Canto de Prometheu

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Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

JOÃO DE BARROS

CAI TO

DE

PROMETHEU

.SEARA

19 4-4­

NOVA »


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da CANTO DE PROM ETHEU


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

r

liragem de

600

exemplares

numerados, sendo

100

do mercado.

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Bi R blio ep t ro ec du a G テァテ」 u o er Pr re oi iro bi da

JOテグ DE BARRO S

Canto de Prollletheu

ツォSEARA NOVA . LI SBOA


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da Aos meus a migos da Grécia


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da J


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da ~ Prometl1ell ••• r OubOll o f ogo do Céll para o dar homens. ,Júpiter , enojado do roubo dêste mortal , nlfltuloll ti MercLtrio qlle o amàrrasse 110 M.onte Cáu­ CllSO, junto do llUI!', onde llmo águia lh e comia o fígado, 110 passo que lhe in re nftscendo • •

fiOS

Dlclondr io da Fdbllla


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da Can to ele P r o methe u

As mulas tl(io, as oudas voltam. ­

as ol/das rulam no mar t'riste . . .

Ou ­

das do lu ar, o11das do 1ilmpo, sâo bet-jo I)

apelo, sào cadeia-de esptmw

branco anseio...

íe7J8

e

!rIas Prornetheu ,

agrilhoado, mas P r omcthete, supH­

úado, - mio oê as ondas nem as ouve.. • Nem mesmo vê o abraço róseo, - o longo

abraço que as Nereides - tecem

'fIO

ar,

abrem no ar - para abraçar e conso­ lar -

sw desesplfYO e sofrimento . ..

11


Sonha sàmmtcl somente

110

P,'olllctheu, -

sonha

resga te - das longas ho,'as

de tortura - da sua jebre sem acçâo .. , Sanita {1sse 1'lIstfl11te ,'edenfo ,', cm que, 110110

aos

C;tt qtlC

foi

Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

jal'tidas as algemas, lI'ará de irmãos homms - a lus do

1'01lbar />or(l que sejam mais Imma1los,

e ti-telhar saibam conqtu'stcu' - êsss Ft! ­

tllfo lHlIbiciollado, 2sse filtllro que os

liberte de erros e culPas do passado . ..

~

G'iar a vida não é lIada, se em

cada

n O~la

cnatura nâo resplandece o

eterno bem - o orvalho puro e maN­

Ha/ da consciência que alvorece . . .

Prolllctheu suu/Ja essa vitoria. êssc

momeJ/to ds tri1l11'/01 -

eSSa alvorada

gloriosa. essa 11lfmlu1 que lIão tem fim ... E as ol1das vão,

(J

as ondas I'olam ­

'na sm proftludo c largo ritm o, como c,nbaZmrdo, piedosas, o sonho ardeNte

que as 1-uio vê - o sonho altivo que as

não otwe .. , SonIto que voa mais aZbn,

alcm do mar. atem do Tempo, aUm da

Vida que se sspra;a - além da Morte

que O lIão

12

leva .. ,


Ma s o Destino, ving ativo, - v eja e castig a quem o v ençe . . . E é violência, ti crueldade,

e

punição im::t:)idvel - que

P rolH etheu sofre em r evolta ,,,

Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

E mn callto her óico, um g rito de

altua, ttm g rito alado, um grito

5;0.'> 0 ,

canto,

da sua bóca sai mtão, . , U'I-IL I:Y1'(O,

aH­

Um

já diz endo sua espe­

ral1 ça im orredoiya - em s i, nos hOf1tt1!S

e lIa vMa .'

Não l. ..

Monstro da altura, gu ela hiante

Que lento e lento, in stante a instante,

Bebes o sangue, a seiva mõça Do meu veemente coração;

Destino adverso! erma tortura,

Fúria do ceu, que me desterras, Além do amor, além da vida,

13


/

Nesta perdida,

Nesta humilhada escravidão,

- Não vos pe'rtenço, não sou vosso,

Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

Nem dos grilhões que me cativa m,

Nem da candente, aguda flecha

De mão injusta despedida,

Que me feriu e fulminou!

- Não, não sou vosso, não me entrego

À vossa injúria se m perdflO !. ..

Negras marés, tufões do oceano, Que perseguis e me assaltais;

Meu temporal cotidiâno,

Quedo jamais,

- Que voz repele, e afronta, e cala

f:sse tumulto de ódios cegos,

Que ruge e clama e ofend e em vão?

Um grito só, que o peito exala,

E a voz dardeja e enleia

° mundo,


Grito de amor em mim presente,

Perenemente,

Um grito só,

Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

Um claro grito:

-Não! .. .

Bôcas do mal, rugi, uivai

Contra o meu sonho e o meu anseio!

- Nem um lamento, ne m um ai

Me sairá do íntim o seio ...

Nem um soluço, nem um pranto

Adejará da minba dor...

Rugi , clamai, uivai... Eu canto

U rna certeza sempre em flor !

Todo o meu corpo é uma chago, D esmaia, sangra, desfalece . ..

Mas não desmaia, não se apaga

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A acesa lé da minhi! .pfe,,-e ...

- Devora mais, monstro da altura,

Fogo do céu , vem -me abrazar 1. ..

Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

Minha humaníssima ternura

Já não aprende

a agonizar'

- F auces ra sgantes da maldade,

Grilhões da Morte, não vos temo ,

Vive cQmigo_.Q...bem su pref!)o

D...l@a

s~p'~ma

liberdade!

Nenhuma baba peçonhenta

Sequer a pode macular:

Água de luz me dessedenta,

Beijo de luz me vem sarar ~

- A dor requei",a? O sangue corre-I

Q ue importa a cinza do que ardeu'!

~

sou

a verdade, que não morre,

Sou a justiça, que não morre,

Sou a certeza e a liberdade,

16


I

Q ue vence a morte e abriga o lar .. . Um Deus feroz rojou n,! laE!a

Seu doce e

cas~.Juci!ar. ..

Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

I

Ergo nas mãos a ténue chama

- Inútil raiva o consumia,

Em vila, em vila me condenou!

A noite escura fez-se dia,

A terra inteira madrugou!

, Um lume de oiro acorda o espaço

I Num vôo cálido de sóis ...

Ó luz, que trouxe em meu regaço,

Luz que abracei com tanto amor, Como irradia, a cada passo,

O teu imenso e ingénuo ardor!

- Brami, uivai, fú rias do vento,

Nuvens de fogo, fulruinai!

Meu corpo ce luto e sofrimento ?

Meu corpo , enfim, sacrificai!

17


-

Sou alma, e fôrça, e pensamento

-

Que não duvida e não se

e~onde,

E paira, e canta na amplid:l.o ...

Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

E à vossa bárbara vindita

Claro, responde,

Sereno grita:

-Não!

Passam os homens, foge a vida,

E sempre, sempre no ho.rizonte,

F l~.g~.J! ~urora inextillguida

Que diadema a minha fronte ...

Perene alvor de Inteligência,

Manhã lustral da Consciencia,

Ei-Ia a nascer e a dealbar!

- Suspira o vento, o céu e o mar ...

- Deuses e povos, em torrente,

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Homens e turbas, em torrente,

Caminham já, sôfrega mente,

Para o meu sonho as resgatar ...

Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

E o mar, e o céu, e a terra, e a gente

São primavera a germinar. ..

- Misera carne, desfalece,

Presa do mal, morta na dor. ..

Não emudece a minha prece .. .

Nada receia o meu amor ...

t:sse que eu sou não morre: - vive,

Vive, revive,

e im o rtaL ..

Não há grilhão que já cative

Minha esperança triunfal!

E longe ou perto, onde uma alma,

- Lutando e amando, inquieta ou calma­

Se redimiu e engrandeceu,

Nela disperta e enfim palpita,

19


- Glória infinita!­

o sonho eterno, o nome eterno,

Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da

A vida eterna

De Prorn etheu !. ..

Calou.-se

li VOIS

do acorrentado ...

/lIas SlIa frollte, qu.e se aUcia, a dor

6 ()

mal desafiou, uma ves mais ...

E oudas do mar} e ondas do

T011l­

po, , () vento bravo. e aves e 1tuvens fugi­

dias - t tudo qua"to v6a f! corr'l de mar

a

maJ '~

de palo a palo,

d~

mUe"ário

fi

milffldrj o, de gcraç40 a ge1'açã o. - le~

va11l u voz

de Promelheu

J

levam_~c!t

grito de rotesto, e de 1'cvolta, e de VCI'­

.d!!!!!:. - aos horizontes mais IOllgillquos,

ao

cora~~o tf.L.hO fflCIl! -8

-

PfJJ!.!Ls.!.f!.!!....' .110

silêncio e 1/a agonia do seu mais vivo

e Amdo auclo,-sofrem a dot' e a s.âo • .•

20

opr~~-


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da Acabou de se imprím i r em Lisboa, na IfGráfica Lisbo­ nenseJl, Rua da Rosa, dllzell­ tos e trintA e oito , aos oito de Ma.io de mil no'9tcentos e Quarenta e quatro


Bi b R lio ep t e ro c du a G çã u o er Pr re i oi ro bi da •


Bi R blio ep t ro ec du a G çã u o er Pr re oi iro bi da


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