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Astrid Cabral
(1936)
Poeta amazonense, radicada no Rio de Janeiro, é professora e tradutora. Foi dos primeiros docentes da Universidade de Brasília, de onde saiu em 66 em consequência do golpe militar. Oficial de Chancelaria do Itamaraty serviu por 20 anos em Brasília, Beirute, Rio e Chicago. Detentora de inúmeros prêmios: dois da Academia Brasileira de Letras. Publicou 16 livros, dos quais 2 no exterior. Já representou o Brasil em 4 encontros internacionais de poesia nos EUA e Europa. Viúva do poeta Afonso Félix de Sousa, é mãe de 5 filhos.
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A CASA NO BREU Faz tanto tempo que deixei aquela casa. Confesso: não sei mais da estrada nem da chave. É como se ficasse em cidade sem nome, em outro planeta ou nem existisse mais.
No entanto não sei como de vez em quando algo me arrebata e me arrasta ao seu regaço de breu. Tudo o que eu ouço é o vôo cego dos morcegos no vão das telhas e uma torneira pingando sem parar. Será o choro de minha mãe na sala ou serei eu mesma em pranto? CORAÇÃO COURAÇADO Tempestades em oceanos ou em copos d’água e não peço a Deus balsas barcaças nem praias. Só um coração couraçado. Desses que no lombo das ondas vão sem tombos o convés em festa.
Iluminado.
BAINHA ABERTA Crava em meu corpo essa espada crua. Quero o ardor e o êxtase da luta em que me rendo voluntária e nua. Meu temor é a paz pós-união: desenlace derrota solidão.