Revista RS Negro

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Revista - RS Negro: ler, refletir, debater, pesquisar, criar, recriar...

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Revista-RS Negro tem como objetivo oferecer um itinerár io de leituras e debates a respeito da cultura afro-brasileira no estado do Rio

Grande do Sul. A par tir de um conjunto de breves textos sobre a histór ia, as manifestações culturais, a educação, a língua, a religiosidade, a gastronomia, a mídia, as lutas e organizações políticas do negro no mundo, no Brasil e, especialmente, no Rio Grande do Sul, buscamos estimular e valor izar a inserção e o debate específ ico sobre a negr itude em nosso estado. Com as abordagens propostas nos 15 textos, gostaríamos especialmente de motivar nossos leitores – alunos e professores – a leituras diferentes, instigar novas ref lexões e pesquisas e inspirar a cr iação e recr iação de outros textos, imagens, situações, impressões, vivências, discussões, que enfatizem a negr itude no Rio Grande do Sul.

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A história e a cultura da África são ricas e diversificadas. Vamos estudá-las para compreender o processo de transformação vivenciado no continente.

Ponto de partida – o continente africano

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história do continente africano se confunde com a história da humanidade. Cerca de 160 mil anos atrás o Homo sapiens inicia a evolução da espécie humana na África Oriental e Meridional, espalha-se pelo continente e pelo resto do planeta, adapta-se a novos ambientes e desenvolve habilidades, diversificando-se em grupos étnicos e linguísticos. Terceiro maior continente da terra, a África ocupa 22% da massa terrestre, tendo como principal subdivisão duas regiões limitadas, mas não separadas, pelo deserto do Saara: África do Norte ou Magreb (ocidente em árabe) e África do Sul ou subsaariana (abaixo do Saara). Nesse território há uma diversidade bastante grande em termos geográficos, desde as faixas litorâneas baixas, passando por planaltos e montanhas até chegar aos pontos culminantes de mais de 5 mil metros de altitude como o Kilimanjaro (Tanzânia), o Quênia (no país de mesmo nome) e o Pico Margherita (República Democrática do Congo). Neste continente há uma enorme diversidade física e socioeconômica, pois existem neste espaço desde extensos vales férteis até desertos, como é o caso do Saara, o maior do mundo. O contraste da pobreza e riqueza também é muito visível por toda sua extensão continental. Na África havia grandes Reinos como o de Gana (séc. IV), de Axum (séc. V) do Ioruba (séc.VI e XI), do Mali (séc. XII e XIV) e o de Songhai (séc. XV e XVI). Havia ainda pequenas aldeias reunidas por descendência e os grupos nômades de comerciantes,

agricultores e pastores que se deslocavam sempre que as condições climáticas ou as oportunidades exigiam. Entretanto, outros fatores como a expansão de reinos, a migração de grupos, o trânsito de caravanas de mercadores, a disputa pelo acesso aos rios, o comando sobre estradas podiam implicar a guerra e o domínio de um povo a outro.

Antigos Reinos africanos

Reino de Gana Teve seu apogeu entre os anos 700 e 1200 d.C. Acredita-se que o florescimento desse Reino date do século IV. Há controvérsias históricas se este Reino foi fundado por povos berberes ou por negros mandeus, mandês ou mandingas. Segundo relatos históricos, o Antigo Reino de Gana era abundante em ouro e em produtos comerciais, como sal, cereais, camelos etc. Com a concorrência de outras potências no comércio do ouro, o Antigo Reino de Gana começou a desvalorizar. Até que, por volta de 1076 d.C., em nome de uma fé islâmica ortodoxa, os berberes da dinastia dos almorávidas, vindos do Magreb, atacam e conquista Kumbi Saleh, capital do Reino de Gana. A região de Gana tornou-se, com o tempo, uma área de intenso comércio. Os habitantes do Reino deviam pagar impostos para a nobreza, que era composta pelo caia-maga (Kaya Maghan Cissé) seus parentes e amigos. Um exército poderoso protegia as terras e o comércio praticados na região, o que nos sugere a formação de um Reino organizado e hierarquizado com a tributação de impostos, início de um processo de urbanização com as cidades de Gana, Gharbil, Madasa, Tirka etc. Além de pagar impostos, as aldeias deviam contribuir com soldados e lavradores, que trabalhavam nas terras da nobreza.

Reino de Axum Na Antiguidade, a África teve como principais referências antropológicas o Egito e seus reinos governa-

Suni Al Ber

Sílvia do Canto

Ponto de partida – o continente africano

dos por faraós, e também um reino africano pouco difundido chamado de Axum (também escrito Aschoum, Axoum ou Aksum). Esse reino começou aproximadamente no século V a.C. e se expandiu de modo a controlar as rotas comerciais entre a África, a Arábia e a Índia, tornando-se assim um reino bastante rico. O Egito é um dos países mais populosos do continente africano. A grande maioria da população, estimada em 80 milhões de habitantes (2007), vive nas margens do rio Nilo, a única área cultivável do país, com cerca de 40 000 km. Axum, o que seria hoje a Etiópia, teve pouca contribuição no tráfico negreiro para o Brasil; contudo, a sua importância para o imaginário negro brasileiro povoado pelas histórias da rainha de Sabá e rei Salomão, A. Selassiè, e suas influências no reggae se dão até hoje.

Reino de Ioruba O Reino de Oyo Yoruba (c. 1400 - 1835) foi um Reino da África Ocidental onde é hoje a Nigéria ocidental. O Reino foi criado pelos Yoruba, no século XV, e cresceu para se tornar um dos maiores Reinos do Oeste africano encontradas pelos exploradores coloniais. O Reino de Oyo foi, em termos políticos, o mais importante na região desde meados do século XVII ao final do século XVIII, dominando não só outras monarquias Yoruba, mas também outras monarquias africanas, sendo a mais notável o reino Fon do Dahomey.

Reino de Mali A formação do Antigo Mali teria se dado por caçadores reunidos em confrarias ligadas pelos mesmos ritos e celebrações das religiões tradicio-


Songhai foi um dos maiores Reinos africanos da história nos séculos XV e XVI. Este Reino tinha o mesmo nome de seu grupo étnico líder, os Songhai. Sua capital era a cidade de Gao e sua base de poder era em torno do rio Níger. Antes do Reino Songhai, a região tinha sido dominada pelo Reino de Mali, uma das civilizações mais ricas da história mundial. O Reino Songhai teria suas origens num antepassado lendário, o gigante comilão Faran Makan Botê, do clã dos pescadores sorkôs. Por volta de 500 d.C., diz a tradição, que guerreiros berberes, chefiados por Diá Aliamen teriam chegado à curva norte do Níger, tomando o poder dos sorkôs. A partir daí e até 1009, a dinastia dos Diá reina em Kukya, uma ilha perto do Níger, quando o reino se converte oficialmente ao islamismo e transfere a capital para Goa, onde a dinastia reina até 1335. Nesse ano, o povo songhai se liberta do Antigo Mali, de quem se tornara vassalo em 1275, e começa a conquistar as regiões vizinhas.

Divisão Física da África Norte da África

Oeste da África

África Central

Leste da África

Sul da África

Argélia, Egito, Líbia, Marrocos, Saara Ocidental e Tunísia Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Guiné, GuinéBissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo Camarões, Congo, Gabão, Guiné Equatorial, República CentroAfricana, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe e Chade Burundi, Dijbuti, Eritreia, Etiópia, Quênia, Ruanda, Somália, Sudão, Tanzânia e Uganda África do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, Madagascar, Malawi, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue

A Copa da África do Sul de 2010 foi a primeira a ser realizada no continente africano. Foi o maior evento esportivo no continente africano que até então não havia sediado nenhuma Copa do Mundo nem Olimpíadas. Com a ajuda de um atlas, localize os países africanos que participaram da Copa do Mundo de 2010: África do Sul, Nigéria, Gana, Camarões, Costa do Marfim e Argélia. Investigue as histórias passadas e recentes desses países.

Rainha de Sabá

M’BOKOLO, Elikia. África negra história e civilizações. Salvador: EdUFBA, 2009.

Ponto de partida – o continente africano

Reino de Songhai

Sílvia do Canto

nais. Conquistando o que restou do Antigo Gana, em 1240, Sundiata Keita, expandiu seu Reino, que já era oficialmente muçulmano desde o século anterior. O Mali se tornou legendário, principalmente sob o rei Kanku Mussá, que, em 1324, mobilizou a peregrinação a Meca com a intenção evidente de fascinar os soberanos árabes. O Reino de Mali tornou-se famoso devido à sua imensa riqueza, alcançada através do comércio com o mundo árabe. No início do século XV, o Reino do Mali começou a declinar. As disputas pela sucessão enfraqueceram a coroa e muitos se afastaram. Os Songhai foram um deles, fazendo a cidade proeminente de Gao a sua nova capital.

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A vida em movimento – diáspora africana e escravidão

A vida em movimento – diáspora africana e escravidão

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A diáspora africana é caracterizada por pessoas que foram escravizadas e enviadas para as Américas durante o tráfico escravagista que ocorreu entre os séculos XVI e XIX.

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termo diáspora significa o deslocamento, normalmente forçado, de grandes massas populacionais originárias de um lugar determinado para várias áreas distintas. Este termo é usualmente empregado para fazer referência à dispersão do povo hebreu da sociedade antiga, a partir do exílio na Babilônia. Ainda hoje a mobilidade humana (migrações) continua sendo um fenômeno amplo e complexo que abrange um número enorme de sujeitos sociais pertencentes a diversas etnias, culturas e religiões. As causas e as motivações que levam aos deslocamentos têm consequências bastante diversificadas, dependendo principalmente dos diferentes contextos socioculturais. Em geral, os sujeitos migram em busca de melhores condições de vida. Todavia, na maioria das vezes, por trás das migrações escondem-se aspectos negativos ou conflitivos, como a expulsão do lugar de moradia, o desenraizamento cultural, a perda da estrutura identitária e religiosa, a exclusão social e a dificuldade de inserção do sujeito. É nesse contexto que podemos entender a diáspora africana. Os africanos que foram deportados ou que migraram para distintas partes do mundo formam aquilo que se denomina “diáspora africana”, uma das maiores diásporas dos tempos prémodernos. Grande parte da diáspo-

ra africana é constituída por pessoas que foram escravizadas e mandadas para as Américas durante o tráfico escravagista que ocorreu entre os séculos XVI e século XIX. Vale ressaltar que, quando falamos em diáspora, não estamos falando de minorias. Estamos falando de uma grande maioria dispersa pelo mundo, visto que a África é um continente enorme, que compreende vários países, nações, nacionalidades, religiões e grupos étnicos. Entre os fatores que contribuíram e continuam a contribuir para a expansão desta migração, evidencia-se a luta dos povos que vivenciaram a diáspora a partir das númerosas dificuldades socioeconômicas e políticas que o continente africano enfrenta e que provoca a migração de intelectuais e esportistas, a migração clandestina, a migração forçada de refugiados políticos e o exílio de pessoas qualificadas. A diáspora africana influenciou de modo direto as mudanças nas relações políticas, econômicas e sociais entre os continentes, através da disseminação da presença dos negros pelos diversos continentes e da relevância que esse fato assumiu para as futuras gerações. A história do reggae é um exemplo disso. O reggae é um estilo musical que surgiu na Jamaica, uma ex-colônia inglesa do Caribe, que teve a população indígena original praticamente dizimada depois da chegada dos europeus, capitaneados por Cristóvão Colombo. Em 1509, sem força de trabalho para explorar, os espanhóis iniciaram um dos processos mais traumáticos da história humana, levando para a ilha grandes levas de escravos africanos. De alguma maneira, foi desse modo que nasceu o reggae. Primeiro, surgiram os cânticos dos escravos, trazidos da África. O reggae surgiu como a síntese de tudo o que vinha sendo feito anteriormente (rastafarianismo, letras que falavam do cotidiano e do amor), adicionando um elemento fundamental para a sua propagação: a preocupação política. O reggae ficou conhecido no mundo através das músicas de Bob Marley, Jimmy Cliff, Peter Tosh e Gregory Issacs.

Da África ao Brasil Ainda que a escravidão não seja vista como uma migração, a escravidão africana no Brasil foi um movimento migratório de natureza forçada. Seu início se deu em meados do século XVI, e desenvolveu-se no século XVIII, até ser proibido, em 1850. O que não cessou o cativeiro dentro de nossas terras e pelos mares, visto que o tráfico negreiro continuava fazendo vítimas e rendendo fortunas aos traficantes, mesmo após sua proibição. Não é possível precisar o número de africanos escravizados trazidos para o Brasil durante o período do tráfico negreiro, do século XVI ao XIX, mas a estimativa é de cerca de cinco milhões de africanos que foram obrigados a cruzar o Oceano Atlântico para servirem de mão de obra escravizada. Cerca de 40% dos escravizados embarcados nos porões dos navios morriam durante a viagem; ainda assim a viagem era lucrativa para os escravizadores. Os mercadores dos escravizados buscavam africanos de idade ativa, que serviam de moeda de troca, comprados e vendidos a partir de uma rigorosa seleção física. No Brasil colonial, os escravizadores criaram várias justificativas para defender a escravidão, dentre elas a de que o tráfico negreiro retiraria os africanos de um mundo bárbaro e sem civilização em que viviam, como se os negros não tivessem educação, religião e como se não fossem civilizados. Os escravos empregaram seus trabalhos nas charqueadas do Rio Grande do Sul, nos ervais do Paraná, nos engenhos de açúcar e nas plantações de algodão do Nordeste, na pecuária da Paraíba, nas atividades extrativas na Região Amazônica e na mineração de Goiás e Minas Gerais. E não apenas povoou como também criou pequenas comunidades rurais, os quilombos, em todo o território nacional, dinamizando os espaços sociais e econômicos através do seu trabalho. O negro africano participou decisivamente para o desenvolvimento populacional e econômico do Brasil e tornou-se parte essencial de seu povo. Sua presença projetou-se em todo o desenvolvimento humano e cultural do Brasil com técnicas de trabalho, música e danças, alimentação e práticas religiosas.


A mobilidade africana no Rio Grande do Sul

No entanto, essa contribuição econômica e cultural não reverteu em qualidade de vida para o próprio negro, mas, ao contrário, no caso A presença do negro no Rio da produção econômica, toda ela Grande do Sul é bem anterior às era exportada e o lucro da comercharqueadas. Essa presença se dá cialização beneficiava os senhores quando das disputas entre os imde escravos. Essa história tem suas périos português e espanhol, em marcas até hoje, conforme pode1680, pela Colônia de Sacramento mos constatar em muitos indicado(hoje Uruguai), cidadela construída res sociais brasileiros, por exemplo, para disputar o comércio clandestia população pobre branca tem mais no de escravos e prata que desciam, anos de estudo que a população pelo rio da Prata, de Potosí na Bolívia. pobre negra. Pelo império português, essa dispuAo longo do século XIX, e até ta recua até a fundação de Rio Graninícios do XX, milhares de brasileiros de, no início do século seguinte, em de origem africana, escravos libertos todo esse período e território a preou forros (nascidos livres), migraram para a África, em um movimensença do africano escravizado semto que se convencionou chamar de pre foi constante ao lado de porturetornados. Trata-se da saga dos gueses e espanhóis. milhares de afriCom o decanos e descensenvolvimento das dentes que, alforcharqueadas, os riados no Brasil, escravizados africacruzaram o Ocenos, a maioria oriCrie um mapa do Brasil ano Atlântico de ginários de Angola, com as principais resistências volta à África. Esorganizadas por africanos escomeçaram a ser cravizados, identificando as tima-se que, solevados em maior datas, os territórios e outras mente no século número ao estado informações relevantes. Identifique, no mapa, os territórios XIX, auge do fedo Rio Grande do da diáspora africana no Rio nômeno, cerca de Sul a partir do final Grande do Sul. 10 mil ex-escravos Redija um texto descredo século XVIII, chevendo onde ocorreram as retenham regressagando a represensistências e discuta com os do ao continente tar metade da pocolegas quais seriam as hipóteses que explicam essas lutas africano. A maiopulação gaúcha em de resistência. ria dos retornados 1822. Porém, essa deixaram o Brasil população foi reduem busca das orizida drasticamente gens e de um futuro melhor, ou simdevido a dois fatores: ao tráfico interplesmente fugindo da perseguição no, por conta do bloqueio inglês do e da falta de oportunidades de um tráfico negreiro no Oceano Atlântico, Brasil que engatinhava no processo ocasionando a transferência de escrade emancipação de seus escravos. vos para estados cafeeiros, como São A história dos retornados é Paulo e Rio de Janeiro; e as mortes de uma história belíssima que evidenmuitos escravizados por ocasião da cia resistência, busca por dias meGuerra dos Farrapos (1835-1845) e da lhores e influência entre povos. Os Guerra do Paraguai (1854-1870). retornados têm em sua memória afetiva, a presença da cultura das nações da África, através da arquitetura; do folclore; da língua ainda presente no vocabulário doméstico; da culinária, presente através da moqueca e da feijoada, preparada à moda africana.

HEYWOOD, Linda M.(org.) Diáspora negra no Brasil. Trad.: Ingrid de Castro Vompean Fregonez, Thaís Cristina Casson, Vera Lúcia Benedito. São Paulo: Contexto, 2008. SANTOS, José Antonio. Diáspora africana: paraíso perdido ou terra prometida. In: MACEDO, José R. (Org.). Desvendando a história da África. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2008.

Palavras-chave para pesquisar: Diáspora, cultura afrodiaspórica, formação demográfica africana, censo 2010/IBGE.

A vida em movimento – diáspora africana e escravidão

Do Brasil à África

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As lutas por liberdade e os quilombos

As lutas por liberdade e os quilombos

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Os africanos escravizados fugiam da opressão dos colonizadores e construíam as moradias em locais isolados e de difícil acesso. Atualmente, os descendentes de negros escravizados lutam pela visibilidade de suas ações e ampliação de direitos.

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ara compreender melhor o que são os territórios quilombolas, a primeira coisa a fazer é definir o significado do termo quilombo. A palavra kilombo é originária do banto, língua africana, que significa agrupamento, fortaleza, acampamento. No Brasil recebeu esse nome, no período colonial e imperial, por conta das constantes fugas dos negros escravos. Ao fugirem da exploração, dominação e opressão dos colonizadores, eles construíam as moradias em locais isolados e de difícil acesso. Edson Carneiro denomina a formação dos quilombos como um movimento de fuga contra a “negação da sociedade oficial, que oprimia os negros escravizados, eliminando a sua língua, a sua religião, os seus estilos de vida”. Em linhas gerais, uma das principais características da formação dos quilombos era a luta pela liberdade, pela sobrevivência, por dignidade dentro de uma estrutura comunitária. A convivência comunitária nos quilombos ajudou também a preservar as tradições, os costumes, os ritos, as crenças, a cultura e a identidade negra.

Comunidades quilombolas Outra palavra importante a ser definida é comunidade. Ela evoca ao pertencimento, à vivência cotidiana das pessoas, isso não significa isolarse dos acontecimentos do entorno. Como diz Bauman (2003), não ter comunidade significa não ter proteção. As comunidades quilombolas serviram de abrigo e proteção para os negros fugidos do processo de escravidão. Hoje, os habitantes das comunidades quilombolas são chamados de remanescentes de quilombo. São os afro-brasileiros, descendentes dos negros africanos que historicamente ocuparam terras como heranças do período escravista. Ou seja, os remanescentes de quilombo são pessoas que por muito tempo ficaram escondidas e isoladas da sociedade dominante, em luta permanente para garantir o direito à terra e à vida. As comunidades onde vivem os descendentes de africanos também são identificadas como territórios. Nos territórios dos remanescentes de quilombo, como observa Georgina Helena Lima Nunes (2008), há conhecimento das próprias necessidades, um dos elementos que possibilita ao negro sonhar com um mundo de menos carência, injustiças e mais liberdade. É importante ressaltar que as terras onde habitam os remanescentes de quilombo não são espaços doados e nem é um mero estar juntos, mas são espaços construídos, a partir das lutas históricas pela posse da terra, pelo combate à miséria, a desigualdade e em favor da vida, do acesso a oportunidades, dos direitos sociais como educação, saúde e moradia digna.

Conquistando espaço Com o processo de redemocratização do Brasil, os remanescentes de quilombo mobilizaram-se para garantir o direito à titulação das terras, ou seja, o título de domínio definitivo e coletivo da terra. Essas reivindicações estão contempladas no artigo 68 da Constituição Federal de 1988. A Lei reconhece como legítimo o direi-

to à propriedade da terra aos descendentes de africanos; entretanto a sua implementação é lenta e burocrática. Por isso, a aplicabilidade da Lei é objeto de questionamentos. De acordo com dados oficiais (dados da Fundação Cultural Palmares), o Brasil tem mais de 3.500 comunidades quilombolas, número que chega a 5.000 considerando outras fontes. Dessas, mais de 1.300 são reconhecidas. O reconhecimento é o primeiro passo para o processo de titulação. Atualmente apenas 105 comunidades receberam o título definitivo. A respeito dessas comunidades é importante ressaltar que existem comunidades remanescentes de quilombo tanto rurais quanto urbanas. Elas têm características específicas, mas têm os laços que as unem, o vínculo com a ancestralidade negra. A resistência, tanto nas comunidades rurais quanto nas urbanas, é fazer frente à ameaça das invasões dos latifundiários, o combate à especulação imobiliária e às propostas dos projetos desenvolvimentistas que pretendem reduzir as terras dos grupos étnicos.

No Sul do País A presença negra no Rio Grande do Sul é marcada por contradições. A principal delas se encontra no processo acentuado da colonização europeia no Estado. De um lado, as vantagens e os estímulos aos colonizadores europeus. De outro lado, a tentativa de silenciar as minorias étnicas existente no Estado, desarticulando os contatos entre grupos e principalmente estimulando-os a rivalidades étnicas. Essa situação dificulta ainda hoje o reconhecimento das terras habitadas por estes grupos. Rosane Aparecida Rubert (2008) aponta que essas contradições acentuaram os mecanismos de divisão entre brancos e negros no Estado. Frente a essa realidade, a população negra passou a agir contra os privilégios, a exploração e o preconceito. A forte presença do negro no Rio Grande do Sul contribuiu para se desenvolver formas paralelas de organização sociais, incluindo as fugas, as revoltas, os mecanismos encontrados para preservar os cultos aos ancestrais e a manutenção da língua. Pode-se dizer que as organizações se materializavam nas vivências cotidianas das comunidades quilombolas.


Quilombolas hoje

CARNEIRO, Edson. O quilombo dos palmares. 4ª ed., São Paulo, Nacional, 1988. MAESTRI, Mário. Quilombos e quilombolas em terras gaúchas. Porto Alegre: EST e EdUCS, 1979. NUNES, Georgina Helena Lima. Espaços possíveis por onde cartografar quilombos. In: SILVA, Gilberto Ferreira; SANTOS, José Antônio e CARNEIRO, Luiz Carlos da Cunha. RS Negro: cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. RUBERT, Rosane Aparecida. Comunidades negras no RS: o redesenho do mapa estadual. In: SILVA, Gilberto Ferreira; SANTOS, José Antônio e CARNEIRO, Luiz Carlos da Cunha. RS Negro: cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. SANTOS, Joel Rufino dos. Zumbi. São Paulo: Editora Global, 2006. BAUMAN, Zygmund. Comunidade:a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

Quilombo dos Palmares

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quilombo de Palmares, o mais reconhecido, do século XVII, estava localizado na serra da Barriga, atualmente pertencente ao estado de Alagoas. Em Palmares, havia uma complexa estrutura de organização, com ruas, casas, muros, capelas, oficinas de fundição, produção de cerâmica e utensílios em madeira, lavouras de feijão, milho, mandioca e cana-deaçúcar. Era formado por várias aldeias, com suas respectivas lideranças. Todas as aldeias eram comandadas por uma comunidade principal, onde ficava Zumbi, líder do quilombo. Os portugueses destruíram Palmares em 1694, por uma expedição comandada pelo paulista Domingos Jorge Velho, causando a morte de 200 quilombolas. E, mais de 500 negros foram capturados e vendidos para outras capitanias. Zumbi e alguns quilombolas conseguiram fugir. Em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi pego e assassinado, tendo sua cabeça decepada e exposta publicamente.

Palavras-chave para pesquisar: comunidade quilombola, comunidade negra, fugas do sistema escravista, mocambos, movimento abolicionista, remanescente de quilombo, terras adquiridas por negros libertos, território negro, Zumbi dos Palmares.

Construa um mapa do Brasil, identificando os principais quilombos que existiram no País. Identifique as comunidades quilombolas do RS por região (missões, litoral, metropolitana, pampas, campanha gaúcha...) e faça um texto com seus principais dados como origem, características dos grupos sociais, entre outros.

As lutas por liberdade e os quilombos

Ainda hoje as comunidades remanescentes de quilombo não estão isentas de coação, pressão e humilhação. Em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, os moradores da Chácara das Rosas, vivenciaram essa experiência. A população do entorno identificava o local, onde vivem 12 famílias negras, como sendo o Planeta dos Macacos. Essa é uma de tantas histórias de preconceito vividas ao longo dos anos pela população negra. Conforme mapeamentos de instituições sociais apontam a formação de um número superior a cem comunidades quilombolas rurais e urbanas no Estado. Algumas delas já receberam a titulação e certificação das suas terras. As primeiras comunidades remanescentes urbanas a receberem a titulação definitiva foram: Família Silva, em Porto Alegre e Chácara das Rosas, em Canoas. As certificações das terras saíram para Casca, no município de Mostardas, Rincão dos Martinianos e São Miguel, ambos da cidade de Restinga Seca, beneficiando mais de 290 famílias negras. Os dados demonstram que a participação social deve ser fortalecida para que as experiências locais se tornem atos de resistência coletiva.

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É possível afirmar que toda pessoa já ouviu, contou ou leu uma história. É através das histórias que aprendemos, muitas vezes, as primeiras noções de afetividade, ética, justiça, solidariedade, partilha, amizade e tantos outros valores fundamentais à existência humana.

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possível afirmar que toda pessoa já ouviu, contou ou leu uma história. É através das histórias que aprendemos, muitas vezes, as primeiras noções de afetividade, ética, justiça, solidariedade, partilha, amizade e tantos outros valores fundamentais à existência humana. Paralelo aos conteúdos da educação formal, grande parte da população mundial que não tem acesso à cultura letrada se educa baseada nos valores transmitidos através de narrativas milenares

Sílvia do Canto

Narrativas africanas: mitos, lendas e provérbios

Narrativas africanas: mitos, lendas e provérbios

Provérbios africanos: • • • • •

O machado esquece; a árvore recorda. O cavalo que chega cedo bebe a água boa. Não importa quão longa seja a noite, o dia virá certamente. A água sempre descobre um meio. Os defeitos são como uma colina: você escala os seus e, lá de cima, não vê os dos outros. • O que você dá aos outros, você dá a si mesmo. • Ninguém experimenta a profundidade de um rio com os dois pés. • Não pise no rabo do cachorro e ele não o morderá.

que chegam a nós até hoje por meio de registros orais ou escritos. As histórias africanas, carregadas da força da oralidade, constituem um vigoroso instrumento para conhecermos a vida e valores dos povos africanos e dos seus descendentes afrobrasileiros. Os mitos, as lendas, os provérbios, as brincadeiras e jogos são alguns destes instrumentos.

Os mitos São, em princípio, narrativas sagradas relatando fatos que teriam ocorrido num tempo ou mundo anterior ao nosso e que, geralmente, tentam explicar a origem e a existência das coisas: como e por que surgiu o mundo, os homens, os costumes, o conflito de gerações; a vio-


A mitologia africana está na origem do Brasil através da dança, da música, da culinária e da religiosidade brasileira, a exemplo do carnaval, do gingado do futebol, da feijoada, do sincretismo religioso. Na mitologia africana, há um deus supremo, Olodumaré, que criou os orixás (deuses como Exu, Iansã, Xangô e outros) para governarem e supervisionarem o mundo. Os colonizadores portugueses reprimiram o culto aos orixás porque o viam como feitiçaria ou forma de resistência ao processo de hegemonia cultural e religiosa pelo catolicismo. Como alternativa a essa repressão, os escravos

A lenda Possui certo sentido didático, uma vez que visa explicar fatos como a origem das coisas, os fenômenos naturais e as personagens sobrenaturais, os feitos de heróis populares etc.

as experiências dos povos são narradas a partir dos valores, conflitos e soluções dos seus personagens. É também por isso que as narrativas provocam identificações, afastamentos e referências tanto individuais quanto coletiva, daí a necessidade de resgatar as narrativas de origem africana.

Os provérbios São expressões da sabedoria adquiridas com a reflexão, a experiência, a observação e o conhecimento geral. De origem popular e de caráter prático, os provérbios são comuns a um grupo social. Geralmente são ricos em metáforas e sonoridades, prestando-se a uma fácil memorização e transmissão oral. Os provérbios são relacionados intimamente à cultura de uma sociedade. A cultura popular considera que os provérbios refletem a voz da experiência e trazem até nós as vozes de um passado relativamente longínquo, revelando fatos, crenças, costumes. Fazem parte da cultura de um povo, daí a sua importância. Os provérbios africanos, como os de todos os povos, manifestam a influência de seu meio ambiente. É possível perceber referências à vida familiar, à agricultura, à flora e à fauna. Vejamos alguns provérbios africanos: “O machado esquece; a árvore recorda”, “O cavalo que chega cedo bebe a água boa”, “Não importa quanto longa seja a noite, o dia virá certamente”, “A água sempre descobre um meio.” As narrativas reaproximam espaços, tempos e mentalidades. Ao longo da história da humanidade

Maria Hele Vargas da Silveira

ALENCAR, Nezite. AfroBrasil em cordel. São Paulo, Paulus, 2007. PRANDI, Reginaldo. Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. SISTO, Celso. Mãe África: mitos, lendas, fábulas e contos. São P aulo: Paulus, 2007.

Converse com as pessoas mais idosas do seu bairro, da sua comunidade e busque identificar marcas culturais que indiquem a presença africana dos mitos, lendas, provérbios, brincadeiras e jogos. Em sala de aula, encene em grupo para outros colegas uma dessas narrativas. Em grupo, produza com seus colegas uma pequena obra (livro ou revista impressa ou digital) para reunir todas as narrativas de origem africana recolhidas com as pessoas mais idosas de seu bairro. Se possível, ilustre cada narrativa com imagens e fotos.

Narrativas africanas: mitos, lendas e provérbios

Carolina Maria de Jesus

africanos correlacionaram orixás aos santos católicos, originando o sincretismo religioso.

Sílvia do Canto

lência; a tristeza da doença, as leis, os animais, os fenômenos da natureza, etc. Através de histórias, as culturas criaram e criam mitos para poder compreender e interpretar a existência humana, ou seja, o mito seria a expressão da existência humana em sua dependência do plano divino. Embora transmitidos pela tradição oral, os mitos, sob a aparência de lendas, costumam ter um significado simbólico. Ancorados no campo do sagrado ou do sobrenatural, os mitos têm deuses como personagens e remetem à criação do mundo e dos homens. Os mitos transcendem a existência humana, ainda que se refiram a ela. Por trás dos mitos, há fatos e ações elaboradas a partir do cotidiano como forma de comunicação.

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Corpo e música: a presença afro-brasileira nas manifestações culturais

Corpo e música: a presença afro-brasileira nas manifestações culturais

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No Brasil Colônia as manifestações culturais afrobrasileiras eram proibidas e perseguidas por não integrarem o universo cultural do europeu. Hoje, o legado cultural está à disposição da alegria da população brasileira.

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cultura afro-brasileira é resultante do desenvolvimento da cultura africana no Brasil, abrangendo as influências recebidas de várias etnias que se traduzem em diversas expressões, entre elas a música e a dança. Desse modo, que a música popular brasileira é profundamente influenciada pelos ritmos africanos. Entre as expressões de música afro-brasileiras mais conhecidas estão o samba, o maracatu, o carimbó, ijexá, coco, jongo, lambada e o maxixe. Essas expressões representam a força da herança negra nas tradições cultuadas pelas comunidades remanescentes de quilombos. Em quase toda parte do território brasileiro onde houve escravos africanos, as manifestações culturais afro-brasileiras eram proibidas e perseguidas por não integrarem o universo cultural do europeu. Era considerada uma cultura selvagem e atrasada em contraponto aos valores da Europa em expansão. As manifestações culturais dos afro-brasileiros foram conquistar certa popularidade como expressões artísticas genuinamente nacionais somente em meados do século XX.

Samba, carnaval e música

Clubes Sociais Negros no Rio Grande do Sul No Rio Grande do Sul, a organização negra na cidade de Pelotas, constituída em torno dos clubes carnavalescos, teve seu auge entre os anos de 1920 e 1950. A cidade, que enriqueceu com os produtos da charqueada, teve uma expressiva presença negra em seu povoamento. Embora os negros formassem um terço da população urbana em 1890, se consolidou na cidade

O samba foi uma das primeiras expressões da cultura afro-brasileira a ser admirada quando ocupou lugar de destaque na música popular. Desde 1870, o encontro de influências rítmicas como lundu, polca, maxixe e tango gerou um tipo de música com características do samba. As batidas nos couros dos tambores davam o ritmo das manifestações. Em 1899, o surgimento da música feita para o carnaval, as chamadas marchinhas carnavalescas, como o AbreAlas de Chiquinha Gonzaga, Foto pertencente a Jaime Moreira da Silva marcou a popuCanelas Pretas, do time 8 de Setembro, time da Colônia Africana. larização do carnaval brasileiro. A origem do samuma ideologia conservadora e eliba foi um importante fator de detista (Loner, 2001), fazendo com mocratização da cidade do Rio de que a discriminação racial, após o Janeiro, ainda que no início a elite final da escravidão, fosse muito forreagisse às expressões da cultura te. Os negros pelotenses reagiram africana, sendo perseguida inclusiformando uma rede associativa, ve pelo poder público, que as recrique incluía clubes recreativos, teaminava ostensivamente. O primeitrais, carnavalescos, futebolísticos, ro samba gravado a fazer sucesso, entidades de assistência às crianno final de 1916, foi o famoso Pelo ças e de representação. Esses esTelefone, de Ernesto dos Santos, paços auxiliavam na integração da o Donga, que retratava a realidade população negra à sociedade local vivida pela comunidade. Ao longo através da construção de relaciodas décadas surgiram muitos ounamentos, amizades, relações de tros compositores negros como Picompadrio e de oportunidades de xinguinha, Cartola, Ataulfo Alves, emprego e casamento. Entretanto, Paulinho da Viola, Martinho da Vila. entre 1915 e 1920, houve uma reoÀ medida que o samba se firmava rientação dessas entidades negras, como uma expressão urbana e moque abandonaram seu caráter de derna, ele chegou às rádios, se esrepresentação e os objetivos educapalhando pelos morros cariocas e cionais para se dedicarem principalbairros da zona sul do Rio de Janeimente às questões de sociabilidade ro. Até os anos de 1970, as escolas e recreação. Nesse período foram de samba cariocas, cujos terreiros criadas as primeiras entidades dedi(e não “quadras”, como são denocadas especificamente ao futebol, e minadas atualmente), obedeciam a também associações carnavalescas, um regime implícito semelhante ao que surgiram através de clubes que, dos barracões de candomblé, com 50 anos depois, iriam se tornar os acesso à roda permitido somente únicos representantes do associatiàs mulheres, por exemplo. vismo negro na cidade.


Que tal fazer uma pesquisa e descobrir as manifestações culturais afro-brasileiras existentes em sua cidade ou região? Procure fotografias em jornais, revistas, sites e monte um painel com as informações encontradas sobre a origem dessas manifestações e como elas são vivenciadas hoje. Procure músicas da atualidade que tratem da questão relacionada ao negro. Analise as letras e discuta com os colegas em aula. Organize com seus colegas uma apresentação em aula com uma música que trate da questões negras. Fotografe cenas que revelem a presença da cultura negra no cotidiano de sua cidade.

na sociedade brasileira é fundamental na construção de referências positivas em torno da contribuição dos negros para a história cultural do Brasil e do Rio Grande do Sul evidenciadas na música, na dança e no esporte, na cultura hip hop, no penteado afro, na arte e na política.

ESCOBAR, Giane. V. Clubes Sociais Negros: lugares de memória, resistência negra, patrimônio e potencial. Dissertação (Mestrado Profissional em Patrimônio Cultural), Universidade Federal de Santa Maria/RS. 2010. FERREIRA DA SILVA, G. SANTOS, J.A. dos; CUNHA CARNEIRO, L.C. da. (Orgs). RS Negro: cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS e Governo do RS, 2008. FERREIRA, Edinéia Lopes; SANTOS, Elzelina Dóris dos; CARDOSO, Marco Antônio. Contando a História do Samba – caderno de textos. Minas Gerais: Mazza Edições, 2004. GILL, Lorena Almeida; LONER, Beatriz Ana. Clubes carnavalescos negros na cidade de Pelotas. In: Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v. 35, nº. 1, p. 145-162, jan./ jun. 2009. LONER, Beatriz. Construção de classe: operários de Pelotas e Rio Grande (18881930). Pelotas: EdUFPEL, 2001. GERMANO, Íris. Carnavais de Porto Alegre: etnicidade e territorialidades negras no Sul do Brasil. In: SILVA, Gilberto et alli. RS negro: cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. 100-119p.

Sílvia do Canto

O Sopapo

Em Porto Alegre, de acordo com Germano (2008), o carnaval de rua atual se caracteriza pela pouca participação da população branca, diferente de outros centros urbanos como o Rio de Janeiro e São Paulo, que congregam diferentes etnias. Destaque ao gaúcho Lupicínio Rodrigues, inventor da expressão: “dor de cotovelo”. Lupi, como era conhecido, compôs marchinhas de carnaval e sambas-canção, músicas que expressam muito sentimento, principalmente a melancolia por um amor perdido. Compôs a música felicidade. “Felicidade, foi-se embora e a saudade no peito ainda mora e é por isso....”. Além da corporeidade expressada nas danças e coreografias, os instrumentos de percussão também fazem parte deste universo. O tambor, depois os instrumentos criados no Brasil como repique, caxeta e pandeiro deram o colorido especial a nossa musicalidade. No Rio Grande do Sul, Gilberto Amaro Nascimento, o Giba-Giba, pesquisou um instrumento comum aos escravizados gaúchos, o Sopapo, conhecido como Grande Tambor.

adaptando-as a um tipo de luta que se transformou em um instrumento importante de resistência cultural e física. Assim surgiu a prática da capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança, que tinha como objetivo manter viva a cultura, aliviar o estresse do trabalho e a manter a saúde física dos escravizados. No Brasil, até o ano de 1930, a polícia recebia instruções para prender os capoeiristas, uma vez que a capoeira era tida como uma prática violenta e subversiva. Nas últimas décadas, a capoeira se popularizou bastante, sendo até tema de vários jogos de games e filmes. Resgatar a presença dessas expressões de raízes tão acentuadamente africanas e de personalidades negras

Capoeira Outras expressões culturais trilharam o mesmo percurso. A capoeira, considerada uma forma de briga de bandidos e marginais, foi, em sua origem, uma forma de proteção dos escravizados contra a violência e repressão dos colonizadores brasileiros, uma vez que os escravos eram alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Estes senhores proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. A alternativa encontrada pelos escravos foi utilizar o ritmo e os movimentos de suas danças africanas,

Corpo e música: a presença afro-brasileira nas manifestações culturais

Carnaval de rua e instrumentos de percussão

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Sabores em destaque - a influência africana na culinária brasileira e ... 12

Sabores em destaque - a influência africana na culinária brasileira e gaúcha Tradições Comer é um ato social, uma vez que constitui costumes relacionados aos usos, tradições, condutas e situações.

tenta fragilizar essa tradição. Ela dissemina produtos industrializados, instantâneos e desvinculados dos hábitos e costumes tradicionais.

gastronômicas

Um dos pratos mais populares no Brasil, o acarajé, foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial, em 2006, pelo Ministério da Cultura . Outra especialidade gastronômica da culinária afro-brasileira é o angu; esse alimento nutritivo é feito com farinha de milho ou de mandioca, água, pimenta e azeite. E a apreciada moqueca de peixe ou de camarão cozido com dendê, tomate e pimenta. A feijoada também é outro prato que resultou da criatividade africana. Preparada à base de feijão preto. O feijão s descendentes de africajá fazia parte dos sabores africanos. No nos no Brasil trabalharam, Brasil, a feijoada ganhou novos ingreentre outros serviços, como dientes, como peescravos domésdaços de carne seca ticos. E dentre e linguiça, entre ouas atividades detros. Do arroz, por sempenhadas no exemplo, surge o interior dos cacarreteiro na região sarões dos engeMOREIRA, Paulo Roberto Staudt. Joana Mina, Marnhos, das charsul, Maria Isabel, e celo Angola e Laura crioula: queadas, das fana região central do os parentes contra o cativeizendas ou das cipaís. O fato é que ro. In: SILVA, Gilberto Ferdades, o preparo reira; SANTOS, José Antôo arroz e o feijão, nio e CARNEIRO, Luiz Carlos das refeições era ingredientes básida Cunha. RS Negro: cartotarefa primordial cos dos lares brasigrafias sobre a produção do das negras escraleiros, são algumas conhecimento. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2008. vizadas. Delas vieentre tantas outras ram as técnicas e heranças deixadas os modos de copela população afrizinhar os alimencana. É uma detos. O seu preparo era fruto de cuimonstração de que a população negra dado e atenção, pois havia a necesintroduziu seus modos alimentares, que sidade de adaptar os pratos típicos, aos poucos foram influenciando os palaservidos diariamente, com os ingredares da população brasileira. dientes locais. Por essa razão, muitos estudiosos afirmam que a cozinha é lugar de truque, um espaço onde se dinamiza a criatividade. Para exercer essa criatividade, Para os afrodescendentes, ligacontava-se com uma variedade imendos aos rituais do Batuque, o alimento sa de produtos alimentícios nativos e é santo, sagrado e tem lugar de destaoutros vindos diretamente do contique nos terreiros. O alimento nos ritunente africano. Esses produtos pasais fortalece a relação entre o devoto, a saram a rechear as refeições nos lares comunidade, os Orixás e os ancestrais, dos brasileiros. Exemplos de produtos uma vez que eles estão sempre preoriginários do continente africano são sentes no grupo como companheiros, manga, melancia, jaca, cana-de-açúparceiros essenciais nos relacionamencar, arroz, azeite de dendê, banana, tos sociais. Além de saciar a matéria, café, pimenta malagueta, amendoim, o corpo, o alimento também fortalece óleo de coco, abóbora, quiabo, jiló, o espírito; por isso, o alimento é uma gengibre, erva-doce, canjiquinha e dádiva. Porém, a cultura dominante tantos outros.

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Alimento é sagrado

Identifique os principais produtos alimentícios da sua região, da sua cidade, do seu bairro. Em seguida verifique a sua origem e monte a trajetória de como esses produtos naturais chegaram até aqui. Pesquise em livros ou sites a respeito das comidas que são utilizadas como fonte de oferenda nos rituais dos terreiros. O que se oferta? Para quem? Por quê? Sistematize os dados em uma redação. Pesquise com pessoas em sua casa, em seu bairro ou em sua cidade uma receita de comida que elas saibam preparar e que tenha origem na cultura afrodescendente. Traga a receita por escrito para a aula para apresentar e compartilhar com seus colegas.


Existe a necessidade de contarmos e ouvirmos histórias para reinventarmos o mundo. Desse modo, resgatar e compreender a trajetória do negro na literatura brasileira e gaúcha é transformá-la em instrumento eficaz para mudança do que está ao nosso alcance.

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hábito de contar e ouvir histórias acompanha a humanidade em sua trajetória no espaço e no tempo. Reconhecer a importância da literatura significa de algum modo perceber que ela expande e diversifica nossas concepções de mundo. A ausência da leitura em nossa vida nos limita de modo a nos excluir dos acontecimentos, abdicando da imagi-

nação e da interpretação da vida. Aproximar-nos da literatura através de um romance, poesia, artigo, jornal, crônica e conto nos possibilita a aproximação, tanto do mundo da ficção quanto das realidades localizadas no universo das palavras. Existe a necessidade de contarmos e ouvirmos histórias para reinventarmos o mundo. A exemplo dos contos como As mil e uma noites, as histórias continuam salvando vidas, principalmente as vidas em vulnerabilidade econômica, social e cultural. Tal como Sherazade, personagem de As mil e uma noites, precisamos suscitar sonhos e enfrentar a morte com narrativas que promovam vida, assim como afirma o escritor moçambicano Mia Couto (2009), ao reivindicar identidades: “ao fim e ao cabo, só existe um verdadeiro suicídio: deixar de ter nome, perder entendimento de si e dos outros. Ficar fora das palavras e das alheias memórias”. De fato, a morte existe quando excluímos a imaginação, o sonho, o entendimento de nós mesmos, do outro e do mundo que nos cerca.

Os negros na literatura brasileira e gaúcha A trajetória dos negros na literatura brasileira segue, de alguma forma, o mesmo percurso dos negros dentro da própria história da constituição de nossa sociedade. Durante

um grande período da literatura brasileira, os negros foram representados de forma estereotipada e destituídos de individualidade, embora não tenha se limitado a isso. Podemos observar que a sua trajetória em nossa literatura é marcada por duas posturas: a condição negra como objeto, numa visão distanciada; e o negro como sujeito, de um modo compromissado. No cenário literário brasileiro, podemos observar exemplos similares como o do belo mulato de olhos azuis do romance O Mulato, de Aluísio Azevedo; a da posição polêmica de Machado de Assis, um dos maiores escritores brasileiros que, sendo negro, não se coloca nessa condição em sua obra; a da subserviente Irene no Céu de Manuel Bandeira, e até de Jorge Amado, que fala de suas mulatas como mulheres libidinosas. Uma pesquisa realizada por França (2006) analisou personagens negras na literatura infanto-juvenil brasileira. O estudo objetivou analisar a representação de personagens negras na literatura infanto-juvenil considerando a trajetória do gênero literário no Brasil. A análise do autor se apoiou em textos de várias épocas. Dentre as obras analisadas nas décadas de 20 a 50, estão as de Monteiro Lobato como Reinações de Narizinho; Maria José Dupré com os livros A montanha mágica e A ilha perdida; e Cazuza, de autoria de Viriato Corrêa, e Érico Veríssimo com as Aventuras do avião vermelho. A pesquisa verificou que, nas obras da primeira metade século XX, existia um reforço e manutenção do estereótipo do negro, o que vem se modificando gradualmente nas produções mais contemporâneas.

Narrativas literárias Transmissão [Oliveira Silveira*] Querem que a gente saiba que eles foram senhores e nós fomos escravos. Por isso te repito: eles foram senhores e nós fomos escravos. Eu disse fomos.

*Oliveira Ferreira de Oliveira nasceu em Rosário do Sul, RS, em 1941, é formado em Letras, pesquisador e historiador. É autor de Geminou (1962), Poemas regionais (1968), Banzo saudade negra (1970), Décima do negro peão (1974), Pelo escuro (1977).

As mil e uma noites É o título de uma das mais famosas obras da literatura árabe. Trata-se de uma coleção de contos escritos entre os séculos XIII e XVI. O que deixa o leitor interessado em ler todos os contos é o fato de eles serem interligados, isto é, um é complemento do outro. A obra conta a história do rei Périsa, da Pérsia, que traído pela esposa mandou matála; desse momento em diante decidiu passar cada noite com uma mulher diferente, que era degolada na manhã seguinte. Dentre as várias mulheres que desposou, Sherazade foi a mais esperta, pois iniciou um conto e conseguiu encantar o monarca por mil e uma noites, sendo poupada da morte.

Literatura e negros: dois modos de contar e ouvir histórias

Literatura e negros: dois modos de contar e ouvir histórias

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Na literatura mais atual, encontramos outras formas de representação do negro através, por exemplo, da inserção de traços e símbolos da cultura afro-brasileira, de aspectos e mecanismos de resistência para enfrentar os preconceitos, da valorização da identidade afro e das diferenças culturais. O autor entende que essas mudanças foram geradas pela influência da própria negritude e do movimento negro.

AZEVEDO, Aluísio. O mulato. Fundação Biblioteca Nacional. Acesso em: dez 2009. Disponível em < http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/o_ mulato.pdf>. BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, Instituto Nacional do Livro, 1970. CÔRREA, Viriato. Cazuza. São Paulo: Ed.Nacional, 2004. COUTO, Mia. Antes de nascer o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. DUPRÉ, Maria José. A ilha perdida. São Paulo : Ed. Ática, 2002. ______. A montanha mágica. São Paulo : Ed. Ática, 1980. EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. 2. ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2005. FRANÇA, Luiz Fernando. Personagens negras na literatura infanto-juvenil: da manutenção à desconstrução do estereótipo. 2006. Dissertação (Mestrado em Estudos de Linguagem) - Universidade Federal de Mato Grosso. LOBATO, Monteiro; BORGES, Paulo. Reinações de Narizinho. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 2007. RIBEIRO, Esmeralda; BARBOSA, Marcio (org.). Cadernos negros – os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje publicações, 1998 SILVA, Cidinha. Os nove pentes d’África. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2009. SILVEIRA, Oliveira. Décima de negro peão. Porto Alegre: ed. do Autor, 1974. VERÍSSIMO, Érico. As aventuras do avião vermelho. Cia das Letrinhas, 2002. SANTOS, Joel Rufino dos. Carolina Maria de Jesus : Uma escritora improvável. Rio de Janeiro : Garamond, 2009.

São resultados, ainda, da presença crescente de uma literatura escrita por negros brasileiros e africanos, dentre os quais, podemos citar Cidinha da Silva e Conceição Evaristo.

O negro como sujeito Na literatura gaúcha, o negro aparece também como sujeito no trabalho do gaúcho Oliveira Silveira. A contribuição do autor compreende várias obras, dentre as quais, a Décima do Negro Peão, em que mostra que o negro foi um dos formadores da tradição gaúcha, trabalhando nas charqueadas desde o século XVIII, guerreando na Revolução Farroupilha, e atuando nas diversas atividades do meio rural do Rio Grande do Sul. Ainda nessa perspectiva, destacam-se o carioca Lima Barreto,

Poeta Oliveira Silveira

Literatura e negros: dois modos de contar e ouvir histórias

Valorizar a identidade afrobrasileira

cuja obra é caracterizada pela denúncia e engajamento; e Abdias do Nascimento, poeta e criador do Teatro Experimental do Negro, pioneiro na produção de uma obra engajada no Brasil. Cabe-nos o desafio de resgatar e compreender a trajetória do negro na literatura brasileira e gaúcha para transformá-la em instrumento eficaz para mudança do que está ao nosso alcance.

Escreva a história de vida de uma pessoa negra que você conhece para ler e compartilhar com seus colegas. Faça uma poesia que tenha como tema a negritude.


Para entender as religiões afrobrasileiras e a sua importância, devemos retornar as origens e verificar que a crença mantém viva as lutas, as esperanças e os sonhos.

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origem das religiões afro-brasileiras vem de diferentes regiões do continente africano. África Ocidental, Centro-Ocidental e Oriental, lugares onde já se praticava o culto aos ancestrais. Aqui no Brasil, as tradições africanas foram transmitidas principalmente através da oralidade, da palavra manifestada nas rodas de convivência com os portugueses, indígenas, crioulos, formando uma imensa diversidade cultural. Nessa mistura étnica e cultural, conseguir reimplantar os ritos, os cultos, as danças , não foi tarefa simples. Pois, em alguns locais, os senhores permitiam os encontros, já em outros eles tiveram que ocorrer, na maioria das vezes, na clandestinidade. Entretanto, essas estratégias foram fundamentais para preservar as manifestações religiosas e culturais de origem africana. Durante e após a abolição da escravidão, a religião afro-brasileira foi duramente perseguida pelas autoridades, pelos agentes políticos e pelos religiosos. Diante das perseguições e imposições de outras denominações religiosas, a população negra fez da religiosidade uma das bases da resistência, garantin-

do assim a preservação dos rituais, dos seus costumes e das suas tradições. Participando das confrarias e das irmandades católicas, os negros se identificaram com os santos de cor, Nossa Senhora Aparecida e São Benedito. Foi a maneira que encontraram para se familiarizar com os santos católicos.

Diversidade e comunhão O princípio básico do candomblé são as práticas das oferendas aos ancestrais e o processo de iniciação dos participantes no ritual de incorporação do orixá. A umbanda, por sua vez, une elementos das religiões africanas, do espiritismo kardecista, do catolicismo e de alguns símbolos dos rituais indígenas. Os cultos aos Orixás praticados nos terreiros de batuque são realizados ao som de percussão. Nessas manifestações religiosas, crê-se na existência de forças sobrenaturais que interferem neste mundo. E também apresenta forte ligação com a natureza. Os Orixás cultuados têm como referência os elementos das águas, da terra, das florestas, ou seja, o elemento natural compõe as práticas religiosas. Nos últimos anos, as religiões afro -brasileiras vêm crescendo significativamente e têm conquistado, com muita luta, importantes espaços. Institucionalmente, o IPHAN (Instituto do Patromônio Histórico e Artístico Nacional) tem adotado a política do reconhecimento e da legitimidade dos grupos religiosos na história e na cultura brasileira, realizando tombamentos de terreiros como patrimônio cultural. Já as instituições sociais que defendem a livre manifestação religiosa promovem manifestações públicas. Em Porto Alegre, em 2009, a Congregação em Defesa das Religiões Afrobrasileira do RS (CEDRAB-RS), em sintonia com outras entidades, realizou a I Marcha Estadu-

al pela Liberdade Religiosa e pela Vida, uma mobilização importante contra o preconceito e a intolerância religiosa.

As religiões afrogaúchas Darci Ribeiro (1995) disse certa vez que o negro “fez quase tudo que aqui se fez”. Essa contribuição da população negra é constatada também no Rio Grande do Sul, estado com forte presença dos imigrantes europeus. No campo religioso de matriz africana não é diferente. Com base nos estudos do professor Ari Pedro Oro (2008), somos informados de que no estado existem mais de 30 mil terreiros, possuindo o maior número de praticantes da religião afro no país. Dentre as religiões de matriz africana praticadas no Rio Grande do Sul, destacam-se a umbanda, o batuque e a linha cruzada. Entre os três há muitos elementos em comum, muito embora o diferencial entre eles esteja nos rituais que envolvem o sacrifício de animais. O batuque, a modalidade mais africana dos cultos afro-brasileiros, iniciou suas atividades ainda no século XIX na região sul do Estado, nas cidades de Pelotas e Rio Grande, cultuando as divindades chamadas de orixás. A umbanda inaugurou sua primeira casa, em 1926, no município de Rio Grande. Seis anos depois esses rituais foram trazidos para Porto Alegre. Na umbanda são cultuados caboclos, pretos-velhos, crianças, além das falanges africanas. A linha cruzada cultua, simultaneamente, os orixás do batuque e as entidades da umbanda. Apesar de ser recente, do ano de 1960, ela vem crescendo sistematicamente no estado. O panorama dessas experiências está posta. É necessário aprofundar nos estudos realizados para valorizarmos ainda mais os elementos da cultura africana em nosso estado e no Brasil.

Religiosidade afro-brasileira: diversidade, reconhecimento e resistência

Religiosidade afro-brasileira: diversidade, reconhecimento e resistência

Príncipe Custódio

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Na celebração, a música e os instrumentos, como atabaques, cabaças, chocalhos, agogôs, ganzás, tem papel de destaque. A musicalidade ajuda a evocar as entidades espirituais e ao mesmo tempo funciona como um canal de ligação entre a pessoa e o sagrado. No início do século XX, a temática afrorreligiosa ganhou outras dimensões. Vários artistas brasileiros, consagrados ou não, passaram a se inspirar na religiosidade afrodescendente para trabalhar as suas composições musicais. As letras das músicas contam as histórias dos ancestrais, os nomes das divindades, as lendas dos orixás, os símbolos sagrados, os elementos que compõem os rituais. Esse repertório musical tem contribuído para divulgar e socializar as devoções populares existentes em todas as regiões do Brasil. Quem já ouviu Conto de areia interpretado por Clara Nunes?

Ela mora no mar Ela brinca na areia No balanço das ondas A paz ela semeia Ai quem é? Alguns dos Orixás cultuados no Brasil Exu é considerado o mensageiro entre os orixás. Iansã é um orixá feminino, considerada uma guerreira. Iemanjá é outro orixá feminino, considerada a mãe de todos os orixás. Ogum é o orixá das guerras. Oxalá é o orixá criador da humanidade. Oxóssi é o orixá da caça e junto com Ogum desbrava os caminhos e remove os obstáculos da vida. Oxum é um orixá feminino e representa a beleza e o amor. Xangô é o orixá do poder e da justiça.

Igreja Nossa Senhora do Rosário, autoria de RODRIGO SCHIFFNER

Religiosidade afro-brasileira: diversidade, reconhecimento e resistência

Musicalidade e devoção popular

“Em estilo barroco foi edificada entre os anos de 1817 e 1827, pela Irmandade Nossa Senhora do Rosário no centro de Porto Alegre, confraria de negros lives e escravizados. Foi muito importante na vida da comunidade negra durante o século XIX. Em 1950 a Mitra Arquidiocesana ordenou a demolição, para construir a paróquia atual.”

A construção da igualdade http://www.youtube.com/watc h?v=F5XaRwBjj48&feature=rela ted

Faça um mapeamento das manifestações culturais afro-brasileiras existentes na sua cidade. Procure materiais audiovisuais (fotos, entrevistas, matérias de jornais, sites e outros), reúna essas informações a partir da origem dessas manifestações e informe como elas, atualmente, se apresentam. Entreviste pessoas que praticam as religiões afrobrasileiras para conhecer sua história com essas religiões e se há alguma dificuldade enfrentada pelos afrobrasileiros para manifestar a sua religiosidade? Quais são essas dificuldades? Como enfrentam ou como reagem a essa situação? Procure músicas que tratam das questões ligadas à religiosidade do negro. Analise as letras e discuta em sala de aula a sua influência.

BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. Pioneira, São Paulo, 1985. CORRÊA, Norton. O batuque do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. EdUFRGS. 1992. ORO, Pedro Ari. As religiões afrogaúchas. In: SILVA, Gilberto Ferreira; SANTOS, José Antônio e CARNEIRO, Luiz Carlos da Cunha. RS Negro: cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. Projeto Cultural o povo negro do Sul. ALVES, Nereidy Rosa. 130 anos de Floresta Aurora. Porto Alegre: ARI, 2002. RIBEIRO, Darci. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.


A África, por ser um continente multilíngue, envolve pluralidade de saberes, informações e ensinamentos. Qual influência sociolinguística ela tem sobre o nosso continente?

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o continente africano, existem mais de mil línguas maternas, algumas delas faladas por milhões de pessoas e outras utilizadas em pequenos grupos sociais. Para compreendermos melhor essa diversidade linguística de origem africana, podemos dividi-las didaticamente em quatro grandes grupos: afro-asiático, koisan, níger-Congo e nilo saarianos. Esses grupos linguísticos subdividem-se em outros idiomas, mas há nas suas estruturas uma língua-mãe comum que aproxima as palavras cognatas e as marcas gramaticais semelhantes. Com o processo de colonização do continente africano, outras linguagens como o francês, o inglês, o italiano e o português passaram a predominar em vários países. O português, por exemplo, é falado em cinco países africanos: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Mobilidade linguística A presença do povo negro em diversos países do mundo contribuiu com a construção da linguagem, das práticas culturais, das resistências à ideologia dominante. No Brasil, não foi diferente. Apesar de que não se pode precisar o número de línguas originárias do continente africano, pode-se dizer que a movimentação de milhões de africanos durante o tráfico negreiro e o comércio de escravos possibilitou

a incorporação de palavras de origem africana em nosso léxico gramatical, no vocabulário e no próprio jeito de falar do povo brasileiro. Percebe-se que a língua está associada ao funcionamento histórico e social de um povo.

Oralidade Outra característica importante são as dinâmicas da linguagem. Ela estrutura as relações no interior do grupo social. Fato presenciado, por exemplo, na prática da comunicação oral. A dinâmica da oralidade é exercida principalmente pela população africana e pelos afro-brasileiros; oralidade que expressa o princípio de igualdade e do reconhecimento do Outro. Já na constituição da língua portuguesa, a nossa oralidade enfatiza uma linguagem machista, ideologicamente produzida para ser excludente com as mulheres, pois é comum a utilização de palavras masculinas: todos, homens, um, ele quando se refere a um grupo eminentemente constituído de mulheres. É urgente a necessidade de superar esse discurso machista, bem como todos e quaisquer discursos autoritários, a fim de promover uma comunicação democrática entre falantes e ouvintes.

Valorizar e recriar a linguagem No espaço escolar, deve-se promover uma recriação da linguagem compatível com uma aprendizagem que restabeleça o elo com as ancestralidades, com as africanidades que foram perdidas ou rompidas nessa trajetória histórica. Assim, o estudo da língua em sala de aula pode ser articulador do processo democrático, criando espaços que sejam uma espécie de mesa de negociação em que se aprende a dizer a palavra própria, respeitando a capacidade de indagação e questionamento dos estudantes. Essa prática possibilita romper com hierarquização entre professor e aluno e com as exposições de aulas apenas em monólogos. Valoriza, portanto, a comunicação dialógica.

Leia e analise o poema Navio Negreiro de Castro Alves.

Faça uma pesquisa e descubra as marcas linguísticas afro-brasileiras existentes na sua cidade ou região. Procure as palavras e expressões em revistas, jornais, sites e redija um texto informando como elas são retratadas nos nossos dias. Quais são as manifestações afro-brasileiras que podem ter sua origem ou ter recebido a influência da cultura africana?

Agora chegou a hora de aumentar o nosso repertório linguístico. Eis algumas palavras de origem africana utilizadas no Brasil. Alimentos: acarajé, angu, bobô, cachaça, canjica, dendê, fubá, inhame, jiló, maxixe, mocotó, quiabo, quibebe, quitute, vatapá. Religião: candomblé, Iemanjá, macumba, mandinga, orixá, Oxossi, Xangô. Música: atabaque, batuque, berimbau, bumbo, caxambu, congada, jongo, matacatu, samba. Lazer: coringa, dunga, empate. Características físicas: banguela, cangote, careca, corcunda. Verbos: batucar, cochilar, engambelar, xingar. Animais: bugio, camundongo, caxinguelê, gambá, marimbondo, minhoca, papagaio, zebra. Objetos: bengala, cachimbo, cacimba, carimbo. Doenças: cachumba, calombo. Expressão social: axé, caçula, cambada, catinga, dengo, moleque, muamba, mucama, mulamba, quitanda, senzala, sinhá.

Batucar, cochilar, bengala, inhame, orixá... Recriando as línguas africanas

Batucar, cochilar, bengala, inhame, orixá... Recriando as línguas africanas

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Educação pela igualdade: o negro nas escolas brasileira e gaúcha

Educação pela igualdade: o negro nas escolas brasileira e gaúcha

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A interlocução entre educação e etnia se faz necessária para pensar a democratização da educação, que, enquanto direito social, precisa garantir o direito à diferença e a implementação de políticas públicas que superem as desigualdades sociais e raciais.

N

os últimos anos, o campo da educação tem se destacado quando se trata da implementação de políticas públicas de promoção da igualdade racial no Brasil, especialmente a partir da promulgação da Lei n°10.639/03, de janeiro de 2003. A Lei de História da África, como ficou conhecida, alterou a Lei nº 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, determinando a inclusão do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial dos estabelecimentos de ensino fundamental e médio do país. Segundo essa nova legislação, os conteúdos a serem ministrados pelas escolas devem incluir o estudo da História da África e dos Africanos, da luta dos negros no Brasil, da presença da cultura negra brasileira e do negro na formação da sociedade nacional, com o objetivo de resgatar a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política do país.

De acordo com alguns especialistas, uma das possíveis saídas para o fim das desigualdades educacionais do Brasil está em enfrentar as desigualdades raciais presentes no

ambiente escolar, que estão expressas, em grande medida, no currículo escolar. Embora estejam presentes de modo relevante em nossa sociedade, como observamos em nosso cotidiano, a história e cultura negras têm tido pouco ou nenhum destaque nos currículos escolares brasileiros, que têm suas bases fixadas nas culturas de origem europeia. Cabe ressaltar que em 2008 foi editada a Lei nº 11.645, que alterou novamente a LDB e incorporou a necessidade do ensino da história dos indígenas no Brasil.

Escola: currículo, bibliotecas e livros didáticos Quando a trajetória histórica do negro é estudada nas escolas, muitas vezes, é feita de modo pouco aprofundado e restrita a datas específicas, como 13 de maio, data da Abolição da Escravidão, ou 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. Outra postura comum encontrada no ambiente escolar é a de tratar as questões da realidade do negro apenas quando surge algum assunto na sala de aula pautado pela mídia.

Outro exemplo que podemos citar sobre as desigualdades raciais na escola é o fato de muitas bibliotecas escolares disporem de poucas obras sobre a questão racial para uso dos alunos, professores e funcionários. O racismo e a falta de imagens do negro, ou a presença de imagens apresentadas, quase sempre, de forma negativa nos livros didáticos, são apontados como elementos que

causam a evasão da criança negra da escola, por dificultar a sua identificação com os conteúdos e processos pedagógicos adotados. Muitos professores têm dificuldade para trabalhar com questões que dizem respeito a essa população, geralmente, vista como brincalhona, desligada ou pouco afeita ao conhecimento, desconhecendo as diferenças culturais que carregam consigo os estudantes negros. Historicamente, o negro enfrenta dificuldade para o acesso e para a permanência na escola, um espaço sociocultural que deveria estar sempre voltado à ampliação de direitos e a uma formação dos alunos que respeite as diferenças e seja justamente questionadora do preconceito.

Combater o preconceito racial A Lei Federal nº 10.639/03 abriu alguns caminhos pedagógicos no combate ao preconceito racial, assim como para alternativas de inter venção no currículo das escolas brasileiras. Nas práticas educativas, já podemos obser var alguns avanços significativos. Como


Positivar a negritude Se considerarmos que desde a homologação da Lei nº 10.639 já passaram alguns anos, a sua implantação ainda é lenta. Há poucos livros didáticos que atendam às prerrogativas previstas pela lei. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História da África, o objetivo principal da lei consiste em promover políticas de reparações e de reconhecimento e de valorização da história, cultura e identidade da população negra. No entanto, constata-se o seu não cumprimento através da omissão dos setores públicos em criar mecanismos para sua implementação efetiva, da persistência da discriminação no ambiente escolar, na resistência por parte de professores, diretorias e até mesmo dos gestores, que, na maioria das vezes, se mostram despreparados, alheios e até mesmo contrários ao processo de implementação da norma federal. Isso pode ser confirmado através de inquéritos civis públicos instaurados em vários estados brasileiros para apurar os moti-

vos do descumprimento da lei promulgada em 2003, verificar a existência de improbidade administrativa nessa situação e a omissão dos órgãos responsáveis pela implementação da Lei. Como podemos observar, os desafios são muitos, mas há indicadores que sinalizam esforços, em muitos contextos escolares, que têm visado à construção de uma identidade negra positiva que colabore para que a cultura dos afro-descendentes seja reconhecida, abordada e valorizada como parte das identidades culturais que constituem o Brasil e o Rio Grande do Sul.

Que tal ser repórter por um dia? Verifique como a Lei nº 10.639/03 está sendo aplicada em sua escola e nas demais escolas da sua cidade. Busque saber se os professores foram preparados para corresponder às determinações legais e quais são os avanços e os desafios encontrados. Busque livros didáticos em uso na sua escola e discuta em sala de aula se eles estão contribuindo para a promoção da cultura afrobrasileira.

Educação pela igualdade: o negro nas escolas brasileira e gaúcha

exemplo, podemos citar a criação de secretarias e órgãos governamentais de planejamento e de orientação (como a Coordenadoria das Políticas de Igualdade Racial no Rio Grande do Sul); o aumento do número de pessoas e instituições envolvidas em discussões coletivas sobre o tema; o incremento de pesquisas nas universidades através dos NEABs (Núcleos de Estudo Afro-Brasileiros) e a organização de uma série de publicações de apoio que subsidiam o debate e as ações nas escolas. Os avanços são também significativos no que se refere à formação continuada para educadores no que diz respeito à inclusão da cultura negra nas práticas pedagógicas das escolas. Isso se traduz na quantidade de projetos e cursos existentes, em âmbito interno e externo das universidades, nas secretarias de educação e em ONGs (Organizações não governamentais), coordenados em grande parte por grupos de militantes e pesquisadores já envolvidos com a produção de conhecimento na área de relações raciais.

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Afroetnomatemática: a inclusão dos saberes matemáticos na escola

Afroetnomatemática: a inclusão dos saberes matemáticos na escola

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O estudo da matemática ajuda na construção da consciência crítica da pessoa, nas lutas pelo reconhecimento dos valores socioculturais e no compromisso com a educação transformadora.

A

afroetnomatemática é uma proposta pedagógica que considera os conhecimentos práticos, os saberes locais e os cotidianos dos estudantes afrobrasileiros no processo de ensino e aprendizagem. Isto é, para além do rigor e da exatidão do ensino da matemática tradicional, valoriza-se a diversidade cultural da cultura africana e das africanidades. A ênfase do ensino da afroetnomatemática é ultrapassar a transmissão do conhecimento sistematizado, de modo a contribuir com a construção de sujeitos conscientes e críticos. A matemática é, então, estudada em estreita relação com o cotidiano do aluno.

Exemplos No ensino da afroetnomatemática, analisa-se o protagonismo da população negra, verificando as suas contribuições para as diversas áreas do conhecimento. Por

exemplo, nos jogos de búzios, utilizam-se as combinações das cartas a partir dos números 0 e 1, a mesma ideia do código binário que está na base da informática. Esse é apenas um exemplo dentre muitas experiências que podem ser aprofundadas no ensino da afroetnomatemática, mostrando como a produção do conhecimento desenvolvida pelos negros tem aplicação nas áreas de matemática, engenharia, física, dentre outras. O ensino da afroetnomatemática nas escolas é uma proposta defendida pelo Movimento Negro, que já nos anos 70 defendia a inclusão da História da Cultura da África nos currículos escolares. O ensino da matemática valoriza a experiência africana e insere-se na luta para superar a ideia dominante das ciências rígidas que tendem a subestimar os saberes cotidianos, produzidos fora da academia. No ensino da afroetnomatemática, todo conhecimento é válido, enquanto construção humana.

Para além das fórmulas Como a matemática é abordada nas salas de aula onde há predominância de estudantes afro-brasileiros? A resposta exige um exame cuidadoso a respeito do desenvolvimento das ações pedagógicas destinadas a atender os diferentes grupos culturais. Isso porque os conteúdos da Matemática devem facilitar a “leitura da realidade”, de modo que o processo de aprendizagem parta dos saberes produzidos em que os estudantes afro-brasileiros estão inseridos. A realidade sociocultural do estudante que tratamos aqui não se limita a simples ordenamento de números, cálculos ou coleta de dados. Deve, acima de tudo, perceber como o educando sente a própria realidade. Como propagou Paulo Freire (2002), quem consegue ler sua realidade é capaz de ler o mundo.

Construção coletiva A afroetnomatemática contribui com a construção coletiva do conhecimento, engajando os estudantes na matemática do cotidiano, valorizando a história africana, os legados, os conhecimentos religiosos, os mitos populares, as artes, as danças, os jogos, o cabelo trançado, as construções. O engajamento dos estudantes permite entender que esses saberes serviram de base para as ciências e que contribuíram com o desenvolvimento social de outras culturas, inclusive a cultura brasileira. Percebe-se que nesse processo de ensino e aprendizagem não há foco na memorização mecânica de fórmulas prontas para serem aplicadas ou transmitidas aos estudantes. O ensino prático, contextualizado e dialogado, respeita as escolhas conscientes dos educandos. Com essa atitude, iincentiva-os a indagar, estimulando-os a construir novas perguntas criativas e críticas.

Aplique o ensino da afroetnomatemática num núcleo familiar. Busque informações, por exemplo, sobre o orçamento familiar, a lista e os preços dos produtos mais consumidos, e registre também as conversas familiares a respeito do tema. Redija um texto, identificando como ocorreu o envolvimento da família com o conhecimento matemático, aproximando-a da prática cotidiana.

JÚNIOR. Henrique Costa. Afroetnomatemática: África e afrodescendência. In: CAVALCANTI, Bruno Cézar; SUASSUNA, Clara e BARROS, Raquel Rocha de Almeida (orgs.). Kulé-Kule: visibilidades negras. Maceió: EDUFAL, 2006. SANTOS, Joel Rufino. Gosto da África: história de lá e daqui. São Paulo: Global, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 32 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.


A mídia está presente em nossos lares cotidianamente. Ela interfere nas práticas culturais e em nossa visão de mundo. Os meios de comunicação oferecem representações sobre os afrobrasileiros e podem tanto incluir quanto excluir de sua agenda o debate sobre as relações raciais e as desigualdades no Brasil.

É

incontestável a centralidade da mídia na sociedade contemporânea. Com o acelerado desenvolvimento tecnológico dos últimos anos, a mídia está presente e influencia muitos aspectos da nossa vida cotidiana. É a partir das suas representações que a mídia fornece referências para a produção e reprodução de ideias e visões sobre o mundo em que vivemos. Para a autora Woodward (2004), é por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos. A autora sugere, inclusive, que esses significados tornam possível aquilo que somos e aquilo no qual podemos nos tornar. No entanto, ao mesmo tempo em que a mídia produz e reproduz sentidos, ela é também processo de

mediação, e isso significa movimentos de no mínimo dois lados, uma vez que, quando os produtos da mídia circulam, nós também colaboramos para sua produção. Lembremos, ainda, que as representações produzem significados e envolvem relações de poder, incluindo o poder para definir os modos de presença e exclusão de pessoas e grupos na mídia. É preciso considerar que segue havendo um profundo desconhecimento da sociedade brasileira sobre os prejuízos que a escravidão causou à população negra e à própria democracia no Brasil. Depois, é necessário reconhecer que a existência de uma dívida histórica do Brasil com a população negra retirou dos negros o direito de serem representados, de terem uma história própria, escrita a partir do ponto de vista dos próprios negros.

Representação dos negros na mídia Nesse contexto, historicamente, a mídia também teve e tem o seu papel de, em suas representações, incluir e excluir as relações raciais e as desigualdades do Brasil em sua agenda. Mas, como é possível à mídia excluir as relações raciais da sua agenda? Como é possível à mídia naturalizar indicadores sociais que revelam a discrepância entre brancos e negros em todas as esferas sociais? Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, em relação à população branca, os negros apresentam maior taxa de mortalidade infantil, menor esperança de vida e de renda para maior jornada de trabalho, índice superior de desemprego, menor mobilidade social, menos ascensão a postos políticos, média de anos de estudos, etc., (PNUD, 2005). Para compreender essa dinâmica de relação entre negro e mídia, é importante partirmos de uma dupla perspectiva: como a população negra é representada contempora-

neamente na mídia e como os negros atuam para construir representações positivas, e como pluralizar as suas representações no âmbito da mídia. Essa dupla perspectiva sinaliza para a importância de pensar como os processos de diferenciação social na mídia interferem tanto nos direitos individuais quanto nas identidades de grupo; e para isso é necessário estabelecer relações entre o passado e o presente com o fim de perceber as conquistas e o processo lento dessa historicidade.

Televisão e diversidade racial O Brasil é conhecido por sua diversidade, inclusive racial, mas, apesar de mais de 50% da sua população se autodenominar negra, essa diversidade não é representada na televisão. A representação negra sempre existiu, porém de maneira estereotipada, episódica, momentânea, problemática e pouco digna. Joel Zito Araújo (2000) destaca que, na década de 60, os poucos atores negros que fizeram parte do elenco das novelas na Rede Tupi ou na Rede Globo representavam escravos (quando a novela era de época), “malandros” ou profissionais com baixo prestígio social, como empregadas domésticas ou motoristas. O fato é que há poucos negros desempenhando papéis de apresentadores, protagonistas e âncoras de telejornais.

Telejornalismo e negritude No telejornalismo brasileiro, os profissionais negros são escassos. Basta lembrarmos, por exemplo, que, somente em 2002, Heraldo Pereira se tornou o primeiro negro a apresentar o Jornal Nacional da Rede Globo, desencadeando o processo de exibição de jornalistas negras em emissoras como o SBT e TV Cultura. As jornalistas Glória Maria e Zileide Silva estão no grupo das raras exceções. Glória Maria, que não foi a primeira negra no telejornalismo, é considerada uma das profissionais mais respeitadas

Negros na mídia/negros fazendo mídia

Negros na mídia/negros fazendo mídia

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da TV brasileira até o momento. Zileide Silva também integra o time de grandes repórteres da TV Globo, apurando e transmitindo informações diretamente do Distrito Federal. No Rio Grande do Sul esse cenário não é diferente; os profissionais negros estão incluídos na categoria “raras exceções”. Um exemplo ilustrativo disso foi a constatação de uma pesquisa sobre a invisibilidade do negro no estado, realizada no início dos anos 2000 pela Faculdade de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) a pedido do Sindicato de Jornalistas do Rio Grande Sul. Entre outros resultados, a pesquisa verificou que, naquele período, só havia quatro negros trabalhando na televisão.

Negros na mídia/negros fazendo mídia

Protagonismo negro na telenovela

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No que diz respeito à teledramaturgia, podemos observar telenovelas como A escrava Isaura (1976) que narra as agruras da escravidão a partir de uma escrava branca, Isaura, interpretada pela atriz Lucélia Santos. Em 2001, a Rede Globo exibiu a novela Porto dos milagres (2001), narrada na Bahia, um dos estados brasileiros com a maior concentração de negros. A trama tinha como cenário uma comunidade pesqueira e sua ligação com o universo religioso afro-brasileiro. Contudo, contava com a participação de apenas seis atores negros, num elenco composto por 45 atores. Somente em 2009, a emissora de maior audiência do país escalou a primeira protagonista negra para sua telenovela de horário nobre, a atriz Taís Araújo, que interpretou a personagem Helena em Viver a vida. A soap opera Malhação, no ar desde 1995, só foi ter seu primeiro protagonista negro também em 2009. No contexto gaúcho, é destaque a atriz negra Sheron Menezes, que interpretou Júlia na novela Esperança (2002). A personagem era filha bastarda de um barão do café com uma empregada da família. A atriz já atuou como apresentadora no seriado “Fábulas Modernas” (2003), produção da RBS TV, na novela Caras & Bocas (2009), interpretando a doce e ingênua Milena,

vítima de preconceitos racial e de classe pelo seu namorado.

Exclusão e violência no cinema Em se tratando dos filmes e minisséries, tem predominado representações que dão maior destaque às condições de exclusão e violência da raça negra. Exemplos são Orfeu (1999), Cidade de Deus (2002), O homem que copiava (2003), Tropa de Elite (2007), Ó Pai, ó (2007). Esses filmes podem se constituir em bons instrumentos para provocar debates em torno de temas como favela, drogas, pobreza, violência e juventude. Entretanto, é recomendável um olhar atento para que estes filmes não legitimem determinadas leituras já dadas da realidade, de modo a ocultar problemas que confirmem pontos de vista pré-concebidos sobre a questão da desigualdade racial, da violência, do narcotráfico e da criminalidade. Em outra linha, vão os filmes Besouro (2009) e Jardim das Folhas Sagradas, (2009). Besouro revela a história do mais famoso capoeirista brasileiro, um negro que viveu no Recôncavo baiano e que criou fama, na década de 20, pela sua postura de resistência ao racismo através da luta da capoeira. O filme retrata Besouro como um herói brasileiro e revela a possibilidade de retirar o tema racial do circuito negro-favela-droga-violência-morte. O filme mostra que Besouro também pode ser o herói da gurizada negra e branca do Brasil, que voa, pula, briga, como fazem os Bruce Lee e 007 por aí a fora, encantando tanta gente. Já o filme Jardim das Folhas Sagradas conta a história de Bonfim, negro baiano que tem sua vida virada pelo avesso com a revelação de que precisa abrir um terreiro de candomblé. A partir daí se desenvolve toda a trama sobre religião, tradição e cultura afro-brasileira, sobre a importância do candomblé no passado, como elemento de resistência ao racismo, e no presente, como meio de reconstrução da identidade negra, de preservação do meio ambiente, do convívio e da tolerância entre os seres humanos, longe dos estereótipos de religião demoníaca e de segunda ordem.

Qual papel representar? Na área do humor, personagens da televisão e cinema, como Grande Otelo e Mussum, representavam o estereótipo do negro maltrapilho, vagabundo, sem perspectiva. As personagens negras estão frequentemente relacionadas à comicidade, à criminalidade ou à ser vidão. Em várias telenovelas e minisséries, produções da TV brasileira, verifica-se uma carga muito grande de preconceitos e podemos, inclusive, visualizar a ocorrência de claro racismo institucional. O conceito de racismo institucional, ou racismo sistêmico, foi criado em 1967 por Carmichael e Hamilton, e refere-se à forma de racismo que se estabelece nas estruturas de organização da sociedade, nas instituições, como a mídia, traduzindo os interesses, ações e mecanismos de exclusão perpetrados pelos grupos racialmente dominantes.

O negro na publicidade A publicidade tem refletido mais a população negra. Podese observar um pequeno avanço nos últimos anos no modo como a chamada publicidade oficial (isto é, aquela publicidade de serviços e campanhas de órgãos públicos que tem caráter educativo, informativo ou de orientação social) tem contemplado a representação de negros. Um exemplo disto é o anúncio publicitário da Caixa Econômica em homenagem ao Dia da Consciência Negra. O anúncio tem em seu texto o poema do poeta gaúcho Oliveira Silveira. Em menor escala, houve um avanço também no setor da publicidade de empresas privadas, sobretudo pela associação com o aspecto econômico. O sucesso da revista Raça mexeu com o mercado publicitário. As grandes marcas, especialmente as de cosméticos, começaram a criar produtos para atender o público negro que até então parecia não existir.


O uso de novas tecnologias, sobretudo da Internet, que no Brasil tem um pouco mais de duas décadas, tem contribuído de modo crucial para o desenvolvimento do debate das relações raciais. Por ser um mecanismo de comunicação ágil, dinâmico e de acesso relativamente fácil, a Internet tem sido usada pelos afro-brasileiros para a criação de listas virtuais de discussão e de experiências de divulgação de notícias através de sites específicos. Tudo isto vêm se constituindo em um importante instrumento no enfrentamento do racismo e em um instrumento didático e informativo para escolas, universidades, empresas, pesquisadores, lideranças sociais e pessoas interessadas na temática. Além disso, a Internet vem funcionando como um espaço de denúncia, formação, reflexão e debate, mas, também, de articulação e participação políticas. Marcas da Imprensa Negra no RS O Exemplo – Porto Alegre (1892 -1930) A Cruzada – Pelotas (1905) Alvorada – Pelotas (1907-1910; 1930-1937; 1946-1957) A Navalha – Santana do Livramento (1931) A Revolta – Bagé (1925) A Hora – Rio Grande (1917 - 1934) União dos Homens de Cor – Porto Alegre (1943) O Ébano – Porto Alegre (1962) Tição – Porto Alegre (Revista em 1978 e 1979; Jornal em 1980) Jornal Como é – Porto Alegre (1995-1998) Conexão Negra – Porto Alegre (2003)

Apesar de a Internet ser considerada um meio democrático pela maior possibilidade dos sujeitos serem produtores, o racismo também se manifesta no ciberespaço. Exemplo disso são ataques virtuais por hackers a sites voltados para o segmento negro, como é o caso da agência de notícias AfroPress, entidade que integra um projeto da ONG ABC Sem Racismo, entidade com sede em São Bernardo (SP), com área de abrangência no ABC paulista e em núcleos na Capital, São Paulo. A Agência de Informação Multiétnica (www.afropress.com) foi a primeira rede de distribuição de informações sobre as questões étnicoraciais, com ênfase na realidade dos afro-brasileiros, criada no início do

século XXI. O Jornal Irohin (impresso e, depois digital), o Portal Afro (www. portalafro.com.br) e o Mundo Negro (www.mundonegro.com.br) são os mais antigos e mais conhecidos. Mas é a Afropress, agência de notícias, que tem hoje um grau de qualidade informativa que lhe garante o status de referência na imprensa negra digital. Foi um dos primeiros sites de notícias jornalísticas do movimento negro organizado em rede, ou seja, a captação, o processamento e a distribuição da informação estruturamse em rede com vários comunicadores multidisciplinares espalhados pelo Brasil e o Mundo.

Imprensa negra no Rio Grande do Sul Desde a década de 1830, há jornais escritos por intelectuais negros. No Rio Grande do Sul, o jornal O Exemplo, produzido em Porto Alegre de 1892 até o início de 1930, e vários outros jornais da chamada imprensa negra produzidos no interior do estado. A revista Raça Brasil é lançada em 1996 e é considerada a primeira revista brasileira de grande alcance concebida para o público negro.

Que tal escrever e interpretar uma cena de telenovela em que apareça um personagem negro e debater com os seus colegas em sala de aula sobre como foi representado esse personagem. Faça uma entrevista com um jornalista ou estudante de jornalismo negro para saber como ele percebe a representação do negro na mídia gaúcha.

ARAÚJO, Joel Zito. A negação do negro no Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Senac, 2000 COGO, Denise, MACHADO, Sátira. Redes de negritude: usos das tecnologias e cidadania comunicativa de afro-brasileiros. In: XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2010. Caxias do Sul. Anais...Caxias do Sul: Intercom, 2010. Disponível em: <http://www.intercom.org. br/papers/nacionais/2010/resumos/R5-1650-1.pdf> Acesso em: 11 nov. 2010 HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP, 1997. RAMOS, Silvia (org.). Mídia e racismo. Rio de Janeiro: Pallas, 2007. Núcleo de comunicadores afro-brasileiros. O negro na mídia: a invisibilidade da cor. Porto Alegre: Sindjors, 2005. SANTOS, José Antônio dos. Raiou a Alvorada: intelectuais negros e imprensa Pelotas (1907-1957). Pelotas: Universitária, 2003. WOORDWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma identidade teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2004.

Homenagem ao Dia da Consciência Negra. Acesse o link <http:// www.youtube.com/ watch?v=Sh7HKL6oSGM> Assista os filmes Vista a Minha Pele de Joel Zito de Araújo & Dandara e As Filhas do Vento de Joel Zito de Araújo Assista capítulos do documentário A negação do Brasil de José Zito de Araújo. Tratase de um passeio na história da telenovela no Brasil e particularmente uma análise do papel nelas atribuído aos atores negros. Baseado em suas memórias e em fortes evidências de pesquisas, o diretor aponta as influências das telenovelas nos processos de identidade étnica dos afro-brasileiros e faz um manifesto pela incorporação positiva do negro nas imagens televisivas do país.

Negros na mídia/negros fazendo mídia

Internet e o debate das relações raciais

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O Movimento Negro e as lutas por igualdade

O Movimento Negro e as lutas por igualdade

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A luta por igualdade racial começa antes da abolição da escravatura no Brasil. O Movimento Negro ao longo dos anos vem contribuindo de forma decisiva para a conquista de espaços de igualdade social, cultural, educativa, política, através do fortalecimento coletivo da identidade étnica.

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em-se conhecimento de que mesmo antes da Abolição da escravatura no Brasil, já havia negros lutando contra a opressão e a dominação. Para compreender melhor essas lutas, é preciso relembrar a caminhada histórica dessas lideranças e principalmente do Movimento Negro, que combate a discriminação racial e defende a inclusão social da população negra. Para atingir tais objetivos, as lideranças organizaram grupos de mobilização racial. Assim, logo após a libertação dos escravos, já em 1889, os ex-escravos e seus descendentes criaram grêmios, clubes, sociedades, irmandades, fraternidades e associações reivindicatórias em diversos estados brasileiros. Essas formas organizativas devem ser compreendidas como um espaço dinâmico, atuante e centros difusores de ideias e ideais da população negra.

Militantes negros no Rio Grande do Sul

Nesse período, os militantes negros do estado do Rio Grande do Sul exerceram papel de protagonistas no processo de mobilização e debate sobre a questão racial. De acordo com Muller (2008), foram organizados mais de 120 grupos criados no Estado, entre 1889 a 1929. Desses, 72 grupos em Porto Alegre e 53 em Pelotas. Vale lembrar que, na região Sul do Estado, foi criada, em 1908, uma associação composta eminentemente por mulheres, a Sociedade de Socorros Mútuos Princesa do Sul. Muitas dessas organizações se ocuparam da questão racial, outras do entretenimento; houve também aquelas João Cândido que trabalharam em prol das ações pontuais, tais como solidariedade e ajuda mútua aos membros da comunidade. Experiências organizacionais espalhadas pelo país qualificaram o debate nacionalmente. Em 1931, no contexto da incipiente industrialização da cidade de São Paulo, surgiu a Frente Negra Brasileira (FNB), propondo a inserção da população negra em todos os segmentos sociais. Nos anos 1930, outras Frentes Negras surgiram no país. Embora com ideias diferentes, mas tinham em comum a prioridade pela educação e instrução da comunidade negra, visando sua plena integração cultural e social na sociedade. No Rio Grande do Sul, a Frente Negra Pelotense foi fundada no dia 10 de maio de 1933 por José Adauto Ferreira da Silva, Carlos Torres, José Penny, Humberto de Freitas e Miguel Barros, integrantes do periódico A Alvorada. Eles desenvolviam atividades com a comunidade negra, especialmente cursos e seminários educacionais.

O grupo pelotense estava em sintonia com os demais militantes, reivindicando os direitos sociais, ampliando a participação das mulheres na imprensa e combatendo o mito da democracia racial. Entretanto, sob forte repressão política durante o Estado Novo, os movimentos contestatórios foram esvaziados e a FNB foi extinta.

Grupo de resistência Tempos depois surgiram diversos grupos que lutaram para superar as desigualdades raciais e sociais. Dois deles merecem destaque. O primeiro, a União dos Homens de Cor, fundado em Porto Alegre, em 1943, foi um coletivo liderado por João Cabral Alves, que se expandiu rapidamente para diversos estados brasileiros. O segundo, foi o Teatro Experimental do Negro (TEN - RJ), que iniciou suas atividades em 1944, sob a liderança de Abdias do Nascimento. Em sua proposta de trabalhar como grupo teatral, o TEN esteve composto somente por negros. O TEN realizou o I Congresso do Negro Brasileiro. Desse encontro, saíram algumas deliberações, entre elas, a de lutar pela ampliação dos direitos civis e de utilizar os mecanismos de pressão popular para implantar a Lei Antidiscriminatória. A Lei conhecida como “Afonso Arinos” foi aprovada, em 1951, no Congresso Nacional. O texto sofreu alterações substanciais pelos congressistas, de forma que não atendia plenamente à luta contra o racismo, pois considerava as manifestações de racismo como meras contravenções penais, sancionáveis com irrisórias penas de multa. A explicação para esse avanço pequeno do movimento negro é o discurso oficial de então, que afirmava não haver problemas de discriminação racial no país. O Congresso promovido pelo TEN motivou as lideranças a debaterem os temas de interesse regionais e locais. O gaúcho Valter Santos, da Sociedade Beneficente Floresta Aurora, reuniu, em Porto Alegre, em 1958, diversas delegações da região Sudeste e Sul para o


O Grupo Palmares Com os militares no poder, em 1964, mais uma vez os movimentos sociais negros foram desarticulados, o que não significa ausência de contestação. Houve, mas foram ações fragmentadas. Em Porto Alegre, por exemplo, surgiu na rua dos Andradas, centro da cidade, o Grupo Palmares (1971). O Grupo, por meio do periódico Tição, promoveu importantes debates públicos: discutiu o combate à discriminação racial, as melhorias da qualidade de vida dos negros e levantou a bandeira em defesa da afirmação da identidade negra. Além disso, o Grupo liderou a discussão sobre a substituição das comemorações do dia 13 de maio para 20 de novembro.

lações marginalizadas. As principais ações do MNU foram tentar articular a luta do negro com os demais setores da sociedade e, enquanto organização política, sair em defesa do processo educativo, reivindicando a introdução da História da África e do Negro no Brasil nos currículos escolares. Essa pressão em prol da promoção da igualdade racial foi decisiva para, anos depois, ser aprovada a Lei 10.639/2003, que inclui nos currículos oficiais a obrigatoriedade da disciplina História e Cultura Afro-brasileira. As experiências de organização acima apresentadas são apenas algumas. Muitas outras existiram e continuam existindo no Rio Grande do Sul e devem ser estudadas e aprofundadas. São experiências desenvolvidas por educadores, comunicadores, religiosos, artistas, gestores públicos. Negros e negras comprometidos com a construção de políticas públicas destinadas à população negra do Rio Grande do Sul, tais como a reparação de direitos, o combate à discriminação racial e às novas ações reivindicatórias, por exemplo, os movimentos culturais, como hip-hop e outros.

Movimento Negro Unificado (MNU) Outra entidade importante dos anos 70 foi o Movimento Negro Unificado (MNU), que reorganizou a luta antirracista, desta vez combatendo o sistema capitalista que acentua a opressão, especialmente das popu-

O que é movimento negro? (13’). Vídeo que apresenta de forma didática a trajetória do movimento negro no Brasil. http://www.youtube. com/watch?v=yBcajWhOis8 &feature=related

Crie um artigo ou uma reportagem para jornal que discuta sobre a presença do negro no Rio Grande do Sul. Faça uma pesquisa e descubra se na sua cidade ou região existem organizações sociais negras. Escreva um texto contando essa história.

BARBOSA, Marcio. Frente Negra Brasileira: depoimentos. São Paulo: Quilomboje, 1998. DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Revista Tempo. v.12, n.23, Niterói, RJ, 2007. GOMES, Arilson dos Santos. A Frente Negra Brasileira e as suas ideias no RS na década de 1930. In: História, Cultura e Sociedade. Cadernos de Resumos: o negro. Porto Alegre, 2006. MULLER, Liane Susan. As contas do meu rosário são balas de artilharia. In: SILVA, Gilberto Ferreira; SANTOS, José Antônio e CARNEIRO, Luiz Carlos da Cunha. RS Negro: cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.

William DuBois (1868-1963)

Nelson Mandela (1918)

Steve Biko (1946-1977)

Milton Santos (1926-2001)

Léopold Sédar (1906-2001)

Frantz Fanon (1925-1961)

Luíza Mahin (1812-1838)

T oussaint L‘Overture (1743-1803)

Aimé Césaire (1913-2008)

Carlos Santos (1904-1989)

Martin Luther King Jr. (1929-1968)

Malcom X (1925-1965)

Joseph Firmin (1850-1911)

Rodolfo Xavier (1874-1964)

O Movimento Negro e as lutas por igualdade

I Congresso Nacional do Negro. Os temas tratados no evento foram: o processo educativo, especialmente a alfabetização dos negros; as condições sociais e o papel histórico da população negra no Brasil e no mundo. O evento de Porto Alegre estava sintonizado com o processo de independência dos países africanos. Entre 1956 e 1966, 30 países africanos tornaram-se independentes das nações colonizadoras.

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20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra

20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra

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O dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, em homenagem ao líder Zumbi dos Palmares, é o momento de marcar posição e fortalecer a defesa em prol da justiça racial e social.

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comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra homenageia Zumbi dos Palmares, assassinado no dia 20 de novembro de 1695. Zumbi foi um dos mais importants líderes do Quilombo de Palmares, localizado no estado do Alagoas. Mas não foi sempre assim. Por longo tempo, a data símbolo no Brasil era o dia 13 em comemoração à abolição da escravidão em referência à assinatura da Lei Áurea, em 1888, pela Princesa Isabel. A Lei que libertou os escravos no Brasil recebeu forte pressão das manifestações Abolicionistas (1878-1888) através de um movimento composto por diversas lideranças, como o engenheiro negro André Rebouças, que propôs o fim imediato da escravidão. Mesmo com essa influência, a Lei Áurea, na prática, não representava os ideais de lutas construídas pela população negra, muito menos ajudava a superar as barbáries sofridas pelos negros escravizados. Por essa razão, os militantes do movimento entenderam que era necessário encontrar uma nova data, outro acontecimento que melhor representasse a luta dos afro-brasileiros em defesa da afirmação e do reconhecimento da identidade negra. E que esse dia fosse dedicado à conscientização da população. Pois, a visibilidade do dia dedicado à consciência negra apresenta homens e mulheres que lutam e se organizam para concretizar a superação das desigualdades, garantindo direitos e promovendo justiça racial e social.

Mudança necessária Em 1971, no auge da ditadura no Brasil, o Grupo Palmares, criado por lideranças sociais de Porto Alegre, saiu em defesa da substituição das comemorações. A sugestão do deslocamento do 13 de maio para o dia 20 de novembro ganhou adesão nacionalmente e, em menos de uma década, a data passou a ser o Dia Nacional da Consciência Negra. Segundo os dados de 2009 da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), são 757 municípios, distribuídos em 20 estados brasileiros, que aderiram à nova data como feriado ou ponto facultativo. No Rio Grande do Sul, mais de 200 municípios aprovaram o Dia da Consciência Negra como feriado ou ponto facultativo; outros têm projeto de lei em andamento ou aguardam decisão judicial para implantar o feriado municipal. A reivindicação do Movimento Negro é para que a data seja feriado nacional.

O Primeiro 20 de Novembro O 20 de novembro representa resistência. Foi com esse espírito que um grupo de jovens negros liderado por Oliveira Silveira, Antonio Carlos Cortes, Ilmo da Silva, Vilmar Nunes, entre outros, se

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reuniam, periodicamente, na Rua da Praia, no centro da capital gaúcha para discutir outra data comemorativa e, assim, retomar a história de resistência e afirmação da identidade da população negra. O primeiro 20 de Novembro que homenageou Zumbi foi organizado pelos militantes do Grupo Palmares, em 1971, e festejado no Clube Náutico Marcílio Dias, uma organização social localizada, na época, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. O Grupo Palmares se desfez, mas deixou um importante legado à sociedade brasileira.

O fio da memória (1991, 115min) é um filme que aborda histórias de personagens e situações do presente, apresentando a história dos negros no Brasil. Palavras-chave para pesquisar: Afirmação da identidade étnica da comunidade negra, Dia Nacional da consciência negra, discriminação social e racial.

CAMPOS, Deivison Moacir Cezar. A ressignificação de palmares: uma história de resistência. In: SILVA, Gilberto Ferreira; SANTOS, José Antônio e CARNEIRO, Luiz Carlos da Cunha. RS Negro: cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2008.

ão mais de 700 municípios distribuídos em 19 estados e no DF que já aderiram à proposta ao 20 de novembro como feriado ou ponto facultativo. No RS, mais de 200 municípios instituíram o Dia da Consciência Negra como feriado municipal.


As ações afirmativas são parte de um processo reparatório que ajuda a criar nova realidade para a população negra e o conjunto da sociedade brasileira

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tura. Então, o que fazer com os milhões de negros trazidos para o Brasil durante o período colonial? Solução seria embranquecer a sociedade. Com essa política de branqueamento, o governo brasileiro concedeu, em 30 anos, diversos incentivos e subsídios a cerca de 3 milhões de imigrantes europeus. A ideia fracassou porque a população negra continuou sendo expressiva no país.

Democracia racial A partir de 1930, a elite brasileira muda de tática. Passa a conceber o conceito de democracia racial para explicar que a população brasileira é mestiça, incluindo os negros nesse processo de miscigenação. Na prática, a ideia era de que as raças viviam em harmonia, sem conflitos. Essa ideia foi duramente questionada após sucessivos escândalos de racismo e preconceito. É importante dizer que o preconceito também se revela no discurso. Encontra-se facilmente expressões como “é coisa de negro”. Essas marcas discursivas têm mostrado que, quem tem a cor da pele mais escura, também vivencia, muitas vezes, experiências de discriminação nas relações interpessoais e nas notícias veiculadas nos meios de comunicação social.

s políticas públicas de Ações Afirmativas, implantadas nos últimos anos no Brasil, buscam corrigir as situações de discriminação e desigualdades que impedem o acesso da população negra e dos grupos sociais minoritários às mais diferentes oportunidades, da educação ao mundo do trabalho. Sobre o tema, existem argumentos favoráveis e contrários. Antes de prosseguir, vamos retornar ao século XIX, período em que os pesquisadores tentaram explicar por que uma raça era oprimida enquanto a outra era opressora, buscando com isso estabelecer uma hierarquia entre as raças. Para estabelecer essa hierarquia, deveria ser feita uma O movimento negro brasileiclassificação tendo como referenciais ro, desde o início do século XX, vem socioeconômcios e culturais o munpropondo, em diversas instâncias ordo europeu; segundo os pesquisadoganizacionais, políticas públicas que possibilitem ampliar res, os povos europeus os direitos socais. eram seres humanos Momentos decisivos melhores e mais intelidessas reivindicações gentes que os demais. ocorreram, em 1958, Abdias Nascidurante o I Congresmento diz que essa so Nacional do Neideia-força justifica o gro realizado em Porto preconceito, uma vez Alegre. Uma das prinque, quem não foscipais demandas do se europeu era visto Encontro foi a necessicomo atrasado, desdade de alfabetização qualificado e como ser da população negra, que não produzia cometa ainda a ser alnhecimento nem cul- Lélia Gonzáles cançada.

Ações afirmativas

Essas ações reivindicatórias estavam articuladas também com as demandas internacionais. Veja o que ocorreu nos EUA, nos anos 1960. Os negros norte-americanos eram proibidos de frequentar as unidades escolares e não podiam utilizar os meios de transporte público. Fato ocorrido na cidade de Little Rock e que desencadeou movimentos de lutas pela ampliação de direitos liderados por Martim Luther King, Elizabeth Eckfort, Rosa Parks, entre outros. Essas ações possibilitaram efetivar a política de cotas nos EUA, ratificadas pelo presidente Kennedy. Atualmente, no Brasil, a luta é pela implantação de ações afirmativas como mecanismos de inclusão racial e social. As propostas ganharam força internacionalmente. Em 2001, durante a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, ocorrida em Durban, na África do Sul, os congressistas debateram sobre o combate às desigualdades raciais. O evento trouxe novas perspectivas para as lutas sociais do movimento. Jorge Manoel Adão (2008) elenca alguns, como a criação de Conselhos, programas de ações afirmativas nos vários Ministérios, implantação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em março de 2003 e diversas mobilizações, como, por exemplo, Marcha de Zumbi + 10, entre outros. Esse cenário reivindicatório justifica o argumento de que é necessário construir políticas públicas destinadas à comunidade negra.

O sistema de cotas em debate As reservas de vagas nas universidades brasileiras, como uma das políticas de ações afirmativas, têm gerado muito debate na própria academia, nas instituições, nos movimentos sociais e no conjunto da sociedade. O argumento favorável é que o sistema de cotas permite que a população historicamente desfavorecida tenha acesso ao ensino superior, contribuindo com a reparação de injustiças. Entre os argumentos contrários, estão o daqueles que afirmam que os beneficiários das cotas podem contribuir para uma queda na qualidade do ensino superior. Nessa mesma perspectiva, há os que defendem que

Políticas públicas de Ações Afirmativas nas lutas por igualdade

Políticas públicas de ações afirmativas nas lutas por igualdade

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Políticas públicas de Ações Afirmativas nas lutas por igualdade 28

as cotas seriam um modo de discriminação às avessas, acentuando ainda mais o racismo. Abdias Nascimento nos faz um questionamento desconcertante: “os brancos tiveram as cotas durante 500 anos e está tudo bem?”. Para Nascimento, a implantação das políticas de cotas raciais é uma maneira de democratizar o acesso e garantir a permanência do cotista na Universidade. A iniciativa de promover o processo de democratização começa a ser posta em prática, em 1992, pela sociedade civil através dos cursinhos pré-vestibulares destinados a estudantes negros e carentes. No RS, surgem vários cursos nos clubes sociais negros, e nas ONGs visando à preparação acadêmica e à reflexão crítica acerca das desigualdades sociais. Outras iniciativas, como o empenho da CECUNE (Centro Ecumênico de Cultura Negra) em coordenar a seleção dos candidatos negros para o ingresso no Centro Universitário Metodista, IPA. Ações que contribuíram para dar visibilidade à temática.

Pesquise alguns depoimentos favoráveis e contrários sobre ações afirmativas. Analise os discursos tendo presente o artigo 3º da Constituição Federal, que diz que o Estado é responsável pela construção da igualdade. Agora redija um texto apresentando suas opiniões. Faça uma entrevista com um estudante cotista ou um beneficiário do PROUNI. Identifique a trajetória escolar, o processo de ingresso na universidade, o rendimento escolar, entre outros. Elabore um texto comentando essa história e apresente o resultado para os colegas.

Educador Quer baixar vídeo do youtube para trabalhar em sala de aula? Acesse: http://www. baixaki.com.br/site/ dwnld48923.htm e faça download do programa aTube Catcher.

Nelson Mandela

Ações concretas No final dos anos 2000, a democratização do acesso estava ocorrendo em 39 universidades públicas, sendo 20 federais e 19 estaduais. Como as universidades são autônomas, elas têm a liberdade de adotar os próprios critérios para implantação do sistema nos seus cursos. No Rio Grande do Sul, quatro universidades públicas aderiram à política de reserva de vagas: UFRGS, UFSM, Unipampa e UERGS. Essas instituições não adotam apenas o recorte étnico-racial; elas trabalham também com o critério social e a trajetória escolar do estudante para a concessão das cotas de ingresso à universidade.

ADÃO, Jorge Manoel. Ações afirmativas em educação: políticas de cotas em universidades públicas. In: SILVA, Gilberto Ferreira; SANTOS, José Antônio e CARNEIRO, Luiz Carlos da Cunha. RS Negro: cartografias sobre a produção do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasl: uma breve discussão. Educação anti-racista caminhos abertos pela Lei Federal nº10.639/03. Brasília: SECAD/MEC, 2005. SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves; SILVÉRIO, Valter Roberto. Educação e Ações Afirmativas: entre a injustiça simbólica e a injustiça econômica. Brasília: INEP, 2003. SILVA, Cidinha. Ações Afirmativas em educação: experiências brasileiras. São Paulo: Editora Selo Negro, 2003. LOPES, Cristina. Cotas raciais: por que sim? 3. Ed., Ibase, 2008. Cartilha. Ações Afirmativas: este é o caminho. Fundação Cultural Palmares, 2006. http://www.palmares.gov. br/_temp/sites/000/2/publicacoes/cartilhapestana.pdf




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