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Painel de Discussão sobre a Demanda
Quais mudanças vêm ocorrendo nos mercados de consumo e como elas afetarão as cadeias de suprimentos? O que podemos aprender com exemplos específicos sobre o compartilhamento equitativo de custos de iniciativas de soja responsável?
Compartilhar responsabilidades, estimular a demanda e se valer do ressurgimento do pensamento ecológico - esses foram alguns dos temas que surgiram na reunião do painel, que discutiu a demanda global por soja responsável no final da primeira manhã da RT14.
Charton Locks, Diretor de Operações da Aliança da Terra, deu início às discussões lembrando que a produção de soja é uma cadeia complexa que liga diversos atores, cada um com o seu papel a desempenhar na resposta e estímulo à demanda. Dos fornecedores de sementes e produtos agrícolas ao financiamento, tecnologia, crescimento, processamento e comércio, a cadeia da soja é complexa.
Ao dizer na conferência que este ano traria a “maior safra de soja responsável certificada pela RTRS até o momento”, Locks enfatizou que, com o desafio de uma cadeia de suprimentos complexa e uma mercadoria oculta para o consumidor final, a questão principal não é a oferta, mas sim a demanda.
Para a Charton Locks e a Aliança da Terra, o lado da equação que representa a produção muda e se adapta com rapidez, pronto para reagir a mudanças na demanda. Os “Nosso objetivo é permanecer no mercado por um bom tempo. Produção sustentável significa uma produtividade maior e melhor. Para garantir a prosperidade de longo prazo no setor, precisamos que a produção seja responsável.”
Charton Locks, Aliança da Terra
produtores que trabalham com a RTRS no Brasil produziram 4,9 milhões de toneladas de soja responsável e podem se orgulhar de seus 600.000 hectares de floresta preservada.
Wei Peng, participante do painel e Diretor de Sustentabilidade da Cofco Internacional, também se referiu à mudança climática como uma questão importante para o futuro. Como empresa que liga os agricultores ao mercado, a Cofco representa um elo importantíssimo da cadeia; de acordo com Wei Peng, para permanecermos no setor a longo prazo, precisamos agir com responsabilidade e investir em produção sustentável. Essa percepção é sustentada pelo fato de que a mudança climática já está causando um impacto negativo nos rendimentos.
A conferência ouviu em seguida que, da perspectiva das marcas de consumo, a demanda vem crescendo consideravelmente. Madeleine Eilert, Líder Global de Abastecimento Responsável de cereais, açúcar e soja da Nestlé, disse à RT14 que seus clientes, mais do que nunca, querem a certeza de que os produtos que compram foram produzidos com responsabilidade. A resposta da Nestlé a essa demanda é um padrão de compras responsáveis que reflete as opiniões dos clientes e se pauta pela transparência; a empresa só pode agir e mudar se souber a procedência dos produtos.
Segundo Eilert, a Nestlé, como uma marca respeitável, precisa ter certeza de que as matérias-primas que adquire são livres de desmatamento e livres de qualquer exploração dos trabalhadores. Para tal, ela delineou uma filosofia de colaboração e lembrou que o impacto só será real se trabalharmos juntos na cadeia de suprimentos. “Nossos clientes, como Nestlé, Unilever e Danone, querem fazer negócios com empresas que seguem políticas rígidas de desmatamento zero.”
Jaap Petraeus, Friesland Campina
Wei Peng concordou prontamente com essa visão; existe uma clara oportunidade de colaboração, especialmente em matéria de monitoramento e avaliação. Emma Keller, participante do painel e Chefe de Commodities Alimentares do WWF-UK, também concordou e foi além:
“Precisamos passar da colaboração e da troca de conhecimentos para ações reais e tangíveis”, ela disse à RT14. “Está claro que soja responsável ainda não é a regra; há muito mais a ser feito. Se houver uma demanda conjunta por um mundo melhor, então também precisamos de responsabilidades e ações compartilhadas.” Keller também ressaltou a necessidade de envidar esforços para evitar a redução da demanda. “Alguns consumidores demonizam o óleo de palma”, ela disse, “e nós absolutamente não queremos que o mesmo aconteça com a soja.”
Jaap Petraeus, Gerente Corporativo de Assuntos Ambientais e Sustentabilidade da FrieslandCampina, ressaltou que a FrieslandCampina usa 100% de soja responsável na produção de laticínios nos Países Baixos.
Para Petraeus, está surgindo um novo nexo, principalmente no mercado europeu, de redução de GEE, proteção da biodiversidade e transição para compras mais responsáveis de commodities como a soja. Para ele, considerando-se a pegada da soja, o setor de rações foi um ator crítico em termos de demanda. O desmatamento zero por 20 anos ou mais deve ser comprovado. A total transparência nas compras é essencial para comprovar as alegações de redução de GEE.
No painel dedicado à demanda dos consumidores, um tema examinado foi a comunicação com os consumidores sobre fontes mais responsáveis. Será que o branding pode agregar valor? Precisamos de um selo de soja responsável? Madeleine Eilert, da Nestlé, não se mostrou muito certa em relação ao branding, principalmente porque a maioria dos produtos não contém soja como ingrediente. Se houvesse um movimento global em direção ao consumo mais direto de soja, e não via carne e produtos lácteos, isso poderia mudar.
“Por toda a Europa, há um forte movimento em direção a produtos à base de plantas; em resposta a essa tendência, lançamos o nosso Incredible Burger”, disse ela.
Independentemente do uso indireto ou direto de soja, o painel manifestou a necessidade de maior transparência com os consumidores e, para aumentar a demanda, compartilhar mais histórias sobre o impacto positivo da soja certificada e responsável.
Madeleine Eilert, Nestlé
Charton, da Aliança da Terra, concordou plenamente. Ele disse que o trabalho da RTRS e outros ainda não foi comunicado aos consumidores. A história de um produtor rural que fez um investimento na produção responsável, que está cuidando das fontes de água, evitando incêndios florestais, tratando bem os trabalhadores e preservando a natureza - esta história é positiva, disse ele aos participantes.
E as histórias positivas agregam valor.
Wei Peng e Charton Locks foram além da situação europeia e destacaram que, embora possa haver mudanças nos padrões de consumo, no resto do mundo há um aumento global na demanda por carne bovina e produtos cárneos, além de um aumento na demanda por soja. Em termos de demanda chinesa, mais especificamente, Wei Peng informou que até agora eles não perceberam muito interesse de clientes chineses em soja responsável: “Simplesmente ainda não existe uma sinalização do mercado.” O painel disse que a posição do governo da China pode ser fundamental, assim como o fato de que, em 2020, a Conferência das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica será realizada em Pequim. Para Emma Keller, do WWF-UK, o papel dos governos do mundo inteiro continua sendo fundamental, pois têm um papel de capacitação na transformação das cadeias de suprimentos. No Reino Unido, uma nova mesa redonda sobre a soja, com apoio do governo, vem promovendo ações - principalmente entre os varejistas. As palavras finais do painel sobre demanda incluíram um lembrete de Wei Peng de que o pagamento por serviços ecossistêmicos ainda é uma clara oportunidade de financiamento futuro, que pode ajudar a virar de jogo.
Charlton Locks reiterou que 2019 terá o maior nível de produção de soja responsável até o momento e que os produtores precisam ver o mercado responder com um sinal claro de demanda.
PARTICIPANTES DO PAINEL
James Allen. Diretor, Facilitador da Olab & GTC (moderador) Charton Jahn Locks, Diretor de Operações, Aliança da Terra Wei Peng, Chefe de Sustentabilidade, Cofco Emma Keller, Chefe de Commodities Alimentares, WWF Reino Unido Jaap Petraeus, Gerente Corporativo de Assuntos Ambientais e Sustentabilidade da FrieslandCampina Madeleine Eilert, Líder Global de Abastecimento (Sourcing) Responsável de cereais, açúcar e soja da Nestlé