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Lucia Fonseca
(1940)
Poeta carioca, formou-se em história natural e trabalhou como pesquisadora em genética. Começou a escrever regularmente no início da década de 70, publicando poemas em suplementos literários de alguns jornais. Invenções do Silêncio (1980) é seu primeiro livro de poemas. Rede Fluvial (1983) veio na sequência e recebeu o prêmio Emílio Moura da Sec. de Cultura do Estado de Minas Gerais. O Paraíso era Antes(2008) é seu último livro. Antes dele, publicou em 2007, Cantares.
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NOTURNO II Eu creio em noites Rainer Maria Rilke
Aqui é noite. Definitiva noite como dentro de um fruto. Um peixe que se percebesse só no oceano talvez sentisse medo. E no entanto é só que ele nada o mais das vezes. Aqui é noite. Apalpo sementes no ventre escuro do sono. Tudo é tão quieto, calado, enrodilhado em pelúcia. Que longas, as gestações! O mendigo, o palhaço, o príncipe, o bêbado, o triste se fazem assim, no escuro — só mais tarde, sob as luzes serão coroados. Nessa hora, entre todas, a mais silenciosa, imóveis dormem sonhos e poemas — sementes na bruma. Ouvir-lhes o silêncio, o sono, confiar — eis tudo.
ESTRADA Por todas as curvas do caminho há sempre um paraíso perdido, um amor abortado um podia ter sido aberto em flores vermelhas. Adiante o que é: áspera dormida estrada branca.