"Movimento moderno de línguas" Robert Glenn Gromacki

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MOVIMENTO MODERNO DE LÍNGUAS [Clique na palavra SUMÁRIO] ROBERT GLENN GROMACKI, Th. D. Tradução de A. B. Oliver Original em inglês: THE MODERN TONGUE MOVEMENT Edição da Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira CASA PUBLICADORA BATISTA Caixa Postal 320 - ZC00 Rio de Janeiro - GB – 1972 APRESENTAÇÃO PELO TRADUTOR Já por muito tempo tenho me interessado no estudo exegético do Novo Testamento e, nos meus trinta e dois anos de atividades missionárias no Brasil (1935-1967), percebi que muitos crentes desejavam poder refutar os erros dos Pentecostais, porém pouca literatura boa, forte e recomendável havia disponível. Voltando aos Estados Unidos em 1968, descobri por acaso o livro aqui traduzido. Combinando com a Casa Publicadora Batista, no Rio de Janeiro, a sua tradução, só pude, devido a outras atividades anteriormente encetadas, começar a tradução em 1970. Acho que o livro merece todos os louvores que tem recebido, pois o Dr. Gromacki pesquisou, como erudito que é, e soube apresentar lógica e claramente o ensino do Novo Testamento sobre "línguas". O povo evangélico brasileiro, a quem dedico esta tradução, lucrará muito pelo estudo deste volume. Entrego-o, portanto, com a esperança de que ajude muitos a discernir o erro do Pentecostismo, e muitos mais a não cair nas decepções geradas por "guias cegos", que, diante do mundo incrédulo, já por demais tempo têm servido de causa para os descrentes zombarem e ridicularizarem o verdadeiro Evangelho.


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Infelizmente, tive que inventar alguns "neologismos", porém, creio que o público leitor saberá perdoar. As citações bíblicas são todas da revisão feita pela Imprensa Bíblica Brasileira, porque tive a honra de cooperar nessa obra e acho que é a melhor e mais fiel apresentação da Palavra de Deus ao povo que fala português.

A. BEN OLIVER Th. M., Ph.D., Litt.D., D.D. Waco, Texas 16708 RECONHECIMENTO O autor deseja expressar sincera gratidão ao Dr. Herman A. Hoyt, ao Dr. Homer A. Kent Jr. e ao Dr. John C. Whitcomb Jr. por suas sugestões construtivas. Deve-se dar graças especiais à administração de Cedarville College, que me concedeu um tempo sabático e auxílio financeiro para que este livro fosse escrito. O autor deseja também expressar publicamente sua gratidão à querida esposa, que gastou muitas horas datilografando e redatilografando os vários projetos do manuscrito. Deve muito também ao sábio conselho e direção de Mr. Charles H. Craig, diretor da Presbyterian and Reformed Publishing Company, no preparo final desta obra. Finalmente, porém, não menor louvor ao nosso Deus, que providenciou a salvação mediante seu Filho, Jesus Cristo (João 3:16), e santificação através de sua Palavra (João 17:17). Que este volume seja usado para Sua honra e glória.

ROBERT G. GROMACKI Diretor da Divisão de Educação Bíblica Cedarville College, Cedarville, Ohio, U.S.A.


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SUMÁRIO Introdução...............................................................................4 1. Um Exame Histórico do Falar em Línguas Estranhas........7 2. A Natureza do Movimento Moderno de Glossolalia ........38 3. O Idioma da Glossolalia....................................................64 4. “Línguas” no Evangelho de Marcos..................................83 5. As Línguas no Livro de Atos.............................................96 6. Línguas na 1ª Epístola aos Coríntios..............................129 Conclusão...........................................................................166 Apêndice I ..........................................................................172 Apêndice II..........................................................................176


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INTRODUÇÃO PRATICAMENTE, cada geração da cristandade tem testemunhado o desenvolvimento de algum novo movimento (bom ou ruim) dentro de suas fileiras. Os apóstolos tinham que guardar a verdade contra os judaizantes e o progredir do gnosticismo incipiente. A era pós-apostólica estava cheia da controvérsia e do desenvolvimento de novos "ismos" – Docetismo, Cerintianismo, Eutiquianismo, Nestorianismo, Sabelianismo, Arianismo etc. Agostinho lutou contra o Pelagianismo. Mesmo o período da Idade Média viu a atividade dos anabatistas e a instituição das várias ordens católicas romanas (Agostinianos Dominicanos, Franciscanos, Jesuítas etc.). No século XVI eclodiu a poderosa Reforma Protestante, com os desenvolvimentos subsequentes dos maiores grupos eclesiásticos (Luteranos, Reformados, Anglicanos, Presbiterianos) e dos menores dissidentes. Mais tarde, a cristandade americana contribuiu com muitos grupos distintos – Mórmons, Campbellitas, Testemunhas de Jeová Adventistas do Sétimo Dia etc. O século vinte também tem testemunhado sua parte de novos desenvolvimentos. Um movimentochave tem sido o Pentecostismo, com sua ênfase sobre o Espírito Santo e dons espirituais. O próprio Protestantismo Americano ficou dividido em grupos liberais e fundamentalistas, que resultaram na formação de novas denominações. O velho liberalismo logo cedeu lugar ao surgimento da neo-ortodoxia e do neo-liberalismo. Também ele promoveu o movimento ecumênico, com seu alvo final: a união com a Igreja Católica Romana. Até o Protestantismo conservador não permaneceu estagnado. Hoje em dia, ele está dividido em fundamentalismo e o novo evangelismo. Agora, o movimento mais recente no cenário cristão americano é o reavivamento carismático ou o novo Pentecostismo, dando ênfase especial à cura milagrosa e ao falar línguas estranhas. Em menos de dez anos de existência, ele tem produzido um impacto profundo sobre a vida


Movimento Moderno de Línguas 5 eclesiástica de todas as denominações. Visto ser um movimento contemporâneo, compete a cada cristão conhecê-lo quanto a sua natureza básica e examiná-lo à luz das Escrituras. A Importância Deste Estudo O simples fato de o fenômeno de falar línguas estranhas ou glossolalia (proveniente do grego glossa, língua e laleo, falar) se achar na Bíblia deve ser causa suficiente para merecer uma plena investigação. O fenômeno é mencionado em três livros: Marcos, Atos e I Coríntios. Como uma parte mui expressiva da vida da igreja primitiva, está sempre relacionado com o ministério do Espírito Santo. Foi uma evidência da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At. 2:1-4) e da recepção inicial do Espírito em pelo menos dois casos (At. 10:44-48; 19:1-7). O falar em línguas estranhas foi também um dom espiritual exercido pela igreja em Corinto (I Cor. 12-14). Uma compreensão da natureza e dos propósitos de tais fenômenos nos tempos bíblicos é, portanto, imprescindível para cada crente. O crescimento rápido do Pentecostismo no século vinte também contribuiu para a importância deste estudo. A revista Time o classificou como a "igreja que mais cresce no hemisfério". (1) Life a considerou como "a terceira força", igual, em significação, ao Catolicismo Romano e ao Protestantismo histórico. (2) O Dr. Henry P. Van Dusen, ex-reitor do Union Theological Seminary (New York), pensava que o movimento Pentecostal, com sua ênfase sobre o Espírito Santo, fosse "uma revolução comparável, em importância, ao estabelecimento da Igreja Apostólica original e com a Reforma Protestante". (3) Tais declarações assumem ainda maior significação quando se reconhece que o falar em (1)

Time, LXXX (2-11-1962), p. 56. Life, XLIV (9-6-1958), p. 113. (3) Citado por John L. Sherrill, They Speak With Other Tongues (New York, McGraw Hill Book Company, (1964), p. 27. (2)


Movimento Moderno de Línguas 6 línguas estranhas é a "doutrina mais saliente e talvez a característica mais espetacular do Movimento Pentecostal". (4) Este ponto importante do Protestantismo não pode ser desprezado; pelo contrário, deve ser inteiramente compreendido. Menos de vinte anos atrás, Brumback confessou: "Vamos encarar os fatos: o falar em línguas estranhas não é aceito em parte alguma, senão no Movimento Pentecostal." (5) Hoje em dia não se pode dizer isso, porque o falar em línguas estranhas está sendo admitido agora como uma parte da vida normal, tanto pessoal como na igreja, entre batistas, episcopais, luteranos, metodistas, presbiterianos e até católicos. Essa erupção de línguas entre as denominações históricas tem sido chamada a Nova Penetração, o Novo Pentecostismo, a Renovação (ou Reavivamento) carismática e o movimento moderno de línguas. Tanto igrejas, escolas, juntas de missões liberais e conservadoras como publicações têm sentido o impacto desse novo movimento, que tem sido tão largamente difundido que até os meios seculares de comunicação (rádio, televisão, jornais e revistas) têm-lhe dispensado atenção. Assim, torna-se importante para cada crente compreender a natureza dessa nova manifestação de glossalália. A pesquisa para esta obra centralizou-se no estudo pessoal da Bíblia, em teologia e comentários padrões e em publicações contemporâneas (revistas e jornais). São raros os livros que tratam desse fenômeno contemporâneo. Todas as citações das Escrituras (nesta tradução do inglês) são da Revisão da Imprensa Bíblica Brasileira e as palavras gregas, do Greek New Testament (Novum Testamentum Graece), de Nestle.

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Carl Brumback, What Meaneth This? (Springfield, Mo.: The Gospel Publishing House, 1947), pp. 99, 147. (5) Ibid., pp. 175 e 176.


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UM EXAME HISTÓRICO DO FALAR EM LÍNGUAS ESTRANHAS PARA SE COMPREENDER plenamente o movimento contemporâneo de línguas, é imprescindível um conhecimento prático da história do fenômeno. Advogados da glossolalia dizem que o fenômeno não cessou na era apostólica, porém tem persistido através das várias gerações da cristandade, em indivíduos isolados ou em reavivamentos de grupos. Os antecedentes diretos do presente movimento podem ser vistos nos reavivamentos dos séculos dezenove e começo do vinte. Tais pretensões de sucessão apostólica ou de redescobrimento necessariamente terão que ser investigadas. Naturalmente, a mera demonstração da realidade do fenômeno em períodos diferentes não pode em si provar a realidade ou a genuinidade bíblica do fenômeno hoje em dia. Nem tampouco a ausência de ocorrências hoje. A história só pode relatar o que aconteceu ou o que não aconteceu. Ela não pode providenciar um teste absoluto da realidade ou da genuinidade nem tampouco providenciar uma norma para a fé e a prática. Em todas as experiências espirituais, somente as Sagradas Escrituras providenciam a base para a doutrina e a vida. A Bíblia tem de julgar a História, não viceversa. Todavia, tendo em mente essa perspectiva, um conhecimento histórico do movimento de línguas deve ser útil. Nas Religiões Não-Cristãs A glossolalia não é coisa particular da religião cristã. Relatos de sua ocorrência acham-se nas religiões e filosofias não-cristãs, tanto do passado como do presente. Tais relatos podem ser completa ou parcialmente verdadeiros, ou totalmente falsos. É impossível fazer um julgamento histórico a respeito. Tem que se aceitar a evidência tal qual se apresenta. Mesmo que o fenômeno e seu relato sejam verdadeiros, isso não demonstra identidade absoluta nem com a glossolalia bíblica


Movimento Moderno de Línguas 8 nem com o presente movimento de línguas. A glossolalia não-cristã, se é verdadeira, teve sua fonte em Satanás. O propósito principal desta seção é demonstrar que o fenômeno de falar línguas estranhas pode ser feito ou simulado, por atividade humana ou satânica. Se foi possível fazê-lo no passado, também se pode fazer hoje em dia da mesma forma. A experiência, por si, não pode ser o teste de sua fonte. O Relato de Wenamon O "Relato de Wenamon" dá a mais antiga descrição da fala religiosa frenética. Foi escrito cerca de 1100 a.C., de Byblos, na costa siropalestiniana. Nesse relato, um jovem adorador de Amon ficou possesso pelo deus e falou numa linguagem extática. O texto diz: "Ora, quando ele sacrificou aos seus deuses... o deus pegou num dos seus jovens nobres, tornando-o frenético, de modo que ele disse: Traze para cá o deus! Traze o mensageiro de Amon que o tem. Envia-o e deixa-o ir." (1) Esse estado frenético durou a noite inteira. Aqui se deve fazer algumas observações. Primeiro, diz-se que o homem usou de uma fala frenética, que pode ter sido ou não uma outra língua. Segundo, esse foi um fenômeno religioso, porque o homem estava ocupado em cultuar o seu deus. Terceiro, seu deus o considerou digno de proteção e respeito. Finalmente, sua fala frenética foi o resultado direto de sua possessão ou controle por um deus. Diálogos de Platão Nos seus diálogos, o grande filósofo grego Platão (429-347 a.C.) revelou um conhecimento da fala religiosa extática. No Phaedrus, (2) ele (1)

George A Barton. Archaeology and the Bible (Philadelphia: American Sunday Scholl Union, 1946, p. 235. (2) Plato, "Dialogues of Plato", trans. Benjamin Jowett, Vol. VII de Great Books of the Western World, ed. R. M. Dutchins (Chicago: Encyclopaedia Britannica, Inc., 1952) sec. 244.


Movimento Moderno de Línguas 9 escreveu a respeito de certas famílias que estavam participando de santas orações, ritos e pronunciamentos inspirados. Os participantes eram indivíduos possessos e perderam o juízo (perda de controle das faculdades mentais, porém não enlouquecimento). A participação nesses exercícios religiosos até produzia a cura física ao adorador. Platão chamou de "loucura" a profecia e identificou a loucura como uma dádiva divina. Disse ele que a profetisa de Delphi e a sacerdotisa em Dodona, quando fora de si, podiam exercer grande influência benéfica sobre certos indivíduos, porém, quando em pleno controle de suas mentes, bem pouca ou nenhuma. No Ion (3) Platão declarou que os bons poetas compõem seus poemas não pela arte, mas por estarem inspirados ou possessos. Não estão em pleno poder das faculdades mentais naqueles momentos, porque Deus "retira" suas mentes e os usa como seus servos. Deus fala através dos adivinhadores e santos profetas ao estarem num estado inconsciente. Na fala inspirada, Deus é quem fala, não o homem. Platão também comparou os poetas aos foliões coribantianos, que se tornaram extáticos tanto na fala como na ação, e às moças baquianas do culto Dionisiano. No Timueus, (4) Platão declarou que, quando um homem recebe a palavra inspirada, ou sua inteligência é dominada no sono ou ele é desnorteado por alguma doença ou possessão. Essa pessoa (adivinhador) não pode lembrar-se do que tenha falado. Esses pronunciamentos são acompanhados de visões que ela também não pode julgar, Assim, necessita-se de intérpretes ou profetas para exporem as declarações obscuras do adivinhador. Certos fatos devemos salientar a respeito das observações de Platão. Primeiro, quem fazia as declarações inspiradas não tinha controle sobre suas faculdades mentais. Segundo, a própria pessoa não entendia o que (3) (4)

Ibid., sec. 533-534. Ibid., sec. 71-72.


Movimento Moderno de Línguas 10 dizia. Terceiro, havia necessidade de interpretação por outrem. Quarto, visões e curas acompanhavam as palavras. Finalmente, a pessoa que falava estava sob a possessão divina. Vergílio Na sua "Eneida", (5) Vergílio (70.19 a.C.) descreveu a sacerdotisa Sibelina na ilha de Delfos. Ela conseguiu seu estado e fala extáticos numa caverna freqüentada onde ventos encanados produziam sons esquisitos e até música. Quando ela se uniu em espírito ao deus Apolo, começou a falar em línguas, às vezes compreendidas e às vezes incoerentes. A Pitonisa de Delfos Crisóstomo, o grande Pai da Igreja, descreveu a Pitonisa desta maneira: "... diz-se então que essa mesma Pitonisa, sendo uma fêmea, às vezes senta-se escarranchada na trípode de Apolo, e, por conseguinte, o espírito mau, subindo de baixo e entrando na parte baixa do seu corpo, enche de loucura a mulher, e ela, com o cabelo desgrenhado, começa a tocar o bacanal e a espumar pela boca, e assim, estando num frenesi, fala as palavras de sua loucura" (6)

Por causa de sua capacidade de produzir a fala extática sob a inspiração e possessão divinas, freqüentemente era adorada e consultada para conselhos e predições. Martin acrescentou: "Sacerdotes, aparentemente, a assistiam sempre, para apanharem cada expressão e

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Virgil, "Aeneid", trad. de James Rhoades, Vol. XIII de Great Books of the Western World, ed. R. M. Hutchins (Chicago: Encyclopaedia Britannica, Inc. 1952) livro VI. Chrystom, "Homilies on First Corinthians", trad. de T, W. Chambers, Vol. XII de The Nicene and Post-Nicene Fathers, ed. Philip Schaff (Primeiras Séries; New York: The Christian Literature Co., 1889), Hom. 29.2.


Movimento Moderno de Línguas 11 para interpretarem seus gritos e parolagens, quando esses não mais eram coerentes." (7) Religiões de Mistério No mundo greco-romano, havia muitas religiões ou cultos misteriosos. Entre estes, havia o culto de Osíris, que se originou no Egito, o culto de Mitra, que começou na Pérsia, o Eleusiniano, o Dionisiano e os cultos Órficos, que começaram na Trácia, Macedônia e Grécia. Ainda que haja pouca evidência de glossolalia nos registos desses cultos, Martin crê que havia boas razões de pensar que tal fala extática prevalecia entre eles. (8) Primeiro, o sistema inteiro de crenças, ritos iniciatórios e práticas religiosas estava centralizado no conceito de possessão pelos espíritos ou identificação com eles. Segundo, os termos cristãos significando glossolalia (pneuma e lalein glossais) vieram do grego vernáculo, que existia muito antes de ser escrito o Novo Testamento. Terceiro, no registro De Dea Syria, Luciano de Samosata (120-198 d.C.) descreveu um caso nítido de glossolalia falada por alguns devotos itinerantes da deusa siríaca Juno, localizada em Bambice ou Hierópolis, na Síria. Kittel acrescentou que fenômenos comparáveis podiam ser achados no manticismo divinatório da Délfica Frígia, dos Bacides e das Sibilas. (9) Concernente à adoração do culto ou da mágica, ele escreveu: As listas ininteligíveis de nomes mágicos e cartas na fala mágica (voces mystical) que são empregados em invocar e conjurar os deuses e espíritos também podem ser análogos a esse falar obscuro de línguas e sem significação. A esses místicos nomes divinos etc., nos quais há ecos (7)

Ira J. Martin, III, Glossolalia in the Apostolic Church (Berea, Ky.: Boroa College Press, 1960), p. 80. (8) ) Ibid., p. 79-80. (9) Gerhard Kittell, Theological Dictionary of the New Testament, trad. de Geoffrey W, Bromiley (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Pub. Co., 1964) I, p. 722.


Movimento Moderno de Línguas 12 de várias línguas orientais, podemos certamente juntar o ponto de vista de que derivam de línguas supra-terrestres, usadas pelos deuses e espíritos nos céus, cada classe com sua peculiar phone ou dialektos. (10) Ocorrências Presentes Stolee relatou que a fala extática acha-se entre os maometanos. (11) Os dervixes da Pérsia constantemente murmuram o nome de Alá com o sacudir violento do corpo e êxtases que terminam com o espumar da boca. Esses movimentos violentos conduzem para a exaustão e inconsciência parcial. Durante esse período de êxtase, eles pregam sermões de moral. Os esquimós da Groenlândia, conta-se, já participaram da glossolalia. (12) Seus cultos religiosos são dirigidos pelo angakok, seu feiticeiro ou sacerdote. Nesses cultos há uma tentativa definida de entrar em contacto com o mundo dos espíritos. Caracterizam-se os cultos pelo tocar do tambor, pelo cântico, pela dança e pela nudez, tanto da parte dos homens como das mulheres. Peter Freuchen, no seu livro Arctic Adventure, assim caracterizou a glossolalia: De repente um dos homens, Krisuk, ficou fora de si. Não mais podendo controlar-se conforme o ritmo regular do culto, ele pulava e gritava, ora como corvo, ora uivando como lobo. Em êxtase ele e a moça, Ivaloo, começaram a gritar numa língua que eu não podia entender... certamente não era a língua comum dos esquimós... e se realmente há tal coisa como falar línguas estranhas, então eu a ouvi. (13)

V. Raymond Edman, reitor do Wheaton College, fez os seguintes relatos sobre a glossolalia pagã contemporânea no Tibet e na China: Um dos nossos formandos de Wheaton, que nascera e se criara na fronteira tibetana, conta haver ouvido certos monges tibetanos, nas suas (10)

Ibid., I, p. 723. If. I. Stolee, Speaking in Tongues (Minneapolis: Augsburg Publishing House, 1963), p. 19. (12) Ibid.. pp. 85-87. (13) Citado por Stolee, Ibid., pp. 86 e 87. (11)


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danças rituais, falarem inglês, com citações de Shakespeare, com palavras chulas, como as de marinheiros embriagados, ou em alemão ou francês, ou em línguas desconhecidas. Bem recentemente, um missionário aposentado da Missão Interior da china contou a mesma experiência. (14)

Resumo Ocorrências de glossolalia entre os não-cristãos têm sido relatadas tanto por escritores pagãos como por escritores cristãos. As semelhanças que essas ocorrências têm com as da glossolalia bíblica são bem marcantes. A pessoa estava ocupada no culto religioso; estava controlada por um ser considerado divino; perdeu o controle de suas faculdades mentais; falou numa língua diferente e havia necessidade de intérprete. Todavia, não se deve concluir que a glossolalia cristã seja apenas um refinamento da pagã. As fontes são inteiramente opostas – Deus e Satanás, ou a própria pessoa. Apesar de tudo, tem que se admitir que Satanás pode operar esse fenômeno. Ele o tem feito no passado: poderá estar fazendo isto hoje em dia. O Antigo Testamento Martin tem identificado alguns casos de fala profética no Velho Testamento com o fenômeno de glossolalia. (15) O Espírito do Senhor repousou sobre Eldade e Medade e eles profetizaram (Núm. 11:26-30). O Espírito Santo veio também sobre Balaão, e ele falou. Também teve visões de Deus e caiu em êxtase, porém com os olhos abertos (Núm. 23:7-10, 18-24; 24:3-9, 15-24). Os filhos dos profetas profetizaram acompanhados de música. Saul se juntou a eles, profetizou e foi transformado em outro homem (I Sam. 10:1-13). Mais tarde Saul despiu as suas vestes, profetizou, e esteve nu por terra todo (14) (15)

V. Raymond Edman, Divine or Devilish?, Christian Herald (maio, 1964), p. 16. Martin, op. cit., pp. 74-76.


Movimento Moderno de Línguas 14 aquele dia e toda aquela noite (I Sam. 19:18-24). No monte Carmelo, os profetas de Baal, ao contender com Elias, invocavam continuamente o nome de Baal. Eles saltavam, clamavam em altas vozes e se retalhavam com facas e com lancetas e profetizavam (I Reis 18:26-29). Ainda que as ações desses vários profetas se aproximem das de quem fale em línguas estranhas, não se pode demonstrar que eles de fato falaram em línguas. Não se diz explicitamente que o fizeram. Afirmar isso seria impor um conceito do Novo Testamento sobre uma ação do Velho Testamento. O Novo Testamento As primeiras referências claras ao fenômeno bíblico de falar em línguas diferentes acham-se no Novo Testamento, Os discípulos falaram em outras línguas quando desceu sobre eles o Espírito Santo no dia de Pentecostes (At. 2:1-13). Cornélio e os de sua casa falaram em línguas quando creram no evangelho pregado por Pedro (At. 10:44-48). Os doze discípulos de João, o Batista, falaram em línguas depois de receberem a revelação da verdade cristã pregada por Paulo (At. 19:1-7). O dom de línguas é discutido por Paulo na sua primeira carta à igreja em Corinto (I Cor. 12-14).

Línguas são mencionadas na grande comissão registada por Marcos (16:17), porém essa passagem é muito insegura textualmente e é contestável. (16) Ainda que não haja referência explícita a línguas nos registos do avivamento samaritano (At. 8:5-25) e da conversão de Paulo (At. 9:1-17), alguns dos que advogam a glossolalia estão convencidos de que o fenômeno ocorreu em cada um dos casos. (17) (16)

(17)

Tanto a evidência externa dos manuscritos como o conteúdo interno dessa passagem argumentam contra sua genuinidade como uma parte integral do Evangelho de Marcos. Sendo tão fracamente alicerçada, eis não pode ser usada como prova de qualquer doutrina. Este assunto será discutido num capítulo posterior. O que Simão "viu" (At. 8:18) supõe-se ser a glossolalia por parte dos samaritanos convertidos. Alega-se também que o testemunho de falar línguas por parte de Paulo (I Cor. 14:18) tenha começado em Atos 9.


Movimento Moderno de Línguas 15 Esses vêem o fenômeno também em certas frases distintas: "e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus" (At. 4:31); "o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis" (Rom. 8:26); "cânticos espirituais" (Ef. 5:19; Cf. I Cor. 14:15) ; "orando... no Espírito" (Ef. 6:18; cf. I Cor. 14:15); "Não extingais o Espírito; não desprezeis as profecias" (I Tess. 5:19, 20); "Se alguém fala, fale como entregando oráculos de Deus" (I Ped. 4:11). Nos capítulos posteriores haverá exposição das passagens em Marcos, Atos e I Coríntios. O propósito desta seção é justamente expor aquelas partes bíblicas que mencionam o fenômeno. O Período Ante-Niceno (100 – 325 d.C.) Esse período da história eclesiástica foi um tempo caracterizado pela perseguição, pela defesa apologética da fé e pela formulação doutrinária. Muitos santos preeminentes viveram, ministraram e foram martirizados no decorrer desse período. Se o falar em línguas não cessou na era apostólica devia haver alguma evidência do fenômeno na vida e nos escritos desses grandes Pais da Igreja. Donald Gee, escritor inglês pentecostal, crê que existe tal evidência. Concernente aos dons espirituais, ele escreveu: "Irineu, Tertuliano, Agostinho, todos se referem a esses dons como ainda existindo nos seus próprios tempos." (18) Cleon Rogers deu o ponto de vista oposto, na sua declaração: "... é significativo que o dom (de línguas) em parte nenhuma é referido, sugerido, ou achado nos escritos dos Pais Apostólicos." (19). Quem tem razão? Examinemos a evidência.

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Donald Gee, Concerning Spiritual Gifts (Springfield, Mo.: The Gospel Publishing House, n. d.), p. 10. Cleon L. Rogers, Jr., The Gift of Tongues in the Post-Apostolic Church, Bibliotheca Sacra, CXXII (abril-junho, 1965), p. 134.


Movimento Moderno de Línguas Justino Mártir (110-165 d.C.)

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Justino Mártir foi o mais eminente dos apologistas gregos no segundo século. É chamado o primeiro filósofo cristão ou o primeiro teólogo filosófico. Dedicou sua vida inteira à defesa do cristianismo, e foi martirizado. Em Éfeso esforçou-se para ganhar o judeu Trifo e seus amigos para a fé cristã. No seu famoso Dialogue with Trypho, escreveu: "Pois os dons proféticos permanecem conosco, mesmo até o tempo presente. E daí deves compreender que (os dons) anteriormente entre sua nação foram transferidos a nós." (20) Mais tarde, ele confessou: "Agora é possível ver entre nós homens e mulheres que possuem dons do Espírito de Deus. . . " (21) À primeira vista, pareceria que os dons espirituais, inclusive o dom de línguas, existiam no tempo de Justino. Todavia, os dons existentes eram aqueles uma vez possuídos por Israel, e em nenhum lugar se diz, no Velho Testamento, que o falar línguas era atividade normal ou mesmo rara dos israelitas. O próprio Justino definiu a natureza dos dons então existentes. Ele relatou os dons proféticos de Salomão (o espírito de sabedoria), de Daniel (o espírito de entendimento e conselho), de Moisés (o espírito de poder e de piedade), de Elias (o espírito de temor) e de Isaías (o espírito de conhecimento). (22) Esses dons não podem ser identificados com os dons espirituais mencionados em I Coríntios 12. Irineu (120-202 d.C.) Irineu é chamado "o primeiro" e o "mais ortodoxo" dos Pais da Igreja. Ele estudou sob a tutela de Policarpo, de Esmirna, que fora aluno do apóstolo João. Depois de algum serviço missionário, ele se tornou (20)

Justin Martyr, Dialogue With Trypho, Vol. I de The Ante-Nicene Fathers, eds. Alexander Roberts and James Donaldson (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co., 1950), sec. 82, p. 240. (21) Ibid. sec. 88, p. 243. (22) Ibid,, sec. 87, p. 242.


Movimento Moderno de Línguas 17 Bispo de Lion, na França. Sua refutação do gnosticismo, Against Heresies, é considerada sua obra mais importante. Nesse livro, ele escreveu o seguinte comentário sobre I Coríntios 2:6: ... chamando perfeitos aquelas pessoas que têm recebido o Espírito de Deus e as quais através do Espírito de Deus falam todas as línguas, como Ele próprio falava. Semelhantemente, nós também ouvimos muitos irmãos na igreja que Possuem dons proféticos e que, através do Espírito, falam todas as qualidades de línguas e trazem à luz, para o proveito geral, as coisas escondidas de homens e declaram os mistérios de Deus... (23)

Devemos notar várias coisas acerca desta citação. Primeiro, ele não diz que ele falava línguas. Segundo, seu emprego de "nós ouvimos" indica mais um conhecimento de segunda mão desse fenômeno que de testemunha ocular. Terceiro, na sua descrição daqueles que tinham os dons proféticos e falavam línguas, provavelmente se referia aos montanistas, cuja influência naquele tempo era bastante forte. Montano (126-180 d.C.) Montano provavelmente foi a figura mais controvertida do segundo século. Basicamente era ortodoxo. Impugnava o batismo infantil e o gnosticismo e defendia a doutrina da Trindade, o sacerdócio universal dos crentes, o milenarismo e o ascetismo. Identificou a revelação do Parácleto (João 14:16) com a religião espiritual dos montanistas, que se chamavam a si mesmos de "pneumatics" ou igreja espiritual, em contraste com a igreja física ou Católica. Considerava a si próprio como o órgão inspirado do Espírito Santo. O emprego da primeira pessoa fez com que muitos pensassem que se fazia de si mesmo o próprio Espírito Santo. Eusébio o caracterizou assim: ... um neófito, Montano por nome, pelo desejo de ser um líder, deu ao adversário vantagem sobre ele. E perdeu o controle próprio, e (23)

Irineu, Against Heresies, Vol. I de The Ante-Nicene Fathers, eds. Alexander Roberts and James Donaldson (Grand Rapids: Wm. B. Eerdman's Publishing Co., 1950), V. 6, 1, p. 531.


Movimento Moderno de Línguas 18 subitamente, estando como num frenesi e êxtase, delirou e começou a balbuciar e dizer coisas esquisitas, profetizando de uma maneira contrária ao costume consoante da Igreja, entregue pela tradição desde o começo. Alguns daqueles que ouviram as suas palavras espúrias se tomaram indignados, e o repreenderam, como se ele estivesse possesso e sob o controle dum demônio e fosse conduzido por um espírito enganador, perturbando a multidão... E, além disso, ele excitou duas mulheres e as encheu do espírito falso, de modo que falavam louca, irrazoável e estranhamente, como a pessoa já mencionada. (24) Que se pode aprender de Montano? Primeiro, ele era tido por herético e possesso do demônio. Talvez não fosse, porém foi esse o juízo feito pelos cristãos daquela época. Segundo, suas profecias e o falar línguas eram contrários ao procedimento daqueles dias. Terceiro, sua pretensão de ser o único autorizado a falar pelo Espírito Santo e suas ações físicas deixam muito a desejar para condizer com a norma da Bíblia. Tertuliano (160-220 d.C.) Esse "pai da igreja" do norte da África é considerado o pai da teologia latina. Convertido quando já bem adulto, mais tarde uniu-se aos montanistas. Trabalhou em Cartago como presbítero e autor montanista. Sua crença na contínua existência dos dons espirituais vê-se nesta declaração: "Pois, vendo que nós admitimos as charismata espirituais, ou dons, nós também temos merecido o recebimento do dom profético..."(25) Então ele descreve uma mulher que tinha dons de revelação, visões extáticas e falava com os anjos e com Deus, dons de (24)

(25)

Irineu, Against Heresies, Vol. I de The Ante-Nicene Fathers, eds. Alexander Roberts and James Donaldson (Grand Rapids: Wm. B. Eerdman's Publishing Co., 1950), V. 6, 1, p. 531. Tertuliano, A Treatise on The Sou1, trad. de Peter Holms, Vo1. III do The Ante-Nicene Fathers, eds. Alexander Roberts and James Donaldson, Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co., 1951), sec. 9, p.188.


Movimento Moderno de Línguas 19 curar e discernimento do coração de alguns homens. Na sua disputa com Marcion, ele escreveu: Permita-se, então, que Marcion exiba, como dom de seu deus, alguns profetas que não tenham falado pelo sentido humano, porém com o Espírito de Deus, que tanto predisseram coisas a vir como tornaram manifestos os segredos do coração; que ele produza um salmo, uma visão, uma prece – só que seja pelo Espírito, num êxtase, isto é, num arrebatamento, quando lhe tenha ocorrido uma interpretação de línguas... Ora, todos esses sinais (de dons espirituais) provêm do meu lado, sem qualquer dificuldade, e eles concordam também com as regras, e as dispensações, e as instruções do Criador; portanto, sem dúvida, o Cristo, o Espírito e o apóstolo pertencem cada um de per si ao meu Deus. (26)

Como montanista, é de se esperar que Tertuliano abraçasse os dons espirituais, inclusive o de falar línguas. No lado técnico, deve-se dizer que Tertuliano não afirma ter ele próprio falado línguas. Que o tenha feito é bem provável, porém nos falta uma declaração explícita. Agostinho declara que mais tarde Tertuliano abandonou os montanistas e fundou uma nova seita, que posteriormente se reconciliou com a congregação católica em Cartago. (27) Se é verdade isso, pode ser que Tertuliano tenha ficado desencantado com os excessos "pneumáticos" dos montanistas. Orígenes (185-254 d.C.) Orígenes foi, indubitavelmente, o maior erudito cristão da sua época. Foi o mais dotado, o mais industrioso e o mais culto de todos os pais ante-nicenos. Tornou-se diretor da escola catequética em Alexandria. Na sua refutação dos ataques de Celso contra o cristianismo, deu ele, ao mundo cristão, uma das mais valiosas peças de literatura apologética. Freqüentemente se citam estas palavras de Celso para indicar a existência de glossolalia naquele tempo: "A essas promessas (26) (27)

Ibid., Against Marcion, V. 8, p. 477. Citado por Philip Staff, History of the Christian Church (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co., 1952), II, pp. 420 e 421.


Movimento Moderno de Línguas 20 são acrescentadas palavras estranhas, fanáticas e bem ininteligíveis, das quais nenhuma pessoa racional pode achar o significado: pois tão obscuras são elas como se nenhum significado tivessem. . . " (28) (28) Todavia, essas "palavras ininteligíveis" não se referem à glossolalia extática, porém às profecias difíceis no Velho Testamento. Na sua refutação, Orígenes escreveu: "... mas nós, de acordo com nossa capacidade, em nossos comentários sobre Isaías, Ezequiel e alguns dos doze profetas menores, temos explicado literalmente e em pormenor o que ele denomina 'aquelas passagens fanáticas e totalmente ininteligíveis'." (29) Em outro lugar, ele escreveu acerca da continuação de alguns sinais do Novo Testamento: Ademais, o Espírito Santo deu sinais de sua presença no começo do ministério de Cristo, e depois da ascensão de Cristo, o Espírito Santo deu ainda mais; porém desde aquele tempo diminuíram-se esses sinais, ainda que haja traços de Sua presença nos poucos que tiveram sua alma purificada pelo evangelho e suas ações reguladas por sua influência. (30)

Esses sinais não poderiam incluir a glossolalia, porque nem Cristo nem seus apóstolos falaram em línguas estranhas enquanto Ele estava no mundo. Forçosamente, têm de se referir aos casos de cura divina, que definitivamente estavam diminuindo. Os Períodos Niceno e Pós-Niceno (311 – 600 d.C.) Esse foi um período de consolidação e de corrupção eclesiástica, porque a religião cristã foi aceita pelo Imperador Constantino e assim ganhou a proteção do Estado Romano. Três testemunhas significativas da glossolalia surgem desse período: Pacômio, Crisóstomo e Agostinho.

(28)

Orígenes, Against Celous, trad. de Frederick Crombie, Vol. IV de The Ante-Nicene Fathers, eds. Alexander Roberts and James Donaldson. (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing co., 1951), sec. 7.9. (29) Ibid., sec. 7. 11. (30) Ibid., sec. 7. 8.


Movimento Moderno de Línguas Pacômio (292-348 d.C.)

21

Pacômio foi o fundador de uma sociedade de monges na Ilha Tabennae, no rio Nilo, no Egito superior. A lenda declara que um anjo lhe comunicou seu modo estrito de viver, no qual ele nunca tomou uma refeição completa depois de sua conversão e dormiu durante quinze anos sentado sobre uma pedra. Seus monges sempre comiam em silêncio e comunicavam-se entre si por meio de sinais. A respeito de seus milagres, Schaff escreveu: "A tradição lhe atribui todas as qualidades de milagres, até o dom de línguas e o domínio perfeito sobre a natureza, de modo que ele pisava, sem sofrer danos, sobre cobras e escorpiões, e atravessava o Nilo nas costas de crocodilos." (31) Nesse contexto seria difícil dizer se Pacômio alguma vez falou línguas. Andar sobre cobras e escorpiões sem sofrer dano e usar crocodilos para se transportar sobre o rio Nilo certamente é incompatível com os milagres bíblicos. Crisóstomo (345-407 d.C.) João Crisóstomo foi o maior expositor e pregador da Igreja Grega, É citado pelos comentadores modernos mais do que qualquer outro "Pai da Igreja". Começando como monge, tornou-se diácono e presbítero em Antioquia e mais tarde o patriarca de Constantinopla. No seu comentário sobre "dons espirituais" (I Cor. 12:1-2), ele escreveu: "Esta passagem toda é muito obscura; porém a obscuridade é produzida por nossa ignorância concernente aos fatos aqui referidos e pela sua cessação, sendo tais como então aconteciam, porém que agora não mais ocorrem."(32) Aqui está uma declaração categórica. Pelo menos, até o tempo de Crisóstomo a glossolalia havia desaparecido da Igreja.

(31) (32)

Schaff, op. cit., III, 197. Crisóstomo, op. cit., Hom. 29.1.


Movimento Moderno de Línguas Agostinho (354-430 d.C.)

22

Agostinho foi a cabeça intelectual das igrejas do Norte da África e das igrejas Ocidentais de seu tempo. Sua doutrina influenciou a Igreja Católica Romana até o tempo de Tomás de Aquino. Defendeu galhardamente a ortodoxia contra o maniqueísmo, o donatismo e o pelagianismo. No seu debate com os donatistas, ele afirmou que o Espírito Santo era recebido sem o falar línguas, e, sim, com a implantação do amor divino.(33) O significado temporário da glossolalia vê-se mais claramente no seu comentário sobre I João: No tempo mais primitivo, "o Espírito Santo caiu sobre os que creram, e eles falaram em línguas" que não haviam aprendido, "como o Espírito lhes concedia que falassem". Esses eram sinais adaptados àquele tempo. Pois convinha tal sinal do Espírito Santo em todas as línguas, para mostrar que o Evangelho de Deus deveria passar por todas as línguas no mundo inteiro. Isso foi feito como um sinal, e depois desapareceu.(34) Definitivamente, Agostinho considerava a glossolalia como um fenômeno temporário, limitado à era apostólica. O "falar línguas" não existia nos seus dias, e ele não esperava a sua recorrência. Resumo Nos três séculos seguintes à era apostólica, há apenas duas referências à glossolalia (Montano e Tertuliano, que era montanista). O fato de que o montanismo refletia um ponto de vista falso, egoísta, da pneumatologia mal pode argumentar a favor da genuinidade da glossolalia bíblica naquele período. Portanto, não há nenhum caso (33)

(34)

Augustine, On Baptism, Against the Donatists, trad. de J. R. King, Vol. IV de The Nicene and Post-Nicene Fathers, ed. Philip Schaff (Primeiras séries Buffalo: The Christian Literature Co., 1887), III, 16-21. Augustine, Ten Homilies on the First Epistle of John, trad. de H. Browne Vol. VII of The Nicene and Post-Nicene Fathers, ed. Philip Schaff (New York: The Christian Literature Co., 1888), VI, 10.


Movimento Moderno de Línguas 23 genuíno de glossolalia na era pós-apostólica. O falar línguas havia cessado definitivamente. Os testemunhos de Justino Mártir, Irineu, Orígenes, Crisóstomo e Agostinho confirmam esta conclusão. Rogers chegou a formular certas conclusões de grande significação, baseando-se no silêncio dos pais apostólicos quanto ao falar línguas.(35) Primeiro, alguns dos "pais" escreveram "de" e "para" igrejas onde o dom fora praticado no tempo do Novo Testamento. Todavia, não há menção da existência de glossolalia no seu tempo. Nada se acha na carta de Clemente de Roma à igreja em Corinto nem na carta de Ignácio à igreja em Éfeso. Segundo, os "pais" viveram em cidades e escreveram a cidades em toda a área significativa do Império Romano. Se existisse a glossolalia e largamente espalhada, de qualquer maneira eles a teriam mencionado. Terceiro, os "pais" escreveram sobre cada doutrina principal do Novo Testamento, todavia, não há menção de "línguas". Quarto, em muitos dos seus escritos, os "pais" procuraram demonstrar a superioridade do cristianismo ou o caráter normal do cristianismo; todavia, a glossolalia não é citada como um exemplo. O silêncio dos "pais apostólicos" deve ser considerado como muito significativo. A Idade Média (590 – 1517) Foi esse o período da dominação católica romana e da perversão doutrinária. Corretamente tem sido chamado de "Idade Escura", porque a luz das Escrituras aparentemente se apagara. No entanto, mesmo desse período vêm-nos alguns ecos de glossolalia. Hildegard (1098-l179) Hildegard foi chamada a maior visionária e profetisa, a Sibila do Reno. A maior parte de sua vida, ela passou doente. Teve muitas visões, especialmente nos períodos de sua enfermidade. Foram-lhe atribuídos (35)

Rogers, op. cit., pp. 134-136.


Movimento Moderno de Línguas 24 milagres e glossolalia. Uma evidência desta pode se ver no seu escrito Língua Ignota: ". . . o manuscrito, de onze folhas, que inclui uma lista de 900 palavras de um idioma desconhecido, na maior parte substantivos e apenas alguns adjetivos, uma explicação em Latim e, em alguns casos, uma em Alemão, juntamente com um alfabeto de vinte e três letras, impresso em Pitra." (36) Vincent Ferrer (1350-1419) Vincent Ferrer, um monge dominicano, reportou-se ter visto uma aparição de Cristo acompanhado por São Domingos e São Francisco. Essa experiência o levou à cura milagrosa de uma doença mortal. Teve um ministério extensivo, caracterizado pela operação de milagres e pela pregação no oeste da Europa. Concernente a sua pregação, a Enciclopédia Católica declara: "Seria difícil compreender como ele podia se fazer entender pelas muitas nacionalidades que ele evangelizou, visto que sabia falar apenas a língua de Limousin, o idioma de Valência, Muitos daqueles que escreveram sua biografia sustentam que ele possuía o 'dom de línguas', opinião defendida por Nicolau Clemangis, doutor da universidade de Paris, que o ouviu pregar." (37) A Reforma (1517 – 1648) Esse, naturalmente, foi o período de reavivamento doutrinário, Através do ministério de Lutero, Calvino, Zuínglio e Knox, a verdade da "justificação pela fé" foi redescoberta e apresentada. Havia uma mudança do ritualismo para o estudo da Bíblia e o culto simples, todavia, não houve tentativa de recobrar a glossolalia. Entretanto, há referência a alguns que de fato falaram línguas. (36) (37)

"Hildegard", The Catholic Encyclopedia (New York: The Encyclopedia Press, Inc., 1913), VII, 352. "Vincent Ferrer", The Catholic Encyclopedia (New York: The Encyclopedia Press Inc. 1913) XV, 438.


Movimento Moderno de Línguas Martinho Lutero (1483-1546)

25

Martinho Lutero foi o grande reformador. Sua defesa da fé, contra as ameaças do papado e do império é admirada e estimada por todos. Tomás Zimmerman, superintendente geral das Assembléias de Deus, sustentava que Lutero também falava línguas. Esta a declaração da History of the Christian Church, por Erick Sauer: "O Dr. Martinho Lutero foi profeta, evangelista, falador de línguas e intérprete numa só pessoa, dotado de todos os dons do Espírito Santo." (38) Todavia, não se cita como prova dessa pretensão nenhuma declaração dos próprios escritos de Lutero. Sauer talvez estivesse fazendo referência à capacidade de Lutero de ler e falar alemão, latim, grego e hebraico. Brumback, que advoga a glossolalia, reconheceu esta possibilidade, quando escreveu: "Não temos podido determinar o conceito do autor sobre a natureza de línguas e, portanto, hesitaríamos em admitir esta citação como evidência conclusiva." (39) (39) Francisco Xavier (1506-1552) Embora não fosse reformador, Xavier foi uma figura significativa do período da Reforma. Pretende-se que ele tenha operado milagres e falado em outras línguas. Todavia, como missionário católico romano ao Oriente, ele dedicou o primeiro ano inteiro ao estudo da língua japonesa. Logo que pôde expressar-se, começou a pregar. Resumo Poderiam ser juntados às pessoas mencionadas sob o título "Idade Média" e "A Reforma" os nomes de Luís Bertrand (1526-1581) e muitos (38) (39)

Thomas F. Zimmerman, "Plea for the Pentecostalists", Christianity Today, VII (4.1-1963), 12. Carl Brumback, "What Meaneth This" (Springfield, Mo.: The Gospel Publishing House, 1047), p. 92.


Movimento Moderno de Línguas 26 outros santos católicos. Todavia, isto é desnecessário porque suas experiências são semelhantes em caráter àquelas mencionadas. Pode-se discutir conclusivamente se o fenômeno de glossolalia teria ocorrido nesses períodos. As pretensões também podem ser falsas. Schaff, eminente historiador eclesiástico, concluiu: O que São Bernardo, São Vicente Ferrer e São Francisco Xavier podem ter pretendido não é uma heteroglossolalia milagrosa, porém uma eloqüência tão ardente, sincera e intensa, que as nações rudes que os ouviam em latim ou espanhol imaginavam que os ouviam em sua própria língua... Nenhum daqueles santos pretendia o dom de línguas ou de outros poderes milagrosos, mas somente seus discípulos ou escritores posteriores.(40)

A tendência do catolicismo romano de elevar e venerar os seus santos sempre se tem fundamentado em qualquer avaliação das suas pretensões de milagres, sejam elas de curas ou de glossolalia. Por essa razão, qualquer pretensão de glossolalia proveniente de fontes católicas deve ser considerada como suspeita. O Período Pós-Reforma (1648 – 1900) Esse é o período do avanço Protestante, da Reforma, até o século vinte. No decorrer desse tempo, o "cristianismo" espalhou-se pelo mundo, inclusive na América. Esse período foi marcado também pelo desenvolvimento de cultos e seitas que surgiram espontaneamente ou foram o resultado de divisões de igrejas ou de descontentamento. Em muitos grupos, a glossolalia tornou-se parte integral dos cultos de louvor. Os Profetas de Cevennes Na última parte do século dezessete e na primeira parte do século dezoito, irrompeu uma grande perseguição contra os huguenotes (40)

Schaff, op. cit., I, pp. 240-241. Acha-se ai também a prova da conclusão de Schaff.


Movimento Moderno de Línguas 27 franceses na parte suleste da França. No meio dessa tribulação, experiências extáticas, inclusive a profecia e a glossolalia, surgiram entre o povo. Kelsey assim descreve o fenômeno: A primeira ocorrência de "línguas" proveio de um pronunciamento profético de uma criança de dez anos, Isabeau Vincent, que havia fugido do maltrato por parte de seu pai e testemunhado os soldados do rei matando à baioneta tanto mulheres como crianças que cultuavam a Deus juntas na sua própria igreja. Numa experiência extática ela pedia o arrependimento... Logo crianças por toda parte de Cevennes eram apanhadas pelo espírito e profetizavam. Crianças de apenas três anos de idade, diz-se, exortaram o povo em discursos religiosos. Adultos também eram apanhados pelo espírito e se acharam falando certas palavras francesas que eles mesmos não entendiam. (41)

Suas ações físicas eram bem exageradas. (42) Eles caíam para trás, com o corpo plenamente estendido sobre o chão, Seus corpos se contorciam, havendo arquejamento e inflação do estômago. Quando cessavam as ações físicas, começavam a profetizar, exortando o povo a se arrepender e denunciando a Igreja Católica Romana. Os Jansenistas Os jansenistas, fundados por Cornélio Jansen, eram um elemento de reforma dentro da Igreja Católica Romana no século dezessete. A experiência, e não a razão ou o raciocínio, era seu guia. Eles se opuseram ao ensino da justificação pela fé. Criam que a relação da pessoa com Deus era possível somente na Igreja Católica e através dela. A glossolalia atribuiu-se a esse grupo, que posteriormente foi condenado por Roma.

(41)

Morton T. Keisey, Tongues Speaking (Garden City, N. Y.: Doubleday and Company, Inc., 1964), pp. 52 e 53. (42) Robert Chandler Dalton, Tongues Like as of Fire (Springfield, Mo.: The Gospel Publishing House, 1945), p. 19.


Movimento Moderno de Línguas Os Quacres

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Os quacres começaram na Inglaterra no século dezessete com Jorge Fox (1624-1691). Seu alvo foi promover o reavivamento do cristianismo primitivo. Ele declarou que a "Luz Interior" estava dentro de cada homem. Não havia necessidade do ministério ordenado. Seus seguidores se sentavam em silêncio nos seus cultos até que Deus se revelasse diretamente a alguém, A Bíblia era considerada como inspirada por Deus, porém adotada somente como regra secundária, subordinada ao Espírito Santo e à "Luz Interior". A experiência julgava, pois, a Bíblia, e não o contrário. Notifica-se que a glossolalia ocorreu entre os quacres. Os Irvingitas Eduardo Irving (1792-1834) era presbiteriano escocês que muito se interessou pela escatologia. Esse interesse foi causado, em parte, pela Revolução Francesa, que provocara na Inglaterra um grande interesse no pensamento apocalíptico, e aumentou através de estudos bíblicos no lar de Henry Drummond. Irving se tornou notável também por causa da sua crença herética na substância pecaminosa no corpo de Cristo. A glossolalia rompeu entre seus párocos nos seus lares e mais tarde nos cultos da igreja, Os irvingitas distinguiam entre a glossolalia de Pentecostes, em idiomas estrangeiros, e a glossolalia corintiana, em línguas extáticas e desconhecidas. (43) Praticaram somente esta última. Um escritor testamentário pré-milenial até atribuiu a origem do ponto de vista do arrebatamento antes da tribulação a um pronunciamento glossolálico dentro da Igreja Irvingita. (44) (43)

Schaff, op. cit., I, p. 237. Schaff observou esse fenômeno posterior numa congregação dos irvingitas em Nova Iorque. As palavras eram desconhecidas; os que falavam eram inconscientes e sem controle sobre a língua. (44) J. Badon Payne, The Imminent Appearing of Christ (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co., 1962), p. 32.


Movimento Moderno de Línguas 29 Um desenvolvimento posterior dos irvingitas foi a Igreja Católica Apostólica. Ela restaurou a posição dos Doze Apóstolos e degenerou num catolicismo distorcido, abraçando ritos como a transubstanciação, a extrema unção, velas, incenso e água benta. Os Shakers (Tremedores) Os shakers, uma seita americana celibata e comunista, começaram durante o reavivamento quacre de 1747. Sua líder principal foi "Mãe" Ann Lee (1736-1784). Seus ensinos falsos incluíam: (1) Deus, os anjos e os espíritos eram tanto machos como fêmeas; (2) Jesus Cristo não foi o encarnado Deus-Homem; (3) a segunda vinda cumpriu-se em "Mãe" Ann; e (4) o reino de Cristo sobre a terra começou com a Igreja Shaker. Ann Lee pretendia falar setenta e dois idiomas. Dollar descreveu um tal pronunciamento: "O dom de línguas era também acompanhado por tempos de alegria inefável e de danças, durante as quais muitos dos seus hinos foram compostos, ainda que feitos de palavras ininteligíveis e nunca ouvidas antes." (45) (45) Os Mórmons O mormonismo, estabelecido por Joseph Smith (1805-1844), nega a salvação pela graça de Deus, a Trindade, a autoridade absoluta das Escrituras e a realidade do inferno. Todavia, o sétimo artigo de fé da Igreja dos Santos dos Últimos Dias declara que eles "crêem no dom de línguas, e em profecia, revelação, visões, curas, interpretação de línguas etc." (46)

(45)

(46)

George W. Dollar, "Church History and The Tongues Movement", Bibliotheca Sacra, CXX outubro-novembro, 1963), p. 320. Citado por Klaude Kendrick, The Promise Fulfilled (Springfield, Mo.: Gospel Publishing House, 1961), p. 24.


Movimento Moderno de Línguas Vários Avivamentos

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O fenômeno de falar línguas tem sido relatado como tendo ocorrido entre os "Leitores" na Suécia (1841-1843), durante os reavivamentos na Irlanda (1859) e entre os primitivos metodistas. (47) O século dezenove tem produzido testemunhos isolados daqueles que falaram línguas sem reconhecer o significado do evento. (48) Alguns têm dito que tanto Moody como Finney, os grande evangelistas, falaram línguas quando receberam o batismo do Espírito Santo. (49) Todavia, essa pretensão se baseia sobre evidência mui fraca. (50) Não há nenhum registro de Finney ou de Moody ter participado da glossolalia. É possível que, como resultado de suas reuniões, tenha havido alguns casos de glossolalia, porém isso de modo nenhum prova que eles tivessem parte ativa em promover o fenômeno. Resumo O período Pós-Reforma foi um tempo de confusão. Apareceu a glossolalia até nos lugares mais estranhos. Alega-se que crianças de apenas três anos de idade falavam línguas. As convulsões físicas dificilmente se podem harmonizar com a regra bíblica de controle próprio. A glossolalia não tinha absolutamente relação com as crenças ortodoxas. Católicos romanos, mórmons e seitas falsas (quakers, irvingitas, shakers), todos relataram a glossolalia como uma parte de sua vida eclesiástica. Também seria difícil provar que esses casos do fenômeno constituíssem um reavivamento do falar línguas conforme o registro na Bíblia. Há muitas discrepâncias. (47)

Schaff, op. cit., I, p. 237. Stanley Howard Frodsham, Whit Sions Following (Springfield, Mo.: Gospel Publishing House, 1946), pp. 7-17. Esse livro é dedicado à descrição histórica do avivamento Pentecostal através do mundo. (49) Ibid., pp. 9 e 10. Também Jerry Jensen, Baptists and The Baptism of the Holy Spirit (Los Angeles: Full Gospel Businessmen's Fellowship International, 1963), p. 2. (50) Brumback, loc. cit. Este escritor pentecostalista nega o valor evidencial de tais pretensões. (48)


Movimento Moderno de Línguas O Período Moderno (1900 . . .)

31

O movimento contemporâneo de glossolalia entre as igrejas históricas denominacionais tem seu alicerce e sua herança nas denominações pentecostais. Essas denominações são primariamente um desenvolvimento do século vinte. Esse é um período do nascimento, crescimento e expansão pentecostais. Causas do Pentecostalismo Que é que causou o surgimento da glossolalia e o estabelecimento subseqüente de igrejas pentecostais? Várias respostas têm sido dadas. Primeiro, houve um colapso da forte ortodoxia depois da Guerra Civil nos Estados Unidos. Como resultado, a evolução e a filosofia de Horácio Bushnell, expressa na sua Christian Nurture,(51) invadiram e conquistaram as igrejas estabelecidas. Segundo, a revolução industrial produziu a corrupção moral e problemas entre os trabalhadores e os diretores das fábricas. Terceiro, a reação a esse colapso espiritual, moral e econômico foi o surgimento do Movimento Pentecostal ou de Santidade. O metodismo e avivamentos em acampamentos enfatizavam a santidade cristã e a perfeição (a segunda bênção). Essa doutrina achou uma pronta aceitação nas áreas rurais e da fronteira nos Estados Unidos. Quarto, os principais líderes pentecostalistas (Spurling, Tomlinson, Parham) começaram a promover ativamente sua posição distintiva. Quinto, uma atitude simpática e tolerante para com o movimento pentecostal desenvolveu-se entre os líderes da ortodoxia americana. A clássica declaração de A. B. Simpson, um líder da Aliança Missionária Cristã, servirá como um exemplo: (51)

"Não há necessidade de uma conversão espontânea. As pessoas gradualmente se tornam cristãs através da educação, não por meio de um evento instantâneo da regeneração. São, por essência, boas, não más."


Movimento Moderno de Línguas

32

Cremos ser o ensino das Escrituras que o dom de línguas é um dos dons do Espírito, e que pode estar presente na assembléia cristã normal como uma dádiva soberana do Espírito Santo sobre aqueles que Ele quiser. Não cremos que haja qualquer evidência nas Escrituras para o ensino de que a glossolalia seja o sinal de haver recebido alguém a plenitude do Espírito Santo, nem tampouco cremos que seja o plano de Deus que todos os cristãos possuam o dom de línguas. Esse dom é um só dentre muitos dons e é dado a alguns para o benefício de todos. A atitude para com o dom de línguas por parte do pastor e do povo deve ser "Não o busqueis; não o proibais." Isto sustentamos ser a parte de sabedoria na presente hora. (52)

O próprio Simpson e seu movimento não se caracterizaram pela glossolalia; todavia, certos indivíduos dentro da denominação tentaram recobrar os dons espirituais. Os pentecostalistas se aproveitaram dessa atitude tolerante e enfatizaram o "não o proibais", negligenciando a ordem de "não o busqueis". Aceitaram a tese de que o dom de línguas é soberanamente dado, porém rejeitaram o ponto de vista de que não é o sinal do batismo ou da plenitude do Espírito Santo. Fundadores do Pentecostalismo Os movimentos são humanos. Os começos do pentecostalismo moderno são marcados por homens-chaves, que deram direção e ímpeto a sua posição distintiva. Havia muitos; aqui podemos mencionar apenas uns poucos. Ricardo G. Spurling, um ministro licenciado e pastor da Igreja Batista perto da comunidade de Cokercreek, na comarca de Monroe, no Estado de Tennessee, U.S.A., ficou insatisfeito com as igrejas estabelecidas, e formou seu próprio grupo em 1886. Mais tarde, na Comarca de Cherokee, no Estado de Carolina do Norte, ele dirigiu umas conferências avivalistas, que se distinguiram por uma extensiva glossolalia (1896). Seus ensinos e seus cultos avivalistas contribuíram (52)

Citado por Kelsey, op. cit., p. 75. Simpson dissera o mesmo em 1907. Foi reafirmado na Alliance Witness, órgão oficial da CMA, em 1963 (1 de maio 1963, Vol. 98, n.º 9, p. 19).


Movimento Moderno de Línguas 33 para o estabelecimento da Igreja de Deus, dirigida pela família Tomlinson. (53) Charles F. Parham (1873-1929) tem sido chamado "o pai do movimento moderno pentecostal". (54) Ele estabeleceu o Lar de Curas Betel (1898) e o Colégio Bíblico Betel (1900), em Topeka, Estado de Kansas. O corpo discente recebeu o pedido de pesquisar a questão: "Qual é a evidência bíblica do batismo do Espírito Santo?" Houve acordo unânime de que a glossolalia constituía essa evidência. Daquele tempo (outono de 1900) em diante houve um esforço convencionado de receber o batismo do Espírito Santo com sua evidência de glossolalia. Uma de suas alunas, Agnes Ozman, falou em línguas estranhas no 1° dia de janeiro de 1901. O significado desse evento foi apontado por Kendrick: "Embora Agnes Ozman não tenha sido a primeira pessoa nos tempos modernos a falar 'línguas', foi ela a primeira pessoa que teve tal experiência como um resultado de ter buscado especificamente o batismo no Espírito Santo com a expectação de falar 'línguas'." (55) Daí em diante, os pentecostalistas iriam ensinar que o batismo do Espírito Santo era uma experiência a ser procurada e a ser verificada em glossolalia. Por essa razão, a experiência de Agnes Ozman tem sido chamada o princípio do avivamento pentecostal. Em 1905, Parham estabeleceu a Escola Bíblica de Houston, em Houston, Texas, U.S.A. Um dos seus alunos convencidos foi W. J. Seymour, pregador negro da seita Santidade (Holiness). Seymour foi convidado a pregar numa igreja dos nazarenos em Los Angeles, Califórnia. Mais tarde essa igreja fechou-lhe as portas por ele dar excessiva ênfase à santidade nos seus sermões. Então ele manteve reuniões numa casa particular, de n.° 214, na rua Bonnie Brae do Norte. No dia 6 de abril de 1906, sete pessoas "receberam o batismo do Espírito (53)

Para informação adicional, ver Charles W. Conn, Like a Mighty Army Moves the Church of God, 1886-1955 (Cleveland, Tenn.: Church of God Publishing House, 1955, 300 páginas. (54) Kendrick, op. cit., p. 37. (55) Ibid., p. 53.


Movimento Moderno de Línguas 34 Santo e falaram línguas". Muita gente, então, atraída pelos gritos de louvor procedentes do edifício, ia às reuniões. Estas foram transferidas para o n.° 312 da rua Azusa, mais tarde conhecida corro a famosa Missão da rua Azusa. De dia e de noite, essas reuniões se estenderam por três anos. Desse lugar, o ensino dos pentecostais se espalhou rapidamente através da terra. Que caracterizou esses cultos? Foram dirigidos por pregadores de ambos os sexos. O Espírito de Deus foi visto cair sobre pessoas. (56) Gaebelein copiou esta citação do boletim da Missão da rua Azusa: "O poder de Deus manifestou-se e todos foram apanhados no Espírito e viram visões de Deus. Várias pessoas tiveram uma visão do Salvador. Ele tinha na mão um livro. Elas viram os sinais dos cravos nas suas mãos, de onde o sangue escorria, enquanto Ele escrevia seus nomes no livro com seus dedos e com o sangue que escorria de sua mão traspassada." (57) Perguntar-se-ia se isso foi alucinação, em vez de visão. Pode-se ver a Deus e a Cristo hoje em dia? Presentemente Cristo está sangrando no céu? Crescimento do Pentecostismo Certas passagens no Velho Testamento se referem à chuva que cai na Palestina em duas estações: a chuva temporã e a serôdia (Os. 6:3; Joel 2:23). Os pentecostais crêem que essas passagens têm um caráter profético. A chuva temporã representava o Pentecostes com seus sinais e bênçãos (At. 2). A chuva serôdia começou no fim do século passado e continua a cair dentro do avivamento e crescimento pentecostais. Tal convicção (ainda que edificada sobre uma interpretação errada e aplicação errônea das Escrituras), sem dúvida, tem dado ímpeto a seu crescimento. (56) (57)

Frodsham, op. cit., p. 37. Arno C. Gaebelein, The So-Called Gift of Tongues, Our Hope, XIV, (julho, 1907), p. 15.


Movimento Moderno de Línguas 35 No começo, as assembléias pentecostais permaneceram isoladas umas das outras, mas logo viram a necessidade de se associarem. Mais de uma dúzia de denominações pentecostais se desenvolveram. "Conquanto exista alguma divergência de doutrina, uma posição básica une os pentecostais – sua crença comum de que 'o batismo no Espírito Santo' seja uma experiência distinta que todos os crentes podem e devem ter depois de seu batismo " (58) O desenvolvimento das congregações pentecostais levou-as para a convenção em Hot Springs, Estado de Arkansas, de 2 a 12 de abril de 1914. Isso, então, levou para a formação das Assembléias de Deus, o maior dos grupos pentecostais. Seu crescimento tem sido marcado por Kendrick: (59) Ano 1920 1939 1949 1959

Igrejas 1612 3496 5950 8094

Membros 91.981 184.022 275.000 505.552

Hoje (1967) há mais de 8.409 igrejas com 543.003 membros. As igrejas se localizam em cada estado e em setenta e três países. Apenas este exemplo esclarece bem por que TIME chamou o pentecostismo "a igreja que mais cresce no hemisfério". (60) É muito atraente aos católicos romanos da América Latina. É provável que os pentecostais excedem os protestantes tradicionais na proporção de quatro a um na América Latina. Em 1948, dez denominações se uniram para formar a Pentecostal Fellowship da América do Norte. Há também uma "Pentecostal (58)

Thomas F. Zimmerman, The Pentecostal Position, The Pentecostal Evangel (Springfield, Mo.), 102.1963, p. 2. (59) Kendrick, op. cit., p. 95. Esse livro dá uma história do movimento moderno pentecostal especialmente o das Assembléias de Deus. (60) "Fastest – Growing Church in The Hemisphere" op. cit., p. 56.


Movimento Moderno de Línguas 36 Fellowship" mundial com uma publicação internacional, Pentecost, editada por Donald Gee. Seu crescimento é bem sensível. Ênfase Corrente No passado, os distintivos do pentecostismo eram limitados a seus próprios grupos. Todavia, nos anos recentes, a mensagem pentecostal tem sido aceita por membros das históricas igrejas protestantes estabelecidas. Quando começou tudo isso? A maioria dos observadores data o começo da ênfase corrente como tendo ocorrido nos anos 1955-1960. O evento que provou ser o elemento catalisador do movimento moderno de glossolalia ocorreu em Van Nuys, Califórnia, no dia 3 de abril de 1960. O reitor da Igreja Episcopal de São Marcos, Rev. Dennis Bennett, anunciou, do seu púlpito, que ele havia falado "línguas estranhas". Essa declaração não somente sacudiu a sua congregação, mas recebeu publicidade e se tornou notória na nação inteira. O evento tem sido aclamado como o início da renovação carismática nas igrejas históricas, com sua ênfase sobre os dons do Espírito Santo e o dom de línguas em particular. A natureza desse movimento será mais amplamente discutida no capítulo a seguir.

Resumo O fenômeno de falar "línguas" não se acha somente na religião cristã. Ocorrências entre os pagãos foram também registradas no Relatório de Wenamon, nos Diálogos de Platão e na Eneida de Vergílio. A pitonisa de Delfo e os aderentes das religiões de mistério teriam falado "línguas". No século vinte, isto ocorreu entre os maometanos, os esquimós e os pagãos do Tibete e da China. Visto que Deus não é a fonte dessa glossolalia, essas instâncias demonstram que o fenômeno pode ser duplicado por esforço satânico, ou humano. No Velho Testamento, há casos de fala profética acompanhada por ações físicas estranhas, porém não há indicação definida de que ocorresse a glossolalia.


Movimento Moderno de Línguas 37 As primeiras ocorrências de glossolalia bíblica acham-se registradas no Novo Testamento. Foi predita por Jesus (Mar. 16:17; mas esta referência é contestável), experimentada pelos discípulos em Jerusalém (At. 2), por Cornélio em Cesaréia (At. 10), pelos discípulos de João, o Batista, em Éfeso (At. 19) e pela igreja em Corinto (I Cor. 12-14). Estas passagens serão discutidas mais tarde. Na era pós-apostólica (100-600 d.C.) cessou a glossolalia como atividade normal dos crentes. Justino Mártir, Irineu, Orígenes, Crisóstomo e Agostinho, todos testificaram esse fato. As únicas ocorrências do fenômeno se deram entre os montanistas (Montano e possivelmente Tertuliano) e num monge ascético, Pacômio. As posições heréticas desses homens argumentariam contra a genuinidade da glossolalia bíblica entre eles. Durante a Idade Média e o período da Reforma (590-1648), alegase que certos "santos" católicos romanos tenham falado "línguas". Também, por causa da fraca base doutrinária da Igreja Católica Romana e a tendência de exagerar os "feitos" de seus santos, essas pretensões têm de ser rejeitados. O intenso avivamento espiritual e doutrinário na Europa (a Reforma) não produziu nenhum caso de glossolalia. A referência a Martinho Lutero é espúria. O período Pós-Reforma (1648-1900) produziu um grande número de casos de glossolalia. O fenômeno apareceu entre os profetas de Cevennes, jansenitas (um grupo de católicos romanos), quacres, irvingitas, shakers, mórmons e no meio de vários avivamentos no século dezenove. Nenhum desses grupos pode ser considerado como ortodoxo, quer na doutrina quer na vida. A natureza de sua glossolalia não está em harmonia com as experiências e os regulamentos bíblicos. O século vinte testemunhou o nascimento, o crescimento e a influência do pentecostismo moderno. Esse movimento, com sua ênfase sobre a glossolalia, é uma força a ser considerada. No próximo capítulo será discutida a sua natureza.


Movimento Moderno de Línguas

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A NATUREZA DO MOVIMENTO MODERNO DE GLOSSOLALIA A EXPRESSÃO contemporânea do movimento de "línguas" tem uma existência de apenas cinco para dez anos, no entanto, tem causado grande debate e pavor, tanto nos círculos pentecostais como nos nãopentecostais, incluindo tanto os campos liberais como os conservadores. Uma compreensão da natureza básica desse fenômeno contemporâneo é, portanto, imperativo para cada estudante sério da Bíblia. Um estudo do pentecostismo moderno como tal não será tentado, mas somente no que ele afeta as igrejas estabelecidas do protestantismo. Uma vez apresentada essa natureza básica, o movimento contemporâneo poderá, então, ser avaliado à luz da verdade bíblica, para descobrir se é de Deus ou não. O propósito deste capítulo, portanto, é apresentar os advogados do movimento contemporâneo de "línguas", seu alcance, suas características, suas causas e as avaliações subseqüentes desse novo fenômeno. Advogados do Movimento Moderno Muitos grupos, publicações religiosas e personalidades principais estão promovendo ativamente a renovação carismática entre as igrejas históricas protestantes. Quando o assunto da glossolalia moderna for discutido, esses nomes serão mencionados. O "Full Gospel Business Men's Fellowship International"(1) (A Comunhão do Pleno Evangelho de Homens de Negócio) é uma organização de homens de negócio que compromete totalmente a mensagem plena do evangelho, com sua ênfase sobre dons espirituais e o fenômeno de falar "1ínguas" como evidência do batismo do Espírito Santo. (1)

Sua sede se localiza em 836 South Figueroa Street, Los Angeles, Califórnia. USA. A organização daqui em diante será referida como FGBMFI.


Movimento Moderno de Línguas 39 A Organização foi concebida e fundada por Demos Shakarian, (2) rico negociante da Califórnia, que foi encorajado na idéia por Irvine J, Harrison e Oral Roberts. Shakarian presentemente serve como presidente dessa organização internacional. Uma organização relacionada é a World Missionary Assistance Plan (World MAP) (Plano de Assistência Missionária Mundial), uma comunhão não-denominacional, patrocinada pela Full Gospel Missionary Fellowship e composta de missionários "cheios do Espírito", que trabalham no hemisfério ocidental, no Oriente, no suleste da Ásia, na Índia e na África. Quais são os propósitos da FGBMI? Mahoney declarou : "Eu creio que um dos propósitos específicos para a FGBMFI é o de sobrepor o abismo que tem dificultado o alcance das igrejas tradicionais pela mensagem pentecostal."(3) Essa é a verdade. A FGBMFI, mais do que qualquer outra organização, tem alcançado e ganho pessoas dentro das igrejas históricas. Como foi feito isso? Primeiro, a FGBMFI tem patrocinado banquetes e convenções através do país inteiro e do mundo. Há banquetes locais cada mês (4) e convenções regionais, nacionais e internacionais, convocadas em centros convencionais e hotéis modernos. Nessas reuniões, oradores destacados são líderes pentecostais proeminentes e tanto leigos como ministros das tradicionais igrejas Protestantes que tenham recebido "o batismo no Espírito Santo acompanhado pela evidência da glossolalia". Muitos visitantes das igrejas históricas são convidados a essas reuniões e, como resultado, aceitam a mensagem pentecostal. Estes, então, voltam a suas respectivas igrejas e testemunham das suas novas experiências. Em conseqüência, (2)

(3)

(4)

A família Shakarian é muito reverenciada em círculos pentecostais. Por mais de cem anos, tem sido marcada por pretensões de revelações proféticas diretas, milagres de cura, visões e glossolalia. Depois de emigrar da Armênia, a família teve contato com a Missão da rua Azusa, e uma das primeiras igrejas pentecostais na América foi estabelecida no seu lar em 1905. Para mais informações, ver Thomas R. Mickel, The Shakarian Story, Los Angeles: FGBMFI, 1964, p. 32. Ralph Mahoney, "Pentecost in Perspective", Full Gospel Business Men's Voice, XIII (maio de 1965), p. 4. O autor assistiu a um deles. Ver sua descrição no Apêndice 1.


Movimento Moderno de Línguas 40 muitas igrejas têm aceito integralmente esse ensino pentecostal de uma renovação dos dons espirituais, mas outras igrejas têm sido divididas por ele. Concernente à semelhança da FGBMFI com os não-pentecostais, Hitt, redator da revista Eternity, candidamente observou: "A técnica mais polida das relações públicas tem sido aproveitada para levar avante o movimento. Conquanto não haja, certamente, nada errado em utilizar as técnicas modernas, o neo-pentecostismo não pode pretender espontaneidade completa." (5)

O surgimento de glossolalia deve ser visto como o resultado de uma tentativa determinada por parte dos pentecostais para ganhar membros das igrejas históricas que tenham ficado insatisfeitos com sua experiência espiritual pessoal (nenhuma, em alguns casos) e com o formalismo oco de suas igrejas locais. Um segundo método de promover a mensagem do "pleno evangelho" tem sido através da imprensa. Há três publicações impressas pela FGBMFI. Sua revista mais popular é Voice, publicação mensal, que contém testemunhos daqueles que têm sido "batizados no Espírito Santo" e anúncios de convenções futuras. Vision é uma revista que apela especialmente à juventude. View é um jornal trimestral que trata da renovação carismática. Outro grupo-chave é a Blessed Trinity Society (Sociedade da Trindade Bendita), que patrocina reuniões pelo país todo. Um ministro da Igreja Reformada Holandesa, Harold Bredesen, de Mt. Vernon, Estado de Nova York, é o presidente da Junta e seu orador principal, especialmente nos campos colegiais. David J. du Plessis, um dos diretores, é pentecostalista do sul da África "que crê ter recebido a chamada de levar a mensagem aos líderes ecumênicos. Na sua opinião, a 'renovação pentecostal' dentro do movimento ecumênico talvez se torne maior do que a de fora. Suas atividades ecumênicas levaram as Assembléias de Deus a cortar as suas relações ministeriais com ele." (6) Jean Stone, esposa de um executivo da Lockheed Aircraft Cia., é membro da Junta e redatora da (5) (6)

Russell T. Hitt, "The New Pentecostalism: An Appraisal", Eternity, XV (julho, 1963), p. 16. Frank Farrell, "Outburst of Tongues: The New Penetration", Christianity Today, VII (13-9-1963), p. 6


Movimento Moderno de Línguas 41 atraente revista Trinity, publicada pela sociedade, e que recebe uma orientação episcopal, sendo produzida em Van Nays, Califórnia. Ela expressa o propósito da sociedade nestas palavras: "Muitas pessoas têm almejado ver Deus derramando o Seu Espírito nas igrejas históricas... Foi para que isso acontecesse que a Blessed Trinity Society chegou a existir." (7)

Publicações pentecostais (Abundant Life, The Pentecostal Herald, The Pentecostal Evangel, Miracle Magazine, Pentecostal Holiness Advocate, The Voice of Healing, Pentecost) natural, mente procuram levar avante o movimento. Uma revista bem conhecida, mensal, Christian Life, editada por Robert Walker, está promovendo ativamente o reavivamento carismático. Colégios pentecostais estão melhorando as suas normas acadêmicas e procurando melhorar a apresentação de seu apelo e seu "status". De fato, a Universidade Oral Roberts, com sua Escola Graduada de Teologia (aberta em1965), foi estabelecida com o propósito expresso de oferecer o "melhor" na educação cristã e de promover a renovação carismática. Localiza-se em Tulsa, Estado de Oklahoma, U.S.A. Alcance do Movimento Moderno Até que ponto tem tocado o moderno movimento de "línguas" o mundo secular e sacro? Sua extensão apontará o significado de um estudo como este. O Mundo Secular Publicações de destaque nacional têm publicado artigos sobre o novo pentecostismo (Life, Saturday Evening Post, Time, Newsweek, The National Observer etc.). Também tem havido cobertura por parte do rádio e da televisão. De fato, houve, em 21 de abril de 1965, uma (7)

Jean Stone, "Would You Like a Christian Advance?" Trinity, II (Christmastide, 1962-1963), p. 51. A sede da sociedade localiza-se em P. O., Box 2422 Van Nuys, Califórnia, USA.


Movimento Moderno de Línguas 42 reportagem especial no noticiário da tarde da CBS, pelo jornalista Walter Kronkite, salientando a glossolalia com Harold Bredesen. Escolas e Grupos David J. du Plessis tem apresentado a mensagem carismática ao Concílio Missionário Internacional do Concílio Mundial de Igrejas, à Aliança Presbiteriana Mundial, à Escola de Divindade de Yale, ao Seminário Teológico União (New York) e ao Seminário de Princeton.(8) Homer A. Tomlinson, bispo e superintendente geral da Igreja de Deus em Queens Village, Nova York, tem lecionado sobre "línguas" em mais de vinte e dois seminários, inclusive de Yale e de Harvard e em mais alguns seminários católicos e entre grupos muçulmanos.(9) Reportagens de glossolalia têm chegado também de Dartmouth, Seminário Fuller, Colégio Westmont e Colégio Wheaton.(10) A glossolalia aparentemente tem ocorrido dentro de grupos conservadores como os Navigators (navegadores), os Tradutores Wycliff da Bíblia e a Inter-Varsity Christian Fellowship (Comunhão Cristã entre Alunos Universitários). Denominações Praticamente, todas as maiores denominações históricas têm sido penetradas e influenciadas pelo novo avivamento carismático. A (8)

(9)

(10)

James W. L. Hills, "The New Pentecostalism: Its Pioneers and Promoters", Eternity, XIV (julho de 1963), p. 18. Contido numa carta de Tomlinson a Ricardo Ruble. Citado por Richard Lee Ruble, "A Scriptural Evaluation of Tongues in Contemporary Theology" (tese inédita Th. D., Dallas Theological Seminary, 1964), p. 66. Farrell, op. cit., pp. 3 e 4. Entretanto, V. R. Edman, do Colégio Wheaton, negou que tivesse havido um avivamento de glossolalia em Wheaton, porém afirmou que uns poucos alunos haviam "falado em línguas" sob influências externas. Ver V. R. Edman, carta ao redator de Christianity Today, VIII (25-10-1963), p. 23.


Movimento Moderno de Línguas 43 penetração na Igreja Holandesa Reformada pode se ver em Harold Bredesen, pastor da Primeira Igreja Reformada de Mount Vernon, New York. Ele gasta a maior parte do seu tempo promovendo a renovação carismática, tanto dentro como fora de sua denominação. O impacto dentro da denominação episcopal (11) tem sido tão forte que oficiais da Igreja Episcopal Protestante e das Assembléias de Deus tiveram uma conferência em conjunto para discutir o ministério do Espírito Santo hoje em dia. Um dos eminentes oradores é Dennis Bennett, o reitor episcopal cuja confissão de glossolalia na Igreja de São Marcos, em Van Nuys, Califórnia, deu início à renovação carismática. Depois de ser obrigado a se demitir, tornou-se reitor da Igreja Episcopal de São Lucas em Seattle, no Estado de Washington. Freqüentemente, ele fala em banquetes e convenções da FGBMFI e contribui com muitos artigos para as publicações principais. Muitos ministros e leigos batistas têm falado "línguas". (12) Isto ocorreu entre membros de igrejas associadas com a Convenção do Sul, a Convenção Batista Americana e a Comunhão Bíblica Batista. Francis Whiting, um líder dentro da ABC, tem falado a favor do fenômeno de glossolalia perante o Seminário Batista do Norte. Haward Ervin, pastor da Igreja Batista Emanuel, Atlantic Highlands, New Jersey, na sua glossolalia, tem falado, supostamente, a nacionais e estrangeiros (japoneses, russos, espanhóis), nas suas próprias línguas ou idiomas. Tem servido também como consulente teológico na Oral Roberts Graduate School of Theology. Igrejas presbiterianas também foram afetadas. (13)A elegante Igreja Presbiteriana de Bel Air, em Los Angeles, pastoreada por Louis Evans, Jr., evidenciou esse fenômeno. (14) Um orador eminente tem sido James (11)

(12)

(13)

(14)

Jerry Jensen (ed.), Episcopalians and the Baptism in the Holy Spirit (Los Angeles: FGBMFI, 1964). Esse livrete contém testemunhos de eminentes episcopais que têm falado em "línguas". Jerry Jensen (ed.), Baptists and the Baptism of the Holly Spirit (Los Angeles: FGBMFI, 1963). Esse livrete contém testemunhos de batistas que têm falado em "línguas". Jerry Jensen (ed.), Presbyterians and the Baptism of the Holy Spirit (Los Angeles: FGBMFI, 1963). Contém testemunhos de presbiterianos que têm "falado línguas". Robert Walker, "Church in the Mountaintop", Christian Life, XXV (julho, 1963), pp. 27-31.


Movimento Moderno de Línguas 44 Brown, ministro da Igreja Presbiteriana Unida de Upper Octorara, em Parkesburg, Estado de Pensilvânia. Brown tem pregado muito nos banquetes e convenções da FGBMFI. A revista TIME relatou que pelo menos 260 das 5.239 Igrejas Luteranas Americanas têm células de glossolalia. (15) Larry Christenson, eminente ministro luterano e entusiasta da glossolalia, tem descrito a existência do fenômeno na Evangelical Mary Sisterhood, em Darmstadt, Alemanha Oriental. (16) Essa congregação de religiosas pratica os dons do Espírito e confissão particular ou privada. Também se ocupa com evangelismo, ensino, drama religioso, obras de caridade e de misericórdia e publicação dos escritos da Mãe Basiléia. A Mãe Basiléia, fundadora e teóloga da comunidade, possui o doutorado em filosofia e em psicologia. Suas maiores influências teológicas foram Dietrich Bonhoeffer e Karl Barth. Muito se tem interessado também nos místicos Madame Guyon, Benedito de Núrsia e Francisco de Assis. O metodismo também tem sentido o impacto da glossolalia. (17) A Igreja Cristã de Hillorest (Discípulos de Cristo), em Toronto, Canadá, tem informado que quase todos os nove dons espirituais estão em evidência dentro da igreja. Pretende-se que Deus se tem revelado a vários membros e que tem feito conhecer a Sua vontade mediante sonhos e visões. (18) Um sacerdote da Igreja Russa Ortodoxa diz que sua igreja tem tido alguns que "falam línguas", mas estes se acham nos monastérios, não no nível da paróquia. (19) O fenômeno se acha até na Igreja Católica Romana. Alguns do clero católico afirmaram a Bennett que o dom de línguas (e outros) têm

(15)

"Taming the Tongues", Time, LXXXIV (10 de julho de 1964), p. 66. Larry Christenson, "Miracles Are Not Commonplace Here", Christian Life, XXVII (junho, 1965), pp. 36 e 37, 52-54. (17) Jerry Jensen (ed.) Methodists and the Baptism of the Holy Spirit, (Los Angeles: FGBMFI, 1963). Contém testemunhos de metodistas que têm "falado línguas". (18) Don W. Basham, "I Saw My Church Come Alive", Christian Life, XXVI (março de 1965), pp. 37-39. (19) Dennis Bennett, "The Charismatic Renewal and Liturgy", View, II, (n.º 1, 1965), p. 1. (16)


Movimento Moderno de Línguas 45 (20) estado na Igreja Católica Romana através da sua história. Também, um católico recentemente admitiu: "A glossolalia está muito mais espalhada do que reconhece a maioria dos cristãos. Sou católico romano já por muitos anos, e tenho achado o 'falar línguas' ser parte integral das minhas devoções particulares." (21) A erupção de glossolalia não se limita à América do Norte. Reportagens de avivamento pentecostal vêm das Filipinas, do Japão, da ilha Formosa, da Suécia, da Holanda, do Sul da África e da América Latina (nota do tradutor). Relata que setenta por cento dos evangélicos da Polônia têm recebido o Espírito Santo e "falado línguas" como evidência. (22) Personalidades Além das pessoas já mencionadas, há outras, bem conhecidas, tanto ao mundo secular como ao religioso, que, segundo se afirma, têm "falado línguas". A autora Catherine Marshall Le-Sourd viúva do recém-falecido Peter Marshall, é uma. Outra é Colleen Tawnsend Evans, esposa do ministro presbiteriano Louis Evans e ex-atriz de Hollywood, que tomou parte principal em vários filmes cristãos. Chandler Sterliny, bispo episcopal do Estado de Montana, tem experimentado o fenômeno. Também o tem McCandlish Phillips, repórter do New York Times, e John Sherrill, do corpo de escritores da revista Guideposts. (23) O largo escopo da glossolalia dentro das igrejas históricas tem criado um pequeno dilema para seus aderentes. Ao presente, esses (20)

Ibid. Michael Callaghan, Letter to the Editor, Time, LXXXVI (5 de Setembro de 1960), p. 2. (22) Wesley R. Hurst, Jr., "Upon All Flesh", The Pentecostal Evangel (2-5-1965), p. 11. (23) Citada por Lee E. Dirks, "Tongues and The Historic Churches", The National Observer, (26-101964). Também John L. Sherrill, They Speak with Other Tongues (New York: McGraw-Hill Book Company, 1964). Este é um registro autobiográfico do seu avanço desde a curiosidade e a dúvida quanto às línguas até o tempo em que ele mesmo chegou a falar "línguas". Está recebendo larga publicidade e circulação por parte da FGBMFI. (21)


Movimento Moderno de Línguas 46 "glossolalistas" têm ficado como membros leais nas suas igrejas. Entretanto, seu zelo pela experiência recentemente descoberta tem causado lutas e divisão dentro de suas igrejas locais. Há várias alternativas para a solução desse problema. Poderão eles ficar nas suas igrejas locais, pôr em prática suas experiências e arriscar uma divisão da igreja ou uma possível excomunhão. Poderão ficar e calar-se a respeito das suas experiências. Ou, então, poderão sair das suas respectivas igrejas e identificar-se com assembléias pentecostais. Somente o passar do tempo revelará o curso que eles seguirão. Características do Movimento Moderno Para que se compreenda a natureza do "movimento de línguas", precisa-se de uma visão acurada de suas características. Quem fala? Onde ocorre a "fala"? Quais as outras coisas que acompanham a "fala"? Quais os resultados de tais experiências? Como se chega ao ponto de poder "falar línguas"? Participantes No passado, certas generalizações se empregavam para atacar e refutar a posição pentecostal. Hoje em dia, essas declarações categóricas têm de ser consideradas como falsas ou, pelo menos, somente como verdadeiras em parte. Uma observação clássica foi feita por Stegall, um ávido estudioso do pentecostismo: O apelo do pentecostismo limita-se bem claramente aos ingênuos e de mente crédula, que aceitam coisas sem investigá-las. A grande maioria dos seguidores desses curadores é constituída de velhos, de estouvados – de pessoas postas de lado, à margem, pela sociedade e esquecidas por parte das orgulhosas 'igrejas estabelecidas', para nosso descrédito eterno. (24)

(24)

Carroll Stegall, Jr., The Modern Tongues and Healing Movement (Atlanta, Ga.: pelo autor, n.d.), p. 53.


Movimento Moderno de Línguas 47 Martin acrescentou que somente os de baixo intelecto e os de grupos de baixo padrão econômico participam do fenômeno. (25) Tais declarações simplesmente não podem ser feitas hoje em dia. O novo pentecostismo tem sido abraçado pelos ricos e pelas pessoas cultas e educadas, inclusive professores, escritores, ministros, médicos e advogados.(26) Está representada numa grande proporção de fundamentos pessoais e denominacionais. Em toda parte se vê essa glossolalia moderna: nos lares, em grupos de oração privados e públicos, nos cultos públicos e nas salas de banquetes e de convenções. É muito parecido com o velho pentecostismo, e ainda assim um tanto diferente. A Sra. Stone expressou algumas dessas diferenças: ... menos emoção em receber o dom de línguas, após o que se fala à vontade – seu uso privado é mais importante do que o público, está mais orientado para o clero e as classes profissionais, mais centralizado na Bíblia como contra-experiência, não é separatista, suas reuniões são mais ordeiras, com uma aderência estrita às diretivas Paulinas, há menos ênfase a línguas. (27)

O velho pentecostismo, todavia, ainda persiste e é uma parte integrante do novo movimento. Dalton, um ministro na Assembléia de Deus, uma vez classificou três grupos dentro do pentecostismo: o grupo ordeiro, que faz tudo com decência e ordem; o grupo que derivou do grupo ordeiro, que tenta produzir por meios carnais o que os outros têm no Espírito; e o grupo que é somente carnal e sempre o foi. (28) Sem dúvida, esses grupos ainda existem hoje em dia.

(25)

Martin, op. cit., pp, 17, 25. Todavia, Jean Stone notificou que Martin se retratou desta posição e aceitou a genuinidade do fenômeno moderno. Ver Jean Stone e Harold Bredesen, The Charismatic Renewal in the Historic Churches (Van Nuys, Calif.: Blessed Trinity Society, n.d.) Reimpresso de Trinity, Tnnitytide, 1963. (26) Jerry Jensen (ed.), Attorney's Evidence on the Baptism in The Holy Spirit (Los Angeles: FGBMFI, 1965). Contém testemunhos impressionantes de advogados que têm "falado línguas". (27) Citado por Farrell, op. cit., p. 6. (28) Dalton, op. cit., p. 116.


Movimento Moderno de Línguas Concomitantes

48

Muitas vezes, certas coisas fora do comum acontecem antes e depois de a pessoa ter "falado línguas". Um médico relatou: "Quando me deitei, logo ao me cobrir, o quarto se encheu de um ruído como que de um vento impetuoso, e, dentro de alguns momentos, vi línguas como que de fogo." (29) Quatro meses mais tarde, esse homem recebeu o batismo e falou "línguas", depois de certas pessoas lhe haverem "imposto as mãos conforme o padrão bíblico". (30) Aqui está em ordem uma observação baseada nas Escrituras. O som, como que de um vento impetuoso e línguas como que de fogo estavam presentes no Pentecostes (At. 2:2,3), porém não houve imposição de mãos. No Pentecostes, ao ocorrer o som de vento e o fogo, os discípulos se encheram do Espírito e começaram a falar em outras línguas (At. 2:4). Esse homem, conforme seu próprio testemunho, não recebeu o Espírito e não falou "línguas" até quatro meses mais tarde! O som no Pentecostes atraiu uma grande multidão, porém esse som que ele diz ter ouvido não atraiu ninguém. Mais alguém escreveu: "Recentemente, em uma das nossas reuniões, pelo menos vinte pessoas sentiram o cheiro de perfume e incenso." (31) Daí concluiu que isso foi o resultado de os crentes serem "o cheiro de vida para a vida" (II Cor. 2:16). Essa interpretação daquela experiência e daquele verso é certamente esquisita. Certamente não há nenhum incidente registrado na Bíblia em que os crentes sentissem o cheiro da fragrância celestial e, muito menos, uns dos outros. O tremer e as convulsões físicas ainda se acham associados com a glossolalia. (32) Todavia, esse concomitante é deplorado por muitos. (29)

R. O. McCorkle, "Witness to the World", Full Gospel Business Men's Voice, XIII (fevereiro de1965), p. 23. (30) Ibid., p. 28. (31) John Topping, "Hearts Aflame", Full Gospel Business Men's Voice, XIII (fevereiro de 1965), p. 6. (32) O autor assistiu a um culto numa igreja pentecostal onde isto se deu. Ver o Apêndice II.


Movimento Moderno de Línguas 49 David du Plessis, anteriormente Secretário Geral da Conferência Mundial Pentecostal, escreveu: Considero que é heresia falar em sacudir, tremer, cair, dançar, bater palmas, gritar e coisas semelhantes como "manifestações" do Espírito Santo. Tais reações são puramente humanas diante do poder do Espírito Santo e freqüentemente dificultam, mais do que ajudam as manifestações genuínas. (33)

Visões e choques elétricos passarem pelo corpo também têm sido experimentados. João Osteen, ministro batista, pretendeu ter visto a Jesus e o ter ouvido falar. Quando estendeu a mão para tocar em Jesus, um milhão de volts de eletricidade, como duas faíscas de relâmpagos, atingiu-lhe as mãos. Mais tarde, ele declara ter visto uma bola de luz, que continha "um homem" com as mãos estendidas, aproximando-se dele. Quando deu um salto e se retirava em pânico, a bola de luz explodiu e deixou em escuridão o quarto. Numa outra ocasião, ele diz ter tido a visão de uma mão saindo da eternidade, segurando uma garrafa oriental, contendo azeite. Quando o azeite foi derramado, uma voz proclamou: "Ungi o teu coração para falares ao povo amanhã."(34) Cho Yonggi, budista convertido e co-pastor do centro evangelístico das Assembléias de Deus em Seoul (Coréia), deu o seguinte relato de sua cura da tuberculose: Eu vi o Senhor.., e Lhe disse: "Sim, Jesus, pregarei o Teu Evangelho." Tentei tocar-Lhe os pés. Logo que toquei as suas vestes, o que me parecia ser mil volts de eletricidade entrou no meu corpo, e comecei a tremer. Então palavras estranhas vieram a minha boca e comecei a falar em outras línguas. Quando acordei dessa visão, já era homem mudado. Logo fui ao hospital e tirei uma radiografia. Não havia mais sinal nenhum da tuberculose.(35)

(33)

Citado por Tod W. Ewald, "Aspects of Tongues", View, II (N.º 1, 1965), p. 9. Estas mesmas coisas foram testemunhadas pelo autor. Ver Apêndice II. (34) John H. Osteen, "He Heard God Speak", Baptists and the Baptism of the Holy Spirit (Los Angeles: FGBMFI, 1963), pp. 8 e 9. (35) Hurst, op. cit., pp. 11 e12.


Movimento Moderno de Línguas 50 Frodsham, historiador pentecostal, relata que meninos e jovens chilenos haviam experimentado visões. (36) Dançaram com anjos, andaram a pé na nova Jerusalém e no terceiro céu, brincaram à beira dos rios, no Éden celestial, com animais domesticados, saborearam os frutos, deleitaram-se com as flores e os passarinhos, no paraíso restaurado, visitaram o inferno, testemunharam os eventos narrados no Velho Testamento, nos Evangelhos e no Apocalipse, viram os seus entes queridos já mortos e viram a Cristo. Vento, perfume, tremor, convulsões físicas, choques elétricos, luzes, transpiração (devido ao calor do Espírito Santo), visões, curas, ver e ouvir a Cristo e tocar nele – essas coisas são concomitantes da glossolalia. Procura-se em vão no Novo Testamento tais acompanhamentos no ministério do Espírito Santo na vida dos crentes ao tempo em que alguns deles "falaram línguas". Resultados Os que têm "falado línguas" testemunharam do fato de que agora têm uma vida mudada ou transformada. Pecados pessoais são enfrentados, confessados e abandonados. Time relatou que, para os participantes, a glossolalia "ajuda a vencer o alcoolismo, a reparar casamentos em dissolução e a adiantar a obra de Cristo". (37) Há um novo interesse na igreja, envolvendo a assistência regular, o dízimo, o dar conselhos e testemunhar a favor de Cristo. Há um novo desejo de ler e estudar a Bíblia. Têm eles um novo senso do amor divino e da alegria, que se manifesta no calor pessoal e no cântico entusiasmado. A experiência de "falar línguas" tem feito com que alguns adorem a Deus mais livre e profundamente, ainda que não compreendam as palavras que proferem. Alguns têm experimentado curas tanto físicas como mentais. (36) (37)

Frodsham, op. cit., pp. 131-138. "Against Glossolalia", Time, LXXXI (17-5-1963), p. 84.


Movimento Moderno de Línguas 51 "Mas a coisa mais maravilhosa é a convicção quanto à realidade de Deus e à obra da redenção por Cristo que começa a aparecer na sua vida. Essas pessoas sabem que são herdeiras do Reino, pois dele têm o antegozo nessa comunhão dinâmica no Espírito Santo." (38) Todos esses resultados são recomendáveis, porém deve-se lembrar de que os resultados de uma experiência espiritual não constituem o teste da genuinidade divina da experiência. Sua interpretação quanto à causa e o significado da experiência talvez estejam errados. Todas as experiências têm de ser julgadas pela Palavra de Deus. O fim não justifica nem revela os meios. Instruções Como é que se chega a "falar línguas"? Será que uma pessoa de repente começa a falar, sem ter tido qualquer conhecimento prévio ou desejo de experimentar o fenômeno? Ou recebe ela ajuda em forma de instruções? Quanto ao moderno movimento de "línguas", esse último é o caso. Christensen, ministro luterano e "glosso1alista", disse: "Para se falar 'línguas', tem que se deixar de orar em inglês (ou português)... Simplesmente se tem de ficar quieto e resolver não falar nenhuma sílaba de qualquer idioma que se tenha aprendido. Os pensamentos são focalizados sobre Cristo, e então se levanta simplesmente a voz e se fala confiadamente, na fé plena de que o Senhor tomará o som que se lhe dê, e o transformará num idioma. Não se pensa no que se esteja dizendo: no que lhe seja concernente, é apenas uma série de sons. Os primeiros sons hão de lhe parecer estranhos e não naturais ao ouvido, e talvez sejam vacilantes e inarticulados (já ouviu uma criancinha aprendendo a falar?).(39)

(38)

Dennis J. Bennett, "When Episcopalians Start Speaking in Tongues" (Medford, Oregon: Christian Retreat Center, n.d.). (39) Citado por John Miles, "Tongues", Voice, XLIV (fevereiro de 1965), p. 6. Esta é publicação da IFCA, não da FGBMFI.


Movimento Moderno de Línguas 52 Há várias discrepâncias entre essas instruções e os registros bíblicos de glossolalia (At. 2:10,19; I Cor. 12-14). Primeiro, se de fato houve uma reunião de oração no dia de Pentecostes (At. 2:1), não há nenhuma indicação de que os discípulos tenham deixado de orar no seu idioma nativo. Segundo, não há nenhuma indicação, em nenhum dos casos citados, de que os crentes tenham caído no silêncio e resolvido falar outras línguas. Terceiro, Paulo mandou que se orasse com o entendimento (I Cor. 14:15). Isto está em conflito direto com o não pensar no que se esteja dizendo. Quarto, o balbuciar inarticulado da criancinha é contrário à admoestação de Paulo de acabarmos "com as coisas de menino" (I Cor. 13:11) e de nos tomarmos "adultos no entendimento" (I Cor. 14:20). Harold Bradesen deu as seguintes instruções aos que, na Universidade de Yale, buscavam o "dom de línguas" : (1) Pensar visual e concretamente, em vez de abstratamente: por exemplo, tentar visualizar a Jesus como pessoa; (2) conscientemente entregar a voz e os órgãos vocais ao Espírito Santo; (3) repetir certos sons elementares que ele pronunciava para eles, tais como "bah-bah-bah" ou algo semelhante. A seguir, ele impôs as mãos sobre a cabeça de cada candidato, orou por ele e então o "buscador" realmente falou línguas. (40)

As instruções de repetir certos sons elementares foram ouvidas por este autor. (41) Às vezes essas instruções de repetir certas palavras têm vindo através de visões.(42) Certa pessoa teve uma visão de um rolo de papel do tipo que se usa numa máquina de somar, com palavras desusuais impressas nele. Sua repetição oral das palavras fez com que ele falasse "línguas". Mais outra pessoa viu uma visão de luzes brilhantes na forma de letras. Outra vez, há discrepâncias entre essas instruções e ilustrações e o registro bíblico. Primeiro, não há nenhumas indicações nos registros (40)

Citado por Stanley D, Walters, "Speaking in Tongues", Youth in Action (maio de 1964), p. 11. Ver Apêndice I. (42) McCandlish Phillips, "And There Appeared to Them Tongues of Fire", Saturday Evening Post (16-5-1964), p. 31. (41)


Movimento Moderno de Línguas 53 bíblicos de que pessoas fossem prevenidas ou instruídas a repetir certos sons para facilitar a experiência. O Espírito Santo lhes concedia que falassem (At. 2:4), e não alguns instrutores de sons ou de visões. Segundo, em pelo menos dois casos (At. caps. 2 e 10), não houve imposição de mãos na ocasião de eles falarem línguas. Terceiro, em todos os três registros bíblicos (At. 2, 10 e19) não há evidência de que uma pessoa tenha orado para que as outras "falassem línguas". Em conclusão, o princípio de se dar instruções para a glossolalia é completamente estranho ao registro bíblico. Os homens falaram línguas espontaneamente como o Espírito Santo lhes concedia. Parece que antes que a pessoa falasse, não se lhe fizera referência ao fenômeno (apesar de Marcos 16:17). Em um caso (At. 10:45), o acontecimento do fenômeno surpreendeu a todos os presentes. OCASIÃO DO MOVIMENTO MODERNO A despeito da promoção agressiva por parte do movimento pentecostal nos últimos cinqüenta anos, houve pouco interesse no fenômeno da glossolalia. Por quê? Porque o movimento estava fora das principais denominações. Agora, todavia, está dentro delas. Que teria ocasionado essa nova ênfase e a aceitação do fenômeno? As respostas provêm de ambos os lados, tanto daqueles que estão a favor como daqueles que se opõem ao movimento. Os advogados (43) consideram o movimento como a obra soberana do Espírito Santo em oposição à largamente espalhada maldade e à promoção de ensinos ateus, tanto comunistas como humanistas. Segundo, muitos cristãos se acham frustrados por causa de falta de poder espiritual e de capacidade de servir efetivamente ao Senhor. A glossolalia lhes supre esse poder e essa capacidade. Terceiro, a forte proclamação do pleno evangelho (curas, batismo do Espírito Santo e a (43)

"The Neo-Pentecostal Movement", The Pentecostal Evangel (2-5-1965), p. 4.


Movimento Moderno de Línguas 54 volta iminente de Cristo), pelos ministros pentecostais, tem estimulado a sede, em muitos corações, por uma expressão mais fervorosa de algumas dessas verdades dinâmicas. Quarto, o aumento das comunicações públicas e as técnicas da publicidade têm projetado o "pleno evangelho" em novas áreas denominacionais. Um observador interessado, Frederick Schiotz, presidente da Igreja Luterana Americana, especulou: "Talvez seja uma reação contra a tendência de intelectualizar demais a fé cristã. O falar parece suprir uma necessidade espiritual da simplicidade e conexão emocional." (44) João Miles, um oponente, alistou cinco razões para o surgimento do movimento moderno de "línguas". (45) Primeiro, houve um afastamento do estudo bíblico sistemático e particularmente a Bíblia interpretada conforme as dispensações. Isto se pode ver na rejeição veemente do ensino dispensacional quanto ao ministério do Espírito Santo em épocas diferentes e a natureza transicional do Livro dos Atos. O dispensacionalismo muitas vezes tem sido mal representado e mal entendido, tanto por essas pessoas como por outras. Segundo, igrejas liberais estão famintas pela Palavra de Deus; todavia, desejam o sobrenatural. Muitos dos que "falam línguas" são membros de igrejas que têm sido imersas no liberalismo e na neoortodoxia. Suas igrejas enfatizam a ecumenicidade do Concílio Mundial de Igrejas e negligenciam a mensagem da cruz. Terceiro, muitas vezes as igrejas fundamentalistas estão realmente mortas. Quarto, muita gente está buscando um caminho fácil, uma experiência espiritual que resolva imediatamente todos os seus problemas e frustrações. Quinto, muitas pessoas desejam uma experiência sensual do sobrenatural. Desejam andar por vista, antes que pela fé e pela mera aderência à Palavra de Deus. (44) (45)

"Taming the Tongues", loc. cit. John Miles, "Spiritual Gifts and Christian Victory", Voice, XLIV (maio de 1965), p. 9.


Movimento Moderno de Línguas 55 Harry Ironside, que se livrou do Movimento Pentecostal, chamou de "desgostosa" a glossolalia dos seus dias com "todas as suas ilusões concomitantes e loucuras". Ele concluiu: "Um desejo ardente e doentio de novas sensações religiosas e excitantes e reuniões emocionais dum caráter excitante prontamente explicam essas coisas." (46) AVALIAÇÕES DO MOVIMENTO MODERNO Divino? Satânico? Psicológico? Artificial? Todas essas alternativas foram sugeridas como uma avaliação própria da fonte ou da origem do moderno fenômeno de "glossolalia". As opiniões não se limitam necessariamente a apenas uma alternativa; alguns crêem que a glossolalia pode ser atribuída a duas ou mais dessas fontes. Edman, chanceler de Wheaton College e que nunca "falou línguas", concluiu que a glossolalia moderna poderia ser divina, demoníaca ou psicológica, dependendo de sua fonte.(47) Jack Hayford, representante nacional da juventude da igreja internacional do evangelho "Four Square" (Quadrado) e que tem exercido a glossolalia, admitiu que em alguns casos era satânica, que em outros era produzida psicologicamente, mas que em alguns era a obra genuína de Deus.(48) O fato de que o fenômeno de glossolalia tem acontecido não é negado por ninguém. O que se contesta é a fonte da experiência. Visto que ambos os lados admitem que o fenômeno pode provir de uma ou mais fontes, cria-se um problema bastante grande. Quem poderá identificar a fonte de cada caso particular de glossolalia? Qual a norma a ser empregada ou aplicada para determinar a fonte da experiência? Não se pode referir à própria experiência como o fator determinante, porque se admite que a experiência pode ser causada de várias maneiras. Tem (46)

H. A. Ironside, Holiness, the False and the True (New York; Loizeaux Brothers, 1947), p. 38. Edman, op. cit., p, 17. (48) Jack Hayford, Letter to the Editor, Christianity Today, VIII (25-10-1963), p. 22. (47)


Movimento Moderno de Línguas 56 que haver uma norma objetiva e autoritária e há – a Palavra de Deus. Esta tem de ser a única e final autoridade em se determinar a fonte atual de qualquer experiência. Divina Bredesen viu no movimento moderno de "línguas" uma obra definida do Espírito Santo: Durante a primeira metade do século XX vimos o Espírito Santo derrubando as paredes entre as igrejas, e o denominamos o "movimento ecumênico". Vimo-lo trabalhando ao lado das igrejas históricas, e o chamamos "a terceira força". Agora, na segunda metade do século, estamos vendo-O movimentar-se dentro das igrejas. Isto denominamos "a revivificação carismática".(49)

Pode-se contestar a identificação do movimento ecumênico por parte de Bredesen, como sendo a obra do Espírito Santo, e não mera atividade humana de certos líderes eclesiásticos liberais ou neoortodoxos. Se essa declaração serve para medir sua percepção espiritual e seu conhecimento bíblico, ter-se-á o inteiro direito de questionar sua avaliação do reavivamento carismático. Todavia, Bredesen não está só na sua avaliação. Há "glossolalistas", tanto nas igrejas pentecostais como nas denominacionais e históricas, que concordarão com ele. Muitos outros avisaram e admoestaram quanto à possível origem divina desse movimento. Sentem eles que os conservadores não devem proibir o falar línguas (I Cor. 14:39) e que devem seguir o conselho de Gamaliel: "Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque este conselho ou esta obra, caso seja dos homens, se desfará; mas, se é de Deus, não podereis derrotá-los; para que não sejais, porventura, achados até combatendo contra Deus" (At. 5:38,39). Parece ser esta a opinião que prevalece entre muitos líderes conservadores hoje em dia, eles mesmos não tendo falado línguas estranhas. (49)

"Return to the Charismata" (Van Nuys, Calif.: Blessed Trinity Society, n.d.), tract.


Movimento Moderno de Línguas 57 Um exemplo típico é Philip Hughes, um dos editores contribuintes de Christianity Today, que disse: Ousaremos negar que esse movimento seja do Espírito soberano de Deus? Não deveremos antes esperar e até orar que seja a início de um grande avivamento espiritual dentro da Igreja em nosso tempo, e nos regozijar por causa do zelo e da alegria em Cristo por parte daqueles que testificam dessa experiência? (50)

Como resposta a esta pergunta, "Qual a sua opinião sobre falar línguas?" o Dr. Billy Graham disse que ele não havia tido a experiência, mas que deveria ser uma experiência maravilhosa para aqueles que a tiveram. (51) Aparentemente o Dr. Graham aceita a origem divina de alguns dos fenômenos no mundo hodierno. Satânica Muitos conservadores crêem que a glossolalia cessou na era apostólica e que qualquer manifestação do fenômeno desde aquele tempo tem que ser considerada não somente como uma simulada contrafação, porém como sendo realmente de origem satânica.(52) Sob influência satânica, os mágicos do Egito puderam duplicar os milagres divinos operados por Moisés (Êx. 7:10 – 8:7). Na grande Tribulação, o anticristo poderá duplicar os milagres de Jesus Cristo por meio de poder satânico (II Tess. 2:9). O Cristo até predisse que milagres e profecias serão feitos em Seu nome, sem Sua sanção ou Seu poder (Mat. 7:21-23). Aparentemente, crentes professos podem realizar grandes coisas, inclusive trazer glória a Cristo, e, no entanto, fazê-lo no poder de Satanás. Eis por que uma experiência ou um milagre, não importa quão grande seja, não poderá servir como o único juiz da fonte do evento. Por (50)

Philip Edgcumbe Hughes, "Review of Christian Religions Thought", Christianity Today, VI (11-51962), p. 63. (51) Ouvido no programa radiofônico, "Conversation Piece", WHIO, Dayton Ohio (16-11-1964). (52) Herman A. Hoyt, "Speaking in Tongues", Brethren Missionary Herald, XXV (20-4-1963), p. 206. Também, I. M. Haldeman, Holy Ghost Baptism and Speaking with Tongues.


Movimento Moderno de Línguas 58 essa razão, muitos sentem ou crêem que a glossolalia pode ser experimentada por crentes professos, numa atmosfera cristã e visando a glória de Cristo, e, todavia, ainda ter a sua origem em Satanás. Stegall cria que há uma conexão definida entre as fontes de comportamento dos que "falam línguas" e dos médiuns espiritistas.(53) Os efeitos visíveis e físicos (o sacudir dos braços e do corpo) causados pelo controle sobrenatural eram iguais ou idênticos. A respiração e a posição do corpo da pessoa foram afetados também. A descrição do que se sente ao estar sob o poder (e.g, uma comente elétrica passando pelo corpo) era a mesma.

Tanto os advogados como os oponentes da glossolalia admitem que a possessão demoníaca e/ou sua influência podem ser a causa de proclamações sobrenaturais na vida dos crentes. Edman escreveu: "Para o crente não instruído, que insiste em ter algum dom particular do Espírito e que desconhece a soberania do Espírito Santo, pode haver a realidade terrível do dom de línguas pelo poder demoníaco. Na minha experiência, tenho conhecido tais."(54) Raymond Frame, anteriormente missionário na China, teve essa experiência e concordou: Espíritos maus facilmente podem achar oportunidade de operar na vida emocional do crente – especialmente quando o crente é persuadido a suspender toda a atividade intelectual e a entregar a sua vontade a uma inteligência invisível (a qual o crente, naturalmente, é persuadido a considerar como sendo o próprio Espírito Santo). Por essa razão, o filho de Deus que se preocupa com aquele mínimo de todos os dons, a glossolalia, coloca-se numa posição particularmente vulnerável em relação ao perigo da depressão demoníaca, da obsessão, ou até da possessão. (55)

Assim, o poder satânico tem que ser considerado como uma opção viva quanto à fonte ou origem do moderno fenômeno da glossolalia.

(53)

Stegall, op. cit., pp. 48 e 49, Comparações realizadas por meio de declarações feitas por ambos os grupos. (54) Edman, op. cit., p. 16. (55) Raymond Frame, "Something Unusual", His, XXIV (dezembro de 1963), p. 26. Frame se expôs a si mesmo a essa situação. Ver sua descrição dessa experiência no Apêndice III.


Movimento Moderno de Línguas Psicológica

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O mundo humanista, secularista, que nega a existência do sobrenatural, seja divino ou demoníaco, classificaria toda a glossolalia como psicológica ou fisiológica de caráter e de origem. Alguns cristãos conservadores também descrevem o caráter da glossolalia moderna genuína como psicológico. Bergsma, psiquiatra cristão, relacionou o fenômeno à ciência de cibernética, que trata da guarda e da recordação da memória. Ele escreveu: É óbvio que nada poderá sair de cada cérebro individual que não tenha sido previamente depositado ali. Materiais depositados podem ser alterados, fragmentados, confundidos, distorcidos, porém não podem ser humanamente criados. Também é óbvio que um idioma ... que sai como linguagem na glossolalia deve ter sido introduzido de alguma maneira na vida daquela pessoa. Ainda que essa pessoa não estivesse cônscia de haver ouvido aquelas palavras ou de que uma mensagem estivesse sendo registrada, mesmo assim estas foram previamente depositadas ali. Isto explicará os pouquíssimos casos da moderna glossolalia, se de fato os houver. (56) (grifo de Gromacki).

A avaliação parece plausível, porém não está sem problemas. Essa posição presume forçosamente que a moderna glossolalia genuína não é promovida por Deus e não é do mesmo caráter da glossolalia bíblica. Se assim fosse, então poderiam ser explicados os registros bíblicos de glossolalia pela ciência cibernética. Ou será que o Espírito Santo fez com que os discípulos falassem idiomas que nunca haviam aprendido nem ouvido? Por causa da falta de informação, não se pode provar nem desprovar isso. Os advogados da glossolalia argumentam que Bergsma admitiu a sua conclusão antes de tê-la provado. Martin, professor da Bíblia em Berea College, também cria que o moderno fenômeno não era evidência da possessão verdadeira do Espírito Santo, porém, antes, "um tipo extremo de exibicionismo como 'choro de alegria' ou gargalhada histérica no meio de luto. É (56)

Stuart Bergsma, "Speaking With Tongues", Torch and Trumpet, XIV (novembro de 1964), p. 10.


Movimento Moderno de Línguas 60 (57) simplesmente o rompimento emocional e preconceitual de alegria." Ele a atribuiu a uma catalepsia parcialmente desenvolvida, à histeria, hipnose, êxtase e catarse psíquica. Morton Kelsey, reitor episcopal e estudante da Psicologia Jungiana (o contato com o reino da realidade psíquica e com as entidades nele contidas é possível), chamou de "válida experiência religiosa" a glossolalia. Ele declarou: "É uma entrada para o reino espiritual; em se dando acesso ao inconsciente, é um contato com a realidade não física, que permite que Deus fale diretamente ao homem." (58) Aparece aqui uma objeção à opinião de Kelsey. Será que Deus fala diretamente aos homens à parte da Bíblia? Isto parece muito com uma declaração da neo-ortodoxia. Contudo, a avaliação psicológica talvez explique algo do fenômeno. Artificial Outra explicação possível, de uma parte do moderno fenômeno de glossolalia, é que este tem sido artificialmente produzido pela própria pessoa. A pessoa talvez tenha desejado ter uma genuína experiência espiritual com o Senhor, porém na realidade não a teve. Na intensa atmosfera emocional do culto e do convite, ela poderá tentar fazer o que os outros estão fazendo ou o que lhe é mandado fazer ou o que deve fazer. Talvez vá à frente, caia de joelhos, levante as mãos e pronuncie sons estranhos. Os observadores talvez fiquem satisfeitos em que ele tenha manifestado a evidência do batismo do Espírito Santo e provavelmente lho digam.(59) Visto que desejava essa experiência, ele poderá aceitar a opinião deles de que a teve. Em outros casos, uma pessoa poderá ter tido uma experiência genuína com o Senhor (confissão de pecados, dedicação da vida etc.), porém o clímax ou a evidência física (57)

Martin, op. cit., p. 60. Kelsey, op. cit., p. 231. (59) O autor observou isso. Ver apêndice I. (58)


Movimento Moderno de Línguas 61 da experiência pode ter sido artificial. Aceitando as instruções autoritárias do pastor ou do conselheiro como a vontade diretora de Deus, ela poderá fazer exatamente como fora instruída e fazer os movimentos. Afinal de contas, a pessoa não quer que eles pensem que ela não deseja a melhor das bênçãos do Senhor para a sua vida. Talvez repita os sons elementares (que lhe sejam sugeridos) e outros, crendo que é assim que se consegue falar línguas estranhas. Há, além disso, pessoas que sabem que a glossolalia é um "status symbol" (símbolo de destaque), de alcance espiritual nas suas assembléias e, portanto, fingem ou simulam a experiência, para ganhar a estrutura religiosa e o louvor dos outros. Tal simulação artificial de experiências religiosas não é peculiar aos cultos pentecostais. Em muitas reuniões, nas igrejas conservadoras ou tradicionais, pessoas têm ido à frente, atendendo ao convite só porque seus amigos foram ou porque ficariam sozinhos no banco e, assim, por demais em evidência. Visto que a fala atabalhoada ou extática é aceita como uma forma de glossolalia (diferente de idiomas estrangeiros), seria mui fácil simular esses sons repetidos quando necessário. Walters achou tal exemplo na chamada "explosão de línguas" em Yale: Dos alunos envolvidos, alguns mais tarde ficaram incertos quanto ao ser a explosão uma obra genuína do Espírito. Eu falei com um que havia "falado em línguas" quando o Sr. Bredesen visitou pela vez primeira o "campus", que podia repetir a experiência depois quando quisesse, e por iniciativa própria o fez na minha presença, todavia, ele duvidou que fosse a obra do Espírito. Sendo ele um cristão devoto, ficou bastante perplexo. (60)

Assim, a simulação artificial do fenômeno de "falar línguas" tem que ser considerado como uma possibilidade definida em muitos dos casos. Resumo Foram apresentadas quatro possíveis opiniões quanto à fonte ou origem da glossolalia moderna. Ambos os lados admitem que o (60)

Walters, op. cit., p. 10.


Movimento Moderno de Línguas 62 fenômeno pode ser produzido satânica, psicológica e artificialmente. Todavia, os advogados crêem que muita glossolalia tem sido produzida por Deus. O autor crê que a origem da moderna glossolalia não pode ser limitada a apenas uma fonte, mas que toda a moderna glossolalia pode ser explicada pelas primeiras três origens mencionadas. Que a moderna glossolalia não é, de maneira alguma, divinamente produzida, será demonstrado nos capítulos que seguem. Ela simplesmente não está de acordo com a Palavra de Deus, escrita, a única e final autoridade tanto de fé como de prática. Conclusão A natureza do moderna movimento de "línguas" é bastante complexa. Compõe-se tanto de salvos como de não salvos, de calvinistas como de arminianos, de membros de igrejas e de denominações pentecostais e não-pentecostais. A "Full Gospel Business Men's Fellowship International" e a "Blessed Trinity Society" estão servindo ao movimento como cabeça de ponte. Essas organizações estão tentando alcançar os seus alvos por meio de grupos privados de oração, banquetes, convenções e publicações. Os periódicos principais que estão ativamente promovendo o movimento são Voice, View, Vision, Trinity e Christian Life. As personalidades principais são Demos Shakarian, Oral Roberts, David du Plessis, Harold Bredesen, Jean Stone e Dennis Bennett. O moderno movimento de "línguas" tem tido uma vasta propagação . O mundo secular tem manifestado seu interesse no fenômeno através do rádio, da televisão e de artigos na imprensa. Escolas e agências missionárias, tanto liberais como conservadoras, têm sido alcançadas. Praticamente todas as maiores denominações históricas têm agora "glossolalistas" dentro de suas fileiras, assim o clero como o laicado. Bem conhecidas personalidades seculares e religiosas têm testemunhado da presença do fenômeno na sua vida.


Movimento Moderno de Línguas 63 As características do moderno movimento de línguas diferem daquelas do antigo pentecostismo; todavia, são semelhantes de muitas maneiras. Os adeptos de "línguas" acham-se tanto nas classes profissionais como entre as classes trabalhadoras e em todas as escolas culturais e econômicas. O "falar em línguas" não se manifesta isoladamente. É precedido, acompanhado e seguido por fenômenos tais como o som de vento, fogo, fragrância de perfume, convulsões físicas, choques elétricos, luzes, transpiração, curas e visões, inclusive de ver, ouvir e tocar o próprio Cristo. Alguns "faladores de línguas" têm testificado suas vidas terem daí em diante mudado, como resultado de suas experiências. O fenômeno moderno não ocorre espontaneamente, com muita freqüência; instruções são dadas quanto ao "mecanismo" de "falar línguas". O fenômeno é estimulado e ajudado por homens. A ocasião do movimento moderno é controversível, dependendo da perspectiva do observador. Seus advogados sentem que é uma reação divina e uma resposta à maldade do mundo, à fraqueza dos cristãos e à frieza das igrejas tradicionais. Seus oponentes crêem que é o resultado de uma carência do estudo da Bíblia e de uma experiência genuinamente cristã; portanto, muitos estão procurando um substituto aceitável e um antídoto para sua letargia espiritual. As avaliações do moderno movimento de "línguas" são muitas. Ele tem sido classificado como produção divina, contrafação de Satanás, tendo causa psicológica ou como sendo artificial simulação. Seus advogados admitem todas as quatro possibilidades, mas enfatizam a primeira. Seus oponentes limitariam as fontes do moderno fenômeno às últimas três apresentadas.


Movimento Moderno de Línguas

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O IDIOMA DA GLOSSOLALIA As "LÍNGUAS" no tempo do Novo Testamento eram idiomas estrangeiros, uma fala extática desconhecida, ou as duas coisas? Os modernos "glossolalistas" (faladores de línguas) falam idiomas estrangeiros conhecidos, a fala extática desconhecida, ou as duas coisas? Há correspondência entre os dois grupos? Uma investigação da natureza da linguagem ou fala torna-se necessária para uma compreensão do próprio fenômeno e para uma avaliação própria do moderno movimento de "línguas". Vários Pontos de Vista Comentário Expositivo Um escritor liberal contemporâneo cria que idiomas estrangeiros ou "fala extática" não eram envolvidos na frase bíblica "falando em línguas". Ele a relacionou com a decisiva pregação expositiva. Traduziu Glossal (línguas ou idiomas) como "perícopes", passagens escolhidas das Escrituras, com ou sem comentários, que formavam a parte regular do culto público. Essas Escrituras e os comentários expositivos tornaram-se fixos pela tradição e eram lidas ou recitadas em certos dias santos. Por que, então, se maravilharam as multidões ao ouvirem o que os discípulos diziam (At. 2:6)? Sirks respondeu: "Mas não são as perícopes esperadas nesse dia santo; são diferentes daquelas prescritas por tradição... porém a mudança radical é que os discípulos ou escolheram perícopes diferentes das bem conhecidas ou as interpretaram de uma maneira diferente... as perícopes eram expostas de tal maneira que apontavam a Jesus."(1) (1)

G. J. Sirks, "The Cinderella of Theology: The Doctrine of the Holy Spirit", Harvard Theological Review L (abril de 1957), p. 86.


Movimento Moderno de Línguas 65 Conforme Sirks, as multidões não estranharam o veículo da linguagem, porém antes o conteúdo da fala. Nunca haviam ouvido essas Escrituras recitadas durante a festa de Pentecostes nem tampouco as ouviram aplicadas exegeticamente a Jesus. Sirks citou também a experiência de Jesus na sinagoga em Nazaré (Luc. 4:16-30) como uma ilustração dum desvio deliberado das perícopes prescritas para o culto de louvor. Esse ponto de vista é extremo e seria rejeitado por quase todos os liberais e por todos os conservadores. Tem de ser considerado como uma tentativa naturalista de modificar por meio de explicação um fenômeno sobrenatural. Sem dúvida, as multidões se maravilharam diante do conteúdo do fenômeno de glossolalia e do subseqüente sermão de Pedro, mas isso não deve detrair da sua confusão causada por discípulos estarem falando em outros idiomas ou dialetos que não haviam aprendido (At. 2:4, 6-8). Também o equiparar "línguas" com "perícopes" não pode explicar os demais casos do fenômeno bíblico, que nem sempre ocorreram durante festas judaicas ou cultos de louvor. Fala Extática Há uns poucos escritores que acreditam que cada caso do fenômeno bíblico de glossolalia estava na forma de fala extática. Gilmour, um teólogo liberal da Escola teológica Andover Newton, disse que "a primitiva glossolalia cristã era a pronúncia de sons desconexos, sob a compulsão de uma emoção extática e descontrolada – uma cacofonia ininteligível a todos, senão uns poucos que estavam carismaticamente preparados para sua interpretação".(2) Mais uma vez, essa é uma tentativa liberal de modificar, por meio de explicações, a origem sobrenatural de um fenômeno bíblico em (2)

S. MacLean Gilmour. "Easter and Pentecost", Journal of Biblical Literature, LXXXI (março de 1962), p. 64.


Movimento Moderno de Línguas 66 termos de emoção humana, extática, descontrolada. Seu conceito evolucionário do desenvolvimento da religião faria com que ele concluísse que o cristianismo tem avançado muito além dessa primitiva e tosca expressão de culto. Outros crêem que toda a glossolalia bíblica teve a forma de fala extática, porém por razões diferentes. Como é, então, que eles explicam o fato aparente de que as multidões ouviram idiomas estrangeiros sendo falados (At. 2:6, 8, 11)? Barclay disse que Lucas havia confundido a glossolalia (o falar línguas) com línguas ou idiomas estrangeiros.(3) Essa conclusão vem dos conceitos da alta crítica no tocante à negação da inspiração da Bíblia e da crença na tendência humana de errar na ortografia. Como tal, ela tem que ser rejeitada. Alguns conservadores acreditam que os discípulos ou falaram a sua língua nativa ou em fala extática.(4) Declaram, ainda, que o Espírito Santo fez com que os ouvintes estrangeiros ouvissem o discurso nas suas línguas estrangeiras, nativas. Se os discípulos falaram na sua língua nativa, então o fenômeno foi apenas um milagre de ouvir. Se eles falaram em línguas extáticas, então o milagre foi duplo – tanto de falar como de ouvir. Todavia, é difícil harmonizar essas asserções com a clara declaração de que os discípulos "começaram a falar noutras línguas" antes que a multidão se congregasse (At. 2:4) e com a equação de "línguas" e "dialetos" (At. 2:4; cf. 2:6). Línguas Estrangeiras A opinião que prevalece é que todos os casos de glossolalia bíblica foram na forma de idiomas ou línguas estrangeiras. Essa posição é mantida pelos não-glossolalistas (Barnes, Henry, Ironside, Lange, Lenski, Rice e outros) e, possivelmente, por uns poucos que falam (3) (4)

William Barclay, The Acts of the Apostles (Philadelphia: The Westminster Press, 1955), p, 16. Richard Belward Rackham, The Acts of the Apostles (London: Methuen Co. Ltd., 1953), pp. 159 e 160.


Movimento Moderno de Línguas 67 línguas. A seguinte declaração por Horton, um advogado da glossolalia, é um tanto ambígua quanto à natureza das línguas faladas, mas pode se referir apenas a línguas estrangeiras: Então se espalha a idéia de que "línguas" são uma espécie de "palavras sem sentido", incoerentes e ininteligíveis, uma série de sons glossais ininterpretáveis. Não! "línguas" eram e são idiomas. Na maior parte são desconhecidas aos ouvintes, e sempre aos que as falam. Mas às vezes poderiam ser conhecidas aos ouvintes, como no Pentecostes, onde as línguas eram desconhecidas, ao serem faladas, e conhecidas, ao serem ouvidas.(5)

Mesmo que essa declaração se refira a línguas desconhecidas, idiomas estrangeiros, ela demonstra que alguns pentecostais se opõem aos "sons sem sentido" ou à mera repetição de certos sons como a natureza básica da glossolalia (e esta forma de falar observa-se hoje em dia). As provas sustentadoras em favor de "idiomas estrangeiros" serão apresentadas num capítulo posterior. Fala Extática e Idiomas Estrangeiros A opinião predominante entre os que "falam línguas" e os "que não falam" é que o fenômeno bíblico de glossolalia poderia ser ou "fala extática" ou "idiomas estrangeiros". Geralmente, idiomas estrangeiros são identificados com o fenômeno em Atos, e a "fala extática", com o fenômeno em I Coríntios. Charles Ryrie, deão da Graduate School do Dallas Theological Seminary, é típico dos que "não falam línguas" na sua definição do dom de línguas: "Essa foi uma capacidade ofertada por Deus de falar em outra língua, ou num idioma humano estrangeiro, ou numa fala extática desconhecida."(6)

(5)

Harold Horton, The Gifts of the Spirit (Bedfordshire, England: Redemption Tidings Bookroom, 1946), pp. 159 e 160. (6) Charles Caldwell Ryrie, Biblical Theology of the New Testament (Chicago Moody Press, 1959), p. 194.


Movimento Moderno de Línguas 68 Harold Bredesen, um diretor da Blessed Trinity Society (Bendita Sociedade da Trindade) e que "fala línguas", pretendeu ter testemunhado estrangeiros nas próprias línguas deles, porém desconhecidas para ele (como o idioma Polonês e o cóptico do Egito); contudo, declarou que a maior parte da glossolalia corrente está na forma de "línguas desconhecidas".(7) Uma discussão dos argumentos pro e contra essa posição será apresentada mais adiante, neste capítulo. O Significado no Novo Testamento Um estudo das palavras com seus significados e usos é básico a qualquer disciplina. Isto é especialmente importante em se tratando do fenômeno de glossolalia. A palavra-chave desse fenômeno é glossa, traduzida consistentemente como "língua" na tradução da Imprensa Bíblica Brasileira. Quando o significado e o uso deste termo houver sido determinado, uma avaliação própria do movimento moderno de "línguas" será proposta. Ocorrências A palavra grega Glossa acha-se cinqüenta vezes no Novo Testamento, com usos vários. É usada quinze vezes referindo-se ao órgão físico do corpo usado para se falar (Mar. 7 :33,35; Luc. 1:64; At. 2:26; Rom. 3:13; 14:11; 1 Cor. 14:9; Fil. 2:11; Tiago 1:26; 3:5, 6 (duas vezes), 8; 1 Ped. 3:10; Apoc, 16:10). É usada uma vez com referência à língua do corpo intermediário (Luc. 16:24). É empregada uma vez figurativamente: "umas línguas como de fogo, que se distribuíam" (At. 2:3). Uma vez é usada para se referir ao conteúdo das palavras, em se falando, em contraste com as obras de uma ação (I João 3:18; ou talvez (7)

Citado por Farrell, op. cit., p. 6.


Movimento Moderno de Línguas 69 seja esta mais uma referência ao órgão físico). No Apocalipse, é usada sete vezes em conexão com "tribo, e língua, e povo, e nação", e multidões para descrever grupos étnicos que se caracterizam por falar certas línguas estrangeiras (5:9; 7:9; 10:11; 11:9; 13:7; 14:6; 17:5). Emprega-se a palavra vinte e cinco vezes para o fenômeno atual de glossolalia (Mar. 16:17; At. 2:4-11; 10:46; 19:6; 1 Cor. 12:10 (duas vezes), 28, 30; 13:1, 8; 14:2, 4, 5 (duas vezes), 6, 13, 14, 18, 19, 22, 23, 26, 27, 29) . Assim os escritores bíblicos usaram essa palavra para denotar pelo menos cinco ou seis idéias; no entanto, esses usos são todos interrelacionados, com, possivelmente, uma exceção (o uso figurativo de Atos 2). Todos eles tratam da entidade básica de falar, do órgão da fala ou do ato, do conteúdo, da linguagem e dos resultados de falar. Frases Não há padrão estabelecido pelo qual glossa se emprega para descrever o fenômeno de "falar línguas". Ela aparece em nove construções diferentes. Uma vez descreve-se como "novas línguas" (glossais kainais; Marcos 16:17). Também se diz "outras línguas" (heterais glossais; Atos 2:4). Aparece uma vez como substantivo plural com o artigo definido (hai glossai; I Cor. 14:22) e duas vezes como o substantivo plural sem o artigo definido (I Cor. 12:10; 13:8). É usada com gene para indicar "qualidades de línguas" (gene glosson; I Cor. 12:10) ou "diversidades de línguas" (I Cor. 12:28). Mais freqüentemente se emprega no dativo plural com o verbo laleo, "falar" (Mar. 16:17; At. 2:4, 11; 10:46; 19:6; I Cor. 12:30; 13:1; 14:5 (duas vezes), 6, 18, 23, 39). Também se emprega no dativo singular, com o verbo laleo (I Cor. 14:2, 4, 13, 19, 27). Uma vez se usa com o verbo "orar" (proseuchomai glossei; I Cor. 14:14) e uma vez com o verbo "ter" (echei glossan; I Cor. 14:26).


Movimento Moderno de Línguas Significados Léxicos

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Abbott-Smith define glossa como o órgão da fala, uma linguagem, e como "sons ininteligíveis proferidos em êxtase espiritual".(8) Thayer denota glossa como um membro do corpo, o órgão da fala, e como uma linguagem usada por um povo particular, em distinção da de outras nações. Ele acrescenta ainda que era "o dom de homens que, caídos em êxtase e não mais inteiramente donos de sua própria razão e consciência, derramavam suas ardentes emoções espirituais em linguagem estranha, rude, escurecida, desconexa, completamente imprópria para instruir ou influenciar a mente dos outros."(9) Arndt e Gingrich classificaram glossa de três maneiras. Primeiro, pode ser usada literalmente como o órgão da fala ou figurativamente de chamas divididas. Segundo, foi usada para se referir a línguas estrangeiras e como sinônimo de tribo, povo ou nação. Terceiro, referiuse à "fala quebrada" ou interrompida de pessoas em êxtase religiosa. Essa poderia ser antiquada, estrangeira, ininteligível, pronunciamentos misteriosos ou maravilhosos, ou línguas celestiais.(10) Kittel também seguiu os outros lexicógrafos e definiu glossa como o órgão da fala, linguagem ou glossolalia, que é um pronunciamento ininteligível e extático. Ele insistiu em que uma de suas formas de expressão é a murmuração de palavras ou de sons sem conexão entre si ou sem significado. Ele identificou essa fala extática com a linguagem que se usa nos céus entre Deus e os anjos e a qual homens podem atingir em oração quando apanhados pelo Espírito e arrebatados aos céus.(11)

(8)

G. Abbott-Smith, A Manual Greek Lexicon of the New Testament (Edinburgh: T. & T. Clark, 1954), p. 93. (9) Joseph Henry Thayer, A Greek-English Lexicon of the New Testament (Edinburgh: T. & T. Clark, 1953), p. 118. (10) William F. Andt e F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament (Chicago: The University of Chicago Press, 1957), p. 161. (11) Kittel, op. cit., pp. 721-26.


Movimento Moderno de Línguas 71 Moulton e Milligan, baseando-se num estudo feito dos papiros gregos, acrescentaram que a palavra se emprega não somente para referir-se à linguagem, mas também para peculiaridades locais de fala ou de linguagem.(12) Esse exame de significados léxicos tem demonstrado que eruditos lingüísticos consideram o fenômeno de glossolalia como sendo tanto línguas estrangeiras como uma pronúncia extática, com ênfase primária e aplicação neste último sentido. O Uso no Novo Testamento Os significados dos termos bíblicos têm que ser determinados, em última análise, pelo emprego desses termos. Por maior que seja o valor dos significados léxicos e das derivações de palavras, sempre têm que ser subordinados ao emprego que lhes deram os escritores bíblicos. Um estudo do uso novotestamentário de glossa há de revelar o fato de que, quando empregado a respeito do fenômeno de glossolalia, sempre se refere a línguas estrangeiras. Não é possível que se refira tanto a línguas estrangeiras como a pronúncias extáticas desconhecidas, conforme pretendem os advogados do moderno "movimento de línguas". As seguintes provas das relevantes passagens bíblicas devem sustentar esta conclusão. A própria escolha de glossa para descrever o fenômeno é significativo. Na seção sobre "ocorrências", foi demonstrado que a palavra fora usada com referência ao órgão físico que produz sons audíveis e conhecidos, como os sons de várias línguas humanas. Até o órgão do corpo intermediário (Luc. 16:24) falou uma linguagem inteligível, conhecida aos ouvintes. Poderia ser usada para denotar um grupo étnico (Apoc. 5:9; 7:9) porque nações ou povos são distinguidos (12)

James Hope e Moulton George Milligan, The Vocabulary of the Greek New Testament (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Pub. Co., 1963), p.128.


Movimento Moderno de Línguas 72 pela linguagem que falam. Esses são russos porque falam somente russo; aqueles são japoneses porque falam somente japonês. Em várias ocorrências de "falar línguas" (At. 2:4, 6, 8, 11; 10:46; 19:6), somente línguas estrangeiras foram faladas. Os significados de palavras obscuras têm sempre de ser determinados pelo significado nas passagens claras. O mero fato de que glossa se usa, muitas vezes, para designar o órgão de, o conteúdo de e os grupos denotados por línguas conhecidas deve ser um fator determinante em fixar o significado do termo, quando usado quanto ao fenômeno de glossolalia. Na passagem textualmente discutível de Marcos (Mar. 16:9-20), é predito que os crentes "falarão novas línguas" (glossais lalessousin kainais; 16:17). Presumindo que a passagem seja genuína, o emprego do adjetivo kainos e não o sinônimo neos é digno de nota. Conforme Abbott-Smith, kainos se refere ao "novo primariamente em referência à qualidade, ao novo não usado, enquanto neos se refere ao recente". (13) É admitido por todos que o fenômeno de "falar línguas" não ocorreu no Velho Testamento nem no período dos Evangelhos e que aconteceu pela primeira vez no dia de Pentecostes (At. 2). Portanto, se o "falar línguas" tivesse envolvido línguas desconhecidas, nunca antes faladas, então Cristo teria usado neos (novo em referência a tempo). Mas, visto que Ele empregou kainos, tem que se referir a línguas estrangeiras, que eram novas àquele que as falasse, porém que já existiam antes. Argumentos baseados em palavras sinônimas às vezes são difíceis de manter, mas deve haver uma boa razão por se ter usado kainos, não neos. O fato de que os discípulos realmente falaram línguas conhecidas no dia de Pentecostes (At. 2:4, 6, 8, 11) sustenta esta distinção e conclusão. Quando o Espírito Santo encheu os discípulos de poder no dia de Pentecostes, eles "começaram a falar noutras línguas (lalein heterais glossais), conforme o Espírito lhes concedia que falassem" (At. 2:4). Quais foram essas "outras línguas"? Eram elas línguas desconhecidas ou (13)

Abbott-Smith, op. cit., p. 226.


Movimento Moderno de Línguas 73 estrangeiras? Lucas as definiu nas próprias palavras dos ouvintes. A multidão ficou confusa "porque cada um os ouvia falar na sua própria língua" (tei idia dialekto; At. 2:6). A multidão perguntava: "Como é, pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua em que nascemos? (tei idia dialekto; At. 2:8 ). Mais tarde, diziam: ". . . ouvimo-los em nossas línguas (tais hemeterais glossais), falar das grandezas de Deus" (At. 2:11). A multidão podia compreender o conteúdo do fenômeno porque os discípulos falavam nos seus dialetos e línguas. Eram, pois, definitivamente línguas estrangeiras que se estavam falando. Quais línguas? Lucas as classifica como "partos, medos e elamitas; e os que habitamos a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes" (At. 2:9-11). Não somente falaram os discípulos línguas diferentes, mas também falaram vários dialetos da mesma língua. "Os frígios e os de Panfília, por exemplo, ambos falavam grego, porém em dialetos diferentes; os partos, medos e elamitas, todos falavam idioma perso, porém em formas provinciais diferentes." (14) Por que incluiu Lucas uma lista tão longa de países e povos? Ele desejava tornar bem claro que os discípulos falavam em línguas estrangeiras e dialetos, não em sons desconhecidos. Essa primeira ocorrência do fenômeno de glossolalia estabelece a norma bíblica e o padrão para toda a glossolalia subseqüente. Tem de ser em línguas estrangeiras daqueles que estão presentes, quando não se exerce o dom da interpretação. A segunda ocorrência clara de glossolalia teve lugar na experiência de Cornélio e de sua casa (At. 10:44-48). A evidência de que eles haviam crido em Cristo e recebido o Espírito Santo foi o fenômeno de falar em línguas: "porque os ouviam falar línguas (lalounton glossais) e magnificar a Deus" (10:46). Que essa glossolalia foi em idiomas estrangeiros é bem (14)

Marvin R. Vincent, "World Studies in the New Testament" (New York: Charles, Scribner's Sons" 1908), I, p. 450.


Movimento Moderno de Línguas 74 patente. Primeiro, Lucas empregou aqui as mesmas palavras para descrever o fenômeno que usara no primeiro registro (2:4,11). A impressão natural deixada no leitor é que o mesmo fenômeno ocorreu de novo. Idiomas estrangeiros e/ou dialetos foram falados. Segundo, como poderiam os ouvintes saber que Cornélio e sua casa estavam glorificando a Deus se não os compreendessem? Este argumento naturalmente assume que o "magnificar a Deus" fosse parte ou toda a substância desse fenômeno. Terceiro, no relatório subseqüente que Pedro fez à igreja em Jerusalém, ele disse que os gentios haviam recebido "o mesmo dom" (11:17) e que "desceu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós no princípio" (11:15). Indubitavelmente, isto faz referência ao Pentecostes. Essa semelhança de experiência estende-se não somente ao fato de receber o Espírito, mas à natureza da glossolalia em idiomas estrangeiros. A terceira e final ocorrência de glossolalia em Atos acha-se na experiência dos doze discípulos de João, o Batista, em Éfeso (19:1-7). Quando desceu o Espírito Santo sobre eles, "falavam línguas (elaloun te glossais) e profetizavam" (At. 19:6). Já que Lucas emprega as mesmas palavras básicas para descrever o fenômeno como nos dois casos anteriores, é lógico inferir que aconteceu a mesma experiência e que essa glossolalia também foi em idiomas estrangeiros. Além disso, se a profecia foi parte desse fenômeno de falar em línguas, então Paulo devia ter compreendido o que eles estavam dizendo nas línguas. Muitos que defendem a moderna glossolalia admitem que o falar em línguas estrangeiras constituía o fenômeno nos Atos, mas eles argumentarão que o "dom de línguas" (I Cor. 12-14) permite falar tanto em idiomas desconhecidos como em estrangeiros. Todavia, um estudo dessa epístola paulina há de revelar que a natureza do fenômeno nos dois livros é a mesma (falando em idiomas estrangeiros), ainda que os propósitos sejam diferentes. Quando Paulo introduziu o assunto de dons espirituais, ele declarou que "ninguém, falando pelo Espírito de Deus, diz: Jesus é anátema! e


Movimento Moderno de Línguas 75 pode dizer: Jesus é o Senhor! senão pelo Espírito Santo" (I Co., 12:3), Poderia ser que algum coríntio, num esforço humano de reproduzir o dom de falar línguas, tivesse feito outro arranjo e pronunciasse certas sílabas com o efeito total de realmente dizer que Jesus era maldito ou anátema? Há uma notável semelhança entre "maldito" (anathema) e "nosso Senhor vem" (marana tha) em certos sons (I Cor. 16:22). Alguém, falando grego, talvez tenha tentado simular essa última frase aramaica com um arranjo faltoso, e dito a-na-tha-mar. Assim, ele teria estado chamando a Jesus de maldito ou anátema, em vez de declarar a Sua vinda. Outra possibilidade é que a pessoa tenha dito "Jesus é maldito" (anathema) em vez de dizer "Jesus é uma oferta votiva" (anatheima) ou que tenha substituído "anátema" por "uma maldição" (katara: cf, Gal. 3:13). Qualquer que tenha sido o caso, a pessoa estava tentando simular sílabas de um idioma conhecido, não de uma língua desconhecida. Qualquer coisa que tenha dito também estava no vocabulário de uma língua conhecida. Essa interpretação tem de ser considerada como plausível, porque esse verso se acha dentro do contexto de dons espirituais. Paulo designou o dom de línguas como gene glosson, traduzida como "a variedade de línguas" (I Cor. 12:10) e "diversidade de línguas" (I Cor. 12:28). Esse termo genos faz referência a uma família, raça, descendência, nação, qualidade, sorte e classe no uso novotestamentário. Há muitas "espécies" de peixes (Mat. 13:47), porém todos são peixes. Há muitas "castas" de demônios no mundo (Mat. 17:21), porém são todos eles demônios. Há muitas espécies de vozes (I Cor. 14:10), mas todas elas são vozes. Daí se pode concluir que há muitas "qualidades" de línguas, mas todas elas são línguas. Há várias famílias de línguas no mundo – semita, eslava, latina etc. Todas essas são inter-relacionadas, em que elas têm um vocabulário definido e a construção gramatical. Paulo de maneira nenhuma poderia ter combinado línguas estrangeiras conhecidas com sons desconhecidos extáticos sob a mesma classificação. Simplesmente não se relacionam.


Movimento Moderno de Línguas 76 Sempre ligado com o dom de línguas está o dom de interpretação de línguas (hermeneia glosson; I Cor. 12:10; 14:26, 28). Que significa "interpretar"? Em passagens não-carismáticas, refere-se a uma exposição das escrituras do Velho Testamento (Luc. 24:27) ou a uma tradução de uma língua estrangeira conhecida para outra (João 1:39,43; 9:7; Heb. 7:2). Em ambos os casos, é uma tentativa de tornar claro, através de uma explicação ou tradução, o que é dito num idioma conhecido. Esses usos têm que governar o significado do dom de interpretação. A interpretação da glossolalia (idiomas estrangeiros) foi necessária para tornar claro o que fora dito aos ouvintes. Isto se fez por meio de tradução para a língua ou idioma comum e/ou pela exposição. A declaração "ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos" (ean tais glossais ton anthropon lalo kai ton angelon; I Cor. 13:1) tem feito com que alguns dividam o fenômeno de glossolalia em "línguas conhecidas" (de homens) e "línguas desconhecidas" (de anjos). Entretanto, isto não é necessariamente verdadeiro. Primeiro, Paulo estava descrevendo um caso hipotético (ean; se). Isto não quer dizer que ele havia falado em línguas angelicais, mesmo que mais tarde ele admitisse que falara "línguas" (I Cor. 14:18). Segundo, o mero fato de que a palavra "línguas" é usada apenas uma vez com "homens" e "anjos" demonstra que línguas humanas e angelicais podem ser juntadas. Têm elas algo em comum. São ambas línguas conhecidas e compreendidas pelos ouvintes. Terceiro, quando homens e anjos conversaram em tempos bíblicos, podiam conversar inteligentemente em línguas conhecidas, sem dificuldade e sem interpretação. Antes de dividir línguas entre conhecidas e desconhecidas, Paulo está afirmando que todos os fenômenos de "línguas" eram na forma de idiomas definidos, não de "línguas extáticas". A inserção do adjetivo "estranhas" (I Cor. 14:2, 4, 13, 14, 19, 27), na versão Almeida, pelos tradutores, foi muito infeliz. Nota-se que a palavra é grifada, que, neste caso, significa que ela não se acha no texto


Movimento Moderno de Línguas 77 grego. Os tradutores acrescentaram essa palavra explicativa porque pensavam que o fenômeno de glossolalia em Corinto consistia em falar uma língua extática, desconhecida. A presença de "estranha" transmite uma impressão errada, e não deve ser usada como argumento em favor de línguas extáticas ou "estranhas" ou desconhecidas. Alguns crêem que a frase "pois ninguém o entende" é uma declaração categórica. Isto quer dizer que, se um representante de cada grupo conhecido de línguas estivesse presente numa reunião de glossolalia, ninguém poderia reconhecer ou compreender o que estava sendo falado por parte da pessoa que "falasse línguas". Todavia, a bem da coerência, os que estão a favor de "falar línguas" teriam que dizer que cada ocorrência de glossolalia forçosamente tem de ser na forma de "línguas estranhas" ou desconhecidas. Entretanto, eles admitem que muitos do seu grupo têm falado idiomas estrangeiros conhecidos. Assim, isso constituiria um argumento contra sua posição de que tanto línguas conhecidas como estranhas ou desconhecidas podem ser faladas. Realmente, esse verso só quer dizer que ninguém presente no culto compreendia àquele que falava. Visto que Deus era a fonte ou causa da glossolalia genuína, Ele sabia quais os grupos de idiomas presentes e fazia com que a pessoa falasse numa língua estrangeira não representada. Assim se tornava sempre necessária a interpretação. Como ilustração da própria glossolalia, Paulo escreveu: "Ora, até as coisas inanimadas, que emitam som, seja flauta, seja cítara, se não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca na flauta ou na cítara?" (I Cor. 14:7). Como se distinguem os sons musicais por várias notas da escala e da oitava, também a fala é distinguida por vocabulário e construção gramatical. Paulo se opunha à mera repetição de certos sons ou "palavras" (como fazem também muitos glossolalistas modernos), como a própria expressão do fenômeno de glossolalia. Palavras "bem inteligíveis" (I Cor. 14:9) devem ser faladas. Uma pessoa deve poder compreender ou reconhecer a fala como um idioma conhecido, portanto, capaz de tradução e explicação (I Cor. 14:11).


Movimento Moderno de Línguas 78 Em se tratando do propósito de línguas, Paulo citou uma profecia de Isaías (28:11, 12): "Está escrito na lei: Por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o Senhor" (I Cor. 14:21). Essa profecia tratou do tempo quando Israel e Judá foram invadidos pelos assírios (cf. II Reis 17-18). A frase "este povo" refere-se aos judeus e a frase "homens de outras línguas e outros lábios" refere-se aos assírios. As ameaças dos assírios, que falavam tanto o idioma dos assírios como o dos hebreus, não modificaram a pecaminosidade e a incredulidade dos judeus. Esse falar em línguas estrangeiras devia ser um sinal para os judeus, porém eles não o receberam. Paulo, então, aplicou essa verdade à situação dos coríntios. "De modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos... " (I Cor. 14 :22). Visto que as línguas ou os idiomas estrangeiros são definidamente referidos no verso 21 (heteroglossais; cf. Atos 2:4, onde "outras línguas" também são definidamente idiomas e dialetos estrangeiros), o uso de "línguas" (hai glossai) no versículo 22 também deve referir-se a línguas estrangeiras. Isto também se confirma ainda pelo uso do artigo de referência prévia (hai) e a função da conjunção inferencial "de modo que" (hoste). Se Paulo tivesse considerado o "falar em línguas" ser numa murmuração extática ou desconhecida, ele não teria empregado a mesma palavra duas vezes nesses dois versículos, especialmente porque o significado de glossa fora estabelecido no primeiro uso. Lucas, companheiro de Paulo, escreveu Atos (A.D. 60) depois de Paulo escrever I Coríntios em (A.D. 55). Indubitavelmente, Lucas conhecia o conteúdo de I Coríntios, ou por ter lido a carta ou por ter escutado os ensinos de Paulo. Estes fatos são significativos, porque Lucas empregou os mesmos termos (glossa e laleo), para descrever o fenômeno da glossolalia em Jerusalém, Cesaréia e Éfeso (At. 2, 10, 19), que Paulo empregara ao escrever aos coríntios. Já que línguas estrangeiras definitivamente constituem o fenômeno em Atos, segue-se que línguas estrangeiras devem ter sido faladas em Corinto. Se não é


Movimento Moderno de Línguas 79 assim, então por que não empregou Lucas uma fraseologia diferente ou pelo menos palavras qualificadoras para indicar a diferença? Lenski escreveu: "... Lucas é quem descreve plenamente o que são línguas, enquanto Paulo presume que seus leitores saibam o que são e, portanto, não oferece nenhuma descrição."(15) Isso é mui plausível. Teófilo, a quem foi dedicado o livro de Atos, precisaria duma explicação desse fenômeno, porém os coríntios não. Hodge acrescentou: "Se o significado da frase (glossais) é assim histórica e filologicamente determinado para Atos e Marcos, tem de ser determinado também para a Epístola aos Coríntios."(16) Quando e onde quer que o fenômeno tenha acontecido, esperar-se-ia que sua natureza básica (falar línguas conhecidas) seria a mesma. O falar em idiomas estrangeiros que não foram aprendidos certamente constituiria um milagre divino; todavia, o falar em sons ininteligíveis e desconexos ou em sons desconhecidos facilmente poderia ser feito tanto por um cristão como por um descrente. Não há norma objetiva pela qual essa fala poderia ser avaliada. Portanto, é lógico aceitar que Deus instituiria um milagre que os homens não poderiam duplicar através da simulação humana. Também, em todos os casos de conversão e revelação entre seres naturais (homens) e seres sobrenaturais (Deus, anjos, Satanás, demônios), a comunicação foi numa língua compreensível. Tomando por base esse precedente e ilustração, mais uma vez seria lógico aceitar que o falar línguas se manifestaria através de idiomas compreensíveis. Antes do Pentecostes, houve mais um milagre que envolveu a linguagem e a fala. Deus mudou a fala única e o único idioma do mundo em muitos idiomas, grupos de línguas, em Babel (Gên. 11:1-9). Essa mudança foi para línguas estrangeiras, não para sons desconhecidos. Já (15)

R.C.H. Lenski, Interpretation of St. Paul's First and Second Epistle to the Corinthians (Columbus, Ohio: Warburg Press, 1957), p. 505. (16) Charles Hodge, An Exposition of the First Epistle to the Corinthians (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co., 1950) p. 248.


Movimento Moderno de Línguas 80 que Deus fizera esse tipo de milagre antes, seria razoável crer que Ele o repetisse na sua natureza básica em Pentecostes. Argumentos, tanto escriturísticos como lógicos, têm sido apresentados para demonstrar que o fenômeno de glossolalia foi realizado somente em idiomas estrangeiros conhecidos. Os modernos "glossolalistas" têm o dever de provar que a glossolalia bíblica incluía também sons extáticos. Avaliações Lingüísticas Para que haja uma renovação ou um reavivamento dos dons espirituais bíblicos, o "moderno movimento de línguas" deve demonstrar que toda glossolalia realiza-se em idiomas conhecidos do mundo. Todavia, o caso não é assim. Bredesen admitiu que "a maior parte da glossolalia corrente é em línguas desconhecidas".(17) Os muitos testemunhos de outros "faladores de línguas" tendem a confirmar a convicção de Bredesen, embora alguns poucos pretendam ter falado em línguas conhecidas. As conclusões de eruditos lingüísticos também demonstraram que a moderna glossolalia consiste em sons desconhecidos e que algumas das pretensões de falar em línguas conhecidas são falsas. A verdadeira glossolalia (o falar uma língua não previamente falada) é raríssima, "Mosiman estudou muitos dos casos supostos e achou que nem um sequer era autêntico. Robert L. Dean, um psicólogo contemporâneo, chega à mesma conclusão."(18) William Welmes, professor de línguas africanas na UCLA, chamou o moderno fenômeno uma fraude e uma monstruosidade. Ele deu o seguinte relatório sobre sua investigação: E tenho que relatar sem reserva que a amostra que tenho de maneira alguma parece estruturalmente com um idioma. Não pode haver mais que dois sons contrastantes de vogais e um jogo de sons de consoantes (17) (18)

Farrell, op. cit., p. 6. Bergsma, op. cit., p. 9.


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peculiarmente restritos; esses combinam em pouquíssimos grupos de sílabas, que recorrem muitas vezes em várias ordens. As consoantes e vogais nem todas parecem com o inglês (a 1illgua nativa -do "glossolalista"), porém as regras da entonação são o inglês americano tão completamente que o efeito total é bem ridículo. (19)

Welmes também criticou a pretensão de Bredesen de ter falado na língua Cóptica do Egito. Ele disse: "O Sr. Bredesen devia ter estado numa sessão espírita, porque já por muitos anos não existem mais pessoas que falam a língua Cóptica do Egito. Temo que isto seja típico das pretensões erradas, da parte dos modernos glossolalistas, ainda que provavelmente sinceras." (20) Eugene Nida, famoso lingüista da Sociedade Bíblica Americana, chegou à seguinte conclusão, depois de sua investigação: Os tipos de inventário e distribuições indicariam claramente que essa gravação não tem nenhuma semelhança com nenhuma língua atual já tratada por lingüistas... Se não é idioma humano, então que é? Pode se dizer apenas que é uma forma de "fala extática". ... Sobre a base do que tenho aprendido acerca deste tipo de fenômeno de "línguas" em outras partes do mundo, aparentemente há a mesma tendência de se empregar o próprio inventário de sons, em combinações absurdas, porém com feições simuladas estrangeiras. Pelo menos no Oeste da África e na América Latina, os tipos de glossolalia empregados pareciam caber dentro desta descrição. (21) As conclusões dos lingüistas indicam que a moderna glossolalia é composta de sons desconhecidos, sem vocabulário e feições gramaticais que a distingam, com simuladas feições estrangeiras e com uma ausência total de características de idioma. O caráter essencial desse novo movimento é, portanto, contradição com o fenômeno bíblico de falar em línguas conhecidas. (19)

William Welmes, "Letter to the Editor", Christianity Today, VII (8-11-1963), pp. 19 e 20. Ibid. (21) Citado por Edman, op. cit., p. 16. (20)


Movimento Moderno de Línguas Sumário

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Têm-se várias opiniões quanto a natureza básica do fenômeno bíblico de falar línguas. Alguns liberais têm negado o milagre e redefinido o fenômeno como a apresentação de comentários expositivos sobre textos do Velho Testamento. Alguns poucos têm sustentado o ponto de vista de que toda glossolalia estava na forma de fala extática ou de sons desconhecidos. Muitos crêem que o fenômeno consistia em falar idiomas conhecidos ou desconhecidos. Realmente, a grande maioria das glossolalias modernas está na forma de sons desconhecidos. Somente pelo Novo Testamento se pode determinar a natureza exata do fenômeno bíblico. O termo grego glossa emprega-se de várias maneiras: para indicar o órgão da fala, um sinônimo de raça ou povo, idiomas estrangeiros e como parte da descrição da fala de línguas. O termo se emprega de nove maneiras diferentes para descrever o fenômeno. Os lexicógrafos crêem que o fenômeno poderia envolver tanto idiomas conhecidos como fala extática. Todavia, o emprego de glossa e a descrição do fenômeno do Novo Testamento revela que estava envolvida somente a fala de idiomas conhecidos. Pelo menos dezoito argumentos baseados nas Escrituras e na lógica foram apresentados para sustentar esta conclusão. Eruditos lingüísticos têm afirmado o fato de que o "moderno movimento de línguas" é caracterizado pela fala em sons desconhecidos, sem qualquer base de linguagem. Portanto, o caráter essencial do novo movimento não está de acordo com a norma bíblica. Por conseguinte, não pode ser de Deus.


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“LÍNGUAS” NO EVANGELHO DE MARCOS A ÚNICA MENÇÃO do fenômeno de glossolalia nos quatro Evangelhos acha-se na grande comissão, conforme o registro de Marcos (16:17). Isto torna-se significativo quando se reconhece que o Espírito Santo exerceu uma parte proeminente na era do evangelho. A Ausência de "Línguas" em Outros Lugares O Espírito Santo foi o agente da conceição do Cristo encarnado (Luc. 1:35). Pelo menos cinco pessoas são apresentadas como "cheias do Espírito Santo": Jesus Cristo (Mat. 3:16; Luc. 4:1), João, o Batista (Luc. 1:15), Isabel (Luc. 1:41), Zacarias (Luc. 1:67) e Simeão (Luc. 2:25). Todavia, não se diz que qualquer uma dessas pessoas tenha falado línguas, quer contemporâneas, quer subseqüentes da experiência de ficar cheia do Espírito Santo. João, o Batista, predisse que Jesus batizaria com o Espírito Santo e com fogo (Mat. 3:11), porém nem mencionou que a glossolalia seria a evidência física da experiência. Jesus também predisse o advento do Espírito Santo no mundo e na vida dos crentes (João 7:3739; 14:16; 16:7), porém em nenhuma parte ele declarou que isso seria acompanhado pelo fenômeno de falar em línguas. Jean Stone declarou que os crentes devem pedir a Deus o Espírito Santo (cf. Luc. 11:13), e que a glossolalia será a evidência de sua recepção.(1) Sua pretensão peca por não reconhecer os distintivos transitórios da era do evangelho. Mais tarde, Cristo disse: "rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador" (João 14:16). Depois desta declaração, não foi ordenado aos discípulos pedirem o Espírito Santo. Hoje em dia, há apenas duas classes de pessoas no mundo – crentes, que têm o Espírito Santo (Rom, 8:9) e incrédulos, que não têm o Espírito (1)

Jean Stone e Harold Bredesen, The Charismatic Renewal in the Historic Churches (Van Nuys, Calif.: Blessed Trinity n.d.), p. 6.


Movimento Moderno de Línguas 84 Santo (Jud. 19). Não existe um terceiro grupo de cristãos que não têm o Espírito. Os Evangelhos estão repletos de tais declarações transitórias que nunca tiveram o propósito de se tornar um padrão ou norma para a era presente. Num tempo, Cristo mandou que seus discípulos limitassem seu ministério a Israel (Mat. 10:5, 6), porém, depois de ressuscitado, Ele ordenou que fossem pelo mundo e pregassem o evangelho a toda criatura (Mat. 28:18-20). A doutrina nunca devia ser baseada nessas declarações anteriores, transitórias. Também Cristo esboçou as relações futuras do Espírito Santo para com o crente e o mundo (João 14-16) sem fazer qualquer referência à fala de línguas. Num dos seus aparecimentos aos seus discípulos após a ressurreição, Cristo "assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo" (João 20:22.) Esse evento climático também não provocou a glossolalia. Ao enfatizar os eventos do Pentecostes (At. 2), os modernos "faladores de línguas" (ou "glossolalistas") têm deixado de dar um significado próprio dessa recepção inicial do Espírito Santo pelos discípulos. Na era do evangelho, há uma aproximação ao "falar línguas" na possessão demoníaca, com uma diferença básica. O demônio falou diretamente, antes de fazer o homem possesso falar (cf. Mar. 5:1-20); todavia, o verdadeiro "falar línguas" foi realizado pelos lábios e pela língua da pessoa sob o controle do Espírito Santo (At. 2:4). A semelhança baseia-se nos fatos de que o pronunciamento sobrenatural estava sendo processado e que a pessoa estava sob a influência dum ser sobrenatural. Talvez haja uma condenação da repetição de certas palavras ou sílabas desconhecidas (nas quais se realiza a maior parte da glossolalia moderna), no ensino de Cristo sobre a oração, no Sermão do Monte: "E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos (Mat. 6:7). Beare declarou que a frase "não useis de vãs repetições" (battalogesete) dizia respeito a uma


Movimento Moderno de Línguas 85 (2) deprecação de qualquer qualidade de fala ininteligível em oração. O verbo consiste em batta, que não é uma palavra de significação, porém uma sugestão onomatopaica do som produzido, e logeo, "falar". Outras palavras relacionadas são "gago" (battalos) e "gaguejar" (battaridzo). Nesse contexto, no entanto, Cristo não se refere ao mero defeito de falar, porém à repetição de sons ininteligíveis. Não é isso o que Paulo condenou na igreja em Corinto (I Cor. 14:9, 11, 19)? Já que o "falar línguas" é uma forma de oração (I Cor. 14:2,14), será que o Espírito Santo faria com que um crente pronunciasse sílabas desconhecidas muitas vezes (como fazem muitos) quando o próprio Senhor Jesus condenou essa prática? Jamais Deus se contradiz. Sempre Ele age de acordo com a Sua Palavra. Essa passagem, então, cresce de significação quando é relacionada com o moderno fenômeno de glossolalia. Torna-se outro argumento em favor do ponto de vista de que toda a glossolalia bíblica foi na forma de palavras e línguas conhecidas e significativas. A Presença de "Línguas" em Marcos Como foi anteriormente declarado, a única menção clara do fenômeno de glossolalia acha-se no registro de Marcos, da Grande Comissão (16:15-18): E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados.

(2)

Frank W. Beare, "Speaking with Tongues", Journal of Biblical Literature, LXXXIII (setembro de 1964), p. 229.


Movimento Moderno de Línguas Contensão dos Que Advogam a Glossolalia

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Conforme os modernos advogados da "fala de línguas", todos os cinco sinais devem caracterizar cada crente. Brumback argumentou que, "se a expressão 'aquele que crer e for batizado' é verdadeira em toda e qualquer época da dispensação cristã, a afirmação 'estes sinais os seguirão' também deve ser verdadeira em cada geração e período da história da igreja". (3) Brumback acrescentou que a frase "os que crêem" não faz referência somente aos novos convertidos, porém a todos os que crêem em Cristo. Então ele definiu a natureza da fé e o caráter condicional dos sinais: "Enquanto os apóstolos e outros discípulos continuaram crendo no senhorio de Jesus sobre cada reino, 'estes sinais' continuaram a segui-los." (4) Este, então, é o ponto de vista do moderno movimento de "línguas". Se um cristão apenas cresse no que Jesus aqui disse e se submetesse completamente ao senhorio de Cristo, então veria estes sinais operando na sua vida. Isso poderia acontecer em qualquer geração, inclusive na de hoje. De fato, o moderno movimento de "línguas" e o ministério do "pleno evangelho" (conforme eles) são o cumprimento da profecia de Cristo . Tem havido, e ainda há, muitos homens piedosos que não falaram línguas: Calvino, Knox, Wesley, Carey, Judson, Moody, Spurgeon, Torrey, Sunday e Bill Graham. Brumback declarou que este argumento "se baseia em homens, antes que nas Escrituras". (5) Isso lá é verdade; todavia, causaria espécie se esses grandes líderes cristãos e outros fossem classificados como homens que não tenham reconhecido o senhorio de Cristo na sua vida. Certamente, eles têm manifestado mais santidade e têm testemunhado mais efetivamente em prol de Cristo do que muitos que pretendem ter falado línguas. Todavia, a resposta real a

(3)

Brumback, op. cit., p. 54. Ibid. (5) Ibid., p. 275. (4)


Movimento Moderno de Línguas 87 essa pretensão do moderno movimento de "línguas" acha-se na autenticidade textual e na doutrina da própria passagem. Autenticidade da Passagem Muitos cristãos reconhecem que a declaração textual da conclusão de Marcos (16:9-20) é fraca. Os dois melhores manuscritos iniciais – o Sinaíticus e o Vaticanus – não a têm. Da mesma forma, algumas traduções latinas do quarto e do quinto séculos a Versão Siríaca Sinaítica e alguns códices armenianos – não a contêm. Clemente de Alexandria, Orígenes e Euzébio, todos a omitiram. De fato, Euzébio disse que as cópias mais acuradas por ele conhecidas e quase todas as cópias disponíveis terminavam com as palavras "porque temiam" (16:3). (6) Nenhum manuscrito grego anterior ao quinto século a tem. Essa evidência externa de Manuscritos favorece definitivamente a omissão da passagem, ainda que não seja bastante em si. A omissão realmente cria um problema, como diz Cole: "Terminar o Evangelho com o v. 8 é não somente abrupto no sentido lingüístico, mas também abrupto teologicamente." (7) Esse término desconexo tem de ser reconhecido, e, todavia, aceito. Everett Harrison, professor de grego do Novo Testamento no Seminário Teológico Fuller, concluiu: "A probabilidade transcripcional favorece o término abrupto. Se o término longo fosse original, seria difícil explicar a perda desses versículos em nossos principais MSS. Por outro lado, aceito o término abrupto como o original, é fácil ver que havia uma sentida necessidade para suplementação." (8)

(6)

Citado por Everett F. Harrison, Introduction to the New Testament (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Pub. Co., 1964), pp. 87 e 88. (7) R. A. Cole, The Gospel According to St. Mark (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co., 1961), p. 258. (8) Harrison, op. cit., p. 88.


Movimento Moderno de Línguas 88 E houve suplementação. Há pelo menos quatro términos possíveis, que se acham em vários manuscritos gregos. Os melhores manuscritos terminam com o versículo 8. Outros contêm uma curta conclusão de cerca de trinta palavras. A maioria dos manuscritos posteriores inclui os versos 9 a 20. Há ainda outros que têm os vv. 9-20, com uma interpolação entre os vv. 14 e 15. Qual a conclusão para essa evidência externa dos MSS? Tem que se concordar com o Dr. A. T. Robertson, o grande erudito em Grego e gramático da geração passada: "Assim, os fatos são mui complicados, porém eles argumentam fortemente contra a genuinidade dos vv. 9 a 20 de Marcos 16." (9) Sobre a base deste sustentáculo fraco de MSS, nenhuma doutrina deve ser edificada a respeito desta passagem. A evidência interna sustenta a conclusão da evidência externa. Harrison citou algumas das incongruidades da passagem: A palavra traduzida "semana" no v. 9 não é a mesma que no v. 2. A afirmação sobre Maria Madalena, no v. 9, não tem lógica de ali constar, especialmente por ser feita depois do aparecimento dela na história, através do v. 1, em que não há qualquer descrição semelhante. O leitor espera em vão que se diga algo nos versos da conclusão que explique bem o que se diz a respeito de Pedro no v. 7, mas tudo quanto se encontra é uma série de generalidades. Finalmente, ainda que a matéria no v. 18, concebivelmente, poderia ser congruente com o lugar dado ao elemento milagroso no Evangelho, talvez seja mais acurado ver o tema taumatúrgico aqui tal como se encontra nos Evangelhos apócrifos. (10)

Gould apontou certas diferenças lingüísticas quando escreveu: "Há 109 palavras diferentes, e, dessas, 11 palavras e 2 frases não ocorrem em outra parte nesse Evangelho."(11) São: ekeinos, poreuomai, tais met'autou genomenois, theaomai, apisteo, meta tauta, husteron, blapto, sunergountos, bebaioun e epakolouthein. (9)

Archibald Thomas Robertson, World Pictures in the New Testament (Nashville, Tenn.: Broadman Pres., 1930), I, p. 402. (10) Harrison, op. cit., p. 88. (11) Ezra P. Gould, A Critical and Exegetical Commentary on lhe Gospel According to St. Mark (New York: Charles Scribners Sons, 1913), p. 303.


Movimento Moderno de Línguas 89 Diante dessa evidência externa e interna tão forte contra o conceito de que os vv. 9 a 20 seriam da autoria de Marcos, é difícil compreender Brumback, que concordou com a conclusão do antigo Pulpit Commentary: "No todo, a evidência quanto à genuinidade e autenticidade desta passagem parece ser irresistível."(12) Nenhum erudito moderno no Grego diria que a evidência em favor da inclusão dos versículos 9 a 20 é "irresistível". Por que Brumback faria uma declaração tão corajosa? Primeiro, ele cria que a Versão Autorizada (de 1611 A.D.) era "a mais digna de confiança de todas as versões e a que mais se aproxima do original que qualquer coisa que temos hoje em dia". (13) Essa posição é digna de elogio, porém ele a mantinha à custa de desprezar o texto grego e as descobertas dos eruditos gregos. (14) Finalmente, este autor recebeu a impressão de que Brumback teve que sustentar tenazmente a integridade do término de Marcos para justificar seu ponto de vista de que a glossolalia faz parte integral da Grande Comissão e de que o fenômeno devia ser parte permanente da igreja e da vida pessoal. Sua posição doutrinária determinou definidamente sua aceitação dessa passagem. Isto é ser tendencioso, mas não é erudição. A atitude correta para com essa passagem, tanto por parte dos advogados da glossolalia como por parte dos seus oponentes, devia ser a de Robertson: "Diante da grande dúvida quanto à genuinidade desses versículos (quase prova conclusiva contra eles, na minha opinião), é pouco sábio tomar esses versículos como base de doutrina ou de prática, a não ser que seja sustentada tal doutrina por outras partes genuínas do N.T." (15) Portanto, é insustentável edificar uma doutrina sobre essa passagem. A passagem pode ser parte genuína do Evangelho de Marcos,

(12)

Harrison, op. cit., p. 66. Ibid., p. 57. (14) Ibid., pp. 55-57. (15) Robertson. op. cit.. p. 262. (13)


Movimento Moderno de Línguas 90 porém enquanto não se tiver maior evidência a respeito, ela não deve ser usada para sustentar qualquer posição doutrinária. Doutrina da Passagem De duas maneiras a doutrina da passagem não favorecerá nem mesmo a posição Pentecostal. Primeiro, pode-se demonstrar que o ensino da passagem é inconsistente com o de outras passagens das Escrituras. Este fato ainda confirma mais o fraco sustentáculo textual da passagem; portanto, não deve ser usada pelo movimento de "línguas" para provar sua pretensão da existência permanente da glossolalia na igreja. Segundo, mesmo admitindo a passagem como genuína, pode-se mostrar que o movimento neo-pentecostal não está cumprindo todos os sinais mencionados. O primeiro problema doutrinário da passagem centraliza-se na natureza da fé expressa na frase: "E estes sinais acompanharão aos que crerem.. ." (16:17). Os que advogam a causa de "línguas" têm declarado que a crença completa no senhorio de Cristo fará com que a pessoa crente experimente esses sinais. Mas, será verdade? Será que "crença no senhorio de Cristo" é o que Jesus queria dizer? No contexto maior desta passagem, a palavra é empregada com referência àqueles discípulos que não criam que Jesus fora ressuscitado dentre os mortos, e que fora visto por Maria Madalena (16:11) e pelos dois no caminho de Emaús (16:13). Mais tarde, o próprio Cristo, num aparecimento após a ressurreição, repreendeu-os por causa de sua descrença quanto aos seus aparecimentos (16:14). Todavia, nem a crença nem a descrença na ressurreição física de Cristo está envolvida em 16:17. O contexto imediato é a Grande Comissão de Cristo a seus discípulos (16:15). Ele mandou que fossem e pregassem o evangelho a toda criatura. E disse ainda: "Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais acompanharão aos que crerem..." (16:16,17). A crença na mensagem do evangelho trará


Movimento Moderno de Línguas 91 salvação, e a falta de fé trará juízo individual. Os sinais, então, eram para acompanhar aqueles que crerem para a salvação, e não aqueles que aceitam o senhorio de Cristo na sua vida (apenas alguns cristãos). Que a crença para a salvação é o significado pretendido vê-se ainda pelo uso do tempo aoristo em ambos os versículos (ho pisteusas e ho apisteusas, 16:17, cf. tois pisteusasin, 16:18). A aceitação individual e a responsabilidade pessoal (na pessoa singular) são enfatizadas em 16:17, conquanto esses sinais fossem para acompanhar todos os crentes como um grupo (no plural). Que os sinais deveriam acompanhar os que cressem e fossem batizados, é uma declaração categórica. Cada pessoa que cresse no evangelho deveria realizar esses cinco sinais; porém o fato claro da História e da experiência é que nenhum cristão jamais fez isso. Os próprios advogados da glossolalia não testificam que todos os cinco sinais têm estado operando nas suas vidas. Todos esses sinais deveriam acompanhar todos os crentes. Note-se o artigo e o particípio no plural (16:17). Também o antecedente de "eles" (16:17-18) é "os que crerem" (16:17) para a salvação. Não se refere aos pregadores nem aos apóstolos (a eles a referência é feita na segunda pessoa do plural "vós" – 16:15). O segundo problema doutrinário da passagem centraliza-se na natureza dos sinais que deveriam acompanhar os crentes. O primeiro foi: "em meu nome expulsarão demônios". Espíritos maus foram expulsos por Pedro (At. 5:15,16), por Filipe em Samaria (At. 8:5-7) e por Paulo em Filipos (At. 16:16-18) e em Éfeso (At. 19:12). Todavia, não há nenhuma indicação nos Atos nem nas epístolas de que todos os crentes praticassem isso. Esses três líderes (apóstolos e/ou evangelistas) foram os únicos a expulsar demônios. O segundo sinal foi: "... falarão novas línguas." O falar línguas foi manifestado pelos discípulos (At. 2:1-4), por Cornélio e sua casa (At. 10:44-48), pelos discípulos de João, o Batista (At. 19:1-7), pela igreja em Corinto (I Cor. 12-14) e possivelmente por Paulo (I Cor. 14:18) e pelos samaritanos (At. 8:12-18). Fora dessas ocorrências, não há nenhuma indicação duma prática geral de glossolalia pelos crentes. Também já foi


Movimento Moderno de Línguas 92 demonstrado que o emprego de kainos antes que neos indicava que a fala deveria ser em idiomas conhecidos, não em "línguas desconhecidas". (16) Isto não tem sido praticado pelo moderno movimento de "línguas". O terceiro sinal foi: "... pegarão em serpentes." Não há nenhuma ilustração no resto do Novo Testamento de que qualquer crente fizesse isto. Ainda que Paulo tenha sido citado como um exemplo (At. 28:1-6), é bom lembrar que ele não pegou na serpente, mas que a cobra o mordeu. Oral Roberts dá uma explicação esquisita desse versículo: O pegar em serpentes não se refere a pôr as mãos em cobras. Essa era uma expressão do Oriente que se referia a inimigos. Significa o que Jesus explicou em Lucas 10:19: "Eis que vos dei autoridade para pisar serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; e nada vos fará dano algum." Isto foi poder que faria com que eles vencessem os seus inimigos que tentassem impedir seu progresso espiritual ou procurassem proibir que testemunhassem o Senhor Jesus Cristo. (17)

Essa interpretação figurada ou alegórica do sinal é incongruente com a literalidade dos outros quatro. O contexto exige uma interpretação literal. O quarto sinal foi : "... e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum." Não há limitações quanto ao tipo de líquido consumido (notai: "alguma" = "qualquer"; ti). Também a frase "não lhes fará dano algum" (enfático negativo duplo ou me) é uma declaração categórica. Os que cressem em Cristo para a salvação poderiam beber qualquer coisa sem sofrer nenhum dano. De novo, a História, tanto bíblica como histórica, mantém completo silêncio a respeito dessa prática. De fato, Timóteo talvez tenha sofrido dano por haver ingerido água poluída (I Tim. 5:23). O quinto sinal foi : ". . . e porão as mãos sobre os enfermos, e eles serão curados." Há muitos casos de cura sem a imposição de mãos (At. 3:1-11; 9 :32-35; 19:11). Todavia, há casos onde a imposição de mãos (16) (17)

Ver Capítulo IV (clique aqui). Oral Roberts, The Baptism with the Holy Spirit and the Value of Speaking in Tongues Today (Tulsa, Okla.: Pelo autor, 1964), p. 16.


Movimento Moderno de Línguas 93 resultou em cura física (At. 9:17,18; 28:8,9; cf. Tiago 5:14,15). No entanto, essa não era a prática geral. De fato, por que foi que o carcereiro em Filipos não curou Paulo e Silas antes de "lavar-lhes as feridas" (At. 16:33)? Essa também é uma declaração categórica. Havendo imposição de mãos, haveria cura; porém o caso não é assim, como hão de concordar os Pentecostais e os "curandeiros por fé". Assim ficou demonstrado que todos os cinco sinais devem ser manifestados por todos que cressem em Cristo para salvação. Todavia, isso não se deu nem nas vidas das pessoas bíblicas nem na do moderno movimento de "línguas". A palavra "sinais" (semeia) emprega-se extensivamente na Bíblia, com referências múltiplas, porém esses cinco sinais nunca se aplicam a todos os crentes. A palavra foi usada quanto à circuncisão (Rom. 4:11), um requisito para os judeus (I Cor. 1:22), a línguas (I Cor. 14:22) e à assinatura de Paulo (II Tess. 3:17). Sinais eram operados por Deus (At. 7:36), por Cristo (At. 2:22), pelos apóstolos (At. 2:43; 4:16 ,22, 30; 5:12; 14:3; 15:12; Rom. 15:17-19; II Cor. 12:12; Heb. 2:3, 4). Por Estêvão (At. 6:8) e por Filipe (At. 8:6,13). Sinais serão operados no futuro por Deus (At. 2:19), pelo anticristo (II Tess. 2:9), pelo falso profeta (Apoc. 13:13, 14; 19:20) e pelos espíritos de demônios (Apoc. 16:14). Há forte indicação de que esses sinais divinos eram temporários e limitados às primeiras décadas da história eclesiástica. Alguém escreveu: Como escaparemos nós, se descuidarmos de tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; testificando Deus juntamente com eles por sinais e prodígios, e por múltiplos milagres e dons do Espírito Santo, distribuídos segundo a sua vontade (Heb. 2:3, 4).

Ainda que o pronome "eles" (2 :4) não esteja no texto grego, a compreensão dos tradutores foi correta quando o inseriram. É digno de nota que Deus lhes testificou, isto é, àqueles que haviam ouvido o Senhor diretamente (os apóstolos), e não à segunda geração de crentes (note-se: "foi.. . confirmada", não "está sendo confirmada"). O escritor de Hebreus em parte nenhuma testificou da existência de sinais e


Movimento Moderno de Línguas 94 milagres como prova da superioridade do cristianismo em relação ao judaísmo ritualista. Ainda que os judeus pedissem um sinal, Paulo não lhos deu, mas pregou o Cristo crucificado (I Cor. 1:22, 23). Concernente a esses sinais, a honestidade terá que concordar com a conclusão de Cole: Se manifestações evidenciais foram ou não pretendidas para serem contínuas na vida da igreja, ou se foram restritas a esse período, ou esporádicas – terá que ser considerado à luz da restante do Novo Testamento; em vista da evidência incerta quanto à conclusão mais seguida, não se deve fazer nenhuma suposição dogmática apenas nela baseada. (18) Esses sinais não se acham nos demais registros referentes à Grande Comissão (Mateus 28:18-20; Luc. 24:46-49; João 20:2123; At. 1:8). Visto que não são todos eles achados na experiência da igreja primitiva, essa passagem não deve ser apresentada como o padrão pretendido para esta época. Também não é justo que o moderno movimento de "línguas" selecione um desses sinais e o enfatize como o sinal de uma vida cheia do Espírito, afastada dos outros quatro sinais. Tem que ser todos os cinco sinais ou nenhum deles. Resumo A ausência da existência ou da predição do fenômeno de "falar línguas" no período do Evangelho é fato mui significativo. Várias pessoas foram cheias do Espírito Santo sem falar línguas. O batismo no Espírito Santo foi predito à parte de qualquer menção desse fenômeno. Jesus esboçou a relação do Espírito Santo com os discípulos sem mencionar o fenômeno. De fato, Jesus deprecou a oração a Deus que envolvesse sons desconhecidos e sem significação. Isso negaria a

(18)

Cole, op. cit., p. 262.


Movimento Moderno de Línguas 95 pretensão de que o falar em sons desconhecidos é a duplicação da ocorrência bíblica. Advogados da glossolalia pretendem que a crença completa e a submissão ao senhorio de Cristo produziria esses sinais na vida dos crentes. Entretanto, isso é inconsistente com as experiências de muitas pessoas dedicadas, consagradas e com a correta interpretação da própria passagem, Esses cinco sinais (Mar. 16:17,18) devem ser achados na vida daqueles que iriam crer em Jesus para salvação. O fato de que eles não têm sido achados é evidente do registro bíblico, do curso da história eclesiástica e do próprio movimento moderno de glossolalia. Também, visto que a conclusão de Marcos (16:9-20) tem tão fraca evidência externa de manuscritos e seu sustento interno é tão inseguro quanto a sua genuinidade, não deve e não pode ser baseada sobre essa passagem nenhuma doutrina. Já que não há nenhuma outra passagem bíblica que ensine a existência permanente desses sinais na vida da Igreja, tem de ser rejeitada essa tese básica do moderno movimento de "línguas". Para todos os propósitos práticos, a doutrina bíblica de glossolalia tem necessariamente de ser limitada ao tempo de Atos e I Coríntios.


Movimento Moderno de Línguas

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AS LÍNGUAS NO LIVRO DE ATOS O LIVRO DE ATOS fornece um registro histórico da vida primitiva

da Igreja. Relata o avanço da mensagem do evangelho de Jerusalém a Roma, primariamente através dos ministérios de Pedro e Paulo. Registra o primeiro sermão apostólico (2:14-40), o primeiro milagre apostólico de cura (3:1-11), a primeira perseguição (4:1-3), a primeira defesa do evangelho (4:5-12), o primeiro castigo (5:1-11), a escolha dos primeiros diáconos (6:1-7), o primeiro martírio (7:54-60), a primeira viagem missionária (13:1–14:28) e o primeiro concílio da Igreja (15:1-35). O livro, pois, tem um caráter progressivo e transicional, no que o programa de Deus deixa a antiga dispensação da lei, passa para a vida primitiva da nova dispensação eclesiástica e avança para um estágio posterior e mais amadurecido. Dentro deste registro histórico se acham quatro recebimentos singulares do Espírito Santo, acompanhados pelo fenômeno de glossolalia em pelo menos três ocorrências. Esses quatro registros históricos serão agora apresentados e estudados, e, mais adiante, será exposto o seu significado. O Registro de Línguas O Livro de Atos contém três registros claros de glossolalia (2:113;10:44-48; 19:1-7). Por causa de certas semelhanças, mais duas passagens têm sido sugeridas (4:31; 8:5.19), a última sendo mais plausível. Certas perguntas formarão as diretivas no estudo desses registros históricos. Onde aconteceu o fenômeno? Quem falou línguas? Quando eles falaram ou qual era a sua condição espiritual no tempo em que falaram? Que estavam fazendo na ocasião em que começaram a falar línguas? Quais os sinais que acompanharam o seu recebimento do Espírito Santo? Foram-lhes impostas mãos a fim de que recebessem essa experiência?


Movimento Moderno de Línguas Atos 2:1-13

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O primeiro relato sobre glossolalia é o referente a ocorrida no dia de Pentecostes (2:1). O dia era assim denominado porque era celebrado no qüinquagésimo dia (a nossa palavra é a transliteração do termo grego pentekostes) depois da apresentação do primeiro molho da ceifa de cevada. Era o qüinquagésimo dia depois do primeiro domingo após a Páscoa (cf. Lev. 23:1ss). Também era conhecido como a Festa das Semanas (Êx. 34:22; Deut. 16:10) e como o Dia das Primícias (Êx. 23:16; cf. Núm. 28:26), porque era o dia em que os primeiros frutos da ceifa de trigo eram apresentados a Deus. No judaísmo posterior, esse dia era considerado como o aniversário da entrega da Lei no Monte Sinai. (1) O dia particular de Pentecostes era mui significativo, porque era o qüinquagésimo dia após a ressurreição de Jesus Cristo e dez dias após a sua ascensão aos céus (At. 1:2,3), Esse grande evento ocorreu na cidade de Jerusalém. Os discípulos receberam ordem de Jesus de ficarem em Jerusalém para a descida do Espírito Santo (Luc. 24:49). Isto eles fizeram (Luc. 24:52; At. 1:12). Aqueles que testemunharam o fenômeno de falar línguas e aos quais Pedro pregou seu sermão habitavam em Jerusalém nesse tempo (At. 2:5,14). O som da presença do Espírito Santo "encheu toda a casa" (holon ton oikon) onde os discípulos "estavam sentados". Que casa era essa? Morgan, seguindo Josefo, equacionou "casa" com o templo ou uma das salas do templo. (2) O templo era chamado "casa" no Velho Testamento (Is. 6:4) e mais tarde é assim descrito por Estêvão (At. 7 :47). Depois da ascensão de Cristo, Lucas diz que os discípulos "estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus" (Luc. 24:53). Nesse dia de festa, poderse-ia esperar achá-los ali. Uma multidão de mais de três mil pessoas (At. 2:41) mais provavelmente se acharia no átrio do templo e não num (1)

F. F. Bruce. Commentary on the Book of Acts (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co.), pp. 53 e 54. (2) G. Campbell Morgan, The Acts of the Apostles (New York: Fleming H. Revell Commentary, 1924), p. 24.


Movimento Moderno de Línguas 98 cenáculo ou na rua, fora de uma casa particular. Todavia, há indicações definidas de que os discípulos estavam simplesmente numa casa particular quando lhes sobreveio o Espírito Santo. O contexto imediato de fato menciona um cenáculo numa casa particular (At. 1:13-26). É mais provável que estivessem sentados (At. 2:2) numa casa particular do que no templo. Mais tarde, Lucas distingue entre "casa" e "templo" (At. 2 :46; 3:1). É difícil dizer com absoluta certeza justamente onde estavam os discípulos, entretanto, é certo que estavam juntos em algum lugar em Jerusalém. Quem "falou línguas"? Lucas apenas diz "eles" (2:1-4). Quem são "eles"? Alford disse que "eles" não se refere somente aos apóstolos, nem somente aos 120, mas a "todos os crentes em Cristo então congregados no templo na festa em Jerusalém". (3) A maioria dos comentaristas crê que o antecedente desse pronome é o grupo de 120 discípulos, inclusive os doze apóstolos (4) ou os 120 mais os doze apóstolos, (5) Visto que esse grupo é mencionado nos versículos precedentes (1:12-16), esse ponto de vista parece bem plausível. Todavia, há problemas definidos relativo a esses pontos de vista. A melhor posição é que somente os doze apóstolos falaram línguas quando lhes sobreveio o Espírito Santo dessa maneira incomum. Primeiro, o antecedente mais próximo de "eles" (2:1) é o grupo de apóstolos (1:26). Segundo, não é preciso pensar que os apóstolos gastassem todo o seu tempo com os 120, nem que a seleção de Matias precedesse imediatamente à descida do Espírito Santo. Terceiro, Cristo havia dado somente aos apóstolos a promessa dessa vinda do Espírito. Ele dissera: "... E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade, até que do alto sejais revestidos de (3)

Henry Alford, The Greek Testament (London: Longmans, Green, and Co., 1894), II, p. 13. Ibid. (5) R. J. Knowling, "The Acts of the Apostles", The Expositor's Greek Testament, editado por W. Robertson Nicoll (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co., 1951), p. 72. (4)


Movimento Moderno de Línguas 99 poder" (Luc. 24:49; cf. At. 1:2-4). Falando somente aos apóstolos, Ele predissera: "... mas vós sereis batizados no Espírito Santo dentro de poucos dias... Mas vós recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas..." (At. 1:5,8). Não há nenhuma indicação de que todos os crentes iam receber o Espírito Santo nesta maneira incomum. Quarto, os que observaram o fenômeno "... se admiravam, dizendo uns aos outros: Pois que! não são galileus todos esses que estão falando?" (At. 2:7). Poderá ser provado que todos os 120 eram galileus? Os apóstolos eram chamados "varões galileus" pelos anjos (At. 1:11). Pedro falava com um sotaque galileu bem definido (cf. Mar. 14:70). Quinto, será que uma acusação de embriaguez teria sido lançada a mulheres (At. 2:1-3; cf. 1:14)? Sexto, não há nenhuma menção dos 120 em Atos 2, porém há referências aos apóstolos (2:14, 37). Sétimo, a menção de "filhas" na profecia de Joel (At. 2 :17) não quer significar que mulheres receberam a experiência no Pentecostes. Para ser consistente, teríamos que dizer que filhos, filhas, mancebos, velhos, servos e servas tiveram que estar presentes. Será possível provar que todas essas seis classes estariam incluídas nos 120? Assim, provavelmente, foram os apóstolos que falaram em línguas naquele dia. Os apóstolos eram definitivamente homens salvos. Já haviam professado a sua fé em Cristo e experimentado a iluminação divina (Mat. 16:16,17; João 1:41, 45, 49; 6:68, 69). Foram pronunciados espiritualmente limpos pelo próprio Cristo e eram considerados diferentes de Judas Iscariotes (João 13:10; 15:3), Cristo os considerava como pertencendo a Ele e ao Pai (João 17:10). Antes do Dia de Pentecostes, esses apóstolos já haviam recebido o Espírito Santo (João 20:22) e foram comissionados a pregar (At. 1:8). Portanto, essa experiência no Dia de Pentecostes foi um acontecimento subseqüente a sua conversão. O significado desse fato será exposto mais tarde.


Movimento Moderno de Línguas 100 (Nota do Tradutor: Teologicamente, teremos que dizer que ninguém pode ser salvo, nascer de novo, aceitar a Cristo como Salvador sem, ao mesmo tempo, ter o Pai e o Espírito Santo, pois DEUS NÃO SE DIVIDE e não há três deuses, mas UM SÓ. Ninguém pode ter um terço ou dois terços de Deus! Ou O tem, ou não O tem. Isto é tão simples!) Que estavam fazendo os apóstolos na ocasião em que começaram a falar línguas? Os advogados modernos da glossolalia, que vêem um padrão permanente e universal na sua experiência, teriam que dizer que os apóstolos estavam buscando e orando pela experiência. Este conceito baseia-se nas frases: "Todos estes perseveraram unanimemente em oração" e "estavam todos reunidos no mesmo lugar" (At. 1:14; 2:1). Todavia, não se diz que estavam orando; isso é apenas inferencial. De fato, estavam sentados quando desceu o Espírito Santo (2:2). A posição normal para orar era de joelhos ou em pé; "sentados sugere que a assembléia de discípulos estava ouvindo um discurso..." (6) É difícil dizer se os apóstolos estavam mesmo esperando o Espírito Santo naquele dia. Jesus dissera "dentro de poucos dias" (1:5), porém não designara o dia exato nem sugerira que seria no dia de Pentecostes. Eles estavam simplesmente esperando o cumprimento da promessa de Cristo. Unger escreveu: Não se deve supor, como freqüentemente se faz, que o Espírito Santo veio no Pentecostes porque os 120 discípulos esperavam e oravam que Ele viesse. Nada do que fizeram ou disseram poderia afetar, no mínimo que fosse, a questão da vinda do Espírito. Não foram ordenados a orar, mas apenas a "sentar-se" e "esperar" (Luc. 24:49), o que queria dizer que não tentassem qualquer obra de "testemunhar" (At. 1:8) até que o Espírito Santo viesse dar-lhes poder. Naturalmente, eles oraram (At. 1:14), e tiveram uma comunhão maravilhosa, mas tudo isso nada tinha com a vinda do Espírito Santo, que veio por "promessa" divina (Luc. 24:49), num tempo divinamente determinado (At. 2:1), num lugar divinamente escolhido (Joel 2:32), de acordo com o Velho Testamento (Lev. 23 :15-22). (7) (6)

R. C. H. Lenski, The Interpretation of the Acts of the Apostles (Columbus, Ohio: The Wartburg Press, 1957), p. 57. (7) Merrill F. Unger, The Baptizing Work of the Holy Spirit (Chicago: Scripture Press, 1953), p. 57.


Movimento Moderno de Línguas 101 Esses apóstolos não oraram no sentido de receberem a experiência. Não oraram uns pelos outros. Não impuseram as mãos sobre ninguém. Simplesmente esperaram que Jesus fizesse aquilo que prometera fazer. A descida do Espírito Santo viria, não em resposta à oração, porém quando Cristo o quisesse. A descida do Espírito Santo foi evidenciada por três sinais físicos: o som de vento, línguas como que de fogo e o falar outras línguas. Ramm disse que os sinais apelavam respectivamente ao ouvido, à vista e à mente e tinham a intenção de invalidar qualquer acusação de logro ou engano. (8) Unger argumentou: "Se o Sinai foi envolvido em fumaça e chama de fogo quando a Lei foi dada a uma certa nação (Êx. 19), poderia ser considerado estranho que o fenômeno de vento, fogo e línguas de vários povos acompanhasse o dom glorioso do próprio Espírito Santo para anunciar a sublime mensagem da graça insondável para com todas as nações e cada criatura?" (9) O som vindo do céu (não o vento) "encheu toda a casa onde estavam sentados" (2:2), de modo que foram completamente cobertos, imersos ou nele batizados. Visto que o som indicou a presença do Espírito Santo, verdadeiramente foram batizados no Espírito Santo (cf. 1:5). Esse som foi ouvido por toda parte e fez com que as multidões se congregassem (1:6). Alguns crêem que a glossolalia atrai as multidões,(10) porém é mais provável que um som do céu, como que de um vento impetuoso, fosse ouvido do que a fala humana dentro de uma casa particular. O emprego que Lucas faz de phones (2:6) se relaciona melhor com o único som do céu do que com os múltiplos sons dos apóstolos (cf. Luc. 23:23, onde as vozes humanas estão no plural). Também o emprego do tempo aoristo (genomenes; 2:6) cabe melhor ao único som do que à fala contínua dos apóstolos.

(8)

Bernard Ramm, The Witness of the Spirit (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co., 1960), p. 77. Unger, op. cit., p. 62. (10) Bruce, op. cit., p. 59. (9)


Movimento Moderno de Línguas 102 As "línguas como que de fogo que se distribuíam" (2:3) não eram o cumprimento do "batismo de fogo" (Mat. 3:11). Esse batismo é um batismo de juízo sobre os incrédulos, não um meio de purificação para o crente (Mat. 3:12; cf. II Ped. 3 :4-13; Apoc. 20:11-15). Jesus não disse aos discípulos que Ele os batizaria com fogo (At. 1:5). Antes, as "línguas distribuídas" eram um preliminar da real glossolalia. Sua única voz ia ser dividida para que cada um pudesse falar em outra língua. Schaff chamou o terceiro sinal, a glossolalia, "a parte mais difícil do milagre Pentecostal". (11) Será que todos os apóstolos falaram ao mesmo tempo línguas diferentes? Ou falaram todos ao mesmo tempo na mesma língua, passando de uma língua para outra? Ou falaram eles cada um por sua vez? Por causa destas dificuldades, Kuyper declarou que os discípulos falaram uma língua pura, que todos os crentes um dia hão de falar, o que levou os observadores a pensar que os ouviam falar nas suas respectivas línguas nativas. (12) Vincent disse que "o Espírito interpretou as palavras dos apóstolos a cada ouvinte na sua própria língua". (13) Esta posição faz do evento um milagre tanto de falar como de ouvir bem. Todavia, essa posição cria mais problemas do que resolve. Não se indica na linguagem literal do texto nenhum milagre de audição. Os discípulos começaram a falar em outras línguas (ou idiomas) muito antes de chegar a multidão. Essa glossolalia estava na forma de idiomas conhecidos ou de dialetos que eram compreensíveis sem interpretação para os observadores descrentes (At. 2:4; cf. 2:6, 8, 11; também Ver Capítulo IV (clique aqui)). Os apóstolos falaram idiomas que nunca haviam aprendido, porém o fizeram aparentemente com um sotaque galileu (2:7; cf. Mat. 26:73; Mar. 14:70). Bruce disse que o dialeto da Galiléia era notável pela sua confusão de vários sons guturais. (14) Esse fato contribuiu para a (11)

Schaff, op. cit., I, p. 234. Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit (New York: Funk & Wagnalls Co, 1900), pp. 133-138. (13) Vincent, op. cit., III, p. 257. (14) Bruce, op. cit., p. 59. (12)


Movimento Moderno de Línguas 103 admiração da multidão (2:7). A multidão podia reconhecer suas línguas e/ou dialetos e compreender o que estava sendo falado pelos apóstolos. A maneira pela qual o fizeram não é tão importante como o fato de que o fizeram. O catálogo de grupos de línguas (2:9-11) revelou uma ampla variedade de línguas e dialetos. Essa fala múltipla pelos apóstolos também os pasmava. O conteúdo dessa glossolalia foi "as grandezas de Deus" (2:11). O que isso envolvia não está claro. Não era um substituto da pregação do evangelho, porque posteriormente Pedro apresentou aquela mensagem (2 :14-40) . A glossolalia não resultou na convicção de seus pecados; isso veio mais tarde (2:37). Aparentemente, esses homens eram bilíngües, porque puderam compreender o sermão de Pedro sem interpretação ou sem a repetição do fenômeno. Assim, o falar línguas foi uma parte integral dos eventos de Pentecostes. Vários pontos de vista sobre o significado dessa experiência desusual serão expostos mais tarde. Atos 4:31 Depois da primeira perseguição, os crentes tiveram uma reunião de oração. "E, tendo eles orado, tremeu o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com intrepidez a Palavra de Deus" (elaloun ton logon tou Theou meta parresias; 4:31). Vários escritores crêem que essa frase posterior é uma expressão equivalente de "falarem línguas". (15) Contudo, se essa frase de fato se refere à glossolalia, é o único lugar na Bíblia onde o faz. Fora do Livro de Atos, a palavra "intrepidez" (parresia), com suas cognatas, sempre se refere a liberdade, franqueza, clareza de linguagem, confiança e coragem. Em Atos, a palavra se emprega várias vezes (2:29; 4:13, 29, 31; 28:31) da mesma maneira. O mesmo se pode dizer a respeito do verbo parresiadzomai (9:27,29; 13:46; 14:3; 18:26; 19:8; 26:26). (15)

Beare, op. cit., p. 238 e Martin, op. cit., p, 12.


Movimento Moderno de Línguas 104 Nesse mesmo contexto, "falar a Palavra com intrepidez" relacionase com o ministério público de curar, realizar sinais e maravilhas (4:29,30). Também o moderno movimento de "línguas" pretende que uma pessoa pode falar, orar ou cantar em línguas em qualquer tempo após sua experiência inicial de glossolalia, que ocorreu quando foi batizada no Espírito Santo. Se assim é, então por que os cristãos tiveram de orar para que Deus lhes desse novamente essa experiência (4:29)? A única interpretação correta dessa passagem é que os discípulos oraram a Deus, pedindo que lhes desse coragem para levar avante o ministério público diante das ameaças e a perseguição por parte dos líderes judaicos. O fenômeno de falar línguas não pode ser achado aqui. Atos 8:5-25 A segunda recepção desusual do Espírito Santo ocorreu durante o avivamento samaritano. Depois do martírio de Estêvão, houve uma grande perseguição contra a igreja em Jerusalém, fazendo com que os crentes fossem "dispersos pelas regiões da Judéia e de Samaria" (At. 8:1). Filipe foi "à cidade de Samaria e pregava-lhes a Cristo" (8:5). Seu ministério oral foi acompanhado de milagres e sinais – expulsão de demônios e curas físicas (8:6,7,13). Seu ministério atraía a atenção dos samaritanos, causando-lhes grande alegria e neles produzindo fé salvadora (8:6,8,12). Os samaritanos eram uma raça mista, com índole pagã (II Reis 17:14; Esd. 4:2). Quando os assírios venceram Israel, o Reino do Norte (722 a.C.), tiraram da terra os israelitas proeminentes e repovoaram a região com gentios pagãos (II Reis 17:24). Essa integração produziu como resultado o casamento recíproco dos gentios com a raça samaritana, que se tornou, assim, meio-judia e meio-gentia. Os samaritanos também tinham uma religião diferente da dos judeus na Judéia (II Reis 17:27; cf. João 4:20-22). Esses dois fatos de mistura racial e religião rival causaram uma grande separação e um ódio intenso entre os judeus e os samaritanos (Esd. 4; cf. Luc. 9:52,53; João 4:9).


Movimento Moderno de Línguas 105 Esses eram o povo do qual se diz que: "quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres" (8:12). Então Lucas deu este registro da sua recepção do Espírito Santo: Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que os de Samaria haviam recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João, os quais, tendo descido, oraram por eles, para que recebessem o Espírito Santo. (Porque sobre nenhum deles havia ele descido ainda; mas somente tinham sido batizados em nome do Senhor Jesus.) Então lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo (8:14-17).

Várias observações devem ser feitas acerca dessa passagem única. Primeiro, havia um lapso definido de tempo entre a conversão e batismo dos samaritanos e sua recepção do Espírito Santo. Unger tentou argumentar que os samaritanos não foram salvos antes que descessem Pedro e João, (16) porém isto é contrário ao sentido claro e literal do relato de Lucas (8:12,14; cf. 2:41). Também, se os samaritanos não foram salvos até que chegassem Pedro e João, por que, então, Filipe os batizou? Ademais, por que não foram batizados os samaritanos depois de sua experiência de salvação com Pedro e João? O batismo depois da salvação é a norma bíblica (2:41; 8:36-38). Segundo, os samaritanos receberam o Espírito Santo através da oração e da imposição de mãos de Pedro e João (8:15-17). Como representativos do grupo inteiro dos apóstolos, Pedro e João oraram pelos samaritanos para que estes recebessem o Espírito Santo. Não há nenhuma indicação de que os samaritanos pediram em oração essa experiência ou que estivessem orando no tempo dessa experiência. Não há indicação de que Filipe orasse a favor deles. Também, os apóstolos lhes impuseram as mãos (8:17). Não há indicação nenhuma de que Filipe, o evangelista, lhes impusesse as mãos. O significado destes fatos "faz com que o batismo dos samaritanos sem a recepção do Espírito apareça como algo extraordinário: o avanço de acordo com a época do cristianismo (16)

Unger, op. cit., p. 66.


Movimento Moderno de Línguas 106 para além das fronteiras da Judéia, para dentro de Samaria, não ia ser efetivado sem a intervenção do ministério direto dos apóstolos." (17) A ausência dos sinais que acompanharam a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes é importante. Não há menção do som como que de um vento impetuoso nem das línguas distribuídas como que de fogo (2:2,3). Ainda que a glossolalia não seja explicitamente mencionada na passagem, muitos comentaristas crêem que o fenômeno ocorreu então. (18) Esta posição se baseia no emprego de "viram" (idon) na frase: "Quando Simão viu que pela imposição das mãos dos apóstolos se dava o Espírito, ofereceu-lhes dinheiro" (8:18). Que viu Simão que fez com que oferecesse dinheiro aos apóstolos? A resposta comum é que Simão os viu falando línguas. Brumback admitiu que essa é evidência circunstancial, porém ele cria que a presença da glossolalia em outros registros sustentaria a sua suposição. Ele declarou: "O peso da prova parece mais certamente caber àqueles que asseveram que a glossolalia não estava presente nessa ocasião." (19) Será que podemos achar provas de que não houve glossolalia então? Sim, há algumas. Primeiro, o fenômeno não é mencionado na passagem. Este fato torna-se importante quando se reconhece que línguas são mencionadas mais tarde por Lucas (At. 10:44-48; 19:1-7). Se Lucas quisesse apresentar um padrão para se receber o Espírito Santo acompanhado pela glossolalia, será que teria omitido essa segunda referência ao fenômeno? Teria sido mais lógico e mais natural omitir-lhe a referência mais tarde, uma vez estabelecido o padrão. Segundo, o emprego de "viu" (idon) não é conclusivo. O falar línguas apelaria mais ao sentido da audição que ao da visão (cf. 10:46). (17)

Heirich August Wilhelm Meyer, Critical and Exegetical Handbook of the Acts of the Apostles (New York: Funk & Wagnalls, 1889), p. 70. (18) Bruce, op. cit., p, 181. Também Merrill C. Tenney, The Zondervan Pictorial Bible Dictionary (Grand Rapids: Zondervan Pub. House, 1963), pp. 859-60. (19) Brumback, op. cit., p. 214.


Movimento Moderno de Línguas 107 Os fenômenos de Pentecostes foram tanto ouvidos como vistos pelos observadores (cf. 2:33). Seu argumento seria conclusivo, caso o registro declarasse que Simão tanto "viu" como "ouviu". Terceiro, Simão simplesmente viu que os apóstolos lhes impuseram as mãos. Ele queria esse poder, que se realizava (conforme ele pensava) através da imposição de mãos (8:19). De fato, o peso da prova cai sobre aqueles que inserem no texto esse fenômeno quando não é especificamente mencionado. Nesta base, poder-se-ia afirmar que o som do vento e as "como línguas de fogo" também estiveram presentes. Isso é "eisegese" subjetiva, não exegese objetiva. Atos 10:1-11:18 A terceira recepção desusual do Espírito Santo ocorreu em Cesaréia, uma cidade na costa da Palestina, na grande estrada que liga Tiro ao Egito (10:1,24; 11:11,12). Cornélio, centurião romano e gentio, recebeu a ordem de um anjo, numa visão, para que chamasse a Pedro, que estava em Jope. Fato notável também foi que o próprio Pedro recebeu uma visão de Deus, na qual lhe foi ensinado não considerar impuros ou inferiores os gentios. Depois de ouvir o relatório dos enviados de Cornélio, Pedro foi com eles até Cesaréia. Após Cornélio reiterar a sua visão, Pedro lhe pregou o evangelho, como também a sua casa. Lucas, então, apresenta este clímax: Enquanto Pedro ainda dizia estas coisas, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. Os crentes que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que também sobre os gentios se derramasse o dom do Espírito Santo; porque os ouviam falar línguas e magnificar a Deus. Respondeu então Pedro: Pode alguém porventura recusar a água para que não sejam batizados estes que também, como nós receberam o Espírito Santo? Mandou, pois, que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então lhe rogam que ficasse com eles por alguns dias (At. 10:44-48).


Movimento Moderno de Línguas 108 Desta passagem pode-se tirar várias conclusões. Primeiro, Cornélio recebeu o Espírito Santo no momento exato em que creu em Cristo para a salvação. Antes desta experiência, Cornélio não estava salvo. Apesar de que era "homem piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, e fazia muitas esmolas ao povo e de contínuo orava a Deus" (10:2), o anjo disse-lhe que enviasse a Jope para chamar a Pedro, "o qual te dirá palavras pelas quais serás salvo" (11:14), Lucas escreveu que "enquanto Pedro ainda dizia estas coisas, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra" (10 :45). Qual é o antecedente de "estas coisas"? No v. 43, Pedro acabara de chegar, na sua mensagem, ao âmago essencial do evangelho: "A ele todos os profetas dão testemunho de que todo o que nele crê receberá a remissão dos pecados pelo seu nome" (10:43). Quando Pedro mencionou a crença em Cristo, os corações espiritualmente preparados de Cornélio e de sua casa responderam em fé salvadora, e foi nesse momento que o Espírito Santo desceu sobre eles. Essa experiência é contrária à tese básica do moderno movimento de "línguas". Thomas Zimmerman, superintendente geral das "Assembléias de Deus", declarou: "Há um número de passagens bíblicas (João 14:17; At. 2, 8, 19; Ef. 1:3) que poderiam indicar que os crentes não recebem o enchimento ou plenitude ou batismo do Espírito Santo no tempo de sua conversão." (20) Todavia, Zimmerman nunca se referiu a essa experiência de Cornélio, a qual contradiz em si a sua tese. Segundo, no momento em que Cornélio recebeu o Espírito Santo, ele estava ouvindo e Pedro estava pregando (10:33, 34; 11:15). Pedro não orou para que as pessoas presentes recebessem o Espírito nem lhes impôs as mãos. Não há nenhuma indicação de que o próprio Cornélio tivesse orado para ganhar essa experiência. Na verdade, é provável que ele nada soubesse acerca do fenômeno de "falar línguas" (notar seu silêncio anterior e também o de Pedro sobre esse assunto). (20)

Zimmerman, "The Pentecostal Position", op. cit., pp. 3-7.


Movimento Moderno de Línguas 109 Terceiro, a evidência de sua recepção do Espírito foi a sua glossolalia (10:45-46), mas nota-se também o som como que de um vento impetuoso e a ausência das línguas distribuídas como que de fogo. Enfatizando a descida "uma vez por todas" do Espírito Santo ao mundo no Pentecostes, manifestada por esses sinais e a falta de dois deles aqui, Kuyper escreveu: "Isto confirma a nossa teoria; pois não foi uma vinda para a casa de Cornélio, porém uma condução do Espírito Santo para outra parte do corpo de Cristo." (21) Esta glossolalia foi em idiomas conhecidos, reconhecidos e compreendidos pelos observadores, Como poderiam os cristãos judaicos saber que Cornélio e sua casa estavam magnificando a Deus, a não ser que entendessem o idioma (10:46)? Também se empregam as mesmas palavras aqui para descrever o fenômeno como no Pentecostes (10:46; 2:4; cf. Cap. IV). O conteúdo das línguas foi também o mesmo das de Pentecostes – magnificando a Deus (megalunonton ton Theon; 10:46) ou declarando as obras maravilhosas de Deus (ta megaleia tou Theou; 2:11). Esse fenômeno pasmou os cristãos judaicos, porque eles ainda não compreendiam que Deus queria que os gentios também fossem salvos (10:45, 46; 11:1-3, 18). Pedro relatou à igreja em Jerusalém que o Espírito Santo caiu sobre os mesmos gentios assim "como também sobre nós no princípio" (11:15). Sem dúvida, esta é uma referência à experiência do Pentecostes, mas, por que Pedro sentiu a necessidade de comparar esses dois eventos? O do Pentecostes ocorreu cerca de sete anos antes desse. Dar-se-ia o caso de não haver ocorrido o fenômeno de falar línguas nesse intervalo? Certamente ele poderia ter se referido aos eventos de Atos 3-9, se esses eventos realmente incluíram o falar línguas. Isto pode formar outro argumento, pela ausência do fenômeno em Samaria. Uma quarta observação é que Cornélio foi batizado em água depois de ter recebido o Espírito Santo e de ter falado línguas. Isso difere tanto da experiência dos apóstolos (Atos 2) como da dos samaritanos (At. 8). (21)

Kuyper, op. cit., p. 132.


Movimento Moderno de Línguas 110 Assim, o "falar línguas" ocupou uma grande parte nessa introdução da mensagem do evangelho aos gentios. Atos 19:1-7 A quarta e final recepção desusual do Espírito Santo aconteceu em Éfeso sob o ministério de Paulo (19:1). Ela envolveu doze discípulos de João, o Batista (19:1,37), que não sabiam que Cristo viera ao mundo, morrera, fora ressuscitado e ascendera aos céus (19:4) e que o Espírito Santo viera ao mundo (19:2). (22) É possível que eles tenham sido convertidos sob o ministério do Batista na Palestina. Depois de voltarem a Éfeso, podiam não ter ouvido falar da vinda de Cristo. Ainda esperavam o Messias. Ou podiam ter recebido seu conhecimento espiritual de Apolo (At. 18:24-19:1) ou da mesma fonte de que Apolo aprendera. Em qualquer caso, esses discípulos tem de ser considerados como crentes do tipo do Velho Testamento. Sua designação por Lucas como "certos discípulos" (19:1) é método por ele usado para denotar crentes verdadeiros (cf. 6:1; 9:10; 11:25). Também a pergunta de Paulo inferiu a fé por parte deles, porém com a falta de graças espirituais e de poder (19:2). (23) Nota do Tradutor: O célebre erudito Dr. A. T. Robertson diz: "O particípio, primeiro aoristo, pisteusantes é simultâneo com o segundo aoristo, ativo, indicativo elabete e se refere ao mesmo evento" – Word Pictures in the New Testament, III, p. 311. (22)

Sua resposta à pergunta de Paulo sugere ignorância da existência do Espírito Santo. Todavia, não é assim o caso. Este uso de estin envolve o sentido de "dado" ou "vindo" para completar o sentido (cf. a mesma construção em João 7:39). João, o Batista, ensinara claramente aos seus discípulos acerca da existência do Espírito Santo e seu futuro ministério (Mat. 3:11). Como discípulos dele, esses doze teriam conhecido isso. (23) Essa pergunta, ainda que importante, não é essencial ao problema da glossolalia. O particípio aoristo é traduzido literalmente, "tendo crido". Em sintaxe, pode ser usado acerca de ação antecedente ("desde que crentes") ou de ação simultânea ("quando crentes"). Se é simultânea, Paulo estava se referindo à recepção normal do Espírito hoje em dia (cf. Rom. 8:9). Se é antecedente, estava se referindo à maneira desusual, transicional de receber o Espírito (cf. At. 8).


Movimento Moderno de Línguas 111 Paulo explicou a posição esquisita deles de serem santos do Velho Testamento na dispensação do Novo Testamento: Mas Paulo respondeu: João administrou o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que após ele havia de vir, isto é, em Jesus. Quando ouviram isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus. Havendo-lhes Paulo imposto as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e falavam línguas e profetizavam (At. 19:4-6).

Esses doze discípulos sabiam que deveriam crer em um que viria após João. Quando Paulo lhes explicou que aquele era o Cristo, creram nele e manifestaram a sua crença no batismo cristão. Tornaram-se crentes do Novo Testamento e membros da verdadeira igreja. Caso eles tivessem morrido depois do Calvário e antes dessa explicação, teriam sido classificados como santos velhotestamentários. O batismo cristão era necessário porque o batismo de João estivera orientado para Israel e para a esperança judaica do reino messiânico (M.at. 3:2; 10:5-7; João 1:31). Depois de Paulo lhes impor as mãos, eles receberam o Espírito Santo e falaram línguas. Não há nenhuma indicação de que Paulo orasse por eles nem de que orassem por si mesmos para que ganhassem essa experiência. Essa glossolalia mais uma vez foi em idiomas conhecidos (cf. Cap. IV). Se a profecia formou uma parte ou todo o conteúdo da fala, então Paulo a devia ter compreendido. Visto que Lucas empregou os termos comuns para descrever o fenômeno (cf. At. 2:4; 10:46), esta conclusão é lógica. Também não há menção do som como que de um vento impetuoso nem das línguas como que de fogo. (24) Conclusão Acham-se no Livro de Atos quatro recepções desusuais. Ocorreram em quatro áreas diferentes (Jerusalém, Samaria, Cesaréia e Éfeso) e envolveram quatro classes diferentes de pessoas (judeus, samaritanos, gentios e os discípulos de João Batista). (24)

Roy L. Laurin, Acts: Life in Action (Findlay, Ohio: Dunham Publishing Co., 1962), p. 157.


Movimento Moderno de Línguas 112 A seguinte carta há de revelar que nem duas recepções eram completamente idênticas. Caps. 2 – 8 – 10 – 19 1. Som como que de um vento 2. Línguas como que de fogo 3. Glossolalia 4. Imposição de mãos 5. O Espírito recebido após a salvação 6. O Espírito recebido no momento da salvação

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Também, os discípulos ou estavam orando ou ouvindo um discurso quando lhes sobreveio o Espírito (2). Pedro e João oraram a favor dos samaritanos (8). Cornélio estava ouvindo e Pedro estava pregando (10). Paulo havia apenas terminado a sua explicação (19). Visto que há tantas diferenças nos acontecimentos, quais as conclusões que se pode tirar desta fase do estudo? Primeiro, não se pode formular, hoje em dia, nenhum padrão ou modelo para a recepção do Espírito Santo. Buscando-se um padrão, qual o capítulo que o fornecerá? Se for Atos 2, então a imposição das mãos é desnecessária. Também o som como que de vento e as línguas como que de fogo devem estar presentes. E os cristãos devem esperar em Jerusalém. Se for Atos 8, então devem ser chamados os apóstolos, para orarem e imporem suas mãos (Filipe e os samaritanos sozinhos não o puderam fazer). Isto é impossível hoje em dia, porque os apóstolos não mais estão vivos. Se for Atos10, então o Espírito é recebido no momento da salvação, antes de serem os novos crentes batizados, e sem oração e imposição de mãos. Se for Atos 19, a oração não é necessária. Que significa tudo isso?


Movimento Moderno de Línguas 113 Como escreveu Laurin: "Não devemos cometer o trágico erro espiritual de 'ensinar a experiência dos apóstolos', porém antes experimentar o 'ensino dos apóstolos'." (24) A experiência dos apóstolos acha-se em Atos, livro transicional, conquanto o ensino dos apóstolos seja claramente exposto nas epístolas. Hoje em dia, um cristão é assinalado como um que tem o Espírito (Rom. 8:9), e o homem descrente é aquele que não tem o Espírito (Judas 19). Não há nenhum período entre a conversão e a recepção do Espírito Santo. Segundo, o caráter transicional do Livro de Atos tem que ser reconhecido. Certas coisas aconteceram na igreja primitiva que eram só temporárias na sua natureza. Nunca pretenderam tomar-se padrões permanentes. Hoje em dia os cristãos não louvam a Deus num templo judaico (2:46; 3:1). Os crentes não precisam vender tudo quanto têm para sustentar os pobres (4:32-37). Hoje em dia os crentes não caem mortos instantaneamente, abatidos, por haverem mentido (5:1-11). As portas das prisões não se abrem sobrenaturalmente (5:19). Não há mais conversões a Cristo hoje em dia mediante uma revelação direta e um aparecimento de Cristo (9:1-19). Esses exemplos devem ser suficientes para demonstrar a natureza transicional de Atos. Visto que Deus estava introduzindo uma nova dispensação, Ele fez certas coisas na época primitiva da Igreja que não eram necessárias nas etapas posteriores da Era Apostólica ou na vida permanente da Igreja. Essas recepções desusuais do Espírito Santo, assistidas por fenômenos vários, inclusive a glossolalia, caem nesta categoria. O Significado das Línguas O significado do fenômeno de falar línguas tem que ser apurado dos registros bíblicos. Uma vez que se tenha feito isto, os pontos de vista (24)

Roy L. Laurin, Acts: Life in Action (Findlay, Ohio: Dunham Publishing Co., 1962), p. 157.


Movimento Moderno de Línguas 114 contemporâneos quanto ao significado podem ser examinados. A nenhum sistema teológico deve ser permitido impor-se sobre o registro bíblico. O Significado Bíblico O Espírito Santo não podia assumir a sua tarefa enquanto não fosse glorificado o Cristo (João 7:37-39). Jesus orou para que o Pai desse a presença eterna do Espírito Santo a seus discípulos (João 14:16). Jesus disse que o Espírito não poderia vir, a não ser depois de sua ascensão (João 16:7). Quando o Espírito Santo desceu no dia de Pentecostes (At. 2) , foi em resposta à oração e à promessa de Cristo (Luc. 24:49; At. 2:33). Os vários fenômenos, inclusive línguas, anunciaram objetivamente a certeza do Seu Advento, tanto aos apóstolos como aos judeus incrédulos. Foi um sinal aos judeus de que Jesus era verdadeiramente o Messias, de que Ele morrera e ressuscitara corporalmente e de que Ele havia enviado o Espírito Santo de Sua elevada posição no céu como prometera (At. 2:22-36). Desde que o Espírito Santo veio ao mundo, para assumir o Seu Ministério até a volta de Cristo (II Tess. 2:6-7), a experiência do Pentecostes nunca mais pôde ser repetida. Cristo enviou o Espírito uma vez para o mundo. Essa vinda do Espírito não pode ser repetida mais do que a vinda de Cristo ao mundo, na sua encarnação. Assim, o falar línguas não foi o sinal evidente de uma experiência que os apóstolos buscavam, porém antes um sinal do "nunca-a-serrepetido" advento do Espírito Santo ao mundo. Esse começo de uma nova dispensação pode ser comparado com o da Lei. Quando a Lei foi dada primeiramente por Deus, o evento foi acompanhado por trovões, relâmpagos, fogo, fumaça e um terremoto (Êx. 19:16-18). Entretanto, quando Deus deu a Moisés as segundas tábuas da Lei, depois de quebradas as primeiras, os fenômenos não foram repetidos (cf. Êx. 34). Essa primeira experiência de Israel com Deus e com a Lei não se tornou um padrão normal. Nem tampouco deve a primeira experiência da Igreja com o Espírito Santo esperar tornar-se um padrão normal.


Movimento Moderno de Línguas 115 Se o falar línguas realmente ocorreu em Samaria (At. 8), então o fenômeno foi um sinal aos meio-judeus de sua necessária dependência e sujeição à autoridade dos apóstolos judaicos. Caso recebessem o Espírito Santo instantaneamente na ocasião de serem salvos ou através da instrumentalidade de um judeu da Grécia (Filipe), eles talvez estabelecessem um ramo rival de cristianismo, em oposição ao de Jerusalém. Seu fundamento racial e religioso tornava isso uma possibilidade definida. A glossolalia, por conseguinte, foi a evidência objetiva de que eles haviam de fato recebido o Espírito Santo através dos apóstolos judaicos.

No começo, o evangelho não foi pregado aos gentios, embora Jesus o tivesse ordenado (At. 2-9; 11:19; cf. Mat. 28:18-20). Os judeus, inclusive os cristãos judaicos, consideravam os gentios como sendo indignos da salvação, comuns e impuros (At. 10:9-16, 28, 34-35; 22:21,22). Deus teve que ensinar a Pedro o valor e a "salvabilidade" dos gentios antes de ele ir à casa de Cornélio (At. 10:9-35). Depois que foram salvos Cornélio e sua casa, os cristãos judaicos em Jerusalém protestaram contra os fatos de Pedro ter visitado a casa de Cornélio e ter comido com eles (At. 11:1-3). Assim, para mostrar aos cristãos judaicos que os gentios também podiam ser salvos e que diante de Deus eles eram iguais aos judeus, o Espírito Santo foi dado no momento da salvação deles sem a oração apostólica ou a imposição de mãos. A glossolalia foi o sinal objetivo aos judeus de que os gentios de fato foram salvos e receberam o Espírito Santo. Esse fenômeno convenceu tanto os observadores (10:45-46) como os críticos judaicos (11:18) desses fatos. A ocorrência e o significado do fenômeno em Éfeso (At. 19:1-7) foram únicos. Wuest disse que "Atos 19:6 tem a ver com o caso especial onde judeus haviam vindo à salvação sob a dispensação da Lei do Velho Testamento e agora estavam recebendo os benefícios adicionais da Era da Graça, um caso que não pode ocorrer hoje em dia" (25) (o grifo é (25)

Kenneth S. Wuest, Untranslatable Riches from the Greek New Testament (Grand Rapids: Wm. Eardman's Pub. Co., 1943), p. 109.


Movimento Moderno de Línguas 116 meu). Visto que esses discípulos de João, o Batista, demonstraram ignorância quanto ao advento do Espírito Santo ao mundo, um sinal objetivo era necessário para convencê-los de que seu novo passo de fé era correto. Justamente como as línguas anunciaram o advento do Espírito no Pentecostes, essa glossolalia convenceu-os de que o Espírito Santo fora dado. Essas quatro recepções desusuais do Espírito Santo, evidenciadas pela glossolalia em pelo menos três casos, ocorreram quando o evangelho e o Espírito Santo estavam sendo introduzidos a quatro diferentes classes de pessoas que existiam depois da ascensão de Cristo – judeus, tanto cristãos como descrentes; samaritanos (meio-gentios); gentios; e os discípulos de João, o Batista. Quando o evangelho foi dado, mais tarde, a membros destes quatro grupos, não há nenhum registro de que o Espírito Santo fosse recebido de maneira desusual, acompanhada pela glossolalia. Evidência do Batismo no Espírito Santo Segundo o moderno "movimento de línguas", a glossolalia é a evidência do batismo do (com o, no ou pelo) Espírito Santo. Eles equacionam o batismo do Espírito Santo com a plenitude do Espírito Santo e aceitam a definição que Torreg deu acerca dele: "O batismo com o Espírito Santo é a vinda do Espírito de Deus sobre o crente, tomando possessão de suas faculdades, transmitindo-lhe dons que não lhe eram inatos, mas que o qualificam para o serviço para o qual Deus o tenha chamado." (26) Essa experiência, diferente da regeneração, geralmente ocorre depois da salvação. Não envolve a erradicação da natureza pecaminosa, porém dá o poder e a capacidade para o serviço cristão. Expressões ou termos como "cheios do Espírito Santo" (At. 2:4), "receber" (At.1:8), "vir sobre" (At. 19:6), "promessa" (At. 1:4), "revestido de poder" (Luc. 24 :49) e "dom" (At. 2:38) se referem todos à mesma experiência. Os (26)

R. Torrey, The Baptism with the Holy Spirit (New York: Fleming H. Revell Company, 1897), p. 24.


Movimento Moderno de Línguas 117 pentecostais crêem que o Espírito Santo habita no crente no momento da salvação, porém que Ele o "enche" ou "batiza" mais tarde. Essa última experiência, crêem eles, é evidenciada pela glossolalia. Embora, Torrey não tenha dito que a glossolalia era sinal dessa experiência, os pentecostais têm afirmado que é. Brumback disse que é "uma experiência carismática, isto é, de caráter transcendente e milagroso, produzindo efeitos extraordinários que são visíveis ao observador, a sua vinda inicial sendo assinalada pela glossolalia". (27) As Assembléias de Deus não consideram a glossolalia como um sinal, porém como o sinal do batismo do Espírito. Essa denominação aprovou a seguinte resolução: "Fica estabelecido que este concílio considere como um desacordo sério com os Fundamentais se qualquer ministro entre nós ensinar contrário ao nosso testemunho distintivo de que o batismo no Espírito Santo seja acompanhado pelo sinal físico, essencial, de falar em outras línguas." (28) Ainda que esta seja a opinião da maioria do "moderno movimento de línguas", alguns do Full Gospel (Pleno Evangelho) não aceitam a glossolalia como o único ou necessário sinal. (29) O padrão bíblico permanente, de todos os batismos com o Espírito Santo, baseia-se em Atos 2:4: "E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem." Se alguém perguntasse acerca do som e das línguas como que de fogo, esta seria sua resposta: "Todavia, apesar do fato de que houve muitos aspectos do Pentecostes que eram peculiares só àquele dia, para nunca mais serem repetidos, havia algumas coisas acerca do dia que se estabeleceram como um padrão para os futuros crentes." (30)

(27)

Brumback, op. cit., p. 184. Citado por Carl Brumback, Suddenly from Heaven (Springfield, Mo.: Gospel Publishing House, 1961), p. 223. (29) J. E. Stiles, Jr. "Letter to the Editor", Christianity Today, VIII (8-11-1963), p. 11. (30) Brumback, What Meanth This?, op. cit., pp. 196-97. (28)


Movimento Moderno de Línguas 118 Isto, todavia, é muito subjetivo. Quem é que determina quais os fenômenos que deveriam ser permanentes ou temporários? Também, visto que a imposição de mãos não é mencionada aqui, por que, então, ela se tem tornado uma parte do seu padrão? Dalton argumentou: "Toda a lógica exige que haja uma evidência distinta, inicial, de que a experiência do batismo com o Espírito Santo tenha vindo ao crente." (31) Não é baseado este argumento na lógica ou sobre o raciocínio, em vez de nas Escrituras? Não há evidência física da experiência da regeneração quando a pessoa recebe a presença do Espírito Santo, que possa habitar nela. A certeza da salvação decorre simplesmente de se crer na Palavra de Deus (João 1:12; 3:16), do testemunho interior do Espírito Santo (Rom. 8:16) e da vida modificada resultante (Tiago 2:24; I João 3:14). Assim, à segurança de uma vida cheia do Espírito provém de uma vida de testemunho (At. 1:8) e da frutificação do caráter cristão (João 15 :1-8; Gál. 5:22, 23). Exigir evidência física é andar pela vista, em vez de pela fé. Como se pode receber o batismo do Espírito Santo? A declaração de fé das Assembléias de Deus reza assim: "Nós cremos que o batismo do Espírito Santo, conforme Atos 2:4, é dado a crentes que o pedem." (32) Hurst mencionou seis requisitos espirituais: ter sede e buscar (João 7:37,38; Mat. 5:6; João 4:14; Is. 55:1; Jer. 29:13), ter fé (Heb. 11:6), pedir em oração (Luc. 11:13), receber (João 20:22), render-se (Joel 2:2829) e beber. (33) Um exame dessas ordens e das passagens dadas para sustentá-las há de revelar que elas têm sido tiradas do seu contexto, sendo mal aplicadas. Jesus falou de uma sede de salvação (João 5:14; 7:37,38) e pela santidade na vida e no mundo (Mat. 5:6). O mandamento de "receber" foi dado aos discípulos na tarde da ressurreição (João 20:22). A ordem(31)

Dalton, op. cit., pp. 75 e 76. "Interesting Facts about the Assemblies of God", The Pentecostal Evangel (16-9-1962) p. 12. (33) D. V. Hurst, "How to Receive the Baptism with Holy Ghost", The Pentecostal Evangel (26-41964), pp. 7-9. (32)


Movimento Moderno de Línguas 119 chave dessa posição é "pedir", porém não há registro ou menção de que os discípulos, os samaritanos e Cornélio e os discípulos de João, o Batista, tenham pedido a experiência. Muitas instruções de autosugestões são também dadas para tornar mais fácil a experiência: 1. Ajudar o candidato a ver que o dom já é dado e tudo quanto ele tem de fazer é recebê-lo. 2. Levá-lo a reconhecer que qualquer pessoa salva pelo batismo está preparada para receber o batismo do Espírito. 3. Dizer-lhe que, quando se lhe impuserem as mãos, ele receberá o Espírito. 4. Dizer ao candidato que ele deve esperar que o Espírito atue sobre suas cordas vocais, mas que ele terá que cooperar com a experiência também. 5. Dizer-lhe que lance fora todo o medo de que seja falsa essa experiência. 6. Dizer-lhe que abra bem a boca e respire tão profundamente quanto lhe seja possível, dizendo a si mesmo que ele está recebendo o Espírito naquele momento. 7. Não o ficar perturbando e dando-lhe toda sorte de instruções. Guardar uma atmosfera de unidade e devoção e de silêncio.

Essas instruções preparatórias e auxílios são inteiramente estranhos aos registros bíblicos. São contrários à espontaneidade e à soberania do ministério do Espírito. Tais instruções só poderiam conduzir à um esforço humano para reproduzir um fenômeno bíblico. Levariam inevitavelmente a uma experiência auto-imposta e a uma auto-desilução (por exemplo, "dizendo-se a si mesmo (n° 6) que se está naquele momento recebendo o Espírito). Há várias outras razões por que esse ponto de vista do "Moderno movimento de línguas" está errado. A primeira é que eles confundiram o batismo do Espírito Santo com o enchimento ou plenitude do Espírito Santo. Unger dá seis razões por que esses dois ministérios do Espírito Santo devem ser guardados distintos um do outro. (34) Primeiro, o batismo do Espírito é uma obra realizada uma vez por todas, conquanto o "enchimento" ou o "ficar (34)

Unger, op. cit., pp. 15-20.


Movimento Moderno de Línguas 120 cheio" seja um processo contínuo. A ordem "enchei-vos do Espírito" (plerousthe, Ef. 5:18) está no tempo presente, indicando uma experiência repetida. Os discípulos ficaram cheios repetidamente (At. 2:4; 4:8,31). Mas o batismo é um evento único (Ef. 4:5) e (Rom. 6:3,4; 1 Cor. 12:13; Gál. 3:27; Col. 2:12). Segundo, o "batismo do Espírito Santo" é não-experimental (não experimentado), enquanto que o enchimento é experimental. O batismo é algo que Deus faz pela pessoa sem que ela o saiba. O enchimento é uma experiência a ser desejada e atingida. Terceiro, não há nenhuma ordem para que alguém seja batizado com o Espírito, porém há um mandamento de ficar cheio (Ef. 5:18). Quarto, o batismo do Espírito Santo é universal entre os cristãos, mas "ficar cheio" não é. Paulo escreveu : "Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito" (I Cor. 12:13). A ordem de ficar cheio do Espírito (Ef. 5:18) implica em que alguns não estavam cheios. Quinto, o batismo do Espírito é totalmente diferente do "encher" quanto aos resultados. O batismo nos une a Cristo e nos faz membro do Corpo de Cristo (Rom. 6:3,4; I Cor. 12:13). O "encher" produz alegria, gratidão, submissão, serviço e o caráter cristão (Ef. 5:19-21; Gál. 5:22,23). Sexto, o batismo do Espírito é totalmente diferente do "encher" nas condições sob as quais é recebido. Quando uma pessoa crê em Cristo para a salvação, naquele mesmo momento ela é batizada no Espírito Santo. Quando um crente é separado de pecado pessoal conhecido e totalmente submisso ao Espírito, será enchido ou controlado pelo Espírito. Assim, quando uma pessoa é batizada no Espírito Santo, está vitalmente unida a Cristo na sua morte, sepultamento e ressurreição (Rom. 6:3,4; Gál. 3:27; Col. 2:12). Esse ato de Deus dá ao crente uma posição exaltada e forma a base de sua santificação e do seu viver cristão vitorioso (Rom. 6:1-13). Por ser unido a Jesus Cristo, o crente também se


Movimento Moderno de Línguas 121 torna membro do corpo de Cristo, a igreja verdadeira, da qual o cabeça é Cristo (I Cor. 12:13; Ef 1:22,23). Uma segunda razão por que sua posição está errada é porque eles têm enfatizado a experiência pessoal acima da doutrina das Escrituras. Mahoney escreveu: "Não é a doutrina do Pentecostes, porém a experiência que tem abençoado a milhões. Não precisamos da teologia do batismo do Espírito Santo. Precisamos do poder daquele batismo. Então a doutrina cuidará de si mesma." (35) Essa declaração está contrária às Escrituras. Ela torna a experiência a base da fé e da prática em lugar da Bíblia. A experiência não deve formular a sua doutrina, porém a doutrina deve formular ou determinar a experiência. De fato, muitos testemunhos do "moderno movimento de línguas" acerca da experiência do batismo são muito parecidos com a posição neo-ortodoxa do encontro de crise. Alguém escreveu: "Vós me perguntastes por que o batismo do Espírito Santo é profético, antes que místico. O misticismo implica na busca de Deus por parte do homem, através de meditações prolongadas etc, enquanto a profecia se refere ao ato de Deus "impulsionar-se não somente para achar o homem, mas para abençoá-lo e para falar-lhe e através dele."(36)

Uma terceira razão é que suas experiências são contrárias às experiências nos registros bíblicos. Todos os casos de glossolalia nos Atos foram em idiomas estrangeiros, conhecidos aos observadores. Qual é a situação hoje em dia? Bach confessou: "Raramente o experimentador fala numa das línguas conhecidas do mundo." (37) Para que seja a mesma experiência como a das personagens bíblicas, a natureza do fenômeno deve ser também a mesma. Paul L. Morris, pastor da Igreja Presbiteriana Hillside, em Jamaica, Nova York (uma igreja que anteriormente financiava bazares, bailes, jantares, festas de cozinha e bancadas para a venda de verduras), relatou (35)

Mahoney, op. cit., p. 6. Letter from an Anglican Priest to a Spiritual Child (Van Nuys, Calif.: Blessed Trinity Society), tract. (37) Marcus Bach, "Whether There Be "Tongues," Christian Herald (maio de 1964), p. 10. Ver também o Apêndice I. (36)


Movimento Moderno de Línguas 122 que o Espírito Santo entrou e tomou conta durante uma reunião de oração. Mais tarde, quando ele se deitou na cama, começou a falar numa língua desconhecida. (38) Essa experiência pessoal é contrária àquela dos apóstolos, que começaram a falar em línguas conhecidas no mesmo momento em que o Espírito chegou e tomou posse deles. Assim, a posição de que a glossolalia é a evidência do batismo do Espírito Santo tem de ser considerada como sendo anti-escriturística quanto a sua origem e também na sua prática. Cumprimento da Profecia de Joel Os que defendem a pretensão do "moderno movimento de línguas" dizem que suas experiências e as dos apóstolos (At. 2) são o cumprimento da "chuva temporã" e da "serôdia" predita por Joel (Joel 2:23, 28-32; cf. At. 2:16-21). Baseiam eles seus argumentos na citação de Joel feita por Pedro e sua declaração: "Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel" (alla touto estin to eiremenon dia tou prophetou Joel; At. 2:16). Dizem eles que a chuva temporã ali referida é o derramamento original do Espírito Santo evidenciado pela glossolalia e a "chuva serôdia" é o avivamento carismático no século vinte, também evidenciado pelo falar línguas. Todavia, será que a expressão "isto é o que" poderá sustentar tal pretensão? Gaebelein argumentou negativamente: Há uma grande diferença entre estas palavras e uma declaração total do cumprimento da passagem. As palavras de Pedro chamam a atenção para o fato de que algo parecido com o que aconteceu no dia do Pentecostes fora predito por Joel, porém suas palavras não pretendem que a profecia de Joel fosse ali e então cumprida. Nem tampouco insinua um cumprimento contínuo ou um cumprimento futuro durante a época presente. (39) (38) (39)

Harold Bredesen, "Discovery at Hillside", Christian Life, XX (janeiro de 1959), pp. 16 e 17. Arno C. Gaebelein, The Annotated Bible (New York: Our Hope, 1916), V, p. 108.


Movimento Moderno de Línguas 123 Esta conclusão pode ser verificada no próprio conteúdo da mesma citação. Ainda que houvesse glossolalia no Pentecostes, não há nenhuma indicação de que "filhos e filhas, servos e servas" profetizassem na ocasião (At. 2:17,18). Não há evidência de que os mancebos tivessem visões nem que os anciãos sonhassem sonhos (2:17). Não houve "prodígios em cima no céu" nem "sinais embaixo na terra" (sangue, fogo, vapor de fumaça, o sol convertido em trevas e a lua em sangue; 2:19,20). Essa profecia realmente se refere ao futuro "dia do Senhor" (2:20) e aos últimos dias da história de Israel (2:17; cf. Joel 2:23,32). Símbolo do Evangelho Universal Philip Schaff, o grande historiador da igreja, disse que a glossolalia no dia do Pentecostes "era uma antecipação simbólica e um pronunciamento profético da universalidade da religião cristã, a qual devia ser proclamada em todos os idiomas do mundo e unir todas as nações em um só reino de Cristo". (40) Um escritor recente concordou em que a mensagem das "outras línguas" ou significado do Pentecostes era pregar o evangelho de Cristo em todas as nações. (41) Ainda que isto talvez tenha sido uma parte do propósito de Deus, por detrás do fenômeno das "línguas como que de fogo" e da glossolalia, não pode ser demonstrado pelas Escrituras que este seja o significado do Pentecostes. Ainda mais, esta explicação das línguas não pode explicar adequadamente as ocorrências subseqüentes da glossolalia (At. 10:44-48; 19:1-7). Meio de Evangelização Alguns têm considerado a glossolalia como um meio de se pregar o evangelho àqueles cujos idiomas não se conhecia. Laurin escreveu: "A (40) (41)

Schaff, op. cit., I, pp. 232 e 233. Harry R. Boer, "The Spirit: Tongues and Message", Christianity Today, VII (4-1-1963), p. 7.


Movimento Moderno de Línguas 124 primeira geração de cristãos precisava receber por milagre o que não podia adquirir através do desenvolvimento, a saber, a capacidade de testemunhar de Cristo em múltiplos idiomas, de maneira que se pudesse multiplicar em número e avançar do ponto de partida onde se encontrava e estabelecer-se plenamente no mundo hostil." (42) Ryrie confessou que esta foi "uma das razões do fenômeno de glossolalia em Atos". (43) Mesmo asseverando que a glossolalia é essencialmente a evidência física inicial do batismo do Espírito Santo, o "moderno movimento de línguas" não crê que o conteúdo das línguas tenha uma mensagem evangelística para os descrentes. (44) Todavia, pode-se declarar dogmaticamente que "as obras maravilhosas de Deus" (At. 2:11) continham uma mensagem evangelística. A glossolalia apostólica de fato começou antes de se reunirem os incrédulos. Quando os descrentes ouviram a glossolalia, aparentemente ela não apresentava o evangelho nem trazia convicção de pecado (cf. At. 2:14.39; especialmente 2:37). O "convite" não foi feito após o fenômeno de falar línguas, mas somente depois do sermão que Pedro pregou. Também quando Cornélio e os discípulos de João, o Batista, falaram línguas (At. 10:44-48; 19:1-7), não estavam presentes outros descrentes; portanto, o conteúdo das línguas podia não ter sido evangelístico. Os registros bíblicos testificam o fato de que, quando o evangelho foi pregado aos incrédulos, foi inteiramente à parte da glossolalia (cf. as viagens missionárias de Paulo; Atos 13-20).

Um Sinal a Israel W. H. Griffith Thomas pensava que a glossolalia era um sinal específico e somente para Israel. (45) Foi uma demonstração de poder para vindicar as pretensões de Jesus de ser o Messias. Não teve como propósito ser um exercício permanente depois da rejeição final por parte (42)

Laurin, op. cit., p. 48. Ryrie, op. cit., p. 113. (44) Frodsham, op. cit., pp. 38, 39, 229-52. Isto também se pode observar em muitos testemunhos contemporâneos. (45) W. H. Griffith Thomas, The Holy Spirit of God (Chicago: The Bible Institute Colportage Ass'n 1913), pp. 48 e 49. (43)


Movimento Moderno de Línguas 125 de Israel (At. 28:17-31). Ryrie acrescentou que o falar línguas era sinal de confirmação para o povo judaico da verdade da mensagem cristã. (46) Foi uma confirmação tanto aos que observaram como aos que receberam a dádiva. Esta posição tem algum mérito, porém tem de ser cuidadosamente expressa. Havia judeus presentes quando se falaram línguas (At. 2:5; 10:45; 19:6). No passado, línguas ou idiomas eram um sinal para Israel (I Cor. 14:21) e o dom de línguas, em parte, tinha esse significado em Corinto (I Cor. 14:21, 22). Entretanto, Lightner sobrepujou este propósito quando declarou que línguas eram "um sinal ao Israel descrente e incrédulo e uma autenticação do mensageiro e da mensagem". (47) Isso talvez fosse verdade no Pentecostes (At. 2) e em Corinto (I Cor. 14 :21-25), porém não era possível que o fosse na casa de Cornélio (At. 10) e em Éfeso (At. 19). Quando se deu o fenômeno, nesses dois últimos casos, somente judeus salvos estavam presentes. Nessa conexão, alguns têm contemplado a glossolalia como um sinal de juízo sobre os incrédulos, por causa de sua incredulidade, com referência primária aos judeus, mas também incluindo os gentios. (48) Isso se baseia no fundo histórico da ilustração de Paulo e sua aplicação à situação em Corinto (I Cor. 14:21, 22). A idéia é que, ainda que se falem línguas, os observadores hão de permanecer na sua incredulidade. Mesmo que seja verdade que alguns duvidaram e mofaram da experiência do Pentecostes (At. 2:12,13), todavia, três mil pessoas foram atraídas pelo fenômeno e foram salvas através do sermão de Pedro (At. 2:41; cf. 2:33). Também quando falaram línguas mais tarde (At. 10,19), somente os salvos estavam presentes.

Indubitavelmente, o falar línguas tinha alguma significação para a mente judaica, porém cada caso de glossolalia tem de ser estudado em particular, para determinar o grau de seu significado. Os propósitos variam com os registros.

(47)

Robert P. Lightner, Speaking in Tongues and Divine Healing (Des Plaines, III: Regular Baptist Press, 1965), p. 20. (48) Lenski, First Corinthians, op. cit., p. 600.


Movimento Moderno de Línguas Autenticação da Mensagem e do Mensageiro

126

Johnson escreveu: "O dom de línguas é o dom de falar um idioma conhecido com o propósito de confirmar a autenticidade da mensagem para a igreja apostólica." (49) Warfield cria que os dons espirituais eram os sinais do apostolado (cf. I Cor. 12:12).(50) Os apóstolos tanto possuíam os dons como a capacidade de os transmitir. Esses dons cessaram gradualmente ao morrerem os apóstolos e os seus demais recipientes. É verdade que Deus autenticou os apóstolos com sinais (Heb. 2:3,4; cf. At. 2:43; 4:16, 22, 30; 5:12; 14:3, 15, 12; Rom. 5:17-19). Num sentido, as línguas autenticaram a mensagem apostólica no Pentecostes (At. 2:32-36). Teriam vindicado a autoridade apostólica em Samaria se de fato houvessem ocorrido ali (At. 8:14-17). Teriam confirmado a explicação do evangelho que Paulo deu aos discípulos de João (At. 19:1-7). Um problema, no sentido de se fazer com que a vindicação seja o propósito exclusivo da glossolalia, acha-se na casa de Cornélio (Atos10) e na igreja em Corinto. Cornélio fora preparado antes para aceitar a autoridade e a mensagem de Pedro. A igreja em Corinto praticava a glossolalia, não estando presente nenhum apóstolo, e em reunião privada dos seus membros. Também se acham nessa posição alguns elementos da verdade, todavia, ela só pode ser usada a respeito de certos registros. Sumário No livro de Atos, há três casos claros de glossolalia (2:1-13; 10:4448; 19:1-7). Possivelmente, haja ainda um quarto (8:5-25), porém um quinto caso alegado tem de ser rejeitado (4:31).

(49)

S. Lewis Johnson, Jr., "The Gift of Tongues and the Book of Acts", Bibliotheca Sacra, CXX (Outubro-dezembro, 1963), p. 309. (50) Citado por Farrell, op. cit., pp. 4 e 5.


Movimento Moderno de Línguas 127 No dia do Pentecostes em Jerusalém, os apóstolos falaram línguas quando o Espírito Santo desceu do céu (2:1-13). O seu falar línguas conhecidas foi uma evidência objetiva de que o Espírito Santo de fato viera, em cumprimento da promessa de Cristo, e foi um sinal aos judeus de que Jesus era verdadeiramente o Messias e de que a mensagem apostólica era verdadeira. Outros fenômenos, tais como o som como que de vento e as línguas como que de fogo, confirmaram isso. O Espírito de Deus não veio como uma resposta à oração apostólica ou da imposição de mãos, porém no tempo soberanamente apontado pelo Pai. Assim, o evento foi único e nunca pode ser repetido. Em Samaria, os crentes samaritanos receberam o Espírito Santo através da oração apostólica e da imposição de mãos (8:5-25). Essa experiência ocorreu subseqüentemente à da sua salvação. Se eles de fato falaram línguas, isso autenticou a autoridade dos apóstolos judaicos e revelou aos judeus mestiços que dependiam deles e lhes eram submissos. Em Cesaréia, Cornélio e sua casa, todos gentios, receberam o Espírito Santo e falaram línguas no mesmo momento de crerem para a salvação. Estavam simplesmente ouvindo o sermão de Pedro, quando lhes sobreveio o Espírito. Não houve oração pessoal nem dos apóstolos e nenhuma imposição de mãos. Subseqüentemente, foram batizados em água. Esse fenômeno foi um sinal aos crentes judaicos, tanto aos presentes como aos ausentes, de que os gentios podiam ser salvos e de que eram iguais aos judeus diante de Deus. Em Éfeso, os discípulos de João, o Batista, santos velhotestamentários, creram na revelação adicional de Deus em Cristo conforme explicada por Paulo. Depois de eles serem batizados em água e depois de lhes terem sido impostas as mãos, receberam o Espírito Santo e falaram línguas. Esse fenômeno autenticou tanto o mensageiro, Paulo, como a mensagem a esses discípulos. Foi uma evidência objetiva de que o Espírito Santo de fato fora dado como Paulo lhes dissera. Visto que hoje em dia não mais estão vivos nenhuns santos do Velho Testamento, essa experiência não pode ser repetida.


Movimento Moderno de Línguas 128 Esses quatro registros serviram para introduzir o Espírito Santo a quatro classes diferentes de pessoas. Eram únicas. Nunca pretenderam tornar-se um padrão permanente para uma experiência a ser procurada pelos cristãos. Isso se demonstra pelos fatos de que nem dois desses quatro registros são completamente idênticos e de que o livro de Atos é basicamente transicional em seu caráter. Pontos de vista contemporâneos, quanto ao significado de línguas, foram apresentados. Vários desses são completamente errôneos. As línguas (ou a glossolalia) não se podem aceitar como evidência do Batismo do Espírito Santo, como pretende o moderno movimento de "línguas". Tanto seu conceito acerca dessa doutrina como suas experiências pessoais são estranhos ao registro bíblico. Sua interpretação errada e sua aplicação errada da profecia de Joel têm de ser rejeitadas. Os pontos de vista de que a glossolalia foi um meio de evangelização ou o símbolo do evangelho universal também devem ser renunciados, por causa da falta de sustento escriturístico. Que a glossolalia foi um sinal para Israel e uma autenticação da mensagem e autoridade apostólica pode ser aceito, porém somente em certas passagens onde as Escrituras permitam esses propósitos. O fenômeno, então, tinha significados múltiplos. Cada ocorrência deve explicar seu próprio significado.


Movimento Moderno de Línguas

129

LÍNGUAS NA 1.ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS A IGREJA EM CORINTO foi estabelecida por Paulo no decorrer de

sua segunda viagem missionária (At. 18:1-18). Durante os dezoito meses que ele passou ali, encontrou muita oposição por parte dos judeus, porém, a despeito de tudo, o trabalho cresceu, composto, na sua maior parte, de gentios. Depois de Paulo sair de Corinto, muitos problemas espirituais e morais ocorreram dentro da igreja. Paulo tomou conhecimento desses problemas por meio da casa de Cloé (I Cor. 1:11), de uma carta de inquirição que lhe foi enviada (7:1) e por meio de visitas pessoais de alguns dos crentes de Corinto (16:17). De Éfeso, no decorrer de sua terceira viagem, Paulo escreveu sua Primeira Epístola aos Coríntios para corrigir a situação. Quais foram os problemas da igreja? Havia divisões (1:11), carnalidade (3:3), conceitos errados quanto ao ministério do evangelho (3:5-4:21), fornicação grosseira (5:1), processos legais entre cristãos (6:1), abusos morais dos corpos de crentes (6:15), ignorância quanto às relações do casamento (7:1) e a propósito da virgindade (7:25), violações da liberdade cristã (8:1), insubordinação das mulheres (11:2), abusos da Ceia do Senhor (11:17), ignorância quanto à natureza de dons espirituais (12:1) e negação da ressurreição física dos corpos dos crentes (15:1). Stagg crê que a igreja em Corinto era caracterizada pela sabedoria deste mundo (1:20), não pela sabedoria de Deus. (1) Isto se manifestou na centralização do egoísmo, no amor próprio, na autoconfiança e na autoasserção. Um exame dos vários problemas discutidos por Paulo há de revelar que os coríntios eram, por índole, orgulhosos e insistiam em que se fizesse a sua vontade. Era essa a igreja que estava rica na possessão de dons espirituais (1:5-7), porém ignorante quanto a sua natureza e uso adequado (12:1), especialmente em relação ao dom de línguas. (1)

Frank Stagg, "The Motif of First Corinthians", Southwesters Journal of Theology, III (Outubro de 1960), p. 15.


Movimento Moderno de Línguas Schweizer resumiu bem essa situação:

130

Em Corinto havia um conceito acerca do Espírito de Deus que era predominante e confundiu o Espírito Santo com o entusiasmo. Para os coríntios, uma fala parecia tanto mais divina quanto mais milagrosa fosse. Assim, a glossolalia alcançou o mais alto grau de maturidade espiritual justamente porque se mostrou dependente de um poder misterioso que não se podia identificar com nenhuma faculdade natural do homem. (2)

Esse conceito carnal, sem dúvida, foi um resíduo dos dias de sua incredulidade, dias idólatras, quando a fala extática, feita por um sacerdote pagão ou sacerdotisa pagã sob o controle de um deus falso, era considerada o páramo da experiência religiosa. Na sua primeira carta, portanto, Paulo deu muita atenção à natureza verdadeira dos dons espirituais, com grande ênfase ao dom de línguas (I Cor. 12-14). Línguas e Dons Espirituais No cap. 12, Paulo tratou da natureza geral dos dons espirituais. Desta discussão, pode-se tirar informação valorosa acerca da verdadeira natureza do dom de línguas. Listas de Dons Ainda que dons espirituais sejam discutidos em outras cartas (Rom. 12:3-8; Ef. 4:7-11), a 1ª Epístola aos Coríntios é a única que menciona o dom de línguas. Uma comparação das várias listas de dons há de demonstrar que "esses dons não eram um catálogo fixo e imutável nem apenas umas tantas funções específicas na igreja". (3)

(2)

Edward Schweizer, "The Service of Worship", Interpretation, XIII (outubro de 1959), p 403.

(3)

James L. Boyer, "The Office of the Prophet in New Testament Times", Grace Journal, I, (Spring, 1960), p. 17.


Movimento Moderno de Línguas 131 1 Cor. 12:8-10 I Cor.12:28-30 Rom. 12:3-8 Ef. 4:7-11 1. Sabedoria 1. Apóstolos 1. Profecia 1. Apóstolos 2. Conhecimento 2. Profetas 2. Ministério 2. Profetas 3. Fé 3. Mestres 3. Mestres 3. Evangelistas 4. Pastores-Mestres 4. Curas 4. Milagres 4. Exortação 5. Milagres 5. Curas 5. Repartir 6. Profecia 6. Socorros 6. Presidir 7. Discernir espíritos 7. Governos 7. Misericórdia 8. Línguas 8. Línguas 9. Interpretação 9. Interpretação Dezesseis dons diferentes no todo têm sido identificados, com a admissão de que haja outros. (4) A primeira lista (I Cor. 12:8-10) enfatiza somente os dons; a segunda (I Cor. 12 :28-30) salienta tanto os homens possuidores dos dons como os ofícios e os dons; a terceira (Rom. 12:3-8) menciona os dons e o mister do dom; e a quarta (Ef. 4:7-11) aponta os homens possuidores dos dons ou ofícios. A ordem das listas, ainda que importante, não deve receber demasiada ênfase. Nas duas listas onde aparece o dom de línguas, este e a sua interpretação ocupam os últimos lugares. Isto revelaria o fato de que eles são considerados por Paulo como sendo os menores dos dons, mas, a despeito de tudo, ainda são dons e importantes para a função do corpo de Cristo. Numa lista (I Cor. 12:8-10), a profecia aparece logo depois de curas e milagres, porém em outras (I Cor. 12:28-30) aparece antes destas. Curas e milagres também são invertidos nessas duas listas. Definição de Dons Uma vez enumerados os dons espirituais, que vem a ser eles? Paulo os chamou de ton pneumatikon (12:1). Essa palavra, gramaticalmente, (4)

René Pache, The Person and Work of the Holy Spirit (Chicago: Moody Press, 1954), pp. 180-81. Também John F. Walvoord, The Holy Spirit (Wheaton III.: Van Kampen Press, 1954), p. 168.


Movimento Moderno de Línguas 132 pode ser ou neutra ("as coisas espirituais") ou masculina ("os homens espirituais"). Se é neutra, faria referência aos dons e ao seu exercício (cf. I Cor. 14:1). Se é masculina, faria referência aos homens possuidores dos dons e a sua experimentação (cf. I Cor. 14:37). Para todos os fins práticos, é difícil distinguir entre o dom e a pessoa que o possua. Também Paulo chamou os dons de charismaton ("dons de graça"); 12:4; cf. Rom, 12:6). Esse termo indica que os dons têm sua fonte ou origem na graça de Deus, conquanto o termo anterior, pneumatikos, revele que os dons são basicamente espirituais, não naturais, em essência, e que são dados através do Espírito de Deus e controlados por ele (cf, 12 :4,7,11). Um dom espiritual, portanto, é a capacidade dada ao cristão, procedente da graça de Deus, através do Espírito Santo, e controlada pelo Espírito no serviço e crescimento cristãos. Quais são as definições desses nove dons (I Cor. 12:8-10)? (5) Horton, um pentecostal, definiu a "palavra de sabedoria" assim: "A Palavra de Sabedoria é, portanto, a revelação sobrenatural, por parte do Espírito, de Propósito Divino; a declaração sobrenatural da Mente e da Vontade de Deus; o desenvolvimento sobrenatural dos Seus Planos e Propósitos concernentes a coisas, lugares, povos, indivíduos, comunidades e nações." (6) A "palavra de conhecimento", em contraste com a "palavra de sabedoria", talvez se refira ao conhecimento transmitido da vontade de Deus para o presente, enquanto a última talvez se refira ao futuro. O dom de fé era a capacidade de crer o que Deus tem revelado e de agir de acordo com isso. O dom de curar referia-se à capacidade de curar os doentes (cegueira, lepra etc.). O dom de milagres era a capacidade de operar milagres na natureza, em contraste com as curas físicas. Essas curas e os milagres autenticaram a pessoa com o dom profético. O profeta recebeu a revelação direta de Deus (envolvendo isto tanto a (5)

Definições e discussões excelentes de todos os dons espirituais podem ser encontrados em Walvoord, op. cit., pp. 168-188. (6) Horton, "The Gifts of the Spirit", op. cit., p. 63.


Movimento Moderno de Línguas 133 sabedoria como o conhecimento) e proclamou-a'ao povo, apoiado por toda a autoridade de Deus. O dom de discernir os espíritos era a capacidade de "discernir entre as fontes verdadeiras e as falsas da revelação sobrenatural, dada em forma oral". (7) Todos esses dons são relacionados com a revelação sobrenatural, na recepção mental dela, ou na avaliação crítica. Que foi o dom de línguas (12:10, 28,30)? Um dos advogados do "moderno movimento de línguas" escreveu: "O dom de línguas é obviamente um meio sobrenatural da comunicação de Deus com Seu povo." (8) Esta definição, portanto, coincidiria com os demais dons como estando relacionados com a revelação divina. A fala de línguas é Deus falando ao homem, e a interpretação a traduz para o conhecimento comum da igreja. Todavia, alguns advogados do movimento discordam dos seus companheiros quanto a essa definição. Oral Roberts disse: "O dom de línguas tem falado a Deus em prol de outros crentes, procurando descobrir as fraquezas interiores e as necessidades, juntando-as à vontade de Deus e à mente do Espírito por elas. O dom de interpretação dá a resposta de Deus à intercessão do Espírito." (9) As línguas, portanto, são o homem falando a Deus, não o contrário. Entretanto, o elemento da revelação sobrenatural não está faltando inteiramente. A uma pessoa revelam-se, por Deus, os segredos interiores da congregação, e estes são falados a Deus em "línguas". A interpretação não é uma tradução da fala, mas é a resposta de Deus à oração; essa é a revelação direta (Deus revelando a verdade diretamente a homens). Uma pergunta importante acerca dessas definições propostas pelo "moderno movimento de línguas" tem de ser respondida. Está Deus se revelando ou a verdade divina diretamente aos homens hoje em dia? Ou (7) (8) (9)

Walvoord, op. cit., p. 188. What Next? (Van Nuys, Calif.: Blessed Trinity Society), tract. Oral Roberts, The Baptism with the Holy Spirit and the Value of Speaking in Tongues Today (Tulsa, Okla.: By the author, 1964), p. 78.


Movimento Moderno de Línguas 134 Deus se revela e a sua verdade através da sua Palavra escrita quando o crente é iluminado pelo Espírito Santo? Estas perguntas terão resposta na próxima seção principal. Outros advogados do movimento de "línguas" caracterizaram o dom desta maneira: É um pronunciamento sobrenatural, por parte do Espírito Santo, em idiomas nunca aprendidos por aqueles que falam e não compreendidos pela mente do ouvinte. Não tem absolutamente nada a ver com capacidade lingüística, nem com a mente ou o intelecto do homem. É uma manifestação da mente do Espírito de Deus, empregando os órgãos de fala humanos. Quando o homem estiver falando línguas, sua mente, seu intelecto e sua compreensão permanecem quiescentes. (10)

Todavia, Jesus dissera que o homem deve amar a Deus "de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento" (Lucas 10:27). Isto envolve o homem todo – suas faculdades emocionais, espirituais, físicas e mentais. Será que Jesus contradiria a si próprio levando uma pessoa a ter uma experiência espiritual com a mente "quiescente"? De maneira alguma, e Paulo reconheceu esse fato na sua repreensão da manifestação corintiana (cf. I Cor. 14:14-16). Outros têm definido o dom de línguas como a capacidade de pregar o evangelho em idiomas nunca aprendidos. (11) De fato, a falta de informação impede a formação de uma definição dogmática. Leon Morris sabiamente escreveu: ". . . não podemos ter a certeza sobre a forma exata que o dom de línguas tomou nos dias do Novo Testamento." (12) Todavia, aqui se tem uma definição experimental, baseada na informação disponível. O dom de línguas era a capacidade, doada por Deus, de falar em idiomas estranhos (não conhecidos àquele que falasse) no culto público da igreja local. O conteúdo da fala consistia em (10)

Citado por Brumback. What Meaneth This?, op. cit., p. 129. H. A. Ironside, Addresses on the First Epistle to the Corinthians (New York: Loizeaux Brothers, 1955), p. 385. (12) Leon Morris, "Gifts of the Spirit's Free Bounty", The Sunday School Times, CVI (12-12-1964), p. 6. (11)


Movimento Moderno de Línguas 135 magnificar a Deus, o que envolvia a revelação do caráter de Deus e de suas obras. A interpretação envolvia a tradução e fez com que o povo fosse edificado e glorificasse e louvasse a Deus. O dom que acompanhava o dom de línguas é o dom de interpretação (hermeneia glosson; 12:10). Este tem sido definido de várias maneiras. Roberts disse que o intérprete dava a resposta à oração pronunciada num idioma desconhecido, mesmo na possibilidade de uma tradução simples: "Às vezes o intérprete explica o que se diz a Deus em línguas, para que o grupo entre na intercessão do Espírito em seu favor."(13) Gee cria que a interpretação geralmente devia se assemelhar à fala de línguas e que "facilmente poderia ser testada por qualquer pessoa que tivesse adquirido um conhecimento acerca do 'idioma' falado." (14) Horton disse que o intérprete deve declarar o significado ou dar uma tradução literal da fala. (15) O moderno movimento de "línguas" considera, a revelação, a interpretação e a tradução, todas como propósitos corretos do dom de interpretação. Somente a terceira possibilidade poderá ser comprovada por meio de um estudo da palavra mesma. (16) O dom de interpretação, portanto, é a capacidade divinamente dada de traduzir para o idioma da congregação o conteúdo da fala em línguas. Isto não se faz pelo moderno movimento de "línguas", porque a grande maioria de sua fala em línguas é constituída de sons desconhecidos, que não podem ser traduzidos. Também, tentativas de traduzir uma língua conhecida ou tenha falhado ou não tiveram confirmação objetiva. (17)

(13)

Roberts, op. cit., p. 92. Gee, op. cit., p. 96. (15) Horton, "The Gifts of the Spirit", op. cit., pp. 164-65. (16) Ver capítulo IV. (17) "Walvoord conta de um jovem seminarista que decorou um dos Salmos em hebraico. Numa reunião de 'línguas', ele ficou de pé e fingiu estar falando em línguas, quando apenas recitava o Salmo em hebraico. Depois de ele terminar, o 'intérprete' falhou redondamente em traduzir o que fora falado." Citado por Ruble, op. cit., p. 154. (14)


Movimento Moderno de Línguas Origem dos Dons

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Não resta dúvida quanto à origem dos dons espirituais: é o Deus triúno (Espírito, Senhor, Deus; I Cor. 12:4-6). Um dom é a "manifestação do Espírito" (12:7). Especificamente, Paulo escreveu: Porque a um, pelo Espírito, é dada a Palavra de sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar (I Cor. 12:8, 9).

Em resumo, ele disse: "Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer" (12:11) Esses dons, portanto, são dádivas soberanas ("como ele quer") de capacidade espiritual a crentes. Eles não podem ser conquistados através de iniciativa humana, seja por origem, seja por desenvolvimento. Não dependem de oração humana ou de fidelidade. São dados como Ele deseja dar, não como o homem deseja receber. Ainda que o Espírito Santo seja enfatizado como o meio pessoal ou a origem dos dons, isso não exclui necessariamente o Pai e o Filho (I Cor. 12:4-6; cf. 12:18, Ef. 4:11). É Deus o Pai quem "colocou os membros no corpo, cada um deles como quis" (I Cor. 12 :18). É Ele quem "assim formou o corpo" (I Cor. 12 :24), e quem "repartiu a cada um" a medida da fé (Rom. 12:3). É o Cristo ascenso quem "deu dons aos homens" (Ef. 4:8) e quem deu à Igreja líderes dedicados (Ef. 4:11). A concessão de dons espirituais é muito parecida com muitas das obras de Deus em que as Pessoas da Deidade colaboraram. Se alguma distinção pode ser feita, talvez seja que o Espírito Santo dá aos crentes as capacidades e que Deus o Pai, através do Filho, dá os homens dotados de dons à igreja. Visto que Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente, o moderno movimento de "línguas" pretende que esses dons são possíveis hoje e de fato estão sendo dados. Dizem eles que a opinião de que o dom de línguas cessou na era apostólica se opõe à soberana vontade de Deus, que pode fazer hoje em dia o que fazia então ("como ele quer" e "como


Movimento Moderno de Línguas 137 ele quis"; 12:11-18). Lightner deu uma resposta clara e ousada a essa asserção: Será que isso significa que o Espírito de Deus não pode fazer hoje em dia o que Ele fez nos dias da igreja primitiva? De maneira nenhuma, isso não limita o Espírito de Deus; na verdade, exalta a Sua soberania, pois significa que Ele não quer fazer hoje em dia o que Ele fez na igreja primitiva.(18) (o grifo é meu).

Dizer-se que Deus tem de fazer hoje em dia o que Ele fez ontem ou na era apostólica é impor uma limitação a Deus. Isto é contrário ao caráter de Deus, bem como aos eventos da história bíblica e pós-bíblica. Ainda que Deus não mude na sua Pessoa ou natureza (Mal. 3:10), Seu proceder para com os homens muda. Seu testemunho ao mundo deixou de estar centralizado em Israel, para ter o seu centro na Igreja. Ele tratará do pecado no futuro como nunca tratou no passado (cf. Apoc. 6-20). Deus é imutável, porém não imóvel. A questão não é se Deus pode dar o dom de línguas hodiernamente, pois Ele ainda tem o poder. A questão é que Deus tem por propósito continuar os mesmos fenômenos que a igreja apostólica experimentou. A pretensão de que Deus tem de fazer hoje o que Ele fez no passado em resposta às orações de cristãos é incorrer em petição de princípio. O crente assim se colocaria na posição de estar dizendo a Deus o que Ele deve fazer. Os Recipientes dos Dons Aqui está a descrição que Paulo faz dos recipientes: A cada um, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum; porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra de sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; a outro pelo mesmo Espírito, a fé; a outro pelo mesmo Espírito, os dons de curar; a outro a operação de milagres; a outro, a profecia; a outro o dom de discernir Espíritos; a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação de línguas. Mas um só e o (18)

Lightner, op. cit., p. 14.


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mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer (I Cor. 12:7-11).

A ênfase coloca-se sobre o indivíduo, e sobre cada indivíduo. Isto se vê também em Rom, 12:3 (". . . conforme a medida de fé que Deus repartiu a cada um") e em Ef. 4:7 ("Mas a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo"). A quem se refere "cada"? Horton disse: "Não a cada homem que nasce. Não a cada homem que nasce de novo, pois duas vezes temos de limitar o círculo; porém a cada homem que recebe a plenitude do Espírito, como esses coríntios." (19) A declaração de Horton é verdadeira em parte. Homens não salvos não são recipientes desses dons espirituais; porém cada pessoa salva é. Não se pode limitá-lo a uma certa classe de homens salvos – aqueles que têm recebido a plenitude têm sido batizados no Espírito Santo, sendo isto evidenciado pela glossolalia. Paulo simplesmente não diz tal coisa. Ele considera "todo homem" como membro do corpo de Cristo (I Cor. 12:12, 14, 27; Rom. 12:4, 5). Naquele mesmíssimo momento em que Deus colocou os membros no corpo" (I Cor. 12:18), Ele deu àquela pessoa um dom, para capacitá-la a funcionar no corpo. No momento da salvação, através do batismo no Espírito Santo, cada crente se coloca no corpo de Cristo. Não depende de sua espiritualidade ou de seu "enchimento" subseqüente. Os crentes de Corinto eram membros do corpo (I Cor. 12:27) , e eram orgulhosos, carnais, ignorantes e pecaminosos. Cada crente possui cada um dos aspectos da unidade do Espírito: um corpo (o Corpo de Cristo ou a igreja verdadeira), um Espírito (o ministério que habita), "uma esperança da vossa vocação", "um só Senhor, uma só fé, um só batismo (batismo no Espírito Santo), um só Deus e Pai de todos" (Ef. 4:3-6). Não há crente que tenha apenas uns poucos desses dons. Se ele creu no Senhor Jesus, também foi batizado no Espírito no corpo de Cristo. (19)

Horton, "The Gifts of the Spirit", op. cit., p. 29.


Movimento Moderno de Línguas 139 Quantos dons possui o crente? Um advogado de "línguas" escreveu: "Não te alarmes, se não vires imediatamente todos os dons operando na tua vida. Deus há de desenvolver em ti todas essas capacidades logo que estiveres pronto e logo que surgir a necessidade deles. (20) Será que Paulo queria dizer que cada crente deveria ter cada um dos dons? Esta conclusão não se pode tirar do seu uso de "cada" e "outro" (ekasto, ho, allo, hetero; 12:7-11). Sua ilustração do corpo e de membros argumenta contra tal interpretação. Cada membro realiza sua própria função e não se deve esperar que faça a de outro. Uma mão não pode fazer o trabalho dum pé. Numa série de perguntas que exigem uma resposta negativa, (21) Paulo revelou que os crentes não possuem, nem podem possuir, os mesmos dons (I Cor. 12:29, 30): Porventura, são todos apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? Ou, operadores de milagres? Têm todos dons de curar? Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos?

Não se deve esperar que cada crente fale línguas mais do que os apóstolos. O corpo de Cristo deve estar em perfeito equilíbrio, todavia, o moderno movimento de "línguas" admite uma abundância de dons menores (línguas, interpretação, profecia e curas) e apresenta uma falta dos maiores dom. (22) Visto que Deus regula o corpo todo (I Cor. 12:24) e lhe dá perfeita simetria, por que tem esse grupo uma proporção infinita de dons? Se Deus realmente fosse a origem dessas manifestações hoje em dia, não haveria um balanço entre eles e uma maior presença dos melhores dons? Será que todos falam línguas? Naturalmente que não. Muitos têm empregado esta pergunta para refutar a posição Pentecostal de que a glossolalia é a evidência do batismo no Espírito Santo. Paulo declarou que todos foram batizados em um Espírito, formando um só corpo (I (20)

What Next?, loc. cit. H. E. Dana e Julius R. Mantey, A Manual Grammar of the Greek New Testament (New York: The Macmillan Company, 1953), p. 265. (22) Dalton, op. cit., pp. 82, 118. Também Albert L. Hoy, "Flame in the Sanctuary", The Pentecostal Herald (26-4-1964), p. 14. (21)


Movimento Moderno de Línguas 140 Cor. 12:13), mas que nem todos falam "línguas" (I Cor. 12:30). O pentecostal há de replicar que todo aquele que tenha sido batizado no Espírito Santo há de falar línguas. Ele diz mais que, no v. 30, Paulo se refere ao dom de línguas, que é exercido na igreja local. Nem todos têm esse dom. O pentecostal faz distinção definida entre o sinal evidente de glossolalia e o dom de línguas. Todavia, o conceito que ele faz da doutrina do batismo no Espírito Santo foi provado ser falso (ver Cap. VI, clique aqui). O que resta é seu conceito quanto aos dons, e Paulo disse que nem todos falam línguas, Entretanto, os pentecostais dizem que esse dom é possível para todos e, portanto, deve ser buscado. Isto é contrário à clara declaração de Paulo. "E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?" (I Cor. 12:19). O Propósito e a Permanência dos Dons A explicação mais simples é que os dons foram dados para que os membros do corpo de Cristo, a igreja verdadeira, pudessem funcionar própria e harmoniosamente (I Cor. 12:12-27; Rom. 12:3-8). Ademais, alguns líderes dotados tinham a responsabilidade de preparar devidamente outros santos para a obra do ministério (Ef. 4:11, 12). De fato, a igreja fora "edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas", isto é, sobre certos líderes dotados (Ef. 2:20). Mais, especificamente, Laurin escreveu: "o propósito dos dons do Espírito Santo foi o de encher o vácuo que haveria de ocorrer entre o estabelecimento da igreja e a maturidade final da igreja. . . " (23) Visto que o Novo Testamento ainda não havia sido escrito e que havia poucos apóstolos e profetas disponíveis, Deus se revelou a si mesmo e revelou a Sua verdade através desses dons. Uma vez completado e publicado o Novo Testamento, a necessidade e o propósito desses dons foram removidos. (23)

Laurin, op. cit., p, 148. Também Boyer, op. cit., p. 18. Boyer acrescenta a idéia da confirmação da palavra pregada antes de ser completado o Cânon.


Movimento Moderno de Línguas 141 Assim, alguns dons espirituais têm de ser considerados como temporários, limitados à era apostólica, enquanto outros deveriam ser uma parte permanente da vida da igreja. Hodges esclarece bem esse fato: Conseqüentemente, já que a teologia protestante de um modo geral tem reconhecido claramente a cessação do dom apostólico no primeiro século, ao mesmo tempo que ela corretamente nega qualquer forma de sucessão apostólica, toda a tal teologia protestante torna-se basicamente cometida ao princípio de dom temporário. Pois claramente o próprio apostolado foi temporário, e, se for estabelecido o princípio, é perfeitamente lícito perguntar se não houve outros dons do primeiro século que também eram temporários. (24) O princípio do dom temporário tem que ser reconhecido, o dom do apostolado cessou com a morte do último apóstolo. Isto não prova que o dom de línguas tenha sido temporário, porém apresenta a hipótese de que o dom de línguas cessasse quando morreu o último glossolalista. Esta possibilidade também tem que ser reconhecida. Como podem ser classificados os dons como permanentes ou temporários? Depois de ser definido o dom, deve ser verificado se seu divino propósito ainda se faz mister. Se é necessário, então o dom tem de ser permanente e deve apresentar-se através da história da igreja, porque a verdadeira igreja não poderia ter funcionado sem ele. Se o propósito não mais for necessário, então o dom será temporário e não se apresentará mais através da história da igreja. Se o dom de línguas envolvia a revelação da verdade de Deus para o homem ou acerca do homem, então seu propósito não é mais necessário porque Deus já completou a sua revelação (Apoc. 22:18, 19). A necessidade de hoje é compreender o que Ele já revelou, não de ter uma nova revelação. O silêncio da história eclesiástica há de confirmar o fato de que o dom de línguas nunca teve o propósito de se tornar parte permanente da vida da igreja. De outra feita, como poderia a igreja de Jesus Cristo ter funcionado durante aqueles séculos de silêncio?(25)

(24) (25)

Zane C. Hodges, "The Purpose of Tongues", Bibliotheca Sacra, CXX (julho-setembro, 1963), p. 227. Maior discussão da natureza temporária de línguas poderá ser achada em I Cor. 13:8 ("A Permanência do amor").


Movimento Moderno de Línguas A Importância Relativa dos Dons

142

Paulo disse aos crentes corintianos que procurassem "os melhores dons" (kreittona; 12:31) ou "os maiores dons" (meidzona; que se encontra nos melhores manuscritos). Quais são os maiores ou melhores dons? Oral Roberts escreveu: "Não será este o dom necessário neste tempo? .. . Se se processasse a edificação, não seria o melhor dom o de línguas e o de interpretação?" (26) Talvez a "necessidade" seja a norma de grandeza, mas pode-se duvidar que o dom de línguas seja necessário hoje em dia ou que seja o melhor dom para a edificação (cf. I Cor. 14:3). A ênfase de Paulo está sobre a edificação dos crentes irmãos (I Cor. 12:7; 14:3, 4, 5, 6, 12, 19, 26, 31). Aqueles dons que trazem a maior edificação aos irmãos crentes têm que ser considerados como os melhores dons. Em Corinto, proclamar (profecia) e ensinar eram mais necessários para a edificação dos crentes carnais e ignorantes. As línguas, por si sós, eram consideradas como um dom menor do que o dom de profecia. Tinha valor somente quando acompanhado por uma interpretação (I Cor. 14:5). Portanto, se precisava de dois dons para completar um. Nesse contexto de importância, Paulo escreveu: "E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas" (I Cor. 12 :28). Aqui, o dom de línguas é colocado por último e considerado como o menor dos dons, ainda que tenha que ser reconhecido como um dom e como uma parte essencial do corpo de Cristo naquele tempo. O mesmo fato de que os coríntios buscavam o dom de línguas revela que seu desejo era motivado pelas suas naturezas carnais, não pelo Espírito de Deus. Semelhantemente, a ênfase corrente sobre o dom de línguas a custa dos melhores dons revela que o Espírito Santo não criou esse desejo. O Espírito Santo não enfatizaria aquilo a que Paulo não deu (26)

Roberts, op. cit., p. 55.


Movimento Moderno de Línguas 143 ênfase. Será que Ele daria ao moderno movimento de "línguas" uma abundância dos menores dons a custa das melhores dádivas? Línguas e Amor O capítulo 13 não deve ser considerado como um discurso parentético sobre amor. Antes, ele forma uma parte do tratado de Paulo sobre os dons espirituais e contribui muito para a questão de "línguas". A Necessidade de Amor entre os Dons Por que Paulo introduziu o assunto do amor? Qual a sua conexão com o problema de dons espirituais? Qual é o "caminho sobremodo excelente" (12:31)? Lightner escreveu: Paulo não está tentando mostrar aos coríntios como se devem exercer os dons espirituais, mas está lhes mostrando, neste capítulo, o contraste entre uma vida "que busca os dons" e uma vida que "gera o amor". Ele lhes está indicando uma divisão da estrada – há o caminho dos dons e há o caminho do amor... (27)

Lightner cria que os coríntios tinham que escolher. Ou poderiam buscar os dons, ou prosseguir no amor. O moderno movimento de "línguas" opõe-se a esse ponto de vista. Brumback declarou: "Não há contraste entre os dons e o amor, a não ser quanto à permanência... o contraste está entre os dons com amor e a operação dos dons sem amor ."(28) A maneira inadequada é exercer os dons espirituais sem amor; o caminho mais excelente é exercer os dons na atitude própria de amor a Deus e ao irmão crente. Serão irreconciliáveis esses dois pontos de vista, ou podem eles ser harmonizados? De fato, Paulo deu uma dupla ordem: buscar o amor e desejar os dons espirituais (14:1). Ele disse: "Ainda que (27)

Lightner, op. cit., p. 55. Também Leon Morris, The First Epistle of Paul to the Corinthians (Grand Rapids: Wm. B. Eerdman's Publishing Co., 19581, p. 180. (28) Brumback, What Meaneth This?, op. cit., p. 158. Também Roberts, op. cit., p. 69.


Movimento Moderno de Línguas 144 eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse o amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine" (13:1). Se a glossolalia não se faz com amor, é inútil, de nenhum proveito (12:7), e não produz edificação (14:26). Todavia, será que o Espírito de Deus faria com que uma pessoa falasse línguas sem também produzir amor naquela pessoa? Não! Deus não precisaria dar uma fala sobrenatural mediante uma pessoa que não tivesse amor. Se assim o fizesse, estaria esforçando-se em vão e enganando o povo, porque a fala não seria aproveitável. Portanto, qualquer glossolalia sem amor tem de ser repudiada como falsa. Nesta base, John R. Rice insistiu que os coríntios não possuíram de maneira alguma o dom de línguas. (29) Por outro lado, este não pode ser um simples contraste entre dons com amor e dons sem amor. Isto não explicaria como o amor por si só poderia continuar depois de cessarem os dons. Mesmo os que advogam as línguas insistiriam em que os crentes que têm o Espírito habitando neles desenvolvem o fruto do Espírito (inclusive o amor; Gál. 5:22,23) até antes de receberem o batismo no Espírito Santo. Este capítulo dá uma descrição do tipo de amor que deveria estar presente na vida do crente em todo o mundo, não apenas quando ele está exercendo um dom espiritual. Portanto, as duas posições podem ser parcialmente harmonizadas. A Natureza do Amor nos Dons A natureza do amor divinamente dado é exposta nos versículos 4 a 6 . É uma expressão perfeita do fruto inteiro do Espírito (Gál. 5:22,23). Quando uma pessoa é controlada pelo Espírito, que está habitando no seu coração, este amor será produzido na vida do crente e será manifestado em tudo quanto o crente fizer. Cada uma das expressões (29)

John R. Rice, "Should Talk in Tongues to Edify Self?" The Sword of the Lord (19-9-1952).


Movimento Moderno de Línguas 145 descritivas pode ser aplicada ao exercício dos dons espirituais. Se uma pessoa não manifestar cada uma das características, é um sinal seguro de que está tentando reproduzir o dom espiritual pela sua própria energia. "O amor é sofredor." Aquele que fala línguas deve esperar a sua vez de falar e não romper a falar em qualquer tempo (cf. 14:27,28). "O amor não é invejoso." Os crentes devem desejar que os melhores dom espirituais sejam exercidos entre eles (12:31; 14:1), porém a pessoa não deve invejar um dom que Deus não se agradou a dar-lhe (12:7, 11, 18). O pé não deve ter a ambição de ser a língua. "O amor não se vangloria, não se ensoberbece." Alguém que fale línguas não deve orgulhar-se nem pensar que seja algo especial. "O amor não se conduz inconvenientemente." A glossolalia deve ser praticada "decentemente e com ordem" (14:40; cf. 14:23). O sacudir do corpo e as convulsões físicas são inconvenientes. "O amor não busca os seus próprios interesses." O moderno movimento de "línguas" crê que a glossolalia pode ser praticada em particular, para auto-edificação. Todavia, será que os dons foram dados somente para que os possuidores colhessem os benefícios? Isso não seria egoísmo? Antes, não foram eles dados para a edificação e proveito do corpo inteiro de Cristo? A auto-edificação pode ser um produto acessório do dom, porém, nunca deve ser o alvo (14:4, 12). Portanto, a genuína glossolalia hodierna deve manifestar todas essas qualidades. Todavia, hoje em dia não se observam essas qualidades. Isto é mais uma evidência de que a glossolalia hoje é simulada, e não divinamente motivada. Permanência do Amor e dos Dons Temporais Nos últimos seis versículos do capítulo, Paulo contrastou a permanência do amor com a natureza temporal dos dons espirituais: O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque, em parte,


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conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado. ... Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor. (13:8-10, 13).

É declarado claramente que as línguas cessarão, mas o problema é: Quando? Vários pontos de vista são expostos. Visto que o contexto imediato trata do amor, alguns pensam que os dons espirituais cessarão quando o amor estiver plenamente desenvolvido na vida da pessoa. "Completação ('aquilo que é perfeito', to teleion) aqui é Ágape (amor), e o Apóstolo está falando acerca de algo que já se está realizando no tempo." (30) A palavra teleion de fato se refere ao fim de um processo ou dum desenvolvimento. Neste livro, Paulo usou a palavra acerca de crentes amadurecidos (2:6) e ele encorajou os coríntios carnais, imaturos, a se tornarem homens (maduros ou perfeitos, teleioi, 12:20). Sua alusão pessoal ao desenvolvimento físico e mental (13:11) ilustraria o desenvolvimento cristão desde a infância até a maturidade. As "coisas de menino" seriam os dons espirituais que deveriam ser suplantados pela compreensão amadurecida (13:11; cf. 14:20). Laurin disse que o versículo 12 "talvez se refira ao céu quando estará presente a face de Deus e a minha face. Nós cremos que será agora, quando o amor há de refletir a imagem perfeita e revelar o conhecimento perfeito."(31) Ainda que esta posição tenha algum mérito, seria difícil provar que nenhum crente maduro na era apostólica possuía um dom espiritual. (32) A posição do moderno movimento de "línguas" é que os dons espirituais, inclusive o de línguas, cessarão na segunda vinda de Jesus Cristo; portanto, devem ser experimentados e o estão sendo hoje em dia. (33) Argumentam eles que a frase "o que é perfeito" faz referência à época ou (30)

Nils Johansson, "I Cor. XIII and I Cor. XIV", New Testament Studies, X (abril, 1964), p. 389. Roy L. Laurin, I Corinthians: Where Life Matures (Findlay, Ohio: Dunham Publishing Company 1957), p. 246. (32) B. F. Cate, The Nine Gifts of the Spirit Are Not in the Church Today (Chicago: Regular Baptist Press, 1957), p. 8. (33) ) Brumback, What Meaneth This?, op. cit., pp. 59-87. (31)


Movimento Moderno de Línguas 147 idade perfeita que será introduzida pela segunda vinda. Todavia, a palavra teleion nunca se emprega no Novo Testamento para descrever nem a segunda vinda, nem o milênio, nem o estado eterno. Também, visto que teleion é colocado em contraste com "o que é em parte" (ek merous), tem de se referir à culminação do processo. A segunda vinda não é um processo; é um evento instantâneo. Um segundo argumento baseia-se em I Cor. 1:7 : "De maneira que nenhum dom vos falta, enquanto aguardais a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo." Declaram eles que estes dons durarão tanto quanto estiverem os crentes esperando a Cristo. Todavia, Paulo não disse explicitamente que os dons durariam até o segundo advento de Cristo. Simplesmente declarou a condição momentânea dos crentes em Corinto. Eles possuíam todos os dons e estavam esperando o Senhor. Um terceiro argumento é que à igreja foram dadas línguas e visto que eles são a igreja, podem ter o dom de línguas ainda hoje. Todavia, este argumento se baseia em lógica falha e é contrário ao ensino das Escrituras. Foram dados também à igreja, porém não a apóstolos atualmente. A continuação do sinal de línguas como parte integrante da Grande Comissão (Mar. 16:15-20) é seu quarto argumento. Todavia, o "moderno movimento de línguas" nem chega a cumprir o ensino dessa passagem; ademais, o fraco sustento textual deve proibir o uso dessa passagem como texto de prova (ver Capítulo 4, clique aqui). Um quinto argumento deles é que o propósito dos dons ou sinais era para a confirmação, não a substituição, da Palavra diante do mundo pagão. Visto que hoje em dia prevalecem as mesmas condições nos campos missionários, esses dons-sinais são precisos ali. De fato, este argumento milita contra a presença dos dons-sinais na América do Norte porque as mesmas condições não prevalecem ali. Também este argumento pressupõe o reaparecimento de eventos que eram únicos e transicionais em Atos (mentirosos foram punidos com a morte, incrédulos ficaram cegos, terremotos abriram portas de prisões etc.).


Movimento Moderno de Línguas 148 Sexto, eles dizem que a incredulidade causou o retrocesso de milagres e de dons. Todavia, esses dons não eram dados em resposta à fé, mas soberanamente, como Deus quis (I Cor. 12:11). Grandes avivamentos na história da igreja (v,g. a Reforma) têm testemunhado a manifestação de grande fé, porém não de dons e milagres. Seu argumento mais forte baseia-se na ilustração de Paulo de um encontro face a face (I Cor. 13:12), os dons hão de cessar quando os crentes virem Cristo. Este versículo será discutido mais a miúdo posteriormente, porém no presente, basta apontar que somente o conhecimento de si próprio é mencionado aqui, não o dom de línguas. Gee concluiu: "Não há nada nas Escrituras, no raciocínio, nem na experiência que nos faça crer que os dons não são para hoje – cada um deles. (34) Sua conclusão baseou-se na sua interpretação de certas passagens (Mar. 16:20; cf. Mat. 28:20; Rom. 11:29; Heb. 13:8). A passagem em Marcos já discutimos. É verdade que os "dons e vocação de Deus são irretratáveis" (Rom. 11:29), porém esta passagem se refere à vocação que Deus estava simplesmente assegurando aos cristãos de Roma que Deus cumpriria todas as suas promessas a Israel (cf. Rom. 11:26). A passagem não se refere à permanência de dons espirituais; isto Gee levantou do seu contexto. O caráter e a natureza de Jesus Cristo são os mesmos ontem, hoje e eternamente (Heb. 13:8), porém isto não quer dizer que seu programa não mude. Uma vez Ele disse aos seus discípulos que não pregassem aos gentios (Mat. 10:5, 6); mais tarde, mandou que pregassem aos gentios (Mat. 28:18-20). Jesus não mudou; foi seu programa que mudou. Esta passagem não pode ser usada para sustentar a posição de que a glossolalia é válida ainda hoje somente porque o era nos dias apostólicos. Para responder a Gee, pode-se dizer que não há nada nas Escrituras, nem no raciocínio, nem na experiência que prove que a glossolalia é para hoje.

(34)

Gee, op. cit., p. 9.


Movimento Moderno de Línguas 149 Deve ser dito, todavia, que várias pessoas que não advogam a glossolalia crêem que os dons são permanentes e possíveis hoje. (35) Lindsell e Woodbridge, anteriormente professores no Fuller Seminary, escreveram: A glossolalia, a operação de "sinais", e as curas milagrosas dos crentes – estas coisas são possíveis hoje, porém não são nem necessárias nem normais na vida da igreja, São antes a exceção do que a regra, e devem ser assim consideradas. Os cristãos não devem exaltar aqueles que tenham esses dons. E nem devem eles se tomar objetos de adulação pública. (36)

Depois de negar a existência de dom de línguas genuíno hodiernamente, Miles admitiu: "Deus pode fazer com que alguém fale línguas também numa emergência, para comunicar com uma pessoa de outro idioma. Nosso Deus tudo pode." (37) Muitos não-glossolalistas hesitam dizer que línguas não podem ocorrer hoje em dia, embora eles próprios não desejem o dom e o julguem desnecessário. Indubitavelmente, há várias razões para isso. Visto que não há nenhum versículo nas Escrituras que diz explicitamente que línguas cessariam com a era apostólica, deixam aberta a possibilidade de sua ocorrência hoje. Na sua aceitação da soberania de Deus, eles não querem impor nenhuma limitação ao poder de Deus hoje. Isto é recomendável, e, no entanto, não vai de encontro ao problema do propósito de Deus para com a época presente. Deus poderia destruir o mundo hoje (Ele tem o poder), porém não o fará porque seria contrário ao seu propósito revelado para com a igreja, para com Israel e para com o sistema mundial presente. Outra razão desta posição pode ser a conveniência. Membros ou líderes de várias organizações (o movimento ecumênico, a Associação Nacional de Evangélicos, escolas inter(35)

Edman, op. cit., p. 15. Laurin, 1 Corinthians, op. cit., p. 204. Também Norman Grubb, God Unlimited (Fort Washington, Penna: Christian Literature Crusade, n.d.), p. 69. Grubb é líder do movimento a favor duma vida espiritual mais profunda. (36) Harold Lindsell e Charles J. Woodbridge, A Handbook of Christian Truth (Westwood, N. J.: Fleming H. Revell Company, 1953), p. 322. (37) Miles, op. cit., p. 9.


Movimento Moderno de Línguas 150 denominacionais e agências missionárias) têm de tolerar seus membrosirmãos que sejam glossolalistas. O terceiro ponto de vista é que a maioria dos dons espirituais, inclusive o de línguas, acabou quando o Cânon do Novo Testamento foi completado ou quando a igreja de Jesus Cristo alcançou a maturidade no fim da era apostólica. Seja como for, a glossolalia genuína cessou lá pelo ano 100 a.D. Os dons que diziam respeito à autoridade, à doação e discernimento da revelação (apostolado, profecia, milagres, curas, línguas, interpretação de línguas) eram temporários, conquanto os demais dons fossem permanentes. (38) Há vários argumentos que fortalecem esta posição. Primeiro, há a declaração geral de que "línguas cessarão" (glossai pausontai; I Cor. 13:8). A glossolalia cessou quando Deus deixou de dar o dom. Que o dom cessou na era apostólica pode ser demonstrado pelo fato de que no segundo século e nos séculos subseqüentes ele não ocorreu (ver Capítulo II, clicar aqui). Seria preciso apenas uma geração sem a existência de línguas para identificar definitivamente o tempo exato da sua cessação. Se o dom fosse supostamente permanente, então ele teria ocorrido em cada geração de cada século até o momento presente. Argumentar que o dom era ativo na era apostólica, depois foi silencioso por séculos e agora novamente está ativo é contrariar a clara declaração das Escrituras. Quando os dons cessam, cessam mesmo! Esta declaração é de natureza geral – não tem repetição. Culpar a incredulidade pela sua ausência é também contrariar o ensino escriturístico da comunicação soberana. O segundo argumento é de que a expressão "o que é perfeito" se refere ao Cânon completo, que formou o clímax do processo de amadurecimento da igreja. Weaver candidamente observou: Logicamente, to teleion tem que se referir à completação ou perfeição no mesmo sentido do referido em to ek merous. Visto que to ek merous se refere à transmissão da verdade divina através da revelação, o outro termo (38)

Walvoord, op. cit., pp. 168-188.


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to teleion tem que se referir à completa revelação da verdade de Deus, o Novo Testamento em sua inteireza (naturalmente incluindo-se seu livro fundamental, o Velho Testamento).(39)

A profecia envolvia a recepção e a proclamação da verdade divinamente revelada. O conhecimento envolvia uma revelação da mente e da vontade de Deus. Pessoa alguma recebia a revelação toda. Deus se revelava a homens diferentes em tempos diferentes, comunicando a verdade progressiva acerca de si próprio e de seu programa (Heb. 1:1). Cada livro da Bíblia escrito formava apenas uma parte do todo. Até ser escrito o Apocalipse, não se podia dizer que a revelação de Deus estava completa (teleion). Esta palavra teleion significa que alguma coisa agora está parcialmente aqui, está se desenvolvendo presentemente e um dia há de se tornar completa. A palavra cabe bem no conceito da revelação progressiva do Novo Testamento, da qual Paulo tinha conhecimento (João 14:25, 26; 16:12, 13; cf. Col. 1:25). Esses dons da revelação hão de cessar ou tornar-se inoperantes quando a revelação for completada. O dom ou o ato de falar línguas ou de profetizar terminaria, não o conteúdo ou a mensagem falada. O conteúdo, isto é, a revelação divina, era verdadeiro, e, sem dúvida, foi incorporado na revelação escrita, a Palavra de Deus. Horton, advogado de glossolalia, confessou que alguns usos dos dons contribuíram para o Cânon. (40) Ainda que a palavra teleios geralmente se refira à perfeição ou maturidade do crente, uma vez é empregada a respeito das Escrituras (Tiago 1:25). Emprega-se de maneira interessante com referência à igreja madura (Ef. 4:13; cf. 2:15), a quem Cristo deu líderes capacitados, com o propósito expresso de desenvolver a igreja na direção da maturidade (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores-mestres). Até o tempo em que morreram os apóstolos, profetas e evangelistas, a igreja estava amadurecida, com as Escrituras completas em mão e sob (39)

Gilbert B. Weaver, "Tongues Shall Cease: 1 Corinthians 13:8", Unpublished research paper (Grace Theological Seminary, Winona Lake, Indiana, 1964), p. 12. (40) Horton, op. cit., p. 72.


Movimento Moderno de Línguas 152 a liderança de pastores-mestres locais, prontos a enfrentar o mundo nãocristão sem o auxílio apostólico. Se alguns dos dons ainda existiam no segundo século (não está provado), podem eles ser explicados pelo fato de que a compilação, circulação e reconhecimento dos livros canônicos levou tempo. Ainda que estivesse fechado o Cânon, algumas igrejas possuíam um Cânon incompleto por muitos anos. As duas ilustrações de Paulo (13:11, 12) servem como um terceiro argumento. O desenvolvimento progressivo desde a infância até a maturidade na vida pessoal de Paulo serviria melhor para ilustrar o desenvolvimento do corpo de Cristo (cf. I Cor. 12). Talvez haja aqui uma inferência sutil aos dons de línguas ("falava"), de conhecimento ("sentia") e de profecia ("pensava") que "acabei com" ou "tornei inoperantes" pela maturidade (a mesma palavra é empregada: katargethesetai, 13:8; cf, katergeka, 13:11). Será esta a razão por que Paulo ultrapassou as línguas e só queria ensinar na igreja (cf. 14:18, 19)? A segunda ilustração é um pouco mais difícil de ser compreendida, Weaver argumentou que ela não faz referência à segunda vinda de Cristo: Se o espelho é coisa metafórica para alguma coisa, então a expressão "face a face" como experiência é metafórica também... " (41) Isto está de acordo com o contexto de "em parte" e "perfeito". Ao olhar para a Palavra parcialmente revelada, o homem recebe uma visão parcial de si mesmo; todavia, quando a Palavra for completa, então o homem poderá ver a si mesmo exatamente como Deus o viu. Por quê? Porque Deus revelara completamente o propósito do homem e da igreja na Sua Palavra. Quarto, se o dom de línguas era também um sinal aos judeus curiosos (14:21-22), então este significado terminou com a destruição de Jerusalém (A.D. 70). Quinto, em livros escritos depois de I Coríntios, para tratar de problemas eclesiásticos e do viver Cristão normal, não há nenhuma (41)

Weaver, op. cit., p. 14.


Movimento Moderno de Línguas 153 menção do dom de línguas. As qualificações dos pastores (anciãos) e dos diáconos não incluem quaisquer dons específicos (I Tim. 3:1-13; Tito 1:5-9). Cristo criticou as sete igrejas (Apoc. 2-3) por causa de seus muitos erros na vida e na doutrina, porém não há menção de línguas. Aparentemente, esses dons haviam cessado já naquele tempo. Sinais, maravilhas, milagres e dons espirituais (Heb. 2:4), abundantes na vida primitiva da igreja, já haviam passado, como o propósito de Deus para com eles fora retirado. Sexto, Morris considerou a ignorância contemporânea quanto à natureza básica dos dons como um argumento contra sua permanência. Ele escreveu: "Mas, à vista do fato de que eles desapareceram tão depressa e tão completamente que nem sabemos por certo o que eram, temos que considerá-los como o dom de Deus para o tempo da infância da igreja." (42) Até os pentecostais têm um problema em definir a natureza exata do dom de línguas e da interpretação. Toussaint resumiu um pouco seu terceiro ponto de vista. (43) Ele considerou a diferença entre os verbos de 13:8 ser muitíssimo significativo: "O amor jamais acaba (piptei): mas havendo profecia, serão aniquiladas (katargethesontai); havendo línguas, cessarão (pausontai); havendo ciência, desaparecerá (katargethesetai)." "Mas quando vier o que é perfeito, 'o que é em parte será aniquilado"' (katargethesetai). A profecia e a ciência tornar-se-iam inoperantes pela volta de Cristo (to teleion), mas as línguas cessariam antes desse evento. Somente a história poderia verificar o ponto exato em que cessaram. Isto se baseia na mudança de verbos (pauo para as línguas e katargeo para profecia e ciência). Nota-se também a mudança da voz. Pausontai é do futuro, voz média, conquanto katargethesetai é do futuro, voz passiva. Duas coisas tornar-se-ão inoperantes por algo, enquanto as línguas simplesmente (42) (43)

Morris, "Gifts", op. cit., p. 5. Stanley D. Toussaint, "First Corinthians Thirteen and the Tongues Question", Bibliotheca Sacra, CXX (outubro-dezembro, 1963), pp. 311-16.


Movimento Moderno de Línguas 154 cessarão por si. A omissão de línguas, o assunto-chave do contexto, nos versículos 9 e 12, confirmam esta conclusão. Erva distinção, contextual e gramaticalmente válida, destruiria a tese de que "línguas" são permanentes. Não poderia ser o caso de que esta distinção fosse mantida com esta única exceção? Os dons de profecia e de ciência tornar-se-iam inoperantes pelo acabamento do Cânon, enquanto as línguas cessariam antes de se escrever o último livro do Novo Testamento, o que seria mais de acordo com o uso de teleios. O dom de línguas, então, tem de ser contemplado como um dom menor, necessário à infância da igreja, porém que cessou dentro do propósito de Deus quando a revelação de Deus foi completa. Línguas e Regulamentos Nesta sua comparação dos dons da profecia e de línguas (Cap. 14), Paulo apresenta diversos regulamentos para a expressão dom de línguas. A violação destes regulamentos revelaria que o fenômeno não era divino em sua origem. Edificação A ênfase principal de Paulo nesse capítulo é que todos os crentes na igreja fossem edificados pelo exercício de dons espirituais (14:3, 4, 5, 6, 12, 17, 19, 26, 31). Especificamente, ele os admoestou: "Assim também vós, já que estais desejosos de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja" (14:12) e "Faça-se tudo para edificação" (14:26). Exercer o dom de línguas trazia edificação àquele que falasse (14:4). Em si, isto é bom, porém não cumpre o pleno propósito dos dons. Um membro do corpo de Cristo deveria funcionar para que (ou de modo que) o corpo inteiro recebesse proveito, o amor verdadeiro para com os crentes irmãos não busca sua própria edificação (13:5) à custa da maior edificação da igreja. Aparentemente, no seu orgulho egoísta e na sua


Movimento Moderno de Línguas 155 carnalidade, os coríntios desejavam esse dom mais que os outros por causa de seus benefícios inerentes a eles, porém estava errada essa atitude. Paulo, para corrigir o pensar deles, usou sua própria atitude (14:18-19): Dou graças a Deus, que falo mais línguas do que vós todos. Todavia, na igreja eu antes quero falar cinco palavras com o meu entendimento, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em outras línguas.

Hoyt comentou: "Esta é uma declaração categórica que não admite exceções, e que quase equivale a dizer que o falar línguas é praticamente sem valor algum numa reunião pública." (44) O Moderno Movimento responderia que Paulo está condenando somente línguas, não interpretações, e que línguas mais a interpretação realmente trazem edificação à igreja (cf. 14:5). Visto que é possível que não fosse dada nenhuma interpretação (14:28), Paulo vê pouco valor no dom de línguas em si. Para ser válido, precisava de ser interpretado. Mas não estando presente quem a interpretasse, então a pessoa que tinha o dom de línguas teria que ficar quieta. Assim, não poderia funcionar como membro do corpo de Cristo para a educação de outros crentes. Paulo desejava que exercessem um dom que em todo tempo pudesse ministrar para edificação (12:31; 14:12,39). Até Roberts confessou que "como um instrumento de ensino e de pregação, línguas são virtualmente sem valor". (45) Interpretação O regulamento da interpretação é claro (14:27, 28): "Se alguém falar em outra língua, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e cada um por sua vez, e haja um que interprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo e com Deus." (44) (45)

Herman A. Hoyt, "Speaking in Tongues", Brethren Missionary Herald, XXV (23-3-1963), p. 157. Roberts, op. cit., p. 94.


Movimento Moderno de Línguas 156 Não deve haver glossolalia sem interpretação na igreja local. O moderno movimento de "línguas" tem violado consistentemente esse regulamento. (46) Esta passagem ensina também que apenas uma pessoa (heis, não tis) deve interpretar, sem levar em conta o número de pessoas (uma, duas ou três) que falem em outras línguas. Não deveria haver interpretação por parte de dois ou três homens, mas cada um por sua vez. Horton erradamente disse que "um" não era número, e, sim, pronome. Nessa base, ele permitiu a idéia de que dois ou três intérpretes poderiam falar. (47) Violam, portanto, também esse regulamento. Essa passagem, além disso, demonstra que a presença dum intérprete podia ser verificada antes de ocorrer a glossolalia. Os crentes sabiam quando tinham o dom de interpretar e esse fato era reconhecido pelos outros. Todavia, é ensinado que se uma pessoa falar em línguas e não houver interpretação, então aquele que tiver falado deve pedir em oração uma interpretação e ele mesmo deve dá-la. Esse conceito baseiase em 14:13: "Por isso, o que fala em outra língua, ore para que possa interpretar. " Entretanto, o contexto imediato (14:1,2) revela que todos estavam falando em outras línguas e ninguém estava interpretando. Isso era sem proveito e não edificava. Portanto, Paulo admoestou que aquele que falasse orasse para que recebesse o dom de interpretar, a fim de que pudesse interpretar o que os demais estavam falando, para a edificação da igreja. Também, se uma pessoa pudesse falar em línguas e então orar pelo dom de interpretar, qual o sentido oculto sob o regulamento de Paulo (14:27,28)? Sempre estaria presente um intérprete potencial, se o caso fosse assim. Ainda que fosse possível uma só pessoa ter ambos os dons, de línguas e de interpretação, é improvável que usasse de ambos os dons na mesma ocasião. Visto que os profetas seriam julgados pelos outros (hoi alloi diakrinetosan; 14:29), o mesmo procedimento se aplicaria à (46)

Ver os Apêndices I e II. O autor tem observado isso pessoalmente várias vezes. Ocorre constantemente – a procura do batismo, de línguas devocionais e do dom de línguas. (47) ) Horton, "Gifts", op. cit., pp. 168-69.


Movimento Moderno de Línguas 157 glossolalia (14:27). Isto se vê também em 14:26: "Que fazer, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação." Aqui se faz uma distinção entre aquele que fale em outras línguas e aquele que interprete. A maioria das interpretações do mo.derno movimento de "línguas" é dada ou por aquele que fala ou pelo pastor ou líder da congregação. (48) Linguagem Antes foi salientado (Capítulo III, clique aqui) que toda glossolalia, quer seja sinal da recepção do Espírito Santo (At. 2,10,19) ou o dom de línguas (I Cor. 12-14), era na forma de idiomas conhecidos do mundo, que poderiam ser traduzidos para a língua da congregação. O fator ininteligível ou em sons desconhecidos (sons que não manifestam os componentes da estrutura conhecida de linguagem) é completamente estranho aos registros bíblicos do fenômeno. O moderno movimento de "línguas" é culpado das violações freqüentes e universais desse importante regulamento. Número e Ordem Não deve haver mais que três casos individuais de glossolalia em um culto, e deve ocorrer cada um por sua vez, não simultaneamente (14:27) . A glossolalia simultânea, por parte de muitas pessoas, conduz unicamente à confusão em massa e se torna ridícula aos descrentes (14:23). Todavia, isto se faz pelo moderno movimento de "línguas" com aprovação. Com referência ao cantar em outras línguas ("cantarei com o espírito", 14:15) é sinônimo conforme a esse movimento, observou Brumback: "Temos (48)

Ver os Apêndices I e II, quanto às ilustrações.


Movimento Moderno de Línguas 158 ouvido esse cantar em línguas freqüentemente por uma congregação inteira, ocasionalmente (ou vez por outra ) por um grupo menor e até por um crente sozinho... " (49) Ocorrências simultâneas do dom de línguas, quer na forma de falar, de orar ou de cantar, são condenadas por Paulo. Os pentecostais admitem uma distinção entre línguas em Atos (evidenciais) e línguas em Corinto (dons); portanto, não se pode servir-se das ocorrências simultâneas em Atos para sustentar seu uso das ocorrências simultâneas do dom. Em todo tempo, os que falam em público, quer sejam faladores em outras línguas ou profetas, devem manifestar restrição e controle próprio no exercício dos seus dons (14:28, 30, 32; Gál. 5:22, 23: "O Fruto do Espírito é... domínio-próprio.") "Deus não é Deus de confusão, mas, sim, de paz" (14:33). Ele faz tudo decentemente e com ordem (14:40). Portanto, qualquer glossolalia na atmosfera de confusão não é de Deus . (50) A glossolalia genuína seguirá os regulamentos expostos na Palavra de Deus. Sexo As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher falar na igreja (I Cor. 14:34, 35).

Em que sentido é que se não permite à mulher falar no culto de uma igreja local? Horton, um pentecostal, disse que as mulheres não devem falar para julgar os profetas (14:29) ou para fazer perguntas para aprenderem (14:35). (51) Conforme Horton e o "moderno movimento de línguas", essa proibição às mulheres não se refere à glossolalia ou à profetização. Ele admitiu que todos os movimentos que têm mulheres como chefes ou líderes estão ensinando erros, porém que muitas (49)

Brumback, What Meaneth This?, op. cit., p. 294. Ver no Apêndice I, uma ilustração de dois falando ao mesmo tempo. (50) Ver Apêndice I e II, quanto às ilustrações sobre confusão (51) Horton, Gifts, op. cit., p. 207.


Movimento Moderno de Línguas 159 denominações e igrejas pentecostais têm tido mulheres como líderes ou "pastoras" (e.g. Aimee Semple McPherson) e o moderno movimento não é uma exceção (e.g. Jean Stone). Brumback chamou de "regra geral" esta passagem e I Timóteo 2:11,12, de preferência a "regra absoluta", que não admite exceções. (52) Entretanto, visto que Paulo não permite exceções, por que deveríamos nós permiti-las? À parte da questão de profecia, muitos crêem que esta é uma proibição da glossolalia por parte das mulheres. (53) A proibição de falar emprega a mesma palavra (laleo) como foi usada na glossolalia (14:34,35; cf. 14:27,28). A passagem ainda está no contexto de falar em outras línguas (cf. 14:37, pneumatikos, um sinônimo de glossolalia, e 14:39); portanto, não precisa ser limitada a julgamentos ou a perguntas. Se Paulo estivesse se referindo apenas ao julgar ou a fazer perguntas, ele poderia ter usado, e de fato teria usado, aquelas palavras (diakrino; 14:29, e eperotao; 14:35) para designar seu significado exato. Alguns têm incluído a profecia nessa proibição. Grosheide disse que as mulheres poderiam profetizar, porém não quando a congregação estivesse oficialmente reunida. (54) Para excluir a profecia, onde quer que acontecesse. (55) Ainda que Paulo mencionasse a profecia e as mulheres antes (I Cor. 11:2-16), basicamente ele estava tratando do caso de as mulheres usarem o véu e da sua insubordinação. Neste capítulo (cap. 14) , Paulo até proibiu que as mulheres profetizassem. Essa palavra laleo também se emprega em relação à fala profética (14:29), de modo que a profecia pode ser incluída na proibição. Se não, certamente a glossolalia por parte das mulheres é o que ele proibia. Esse regulamento sozinho basta para mostrar que o "moderno movimento de línguas" não é bíblico. (52)

Brumback, What Meaneth This?, op, cit., p. 314. M. R. DeHaan, Holy Spirit Baptism (Grand Rapids: Radio Bible Class, 1964), pp. 31 e 32. (54) F. W. Grosheide, Commentary on the First Epistle to the Corinthians (Grand Rapids: Wm. B. Eardman's Publishing Co., 1953), p. 341. (55) R. St. John Parry (ed.), The First Epistle of Paul the Apostle to the Corinthians (Cambridge University Press, 1916), pp. 210-11. (53)


Movimento Moderno de Línguas Um Sinal para os Descrentes

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Está escrito na lei: Por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem me ouvirão, diz o Senhor. De modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; a profecia, porém, não é sinal para os incrédulos, mas para os crentes (I Cor. 14:21, 22).

À parte da edificação da igreja por meio da interpretação, o dom de línguas seria como um sinal aos descrentes, especialmente e talvez exclusivamente aos incrédulos judaicos. Por causa da referência a "este povo" (Israel) e do emprego da conjunção inferencial "de modo que" (hoste), Hodge cria que o intento verdadeiro de línguas poder-se-ia ver na citação do Velho Testamento (14:21; cf. Is. 28:11,12). Ele escreveu: "Línguas foram dadas como um sinal ao povo judaico somente, e daí se segue que em geral o visitante pagão na assembléia cristã (muito mais provavelmente seria um gentio do que um judeu) seria exposto a um fenômeno que, antes de tudo, jamais lhe dizia respeito." (56) O contexto (14:21,22; cf. 1:22: "Os judeus pedem um sinal") e a primeira ocorrência de línguas (At. 2:1-13) sustentam esta conclusão. Entretanto, talvez Paulo esteja usando essa passagem para mostrar que as línguas são um sinal para os incrédulos que permanecerem não convencidos e firmes na sua incredulidade. O dom de línguas não foi usado para proclamar o evangelho aos salvos. Tais pretensões por parte do "moderno movimento de línguas" (há muitas), quanto a este propósito, têm que ser consideradas como contrárias ao significado bíblico. Recepção Horton escreveu: "Foi o desejo expresso do Senhor que todos falassem em línguas (I Cor. 14:5)... Se você, pois, nunca falou, procure o Espírito até que o consiga." (57) Será verdade isso? De maneira alguma! (56) (57)

Hodge, op. cit., p. 231. Horton, Gifts, op. cit., p. 156.


Movimento Moderno de Línguas 161 O desejo de Paulo (14:5) não teria maior cumprimento do que seu desejo de ser anátema por amor a Israel (Rom. 9:3). Este último era impossível por causa do propósito eletivo de Deus (Rom. 8:28-39 ), e o desejo anterior era impossível por causa da natureza do corpo de Cristo. Nem todos os membros têm o mesmo dom. Isto Paulo apontou claramente: "Todos falam em outras línguas?" (12:30). A resposta esperada é negativa. Será que o Espírito Santo faria com que um crente desejasse o menor dos dons (línguas), quando Paulo disse aos coríntios que desejassem os maiores dons (12:31; 14:1,39)? De maneira nenhuma! Deve-se lembrar que não importa o quanto uma pessoa ore ou deseje um dom, ainda é um dom e é dado soberanamente (como Ele quer). O apelo de Paulo é feito também à igreja como um todo. Eles deveriam desejar que os melhores dons fossem manifestos entre eles, e não que cada cristão que possuísse um dom desejasse outros. Proibição Em conclusão, Paulo escreveu: "Portanto, irmãos, procurai com zelo o profetizar, e não proibais o falar em línguas" (14:39). O "moderno movimento de línguas" tem-se agarrado a esse versículo como um aviso contra a supressão das manifestações de dons espirituais. Brumback declarou: "Por que o Espírito Santo o inspirou a expressar negativamente essa ordem? Porque ele sabia que haveria necessidade de uma força poderosa para deter os muitos e variados esforços de excluir 'línguas', não somente em Corinto, mas também através de toda a história da igreja." (58) Todavia, jamais Paulo mandou que os coríntios desejassem línguas. Visto que o dom de línguas estava então em existência, nem Paulo nem os coríntios proibiriam o seu uso. Entretanto, eles poderiam regulamentar a sua manifestação. Não se pode usar esse versículo para provar que (58)

Brumback, What Meaneth This?, op. cit., p. 172.


Movimento Moderno de Línguas 162 línguas devem ser permitidas hoje em dia. Somente o propósito de Deus para hoje poderá revelar se acontecerá hoje em dia ou não. Os regulamentos para línguas são muitos. Este mesmo fato mostra que o fenômeno ou era mal usado ou simulado freqüente e facilmente. Isto talvez sirva como outra razão por que línguas eram destinadas a ser temporárias. Quanto aos regulamentos e ao movimento presente, Hoyt concluiu: "É muito possível que uma aplicação rígida eliminaria por completo o seu emprego. (59) O estudo pessoal e a observação pelo autor confirmam essa conclusão. Atos vs. I Coríntios Será que as línguas mencionadas em Atos e as em I Coríntios sejam do mesmo caráter e tenham o mesmo propósito? Ou, elas terão o mesmo caráter, porém um propósito diferente? Ruble cria que as várias ocorrências tinham o mesmo caráter e o mesmo propósito. Ele escreveu: A explicação das diferenças entre as línguas em Atos e as de I Coríntios centraliza-se nos conceitos de revelação progressiva e de distintivos dispensacionais. A glossolalia em Atos ocorreu alguns anos antes da de I Coríntios. Seria de esperar que com o passar dos anos seriam estabelecidos nas igrejas regulamentos para governar o uso dos dons espirituais. (60)

Todavia, a última ocorrência de línguas em Atos (19:1-7) verificouse durante a terceira viagem missionária de Paulo, em Éfeso. Naquele tempo Paulo escreveu I Coríntios, da cidade de Éfeso; portanto, seria mais lógico concluir que a manifestação corintiana de línguas precedeu a dos discípulos de João, o Batista, ainda que a Carta aos Coríntios fosse escrita logo depois da ocorrência em Éfeso. Assim, se regulamentos foram impostos, o foram subitamente, não progressivamente. Até Gee, (59) (60)

Hoyt, op. cit., (20-4-1963), p. 206. Ruble, op. cit., pp. 131 e 132.


Movimento Moderno de Línguas 163 um autor pentecostal, admitiu a continuidade e a regulamentação progressiva da experiência de Atos para I Coríntios. (61) Entretanto, o estudo desses dois livros tem demonstrado que o fenômeno de línguas em ambos era o mesmo em caráter, porém diferente em propósito. MacDonald admitiu isso. (62) Ambas as ocorrências consistiam em falar línguas ou idiomas conhecidos e em magnificar a Deus. Ambas eram faladas por homens sob o domínio do Espírito Santo e ambas tinham significado como sinais . Aqui termina a semelhança. Em Atos, a glossolalia era um sinal de transição da recepção singular do Espírito Santo por quatro classes diferentes de pessoas. Em I Coríntios, as línguas eram um dom espiritual dado a alguns crentes para a edificação da igreja. A regulamentação do dom de línguas (o número, em ordem, necessidade de um intérprete etc. ) não se vê nas ocorrências em Atos. Por causa desta diferença de propósito, Brumback argumentou: Se há uma distinção clara entre o fenômeno de línguas em Atos e o de I Coríntios, então o argumento pentecostal em prol do dom de línguas como a evidência inicial e física torna-se quase irrefutável. Se não, então a teologia pentecostal sobre o ensino da evidência sofre uma derrota. Isto é, talvez, o ponto decisivo de toda a controvérsia. (63)

Há uma diferença de propósito, porém a definição pentecostal do termo "propósito" está errada. Em Atos, as línguas não eram o sinal inicial e físico do batismo no Espírito Santo (o qual eles definiram erradamente). A admissão de uma diferença de propósito não significa que a posição pentecostal seja irrefutável. O estudo do fenômeno e de seus propósitos distintivos em Atos e em I Coríntios tem demonstrado que esses propósitos não mais existem; portanto, não ocorre hoje o fenômeno de genuína glossolalia. (61)

Gee, op. cit., p. 57. William G. MacDonald, "Glossolalia in the New Testament" Bulletin of the Evangelical Theological Society, VII (Spring, 1964), p. 65. Reimpresso em forma de livrete pela Gospel Publishing House, Springfield, Mo. (63) Brumback, What Meaneth This?, op. cit., p. 261-62. (62)


Movimento Moderno de Línguas 164 Muitas tentativas para refutar o pentecostismo têm sido feitas baseadas na proposição de que os fenômenos eram os mesmos em caráter e em propósitos. Esses homens apontariam o fato de que nem todos falam línguas (I Cor. 12:30), mas que todos têm sido batizados no Espírito Santo (I Cor. 12:13); portanto, a glossolalia não é evidência do batismo no Espírito Santo. Entretanto, não é necessário manter a identidade em caráter e em propósito para refutar a base doutrinária do moderno movimento de línguas. A base doutrinária e as experiências pessoais daqueles que defendem o movimento não se harmonizam com as características dos dois diferentes propósitos. O moderno movimento de1illguas admite três tipos diferentes de línguas. Primeiro – Uma pessoa fala em outras línguas como a evidência inicial, física, do batismo no Espírito Santo (At. 2, 8, 10, 19). Segundo – Uma pessoa que tenha tido essa experiência poderá continuar a falar em outras línguas simplesmente para suas devoções particulares (sem ter a necessidade de interpretá-las), para sua autoedificação. Terceiro – A alguns Deus dá o dom de línguas que tem de ser exercido na igreja local, acompanhado pelo dom de interpretação. Já provamos que o primeiro tipo é falso. A distinção entre o segundo e o terceiro tipos foi feita arbitrariamente, deduzida de I Coríntios. MacDonald classificou os versículos que denotam uso pessoal (14:6,9,16,18,23,26,28), uso na igreja (12:10, 28,30; 14:5b,13,27,39) e ambos os usos (13:1,8; 14:2,4,5a,14,15, 22). (64) Esta distinção foi imposta a esta passagem, que trata estritamente de dons espirituais a serem exercidos na igreja local, para a edificação de todos. Tem sido exposta como uma justificação de línguas não interpretadas em particular e em público. (65) (64) (65)

MacDonald, op. cit., pp. 63-65. Ver Apêndice I, quanto às ilustrações.


Movimento Moderno de Línguas 165 O dom de línguas foi um uso válido no período da igreja infante, porém sua manifestação não é mais necessária hoje em dia. Assim, a glossolalia em Atos e em I Coríntios era de dois tipos. Eram o mesmo quanto ao caráter essencial, porém diferentes quanto ao propósito.


Movimento Moderno de Línguas

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CONCLUSÃO "ATRAVÉS DA HISTÓRIA da igreja, nenhum dom espiritual tem ocasionado tanta controvérsia contínua como o dom de línguas." (1) Temos demonstrado a verdade dessa observação. O "movimento moderno de 'línguas"' tem aumentado essa controvérsia e tem estimulado muita pesquisa quanto ao fenômeno de línguas. Temos tentado avaliar esse movimento à luz das Escrituras Sagradas. Notou-se primeiro que o fenômeno de fala extática ou de glossolalia não foi particular ao cristianismo bíblico, mas que também foi achado nas religiões pagãs. Isso demonstrou que a fala extática poderia ser produzida ou satânica ou artificialmente. No Velho Testamento não se achou nenhum caso de "línguas". Na era apostólica, o fenômeno bíblico ocorreu pela primeira vez (At. 2, 10, 19; I Cor. 12-14). Nenhuma manifestação genuína de línguas se viu no período pós-apostólico até o fim da Reforma Protestante. Nos primeiros três séculos após a Reforma, manifestações pervertidas de línguas ocorreram entre grupos heréticos de persuasão doutrinária diferente. O pentecostismo moderno é um movimento do século vinte com sua base na teologia arminiana de santidade. É esse movimento que tem pretendido para si a recuperação do fenômeno de línguas e que tem penetrado as denominações históricas na última década. Portanto, não há nenhuma continuidade histórica do fenômeno de línguas desde a era bíblica até a situação presente. De fato, as línguas cessaram! O movimento corrente de glossolalia está sendo impulsionado principalmente pela Full Gospel Business Men's Fellowship International (Comunhão Internacional dos Homens de Negócio pró Pleno Evangelho ) e outros grupos, como a Bendita Sociedade Trinitária. Todas as principais denominações têm sido penetradas e influenciadas (1)

Walvoord, op. cit., p. 180.


Movimento Moderno de Línguas 167 por essa nova ênfase. Caracteriza-se o movimento por todos os tipos de fenômenos – línguas, curas, visões, sonhos, revelação direta etc. Essas experiências são contrárias ao padrão bíblico de verdadeiras experiências espirituais. Ainda que o movimento pretenda ser de origem divina, seus fenômenos são explicados melhor pela origem satânica, produzidos psicologicamente ou artificialmente simulados. Na maioria dos casos, parece ser um esforço humano de restabelecer ou de simular um fenômeno bíblico transicional. A natureza verdadeira da glossolalia bíblica consistia de idiomas (ou línguas) conhecidos, estrangeiros, falados por um crente que nunca os havia conhecido ou aprendido e que era controlado pelo Espírito Santo . O movimento moderno de línguas defende a idéia de que a glossolalia pode ser em línguas conhecidas ou em sons desconhecidos, sendo que esta forma se emprega muito mais freqüentemente que aquela. Visto que a glossolalia em sons desconhecidos não tem base nas Escrituras Sagradas, o "moderno movimento de 'línguas"' não tem redescoberto o fenômeno bíblico. O moderno movimento de línguas defende a idéia de que por tanto tempo quanto for efetivada a Grande Comissão, haverá glossolalia (Mar. 16:15-20). A fé verdadeira em Deus, dizem eles, fará com que o fenômeno apareça na vida do indivíduo. Todavia, a fé mencionada nessa passagem é a fé que leva à salvação, não a fé para receber um dom. Realmente, a passagem ensina que cada pessoa que crer em Cristo haverá de falar línguas. Isto é contrário às experiências das gerações passadas de crentes e do próprio movimento moderno. Visto que a passagem tem pouca autenticidade textual, ela não deve ser usada para tentar provar posição nenhuma. O moderno movimento também defende a idéia de que a glossolalia foi a evidência inicial e física do batismo do Espírito Santo (At. 2, 8, 10, 19). Entretanto, interpreta mal a doutrina bíblica do batismo do Espírito Santo e a natureza transicional do Livro de Atos. A fala de línguas era o sinal da introdução inicial do ministério do Espírito Santo para quatro


Movimento Moderno de Línguas 168 classes diferentes de pessoas – judeus, samaritanos (?), gentios, discípulos de João, o Batista. Ocorreu naquele tempo, e somente então, para aquele propósito particular. Essas ocorrências nunca pretenderam tornar-se padrão para a recepção do Espírito Santo por crentes subseqüentes. Não puderam, porque nem dois dos quatro casos são idênticos. De fato, as experiências de muitos pentecostais são contrárias ao seu próprio padrão formulado. O moderno movimento de línguas acha que os dons espirituais, inclusive o de línguas, foram dados de propósito por Deus para tornar-se uma parte permanente da vida e da história da igreja. Todavia, muitos desses dons (inclusive o de línguas) eram temporários, para serem usados pela novel (ou infante) igreja até que fossem completados o Cânon do N.T, e a revelação e até que a igreja estivesse amadurecida, como o resultado do ministério profético dos apóstolos, Foi claramente declarado que o dom de línguas haveria de cessar, e a história eclesiástica revela que de fato cessou no primeiro século. Os regulamentos interiores (amor) e exteriores do dom de línguas não são praticados pelo moderno movimento de línguas. Este acha que a proibição da glossolalia hoje em dia contraria as Escrituras (I Cor. 14:39), e é uma limitação da vontade soberana de Deus. Todavia, a questão não é se Deus pode dar o dom hoje em dia; antes é se Deus teve o propósito de dá-lo. Como escreveu Walvoord: É, naturalmente, impossível provar experimentalmente que a glossolalia não pode ocorrer hodiernamente. Pode ser demonstrado, todavia, que a glossolalia não é essencial ao propósito de Deus agora, e que há razões boas e suficientes para crermos que a maior parte, se não todos os fenômenos que se nos apresentam como prova da moderna glossolalia, ou é atividade psicológica ou demoníaca. (2)

Que é, então, o "moderno movimento de línguas"? Primeiro: É a penetração e a presença do Velho Pentecostismo dentro das igrejas do protestantismo histórico. Ainda que pretendam ser (2)

Ibid., pp. 185 e 186.


Movimento Moderno de Línguas 169 presbiterianos ou batistas com uma experiência pentecostal, na realidade nada mais são que pentecostais que se mantêm como membros em igrejas presbiterianas ou batistas. Sustentam eles, os pregadores pentecostais (v.g. Oral Roberts), publicações e escalas (v.g. A Universidade Oral Roberts) e encontram sua melhor comunhão dentro do programa da Full Gospel Business Men's Fellowship. O movimento carismático dentro das igrejas históricas não é um movimento espontâneo do lado de dentro, porém antes um recrutamento ativo que vem de fora. Segundo: O moderno movimento de 1ínguas é uma parte essencial da atmosfera ecumênica. Um dos principais líderes, Harold Bredesen, afirmou: "Hoje em dia esse Espírito vivo e incontrolável está trabalhando soberanamente na Igreja Católica Romana e entre as igrejas protestantes, sejam elas liberais ou conservadoras." (3) Um ministro luterano e "falador de línguas" escreveu: Tenho tido diálogos com católicos e com pentecostais e isso se tornou em bênção maravilhosa. Em Brooklyn (subúrbio de Nova York) agora temos dois grupos em diálogo, compostos de ministros luteranos de todos os gostos e de jovens sacerdotes católicos romanos. Reunimonos e estudamos juntos as Escrituras, oramos juntos, conversamos acerca dos problemas comunitários e discutimos os empenhos mútuos das nossas Paróquias. Recentemente Participei de um retiro espiritual para católicos romanos, episcopais e luteranos. O Espírito Santo está operando na Igreja Católica Romana. Estou convencido de que o significado básico da Renovação Carismática é a reunião das igrejas. Não uma reunião comprometida, como a criação de uma "super-igreja", porém uma renovação quanto ao significado da unidade do Espírito (4) (o grifo é do autor deste livro).

Que nem todos os líderes pentecostais sustentam essas pretensões está fora de consideração. É um fato que essa significação do moderno movimento de línguas é assim declarada por alguns dos seus próprios (3) (4)

Harold Bredesen, "Return to the Charismata", Trinity, II (Whitsuntide, 1962), p. 22. Erwin Prange, "New Ministry", Full Gospel Business Men's Voice, XIII (abril, 1965), p. 7.


Movimento Moderno de Línguas 170 líderes. Liberais, conservadores, protestantes e católicos estão sendo atraídos e reunidos pelo fenômeno de glossolalia. Isto talvez supra a unidade interior que o movimento ecumênico não podia suprir por meio de sua organização. Mas será uma unidade interior baseada na experiência, não na doutrina. Terceiro: O moderno movimento de línguas reflete a confusão e a ignorância quanto à doutrina bíblica. Tem sua base no arminianismo e na imaturidade espiritual. Muitas das suas experiências simulam o "encontro-crise" da neo-ortodoxia barthiana. Todas as espécies de fundamentos doutrinários são aceitas por eles, conquanto a pessoa tenha tido a experiência especificada. Notai os testemunhos publicados, dados pelos católicos romanos (sacramentalismo), pela Igreja de Cristo (regeneração batismal), pelos arminianos e pelos liberais. Sua ênfase da revelação extrabíblica e dos fenômenos (visões, sonhos, curas, línguas) não é sadia e é contrária ao testemunho do Espírito Santo através da Palavra. Seus conceitos doutrinários quanto ao batismo do Espírito Santo e ao cumprimento da "chuva serôdia" têm de ser rejeitados. Quarto: O movimento moderno de línguas é baseado na experiência do indivíduo, não na doutrina. Alguém escreveu algures esta máxima: "Quem tem uma experiência nunca estará à mercê de quem tem um argumento." Até certo ponto, isto é verdade, porém uma experiência religiosa em si nunca pode ser o teste final de sua genuinidade. A Bíblia sempre terá que ser a base da fé e da prática. Ela sempre terá que julgar as experiências para determinar sua validez. Walvoord apontou os erros de doutrina baseada na experiência: A experiência sempre possui duas bases fatais para o erro: (1) um equívoco da própria experiência quanto ao seu conteúdo e origem divina; (2) uma conclusão falha quanto ao significado doutrinário da experiência. Daí, num lado, uma experiência supostamente de origem divina poderá ser puramente psicológica, ou pior, um instrumento enganador do próprio Satanás. Por outro lado, uma experiência genuína pode ser mal entendida e


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mal rotulada, como a denominação comum da obra de enchimento do Espírito como o batismo do Espírito. (5)(5)

O moderno movimento de línguas é culpado de ambos esses erros. Concluímos com uma citação de Paulo, que disse: "As línguas cessarão" (I Cor. 13:8). E já cessaram!

(5)

Walvoord, op. cit., p. 174.


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APÊNDICE I O AUTOR assistiu a um banquete da Full Gospel Business Men's Fellowship International (FGBMFI) em Dayton, Ohio, no Stratford House no dia 21 de maio de 1965. Desse banquete participaram umas sessenta pessoas, entre homens e mulheres. Pelo menos quatro denominações (Batista, Metodista, Presbiteriana e Pentecostal) estavam representadas. O banquete começou com cântico pelo grupo e música especial. Depois do jantar, foram feitos alguns anúncios quanto às reuniões no futuro. Seguiram-se testemunhos de curas realizadas. Uma mulher afirmou ter sido curada de uma doença dolorosa no pé. Um dia ela acordara com essa dor no pé, não podendo calçar o sapato, começando a mancar. Ela orou e conseguiu que outros orassem por ela, porém a dor continuou. Então, durante cada dia quando ela sentia a dor no pé, dizia no seu íntimo: "Graças te dou, ó Senhor, por teres tirado a dor." A dor persistiu durante o dia, mas afinal, ao anoitecer, desapareceu e desde aquele tempo não voltou mais. Esse tipo de curas é típico de muitas pretensões pentecostais de curas. Se um tipo progressivo, mui diferente do tipo instantâneo mencionado na Bíblia. Em caráter não é diferente daquele que tem sido experimentado por cristãos não pentecostais que crêem que Deus pode curar e de fato o faz, porém que também crêem que os curandeiros e o dom de curar não são para os tempos atuais. Esse testemunho tinha o cheiro da técnica do "domínio da mente sobre a matéria". O orador da noite foi o Rev. Robert P. Durand, ministro da Igreja Presbiteriana Dilworthtown, em West Chester, Pensilvânia. Disse ele que fora salvo, recebera o batismo do Espírito Santo, falara línguas e fora curado de um gaguejar constante pelo ministério de James Brown, um glossolalista presbiteriano. Ainda que sua fala estivesse boa, sinais de gaguejo ainda estavam presentes. Muitas vezes, o começo de uma palavra ou frase foi repetida duas ou três vezes antes de ser finalmente falada com


Movimento Moderno de Línguas 173 clareza. Na sua mensagem, Durand pretendeu que o cumprimento da visão de ossos secos (Ez. 37) podia ser observado no avivamento carismático entre as igrejas denominacionais históricas. Entretanto, essa profecia se refere somente "à casa toda de Israel" (Ez. 37:11) e ao tempo quando Deus restaurará a Israel à terra da Palestina. Depois da mensagem, o povo ficou de pé e começou a orar e a louvar a Deus com as mãos levantadas. Uma mulher (uns três metros distante de mim e me encarando) começou a produzir sons estranhos, em voz baixa, porém audivelmente. Os sons eram dentais e me pareceram como "Tica, Tica, Tica", rapidamente repetidos. Assim ela procedeu por um pouco de tempo, em seguida subitamente falou os mesmos sons mui altamente. Caiu um silêncio sobre o grupo, enquanto ela repetia os sons por cerca de um minuto. Quando ela parou, Durand pediu uma interpretação. Houve silêncio por um momento, então Durand mesmo começou a dar uma interpretação. Citou uma profecia messiânica que Jesus, ao ler na sinagoga em Nazaré, aplicou a si mesmo (Is. 61:1; cf. Luc. 4:16-21). Durand passou a aplicar essa profecia a cada pessoa presente ao banquete. Quando ele parou, os outros romperam em confusão. Gritos de louvor ecoaram pelo salão porque Deus lhes havia falado diretamente. A referida mulher de novo começou a repetir audivelmente os mesmíssimos sons. Um jovem (distante de mim dois assentos) começou a pronunciar três ou quatro sílabas repetidas vezes. Não houve tentativa de conseguir uma interpretação do que ele falou. Quando o povo ficou quieto, Durand pediu que se formassem duas filas – uma para receber o batismo do Espírito Santo e a outra para receber curas. Então Durand veio para onde eu estava de pé, falou a um jovem ao meu lado (Jay Thatcher), e o levou para a área do púlpito. Eu o segui, para observar o que iria acontecer. Então Durand fez com que o moço se assentasse e levantasse os braços. Um amigo de Jay Thatcher (o menino) que antes pronunciara as três ou quatro sílabas) pegou-o pela mão. Durand fez o sinal da cruz na testa de Thatcher, pôs uma mão na


Movimento Moderno de Línguas 174 cabeça de Thatcher e com a outra agarrou o ombro do moço. E disse ao jovem Thatcher que ele poderia receber o batismo do Espírito Santo se tão somente cresse. Disse mais a Thatcher que repetisse a frase "moneemonee-monee" repetidas vezes até que começasse a falar outra língua. Enquanto Thatcher fazia isso, Durand falou uma frase de sílabas desconhecidas, as quais aparentemente foram repetidas por Thatcher (era difícil saber com certeza). Durand então pegou-lhe pelos ombros e bradou que Thatcher havia recebido o batismo. Depois ele instruiu o moço no sentido de que já recebera a experiência e que não deveria permitir que pessoa alguma lhe dissesse que não a tivera. Enquanto Durand estava tratando de Thatcher, muitas pessoas estavam encorajando este com brados de exortação. Também, a mesma mulher, que estava na fila para procurar curas, persistia em pronunciar a frase já conhecida "Tica-Tica-Tica" muitas vezes, novamente sem interpretação. O menino que anteriormente falava em outras línguas disse a Durand que queria mais alguma coisa, a saber, o dom de profecia. Todavia, Durand aconselhou-lhe que buscasse o amor, não certos dons. Depois impôs as mãos sobre uma velha mulher que queria ficar livre de uma dor de cabeça. No fundo da sala, um menino estava deitado de bruços, gemendo e soluçando. Descobri, através do pai dele, que o menino estava terrivelmente desviado e sentia, pesaroso, a culpa do seu pecado. Durante esse culto posterior, as pessoas estavam apenas vagueando – falavam, tomavam café, entravam e saíam da sala. Quando, afinal, parti, a reunião ainda estava em progresso (tendo já três horas de duração). Cabem aqui algumas observações. Houve interpretações falsas tanto na mensagem como na interpretação da glossolalia por Durand. Sua pretensão de ter sido curado da gagueira não foi inteiramente autenticada, a julgar pela sua fala. Alguma glossolalia foi deixada sem interpretação, o que é contrário às diretrizes de Paulo (I Cor. 14:28). As instruções fornecidas para ajudar alguém a falar em outras línguas eram contrárias aos exemplos bíblicos. Tive a impressão de que a maioria


Movimento Moderno de Línguas 175 dessas pessoas era sincera nos seus esforços de restabelecer os eventos bíblicos, mas que sua imaturidade fez com que errasse e que identificasse o erro como a verdade. Isto era de se esperar, visto que se tratava de um esforço humano para reconstruir aquilo que fora realizado pelo Espírito Santo.


Movimento Moderno de Línguas

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APÊNDICE II O AUTOR assistiu a um culto dominical noturno na Primeira Igreja Pentecostal, na Cidade de Xênia, Estado de Ohio, em 30 de maio de 1965. Numa conversa pessoal, essa igreja havia sido caracterizada como "demasiado emocional" por um ministro das Assembléias de Deus. Estas observações pessoais hão de confirmar essa avaliação. Houve vários convites para chegar à frente, mesmo antes de ser entregue a mensagem. Durante um desses convites, foram impostas as mãos sobre uma mulher que buscava cura. Havia muita gritaria e bater de pés, porém não houve nenhuma proclamação nem evidência exterior de que houvesse uma cura. Durante os preliminares do culto (cântico, orações, breves exortações), mulheres se levantavam e começavam a tremer ou sacudir o corpo. Suas cabeças caíam para a frente e para trás, aumentando e depois diminuindo em velocidade. Muitas inclinavam os seus corpos para trás, com os braços levantados. Cheguei a pensar que algumas delas cairiam ao chão, tão inclinados ficavam seus corpos, porém nenhuma o fez. Uma mulher foi à frente do salão e fazia esses movimentos do corpo ao passear de um lado para o outro do salão. Outra deixou o seu assento e começou a dançar, sapateando no corredor. Dançou até o fundo do templo, jogando seus braços para a frente e para trás. Perto do fundo do templo, uma de suas mãos tocou no seu marido, que então foi para a frente, quando o pastor o exortou a indireitar-se com o Senhor. Algumas dessas mulheres falaram palavras, mas, por estarem elas distantes de mim, não pude perceber ou discernir o seu significado. Se elas estavam falando em outras línguas, não houve tentativa de obter uma interpretação. A certa altura do culto três homens saíram do coro e começaram a correr pelos corredores, da frente para o fundo do templo. Um jovem, que estava sentado num banco, deixou o seu lugar e correu atrás deles. Fizeram cerca de três voltas no salão e voltaram a seus respectivos


Movimento Moderno de Línguas 177 lugares. Sua conduta não foi explicada. Antes do sermão, um desses homens ficou de pé no banco, no coro, e falou outras línguas por vários minutos. Sem demora alguma ou hesitação, ele mesmo seguiu com uma interpretação, principalmente exortando ao povo a viver pelo Senhor e a escutar as palavras do pregador. As ações físicas do pastor durante sua mensagem eram tão descontroladas como as que acabo de descrever. Ele andou e correu pela plataforma toda, pregou nos corredores e ficou de pé nos bancos. Sua mensagem era desconexa. Tive a impressão de que ele dizia qualquer coisa que lhe entrasse na cabeça, e de que já havia dito muitas vezes antes tudo quanto dizia. O culto certamente não foi conduzido "decentemente e com ordem" (I Cor. 14:40).


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