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Marly de Oliveira
(1938/2007)
Poeta capixaba, viveu no Rio de Janeiro e foi professora de língua e literatura italianas e de literatura hispano-americana. Publicou, entre outros, os livros: Cerco da Primavera (1957), Explicação de Narciso (1960), A Suave Pantera(1962), A Vida Natural e O Sangue na Veia(1967), Contato e Invocação de Orpheu (1975), O Mar de Permeio(1998) e Uma vez, sempre (2000). Quando jovem estudou língua italiana e filologia românica na Universidade de Roma.E seus poemas escritos na língua de Dante conquistaram o poeta Giuseppe Ungaretti: “É um milagre, simplesmente poesia em um italiano luminoso.” Marly foi casada com João Cabral de Melo Neto.
MINHA FELICIDADE VEM DE QUANDO ESTOU SÓ Minha felicidade vem de quando estou só e ninguém me interrompe no poema, essa espécie de transfusão do sangue para a palavra, sem qualquer estratagema. A palavra é meu rito, minha forma de celebrar, investir, reivindicar: a palavra é a minha verdade, minha pena exposta sem humilhação à leitura do outro, hypocrite lecteur, mon semblable.
O SANGUE NA VEIA (XXV) Escrevo; logo, sinto, logo, vivo, e tiro-lhe ao viver a indisciplina que o espraiaria, que o dispersaria, e dou-lhe a minha forma comedida, a que tem o tamanho de um amor que eu guardo, que não gasto, não disperso; amor que se concentra em dura pérola, não pétala, não isto que é um excesso, pois que pode voar; o que me fica de tudo o que acontece e não se altera, de tudo o que acontece e me escraviza, e do que escravizando me liberta. Escrevo; logo, sou quem se domina, e quem avança numa descoberta.