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Dora Ferreira da Silva
(1918/2006)
Poeta paulista, tradutora e editora, desempenhou essas atividades com rara lucidez, seriedade e consciência. Traduziu poetas fundamentais como Rilke, Holderlin, Saint-John Perse. Traduziu, também, trabalhos de Jung. Fundou a revista Diálogo, junto com seu marido, o filósofo Vicente Ferreira da Silva. E criou a revista Cavalo Azul, para difusão da poesia. Como poeta publicou 10 livros, ganhou 3 vezes o Jabuti e recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Admirável ser humano, seus poemas contribuem para o enriquecimento da nossa literatura e de nós mesmos.
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NASCIMENTO DO POEMA É preciso que venha de longe do vento mais antigo ou da morte é preciso que venha impreciso inesperado como a rosa ou como o riso o poema inecessário.
É preciso que ferido de amor entre pombos ou nas mansas colinas que o ódio afaga ele venha sob o látego da insônia morto e preservado. E então desperta para o rito da forma lúcida tranqüila: senhor do duplo reino coroado de sóis e luas.
NOTURNO II Nossos olhos nos pertencem — não o dia. Amor não nos pertence nem a morte. Apenas pousam na pérola mais fina. Desce o luar No flanco de rios precipitados folhas se alongam caules estremecem.
A noite já desfere seu punhal de trevas.