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Anna Maria Fernandes
(1942)
Poeta mineira, autodidata, dedicou-se à prosa de ficção e à poesia, com textos que fogem ao padrão de seu tempo, construídos com muita imaginação e qualidade. Deixou obras inéditas: Rua sem elevadores, 8.511.965 km2 de omissão, PAN-Pressão atmosférica normal, Mulher setentrional, Ensaios-Menina e Paródias do gigante líquido. Morreu no Rio de Janeiro em 2008.
MENINA Nº 3 Menina gozado não? o que aconteceu ao vagalume. Bastou, como tu disseste, uma leve batida e ele morreu. Menina trágico não? que ele tenha morrido porque nenhuma batida é leve. Mas vê menina, esta luz dele é só dele. Até agora mesmo pois mesmo agora ele já te pertence. Cuidado, cuidado ao pegá-la. Ela clareia Menina. E é sempre assim. A luz ilumina. A luz ilumina. A luz ilumina. A luz ilumina. A luz i A luz é dele mas não é por ele. E sempre ele soube. A luz é sempre para os outros. Que importa que eu ou ele seja cego? Estas luzes, a minha e a dele, não são por mim ou por ele. São por ti Menina. E ainda agora – e será sempre assim – eu as darei a ti. Mesmo que não voltasses a ser séria, morena e doce eu as daria a ti porque quando eu cismo de dar eu dou Menina. Nem que seja a primeira coisa que eu faça e a última que eu dê eu dou Menina. Não arregales os teus dedos pálidos pois que ficas vesga. Junto as minhas luzes às do vagalume e as baixo para ti. És tão pequena Menina! No entanto, eu não as dou por bondade ou amor. Eu as dou porque são minhas apenas. E cuidado Menina que elas queimam se não são por ele e elas ilumiam se não são por mim e elas obrigam se são por ti Menina. Minha Menina de mil cabelos curtos e duas luzes. ...............era uma vez um vagalume que morreu não porque AS MULHERES POETASperdeu a luz............ NA LITERATURA BRASILEIRA 101