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Helena Parente Cunha
(1931/2020)
Poeta mineira, é professora, pesquisadora e crítica de literatura. Ainda estudante tem textos premiados em um concurso. Fundou, com amigos, a revista literária Meia-pataca, lá em Cataguases. Mais tarde, anos 50, faz o curso de letras clássicas na PUC do Rio de Janeiro. Em 1952 estréia em livro com Algum Dia. 30 anos depois, o segundo, “Entretempo”. Mais duas décadas sem publicar, quando em 2005 lança “Dialeto do corpo”. E, na sequência, num só ritmo, “Água polida”, 2007; “50 poemas escolhidos pelo autor”, 2008; “Prefácio de vida”, 2008; “Os bichos da vó”, 2008; “Entre desertos”, 2014. e Alinhavos do Tempo, 2019.
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EXERCÍCIO DE VIRTUDE N. 06 Nunca me perguntas, amado, por que a virtude, acostada ao acerto da gentileza e da arte, penetra em mim como lavor do mundo ou como flor amarrada a seu jardim. Os rumores da noite, punhais de suor e flama, são nossos corpos estendidos nesta cama de forma rara. São mais que torrões de ternura desmanchando-se na levedura das mãos. São mais que sarças de abraços que não adormecem nunca mesmo que a tesura do tempo lhes dê violentas mordidas. Esta sou eu e por quantos me veem atormentada pelos guizos de amor e do aroma que ferem as carícias com outros lamentos.
DEITADA JUNTO A OUTRA Ato as trilhas perfeitas e infensas do enigma às magníficas arruaças da memória e guardo nos confins dos trastes velhos a face endoidecida de meu poema.
Espalha-se na vegetação dos signos o mesmíssimo prefácio de vida preso ao punho que refaz e renova o flanco aberto e exposto da palavra que se deita junto a outra.