelenses. A Jordânia recorreu ao Egito e firmou um acordo de defesa com Nasser. A OLP Organização para Libertação da Palestina, sob o poder de Yasser Arafat, intensificava suas ações terroristas e também prometia a aniquilação do estado judeu. Nossas fronteiras eram significativamente estreitas e o povo temia por sua vida, lembrando os piores momentos da trajetória judaica. A exigência, por parte do Egito, da retirada das forças de emergência da ONU, que estavam colocadas no Sinai, foi um dos muitos estopins que levaram à Guerra dos Seis Dias, assim como o bloqueio, novamente pelo Egito, à passagem dos navios israelenses pelo Estreito de Tirã. Com todas estas circunstâncias perigosas, a guerra seria inevitável. Os humores de todos os judeus eram sombrios, baseando-se num maior poderio militar de seus inimigos e de um apoio explícito da União Soviética. Entretanto, Israel, numa das mais famosas e corajosas estratégias militares da História, na manhã de 05 de Junho de 1967, atacou preventivamente a força aérea egípcia ainda em seu solo. Nossa Força aérea conseguiu destruir mais do que 2/3 dos aviões egípcios numa ação coordenada e secreta. Foi um golpe que deixou atônitos todos os atores deste cenário de guerra e catapultou a confiança israelense até as alturas. No campo terrestre, os soldados árabes se mostraram incrivelmente mal preparados e com medo. Os avanços israelenses foram precisos e bem planejados. A Jordânia, que havia rejeitado um acordo bilateral de paz oferecido por Israel, foi ingênua e acabou sucumbindo, perdendo o controle de Jerusalém e da faixa ocidental do Rio Jordão.

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Como resultado de lutas intensas, Israel conquistou também as Colinas do Golã das mãos dos sírios. Foi uma vitória nada menos do que espetacular. Em 06 dias, Israel mudou o curso da história. O moral do mundo árabe estava esfacelado. O respeito pelas Forças Armadas de Israel e por seu Serviço Secreto ficariam para sempre impregnados em todo mundo. Os judeus, que antes estavam receosos, passaram a ter um orgulho próprio nunca antes imaginado. Hordas de judeus da diáspora começaram a emigrar para Israel, primeiramente para ajudar na força de guerra, e depois por entender o que é ter uma pátria nossa. No momento do cessar fogo, o território israelense estava 3 vezes maior do que antes da guerra. Detínhamos grande parte do Sinai, a Faixa de Gaza e a Margem Ocidental. Alargamos nossas fronteiras para uma posição bem mais segura. Foi a partir da Guerra dos Seis Dias que Israel incorporou o princípio de “terras em troca de paz.” Outra consequência foi o estabelecimento de assentamentos judaicos em territórios que o judeu mais religioso entende como nossa terra bíblica. Também, nossos locais mais sagrados foram libertados, como o Monte do Templo, o Muro das Lamentações, O Túmulo dos Patriarcas e outros. Mesmo com toda esta demonstração de força de Israel, os países árabes continuaram a dizer não para um tratado de paz com Israel. Com o tempo, Israel conseguiu assinar tratados independentes com o Egito e a Jordânia. Como mais uma consequência da Guerra dos Seis Dias, os Estados Unidos começaram a ver Israel como um dos seus maiores aliados no mundo, viabilizando a compra de armamentos para garantir a força militar israelense e sua presença na região, criando um contraponto importante contra os soviéticos. Porém, o resultado mais contundente desta guerra efetivamente fundamental para o estado judeu é que, apesar de um ou outro ingênuo pelo mundo ainda sonhar, nunca mais alguém poderá pensar na eliminação do Estado de Israel. Eretz Israel se tornou então uma presença incontestável no mapa do Oriente Médio e na consciência de todo mundo.

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Um Povo Ancestral, uma Determinação, uma Jovem Nação bem Sucedida “Se quiserem, não será um sonho.” – Theodor Hertzl “Em Israel, para ser um realista, você tem que acreditar em milagres.” - David Ben-Gurion Se é que existe receita de sucesso, a história deste pequeno país, Israel, pode ser considerada isso mesmo e estas duas frases sintetizam o que é a combinação de sabedoria milenar, determinação irremovível e capacidade de renovação. Durante quase dois mil anos a simples idéia da criação de um estado judeu era desconsiderada, insustentável, desprovida de qualquer chance de concretização. Tanto que o hino do movimento que aspirava à criação desta nação chamava-se “Hatikva” – (“A Esperança”). A canção dava voz ao desejo judaico de independência e liberdade em sua terra de antanho, Tzion. Com o nascimento de Israel, Hatikva tornou-se hino nacional. Em seu início, com a existência de Israel ainda ameaçada e frágil, Hatikva foi importante norteador do sonho judaico. Hoje, embora os conflitos nos aflijam e preocupem, é evidente que o país tornou-se uma realidade incontestável. Mesmo diante de todas as dificuldades e ameaças, o Estado de Israel é uma das grandes histórias de sucesso da modernidade. Hoje, 62 anos depois, a paisagem desértica de outrora floresce de forma inimaginável. De nossos pioneiros que deixaram tudo e todos, fugindo da barbárie que se avizinhava para construir um sonho, vemos uma miríade de tradições, de culturas, de ondas migratórias mescladas em uma juventude aguerrida, independente e com sentido de pertinência. Dos kibutzim vanguardistas, onde utopia e realidade conviveram por um bom tempo, herdamos hoje a força comunitária e as instituições mais democráticas da região. Da longa luta para podermos exportar laranjas e grapefruits, hoje somos líderes em pesquisa e desenvolvimento, fornecedores de tecnologia de ponta, na indústria farmacêutica, de cosméticos, de armamentos, de equipamentos médicos, irrigação e tantas outras áreas. De nossa essência de povo do livro, temos hoje em Israel o maior índice mundial de diplomas universitários por população. De refugiados que fomos, hoje Israel recebe hostes de refugiados sudaneses e lhes dá educação e moradia.

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Da escassez de terra e de recursos hídricos e com a sabedoria da tradição religiosa, Israel desenvolveu uma consciência ecológica impar no horizonte dos países modernos. No último século, os pioneiros de Israel adotaram então Tu Bishvat como marco para o plantio de árvores, parte de um esforço maciço para a reconstrução e a renovação. As políticas ambientais estimulam pesquisas de ponta para que a nação possa aperfeiçoar seu conhecimento, compreensão da diversidade, distribuição e evolução dos elementos essenciais. De um passado doloroso, o povo judeu guardou o respeito pela lembrança e Israel, mesmo quando celebra seu aniversário, não deixa de pensar em todos aqueles que perderam suas vidas para que hoje possamos estar aqui, comemorando 62 anos. Das raízes históricas e sagradas, Israel desenvolveu-se em uma nação cujo turismo fervilhante atrai pessoas de todos os credos, pessoas com interesses pela natureza, pela história e pela aventura. De Rosh Ha-Nikrá, passando pelo Carmel, pela nossa eterna Jerusalém, chegando até Eilat, encontramos hoje roteiros dos mais diversificados. É assim este pequeno grande país, rodeado de conflitos, mas que, com determinação milenar, cresceu e tornou-se um amálgama de passado e futuro, onde as possibilidades se multiplicam e veio a se tornar porto seguro para qualquer judeu do mundo. Somos um povo antigo, fomos dispersos pelo mundo há milênios, mas hoje temos pátria, temos lar, temos Eretz Israel!!

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O Antissemitismo e o Judeu de Hoje Vivemos momentos conturbados como judeus. De acordo com um artigo do Professor Sergio Dellapergola, estudos recentes mostram que o antissemitismo aumentou consideravelmente junto com o racismo, a xenofobia e a intolerância. O judeu atual tem uma percepção aumentada destas ações a partir das manifestações explicitas ocorrendo por iniciativas da população da Europa, América Latina e Oriente Médio. Ainda segundo o professor, uma pesquisa recente conduzida pela Liga de Antidifamação em mais de 100 países sobre a propagação dos preconceitos negativos em relação aos judeus aponta que são os 16 países muçulmanos os que apresentam maior grau de antissemitismo. Paradoxalmente, este preconceito é maior entre as pessoas que nunca conheceram um judeu ou o próprio judaísmo. Existem atualmente três vetores antissemitas. O primeiro é clássico e baseado nos Protocolos dos Sábios de Sião, atribuindo aos judeus um demasiado poder financeiro, político e dos meios de comunicação. Este vetor é antigo e foi usado por Hitler e atualmente pela maioria dos países árabes. Aliás, esta acusação nos é imposta desde sempre. O seguinte vetor nega o Holocausto ou minimiza os fatos, declarando que só morreram alguns judeus durante a Segunda Guerra Mundial. O exemplo mais eloquente desta corrente são os discursos dos líderes iranianos. Finalmente, o terceiro vetor demoniza o Estado de Israel, atestando que o país é responsável por todos os males do mundo enquanto fomenta a destruição sistemática dos palestinos. Estes três vetores são evidentes quando somos acusados de explorar o Holocausto para tirar proveitos econômicos e políticos, ou que de perseguidos nos transformamos em perseguidores, além de concomitantemente controlarmos as finanças e os meios de comunicação do mundo. Considerando que Israel é a expressão do direito inalienável à soberania política do povo judeu, isolar Israel é o mesmo que negar os próprios judeus. Uma das formas de antissemitismo mais grave atualmente é a tentativa do boicote comercial e acadêmico de Israel. O boicote acadêmico contradiz o paradigma fundamental da liberdade de pensamento, invenção, livre crítica, e o intercâmbio e a circulação de ideias. O boicote é um grave retrocesso em relação a estes princípios, que reduz as opções, afeta a credibilidade, antecipa a mediocridade intelectual, cria a ciência ruim, finalmente, resultando em uma erosão dolorosa na qualidade das universidades e da sociedade democrática. Consciente ou não, as pessoas envolvidas no boicote atual renunciam à sua liberdade de escolha individual e ajudam a desvalorizar a validade da profissão acadêmica como indivíduos e como uma articulação da comunidade de um discurso crítico.

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Esta visão racista para com nosso povo tem também alimentado manifestações populares que pregam o ódio ao judeu. Hoje, o judeu é hostilizado nas ruas da Espanha, nos protestos na França e até mesmo nas palavras da ministra de Relações Exteriore da Suecia. Hoje, o judeu que transita de kipá no país francês é passivel de sofrer ameaças físicas pelo simples fato de ostentar ser judeu através do símbolo que a kipá representa. Na Espanha, historicamente antissemita devido à sua cultura extremamente cristã, vemos a modernização deste racismo instalada na memória e na política espanhola. Uma simples estrela Maguen David pode acarretar olhares expressos de repudia. Até mesmo no Brasil, sentimos um aumento significante do ódio ao judeu, embasado no viés deturpado da defesa do povo palestino. Tínhamos maior facilidade em nos apresentarmos como judeus e hoje somos frequentamente responsabilizados pela condição do povo palestino. É preocupante ver várias bandeiras palestinas em qualquer manifestação das esquerdas brasileiras. Vemos até mesmo placas com dizeres de ódio ao judeu. Enfim, o judeu de hoje está acuado frente a tantos exemplos de animosidade para conosco. Como os judeus podem se colocar contra esta situação perigosa? Em primeiro lugar, aumentar o nível de alerta e combate sem condescendência contra essas formas vulgares de agressão. Podemos também nos valer da persuasão pela palavra e pela educação. Se isto não for suficiente, podemos usas as ferramentas do direito, e, afinal, se nossa sobrevivência for ameaçada, podemos contar com o Estado de Israel. Finalmente, uma porcentagem crescente de judeus pensa seriamente em deixar os países mais antissemitas e muitos realmente mudam para Israel. Isto é visto na França, Bélgica, Hungria e Itália. Para aqueles que acreditam que a presença judaica é um enriquecimento em uma sociedade democrática aberta à diversidade, este processo de reação contra as manifestações de antissemitismo é uma triste perda.

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Elie Wiesel, a Perda de um Herói “ Eu decidi dedicar minha vida para contar a história porque senti que, tendo sobrevivido, eu devo algo para os falecidos e qualquer um que não recordar, estará traindo-os novamente.” Elie Wiesel Elie Wiesel era isso. Esta sua citação reflete a nobreza deste homem. Elie Wiesel nasceu em 1928 em Sighet, uma pequena aldeia ao norte da Transilvânia, na Romênia, uma área que fez parte da Hungria de 1941 a 1945. Wiesel foi o único filho homem das quatro crianças de Shlomo, um dono de armazém, e de sua esposa Sarah Wiesel. Ele era então dedicado ao estudo de Torá, Talmude e ensinamentos místicos do Chassidismo e Cabala. Os nazistas, liderados por Adolf Eichmann, entraram na Hungria na primavera de 1944 com ordens de exterminar uma estimativa de 600.000 judeus em menos de seis semanas. Wiesel tinha 15 anos quando os nazistas o deportaram, junto com a família, para Auschwitz-Birkenau. Sua mãe e irmã mais nova morreram nas câmaras de gás na noite de sua chegada a Auschwitz. Ele e o pai foram deportados para Buchenwald, outro campo de concentração, onde seu pai faleceu antes que o campo fosse libertado em 11 de abril de 1945. Somente depois da guerra é que Wiesel soube que suas duas irmãs mais velhas, Hilda e Bera, também sobreviveram. Desde então Wiesel soube trazer os horrores dos campos para as consciências das outras gerações. Para este grande pensador, este ícone do judaísmo, a lembrança dos horrores cometidos contra os judeus e tantos outros durante a Segunda Guerra não podiam ser esquecidos, para que ninguém tentasse impingir tais desgraças a qualquer pessoa. Sendo ele mesmo testemunha e vítima do nazismo genocida, Elie teve a coragem e a iniciativa de trabalhar em prol dos direitos humanos. Elie disse certa vez: “Isto é o que devemos fazer: não dormir bem quando as pessoas sofrem em qualquer lugar do mundo, não dormir bem quando alguém é perseguido, não dormir bem quando as pessoas estão com fome aqui ou ali, não dormir bem quando há pessoas doentes e ninguém está lá para ajudá-los, não dormir bem quando alguém em algum lugar precisa de você. ” E isto foi o que ele fez. Além de trabalhar incansavelmente para seu povo judeu, Elie Wiesel também ergueu a voz para denunciar a situação dos massacres em Ruanda, na ex-Iugoslávia e em tantas partes onde reinava a injustiça. Este renomado escritor nos deixou várias obras onde descrevia sua própria saga. Foram mais de 50 livros de ficção e não ficção.

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Em 1986, o Comitê Nobel lhe concedeu o Prêmio Nobel para a paz. O próprio comitê descreveu Wiesel desta forma: “Elie Wiesel emergiu como um dos mais importantes líderes espirituais e guias em uma idade em que a violência, a repressão e o racismo continuam a caracterizar o mundo. Wiesel é um mensageiro para a humanidade; sua mensagem é de paz, reconciliação e dignidade humana. Sua crença de que as forças que combatem o mal no mundo podem ser vitoriosas é uma convicção duramente conquistada. Sua mensagem é baseada em sua própria experiência pessoal de humilhação total e do total desprezo pela humanidade mostrado em campos de extermínio de Hitler. A mensagem está na forma de um testemunho, repetida e aprofundada através das obras de um grande autor. ” Hoje, 30 anos depois, estas palavras são bem mais verdadeiras. Além disso, Elie também se tornou um dos mais famosos defensores de Israel. Este judeu de fala mansa disse: “Fica claro para mim que não se pode ser judeu sem Israel. Religioso ou não-religioso, sionista ou nãosionista, Ashquenazita ou sefaradita - todos estes não vão existir sem Israel. ” Em 02 de Julho o mundo todo e os judeus em particular perdemos esta grande alma. Mas não perdemos sua mensagem em defesa dos direitos humanos. Não podemos deixar de lembrar do Holocausto e das injustiças que insistem a perdurar no mundo. Este é seu legado. Sem memória não há nenhuma cultura. Sem memória, não haveria nenhuma civilização, nenhuma sociedade, nenhum futuro. Elie Wiesel

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Um Manifesto pela Ética e pela Moral Nos tempos de Platão e Aristóteles, as palavras ética e política eram indissociáveis!! Longe de ser um meio de enriquecimento, de trampolim social, de conquista de poder, a política era, antes de tudo, coisa muito séria. O político digno deste nome, o estadista real, almejava muito mais do que estas benesses temporárias. A obra de um político convicto e sério surge do sonho de multiplicar o bem possível, de harmonizar direitos e deveres de cidadania. A ciência da política tem história, tem cânones, tem exemplos. A política que tenta criar leis que, no sentido mais amplo, são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas e dos homens. Aliás, Platão, o filósofo ateniense, usava uma bela metáfora para exemplificar a nobreza da política: a atividade do político, disse ele, assemelha-se à da tecelagem. Nada mais é do que a arte da vestimenta, o que implica na escolha do tecido, das peças que devem ser costuradas à mão, e da armação final, pois seu objetivo maior é dar segurança e abrigo, da mesma forma que um traje protege das intempéries e assegura os pudores. Então, nos tempos medievais, Maquiavel promove uma ruptura. Maquiavel reivindica a irredutibilidade e a autonomia da política, a política como um campo específico do saber, a exigir um enfoque também específico, distinto da moral, da ética e da religião. Ainda hoje Maquiavel é um autor polêmico. Seu nome ficou definitivamente associado à percepção da política como a arte da dissimulação e do engodo. O termo maquiavélico está carregado de conotações negativas, corroborando a imagem do político como uma pessoa dotada de uma habilidade especial para esconder suas reais intenções e manipular as situações a seu favor, enfim, um mestre no emprego da astúcia e da força ao sabor de suas conveniências políticas, um ser traiçoeiro, sendo mesmo capaz de eliminar do seu caminho os amigos de ontem, os aliados de outrora, quer dizer, basicamente alguém em quem não se pode confiar. Maquiavelismo, enfim, simboliza a face demoníaca do poder. Embora nem sempre haja convergência entre a prática política e os princípios morais, é fato hoje que a sociedade em geral está cansada de tantas notícias envolvendo escândalos de corrupção e posturas não condizentes com nossos representantes políticos (tanto na esfera do poder executivo quanto do legislativo) e clama por uma sociedade mais justa, no mesmo sentido em que desde a antiguidade Platão e Aristóteles já destacavam o importante papel que a justiça e a política devem desempenhar para a vida em sociedade.

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Hoje, parece que nossos governantes esqueceram definitivamente o princípio essencial que deveria governar suas práticas públicas! A causa própria, o corporativismo, os interesses escusos, o abuso de poder para isentar cada um de prováveis punições pelos seus desmandos, viraram verdades absolutas na vida de nossos políticos! Com exceção de poucos elementos, nossos representantes estão abrindo mão de qualquer pudor ou sentido de justiça que deveriam ser suas prioridades. Por isso, não podemos deixar de nos manifestar veementemente contra a anistia do caixa dois!!! Contra os destemperos constantes de nossa política nacional. Contra o costume de usar o poder do cargo para exigir benefícios próprios. O Brasil já não aceita isso. Pessoalmente e em nome de todos que me agraciaram com seus votos, devo firmar posição em nome da ética! Quero que minhas condutas sejam condizentes com o que esperam de mim. Quero, realmente, poder fazer parte de uma nova geração de políticos, aqueles que entendem que o povo não tolera mais maquiavelismos. Quero poder afirmar que tenho orgulho de ser político!! Como disse Rui Barbosa em uma ocasião, como candidato da República. Em um de seus pronunciamentos como candidato à presidência da República, Rui Barbosa afirmou: “Toda a política se há de inspirar na moral. Toda a política há de emanar da moral. Toda a política deve ter a moral por norte, bússola e rota”. É minha determinação seguir a máxima de Rui Barbosa e me manifestar sempre que a ética e a moral sejam enxovalhadas no universo político.

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A Importância do Planeta Acabamos de comemorar Tu B’ Shvat, o dia da comemoração do Ano Novo das Árvores. Diz a lenda que, se um homem quer deixar algum legado que ultrapasse sua vida, ele deve ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. É incrível a conexão que a religião judaica tem com a natureza. Grande parte de suas celebrações associase a ciclos da natureza, mas, mais do que tudo, Tu B’shvat representa o respeito pelo meio ambiente. Data outrora menor no nosso calendário, o dia 15 de Shevat assume proporções ecológicas e até proféticas em nossos dias. A preocupação com a natureza já fazia parte de nossas escrituras sagradas, desde a Torá até o Talmud, e das discussões com nossos mais famosos sábios, como Maimônides e Rashi, que discutiam quais eram as interpretações possíveis dos preceitos específicos de cuidados com a natureza. Estes princípios nortearam também a criação e o desenvolvimento de Israel. Com uma terra árida diante de nós, após a destruição dos Templos, nosso grande sonho de conquista da terra de Israel sempre contemplou a transformação do deserto em pomar. Israel defende sua terra com as armas necessárias, mas Israel se apropria de sua terra plantando árvores e respeitando o meio ambiente. O judaísmo busca o crescimento espiritual de seu povo, mas nosso povo também aprendeu com suas tradições e feriados a respeitar o meio ambiente, a natureza, as árvores, os rios, as terras, os animais e todo organismo vivo que encontramos a possibilidade de deixar um mundo mais equilibrado para nossos descendentes. Dois preceitos muito importantes do judaísmo têm um caráter ecológico primordial. O alimento kasher respeita os animais em sua forma de abate e o Shabat, com sua orientação de parar tudo por um dia na semana, contem em si só a possibilidade de deixarmos de poluir e de exaurir nossos recursos. Hoje, podemos ver a importância que Israel confere à sustentabilidade e como age para ser um dos países com uma política de desenvolvimento que busca interagir com a natureza do modo mais inteligente e respeitoso possível. Atualmente, Israel conta com 83% de suas casas utilizando energia solar para aquecimento de água, sendo a maior porcentagem no mundo. Em Ashkelon temos a maior unidade de dessalinização de água no mundo. Israel é o primeiro país a ter uma rede nacional de carros elétricos. Também em Israel, o gerenciamento de resíduos é impressionante e o país utiliza 75% do reuso da água em sua lavoura. Israel é referência mundial em irrigação na agricultura e auxilia um sem número de países, ensinando seu método.

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Todos sabemos que o reflorestamento é uma palavra-chave desde o estabelecimento do Estado judeu e hoje somos um dos únicos dois lugares no mundo em que os desertos encolhem ao invés de crescer. Israel também se destaca no controle da emissão de CO2 e na reciclagem. Independentemente destes números assustadoramente positivos no trato do meio ambiente, a cultura do cuidado com a natureza, shmirat hatevah, impregna todo cidadão e toda criança do país. Um povo que comemora o Ano Novo das Árvores desde os primórdios, um povo que guarda um dia por semana para a elevação espiritual, dando trégua a qualquer atividade que possa comprometer o ambiente, um povo que tem em suas escrituras conceitos que declaram firmemente a necessidade de cuidar de tudo o que existe na natureza, é um povo capaz de gerar estes dados tão positivos de sustentabilidade. Eu, que declaro em meus objetivos a disposição de cuidar do meio ambiente, fico motivado com nossos textos sagrados e com o compromisso assumido por Israel. Nosso planeta exige esta responsabilidade de todo o mundo e nossos olhos podem se voltar para Israel como exemplo. Foi por isso tudo que Tu B’Shvat alcançou uma maior importância no calendário judaico, que já tem um forte apelo ecológico. Não somos os únicos donos da verdade em relação ao meio ambiente, mas com certeza somos um modelo de como uma comunidade interessada pode interagir com a natureza sem destruí-la. O planeta agradece.

REFLEXÕES

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Floriano com o Ex-Cônsul de Israel em São Paulo, Yoel Barnea.

Sandro Kushnir, Sérgio Rosenberg, Marcel Hollender, Daniel Annemberg, Joel Rechtman e Floriano Pesaro.

Floriano com presidente do Congresso Judaico Mundial, Jack Terpins e Teresa Collor de Mello.

Floriano servindo, é, com alegria e motivação, no semblante e na forma de agir.

Floriano com o filantropo e fundador do Grupo Cyrela, Elie Horn e o Governador do Pará, Simão Jatene. Floriano com o Rabino-Chefe da Congregação Israelita Paulista – CIP, Michel Schlesinger.


Floriano com o Ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, e com o Ex-Presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo – Fisesp, Bruno Laskowsky.

Floriano com o Presidente do Chabad do Brasil, o Rabino Shabsi Alpern.

Com seu pai, Giorgio Pesaro.

Floriano no mês de Elul ouve o toque do Shofár, entoado pelo Rabino Mendel Begun. Floriano com atuantes líderes da comunidade judaica: Mendy Tal, Daniel Leon Bialski, Rabino Shabsi Alpern e Mauro Zaitz. Fotos: Acervo Digital do Autor


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CELEBRAÇÕES

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ma das coisas mais surpreendentes que aprendi foi

perceber a necessidade de celebrar a vida e, em especial, as datas importantes do calendário judaico. Cada festividade é cheia de interpretações de nossos rabinos, antigos e atuais, da história, e do sentido de cada celebração. Na sua maioria, estas festas celebram o espiritual, mas também, momentos de nossa interação com a terra em que vivemos e com os diferentes povos. Alguns exemplos destas celebrações conjuntas são o Pessach, que é a comemoração de nossa saída do Egito e também a Festa da Primavera; Shavuot, que celebra a lembrança de quando recebemos a Torá, mas também o Festival das Primícias, e Chanucá, quando percebemos o milagre do passado, os milagres do presente e a vitória dos macabeus. O judaísmo também nos aproxima de nossas famílias quando nos coloca ao redor da mesa cheia de alimentos específicos de cada data, em uma grande consagração de seres humanos.

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A Alma que Queremos Rosh HaShaná. Chalot redondas. Maçãs e mel. Trocas de presentes. Sinagogas enfeitadas e lotadas. Roupas Novas. Todos os sinais de alegria de um Novo Ano. Logo mais estaremos em 5775 e, obviamente, temos que festejar. Mas a sabedoria judaica nos encoraja a fazer algo muito mais profundo durante o mês que anuncia este ano novo, durante o mês de Elul, o judaísmo nos pede uma contabilidade da alma, cheshbon hanefesh. Nossa introspecção pode ter um valor imenso nesta época de transformação, mas para isto acontecer, temos que voltar o olho para o interno de um modo profundo e honesto. Devemos examinar esse mundo interior da personalidade, pensamento, sabedoria e emoções, junto com nossa essência eternal, que é o que conhecemos com “alma”, e fazermos um rigoroso processo de contabilidade da alma para conseguirmos insights que nos levem às mudanças necessárias que são os próprios motivos dos Dias Intensos, ou Iamim HaNoraim. Podemos simplesmente fazer uma lista mental das coisas que sabemos estarem erradas em nossas vidas. Fomos talvez arrogantes demais, gananciosos demais, esquecemos que ganhar dinheiro é um meio e não o objetivo final de nossas vidas; tratamos o outro como se fossem objetos sem perceber que cada ser humano pode nos trazer algo de bom na relação; acostumamo-nos às pequenas mentiras e transgressões, acalmando nossa mente ao comparar com os grandes pecados, sem perceber que, mesmo assim, nos tornamos transgressores. Devemos também pensar sobre nossas forças e nossas fraquezas, de modo consciente, para perceber o que nos move ou o que nos domina. O que nos faz estourar numa situação, ou o que nos faz apreciar um belo dia... Não devemos ruminar sobre eventos que não são importantes, isto é uma contabilidade da alma; trata-se de uma leitura honesta e sem culpa de nós mesmos. Toda vez que nos dispomos a fazer um trabalho destes, é uma oportunidade de mudarmos e de nos tornarmos seres humanos melhores e o incrível é que a tradição judaica oferece esta ferramenta em seu calendário. Creio que comunitariamente, podemos também nos imaginar, como povo, fazendo um cheshbon hanefesh e tentar aprender com a guerra e como não chegar de novo em uma tragédia que nos deixe com 68 filhos mortos. Certamente, para que isso aconteça, é necessário que os palestinos comecem a entender que seu fanatismo e seu ódio só podem levar a guerras e mais guerras e que os líderes de Israel também compreendam que é chegada a hora da paz genuína e da parceria na reconstrução. O povo de Israel e principalmente aqueles que vivem perto de Gaza devem ter a oportunidade de viverem com a esperança de que esta foi a última guerra. Ninguém é obrigado a tolerar o que eles vivenciaram durante aqueles 50 dias. Mas devemos dar um basta à guerra.

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A contabilidade de nossa alma comunitária deve nos indicar a coragem para assumir o caminho da paz, sem ódio mútuo. Que sejamos honestos em irmos além da geografia do medo, considerando nossa segurança, mas buscando a parceria da reconstrução, e não da destruição. Agora é o momento ideal para a paz. Que não tenhamos mais que matar e morrer em nome de uma discórdia que ainda pode ser superada. Que o pequeno Daniel Tregerman, de 4 anos, tenha sido a última criança morta por um foguete em Israel. Que possamos encontrar a linguagem da paz com os nossos vizinhos e com o mundo.

Imagem: Projetado por Keren Rahamim - Freeimages.com

Le Shaná Tová Ticateimu VeTicateivu

CELEBRAÇÕES

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Chevrá Kadismá O calendário judaico tem em si uma sabedoria impar e, nele, o ritual do luto possui sequência própria que exprime uma maestria. Quando da morte de um ente querido, o ritual exige posturas que nos guiam através da dor, que externam o sentimento de perda. Inicialmente, dá-se a cerimônia do rasgar das vestes, a kriah, que nos remete à alma que se rasga para sempre. A seguir, é o som grave da terra que cai sobre o caixão. É quando a inexorabilidade da morte nos abate. Logo, a tradição pede que sentemos sete dias de shivá, sem outra obrigação a não ser relembrar a pessoa falecida, em total desconsolo, como a nossa alma. O judaísmo permite simplesmente chorar nossos mortos neste momento de dor. Então, o ritual nos devolve à vida, limitando cada fase de nosso luto, para que convivamos com nossas perdas e continuemos a viver. Assim, temos o shloshim após 30 dias e após um ano, vem a matzeivá. Nas festividades maiores do calendário, como Rosh Hashaná e Iom Kipur, lembramos nossos falecidos na emocionada cerimônia de Izkor. Que neste Rosh HaShaná e Kipur possamos reverenciar nosso passado e também pedir um futuro de paz.

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A Medida de Evolução de um Povo é a Educação de suas Crianças E isto é muito mais verdadeiro quando falamos do povo do livro, o povo judeu. Assim, hoje aqui, quando celebramos os 90 anos de um marco da educação em nossa cidade, todos nós devemos nos orgulhar. Pois desde que começou a grande corrente imigratória da Europa Oriental e a formação das instituições comunitárias judaicas nos diversos Estados do país, o Colégio Hebraico Brasileiro Renascença tem representado o que há de melhor em educação da nossa cidade, sendo um dos colégios de ponta de corpo educacional da cidade e também um dos alicerces do ensino judaico no país. O Colégio Renascença acompanhou o estabelecimento e o desabrochar da comunidade judaica no seio de nossa cidade, estabelecendo-se inicialmente no Bom Retiro, em meio aos imigrantes da colônia recém-chegados de seus países, lá nos idos de 1922. Foi a primeira vez que estes judeus errantes tiveram a opção de oferecer a seus filhos uma educação que incluísse a cultura, o folclore, os rituais, a religião, o idioma e os valores de seus antepassados. Juntamente com o aprendizado de um novo mundo, em conjunto com todo um corpo de saberes fundamentais que todo aluno precisa para galgar cada degrau de sua maturidade, estas crianças tiveram a oportunidade de manter acesas as histórias de vida de seus pais e avós. O Colégio Renascença lhes proveu as ferramentas educativas, artísticas, esportivas, culturais e éticas. Nestes 90 anos, o Renascença formou profissionais dos mais distintos campos possíveis. São milhares de cidadãos proeminentes não só em nossa cidade, mas, certamente, em nosso estado, no país, e, também, que trabalham e vivem pelo mundo afora, agindo em sociedade munidos dos valores que foram sendo moldados por seus dedicados professores e professoras do colégio Renascença. Ainda hoje, este prestigioso estabelecimento de ensino continua a ter uma proposta pedagógica de vanguarda, que prepara seus alunos para enfrentar as demandas profissionais e existenciais do século XXI, formando não apenas profissionais competentes, mas preparando crianças e jovens para que sejam seres humanos íntegros, tolerantes e inclusivos. Sua matriz curricular de primeira linha, sua política de inclusão singular e sua atitude investigativa apurada a equipara às instituições mais contemporâneas de nossa cidade e de nosso país. Nesta jornada de formação acadêmica e moral, o Renascença enfatiza também os mais nobres preceitos do judaísmo, disponibilizando o estudo de nossas escrituras em seu site, criando um forte vínculo com o Estado de Israel e educando seus alunos sobre as festividades do calendário judaico e os princípios éticos do povo judaico. Assim, a cidade de São Paulo deve este ato de reconhecimento a esta instituição que há 90 anos cuida da educação de nossas crianças e jovens e fomenta a tradição e a diversidade de uma das grandes comunidades de nossa cidade. Parabéns, Colégio Hebraico Brasileiro Renascença

CELEBRAÇÕES

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Iom Hazikaron e Iom HaAtzmaout Só um país que precisou e ainda precisa lutar a cada segundo deste mundo por sua sobrevivência tem o Iom HaZikaron (dia em memória a todos os que caíram em combate pela defesa do Estado de Israel e as vítimas de atos terroristas). Só um país que sabe o quanto é importante cada vida de seu povo chora seus mortos 24 horas antes de sua principal data comemorativa, sua Independência: Iom HaAtzmaout. Só um país que nasceu a partir da carnificina de seus antepassados presta homenagem aos que defendem a pátria do povo judeu, para que não sejamos mais estrangeiros indefesos e vulneráveis na terra dos outros. Só um país que vive sob o jugo de um terrorismo assassino homenageia cada vida inocente perdida para estes atos bárbaros. Só um país acostumado à intensidade e à fugacidade da vida une datas tão emblemáticas. Dediquemos hoje nossa lembrança a todos aqueles que perderam suas vidas para que todo o povo judeu no mundo afora, possa se sentir mais seguro, sabendo que o Estado de Israel lá está para todos nós. E rejubilemo-nos!! Israel aí está! Um jovem país efervescente, criativo, dinâmico. Uma das únicas democracias de toda a região. Em 70 anos, o Estado de Israel conseguiu imprimir um empreendedorismo que surpreende todos os que pensavam que esta pequena faixa de terra estava destinada ao fracasso. Israel é a expressão do que a determinação, o sonho e a ação podem alcançar. Sem falsas utopias, sem ingenuidade, mas com todo o empenho de um país e de um povo escrevendo e reescrevendo a história. Mas Israel ainda tem muito mais a dizer. Israel nunca está no final do caminho. É o país onde nasceu a espera pela chegada da paz eterna. É o país onde a vida ganha um significado maior: de perpetuação da história, de sonho realizado e de sobrevivência, o país do respeito ao passado e certamente da confiança no futuro. Convido-os para comigo homenagearmos quem perdemos, comemorar o que conseguimos e lutar sempre pelo que almejamos.

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Sucot, Muitos Nomes, Muitas Reflexões Acabamos de passar dias intensos, em que nossa alma se eleva, se questiona, dias em que o nosso lado spiritual se evidencia e deixamos até mesmo de nutrir nossos corpos. E logo, logo mesmo, apenas quatro dias depois de tanta intensidade, somos instados a construir uma cabana. As instruções são tão explicitas para a construção da sucá, que nos encontramos em meio a situações absolutamente triviais, cotidianas, como que nos lembrando de que o mundo em que vivemos é o aqui, agora, em meio à comunidade, em meio à natureza, e não em algum retiro, desenraizados de tudo. Sucot serve para que percebamos que nossa espiritualidade tem a ver com as relações eu-eu, eu-Tu, eu-comunidade e também eu-planeta. Sucot, um dos únicos três festivais constantes na Torá, junto com Pesach e Shavuot, nos brinda com vários aspectos metafóricos: Sucot é também chamado de Festival das Colheitas, que imediatamente nos remete ao respeito que devemos ter com a natureza. O judaísmo desde os tempos bíblicos revela e enfatiza a importância da terra, de sua flora, de sua conservação. Será que existe tema mais atual? Quão sábia é uma religião que ciclicamente traz oportunidades de reflexão no contexto ecológico! Também, a sucá serve para nos lembrar da vulnerabilidade do homem, a convivência familiar durante oito dias na precariedade de uma cabana nos recorda de tempos de incerteza, de tempos nômades, em que os judeus atravessaram o deserto, dando um mergulho para o incerto, tendo apenas sua fé como sustentáculo. Mas, mais ainda, Sucot é um período de comunidade. A tradição diz que, durante os dias de Sucot, devemos convidar amigos para visitar nossa sucá, e principalmente, devemos convidar pessoas necessitadas. Está na Torá, na época das festas, o judaísmo nos convida a pensar sempre no outro, no bem estar comum, pensar no pobre, nos órfãos, nas viúvas. Que possamos todos refletir sobre estes aspectos de Sucot. Que busquemos todos os ricos significados de Sucot, para que nos concentremos no mundo de aqui, procurando meios de aperfeiçoá-lo, sendo parceiros de Deus na construção de um mundo melhor. Chag Sameach

CELEBRAÇÕES

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Iom Ierushalaim

"Jerusalém nunca foi uma cidade fácil ..., presa entre os extremos da política e da religião. Não é à toa que a chamam de a cidade de Deus, é uma cidade que tentou diminuir os homens que lá vivem. Meu papel agora é transformá-la em uma cidade de dimensões humanas, uma cidade que existe para seus habitantes, para todos os seus habitantes " (Teddy Kollek, prefeito da cidade de Jerusalém de 1965 até 1993). Em 28 de Iyar celebramos Iom Ierushalaim, quando comemoramos a reunificação de Jerusalém, em 1967. Durante anytes de dezenove anos após a Guerra da Independência (1948), Jerusalém estava dividida por muralhas e não havia possibilidade de se aproximar dos locais sagrados. Em 26 de Iyar de 1967 eclodiu a Guerra dos Seis Dias entre Israel e os países árabes, Jordânia, Síria e Egito. Em 28 de Iyar de 1967, uma unidade de paraquedistas do exército israelense chegou, depois de duros combates, ao Muro das Lamentações. Após uma luta corpo a corpo, a Cidade Velha de Jerusalém, que havia permanecido nas mãos dos árabes desde 1948 sob domínio jordaniano, foi liberada. O rabino do exército israelense Shlomo Goren, junto a seus soldados, fez soar o shofar em um histórico sinal de liberação. A alegria voltaria às ruas de Jerusalém, essa cidade mágica que, com suas ruelas estreitas, suas construções e ruínas do passado carregam uma história tão rica que, por menor que seja, é enorme e cheia de vida. Uma cidade que por sua vez apresenta outra face, o rosto de uma metrópole próspera, moderna, com suas avenidas, edifícios, arranha-céus, hotéis, shoppings, assemelhando-se a outras grandes cidades do mundo. Jerusalém, Cidade Santa, venerada por seus lugares sagrados não apenas para nós, judeus, mas também por pessoas de distintos credos; onde vivem judeus, católicos, muçulmanos, armênios, druzos e assim por diante. Em cujas ruas misturam-se homens seculares com religiosos, cada um influenciando a vida do outro com seu comportamento. É um mosaico de culturas e nacionalidades que confluem a partir de diferentes países e histórias; de povos cuja identidade e tradições permanecem intactas ao invés de fundirem-se em um cadinho de amálgama; de bairros que refletem os costumes e estilos de vida de seus habitantes, que vivem e trabalham juntos em uma coexistência rara. Jerusalém, uma cidade cujas pedras estão vivas e nos falam, onde seus aromas nos fazem viajar no tempo e ao redor do mundo por países onde as comunidades judaicas já existiram ou ainda existem, mas que aqui acabam por se unificarem todas.

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Jerusalém, Terra de juízes, profetas, reis, sacerdotes, pastores, mestres e rabinos. Cidade desejada, cidade de sonhos, nostalgias, esperança, integridade, plenitude e paz. Cidade da Torá: "De Tzion sairá a Torá e a palavra de Deus de Jerusalém" Jerusalém, centro da vida espiritual judaica, local que abrigou o recinto mais sagrado para o nosso povo: "O Grande Templo" "Beit Hamikdash", pelo qual se derramou milhões de lágrimas, e para a qual de todos os cantos do mundo dirigimos nossas orações. Como está escrito no livro dos Salmos: “Junto dos rios de Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião... Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, esqueça-se a minha direita da sua destreza. Se me não lembrar de ti, apegue-se-me a língua ao meu paladar; se não preferir Jerusalém à minha maior alegria. (Salmos 137:1,5,6) Hoje Jerusalém é parte da nossa Medinat Israel; queira Deus que neste dia de "Iom Ierushalaim" possa sua luz, sua Torá iluminar-nos e que ela se transforme nesta Cidade da Paz, onde possamos viver em harmonia entre todas as pessoas de diferentes credos e que a Paz possa chegar à nossa Terra de Israel

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e a todo o mundo.

Jerusalém a noite.

CELEBRAÇÕES

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“Acredito que teremos paz com os nossos vizinhos, mas estou certa de que ninguém fará paz com um Israel fraco. Se Israel não for forte, não haverá paz”.

Golda Meir

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Israel, a Escolha da Democracia Durante mais de dois mil anos, o judeu, que estava espalhado pelo mundo, ansiava voltar à sua terra sagrada, Israel e Jerusalém. Durante mais de dois mil anos, a judeu foi humilhado, perseguido, torturado e até assassinado pelo antissemitismo que já reinava no mundo. No final do século XIX, surgiu um intelectual, Theodore Herzl, que começou um movimento para enfrentar a questão judaica e reivindicar o direito de voltar à terra de Israel. Embora houvesse judeus lá desde sempre, foi a partir do movimento sionista que foi criada uma estratégia importante de volta ao Oriente Médio. As primeiras levas de imigrantes eram constituídas especialmente de judeus oriundos da Europa, especialmente elementos de formação intelectual que resolveram criar fazendas coletivas com visão socialista. Foi aí que o espirito da pátria a ser criada foi desenvolvido. Os princípios de liberdade e igualdade foram a mola mestra que definiram o tipo de nação que os judeus ansiavam. A população judia foi crescendo na região e, após a enorme tragédia da Segunda Guerra Mundial, com 6 milhões de judeus assassinados pelo nazismo, o mundo reconheceu a necessidade de criar um novo país na região, resgatando o direito de um povo. Em 14 de Maio de 1948 renascia o Estado de Israel. O documento que foi escrito então é uma ode à liberdade, justiça e igualdade. Com as premissas sociais existentes no Livro dos Livros, afirmamos nossos princípios mais altos de tolerância e de portas abertas, principalmente a qualquer judeu do mundo. Foi reafirmada a vontade de viver em paz com os vizinhos, sem abrir mão da segurança e do direito inalienável à sobrevivência. Foi reiterada a crença de uma justiça maior para todos, com o compromisso da responsabilidade pessoal e social. E mesmo com uma população eminentemente judia, o país estabeleceu um governo laico. Desde então, levas e levas de imigrantes chegaram a esta terra. O rico e o maltrapilho, o religioso e o intelectual, os perseguidos e os idealistas. O judeu, que já foi estrangeiro em terras dos outros, abriu suas portas para os estrangeiros de hoje. O tecido social de Israel é formado por pessoas de toda a sorte e seus direitos são respeitados por sua justiça. O árabe, a mulher, o gay, o negro, o pacifista e o beligerante, todos eles sabem que suas vozes podem ser ouvidas e suas vidas protegidas por todas as cortes do país. Como disse Voltaire: ”Podemos discordar do que você fala, mas defendemos até a morte seu direito de falar.” Israel é famoso pela eficácia e coragem de suas Forças Armadas, mas também reconhecido pela independência de seus juízes. Nesta parte do mundo, o povo tem a certeza de viver em uma ampla democracia, estabelecida há setenta anos. Infelizmente, a região não conta com outros exemplos similares. Lá, neste país tão intenso, podemos encontrar dificuldades, pode-se discordar do amigo e do governo, podem ter estilos de vida completamente opostos, mas há a certeza de que existe um sistema de governo e de lei que garante seus mais altos direitos. Devemos todos desejar que os adversários de Israel consigam evoluir e estabelecer princípios morais similares para que se possa atingir a paz tão necessária.

CELEBRAÇÕES

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Lag BaOMer Lag BaOmer, eis um feriado simpático! O seu nome é referência literal do número 33, ou o trigésimo terceiro dia da contagem do Omer. O Omer é a contagem de 49 dias entre a Festa de Pessach e a Festa de Shavuot. A narrativa de nossa história explica que enquanto a Festa de Pessach comemora nossa liberdade física, passamos 7 semanas nos preparando para Shavuot, que significa a expressão de nossa liberdade espiritual, através do recebimento da Torá. Este período de sete semanas, na contagem do Omer, entre uma Festa e outra é um período intenso e solene. Trabalhamos nossas almas para receber a Torá. É uma época na qual não comemoramos nenhuma celebração alegre, como casamentos e outros. Entretanto, no trigésimo terceiro dia, damos uma pausa nesta fase mais introspectiva que é a contagem deste tempo e comemoramos dois feitos: o fim de uma peste que que acometeu 24 mil alunos do grande sábio Rabi Akiva e também fazemos um tributo para homenagear a data de aniversário do falecimento do principal discípulo de Reb Akiva, o Rabi Shimon Bar-Iochai. Rabi Shimon foi um dos maiores luminares da Cabala, a face mais mística do judaísmo. Foi durante o período em que Rabi Shimon Bar Iochai ficou isolado com seu filho e seus discípulos que veio a ser escrita a mais famosa aventura mística da tradição judaica, uma história repleta de símbolos, metáforas e mistérios: o Zohar, também conhecido como o Livro do Esplendor. À primeira vista, o Livro do Esplendor parece um grande romance. Os protagonistas são o rabino Shimon, seu filho Elazar e seus 8 discípulos. O cenário é a Terra Santa, onde os personagens transitam e encontram figuras bíblicas e seres celestiais. Mas, apesar do tom de aventura, a narrativa não tem nada de linear. A linguagem é repleta de metáforas, palavras de duplo sentido e neologismos. Fascinante, sim, mas quase impenetrável. Através dos séculos, a cabala só era ensinada para pessoas altamente versadas na Torá e que já tivessem alcançado uma certa idade. Mas, com o surgimento do chassidismo e uma maior busca espiritual e profunda de nossas origens, a Cabala foi se disseminando e hoje muitas pessoas, mesmo aqueles que não são judeus, tentam entender a profundidade da Torá com esta interpretação mística. Assim, podemos dizer que Lag BaOmer é a grande festa da Cabala pois celebra Bar Iochai, o autor do Zohar. Entre os costumes desta data, nossas crianças e adultos brincam com arcos e flecha e criam enormes fogueiras. A tradição do arco e flecha vem da leitura de que, antes de tentarmos buscar o conhecimento de longe, temos que acessar o conhecimento interno, com a analogia do mesmo movimento que fazemos com a flecha, trazendo-a para nossa direção antes de atirá-la para longe.

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A explicação para acendemos fogueiras pode ser entendida pela interpretação de que Bar Yochai deu luz espiritual ao mundo com a revelação do Zohar, e fogueiras então são acesas para simbolizar o impacto de seus ensinamentos. Hoje, com o desenvolvimento da tolerância do Brasil e com uma determinação dos judeus em celebrarem suas datas sagradas publicamente para que o mundo nos conheça melhor, podemos ver nossa comunidade judaica comemorando intensamente Lag BaOmer e vemos crianças e adultos dançando ao redor das muitas fogueiras nos vários espaços públicos dentro ou fora de nossas sinagogas. Em Israel, em Lag BaOmer, vemos as pessoas fazerem pic-nics nos campos ao lado das milhares de fogueiras que são acesas. Lá também é um dia de peregrinação ao túmulo de Bar Iochai, que foi um dos maiores sábios de judaísmo Como é bom perceber que a celebração de Lag Baomer se torna cada vez mais evidente em todo o mundo e como a alegria impera entre nós dando um intervalo feliz entre os 49 dias de Omer.

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Chag Sameach

CELEBRAÇÕES

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Kristallnacht Kristallnacht. Um nome imponente. A Noite dos Cristais. Foi um momento paradigmático. O pogrom mais famoso e infame (se é que podemos escolher um destes atos infames para ser mais trágico do que outro) ocorrido na Áustria e Alemanha. A Kristallnacht, acontecida entre 9 e 10 de Novembro de 1938 serve como a definição inicial do modelo que seria implantado pelos nazistas com referência ao povo judeu a partir de então. Usando como pretexto o assassinato de um diplomata alemão por um judeu polonês, Goebbels instiga os dirigentes paramilitares a atacarem os judeus e eles organizam as violências que deviam visar suas lojas e as sinagogas. Numa única noite, 91 judeus foram mortos e cerca de 25.000 a 30.000 foram presos e levados para campos de concentração. 7500 lojas judaicas e 267 sinagogas foram reduzidas a escombros. Os lares judeus também foram saqueados, os cemitérios, violados. A ironia é a enorme multa de 1 bilhão de marcos alemães que foi cobrada dos próprios judeus pela destruição da qual eles foram as vítimas. Muitos consideram a Kristallnacht como o início do Holocausto, pois foi um prenúncio do que estava por vir. É por isso que não podemos deixar de lembrar a cada ano esta data. Lembrarmo-nos do que aconteceu. Lembrarmo-nos do que o ser humano é capaz. Nossa resposta, nossa vingança, é o respeito, a memória e o alerta. Estamos aqui em nome das pessoas mortas, presas e enviadas aos campos de trabalho forçado, que sofreram humilhações e perdas irreparáveis nos anos de exceção de uma perseguição malévola. Estamos aqui para lembrar que um governo manipulador e totalitário certa vez sentiu-se acima do bem, do mal e do Divino, decretando a superioridade racial como política de estado e pensado que poderia dominar o mundo assim. Estamos aqui para alertar que nossa memória, prontidão e nossas atitudes tudo farão para que atos assim NUNCA se repitam com o povo judeu ou qualquer ser humano. É para isso que estamos aqui. Esta é a nossa missão. Por isso, espalhem. Este é o novo significado da Kristallnacht, a data em que lembramos de que nunca mais teremos uma Noite dos Cristais!!!

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O Ano Novo e a Temporalidade da Religião Em períodos em que celebramos o recomeço, um Novo Ano chegando, e comemoramos o aniversário da criação do mundo, devemos refletir um pouco sobre a religião, o judaísmo e sobre todo o conceito religioso. Em plena era secular em sociedades modernas, vemos as religiões como um conjunto de crenças estranhas e rituais específicos, sem os quais poderíamos passar muito bem. Entretanto, todos nós que sentimos a espiritualidade sabemos que ela nos educa e fortalece, nos orienta o caráter, permite que pensemos no outro além de nós mesmos e que consideremos o mundo fora de nosso próprio ego. As grandes religiões, e talvez todas, em seus ensinamentos advogam a paz e a fraternidade, estimulam a caridade, a visita aos enfermos, a ajuda aos necessitados, o conforto aos desesperados. A religião é a síntese da vida comunitária. Existem pesquisas de grandes universidades demonstrando que frequentadores de comunidades religiosas são mais propensos a fazerem doações, sejam elas de cunho religioso ou não, e participarem de qualquer tipo de trabalho voluntário. Sociologicamente, a religião permite sistemas de apoio comunitário que complementam e até prescindem e substituem sistemas vigentes ou precários nos rincões mais destituídos de recursos através do mundo. Como sociólogo, sou testemunha da importância destas organizações no cotidiano da vida dos necessitados. Muito antes de existir um conceito de governo organizado, os grupos religiosos já construíam escolas, hospitais e redes de apoio. Até hoje, podemos ver comunidades inteiras - e nossa comunidade judaica é incansável neste exemplo - estabelecendo todo um conjunto de organizações de suporte onde quer que se estabeleçam no mundo todo, determinando seu papel social antes de tudo. Entretanto, falando sobre valores conceituais, a contribuição da religião judaica para o mundo ocidental me arrebata. Como disse John Adams, o Segundo presidente Americano: “Eu insisto em dizer que os hebreus fizeram mais para civilizar os homens do que qualquer outra nação... o destino quis que os judeus fossem o mais essencial instrumento de civilização das nações.” A humanidade poderia até ser a mesma sem o insight do judaísmo. Mas nossa contribuição é inestimável. Ao judaísmo devemos a ideia da igualdade perante a lei, tanto divina quanto humana; a santidade da vida e a dignidade da pessoa; a consciência humana e por conseguinte uma redenção individual; a paz como um ideal abstrato e o amor como a base da justiça, além de uma estrutura moral básica da mente humana. Por isso tudo, quando chegarmos em Rosh HaShaná, e celebrarmos o Ano Novo, possamos agradecer pela riqueza de nossa tradição e aos sagrados ensinamentos passados de geração em geração, pelo precioso conceito de dignidade humana e de comunidade que o judaísmo nos legou e possamos, juntos, esperar um Ano Novo que nos traga, afinal a paz.

CELEBRAÇÕES

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Memorial do Holocausto Nas palavras de Elie Wiesel, prêmio Nobel da Paz de 1986: “…não relembrar o Holocausto significa assassinar as vítimas pela segunda vez; tornar-se cúmplice do inimigo. Por outro lado, relembrar significa sentir compaixão pelas vítimas de todas as perseguições.” Hoje, o Museu da Imigração Judaica inaugura a ala O Memorial do Holocausto, setor que expõe um sórdido episódio da nossa História, com certeza um dos mais sombrios, em que seis milhões de judeus, verdadeiros mártires e heróis, foram exterminados pelos nazistas durante a Segunda Grande Guerra. Agradeço o convite para estar hoje aqui e cumprimento o presidente de honra, Benjamin Steinbruch, o presidente do Conselho Consultivo, Breno Krasilchik, e todos os responsáveis que tornaram este museu possível. A missão é preservar a memória das milhões de vidas que foram brutalmente interrompidas durante a Segunda Guerra Mundial em prol da ideologia política nazista. Estima-se que somente em Auschwitz, o mais destacado dos campos de concentração, na Polônia, mais de um milhão e quinhentas mil pessoas tenham sido exterminadas no período. No total, cerca de seis milhões de judeus e milhares de outras vítimas, como ciganos, homossexuais, deficientes e mais outras minorias foram mortas, tudo para atender aos anseios étnicos da supremacia nazista, episódio historicamente denominado Holocausto. Essa época estarrecedora da humanidade lesou também mais milhares e milhares de pessoas, que tiveram que largar tudo o que tinham porque o antissemitismo mostrou sua cara nefasta em outros países também. Na França do Marechal Petáin, sua conivência com esta política nazista fez com que milhares de judeus fossem arrancados de suas casas e levados ao inferno. Na Itália de Mussolini, as leis restritivas contra os judeus eram da mesma ordem que as alemãs. Posso dizer isso com autoridade porque milha família foi testemunha pessoal desta desordem no mundo. Em 1939, minha doce avó Gabriella (Nella) Cohen Pesaro, meu avô Umberto Pesaro e meu pai Giorgio tiveram que abandonar sua identidade italiana e tudo o que tinham, para fugir do antissemitismo, já temendo a possibilidade de viverem com o que de pior o fascismo e o evidente antissemitismo iriam causar. Meus parentes chegaram ao Brasil em Maio de 1939, para então buscar uma relação de identidade porque a que tinham lhes havia sido roubada pelos fascistas de Mussolini.

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Assim, manter viva essa memória, além de fazer o Holocausto chegar ao conhecimento de muitas pessoas, judeus e não-judeus, é fundamental para que todos se deem conta das atrocidades que foram cometidas em nome do antissemitismo. Ainda que jamais tenha sido feita justiça a todos os extermínios ocorridos nos campos de concentração, podemos refletir acerca dos perigos da discriminação racial e sobre a observância dos direitos humanos. Se milhões de judeus e outros tiveram negados todos os seus direitos e garantias fundamentais por questões étnicas e religiosas diferenciadas, uma questão nos fica clara: não podemos admitir, nos dias atuais, qualquer espécie de conduta antissemita. Não podemos nos esquecer que a dignidade humana e os direitos à liberdade e à igualdade constituem uma das bases sólidas do Estado Democrático e Social de Direito. O infame episódio do Holocausto em muito contribuiu para a materialização dos direitos fundamentais em várias constituições pelo mundo. A memória tem uma influência grandiosa para o povo hebreu e alguns valores que não podem ser esquecidos: somos todos iguais e irmãos. Já nos textos cardeais do judaísmo, a importância da memória e a necessidade de transmitir sua história para todas as gerações é uma obrigação do povo do livro Pois aqui, no Memorial se guarda a memória do passado e se mostra o seu significado para as gerações futuras. Uma instituição como o Memorial da Imigração Judaica tem a importante missão de resgatar e contar a jornada de todos esses judeus e outras minorias, fazendo-nos mais próximos de nossos antepassados. Nem todos presenciaram o Holocausto, mas os sobreviventes da tragédia e todos os cidadãos de bem devem manter vivas suas consequências em prol do aprimoramento das relações humanas. Ódio e discriminação não podem mais tomar conta de nosso cotidiano. Jamais traremos de volta as vidas que foram suprimidas, mas podemos fortalecer as bases humanistas que devem nortear as relações humanas, independentemente de raça, cor ou crença religiosa. Infelizmente, nestes nossos dias, assistimos o ressurgimento desta visão racista e o antissemitismo mostra mais uma vez sua cara em vários países do mundo. Assim, a importância do Memorial se torna ainda mais admirável para que possamos educar crianças, adolescentes e adultos sobre as consequências nefastas destas teorias. O grande general americano, Eisenhower disse, quando liberaram o campo de concentração em Aushvitz: ‘Que se tenha o máximo de documentação - façam filmes - gravem testemunhos - porque, em algum momento ao longo da história, algum idiota vai se erguer e dizer que isto nunca aconteceu'.

CELEBRAÇÕES

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Pessach Pessach é o exemplo absoluto da festividade familiar. O ritual primordial acontece à mesa, com as famílias reunidas em torno de uma história singular que nos remete a um passado histórico, mas que abrange questões da condição humana. O ‘seder’ segue uma sábia ordem, utilizando o alimento como metáfora do amargor da escravidão e da alegria da liberdade. O texto litúrgico e pedagógico, a Hagadá, tem como objetivo contar a história de nosso povo, salientando que devemos todos sentir-nos escravos, para entender a importância e o sabor da liberdade. Citando as Escrituras... “E Moisés disse ao povo: Lembrai-vos deste dia, em que saístes do Egito, da casa da servidão.. (Exodo, 13:3)” Revivemos então uma época negra de nosso passado. Entretanto, o que mais me encanta, obviamente, além das iguarias típicas dessa noite, é o envolvimento das crianças, que são instadas a participarem com suas perguntas, entrando assim no ritual e tomando conhecimento das aflições e júbilos de nosso povo. E somos nós, adultos, que temos a grande responsabilidade de esclarecer para nossos filhos que viemos de um povo sofrido, com história, com passado, mas principalmente com futuro. Ademais, Pessach, com seu ciclo de oito dias sem fermento, nos remete à reflexão do inchaço em nossas vidas: como inflamos nossos quereres, lutando por adquirir bens e mais bens supérfluos, que só fazem nos afastar dos propósitos verdadeiramente primordiais para nós. São oito dias em que o pão ázimo nos coloca na rota de ponderação de todas as nossas vaidades materiais e espirituais, permitindo um reenfoque de nossos objetivos. Em Pessach, mais uma vez, a sabedoria do judaísmo usa a lembrança e o ritual para que cada um, desde tenra idade, perceba e sinta a importância da liberdade, do arbítrio em relação à sua própria vida. Chag Pessach Sameach!

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Purim, a Festa dos Opostos Na mesma época da história, Purim nos conta a transformação para os judeus de um sofrimento e de luto para uma alegria festiva. Purim é um festival de opostos. No pergaminho de Esther, que lemos nas sinagogas na data da Festa, entramos no teatro do bem e do mal, de luto e celebração, comédia e tragédia, verdadeira identidade e disfarces, de uma ameaça para a vida para uma vitória final. Vivemos em um mundo de opostos. Em todos os cantos do Terra, estamos rodeados por uma paisagem de violência e paz, ódio e amor, riqueza e pobreza, abundância e fome, igualdade e disparidade. Recordamos na história de Purim, que as forças opostas devem vir face a face uma com o outra para efeito de mudança. Se Vashti, esposa de Achashverosh, não tivesse desafiado seu esposo e sido assassinada, o ciclo de abuso teria continuado. Se Mordechai, ministro do rei e tio de Esther, não tivesse desafiado Haman, conselheiro do rei, o povo judeu não encontraria liberdade. Se Esther não tivesse usado seu poder para o bem, o decreto contra o povo persistiria e nosso povo seria aniquilado. E hoje, ao confrontar o preconceito, transformamos o mundo de um sofrimento e perda a um da totalidade e celebração. Ao confrontar a desigualdade, transformamos o mundo de pobreza e fome a um de realização e abundância. Ao enfrentar a guerra, transformamos o mundo de um de violência e opressão em um de paz e liberdade. Como os protagonistas na história de Purim, vamos confrontar a injustiça e agir para mudar um amanhã de tristeza e de luto para uma alegria festiva. Se nos separarmos do infortúnio e não fizermos nada para combater a injustiça ocorrendo ao nosso redor, nós vamos continuar vivendo em um mundo que é polarizado e injusto. A Festa de Purim deve ser festejada com muita alegria, fantasias, reco-recos e o delicioso Oznei Haman, mas, como a festa dos opostos, devemos nos posicionar contra o mal para fazer o bem. Chag Sameach

CELEBRAÇÕES

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Tempos de Liberdade Na proximidade de Pessach, é interessante discorrer sobre uma palavra abstrata e trazê-la para o nosso cotidiano, Pessach nos remete à liberdade. O que é liberdade? É um direito absoluto? Nascemos para tornarmo-nos livres. O conceito de Liberdade é definido a partir de diferentes aspectos, e de acordo com diferentes culturas; a liberdade varia de cultura para cultura. Alguns definem a liberdade como um direito natural. Todo ser humano nasce e quer ser livre, independentemente do outro. Liberdade é o direito de fazer o que se quer, viver onde se quer, comer o que se quer, aprender o que se quer, e escolher a religião na qual se acredita, sem ignorar ou prejudicar outros direitos. Como podemos viver livres? Segundo o ponto de vista de alguns pensadores, podemos viver livres, respeitando os direitos para que as outras pessoas também possam ser livres. Nossa liberdade não pode ignorar os direitos das pessoas com quem convivemos na sociedade. Não podemos simplesmente fazer o que queremos e ignorar os outros. Devemos tomar os direitos das pessoas em consideração. A ideia por trás da liberdade é ser respeitoso e útil para a nossa sociedade. A Liberdade é importante para cada um dos seres humanos. Se alguém for privado deste direito inato, irá definitivamente sentirse como se não fosse um ser respeitado e cuja liberdade também não o fosse. Quando a liberdade humana é garantida, podemos pensar livremente, ir para onde quisermos, expressar nossa opinião sem medo de que pessoas possam discordar de nós. A liberdade de opinião é um dos ramos mais importantes da liberdade. Em algumas sociedades onde a liberdade de opinião não é garantida pela autoridade, a criatividade da mente é morta e enterrada. A sociedade como um todo é a maior perdedora dessa falta de criatividade. Muitos já disseram que a liberdade de opinião nunca irá resultar em animosidade entre as pessoas que se respeitam. Como já mencionado anteriormente, a liberdade não é um direito absoluto, e há muitas restrições sobre ela. Primeiramente, deve-se considerar os direitos da sociedade, incluindo a segurança no seu todo, que é muito importante. Nossa segurança é tão essencial quanto a liberdade. Nossa prática da liberdade nunca deve levar a alguma ameaça à nossa segurança. Também, a liberdade de crença é primordial, acreditar no que você quer e escolher sua religião. Nós também devemos ter o direito de estabelecer nossos próprios lugares, onde realizamos nossas ações religiosas ou não. Historicamente, tem havido uma prova evidente de que a liberdade é inata ao ser humano e que ele vai lutar enquanto viver para restaurar seu direito natural de ser um homem livre. A civilização ocidental garantiu a liberdade para o seu próprio povo e ocupou nações pobres, privando seus povos de seus direitos, incluindo a liberdade.

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Assim, essas nações pobres lutaram sem descanso para restaurar a liberdade e para conseguir de voltas a sua autonomia. A exclusão de direitos não é um ato de respeito. Desde que Deus nos deu a liberdade de graça, temos de fazer o nosso melhor para manter esse direito. Entre as formas mais humilhantes para punir um ser humano, é privá-lo de liberdade. Como nos conta a Hagadá, o povo judeu foi privado de sua liberdade, e por isso vivenciou o sofrimento. A privação da liberdade ensina várias lições ao ser humano, e o judeu, sabedor da aflição de ter sido escravo, fará uso deste aprendizado para realmente velar e lutar pela liberdade de todos. Nestes tempos de Pessach, façamos uma reflexão lembrando nosso sofrimento nas terras do Egito e nossa liberdade na Terra de Israel.

Imagem: Projetado por Freeimages.com

Chag Sameach

CELEBRAÇÕES

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Homenagem ao Rabino Shabsi Alpern É um privilégio estar hoje aqui, em meu nome e do governador Alckmin, participando de uma cerimônia entre amigos e autoridades que vieram prestar o tributo imprescindível neste aniversário de 80 anos de uma pessoa cuja trajetória nos faz lembrar que devemos todos andar nos caminhos de Deus: o rabino Shabsi Alpern. Oriundo de uma nobre família de rabinos, seu passado já fazia antever o grande líder que hoje está aqui diante de nós recebendo o justo reconhecimento da comunidade. Sua precoce convivência cotidiana com pessoas observantes, desde sua cidade natal, Dokshytsy (docshitzi), em uma aldeia chassídica da Bielorússia, foi o primeiro pilar na construção deste ser humano sagrado. Chegou aos Estados Unidos, junto com seus pais, no dia de Rosh HaShaná, celebrando aí um ano novo e uma vida nova. Teve então a extraordinária oportunidade de conviver com um tzadic, o líder máximo da vida judaica moderna, o Rebe de Lubavitch, Rabi Menachem Mendel Schneerson. Que responsabilidade e regalia teve nosso querido rabino Alpern, de aprender e depois replicar os exemplos e modelos do Rebe. Dando seguimento à missão primordial de Rebe Schneerson, a de disseminar os ensinamentos da Torá pelo mundo afora, e por indicação do Rebe, o rabino Shabsi chega então ao Brasil, com a sua dedicada esposa e companheira Esther, que descanse em paz. São mais do que 50 anos de Brasil, anos de incansável trabalho comunitário. Um trabalho que por vezes aparece, por vezes não, mas que inevitavelmente deixa sua marca nas pessoas. Foram incontáveis ocasiões em que o Rabino Alpern trouxe alento para aquele angustiado com suas situações de vida, ocasiões em que indicou caminhos para quem estava perdido, ocasiões em que demonstrou a importância da prática e do ritual judaicos para alguém que se distanciara da religião e da comunidade. Quantas e quantas vezes nosso estimado rabino visitou pessoas doentes, desempenhando uma das principais mitzvot do judaísmo, o bikur cholim. Quantas e quantas vezes ele levou conforto à casa dos enlutados, com palavras de consolo indicando a ancestral sabedoria de nossos rituais de luto para aliviar a dor da perda. Além disso, o respeito e admiração que o rabino Alpern demonstra pela mulher judia se faz presente em suas reuniões anuais, há décadas, com mais de 1000 dignas representantes do judaísmo. Rav Alpern, acompanhado de sua esposa Yael, fazem deste compromisso o testemunho da importância cada vez mais reconhecida da mulher judia na formação de lares íntegros e observantes.

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Mas mais, muito mais, nosso rabino foi, a partir de seu carisma e dedicação, se impondo como porta voz e líder de toda uma comunidade comprometida com os preceitos e tradições com as quais o judaísmo nos brinda. O Rabino Alpern foi sabiamente conquistando o lugar de destaque que hoje ocupa, tanto na comunidade judaica local e mundial, como no cenário civil de nossa cidade e de nosso país. Nosso querido rabino também estabeleceu um diálogo frutífero com outras vertentes do judaísmo, inclusive com aqueles que têm uma prática mais secular. Sua interação com figuras importantes de nosso Estado é fluída e frequente. Porém, tudo isso fica quase ofuscado diante da trilha que Shabsi Alpern tem incansavelmente percorrido no que tange a guemilut chassadim. Seus atos de bondade e caridade deram origem às suas obras assistenciais, que hoje transcendem e muito o universo comunitário e são reconhecidas como altamente meritórias. Seu projeto Felicidade, que oferece diversão e alegria a crianças e adolescentes de classes menos favorecidas com câncer, é um dos exemplos altruístas de como transpomos a barreira das intenções e podemos, com esforço e vontade, partir para uma ação efetiva de Tikun Olam, o aperfeiçoamento deste mundo. Como reconhecimento desta trajetória, Alpern, em 1977, recebeu o Título de Cidadão Paulistano na Câmara Municipal e em 2003 recebeu a Medalha dos Bandeirantes das mãos do Governador Geraldo Alckmin. Já em 2009, com o status de reconhecimento mundial, foi eleito membro da diretoria do Agudas Chasidei Chabad, organização máxima do movimento Chabad-Lubavitch Mundial. E hoje, vamos alegremente comemorar seus 80 anos e quase todos de dedicação total ao seu chamado sagrado. Eu poderia passar a noite tentando enumerar as qualidades, destacar a visão, salientar a sabedoria e a erudição de nosso rabino Alpern, mas somos tantos que temos o que agradecer e louvar, que simplesmente aqui me detenho dizendo: Mazal Tov, grande rabino, por seus 80 anos de idade e Mazal tov, para todos nós, por termos tido o benefício de desfrutar de sua presença e de sua sabedoria por tanto tempo. Que possamos contar com sua luz nos indicando o caminho por muitos e muitos anos mais. Vou dizer como se diz nestas ocasiões: Ad Meá ve Essrim.

CELEBRAÇÕES

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Floriano seu pai ao fundo, junto com Marcos Arbaitman e outros líderes de relevo da comunidade judaica paulista. Floriano com Mendy Tal.

Floriano em ação da Unibes, uma das entidades que recebeu verba de emenda parlamentar para destinar à área de assistência social.

Plantando árvore na Hebraica.

Floriano no gabinete do Primeiro-Ministro de Israel.

Floriano junto ao Rabino David Weitman, seu filho Toive Wetiman, o publicitário Eduardo Fischer José Luiz Goldfarb, entre outras importantes lideranças comunitárias, em evento da inauguração do Museu do Holocausto.


Todo ano Floriano participa com os jovens da comunidade judaica da campanha do agasalho organizado por eles por meio da Federação Israelita do Estado de São Paulo – Fisesp.

Floriano com a Ex-Presidente da Unibes, Célia Kochen Parnes.

Joel Rechtman, Rabino Berel Weitman, Rabino Levi Slonim, Sandro Kuschnir, Rabino Shie Pasternak, Daniel Annemberg, Floriano Pesaro, Rabino Jacob Begun, Marcel Hollender, Rabino Itche Pasternak, Rabino Mendel Begun, Mendy Tal e Rabino Mendi Koncepolski.

Com o Ex-Ministro e sempre conselheiro José Gregory, em evento.

Com o amigo Sandro Kuschnir.

Fotos: Acervo Digital do Autor


Com João Dória.

Floriano e o Presidente da Confederação Israelita do Brasil, Fernando Lottenberg.

Floriano e o Presidente da Conib Fernando Lottenberg, entregam ministro da Educação, Mendonça Filho uma placa de homenagem.

Floriano e Fernando Lottemberg recebem o Governador Geraldo Alckmin e a primeira-dama Lu Alckmin em evento da comunidade judaica.

Floriano e o Governador Geraldo Alckmin na Congregação Israelita Paulista – CIP com o Rabino-chefe da entidade, Michel Schlesinger, o Rabino Ruben Sternschein o Presidente executivo da Federação Israelita do Estado de São Paulo – Fisesp, Ricardo Berkiensztat.

Floriano com o presidente executivo da Fisesp, Ricardo Berkiensztat, em mais uma campanha do agasalho coordenado pelos jovens da comunidade judaica para o Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo.


Floriano é ladeado por Claudio Lottenberg presidente da UniteHealth Group Brasil) e Jayme Blay (presidente da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria).

Floriano, Rabino Ruben Sternschein e a então Primeira-Dama e Presidente do Fundo Social de Solidariedade, Lu Alckmin, em mais uma campanha do agasalho.

Floriano com o Embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley.

Floriano com o Cônsul de Israel em São Paulo, Dori Goren, presidente da Conib, Fernando Lottenberg, a jornalista Mona Dorf e o produtor da Tama Vídeo e do programa Shalom Brasil, Marcel Hollender.

Floriano com o Rabino David Weitman, fundador da instituição Ten Yad, da editora Maayanot, coordenador do rabinato da sinagoga Beit Yaacov.

Fotos: Acervo Digital do Autor


PALAVRAS FINAIS C

ada vez mais, a sabedoria judaica me conquista. Das Escrituras aos grandes sábios do passado, aos

contos chassídicos, às considerações filosóficas, aos rituais e aos conselhos de nossos líderes laicos e espirituais, tenho uma sede inesgotável pela tradição e cultura judaicas. Como exemplo, quero deixar este conto com sua moral.

Foto: Acervo Digital do Autor

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O Rei Salomão e o Anel Mágico O Rei Salomão foi um dos mais sábios de todos os homens. Ele entendia até mesmo a linguagem dos pássaros e de outros animais. Por ser tão inteligente, às vezes ficava tão feliz e não se comportava como um rei. Outras vezes, ficava tão triste, que tudo lhe parecia sombrio e sem esperança. Numa manhã, ao sair para ir ao Mercado, viu lojistas vendendo seus produtos e crianças brincando na rua. De repente, avistou um comerciante contando vantagem: “Eu sou o maior joalheiro de toda a Terra. Ninguém faz uma joia como eu!”. Salomão não gostou de ouvir alguém tão convencido. Foi até o homem e disse: “Você realmente acha que é o joalheiro mais talentoso da Terra? Então, eu quero que me faça um anel que me deixe calmo quando estiver muito feliz e eufórico. E quando eu estiver triste e deprimido, me levante o ânimo. A joia deverá ser entregue até amanhã à noite.” O comerciante ficou muito preocupado com a ordem do rei, porque era um simples artesão. Foi para casa triste e amedrontado, pensando como faria para produzir tal anel. Pensou muito e, tendo uma ideia, começou a criar o anel, moldando-o em ouro enquanto trabalhava. No dia seguinte, correu para o palácio levando o anel para o rei. O rei Salomão olhou para o anel e para o comerciante, concordando com a cabeça. “Você realmente realizou o meu pedido. Toda vez que eu olhar para esse anel, saberei que as tristezas são temporárias e que os momentos alegres também se vão.” No anel estava gravado: “GAM ZU IAAVOR” “ISSO TAMBÉM PASSARÁ”

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Formato 21 x 29,7 cm Miolo Couche Brilho Número de Páginas 148 ISBN 978-85-917940-3-4




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