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Eugênia Câmara
(1837/1874)
Atriz, poeta, dramaturga e tradutora nascida em Portugal, veio ao Brasil para uma turnê em 1859 e acabou morando no Rio de Janeiro, cidade onde veio a falecer.Sua estréia ocorreu no Ginásio Dramático, a mais famosa casa de espetáculos da época. Anos depois, em 1863, apresentou-se em Recife, no Teatro Santa Isabel. É ali que o poeta Castro Alves, ainda adolescente fica apaixonado pela atriz e vão viver juntos num bairro dessa cidade. A relação causa escândalo por ser o poeta 10 anos mais jovem, e pelo fato da atriz ter uma filha.Publicou Esboços Poéticos (1859) e Segredos D’Alma.
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SE EU FORA Se eu fora das auras a aura mais branda Quisera teus sonhos poder embalar; Se eu fora do sol um disco luzente Teus olhos tão meigos viera dourar. Se eu fora das aves a ave mais terna, Pousada em teu ombro, quisera cantar; Se eu fora dos prados gazela donosa Viera a teus pés o meu colo rojar. Se eu fora da fonte a límpida água, Na sede que sentes viria brotar; Se eu fora uma estrela, das mil que o céu tem, Teus passos noturnos quisera guiar. Se eu fora das vagas, a vaga mais mansa Quisera gemendo teus pés ir beijar; Se eu fora das selvas sanhudo leão, Iria ao teu jugo a fronte curvar. Se eu fora dos cantos, o canto mais doce, Meus sons de contínuo te havia vibrar, Se eu fora donzela, meu pomo vedado Em sonhos d’amor te iria doar!... Porém não sou aura, nem disco luzente, Das aves mais ternas só ouço o trinar! Que existem gazelas apenas o sei; Da água me sirvo p’r’a sede matar. Estrelas luzentes, se as canto é de longe... A vaga que ruge só posso adorar; Leões? Tenho medo lembrar-me que os há; Quisera não vê-los nem mesmo a sonhar. Agora dos cantos – oferto-te este! Saudoso...singelo...d’amor inspirado! Aceita meu canto: se virgem não é...- Há tanta donzela sem pomo vedado!..