Projeto Musicografia Braille NAID 16

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Proposta de constituição de um

Centro de Recursos em Musicografia Braille

2016


Proposta de Criação de um Centro de Musicografia Braille (NAID 2016)

Conteúdo Introdução........................................................................................................................................................ Contexto........................................................................................................................................................... Objetivos...................................................................................................................................................... 1. Apoio aos alunos com deficiência......................................................................................................... 2. Divulgação da musicografia Braille........................................................................................................ 3. Formação de cegos e docentes de educação musical........................................................................... 4. Investigação em musicografia Braille.................................................................................................... Atividades..................................................................................................................................................... Recursos Físicos (equipamentos)............................................................................................................ Recursos Humanos................................................................................................................................. Conclusão.......................................................................................................................................................

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Introdução A inclusão é um conceito vasto, até polémico, mas que tem vindo gradualmente a assumir um significado especial no que toca à participação de alunos com deficiência no ensino superior. O surgimento de um novo paradigma associado a novas políticas, mais inclusivas, e à evolução tecnológica, tem levado ao aparecimento de centros de apoio ou estruturas especializadas para a integração/inclusão destes alunos nas diversas universidades e politécnicos. O Instituto Politécnico do Porto foi uma das primeiras instituições de ensino superior (IES) a responder a esse desafio e sempre assumiu uma posição responsável de acompanhamento dos alunos com necessidades especiais, marcada por uma constante preocupação em facilitar os seus processos de integração na instituição, quer do ponto de vista humano, quer do ponto de vista técnico e socioeconómico. Através do seu Núcleo de Apoio à Inclusão Digital, instalado na Escola Superior de Educação (ESE) vem, desde 2005, desenvolvendo atividades específicas de apoio ao sucesso educativo de diversos alunos com deficiência, aproveitando os seus recursos para também desenvolver diversos tipos de atividades de formação, e investigação na área das tecnologias de apoio. Por ele já passaram várias centenas de alunos, formandos, pessoas com deficiência, docentes de educação especial, terapeutas e profissionais das mais diversas áreas, na procura de um melhor conhecimento e compreensão de todos os aspetos relacionados com tecnologias de apoio, apenas possível num centro bem equipado como este.

Figura 1. Sala de trabalho do Núcleo de Apoio a Inclusão Digital

O facto de ter desenvolvido as suas atividades desde o início com pessoas cegas, fez também com que se tornasse um centro de referência no que diz respeito a formação e treino em tiflotecnologia (tecnologia para cegos), bastante conhecido junto da comunidade relacionada com a deficiência visual e da própria associação (ACAPO)

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com a qual possui protocolos de cooperação. Durante os últimos dez anos foram feitos vários cursos de acesso ao computador para pessoas cegas, realizadas diversas ações de formação em Braille para os nossos alunos da formação inicial (com possibilidade de cerificação para efeitos de suplemento ao diploma) e, como não podia deixar de ser, desenvolvido muito trabalho de adaptação de recursos para alunos cegos do IPP. Foi feito o acompanhamento da nossa aluna Sílvia durante todo o tempo da sua licenciatura em Educação Social, que obrigou a processos intensivos de digitalização de textos e materiais entregues pelos professores, com transcrição e impressão em braille ou passagem a formatos compatíveis com o software de leitor de ecrã (Jaws), para que pudessem ser lidos em computador. Tem também vindo a ser apoiado um outro aluno do ISCAP (Tiago) em articulação com a responsável pela biblioteca, por forma a garantir que todos os recursos são acessíveis. É um trabalho contínuo, que, para além de equipamento e consumíveis, exige atenção e dedicação e sobretudo a mobilização de competências específicas para trabalhar com recursos ainda mais específicos. A chegada, neste ano letivo de 2005/20016, de mais dois alunos cegos para licenciaturas do Politécnico, mas desta vez para a área da música despoletou, no entanto, um conjunto de necessidades que até agora ainda não se tinham colocado, apesar de já termos tido, há cerca de 15 anos atrás, uma experiência com um aluno de na música. Essas necessidades têm sido objeto de uma atenção especial por parte de todas as entidades envolvidas, presidência da escola, diretores de curso, docentes, gabinete de apoio ao estudante, SASIPP, e NAID e motivaram a elaboração de um plano/projeto que poderá vir a ser um elemento catalisador de diversas sinergias e permitir, para além de uma significativa economia de escala, o lançamento de um conjunto de atividades que vão ao encontro da verdadeira missão do IPP. Esse projeto passa pela criação de uma estrutura técnica dedicada exclusivamente a todas as questões que estejam ligadas direta ou indiretamente à musicografia braille e ao seu ensino, na dependência do Núcleo de Apoio a Inclusão Digital. Essa estrutura deverá dispor de meios físicos (equipamentos, software, instalações) e humanos (docentes, tiflotécnicos, estagiários, ou meros voluntários) e pretende assumir-se como um centro de referência a nível nacional, mas com capacidade de intervir em contextos e programas internacionais ligados à problemática dos cegos e mais especificamente do ensino de música a cegos através do Braille.

Contexto Existem neste momento dois alunos com cegueira total a frequentar cursos de música no Instituto Politécnico do Porto: o aluno Rui Vilarinho na licenciatura em educação musical da ESE e a aluna Cristina Afonso da licenciatura em Música Jazz da ESMAE.

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Ambos têm vindo a ser apoiados pelo Gabinete do Estudante e está a ser feito um levantamento das suas necessidades em termos de adaptação académica, que se prendem principalmente com questões relacionadas com a leitura e escrita musicais, para além das óbvias necessidades de acesso à informação textual escrita. Houve já contactos com os Serviços de Ação Social do IPP e com o Gabinete do Estudante e foi feita uma reunião conjunta no passado dia 15 de Janeiro de 2016, no sentido de auscultar as necessidades desses alunos e encontrar uma estratégia conjunta, direcionada para a melhoria da sua atividade e participação. Do relato feito pelos próprios, ficou bem realçada a necessidade de encontrar um processo que lhes permita ter acesso às pautas musicais que não passe pela leitura visual (que não possuem) e isso apenas pode ser feito se as pautas estiverem em formato Braille (braille musical), que ambos dominam razoavelmente. Tradicionalmente, para escrever pautas em braille musical é necessário que alguém as leia (notação) e transcreva para aquele formato manualmente o que, obviamente, se revela uma tarefa trabalhosa. Aliás, fruto desse trabalho, existem hoje em Portugal milhares de pautas em braille guardadas em recônditos acervos que apenas os mais entendidos em musicografia braille conhecem e que foram minuciosamente "escritas" para que os cegos pudessem aceder a essas obras. Um outro processo passa por fazer a leitura da pauta e "escrever" a notação diretamente num computador, com recurso a software próprio, (Sibelius, Finale, Encore, etc). Alguns desses programas fazem a edição e posteriormente a conversão para formato XLM, o único que neste momento é compatível com a impressão braille, ou leitura pelo PC. Posteriormente um outro software irá transformar os carateres em modo XML para código braille para impressão. Mas mesmo esta tarefa exige que um normovisual faça a leitura da pauta e a escrita no computador, para posterior impressão e não deixa de ser um processo moroso, muitas vezes dado a erros. No caso do nosso aluno Rui Vilarinho, vários colegas se têm disponibilizado para o fazer e há mesmo docentes que esporadicamente o fazem também, para que ele possa realizar as tarefas marcadas nas aulas. No entanto, todos referem que não é possível assegurar esse apoio para a totalidade dos trabalhos desenvolvidos ao longo de todo o ano escolar ou durante o curso: é uma tarefa demasiado morosa e que, muitas vezes, interfere diretamente com a sua vida pessoal. No caso da aluna Cristina Afonso, não tem mesmo sido possível encontrar meios para que a mesma possa ter acesso a pautas em musicografia braille, tendo em conta que as características dos cursos diferem muito. Paralelamente à questão dos recursos humanos necessários para tal tarefa, existe ainda a necessidade de dar resposta aos alunos em termos de tecnologias de apoio, o que remete para o contexto dos serviços de ação social. Do ponto de vista técnico e funcional, foi pedido ao Rui Vilarinho que discriminasse os produtos de apoio que achava necessários para que pudesse, de alguma forma, minimizar a falta de

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acessibilidade à informação musical. O aluno apontou como necessários os seguintes equipamentos "disponíveis em casa": 1. BME2; Licença do software Braille Music Editor. 2. Mountbatten; dois em um, impressora com possibilidade de transcrição braille. 3. Linha Braille; de preferência de 40 células, com conexão bluetooth e cartão de memória. 4. Magnemusic; caixa partitura com símbolos da notação musical em relevo. 5. Gravador de áudio; acessível. 6. Bateria; para o meu computador portátil. 7. iPad; última geração com recurso GSM.”

Apesar de algumas destas tecnologias nos parecerem ligeiramente desajustadas e até um pouco redundantes, parece pertinente considerar que: 

ou os alunos dispõem de recursos que lhes permitam, em casa, fazer a transcrição e/ou impressão em braille, nomeadamente computador pessoal, software de edição musical, software de edição musical em Braille, impressora braille e consumíveis (papel braille), a partir de ficheiros criados por terceiros

ou se cria um mecanismo que permita fazê-lo no próprio recinto académico, com um melhor aproveitamento dos recursos físicos e permitindo um apoio otimizado em termos de recursos humanos, recorrendo, por exemplo a uma bolsa de voluntários ou à realização de estágios profissionais.

Esta perspetiva, aliada ao facto de estarmos perante uma situação quase inédita mas que poderá ter uma ampla repercussão social pelo que significa no acesso à música por parte de pessoas cegas, levou-nos a pensar um projeto que, por um lado pode resolver as necessidades de apoio destes alunos e por outro lado abre perspetivas interessantes para desenvolver um trabalho baseado em atividades de caráter social, formativo e até investigativo. Tal projeto poderá ser materializado na criação de um Centro de Recursos em Musicografia Braille, a funcionar na dependência no Núcleo de Apoio a Inclusão Digital da ESE, contando com recursos materiais e humanos adequados e cujos âmbito de ação e objetivos passamos a explicitar:

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Objetivos

1. Apoio aos alunos com deficiência Pretende-se, em primeiro lugar, criar as condições necessárias ao apoio efetivo e eficaz aos alunos com deficiência visual a a frequentar o Instituto Politécnico do Porto. Tal apoio, apenas é possível através de um sistema integrado, a funcionar na própria instituição, que permita um melhor aproveitamento dos recursos físicos e humanos tendo em conta que o mesmo exige uma gama de produtos de apoio que é extremamente cara e também que a tarefa de transcrição de pautas requer muito tempo. A existência destes meios poderá também potenciar a frequência de novos alunos nestas condições e tornar o IPP num centro de referência no ensino da música a pessoas cegas, no quadro de uma crescente abertura do ensino superior a pessoas com deficiência e abrir as portas, quer da ESE, quer da ESMAE a novos públicos.

2. Divulgação da musicografia Braille A existência de um centro como este permitirá potenciar os recursos existentes para divulgar a musicografia Braille, não apenas junto de toda a comunidade cega e com baixa visão, como também a nível do cidadão comum que, na sua grande maioria, desconhece o que é a musicografia braille. Permitirá também despoletar processos que façam renascer interesse por este tipo de código, que tem vindo gradualmente a perder protagonismo: apesar de não existirem dados concretos sobre o número de pessoas que em Portugal ainda domina a musicografia Braille, calcula-se que esse número não ultrapasse a mera dezena.

3. Formação de cegos e docentes de educação musical O facto de ambos os alunos possuírem um razoável conhecimento do código musical braille permitirá, eventualmente, que venham a ser formadores de pessoas com (ou sem) deficiência, interessados na aquisição de conhecimentos nesta área, promovendo cursos ou ações de formação certificadas. O NAID poderá assim, e na sequência de outras atividades anteriormente desenvolvidas junto da comunidade cega, vir a prestar um serviço relevante, quer numa perspetiva de responsabilidade social da instituição, quer na perspetiva de incentivo aos próprios alunos, tendo em vista novos modelos de empregabilidade que tanto necessitam. Estamos convictos que este tipo de atividade mereceria

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mesmo um acolhimento especial por parte de entidades financiadoras de projetos na área do apoio à deficiência (IEFP, Instituto Nacional de Reabilitação, Fundação Calouste Gulbenkian, etc), ou por parte de mecenas ou instituições com forte protagonismo na responsabilidade social (Fundação PT, Montepio, Lipor, etc). Por outro lado, também os docentes de educação musical do ensino público e privado, poderiam usufruir deste tipo de formação para o seu próprio desenvolvimento profissional, no âmbito do próprio sistema de formação contínua de professores, e acreditada pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua de Professores. Seria mesmo uma oportunidade única para a promoção do ensino da música através do braille nas diversas escolas de referência espalhadas pelo país. Nesta perspetiva, a existência de docentes cegos com a capacidade (e formação) adequada para ensinar no sistema educativo abriria mesmo uma nova linha de empregabilidade para este tipo de população, ao mesmo tempo que resolvia o problema da dificuldade de acesso à aprendizagem da música por parte de alunos, também eles cegos. Ainda relativamente a este aspeto, temos mesmo informação de que a própria DGE estaria recetiva a este tipo de atividade e a qualquer forma de promover o ensino da música nas escolas de referência a nível nacional.

4. Investigação em musicografia Braille O desenvolvimento de uma linha de investigação relacionada com o ensino e aprendizagem da musicografia Braille seria o culminar de todo um processo que está subjacente a esta temática e que exige muita pesquisa e trabalho de campo. Sendo a investigação uma das principais missões do IPP, o lançamento de um projeto através do INED (Centro de Investigação da ESE) representaria uma mais-valia considerável para toda a instituição, tendo em conta o caráter quase inédito do tema e a possibilidade de poder contar com os recursos tiflotécnicos já existentes no NAID. Salientamos ainda a possibilidade de poder contar com a participação da Doutora Andreia Rosmaninho, companheira do aluno Rui Vilarinho que, sendo também pessoa com deficiência visual (baixa visão) possui a necessária sensibilidade para o tema, a que junta a maturidade intelectual própria de quem possui um grau académico de doutoramento pela faculdade de Letras da Universidade do Porto. A doutora Andreia já manifestou o seu grande interesse em participar neste projeto, quer por questões motivacionais, quer pelo facto de se encontrar desempregada e com necessidade de encontrar saídas profissionais compatíveis com a sua formação. As diversas componentes deste projeto foram já definidas, tendo como tema base o ensino da musicografia braille em escolas de referencia para alunos cegos e de baixa visão, passando por:  

Avaliação das ações (cursos e sessões de divulgação) Criação de um Centro de Recursos

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      

Cursos de Musicografia Criação de uma comunidade a nível nacional Implicações da musicografia nos processos educativos dos alunos cegos Modo como a tecnologia pode ser um facilitador Modelos de aplicação das TA na educação musical a cegos em geral Estado da Arte da Musicografia Estatísticas

Atividades Como vimos, um centro de recursos em Musicografia Braille teria como finalidade principal a o apoio direto e a promoção, consolidação e o ensino da literacia e alfabetização musical através do código musical braille, com vista à inclusão e independência de pessoas com deficiência visual. Na sua essência, este projeto transdisciplinar pretende dar suporte a atividades profissionais diversas, tais como educação, música e produção, não só no IPP, mas a nível nacional, através de recursos orientados para transcrição e leitura de partituras musicais, contando mesmo com a gestão de um portal na internet onde poderá ser encontrado, sugerido e partilhado material pedagógico diverso. Na componente formativa, e uma vez que recorre ao uso de software de música mainstream, as atividades podem ser desenvolvidas em regime b-learning, com recurso às plataformas Moodle existentes na ESE ou mesmo através do e-IPP, com possibilidade de atribuição de certificação. Este tipo de formação pode, como já foi referido funcionar como um importante motor de desenvolvimento profissional junto dos professores de música, quer como forma de formação para a inclusão, quer como forma direta de desenvolvimento competências para aqueles que lidam com alunos cegos. O IPP possui, como sabemos, duas unidades orgânicas relacionadas com o ensino de música, de reconhecido mérito, o que significa uma grande mais-valia neste contexto a que nos remetemos: a ESE e a ESMAE. Os professores já mostraram disponibilidade em cooperar com qualquer tipo de situação que os ajude a dar resposta aos alunos cegos em igualdade de circunstâncias com os seus pares e muitos reconhecem a importância de se criar um acervo de pautas em Braille estão dispostos a contribuir com o seu esforço. Verifica-se, por exemplo, que, na Escola Superior de Educação do IPP Instituto Politécnico do Porto foram já adaptados manuais, métodos e estudos usados curricularmente, tais como:   

Unidade Curricular Música de Conjunto: estudos do Professor Jos Wuytack. Unidade Curricular Vocal: estudos de Vaccai. Unidade Curricular Flauta Bísel: estudos de Keuning. 9


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   

Unidade Curricular Piano: estudos de Czerny, L. Hanon, Schmoll, Bach. Unidade Curricular Guitarra: (por definir) Unidade curricular Linguagens Musicais: A New Approach to Sight Singing. Unidade curricular Ciências Musicais: História da música ocidental. História da música portuguesa.

Também a ESMAE poderá assumir um protagonismo especial no quadro de uma parceria estratégica: esta Escola tem mais diversidade e outras exigências e pode representar uma mais-valia substancial na construção deste projeto. Para além dos cursos de instrumentos, tem também o curso de Tecnologias Musicais com a Unidade Curricular Produção de Áudio; o centro poderá eventualmente auxiliar nesta área, com a formação em Produção de Áudio acessível, realizado no sistema operativo Windows (com DAW Sonar) e no sistema operativo Mac (com DAW ProTools) atualmente reconhecidos por serem portadores de eficazes recursos acessíveis. Preconizamos também contactos com o Curso de Engenharia Informática do IPP Instituto Politécnico do Porto, para o desenvolvimento de soluções informáticas relacionadas com a transcrição automática de pautas por scanner ou a criação de software adaptado relacionado com esta temática, eventualmente uma App para sistema operativo iOS ou Android, com visualização e possibilidade de edição de notação musical. Pretende-se que o normovisual, por exemplo, o professor, consiga interagir com o aluno cego diretamente e de imediato na sala de aula, editando e enviando o material pedagógico, por exemplo, o solfejo, o canto, a melodia, entre outros. Será útil aqui uma ferramenta de pesquisa e, em caso de preexistência, que seja utilizado o material do repositório do Portal. O ideal, no entanto, será que cada exercício proposto possa ser partilhado via App, enviando-o, dessa forma, diretamente para o repositório, o que lhe permitirá crescer substancialmente e consoante as experiências de estudos. Quanto ao utilizador cego, este, através de uma Linha Braille, por conexão Bluetooth, editará e enviará o material para a Aplicação. Dessa forma, demonstrará graficamente/visualmente o exercício em notação musical. Uma aplicação desta natureza poderá também contar com um acervo de letras de músicas (vocal) e com o recurso à edição e transcrição de tablaturas, com o objetivo de tornar os cursos de instrumentos de cordas mais acessíveis. Será também interessante ter a possibilidade de recorrer a exercícios e estudos sonoros com audiodescrição, por exemplo; para instrumentos de sopro e vocal, com descrição fonética, por exemplo, para obras musicais operáticas em Língua Alemã, Italiana, ou outra. Neste âmbito serão contactadas instituições, conservatórios, escolas públicas e privadas, etc., para se estabelecerem parcerias para a recolha de uma lista de métodos e estudos recomendados para futuro acesso e partilha.

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Recursos Físicos (equipamentos) Uma aposta forte na componente tecnológica pressupõe a existência de bons equipamentos e infraestruturas à altura da exigência dos serviços. Foi elaborada uma lista de recursos físicos e software correspondente ao que entendemos ser o estado da arte nesta área em 2016. No entanto, ninguém pode negar a o caráter efémero deste tipo de recursos, pelo que a lista aqui apresentada serve apenas como referência para um início de atividade. Um acervo atualizado pressupõe uma atenção constante a todas as inovações que vão aparecendo no mercado ou fruto de processos de investigação, mas essa é também a tarefa inerente à dimensão de investigativa, que também faz parte do próprio projeto.

Equipamento

iPad Pro

Linha Braille Leitor de ecrã Jaws. PC Windo ws PC (Mac) Mount Baten

OCR

Teclad o MIDI

Considera-se ser um equipamento relativamente acessível financeiramente, portátil, eficaz e fiável. Tem bom processamento, excelente solução quanto ao leitor de ecrã, além do sistema touchscreen. 40 Células, com conexão Bluetooth e cartão de memória. Conexão por Bluetooth ao iPad.

Software de acesso ao PC

939 €

3.200 €

1.200€

Computador; com sistema operativo Windows

1.260€

Computador com sistema operativo IOS

2.100€

Impressora Braille; permite editar e imprimir a Braille

2. 500€

Omnipage 18

137.35 €

Com colunas, para uso com os softwares, bem como para as aulas

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260 €


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Da Vinci

Lime Lighter

BME2 GOOD FEEL®, Lime and Lime Aloud Sound Forge

Ampliador de textos com vocalização e OCR. Dispositivo de leitura de partituras para usuários com baixa visão. Possibilita o aumento de partituras a tinta até 10 vezes o tamanho padrão com leitura a mãos livres Braille Music Editor versão 2 (com aquisição de no mínimo duas licenças). GOODFEEL® 3.2 Standard is actually a suite of software which includes GOODFEEL®, Lime, Lime Aloud and SharpEye 2

Gravador, editor e masterizador digital Professional de áudio de duas pistas mono (stereo.

5.200 €

2.995€

452€

$1,595

Audio Master Suite 2 $ 557,95

Magne music Sibeliu se Sibeliu s Access Sistem a de som

SOM

Cakew alk Sonar and Cake Talking

Caixa-pentagrama com símbolos da notação musical em relevo.

Version 7 accessible with JAWS

Harman sondsticks Home Theater 1500

Placa de som; 192 khz 24 bits profissional, Microfone; condensador cardioide, Headphones

80 €

899 €

799 €

500 €

CakeTalking 8.8 for SONAR 8.5 A Cakewalk SONAR Tutorial with Scripts for JAWS for Windows

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$349


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Quick Windo ws Seque ncer

Sequenciador MIDI

Free

ProToo ls

Standard software

SharpEye

Music scanning program

Garage Band

Multi-track recording

-

599$

205.58 €

4.99£

Algumas das tecnologias aqui apresentadas existem já no NAID. Umas mantêm-se relativamente atualizadas, outras estão a tornar-se obsoletas. Mas é inevitável encontrar uma solução integrada que tenha em conta os diversos níveis de compatibilidade entre as diversas tecnologias envolvuidas, o que passa por uma consulta mais aprofundada a técnicos especializados para construção de um caderno de encargos final. Sem querer, de modo algum, exacerbar as exigências de um projeto desta natureza, atrevemo-nos no entanto a apontar um orçamento inicial de 20.000 euros para uma solução final de instalação, em termos de equipamentos. Infraestrutura Como base física para funcionamento do centro preconizamos também a existência de uma sala específica com tratamento acústico, bem como o estabelecimento de uma cabine de captação de áudio, insonorizada e com tratamento acústico, para captação de vocais, instrumentos diversos, trabalhos de áudio descrição e produção de toda a multimédia educacional, jornalística (material de comunicação interna e externa) e criação de áudio livros, métodos e estudos. Tendo em conta que o centro funcionará nas instalações do NAID, apenas será necessário fazer algumas adaptações em termos de espaços e, eventualmente, proceder a trabalhos de isolamento e insonorização de uma zona própria para gravações. Material bibliográfico Para consulta e investigação está prevista a aquisição de algumas obras: livros, métodos/estudos musicais pedagógicos, etc e material pedagógico musical, trabalhos multimédia vídeo/áudio pedagógicos, informativos, promocionais e jornalísticos.

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Como referências básicas, a aquisição das obras: 

Manual de Musicografia Braille (online)

An Introduction to Music for the Blind Student Part I - Full Set (3 print and 4 braille volumes) 249$

An Introduction to Music for the Blind Student -Part II 2/3 179 $

Recursos Humanos

Os recursos humanos são uma componente fundamental deste projeto, especialmente no que diz respeito ao apoio aos alunos nos processos de transcrição de pautas e outra informação. Calculamos que, para este ano letivo, seria necessário ter uma pessoa a tempo inteiro a trabalhar no processo de transcrição e impressão em braille ou duas (ou mais) pessoas que assegurassem o mesmo trabalho em turnos alternado. Da experiência obtida de situações anteriores em que houve necessidade de acompanhar a aluna que frequentou o curso de educadores sociais, foi possível concluir que o processo é moroso, mesmo que apenas esteja em causa a transcrição dos textos apresentados pelos docentes para o acompanhamento das atividades curriculares. Estamos convencidos que o trabalho com pentagramas e musicografia será ainda mais exigente. Relativamente a este aspeto preconizam-se alguns apoios por parte de alunos com bons conhecimentos musicais que se disponham a integrar uma bolsa de voluntariado. No entanto parece-nos que uma solução desta natureza não será viável a médio e longo prazo, revelando-se pouco segura na medida em que poderá trazer alguma desresponsabilização ao processo, pelo facto de envolver atividades não remuneradas. Na falta de um programa de financiamento próprio proporcionado pelo IPP, poder-seiam revelar eventuais apoios ao abrigo de protocolos com a segurança social, ou mesmo no âmbito de projetos elaborados para este efeito, a apresentar junto do Instituto Nacional para a Reabilitação ou diretamente à Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência. Mas parece-nos incontornável a necessidade de contratar (pelo menos), uma pessoa com bons conhecimentos musicais no

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processo de apoio disponível para dar resposta em tempo real aos trabalhos que os alunos apresentarem na sequência das solicitações dos professores. Relativamente às componentes de formação, cremos que o centro poderá ser autossuficiente e alimentado pela atividade de formação proporcionada pelos próprios alunos cegos que queira exercer alguma atividade nesse sentido ou quaisquer outros contextos que se venham a apresentar. O centro irá também desenvolver contactos com pessoas ligadas a esta temática e que estão já referenciadas (Ana Carrulo, Jorge Gonçalves (Coimbra), Domingos Diogo), com docentes da ESE como Rui Ferreira, Rui Bessa, Jorge Costa e da ESMAE, como Pedro Guedes, José Carlos Barbosa, Francisco Barbosa, Francisco Melo, Nuno Ferreira (Treino auditivo), Michael Laurent, Dimitris Andrikopoulos.

Conclusão Pelo exposto, estamos em crer que a existência de um centro de musicografia braille na ESE, representaria uma mais-valia considerável em termos de: 

Resposta técnica e funcional no apoio (legítimo e legal) aos alunos com deficiência a estudar no IPP, que necessitam de estratégias de acessibilidade;

Aproveitamento e rentabilização de recursos já existentes no domínio das tecnologias de apoio (NAID), complementando-os com novas valências;

Abertura para novos públicos no ensino da música nas escolas do IPP, baseada em níveis de acessibilidade únicos a nível nacional;

Oferta formativa (inicial e contínua) numa área tão inédita como necessária, junto de pessoas com e sem deficiência e principalmente junto dos profissionais ligados ao ensino da música;

Promoção da empregabilidade dos alunos envolvidos (e outros) ao proporcionar um espaço em que podem transmitir os seus conhecimentos e preparar uma eventual carreira como formadores em MB;

Divulgação alargada da musicografia braille, contrariando a tendência que subsiste para o seu desaparecimento;

Oportunidade de desenvolvimento de atividades de investigação nesta área, valorizando o INED e os seus investigadores

O seu sucesso depende sobretudo do conjunto de sinergias que se consigam encontrar junto dos responsáveis pela instituição, dos docentes que venham a envolver-se e, claro, dos próprios alunos em causa. Mas depende também das condições materiais e humanas indispensáveis que sabemos serem de algum montante, mas que temos confiança que iremos encontrar.

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No entanto, um dos fatores mais relevantes é o do caráter efémero de muitas destas tecnologias, e ainda o facto de muitas se encontrarem ainda em fases de produção muito incipientes e que o desenvolvimento tecnológico irá trazer muitas novidades nos próximos anos. Por esse motivo, estamos convencidos que não chega criar o recurso, apetrechando-o de acordo com as necessidades sentidas neste momento, mas será preciso evitar a sua estagnação, caso se mantenham elevados os níveis de motivação dos seus participantes. Talvez por isso o seu modelo de financiamento deva passar por um orçamento anual que tenha em conta a conjuntura de cada ano letivo em termos do número de alunos com deficiência visual a frequentar cursos de música, ou das atividades que eventualmente venham a ter lugar no centro e que não sejam remuneradas. É um critério que ficará agora dependente da posição institucional que venha a ser adotada. Certo é que uma iniciativa desta natureza seria mais um sinal da já longa tradição do IPP, em termos de responsabilidade social e um fator de dignificação do seu papel no panorama do ensino superior politécnico nacional.

Janeiro, 2016

Rui Oliva Teles (Prof. Adjunto)

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