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Alcina Carolina Leite
(1854/1939)
Poeta alagoana, dedicou-se ao magistério em verdadeiro apostolado. Seu pendor para as letras aparece muito cedo, e ainda adolescente começa lecionar pelo interior de Alagoas. Também desde a adolescência escrevia e declamava poesia. Só publicou um livro de poemas, Campesinas, em 1889, com prefácio do poeta Martins Junior.
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MEU ANJO ENGANADOR Meu anjo inspirador aos lábios nega Os mimosos sorrisos da ventura, Densa núvem a fronte lhe carrega Da pesada tristura!
Meu anjo inspirador é macilento Como um raio de luz crepuscular; Tem um mundo de dor c sentimento No seu lânguido olhar.
O puríssimo seio não lhe cobre Um manto rutilante de esplendor, Mas lhe brilham gentis na face nobre As pérolas do amor.
Meu anjo inspirador não se espaneja Aos vívidos clarões do rei do dia, — Profundo cismador — mas livre adeja Na escuridão sombria.
Não lhe vibra a voz o raio ardente Da eloquência que os ânimos seduz; Co’o flébil sôpro a viração plangente Suas falas traduz.
Meu anjo inspirador não se enfeitiça Dos perfumes das rosas matutinas; — Êle quer mais à palidez mortiça Do lírio que declina.
Meu anjo inspirador é grande, imenso, Como um abismo de amor e de amizade! Vive no meu coração — profundo, intenso, E chama-se — Saudade!...