Rui Serra
Escritos de um outro dia
Rui Serra
Escritos de um outro dia
Colophon: Titulo: Escritos de um outro dia Autor: Rui Serra Copyright © 2011 Rui Serra Revisão: Luisa Janeirinho Capa e Contra-capa: © Rui Serra . Todos os direitos reservados
1.ª Edição, Fevereiro, 2011
www.ruiserra.com
Escritos de um outro dia Rui Serra
2011
Para a minha filha
Quando tens amigos formas uma banda. Quando est谩s s贸, escreves. Marilyn Manson
Prefácio Numa altura em que a vida se vivia com um sentimento mais profundo, nasciam palavras dos ecos da noite, sobrevoavam sons que soletravam quereres, e daí nascia uma poesia que transmitia a revolta, a paixão, o ódio e o amor, arrancava dos lábios palavras, eram escritas a fogo e guardadas em folhas de ouro. Nasciam tempos, histórias, um turbilhão de momentos num lago de sentimentos que de vez em quando se agitavam, e transbordavam para o papel em forma de grito, revelando a alma humana em todo o seu esplendor... Nesta altura, revela-se o conteúdo desse grito, ilustra-se com cores o que restou e dá-se de beber o conhecimento. Nesta altura, publicam-se memórias e escritos, fragmentos de uma vida de hoje e de ontem, a poesia do amigo Rui, a preencher o resto do vazio, a pôr palavras nas lacunas do que não foi dito.
Nelson Simão
Escritos
de um outro dia
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Rui Serra
Catarina nascimento, luz, vida rosto de criança, ternura no olhar sensações inimagináveis um sorriso depois prazer . estar . fazer . AMAR FELICIDADE
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Escritos
de um outro dia
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Sigo Sigo Moribundo neste estranho Mundo velho Levo Um sonho Uma guitarra, e este livrinho de oraçþes.
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Escritos
de um outro dia Eu conto-vos Era noite, ela vestia de seda.
Fotografia de uma deusa de jasmim. Chovia no poço do meu quintal. Víamos a chuva; terceiro andar do paraíso. Outono sem quimeras. Eu, praguejava com a caneta, ela, vendia sonhos na garagem. Ordem desconcertante, leis sem sentido, livres. Partilhamos agora da mesma cama, sim… mas… como irmãos, vocês sabem. Falamos de tudo um pouco. No Verão, acampamento sem vida, vida sem sentido. Fui obrigado a fugir. .19
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Longe Na escuridão da noite procuro-te mas só, encontro o vazio frio da solidão, porque estás em outro lugar... longe de mim.
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Escritos
de um outro dia Amanhecer Ravina Brisa Suave Calor, do sol poente Rochedo EspĂritos descrentes LĂĄgrimas Sofrida melancolia Amanhecer.
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Ideal Estou só chove o rádio liberta notas de uma composição musical. Lá longe, quem eu desejo perto. O vento está frio, deambulo pelas ruas da maledicência. Afogo as mágoas no absinto da vida, fumo um cigarro. Penso no passado, nas amarelas tardes de Outono, nos passeios à beira-mar, e vejo o que perdi, em busca de um ideal que ainda não encontrei.
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Escritos
de um outro dia Só Sento-me Só Dia e noite O vento sopra lá fora Velhas árvores expiam-me Folhas caídas, mortas A relva Manto de veludo verde Sento-me Só Nesta cama Baú de mil sonhos Uma leve melodia Paira no ar Sento-me Só Somente comigo E penso Quão diferentes As coisas poderiam ser. .23
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Nada tenho Nada tenho a perder Os amigos já partiram Ritual Penso em solidão, na tristeza Mas um sonho continua vivo Tento prosseguir nesta terra Já sem dono Agora na estrada, percebo Os homens - seres incorrectos Neste jogo, onde se perde e se ganha Estão as almas e as vidas por um fio Talvez hoje, talvez mais tarde TU Irás descobrir, o que ainda tens a fazer Não te preocupes, continua. .24
Escritos
de um outro dia Ontem
Ontem Sim, ontem um anjo falou e disse-me: - Deixai que vos pergunte, porque vos atormentais ? - Podeis dizer que sou novo, que sou ignorante, mas estou só. - Quereis que acredite ? - isso creio. - Mentis e enganais mas vejo para além dos teus olhos, e a tua felicidade está para além do mar.
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Viagem Percorro milhas p’ra te ver Perco-me por entre As densas árvores Da floresta Volto a encontrar-me Pérfidas amazonas Atacam No limiar da floresta De novo a sensação De estar vivo Deambulo p’lo rio De asfalto Rumo à pirâmide Irei só Para terminar A minha viagem.
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Escritos
de um outro dia A cidade Existo no tempo e vejo a cidade sem abrigo nua e fria e fico aqui s贸
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Solidão Perdido na tristeza, afogo as mágoas na solidão dum Gin. E penso em ti.
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Escritos
de um outro dia Amigo Acordo agora de um “Sonho” Vi-te, adorei teu ser
sonhei que te queria, para sempre AMIGO. Sonhámos ser felizes temos algo em comum, em ti confio, a ti ajudo, Confiança. Não me deixes, p’ra nunca esquecer. Muito para vir discussões: mil tudo nos fará rir. Pouco te disse muitos pensamentos pairam no ar. O que por ti sinto não morreu A nossa amizade não vai findar. .29
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Tempo Fim de tarde um dia ido A cascata do tempo não pára desfile lento desfile de uma vida apressada. A noite cai lá fora na mesa, no meio da quieta agitação dos livros a escuridão é ainda maior. Silencioso entrego-me ao “saber “ Respiro o desespero Ambiciono parar o tempo e partir para lado algum Deixo-me vaguear por entre a escuridão.
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Escritos
de um outro dia Desvario Na escarpa do monte O piar da loucura Deslize suave Sobre os pântanos O cavaleiro impõe regras Com a ponta da sua adaga E a batalha começa Ao longe Murmúrios de crianças Nas ameias do castelo
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Quimera Momento efémero Ondas de oiro Suave no toque Leveza insustentável Quimera Noite Sangue de veludo Ocultas-te Para te poderes encontrar E fazes de um não o valor da vida
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Escritos
de um outro dia O que sou Ando pela rua Escura, nua e vazia Acompanhado pela lua E por esta minha agonia Da noite, eu sou o Senhor Mas, porĂŠm eu suspiro Minha imagem causa horror Porque sou um
vampiro
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Vê Estrelas alinham-se como sinais de néon, apontando na direcção da rua cósmica. Procura a verdade na mente de um louco, girando em direcção aos seus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . desejos deformados.
mais
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Escritos
de um outro dia Sigo em frente Percorro a cidade sem nome por entre a multidão à procura de . . .
Sem rosto nem emoção Transponho o muro e caio no abismo percorro as vielas sem rumo nem destino Abalo entoando uma canção de corpo pendente Possuído pela sombra do vício presente.
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Mar Recostado na areia Oiço notas de uma composição musical O mar agreste acaricia as rochas . . . nuas de sentimento A gaivota plana no tempo Tempo de outrora Silencio moribundo numa noite de . . . E se o mar chorá-se?
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Escritos
de um outro dia A chamada A noite cai lá fora na mesa, à volta dos livros a escuridão. Estou sentado, uma cama, um telefone tentei telefonar-te a linha estava ocupada estará a dormir talvez doente Não! O telefone está cortado não pagou a conta. De novo à mesa recomecei o livro entrei na noite.
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Reparei agora na felicidade Reparei agora algo existe para além de ti para além do teu ser cadáveres moribundos danças ofegantes rituais procura choro desmaio loucura será que existes ou é pura imaginação talvez um dia reencontro com a lua vontade de amar sim não abstracção em frente uma só finalidade Felicidade. .38
Escritos
de um outro dia Certa noite Certa noite Murmúrios Talvez algures No próprio quarto Ou noutro tempo Em parte alguma Isolado em si mesmo Ou na mesa do café Fica o esplendor de um rosto A ternura de uma flor E num diário A escrita Nostálgica Moribunda E a noite é imensa
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Insulto Percorro toda esta avenida As folhas rodopiam Um passo em frente Um guarda Silêncio Agora sentado Faço um cigarro O olhar atento do guarda Uma tocha levanto-me Levo a garrafa Dou um gole Soletro palavras ao sabor da brisa Um poema Um ideal Uma vida Sigo Dou outro gole Bem alto Bem do fundo Grito “ ESTOU VIVO “.
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Escritos
de um outro dia Boneca Calcuteia a areia Perde-te no mar Boneca de trapos
Continua p’las dunas Vives num ambiente campestre O orvalho rola . . . p’la face E a rosa abre-se Para o mundo
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Uma noite Do pouco da minha miséria, trago esta túnica que irei estender a teus pés. Tudo recomeça e eu deixar-te-ei. Leva-me para a cama ama-me embriaga-me. Amanhã não serei mais eu.
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Escritos
de um outro dia Delírio Fui para o deserto delírio de emoções cerimónia de índios mescalina a dor visão do futuro vagueio sem destino outros mundos outras culturas solidão exaltação do espírito êxtase velocidade sigo em frente pela estrada do excesso.
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Dor Nesta escuridão, eu me arrasto. Meus olhos feridos já mal vêem Só Vagueio sem esperança. Voltei agora a partir para o outro lado. Encontro agora quem sempre desejei. Encontro agora a paz que sempre procurei. Frente a frente Eu e a Liberdade.
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Escritos
de um outro dia Tu Excedi em tudo os meus desejos os meus sonhos e eu crescemos lado a lado Vivo em intensa desolação
A pensar quando é que vais chegar Amo-te Com tanta pureza, tanta paixão Que peço que te ame sempre e mais uma vez Amo-te no seu perfeito sentido teu corpo e essa airosa face A tua silhueta no parapeito de ferro, na noite a meditar Um luzente anoitecer A lua na paliçada Quando no meu quarto eu leio e escrevo. .45
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Um avivar de memórias Noite Passado Presente próximo Um avivar de memórias Uma estante empoeirada Um livro mais O telefone toca uma suave melodia Por entre as sebes o vento uiva Um avivar de memórias Um toque prolongado Impedido À noite Um véu Cetim Um deslize de prazer Uma mulher Um sonho.
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Escritos
de um outro dia Jamais
Jamais esqueci a tua face Neste Mundo, que foi Mundo outrora Apesar de tudo Procuro-te Apesar de tudo Desejo-te Porque te procuro e desejo? Porque te odeio e amo? Dois corações que se unem. Um sentimento que nasceu no passado Um sentimento seduzido por ti Um sentimento de amor Numa lágrima de esperança Ainda agora Uma lanterna brilha no vale.
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Nostalgia do
SEQUESO
Cai-me
o
silêncio
mente,
mescla de nostalgia
e
na uma
solidão
invade-me a alma, vozes silencio-
suplicam o perdão. Corpos acorrentados à r e a l i d a d e , olhos molhados de lágrimas perdidas, tormento e ódio, amor, perdão. sas em vão
N
a vigília da noite uma luz ténue surge lá no fundo, gestos provocantes pairam na sil-
hueta do mundo,
ventos tempestuosos derrotam
quimeras distantes, hoje pintadas de c i n z e n t o . Sociedade imunda, profanada por
cultos ignorantes
que hoje se abrigam sob um manto de fantasias enubladas. Águas mansas de um lago, onde cisnes se banham, águas de lágrimas vertidas
porquê
pelos tempos. Ouço tua voz na brisa dos pinhais, onde minha alma vagueia... .48
?
Escritos
de um outro dia Mulher Vem
caminha agora na minha direcção segue a luz princesa do oriente entra agora na minha tenda saboreia os prazeres da vida gozai agora os prazeres nesta noite de luxúria saboreia o sexo delicia-te mulher, forma de arte paixão fogosa olhai-me porque vieste? no obscuro corredor tempo olhai em teu redor as luzes feriam-me agora a retina tomai agora a minha benção escrava quem és tu, sim, tu, mulher do povo .49
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Negras sombras Esta sombra que me devora Que me asfixia E não Não me deixa Ser mais eu Este negrume da noite Que me consome E não Não me deixa Partir Este estado de ansiedade Que me corrói E não Não me permite Voar Este ser que sou
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Escritos
de um outro dia Se Destino, Sem rumo Ando à Deriva Noites, Gélidas Na essência do ser Procuro, O meu caminho na bússola da vida.
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Passado Leve é a pena que em minha mão sustenho Poeta Escritor Visionário de outro além profecias concretização miragens de outros tempos passado.
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Escritos
de um outro dia
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Noite Quarto fechado escuro (mas n찾o muito) uma luz incenso odor forte o(dor) s창ndalo No exterior chuva frio um pedinte gabardina velha Janela (de volta ao quarto) uma face rosada (acende-se a luz) Princesa. Rainha. Mulher.
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Escritos
de um outro dia Serás feliz? Percorro todo o vazio Afago as mágoas Ao sabor de um gin Sorrio-te à socapa E beijo-te E tu? Serás feliz?
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Wai ting
Sóbrio caminho pela calçada. Bêbado, caio num copo de absinto, e nadando até à margem... faço-te um sinal e tu nem me ouves... grito por ti e tu nem me vês... amo-te e tu que fazes? Que faço eu também aqui à tua espera.
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Escritos
de um outro dia A passagem
Abri agora a porta Realidade passei para o outro lado tento... tento desesperadamente, em frente uma selva viagens passado inexistente renasci agora das cinzas. Envolto na armadura debato-me contra o mistério dos poderes ocultos. Tudo isto não tem nexo desde o princípio onde juntos cavalgámos Agora Viajo só e triste tento alcançar o poder dos espíritos e seguir os rituais da natureza. O Xamane erguesse e proclama o novo estado de espírito. O Rei olha-me surge espanto só benfeitor, mal amado choro. .57
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Idade O vento sopra por entre as folhas que vão caindo lentamente, o chão vai ficando como uma esteira dourada, a pouco e pouco as árvores vão-se desnudando, deixando a descoberto, todo aquele tecido que as envolve num mistério tal. Envelhecer! Sim é um pouco isso, deixar de parte as máscaras que nos encobriam desde a juventude, e tornar público, aquilo que realmente somos, deixar ver as rugas de um tempo ido e recordado, deixar transparecer a pura essência que realmente somos. Apreciamos num quadro as fissuras da tela, marcas de um tempo que teima em passar. Se assim é, porque é que não aceitamos o nosso envelhecimento, como fissuras em tela antiga? Talvez porque é aqui, que pela primeira vez somos realmente nós, sem sombra de dúvida, talvez porque, simplesmente o receamos. Talvez tenhamos receio de olhar de frente o espelho da vida e ver que não voltamos mais a ser crianças. .58
Escritos
de um outro dia Liberty A relva manto de veludo estendido Burgueses - gordos sebentos bebericam o sangue de Deus Orgias, sob cúpulas douradas Loucos velhos avarentos diversão de crianças No declínio da noite uma criança descalça Almas sem valor Uma ave morte dor lágrimas sofrimento Olho o filme . . . de repente Uma porta medo uma luz, diaaa. .59
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O Desconhecido Parti à procura, percorri todos os bares da cidade drogas, alucinações, sexo debati-me com o povo fui aprisionado pelo poderio das massas. Guardas olham-me à passagem vociferam um dialecto desconhecido. Nesta tumba estou . . . livre. Aqui, eu sou eu discípulo da verdade e dos prazeres. Depois fui para a ilha indígenas novamente - sexo, bebidas, drogas. E assim passaram dois anos. Percorro agora esta avenida em procura do que ainda não encontrei. Eu, por min quem sabe, tomarei outro rumo para . . . o outro lado . . . para a terra. Era cá uma tripé mas eu amava-a mesmo assim. Estava preso era um fora-da-lei sem crimes, nem pecados apanhei um taxi e segui na noite rumo ao desconhecido. .60
Escritos
de um outro dia Non essere triste
Non essere triste alla mia partenza Presto per essere di nuovo insieme Secco il tuo volto, ti liberi di questa sofferenza Pensate al bene e nel male Io sono con voi sempre nel mio cuore Niente e nessuno ci separerà Anche se non mi vedete io ci sarò Anche se non sento che sarà nelle vicinanze Mi manchi, ma la paura non Saremo insieme quando verrai Voglio che tu sai che ti amo Che sono sempre presenti Non mancano mai di vivere Live anche per me Perché. . . Io sarò sempre con te
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Nostalgia O véu da noite cai e traz consigo a nostalgia. Olho para as estrelas e fecho os olhos. Desfruto do meu Marlboro. Meia-noite... um dia mais... O segundo cigarro acabou por se consumir entre os dedos. Olho no espelho, e vejo a imagem de algo que já foi alguém. Abstraio-me de tudo, e entro no meu mundo onde me sinto triste e solitário. Tudo é confuso. Tão incerto. Sabe-se apenas que se quer. Que se quer muito. Censuro-me, mas não me decido entre ti e a dor.
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Escritos
de um outro dia Ideias Lรก fora o vento, Uma vida Uma alma E um dia eu serei livre Para lรก do oceano eu vou no mar eu navego E eu vou brincar contigo esta noite E tu serรกs livre.
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A avenida Sigo pela avenida, os cafés recolhem as mesas. Esplanadas frias, já sem ninguém, já sem sentido. Chuis fazem cumprir a lei com varinhas de condão. Na janela, um rosto imagem distorcida Uma carabina um tiro no frio da noite uma imagem gélida Sigo em frente pela estrada de asfalto rumo à indiferença.
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Escritos
de um outro dia Sonho
Era noite. Na escuridão, cintilavam pequenas estrelas. Abriam-se e fechavam-se os olhos castanhos daquele rosto alegre. Ouviu-se, no meio daquela noite quente, o miar de um gato perdido! no momento, caíra em cima da minha cama uma violeta, tal qual os olhos, aqueles olhos sensuais que me prendiam! Fui convidado a amar... Perdi o senso do lugar, o senso do momento e perdi-me na noite... E amei!... Amei aqueles lindos olhos pestanudos, aquela boca de lábios quentes, aquele corpo suave, excitante e carente! E pensava em não acordar; não queria perder aquela paixão, nem imaginar que estava a sonhar. Aquilo não era um sonho, nem tão pouco fantasia! Finalmente descobri e gritei de alegria! É a pura realidade. Voltando-me para o outro lado, agarrei na almofada e adormeci, a pensar em ti.
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Rui Serra
Lágrimas Nos meus lábios tocam lágrimas. Lágrimas que meus olhos vertem sobre v e r d a d e s c r u a s e insuportáveis. Passo os dias a recordar-te e aos momentos que passámos “ juntos “. Momentos tão especiais em que eu era capaz de jurar que me amavas. Eram os teus olhos sem fim que o diziam... era tanta a mentira nas tuas palavras e nos teus carinhos... era, e é tanto o amor em mim. Mais uma quimera . Mas tu partiste... partiste dizendo que não me amavas. Que julgavas tê-lo sentido, mas não. E agora cabisbaixo e triste divagarei constantemente com meus olhos, como duas .
nuvens nostálgicas
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Escritos
de um outro dia Desejo Desejo Angustia Vontade de ... O brilho esvai-se Uma melancolia suave Repouso Desespero Uma suplica Uma dรกdiva Uma esperanรงa Um novo dia e Deus existe
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Sem regresso aqui AGORA que partis-te a explorar o deserto e eu fiquei só AGORA que partis-te em procura do rapaz de preto Sento-me neste quarto onde só me restam paredes, e oiço o tráfego lá fora O teu fantasma imagem de um outro tempo persegue-me por todos os lados Deixa-me num sono profundo Deixa-me para poder escrever poesia e libertar as pessoas dos seus limites Já agora atravessa para o outro lado transpõe a porta o Patrão espera-te. Não te resta muito tempo que a viagem é longa. .68
Escritos
de um outro dia Especulação
Entras-te hoje nos meus domínios, deusa de esmeralda, profanadora do oculto Que ganhas-te? Que perdes-te? Um mundo; a felicidade Para lá do muro de coral A sereia deusa do prazer Tu mulher sim, tu mulher Que me abafas o espírito Que me atrocidas o coração Juntos velejamos ao sabor de uma maresia húmida Ideias imagens de desvario Antes pôr do sol em teus olhos Alegria Amizade Amor Futuro .69
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Hoje Hoje, nesta tarde quente em que o sol teima em queimar e me faz suar o corpo. Hoje, nesta esplanada onde eu e tu nos encontramos. Hoje, quero poder sussurrar ao teu ouvido aquilo que sinto por ti. Hoje, quero que tu me queiras como sempre me quiseste. Hoje, quero que me saibas ler sem ter de te falar. Hoje, n達o sei definir o que sinto. Hoje, quero ficar assim. Hoje, como ontem contemplo o teu ser. Hoje, amanh達 e para todo o sempre quero estar ao teu lado.
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Escritos
de um outro dia
Tremo constantemente ao pensar no que vejo e sinto, nada mudou ou isso penso pelo que vejo.
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A noite passada Sobre a grande mesa A luz de duas velas O telefone tocou Interrupção Lá fora, situação delicada Choro - Desespero Mais tarde o jogo Truques da vida Conversa, mais conversa No limiar da noite - O filme Acordo Um choro Duas mortes Um repousar incompleto Manhã Um outro dia .72
Escritos
de um outro dia Um sonho Permaneço hoje aqui nesta promíscua cabana onde tu e eu nascemos Existe um objectivo meta final, fim O FIM
Praia ofuscante noite alimentação sistemática do desregramento de todos os sentidos Modificadores de consciência levam-te pela estrada de coral até ao palácio da sabedoria Aí vive O Rei Homenzinhos de fatinho escarlate acampam nos teus jardins privativos em frente à tua mansão Sais porta fora, pelos fundos Criados vestidos de madrepérola fazem-te vénias ao passar Um sonho, acordas, é dia. .73
Rui Serra
É certo É certo que por vezes Pode ser tarde Mas será tarde? Ou talvez cedo É certo Que se procura algo Um momento Um instante Um tempo perdido Mas mesmo assim Mesmo que tarde pareça Talvez o não seja Mesmo que tudo esteja perdido Talvez não É sempre possível sentirmo-nos bem Inútil? É inútil discutir É inútil o gesto que leva à ruptura O que importa? O que importa é o impulso Que de nós sobressai E nos leva a dizer: Sejamos realistas, exijamos o impossível. .74
Escritos
de um outro dia Caminho
Sente-se o caminhar sobre ladrilhos dourados despe-te, ama entra, a chuva é intensa vive, ama, amar-te-ei no jardim, cravos murchos pétalas caídas. Leva-me, deixa-me navegar posso-te amar, tenho-te desejo-te, depois tudo passa. Queria ser como tu adorar-te-ei até ao fim enfrentarei minha sombra, serei alguém, viverei para te proclamar, aconchego-me, fogo crepitante, doçura de mulher, corpo imundo mundo imundo, sobre pedras de silêncio, vamos ao sabor de uma melodia, o que sou sombra inconstante, açambarcador de poder, ricos falsos, acabar-se-á no fogo do desespero não hesites caminha e vencerás sobre tudo e todos vai em frente segue o teu caminho e serás alguém, como o eu que eu queria. .75
Rui Serra
Olhando em frente De repente olho para trás e postais antigos invadem-me a memória, fotografias já sem cor de um tempo que não poderei fazer regressar. Sou alguém, ou assim dizem mas o que sou jamais importa. Rebelei-me contra a escola ataquei os professores fui pateta Andei por aqui e acolá a biblioteca, os livros sua magia, seu encanto na adolescência a história do rock um verão esplêndido e à noite uma garrafa, uma rapariga e um abençoado sonho. Abraço as imagens de outros tempos e torno-me num palhaço o que faço bebo bebo para vos poder ridicularizar estar bêbedo é um bom disfarce depois minha cabeça pifou lamento as noites, os anos, tudo o que perdi. À medida que o corpo se destrói o espirito torna-se mais forte. .76
Escritos
de um outro dia Alucinação
Passa-se num quarto luz ténue velhos livros empoeirados o cigarro queima-me a ponta dos dedos nos meus ouvidos, um leve melodia um telefone toca saio andei por aí a prostituta olhou-me tremo de frio uma cabana recordo o passado, ainda presente passei por tua casa para te ver tinhas saído ocultas-te dos convidados mas eu sou teu amigo os meus olhos perturbam-te infinitamente! as melhores ideias vêm-me quando... enfim vou partir pousei o livro estou vivo procuro a paz esse momento de liberdade está a ficar tarde a noite começa lentamente e cheia de sossego. .77
Rui Serra
Lamento rapariga Lamento rapariga, mas n達o, n達o posso continuar a sentir-me como ontem. Estiveste fora, partiste, foi demasiado tempo. Agora n達o podes regressar, 辿 demasiada dor, demasiado sofrimento.
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Escritos
de um outro dia Um olhar no passado
Tanto já esqueci e tanto há a esquecer. Dá-me o teu amor amor por min ainda a descobrir. Deambulamos pela tarde sombria. Lembro-me das estradas Verão, a teu lado, foi verdadeiramente de loucos, sim loucos. Um hotel velho e barato incandescência ao olhar. Bem vindos á noite em que a papoila domina o mundo. Este é o meu poema, para ti tu sabes tu sabes mais do que aquilo que denuncias. Sabes se existimos? Nós os gerados p’lo prazer numa noite de luxúria. Será que a liberdade existe? Sou uma colagem, na revista da vida. Vou sair talvez daqui p’ra fora sigo, ao lado da estrada, procuro-te, conseguimos milagres, quando estamos juntos. .79
Rui Serra
Maria Enches a noite de aventura P’ra uns vaidosa Outros Puta Sem medos Sem receios Segues p’los labirintos do fauno Noite após noite Tropeçar Teu destino Maria Teu destino é penar.
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Escritos
de um outro dia
E este manto de seda azul, que em teus lábios húmidos reflecte aquilo que vai em teu coração. Serás cinza de um amor que não existe? Mas não, tu és suave, pura e meiga. Teus olhos brilham sonhadoramente, á tardinha de um dia de verão. E eu assim enlouquecido, faço de ti razão do meu viver, e tuas mãos carinhosas, que me afagam o rosto, em tardes dolorosas, são para mim, somente, a razão do meu viver. Mas se tudo isto é uma quimera, uma ilusão, porque será bom? Sim, talvez não tenha fim. .81
Rui Serra
Liber de LIBERDADE Sinto-me leve, livre como um pássaro que voa em busca da liberdade... não sou de ninguém não tenho lugar de origem, de partida ou de chegada. Sei que sou livre, livre... como uma borboleta que poisa de flor em flor em busca do pólen que lhe dá vida e força. Sou eu, e ninguém mais para além de mim; sou eu, com defeitos e virtudes; vivo e deixo viver, para amar e ser amado. Sou livre como um pássaro em busca do seu rumo que o levará à felicidade.
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Escritos
de um outro dia O vagabundo
Parto como o vento Sigo estrada fora Estou a milhas de casa Vou moribundo O meu nome nada significa Estou sem sono Na velha rua vazia ninguém para ver O poeta está acabado A sombra do vagabundo rasteja Nada tem a perder No olhar melancólico A ânsia de viver.
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Rui Serra
Agora AGORA no meu refúgio tranquilo sou um homem solitário AGORA o meu sonho desapareceu mas, permaneço iludido AGORA nesta velha cabana alimento a ideia de... AGORA permaneço aqui tão só quanto a lua AGORA sob a areia da triste praia olho o mar AGORA já sem esperança só me resta morrer AGORA meu amigo é O FIM.
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Escritos
de um outro dia Inf창ncia
Recordo o fim da inf창ncia da vida escrita nas folhas de Outono em tons castanhos e luminosos. Castanhos da terra e do tempo que era um s처. E recordo a liberdade da ave que nunca mais serei, num mundo assim.
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Rui Serra
Olhos Olho . . . O quê? Os olhos De quem? Os teus. Como vês com os teus olhos? Do mesmo modo que eu! Como faço? Olho nos olhos teus. E vês os meus? Resultou? O quê? Os olhos. De quem? Os teus!
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Escritos
de um outro dia A ti Aproximação, silêncio total Sangue, sexo Pesadelos nas ruas de néon Extensos desertos Um refúgio Lá fora, o apelo da boémia Um mar de asfalto Não, não vou só
Uma garrafa de gin e um cigarro Para apaziguar as dores A escrita é meu refúgio Minha alegria, minha dor Vivo constantemente Num ritmo alucinado Estou só Nas entrelinhas de cada frase Está o corpo que as gerou Num instante de lucidez O perfume que hoje trago É das lágrimas que por ti verto. .87
Rui Serra
Amizade Tu d o i s t o p o r q ue a a m i z a d e nรฃo e s tรก No f u n do d e u m s ac o d e p lรก s t i co d e sca rtรก ve l, nem n a cur va d o f im d a ru a . Tu d o
isto
p orq u e
a
a m i z a d e pod e
estar
a q ui
em ti . . .
.88
Ao
la d o ,
Escritos
de um outro dia Um dia De manhã é sempre abrir. Não, tu não podes chegar atrasado, ao lugar onde te chateias, estás encharcado em Gin. e agora não sabes realmente não sabes que fazer, mas, é o motivo pelo qual ganhas dinheiro. Tu bebes, fumas, danças mas o que será de ti quando esta noite acabar continuarás aí sentado bebendo fumando deprimido talvez, só esperando que aquela rapariga passe ao teu lado. Salta em frente dá uma volta até ao bar onde estou salta em frente para a minha teia e aí verás a poucos metros a porta que te separa do outro lado. .89
Rui Serra
Declinio urbano Habito na cidade Bares Jogo Estultícia Arquitecto jogos na minha mente A ideia esvanece-se Cães latem A cidade dorme E se for o mar a minha morte! “Adorava ver Nápoles e morrer”
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Escritos
de um outro dia
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Rui Serra
Live . Laugh . Love Divaguei-as na escura noite Indiferença Navegas num mar de lágrimas Abruptos pensamentos te avassalam Segue o rio do teu pranto Ergue-te em memória de outros dias Reclama à vida Reclama ao AMOR
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Escritos
de um outro dia
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Agradecimentos Quero agradecer a todos aqueles que de uma forma ou outra, consciente ou insconcientemente, tornaram possivel este meu sonho de escrever um livro. Quero agradecer em particular à minha namorada, que abdicou do seu pouco tempo livre e no dia-adia se revelou numa eximia critica gráfica e literária. Aos meus pais por “sem saberem” me terem dado esta aptidão. E por fim, à minha FILHA a quem dedico
este
meu
primeiro
livro,
o
meu
obrigado.