Mostra de cinema O terror no expressionismo
Caio basilio faria RA 820131810
larissa Martins dos santos RA 820265095
o terror no expressionismo
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primeira guerra e seus desdobramentos, que o cinema Alemão busca no expressionismo a subjetividade humana tendo como meta a liberdade individual. Tal liberdade é conquistada pelo terror, pois o medo é evolutivo e uma ferramenta básica de aprendizagem e sobrevivência humana, assim todas as questões ligadas ao consciente da época podiam ser transformadas em um espetáculo visual graças a tecnicidade do cinema. Agora toda a inquietação, toda revolta, todas as emoções mais densas eram retratadas em narrativas engajadas de crítica social; a angústia humana, a miséria, a loucura, todos esses sentimentos eram espalhados como um reflexo da vivência desses novos tempos.
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Terror no cinema começa de imediato, apenas um ano após a sua concepção, com o primeiro curta de terror Le Manoir Du Diable (O Castelo do Diabo) e talvez o primeiro filme de vampiro, um subgênero recorrente nos filmes de horror. Como gênero fílmico, o terror em seus primórdios é inundado pela literatura romântica e a sua subjetividade, tendo a necessidade de expressar o íntimo de seus personagens que comumente são alegorias de questões sociais, momentos políticos e sínteses de pensamentos da época. Aliado a isso, a tradição oral de contar histórias também tem o seu papel folclórico onde os regionalismos são incorporados, principalmente as histórias de horror, pois são elas que evidenciam as temáticas em comum de uma cultura, muitas vezes tendo uma lição de moral, ou um ensinamento de como se comportar diante de certas dificuldades. E é com isso em mente que pensamos no Expressionismo Alemão, eclodindo após a disputa pela hegemonia econômica europeia, onde surge um ressentimento por parte da Alemanha em decorrência da
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m 1916 o diretor Paul Wegener afirmava que o verdadeiro poeta do filme deve ser a câmera e a iluminação, defendendo assim que a técnica e forma dão ao conteúdo o seu verdadeiro significado. O ‘’instrumento’’ plástico visual que o expressionismo alemão proporciona é pavorosamente rico para o contexto cinemático da época, a sua produção artística engrandece e possibilita novos meios de se contar histórias, e como já dito o terror/horror dominam a cena com a sua estética inconfundível. Toda essa externalização de sentimen-
tos através da mise en scene é perpetuada influenciando todo o gênero dos filmes de horror. E é nessa via que o jogo de luz e sombras ditam o ritmo do cinema alemão, aliado a singular direção de arte com a sua opressora arquitetura gótica trazendo as questão de poder e controle, com os seus elementos pontiagudos e formas triangulares que nos instauram o clima horrendo onde a melancolia é a nova rebelião, e o fator psicológico é a raiz dessa revolta, entrando no consciente e subconsciente dos
personagens, essa invasão da subjetividade é resgatado até hoje nos ditos filmes de ‘’terror psicológico’’, onde o medo é provocado pelas questões internas e materializadas no campo visual externo. Sendo assim o expressionismo alemão a base do pensamento intimista no cinema, onde se utiliza o medo fundamental como a via de comunicação de suas inquietudes, aprimorando o dispositivo cênico que é o cinema e deixando as suas contribuições sem precedentes para todo um gênero.
expressionismo o terror
expressionismo
o horror
defesa
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o imergir no Expressionismo Alemão, a sua característica mais marcante é a plasticidade dramática da cenografia, que enche os olhos do espectador com uma estranheza que só encontramos aqui, despertando fascínio nos entusiastas do cinema de horror/terror, e ao olharmos para as suas origens sociopolíticas entendemos a sua grandeza como uma das vanguardas do cinema. Por meio desse pensamento e da dificuldade de categorizar o Expressionismo Alemão como diz a Laura Loguercio no livro A História do Cinema Mundial, que nós buscamos aqui entender o medo como uma poderosa ferramenta de se contar histórias e por consequência o gênero de horror/terror.
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Nosferatu
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Fausto
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o gabinete do Dr. Caligari
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a morte cansada
7 o homem que ri
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Sombras
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De manha a meia noite
castelo 10 oVogelod
nosferatu Ano: 1922 Direção: F.W. Murnau Duração:1h 34min País de origem: Alemanha Título original: Nosferatu, eine Symphonie des Grauens sinopse
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utter (Gustav von Wangenheim), agente imobiliário, viaja até os Montes Cárpatos para vender um castelo no Mar Báltico cujo proprietário é o excêntrico conde Graf Orlock (Max Schreck), que na verdade é um milenar vampiro que, buscando poder, se muda para Bremen, Alemanha, espalhando o terror na região. Curiosamente quem pode reverter esta situação é Ellen (Greta Schröder), a esposa de Hutter, pois Orlock está atraído por ela.
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osferatu se tornou um ícone da cultura pop sendo o filme expressionista mais conhecido de todos os tempos, e não é por menos, este marco do cinema readapta pela primeira vez o inigualável ‘’Drácula de Bram Stoker’’, e talvez sendo o mais fiel de todas adaptações posteriores, porque aqui Conde Orlok é retratado de fato como o monstro grotesco que é, uma criatura vil vinda direto das trevas que não possui nada daquele romantismo clichê que as obras de vampiros 8
nos acostumaram. E não é só no retrato de seu personagem que o filme tem êxito, mas também na atmosfera sombria que a meticulosa direção de arte e fotografia nos proporciona, pois são os momentos que visualizamos apenas a sua sombra que o nosso horror desperta, ele não nos assusta, mas nos persegue mostrando o mal que existe na escuridão.
Nosferatu é o supra sumo da incorporação do expressionismo ao cinema, trazendo uma obra sem exageros, F.W. Murnau entende perfeitamente os recursos expressionistas para criar o primeiro monstro de fato nas telas do cinema.
o golem sinopse Ano: 1920 Direção: Carl Boese, Paul Wegener Duração: 1h 16min País de origem: Alemanha Título original: Der Golem, wie er in die Welt kam Sinopse
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m Praga, na República Tcheca, no século XVI, um rabino cria uma gigante criatura feita de argila conhecida como o Golem. Trazendo a criatura a vida através de feitiçaria, ele tem esperança de que o Golem proteja os judeus da cidade que estão sendo perseguidos, porém a personalidade gentil e cheia de compaixão do gigante acaba gradualmente se transformando em loucura.
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Golem é moldado do mesmo barro e lama das trincheiras da primeira guerra, um barro corrompido pela desesperança que assola a alma humana com os seus preconceitos. Nesta obra é impossível não falar de como o golem veio a este mundo de fato, gerado pelo antissemitismo da época, o filme é a caricatura do contexto alemão nos anos 20, onde toda a revolta é expurgada aqui. Trazendo mais um monstro como forma narrativa dos terrores implícitos no qual o expressionismo não consegue fugir em seu contexto sociopolítico, mas é também nos cenários desen-
hados pelo Arquiteto Hanz Poelzig, dimensionando todo o ambiente de criação e poder mágico.
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fausto Ano: 1926 Direção: F.W. Murnau Duração: 1h 47min País de origem: Alemanha Título original: Faust Sinopse
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isputando o poder sobre a terra, arcanjo e Satã apostam a alma de Fausto, um alquimista erudito. Durante uma praga, este homem se desespera, queimando todos os seus livros. Neste momento Satã envia Mefistófoles para tentar Fausto com o retorno da juventude e o alquimista aceita o pacto. Certo dia, entediado, ele resolve voltar para casa, onde conhece e se apaixona pela bela Gretchen, um encontro que será a desonra da moça. Adaptação da obra de Goethe.
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om a majestosa cena de início, o arcanjo e mephisto tecem a grandiosidade desta obra e o destino de Fausto até o seu trágico fim. Diferentemente da obra literária de Wolfgang Von Goethe, Fausto como filme apresenta personagens claramente definidos, uma ocorrência comum no cinema mudo, onde novamente a angústia vivida pelo protagonista é o reflexo de sua condição e o meio em que habita. Com uma direção de fotografia impecável, F.W. Murnau cria mais um clássico do horror expressionista que utiliza o terror ao mostrar a decadência do homem até a sua tragédia final, com cenas suntuosas que fazem juz às 10
dimensões das questões que Fausto com o seu subtexto religioso e dúbio nos fornece, já que comparado a obra de Goethe, pois em seu livro existe uma rebelião contra o que é imposto, assim sendo, não uma tragédia as consequências do pacto realizado por Fausto, mas uma revolta contra as doutrinas de sua época.
o vampiro Ano: 1932 Direção: Carl Theodor Dreyer Duração:1h 23min País de origem: Alemanha; França Título original: Vampyr sinopse
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m jovem viajante chamado Allan Gray (Julian West) estuda sobre a evolução do mal e dos vampiros dos séculos passados. Por causa da sua obsessão com aparições sobrenaturais, ele visita uma antiga pousada e encontra diversas evidências de que ali existem vampiros. O problema é que depois de muito estudar esse assunto, para Allan já quase não existe mais diferença entre o real e o irreal.
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alvez um dos clássicos mais importantes do horror, ‘O Vampiro’ é um pesadelo ambulante, que remove todas as nossas familiaridades e seguranças nos provocando magistralmente com seu ritmo ao experimentar sequências assustadoramente íntimas. O terror aqui ganha vez no próprio subconsciente imaginário, criando um estado de alerta crescente que emana a aura dessa obra expressionista, fugindo dos outros arquétipos vampirescos, O Vampiro tem em sua essência um fluxo constante entre realidade e alucinações, se
libertando assim dos moldes Românticos da literatura do gênero a qual inspirou o subgênero de vampiros. Dirigido por Carl Theodor Dreyer, o filme é uma produção Franco-Alemã e o único filme falado em nosso catálogo.
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o gabinete do dr. caligari
Ano: 1920 Direção: Robert Wiene Duração:1h 17min País de origem: Alemanha; Título original: Das Cabinet des Dr. Caligari
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sinopse Francis (Friedrich Feher) e o amigo Alan (Hans Heinrich von Twardowski) visitam o gabinete do Doutor Caligari (Werner Krauss), onde conhecem Cesare (Conrad Veidt), um homem sonâmbulo que diz a Alan que ele morrerá. Assim acontece e Alan acorda morto no dia seguinte, o que faz com que Francis suspeite de Cesare. Francis então começa a espionar o que o sonâmbulo faz com a ajuda da polícia. Para descobrir todos os mistérios, Francis acredita só haver uma solução: adentrar no misterioso gabinete do Doutor Caligari.
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Gabinete do Dr. Caligari é um marco para o cinema e talvez o filme mais ligado a arte expressionista em sua direção de arte, com os cenários meticulosamente projetados para o nosso desconforto, maquiagens sobrecarregadas e uma atmosfera tomada pela insatisfação, a narrativa kafkaniana segue o Dr. Caligari e o seu sonâmbulo Cesare em uma trama sem sutilezas e cheias de desesperanças, no qual o desconforto da morte é tão palpável e real quanto nos piores sonhos orquestrados por uma mente insana, recriando assim um pesadelo em película.
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a morte cansada Ano: 1921 Direção: Fritz Lang Duração:1h 38min País de origem: Alemanha Título original: Der mude Tod sinopse
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um vilarejo europeu do século XIX, a Morte leva um jovem quando ele estava prestes a se casar. Sua noiva, aos prantos, suplica que devolva a vida do seu amor. A Morte decide dar uma chance à jovem desesperada, prometendo devolver a vida do noivo se ela conseguir evitar a morte de uma das três vidas prestes a perecer. Lang mostra, então, a história das três luzes; na exótica Pérsia, na Veneza Renascentista, e na China Imperial. Três tentativas de esperança. Três conflitos entre o amor e a morte.
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om um espetacular título A Morte Cansada possui uma também espetacular história, tratando do amor e da morte, indo a uma direção diferente dos filmes expressionistas, pois é carregado de questões filosóficas a qual sugere que com a nossa juventude e força de vontade, nós conseguimos vencer a morte. Talvez tal pensamento idealize uma das vontades do subconsciente alemão, poder derrotar a morte em meio a sua inevitabilidade, e 14
reconquistar um passado que já se foi.E com um medo sutil pois a morte carrega em si esse desconforto fúnebre, que a experiência audiovisual de A Morte Cansada é tão grandiosa como íntima, nos mostrando as lutas diárias que enfrentamos contra a morte.
o homem que ri Ano: 1928 Direção: Victor Hugo Duração: 1h 50min País de origem: USA Título original: The Man Who Laughs Sinopse
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m O Homem Que Ri, um nobre é executado após insultar o Rei opressor, se negando a beijar sua mão. Após o ato bárbaro, seu filho Gwynplaine (Conrad Veidt) é desfigurado, marcado com uma cicatriz sinistra, que passa a impressão de estar sempre sorrindo - castigo macabro para quem acabou de presenciar uma tragédia acontecer com a vida de seu próprio pai. Condenado a uma vida de humilhação, em dado momento, ele se apaixona por uma jovem cega, Dea (Mary Philbin), que não se escandaliza com sua situação.
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ma produção Americana do diretor Paul Leni que vem da escola alemã expressionista, O Homem Que Ri, traz nesta obra uma adaptação do romance de Victor Hugo, um personagem que inspirou um clássico moderno, pois ao ser exposto às telas do cinema, ganhou força ao ter a sua imagem assustadoramente bizarra concebida. Um filme que retrata a maldade humana com o desconforto de um sorriso, em uma atmosfera macabra sendo um ótimo iniciador do cinema mudo e expressionista de terror Alemão.
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sombras Ano: 1921 Direção: Arthur Robison Duração: 1h 30min País de origem: Alemanha Título original: Schatten – Eine nächtliche Halluzination Sinopse
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urante um jantar dado por um barão rico e sua esposa, quatro convidados ocupam a mesa da mansão do século 19 na Alemanha. Uma sombra da aos convidados uma visão do que o barão ciumento pode fazer se os cavalheiros não reduzirem os olhares à sua bela esposa.
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ombras é mais um bom exemplo dos êxitos que foi a incorporação do expressionismo como dispositivo fílmico, a produção de arte empregada nesta obra máscara as falhas de seu roteiro e direção confusa porém de uma premissa intrigante. O uso de sombras como o principal veículo de ação da história entrega uma camada óptica promissora, dando ao terror do filme uma obscura alucinação, que nos remete diretamente ao mundo dos sonhos e as suas estranhezas, o qual se tornou um lugar comum à questão lúdica ao retratar o subconsciente comumente incorporado nos mitos ao retratar os horrores incom16
preendidos que nos circundam, mas aqui em Sombras devido a bagunça narrativa que o emprego desta ferramenta causa temos uma difícil conexão com a obra e os seus acontecimentos.
de manha a meia noite Ano: 1921 Direção: Karlheinz Martin Duração:1h 22min País de origem: Alemanha Título original: Von Morgen Bis Mitternachts sinopse
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a história de um honesto caixa de banco seduzido por uma mulher, roubando o dinheiro para satisfazer-lhe os desejos, até verificar a vacuidade da relação e da própria vida.
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a manhã à meia-noite é o exemplo pictórico do estilo expressionista no cinema, trazendo os mesmos conceitos visuais já vistos em O Gabinete do Dr. Caligari, mas potencializados com a sua plena ausência de tons de cinza, tanto em sua fotografia com o extremo contraste de luz e sombras as quais nos proporcionam uma experiência única a cada quadro, quanto a narrativa mais direta e moralista de Karlheinz Martin, tratando a ganância como a força motriz de sua obra permeada pelos princípios
cristãos, princípios esses que sempre foram um terreno fértil para a propagação de doutrinas através do medo.
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o castelo vogelod Ano: 1921 Direção: F.W. Murnau Duração: 1h 01min País de origem: Alemanha Título original: Schloss Vogelod
sinopse
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iversos aristocratas estão totalmente incomodados com a visita indesejada que está prestes a chegar no Castelo Vogelöd: a baronesa Safferstäff está chegando ao lado do Conde Oeastsh, que todos acreditam ter assassinado o ex-marido dela. Agora ele terá que fazer de tudo para provar sua inocência e, principalmente, achar o verdadeiro culpado.
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o terceiro e último filme de F.W. Murnau em nosso catálogo, trazemos O Castelo Vogelöd, um filme de assassinatos e mistérios que possui uma aura angustiante ao lidar com o interior de seus personagens, é pela culpa e medo constante que a trama se constrói e acompanhamos as intrigas incessantes com uma bela reviravolta em seus momentos finais. Uma produção com poucos elementos expressionistas e um dos menos chamativos do diretor, mas um bom exemplo dos filmes 18
de crime e mistério que permeiam os sentimentos para uma narrativa de suspense.