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Delfina da Cunha
(1791/1857)
Gaúcha de S. José do Norte, monarquista e autodidata, contraiu varíola e antes de completar 2 anos de idade ficou cega. Já escrevia aos 12 anos, primando pela métrica em seus poemas. Não gostava dos liberais farroupilhas e acabou metendo o pau em Bento Gonçalves. “Maldição te seja dada / Bento infeliz desvairado / No Brasil e em toda a parte/ Seja teu nome odiado”. Devido à Revolução Farroupilha (1835-1845), exilou-se no Rio de Janeiro, retornando apenas uma vez ao Rio Grande do Sul. Após a morte do pai, escreveu um soneto-apelo ao imperador, conseguindo obter uma pensão vitalícia de D. Pedro I, em reconhecimento aos serviços militares prestados por seu pai.
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SONETO Em versos não cadentes, oh leitores, Vereis os males meus, vereis meus danos: Da primavera as galas e os verdores Não brilharam p’ra os meus primeiros anos. Mesmo n’infância exp’rimentei rigores De meus fados crueis sempre inumanos, Que só me destinaram dissabores, Mil males revolvendo em seus arcanos. Sem auxílio da luz, que o sol envia, Versos dignos de vos tecer não posso; Desculpai minha ousada fantasia.
Com estes cantos meus, mortais,adoço A mágoa que o meu estro só resfria: Se mérito lhe dais, é todo vosso. SONETO Vinte vezes a lua prateada Inteira o rosto seu mostrado havia, Quando um terrível mal, que então sofria, Me tornou para sempre desgraçada.
De ver o céu e o sol sendo privada, Cresceu a par comigo a mágoa ímpia; Desde a infância a mortal melancolia Se viu em meu semblante debuxada. Sensível coração deu-me a natura, E a fortuna, cruel sempre comigo, Me negou toda a sorte de ventura ; Nem sequer um prazer breve consigo: Só para terminar minha amargura Me aguarda o triste, sepulcral jazigo.