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Dar e Receber apoia uma centena de famílias lagoenses

Tendência de crescimento dos pedidos de auxílio acentuou-se nos últimos meses, com vários agregados da classe média a recorrer a este projeto social.

de apoio, pois esta situação é influenciada por diversos fatores económicos e sociais”, refere Joaquim João.

A própria União das Freguesias sente estes aumentos, quando compra os produtos para entregar aos mais carenciados, sendo necessário ajustar a verba destinada a este projeto. No Natal, houve uma exceção, tal como noutros anos, com todos os 189 inscritos a receber um cabaz para passar a quadra natalícia com um pouco mais de conforto.

Critérios rigorosos, mas humanos

Quando alguém precisa de ajuda e se dirige a este espaço tem de comprovar a sua situação de carência com diversos comprovativos. Os critérios são rigorosos, mas cada caso é visto através de uma perspetiva mais humana do que matemática.

Joaquim João descreve o quão vital é o apoio social prestado pela União das Freguesias de Lagoa e Carvoeiro

// Ana Sofia Varela

Há pessoas que todos os dias precisam de ajuda para combater as dificuldades que sentem na alimentação, farmácia e no pagamento das despesas. Outras precisam de uma refeição quente. Há quem não tenha dinheiro para chegar ao fim do mês com rendimentos suficientes e as condições mínimas de sobrevivência.

É no Espaço Dar e Receber (DER), da responsabilidade da União das Freguesias de Lagoa e Carvoeiro, com apoio da Câmara Municipal de Lagoa, que encontram uma ‘mão amiga’, disposta a auxiliar em tempos difíceis.

Apesar de ser uma valência de essencial importância, a maioria dos cidadãos, desconhece que, dentro daquelas quatro paredes, há uma ajuda preciosa para mais de uma centena de agregados familiares e uma dezena de pessoas à beira da exclusão social.

“Este é um trabalho importantíssimo, de grande interesse social, mas não é muito visível. É tão relevante como arranjar uma calçada, porque trabalhamos para seres humanos”, começa por enquadrar Joaquim João, presidente da União das Freguesias de Lagoa e Carvoeiro.

Há duas formas distintas de ajuda. Uma delas é a entrega de um cabaz mensal de produtos, o pagamento de contas, como água, gás e luz, e a ajuda na farmácia, que a autarquia assume o pagamento consoante o caso.

“Não circula dinheiro para os inscritos. Nós assumimos a despesa.

No caso dos medicamentos, por exemplo, quando damos o ‘ok’, as pessoas vão levantar a receita e nós depois pagamos diretamente à farmácia. Para o cabaz mensal somos nós que compramos os produtos”, explica o responsável.

Este auxílio nas contas é, atribuído, a cada dois meses, quando comprovada a carência.

A outra forma de apoio é a alimentação do dia para pessoas carenciadas, algumas das quais, inclusive, à beira da exclusão so- cial. A autarquia recolhe as refeições que sobram nas escolas e, a cada dois dias, os alimentos que o supermercado Apolónia dá, para entregar no Espaço DER. Neste momento, são cerca de 15 pessoas, que encontram ali, talvez, a única refeição que conseguem fazer. Resguardam-se à entrada, com as árvores pela frente, que, por vezes, escondem aos ‘olhos dos outros’ a ‘vergonha’ de quem se vê obrigado a pedir. Não que a precisem de ter, mas alguns sentem-na.

Perfil dos inscritos

No total, o DER registou 99 atendimentos em outubro, abrangendo 222 pessoas. Em novembro subiu para 104 processos e 230 pessoas.

As características das pessoas apoiadas refletem a sociedade atual. Na maioria são idosos, reformados, casados ou pessoas que estão sozinhas. Há ainda, segundo a autarquia, poucas famílias com até dois filhos, e algumas com mais de quatro.

No caso dos mais idosos, a pensão não chega, muitos vivem dependentes de medicação diária, e não conseguem comprar a comida necessária. Já os casais com filhos, não têm muitas dificuldades em fazer face às despesas, ainda mais se estiverem a pagar crédito à habitação.

“Tem a ver com a inflação, com a guerra, com o custo de vida. Vai sempre haver pessoas carenciadas e com necessidade

“Ao contrário do que as pessoas possam pensar, aplicamos critérios rigorosos. Ainda assim, não somos polícias e nem é a nossa função andar a fiscalizar cada um. A nossa função é ajudar com um critério o mais humano possível”, explica Joaquim João.

“Estou farto de dizer: ‘O que me importa a mim ajudar dez pessoas, se, daquelas, duas não estão mesmo em situação de forte carência? O que importa é que ajudamos as restante oito. A verdade é que somos o mais rigoroso que conseguimos para que não haja aproveitamento”, justifica o autarca. Aliás, os inscritos apoia-

Realidade social alterou-se nos últimos anos

“A sociedade alterou-se completamente. No passado, era impensável, depois de ser reformado, não ter uma vida independente. A maioria das pessoas da minha geração casou nova, ia trabalhar e tornava-se independente. Hoje, já não é assim. Um casal com dois filhos, mesmo com formação e a trabalhar, não consegue, muitas vezes, evitar a ajuda dos pais”, pois os encargos são muito ‘pesados’ na atualidade. Além de muitos portugueses, há ainda a realidade paralela dos imigrantes. No Espaço DER há também muitos inscritos de nacionalidade brasileira e dos países de leste.

mento dos pedidos de ajuda já na classe média. O que não significa, porém, que não haja cruzamento de dados com as restantes instituições do concelho que apoiam, como a Cáritas, para que sejam evitadas situações de duplicação de apoios ou abusos.

Pobreza envergonhada dos têm de apresentar com regularidade comprovativos de rendimentos, até porque a situação de cada um pode melhorar ou piorar, tendo as ajudas que ser ajustadas.

Além dos que aceitam ser ajudados e procuram a União das Freguesias, há o ‘boca a boca’ ou quem não queira ser auxiliado. “Nesse caso, não vale a pena insistir. É um direito que se lhes assiste. Temos quatro situações diferentes: quem não precisa, mas tem o ‘vício’ de pedir, os que precisam mesmo e não têm problema nenhum em vir cá, os que precisam mesmo, mas não vêm porque têm vergonha e os que não querem mesmo ser ajudados”, distingue Joaquim João.

Qualquer pessoa pode bater ‘à porta’ da autarquia, mas há também amigos de amigos que acabam por, em conversa, chamar a atenção para uma situação ou outra mais precária. Nesse caso, o autarca está atento e tenta chegar à fala com as pessoas.

Mais do que dar alimentos E por vezes, em conversa, percebem também que o problema até nem será tanto a carência alimentar. Atrás de um diagnóstico, pode haver uma vítima de violência, um isolamento, uma simples necessidade de apoio psicológico e, nesse caso, a União das Freguesias consegue encaminhar essas pessoas para as entidades com responsabilidade nessas áreas. O projeto vai mais além do que o simples conceito de ‘Dar e Receber’.

No entanto, os rendimentos não são os únicos dados tidos em conta para o cálculo que é efetuado no Espaço DER. “São contabilizados também os compromissos, os pagamentos e encargos que cada inscrito tem”, reforça o coor- denador desta valência. Ou seja, a pessoa até pode ter um rendimento não muito baixo, mas se apresenta diversas despesas básicas e de primeira necessidade que mostram que está a passar mal, é efetuado o diagnóstico, os cálculos e a situação é apresentada ao executivo para uma decisão superior.

A verdade é que, na maioria das vezes, os processos são deferidos, pois a tendência é a de um au-

Breves

Espaço DER Situado na Rua Visconde de Lagoa nº 3, o Espaço DER conta com um gabinete de atendimento, uma sala de espera, uma zona de armazenamento, uma zona de separação das refeições confecionadas. Funciona com o apoio da Câmara Municipal de Lagoa. Está aberto para atendimento, das 9h00 às 16h30.

Centros Sénior também são iniciativa da autarquia com o Banco Alimentar, que envolve também a Segurança Social e que auxilia outras 60 pessoas por mês, em média.

Outras das valências que a União das Freguesias de Lagoa e Carvoeiro promove são os Centro Sénior nas duas localidades. “Quando assumimos a autarquia só tínhamos em Lagoa, mas fizemos questão de abrir também em Carvoeiro, alargando a vertente. Há duas animadoras socioculturais e um coordenador. O projeto conta ainda com um forte apoio da Câmara Municipal, que ajuda de forma incondicional, tal como no Espaço DER”, concluiu Joaquim João.

Esta instituição estatal efetua diagnósticos e referencia os agregados familiares que cumpram os critérios para ir levantar géneros alimentares, uma vez por mês, no Espaço DER, no âmbito do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC), antigo Fundo renciadas de Lagoa e Carvoeiro, mas também da zona de Porches.

Ajudar pessoas, ajudar comércio local Os cabazes que a União das Freguesias compõe integra bens adquiridos no comércio e nos produtores locais. “Somos nós que adquirimos os produtos para as nossas famílias. Compramos fruta, vegetais aos produtores, e outros bens essenciais, de linha

Por sua vez, muitos são aqueles que são apoiados e que, ao mesmo tempo, acabam por vestir a pele de voluntários no Espaço DER, pois é disso que se trata: de ajudar o próximo.

Protocolo com o Banco Alimentar Além do apoio da União das Freguesias, custeado pelos ‘cofres’ da autarquia, há ainda um protocolo

Europeu de Apoio a Carenciados (FEAC). A autarquia desloca-se ao Banco Alimentar para ir levantar os alimentos que, depois, são distribuídos às pessoas listadas pela Segurança Social.

Esse cabaz, por vezes, tem alguns produtos em falta, pois depende dos alimentos doados ao Banco Alimentar, por isso, a autarquia tenta colmatar essas faltas, esclarece ainda o coordenador do DER. Este programa tem servido para apoiar famílias ca- branca, nas pequenas superfícies da freguesia”, explica Joaquim João. E há rotatividade para que todos sejam ajudados nesta economia circular.

Já houve também no passado, em 2014 e 1015, duas campanhas de angariação de alimentos organizada pela União das Freguesias, nos supermercados locais. Foi uma ação de solidariedade de proximidade, que levou muitas pessoas a se voluntariarem para ajudar.

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