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Adalgisa Nery
(1905/1980)
Poeta carioca, foi jornalista, prosadora e política. Casou aos 16 anos com o pintor Ismael Nery, que era seu vizinho. A partir daí viveu no sofisticado meio intelectual. que incluia Murilo Mendes, Jorge de Lima e Manuel Bandeira. Tres anos após a morte do marido, casou-se com Lourival Fontes, diretor do DIP e, mais tarde, embaixador no México. Aí tornou-se amiga de Frida Kahlo e Diego Rivera. Treze anos depois separou-se, publicou livros de poemas e foi eleita 3 vezes como deputada estadual no Rio, pelo PSB. Em 1969 foi cassada. Em 1970 viveu de favor, algum tempo, na casa de Flavio Cavalcanti, em Petrópolis. Em 1976 foi para um asilo de velhos onde morreu esquecida em 1980.
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ASPIRAÇÃO Desejo de desmontar meu corpo E atirá-lo aos quatro ventos do mundo, De enfrentar a luz do sol Até que seu calor pulverize meus ossos, De atirar-me no oceano Até que o batimento de suas águas Transforme meus cabelos em algas perdidas, De gritar contra as montanhas Até que o eco se ausente de minha voz, De matar a consciência de mim mesma Até que eu possa viver. MISTÉRIO Há vozes dentro da noite que clamam por mim, Há vozes nas fontes que gritam meu nome. Minha alma distende seus ouvidos E minha memória desce aos abismos escuros Procurando quem chama. Há vozes que correm nos ventos clamando por mim. Há vozes debaixo das pedras que gemem meu nome E eu olho para as árvores tranqüilas E para as montanhas impassíveis Procurando quem chama. Há vozes na boca das rosas cantando meu nome E as ondas batem nas praias Deixando exaustas um grito por mim E meus olhos caem na lembrança do paraíso Para saber quem chama. Há vozes nos corpos sem vida, Há vozes no meu caminhar, Há vozes no sono de meus filhos E meu pensamento como um relâmpago risca O limite da minha existência Na ânsia de saber quem grita.