INTERVENÇÕES NA PAISAGEM Os trabalhos que aqui serão apresentados visam poder ser expostos no espaço do Festival Safira, estando, portanto, sujeitos a qualquer tipo de alteração ou de qualquer outra interpretação que possam ser tidas como necessárias por parte da organização. As três intervenções que se seguem, distintas na função mas coerentes na ideia de valorização da paisagem alentejana, são o nosso prezado contributo no esforço de poder valorizar ainda mais o vosso já tão interessante espaço.
O PALCO
«O limite é […] algo que faz sentir a sua presença física, ou que simplesmente se enuncia subtilmente ou se intui inconscientemente»
Pinto, Jorge Cruz (2007) O Espaço Limite: Produção, Recepção e Arquitectura
O PALCO Para o artista, o palco faz parte do seu universo, é uma das bases para a realização da sua obra. Trata-se do lugar onde pode ser exposto e partilhado o resultado final do seu trabalho. Conhecendo o conceito e o espaço do Festival Safira, onde existe bastante proximidade entre a obra e o espectador, a ideia para esta intervenção parte desse pressuposto. Tenta-se através de “O Palco” conjugar e enfatizar estes elementos num imaginário único, aproximando-os ainda mais. Paisagem, palco e obra diluem-se num só. Por conseguinte, a materialização desta ideia passa por criar uma base onde podem acontecer as actividades e espectáculos, em que a delimitação deste espaço do palco articula-se com o território, ou seja, o sítio vem estabelecer as directrizes geométricas deste espaço. Este adapta-se e molda-se consoante as possibilidades da paisagem. A diferenciação do palco é feita apenas pela materialidade, ficando posicionado ao mesmo nível da cota do solo, dando a continuidade desejada sem que haja uma quebra entre o espectador, a obra e a paisagem. Portanto, trata-se de um limite que se enuncia subtilmente, sem que com isto seja preciso que se imponha tridimensionalmente.
Jogo da Macaca: Definição espaços feito por uma linha
de
Ciclovia: uma marca que separa atmosferas
A ÁRVORE
«Então, todos compreenderam que a memória da árvore nunca mais se perderia, nunca mais deixaria de os proteger, porque os poemas passam de geração em geração e são fiéis ao seu povo.»
Sophia de, Mello Breyner Andresen(1987) A Árvore
A ÁRVORE Uma paisagem é muito mais do que aquilo que vemos. Ela comporta em si toda uma história oculta aos nossos olhos e a memória de todas as transformações que deram origem a um lugar. A árvore é o elemento resistente da paisagem alentejana e os seu muitos olhos assistem às transformações em seu redor. Através de “A Árvore” pretende-se a criação de uma outra árvore, a genealógica, a da própria região. Através de cubos suspensos, onde se apresentam imagens de momentos históricos e marcantes da região, “A Árvore” mostra no seu “fruto” as diversas faces da cultura escondida pela planície. Por entre folhas e ramos cresce assim um museu etnográfico de memórias esquecidas, de histórias passadas e de pessoas. A árvore é o suporte, os cubos os frutos da memória.
A SALA
«Vê-se melhor quando não se vai para ver nada, quando os olhos procuram tudo o que possam achar. E encontram tudo.»
Cardoso, Miguel Esteves (2012) Jornal Público
A SALA As linhas definem as formas, os muros definem o espaço. Tendo como propósito a contenção do elemento natural para contemplação enquanto obra de arte, A Sala comporta a identidade da paisagem, o chaparro. Este espaço é criado pela necessidade de “aprisionar” o sobreiro, essa pequena parte da paisagem, como forma de reconhecimento do elemento central, deixando vislumbres e memorias do que está fora, mas dando-se a conhecer a si mesmo. A Sala é assim um momento da paisagem. É a compreensão de uma das suas partes. Sendo o sobreiro uma grande presença na paisagem, vemo-lo sempre como parte integrante de um todo e nunca como objecto individual. Encostamo-nos a ele, deitamo-nos debaixo dele, usamo-lo, mas nunca o vemos, viramo-nos sempre para a paisagem. É esta a premissa da intervenção. A separação do sobreiro dos restantes, através de muros de palha, não pretende esconde-lo, mas sim “idolatrá-lo” isoladamente, dando a conhecer as suas características num momento de contemplação. As paredes brancas que acolhem o sobreiro, e que criam a ambiência desejada de salamuseu, fazem com que o observador se foque no “objecto” central, que apesar de fazer parte da paisagem, nunca é visto de forma singular. N’A Sala ele pode ser contemplado até aos seus ínfimos pormenores, num ambiente de relaxamento.
João Duarte João Silva Nuno Colaço Rodrigo Duarte Rui Paulino