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Auta de Souza
(1876/1901)
Potiguar, de família classe média, mulata, teve a vida marcada pela tuberculose, que vitimou sua mãe quando ela era uma criança de três anos. A mesma doença mataria seu pai, seu avô e a avó Dindinha, que foi sua mãe de criação. Auta de Souza conviveu durante dez anos com a tuberculose, mal sem cura na época, que a mataria aos 24 anos de idade. Publicou poemas na revista Oásis, nos jornais natalenses A República e A Tribuna, que reuniam os mais prestigiados escritores da época. Seu primeiro e único livro, Horto, foi publicado em 1900, quando ela já era um nome nacional. Tanto que o prefácio foi escrito por Olavo Bilac, o mais famoso poeta do seu tempo.
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MEU PAI Desce, meu Pai, a noite baixou mansa. Nem uma nuvem se vê mais no céu: Aninharam-se aqui no peito meu, Onde, chorando, a negra dor descansa.
Quando morreste eu era bem criança, Balbuciava, sim, o nome teu, Mas d’este rosto santo que morreu Já não conservo a mínima lembrança. A noite é clara; e eu, aqui sentada, Tenho medo da lua embalsamada, Corta-me o frio a alma comovida. Se lá no Céu teu coração padece, Vem comigo rezar a mesma prece: Tua bênção, meu pai, me dará vida! TUDO PASSA Aquela moça graciosa e bela Que passa sempre de vestido escuro E traz nos lábios um sorriso puro, Triste e formoso como os olhos dela...
Diz que su’alma tímida e singela Já não tem coração: que o mundo impuro Para sempre o matou... e o seu futuro Foi-se n’um sonho, desmaiada estrela. Ela não sabe que o desgosto passa Nem que do orvalho a abençoada graça Faz reviver a planta que emurchece. Flávia! nas almas juvenis, formosas, Berço sagrado de jasmins e rosas, O coração não morre: ele adormece...