4 minute read

EB1 de Lagoa ganhou uma Orquestra Orff e um Coro

Cerca de uma dezena de crianças ingressou nesta nova experiência musical, que conta com o apoio da comunidade educativa.

// Ana Sofia Varela

Advertisement

Os sons que preenchem o pátio do Convento de São José, numa tarde de ensaios do projeto da Orquestra Orff e Coro da Escola Básica 1 de Lagoa, remetem para a melodia de Fernando Tordo.

Primeiro, tocam por grupos de instrumentos, um de cada vez, mais tarde, os sons isolados tomarão forma e, quando estiverem em conjunto, remeterão para uma música complexa, que fala de amor, alegria e tristeza. É aí que se junta o coro a entoar a letra de ‘Estrela da Tarde’, da autoria de José Carlos Ary dos Santos.

O misto de sentimentos ainda é ‘puro’ para quem está por detrás dos instrumentos. São crianças entre os nove e os dez anos, guiados por Luís Calado, o professor que decidiu avançar com este projeto, fora do horário de trabalho. A atividade não é obrigatória e integra os alunos do quarto ano que quiseram inscrever-se.

O docente ensina as áreas de educação sonora e arte de sonorizar na EB1 de Lagoa, por isso decidiu avançar com uma iniciativa dentro da sua área. Para isso, escolheu instrumentos de percussão com notas musicais, mais conhecidos por Orff. É o caso do xilofone ou do timbale, explica ao Lagoa Informa.

“Estes instrumentos são alvo de uma exploração sonora posterior à da voz e do corpo, pois são como uma extensão e continuação do corpo. Não faz muito sentido querer uma aproximação ao som, logo com estes instrumentos. Isso seria o equivalente a começar a construção de uma casa pelo telhado. Infelizmente, acontece muito isso, no início da exploração sonora”, compara.

Voltando àquela música ensaiada, os sentimentos amor, alegria e tristeza, podem ainda remeter para a liberdade, como consequência lógica e consciente da vida humana, defende. Foi com este sentimento que o sin-

LAGOA E OS LAGOENSES

Hélia Santos gelo grupo se apresentou perante uma casa cheia no Clube União Portimonense, no final de abril. E foi com orgulho que os familiares assistiram ao concerto com esta e outras músicas.

Corinne Ferreira, mãe de um dos alunos que integra este projeto, diz ao Lagoa Informa que o recital foi muito impactante para quem assistiu e “um momento muito bonito que surpreendeu os pais. Fiquei muito feliz por ver o

Emissões clandestinas - Parte I

Nascidas de forma alternativa, as rádios pirata tomaram de assalto os anos 80 e tornaram-se ponto de encontro dos jovens que viviam, naquele espaço de criação e experimentação, o fascínio pela rádio e o direito à liberdade de expressão.

O concelho de Lagoa também foi porto de abrigo para as emissoras clandestinas que operavam sem licença do governo, e que muitas vezes eram interrompidas pela polícia, que apreendia os equipamentos.

Um grupo de jovens tinha encontrado numa arrecadação no topo de um prédio na Rua Infante de Sagres, no Parchal, o seu posto emissor, e o que tinha começado por ser uma brincadeira que apenas chegava ao outro lado da rua, ganhava cada vez mais ouvintes, despoletando a curiosidade aos que se ligavam para lá das rádios convencionais.

Assim surgia na banda FM, a Voz do Mar - Cooperativa de Rádio Parchal, e Luís Encarnação, José Salvador, Carlos Diogo, Paulo Ataíde, Luís Sebastião, José Francisco Rosa, Francisco ‘Parafuso’, Isabel e Helena Florindo, eram a equipa de algarvios que se revezavam nas emissões.

As ondas de éter radiofónico iam ganhando longitude e com uma grelha de programação mais consistente começaram a disponibilizar o número de telefone, dando início à febre dos discos pedidos. Não o tinham no estúdio, quando o Carlos recebia a chamada na sua casa, corria rua acima para dizer o nome da música pedida.

Os vinis tinham sido preparados pre- meu filho a participar e por ver que ele se sentia orgulhoso por ter conseguido”.

“É de louvar a forma voluntária como o professor se entrega a este projeto. Fora do horário de trabalho e com um esforço muito grande para que os pais colaborem. É uma entrega genuína, o que hoje em dia é muito raro”.

Quanto à Orquestra e ao Coro, enaltece que esta é uma oportunidade para que alunos de diferen- tes turmas se liguem à música. É provável que “de outro modo não o conseguissem fazer. Ou porque não lhes é possível fazer parte de um grupo musical, ou aprender um instrumento ou estar no conservatório. Esta é uma forma de ter contacto com instrumentos diferentes e até pouco usuais”, acrescenta ainda. O sucesso na estreia poderá levar a que o projeto seja apresentado ao público mais vezes. viamente, sabiam o que as pessoas mais queriam ouvir, mas se houvesse alguns requeridos inusitados procuravam na coleção ordenada alfabeticamente. Não usavam gravações, era em direto e isso tornava-os únicos.

Tinham neles o gosto imenso de transmitir a alegria e a frescura do melhor que se podia ouvir. Não viam a rádio como um trabalho, mas sim como um prazer de quem surfa as ondas da música alternativa.

Por tudo ser feito na fervura do momento, por vezes havia episódios mais engraçados que ficaram na memória dos locutores:

“Tínhamos um vinil riscado, já o sabíamos e estávamos atentos. Porém, naquela noite fomos jantar e deixamo-lo a rodar. Os Táxi eram uma banda fenómeno e de tantas vezes passarmos a música “TVWC” ficou riscado precisamente no momento em que a letra diz “muda para o segundo”. O que resultou numa corrida dos ouvintes ao canal 2, sem perceberem o que se estava a passar”.

Findava o ano de 88, as rádios pirata tinham emergido na última década e o território nacional era um mar de corsários. As obrigatoriedades que vieram com a aprovação da lei da rádio, em julho e posterior decreto-lei de regulamentação, obrigaram a declarar a 24 de dezembro desse ano a suspensão de todas as emissões não oficiais, e assim instalou-se o silêncio.

“Naquela noite de Natal não sabíamos o que esperar, nem quando voltaríamos a ligar os microfones. Desativei o emissor, fechei a porta e tudo ficou em suspenso”.

This article is from: