Somente em Deus está a verdadeira alegria, que não deixa atrás de si remorsos, a alegria que satisfaz plenamente o coração e é por isso uma antecipação do paraíso . Madre Clélia, Mg., I, p. 164
E q u i p e
h Direção: Irmã Maria Conceição da Costa h Coordenação de Segmento: Ensino Fundamental II – Sandra Andrade Scapin h Coordenação de Segmento: Ensino Médio – Flávio Eduardo Larizzatti h Orientação educacional: Ensino Fundamental II – Cláudia Beluzzi Ribeiro h Orientação educacional: Ensino Médio – Elizabeth Aldrigues h Coordenação da área de Língua Portuguesa: Ensino Fundamental II e Ensino Médio - Greta Marchetti h Equipe de professores de Língua Portuguesa: Adriana Lima Ozilio Adriano Carvalho Amanda Moreno Greta Marchetti Lucy Araújo Patrícia Marques Regina Helena Alves Codesseira Rosa Maria Basso Vanessa Santos Wadson Mendes h Professora de Arte: Elaine Chioato h Ilustração da Capa: Felipe Távora de Burgos Moreira – Turma 211 h Revisão: Maria Emerenciana Raia h Layout da capa: Júlia Onório h Organização dos textos e ilustrações: Leandro Vassoleri e Francinilda Gomes h Impressão: C&D Editora e Gráfica Ltda.
Índice h Equipe............................................................................................................................ 02 h Apresentação................................................................................................................ 05 h 6º ano – Ensino Fundamental II Bebê chato? – História em quadrinhos.................................................................. 06 Carolina Vieira Ribeiro – turma 165 Berta e o sapo de ouro – Conto maravilhoso....................................................... 07 Texto: Carolina Tavares dos Santos Carmelo – turma 165 Ilustração: Carolina Vieira Ribeiro – turma 165 Jardim Japonês – Relato pessoal.............................................................................. 09 Texto: Laura Viotti de Freitas – turma 163 Ilustração: Jennifer Freua Gubeissi dos Santos – turma 195 h 7º ano – Ensino Fundamental II Choro – Poema........................................................................................................... 10 Texto: Gabriel Machado Melo de Oliveira – turma 173 Ilustração: Ana Clara Asprino Machado – turma 173 A criação da chuva – Mito...................................................................................... 11 Texto: Giovanna Simionato – turma 174 Ilustração: Isadora Gonçalves Lahoz – turma 175 O mar e seus segredos – Mito................................................................................. 12 Texto: Maria Eduarda Spazzapan Aguirre – turma 173 Ilustração: Giulia Hippólito – turma 175 h 8º ano – Ensino Fundamental II O dia em que a Terra parou – Crônica................................................................. 14 Texto: Nicole Morales Walker – turma 184 Ilustração: Carolina Tozato Silva – turma 182 A ação dos pais é importante na adolescência? – Crônica argumentativa... 16 Texto: Maria Vitória Sacchetti de Sordi – turma 183 Ilustração: Mirela Cunha de Abreu – turma 183 O rastro da esperança – Poema.............................................................................. 18 Texto: Leticia Rodrighero Homem – turma 182 Ilustração: Maria Fernanda de Castro Mendes – turma 184 h 9º ano – Ensino Fundamental II – Gênero: Conto contemporâneo Meu cabelo, minha vida............................................................................................ 19 Texto: Ana Beatriz Farah Alves – turma 192 Ilustração: Mariana Sampaio Leme – turma 192
O velho boxeador........................................................................................................ 21 Texto: Gabriel Moreira de Ramos – turma 195 Ilustração: Jennifer Freua Gubeissi dos Santos – turma 195 Através das lentes....................................................................................................... 22 Texto: Beatriz Fernandes Vidotti – turma 195 ilustração: Jennifer Freua Gubeissi dos Santos – turma 195
h 1ª série do Ensino Médio – Gênero: Relato Pessoal Pequena pianista......................................................................................................... 24 Texto: Viviane de Paula Colletta – turma 214 Ilustração: Giovanna Bars Souza – turma 214 Sonho de adolescente................................................................................................. 26 Texto: Rodrigo Polito Bianchini – turma 213 Ilustração: Thalia Camacho Gardin – turma 213 A ilha misteriosa......................................................................................................... 28 Texto: Fernanda Helena Neto e Silva – turma 211 Ilustração: Giovanna Ancona – turma 211 h 2ª série do Ensino Médio – Gênero: Conto A queda......................................................................................................................... 29 Texto: Mateus de Almeida e Silva Dorigon – turma 221 Ilustração: Alison Borba Ferreira – turma 221 Ele era diferente........................................................................................................... 31 Texto e ilustração: Stephanie Mark Li – turma 222 Desafio da gramática................................................................................................. 32 Texto: Rogério Begliomini de Alencar – turma 223 Ilustração: Alison Borba Ferreira – turma 221 h 3ª série do Ensino Médio Escravidão na contemporaneidade......................................................................... 35 Texto: Débora Moreira Carneiro Rezeck – turma 231 Ilustração: Giovanna dos Santos Bianco – turma 231 Fim dos fatos............................................................................................................... 37 Texto: Daniela Diamantino – turma 232 Ilustração: Isabela Novelli Maciel – turma 214 Tecnologia e educação................................................................................................ 39 Texto: Lucas dos Santos Formigoni – turma 232 Ilustração: Alice Victoria Reis Moura – turma 212
Apresentação “A arte existe porque a vida não basta“.
Ferreira Gullar
Ao longo dos últimos quatro anos, os alunos do Colégio Sagrado Coração de Jesus participaram de momentos cuja finalidade foi a produção e seleção de textos para compor o Livro de Redações. Em 2017, os professores da área de Língua Portuguesa, juntamente com as coordenações de segmento do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, alteraram esse modelo de concurso e seleção de texto, tornando-o mais integrado ao processo de desenvolvimento das aulas. Assim, as produções presentes no livro foram escolhidas em diversos momentos do ano letivo, considerando as habilidades linguísticas e a criatividade. Com esse novo formato, estão presentes, no Livro de Redações, produções de gêneros variados, inclusive em uma mesma série, nas quais são abordados diversos temas, de forma a contemplar e valorizar diferentes propostas e estilos de escrita. Uma outra novidade é o fato de cada texto ter sido ilustrado por um aluno, integrando a linguagem verbal às artes visuais. O título “Histórias e Ideias que enriquecem nossos 80 anos” é uma alusão aos 80 anos do Colégio Sagrado Coração de Jesus e os textos presentes no livro representam parte da produção acadêmica desenvolvida na Instituição. Em 2017, teremos uma ampliação do acesso ao Livro de Redações: além da edição impressa, haverá o livro digital, compartilhado com toda a comunidade educativa via aplicativo/e-mail Sagrado. É com muita alegria que apresentamos o resultado desse trabalho, que envolveu de forma intensa alunos, professores, coordenadores e demais profissionais de nosso Colégio. Esperamos que todos tenham uma ótima leitura! Equipe de Língua Portuguesa
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Bebê chato? Carolina Vieira Ribeiro – turma 165
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BERTA E O SAPO DE OURO Texto: Carolina Tavares dos Santos Carmelo – turma 165 Ilustração: Carolina Vieira Ribeiro – turma 165
Era uma vez uma viúva muito bondosa e bonita chamada Berta. Ela se casou com um rei, igualmente bondoso, que tinha uma filha: Branca de Neve. Branca era feia e tinha uma raiva danada de Berta por ser tão bela e bondosa. A jovem enteada não ouvia os conselhos da madrasta e fez amizade com uma turma da pesada, “os ratos”, um grupo de anões que roubava os vilarejos próximos ao reino. Infelizmente, logo depois do casamento, o rei morreu, deixando Berta e Branca sozinhas. A rainha ficou arrasada. Após essa fatalidade, a jovem princesa traçou um plano para conquistar o reino. Certa vez, Berta percebeu que Branca estava mais arrogante e preocupada do que costumava ser. Por isso tentou ajudá-la, mas a menina recusou a ajuda e saiu correndo sem dar explicações, fingindo estar triste e chorosa. A rainha preocupou-se e saiu em disparada atrás da menina. Depois de muito correr, Berta percebeu que entrara em uma floresta. Repentinamente, ouviu um barulho e, ao olhar para cima, assustou-se com uma enorme pedra que desabava sobre ela. Desesperada, Berta conseguiu escapar, pois a pedra desabou ao seu lado. Ela sentou-se, muito cansada. Nesse momento, notou que havia uma corda presa à pedra e que Branca de Neve segurava a ponta da corda! - Como você pôde?! Você quase me matou! - disse Berta. - Foi fácil! Com a ajuda dos anões, meus ratos malvados! Eu
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ainda vou conquistar o reino! Desta vez você conseguiu fugir, mas não vou desistir, tenho raiva de você, sua velha boazinha! Odeio gente boazinha! - respondeu Branca. Em prantos, a pobre rainha voltou para casa, arrumou suas coisas e resolveu fugir, pois além de amedrontada, sentia-se muito sozinha. Ao passar pelo vilarejo próximo ao reino, todos os camponeses perguntavam o que havia acontecido, mas Berta continuava sua fuga, até que bateu em algo e caiu. Ao acordar do trauma, percebeu que tinha batido em um totem de ouro, no qual estava esculpido um enigma: “Come insetos e sabe pular/ O que desejar ele vai lhe entregar/ é dourado e reflete em cima/ Você vai recebê-lo se decifrar essa rima.” A rainha pensou e logo decifrou a rima: - É um sapo de ouro! – gritou entusiasmada. Quando disse isso ao totem, ele, magicamente, abriu um compartimento no qual havia um sapo de ouro com um espelho em suas costas. Lembrando-se do enigma, a rainha fez um pedido ao sapo: - Quero que Branca de Neve seja desmascarada! E assim foi feito. A rainha, confiante no sapo, voltou ao palácio e encontrou Branca e os anões tramando um plano para conquistar o reino. O sapo, que era mágico, cumpriu sua promessa e aprisionou todos eles no espelho que ficava em suas costas. Em seguida, o sapo voltou ao vilarejo, onde provavelmente retornaria ao totem. Berta estava muito grata e resolveu segui-lo para agradecer. Chegando lá, a rainha boa, mesmo ainda insegura com as atitudes da enteada, compadeceu-se com a prisão da moça tão jovem e quebrou o espelho, libertando Branca e os anões. Ao serem libertados, Berta notou que eles estavam diferentes, pareciam enfeitiçados pelo sapo, e confessaram seus planos diante de todos os camponeses. Assim, foram julgados de forma justa. Berta teve uma vida feliz, reinando por muito tempo. Claro, ela logo encontrou um viúvo forte e corajoso, que dividiu com ela a árdua tarefa de cuidar daquele povo.
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Jardim Japonês Texto: Laura Viotti de Freitas – turma 163 Ilustração: Jennifer Freua Gubeissi dos Santos – turma 195
No mês de julho de 2017, fiz uma viagem para Buenos Aires, na Argentina. Um dos meus passeios favoritos lá foi a visita ao Jardim Japonês. Todos da minha família estavam bem preparados, foi um dia muito frio. As ruas estavam vazias e cheias de poças de água. Eu podia sentir a brisa fria batendo em meu rosto. Logo na entrada do Jardim, já pude perceber que não havia quase ninguém lá, apenas eu, meus pais, um casal e um pequeno grupo de brasileiros que conhecemos na bela Buenos Aires. Fomos caminhando pelo jardim e observando as lindas árvores. Elas eram pequenas, do mesmo tamanho que eu, e estavam muito bem cuidadas. Havia pequenas ilhas no meio dos lagos cheios de peixes e, em uma delas, tinha uma cachoeira rodeada de vários tipos de plantas, parecia um quadro. No fundo do jardim, vi duas grandes construções em estilo japonês, encantadoras. Também visitei algumas lojas que ficavam nas laterais do jardim e em uma delas comprei dois biscoitos da sorte, que comi na mesma hora. Estavam crocantes e gostosos, lembro do croc croc até hoje. Como alguns lugares estavam fechados, não visitei tudo que o local oferecia. Quando estávamos saindo, encontramos um gatinho preto debaixo de um banco de pedra, mas ele infelizmente se assustou comigo e foi embora, mas foi especial ver o bichano. Voltamos para o hotel caminhando tranquilamente. Foi uma visita rápida, mas maravilhosa!
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Choro Texto: Gabriel Machado Melo de Oliveira – turma 173 Ilustração: Ana Clara Asprino Machado – turma 173
Choro, sem ninguém perceber, pois é o choro da alma, que ninguém pode ver. Choro, por não estar com você, e sofro por ti, sem ninguém perceber. Choro, não por você, mas por aquilo que sinto sem você perceber. Choro, não por causa da dor mas choro por algo, que alguns chamam de amor!
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A criação da chuva Texto: Giovanna Simionato – turma 174 Ilustração: Isadora Gonçalves Lahoz – turma 175
Posseidon, o rei dos mares, tinha a função de administrar a água do universo. A maior quantidade era para os mares de diferentes planetas, outra parte para a Terra e para os outros deuses e apenas dez por cento para o inferno, reino de Hades. Hades não gostou nada da decisão de Posseidon e pediu mais água a ele. Posseidon negou, dizendo que não era necessária tamanha quantidade de água para um mundo subterrâneo. O deus do mundo inferior ficou revoltadíssimo e resolveu se vingar. Com seus poderes, foi sugando, pela terra, toda a água do mundo. Ninfas, deuses, seres humanos, todos ficaram desesperados, pois com a escassez da água não sobreviveriam por muito tempo. Hades, escondido, ria de todos e se deliciava com o resultado de seu poder. Posseidon precisava tomar uma providência. Ele, então, procurou Zeus e contou o que estava acontecendo. Ninguém tinha ideia do motivo da seca. Zeus convocou ciclopes, centauros e titãs. Após muita procura e investigação, um dos centauros alertou que Hades estava roubando a água. Zeus ficou furioso e foi tirar satisfação com Hades. Pegou toda a água roubada e jogou de uma vez aos céus. No mesmo instante, ela caiu com toda força na Terra e a água do mundo foi voltando aos seus lugares. Hades, como punição, ficou sem água nenhuma. Até hoje, o deus do submundo tenta roubá-la, mas Zeus a recupera e assim ocorrem as chuvas e as tempestades.
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O mar e seus segredos Texto: Maria Eduarda Spazzapan Aguirre – turma 173 Ilustração: Giulia Hippólito – turma 175
A Mãe Natureza estava a criar tudo. As árvores, as montanhas e os animais. Quando estava finalizando seu trabalho, pediu ajuda a Hydros, seu irmão que, como ela, também tinha o poder da criação. Hydros, era muito forte, possuía olhos claros, com tons azulados indescritíveis e era dono de uma beleza incomparável. Ao observar a obra da Mãe Natureza, Hydros percebeu que havia extensos pedaços de terra vazios e pensou em fazer algo inspirado em seus próprios olhos. Cavou terras profundas e, com um pequeno olho d’água, criou extensos mares com o tom azulado de seus olhos. Neles colocou inúmeras criaturas com cores e formas diferentes. Hydros e a Mãe Natureza ficaram orgulhosos da sua criação e passaram a habitar aquele lugar extenso e perfeito. Anos depois, Hydros conheceu Vitória, a bela deusa da flora, e juntos tiveram uma filha chamada Nami, uma deusa dotada de rara beleza e que, como seu pai, dominava as águas. Nami possuía longos cabelos dourados, seus olhos azuis hipnotizavam os deuses do Olimpo e muitos disputavam o seu amor. Quando a deusa Nami completou 15 anos, apaixonou-se loucamente por Tsu, um deus guerreiro e forte que vivia na praia. Os dois
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viviam imensamente felizes. Todos os dias, encontravam-se na praia e passavam longas horas juntos. Hydros ficou furioso com o relacionamento da filha, pois achava que Tsu era um deus inferior a Nami e proibiu o encontro dos dois. Nami, contra a vontade de Hydros, ia visitar Tsu em forma de onda. A vontade de encontrá-lo era tão grande que perdia a noção de sua força e isso causava grandes destruições. Dizem que, de tempos em tempos, ainda se veem, e seus encontros são chamados Tsunamis.
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O dia em que a Terra parou Texto: Nicole Morales Walker – turma 184 Ilustração: Carolina Tozato Silva – turma 182
Como de costume lá estava Jorge fazendo sempre o mesmo percurso entre sua casa e o trabalho, o que durava, aproximadamente, 15 minutos. Passava em frente à churrascaria de seu Ademar, à boutique da dona Florinda, à lojinha do João, entre outros estabelecimentos. Sempre via as mesmas pessoas, as mesmas ruas, as mesmas situações. Costumava ir a pé, pois gostava de observar o movimento da rua. Até que um dia ele se atrasou. Parecia que tudo dava errado: havia perdido o relógio e não estava achando seu terno. Tudo colaborava para que sua situação piorasse. Porém, quando tudo parecia errado, viu uma linda moça a caminho do trabalho. Parecia que a Terra havia parado, que mais ninguém estava lá, só Jorge e a moça. Ela era linda, morena, com os olhos verdes e pele lisa. Naquele momento, ele sentiu o que era amor. No entanto, como era muito tímido, resolveu não se aproximar. Depois daquele dia passou a se atrasar, na esperança de reencontrar aquela bela moça, mas isso não ocorria. Que pena! Começou a ficar triste. Ele tinha certeza que ela seria a mulher da sua vida, mas o que ele podia fazer no momento? Ah, essa timidez! E o destino? O que lhe traria? Queria ao menos uma única oportunidade. Foi quando, certo dia, Jorge encontrou a moça em uma cafeteria, por acaso. Jorge sabia que, dessa vez, o medo não iria impedi-lo de falar com ela. O medo não iria nunca mais lhe atrapalhar.
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Mesmo com as pernas bambas, iniciou uma conversa. Seu nome era Flávia. Descobriram que tinham ideias em comum e ficaram conversando durante horas naquele dia. Ah, que dia! No mês seguinte, começaram a namorar e, tempos depois, se casaram. Hoje Jorge e Flávia possuem uma família e são felizes. Têm problemas, assim como todos os casais, mas juntos conseguem transpor os obstáculos da vida, pois possuem um ao outro. Hoje Jorge conta esta história a muitas outras pessoas e diz que aprendeu uma lição: nunca permita que o medo seja maior que seu sonho.
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A ação dos pais é importante na adolescência? Texto: Maria Vitória Sacchetti de Sordi – turma 183 Ilustração: Mirela Cunha de Abreu – turma 183
A adolescência é a fase em que se iniciam as próprias ideias e visões de mundo. É um período de transição física, psicológica e de amadurecimento pessoal. Nessa época, muitas vezes, desencadeiam-se conflitos com os pais e amigos. Para evitar essas situações conflituosas, as pessoas que convivem com os adolescentes precisam escutá-los e orientá-los com cuidado, respeitando sempre o ponto de vista do jovem, tendo em mente que nessa fase encontra-se mais sensível pelas enormes transformações que ocorrem, principalmente em seu cérebro, como afirma a Neurociência. De acordo com pesquisas da área, partes do cérebro do adolescente são afetadas e transformadas nesse período, a fim de que estejam preparadas para a fase adulta. Com esse tipo de alteração, qualquer crítica mais ácida ou comentário maldoso pode afetar o seu comportamento e as suas atitudes posteriores. Nessa época de transição, a convivência com os pais é, muitas vezes, indesejável do ponto de vista dos filhos, mas necessária para orientá-los em seus pensamentos e atos, evitando, assim, erros que podem ser irreversíveis. Segundo a psiquiatra e psicanalista Helena Masseo de Castro, a sensação de dificuldade não pode ser considerada como regra, pois
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cada indivíduo tem experiências particulares na vida, mas nas famílias em que há diálogo, intimidade, carinho e confiança, a adolescência, em geral, é mais leve, pois o amor entre os pais e os filhos é base do amor próprio. Os adolescentes necessitam de muito apoio. Assim, é importante que seus responsáveis sejam compreensíveis e pacientes, para que diminua a possibilidade de ocorrer situações desagradáveis no futuro. A ação dos pais é fundamental na adolescência, educando e orientando os filhos, de forma a contribuir para uma sociedade melhor, mais justa e com pessoas mais equilibradas.
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O rastro da esperança Texto: Leticia Rodrighero Homem – turma 182 Ilustração: Maria Fernanda de Castro Mendes – turma 184
O amador tem pureza no olhar, abriga em seu coração pureza e esperança, mas depois de um choque de realidade no escuro, revela os seus segredos mais profundos. Estamos todos presos a um sistema, tomado pelos problemas, muitos seguindo sem opção, numa esfera sem perdão! Onde andas, esperança? Em um discurso convincente? Em ações vazias e arrogantes? Ou no coração simples e sonhador? Em um mundo onde o interesse prevalece, e da felicidade quase se esquece, peço a todos os amadores, não percam sua pureza ou se contentem com o problema!
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Meu cabelo, minha vida Texto: Ana Beatriz Farah Alves – turma 192 Ilustração: Mariana Sampaio Leme – turma 192
Não é para me gabar, mas sempre tive motivos de sobra para me considerar um ídolo das meninas do meu colégio. Sou alto, loiro, forte e supercobra no vôlei e no basquete. Isso me tornava um cara paqueradíssimo, que podia namorar ora uma, ora outra. Fidelidade eu só demonstrava pela motocicleta que ganhara do meu pai (apesar dos protestos da minha mãe). Era uma CB400 transadíssima, e em volta dela, normalmente, se formava uma rodinha de garotas à espera de carona no final das aulas. Acordei um dia desses com uma sensação estranha. Bocejei, troquei-me e fui para a cozinha tomar café. Duas torradas e um suco se foram, mas a coceira não. - Mãe, minha cabeça está coçando. - Coçando como? - Coçando, ué! – Cocei minha cabeça para ilustrar a sensação. Ela examinou meu cabelo por uns minutos. Dava suspiros. Ai meu Deus, o que é isso? Ela me disse aflita: - É piolho! Tem que ir ao cabelereiro agora. - Posso ir de motocicleta? – pedi. Sempre tinha menina bonita lá. - Pode. Pegue o dinheiro na minha bolsa. Peguei o necessário para um corte qualquer e vários sorvetes para mim e algumas meninas que eu encontrasse pelo caminho. Penteei o cabelo, escovei os dentes, peguei minha moto e saí.
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Já na rua, recebi vários elogios, até de meninas mais velhas. Que gatinho, me liga! Respondia mandando um beijinho para cada uma e escolhi algumas para pedir que me esperassem na sorveteria. Cheguei ao cabelereiro. Deixei minha CB400 na farmácia ao lado. Fui atendido e disse com uma tranquilidade inocente ao barbeiro mal encarado: - Peguei piolho e minha mãe me disse para vir aqui. - Aqui? Não foi na farmácia não? – questionou o homem. - Não, foi aqui. - Bom, a solução aqui é passar máquina zero. - Não sei o que isso significa, mas aceito. Aceito qualquer coisa. Quero me livrar dessa coceira! Quando o barulho da máquina começou, eu entendi o que estava acontecendo, eu iria ficar careca. Primeiro, eu me desesperei, depois fui me acalmando. Continuava alto e forte. Ainda tinha uma moto. Estava tudo sob controle, foi o que pensei. Não foi isso que aconteceu. Depois de pagar, esperar um tempão o troco, quase perder a chave da minha moto e chegar à sorveteria, a única coisa que recebi foram risadas. Algumas meninas disseram que meu rosto parecia uma bolacha. Outras, que eu parecia um ET. Saí de lá humilhado e sem nenhum beijinho. Peguei minha moto e voltei para casa. Frustrado, procurei sites para comprar bonés, toucas e até perucas. O jeito era esperar crescer e dar um tempo nas garotas. Ai meu Deus, espero que cresça logo!
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O velho boxeador Texto: Gabriel Moreira de Ramos – turma 195 Ilustração: Jennifer Freua Gubeissi dos Santos – turma 195
Nos sete primeiros assaltos, Raul foi duramente castigado. Não era de se espantar: estava inteiramente fora de forma. Meses de indolência e até devassidão tinham produzido seus efeitos. O combativo boxeador de outrora, o homem que, para muitos, fora a estrela do pugilismo mundial, estava reduzido a um verdadeiro trapo. O público não tinha a menor complacência com ele: sucediam-se vaias e palavrões. O gongo tocava e os lutadores voltavam a seus corners, o técnico de Raul dizia: - Raul, desista! Ele vai te reduzir a pó! Contudo, Raul não o ouvia, estava repensando em suas alternativas, em uma maneira de vencer, mas, quando percebeu, já havia voltado à luta. O boxeador estava lutando, porém, não contra seu oponente, e sim contra ele mesmo, contra suas escolhas anteriores, contra as noites de farra e os dias de opulência que o levaram àquela situação. Ele arremessou um soco contra seu oponente que facilmente se esquivou. Um gancho de esquerda atingiu o queixo de Raul que cambaleava com dificuldade. Uma sequência de socos atingia Raul até que, por fim, ele caiu no chão. O árbitro contava: - 10! 9! 8! Raul se arrependia de ter continuado, sua dor era insuportável. Suas lembranças o embriagavam, torturavam-no. Sua mulher, seus filhos, nada foi mais forte do que sua fraqueza! Não física, mas espiritual... - 7! 6! 5! Raul tentava se levantar, apenas para cair novamente. Chega de bebedeira... Preciso de você em casa... Não conseguia mais diferenciar o que era verdade ou o que era delírio... - 4! 3! 2! Raul se levantou, era como um milagre, mas seu oponente estava inabalado. Os acontecimentos que seguiram foram sem precedentes. Os médicos disseram que não foi o impacto do soco que o fez entrar em coma, mas a batida de sua cabeça no chão fora do ringue. Repórteres cobriram o acontecimento: - Não se sabe ao certo sobre a condição de Raul, tudo que podemos fazer é esperar.
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Através das lentes Texto: Beatriz Fernandes Vidotti – turma 195 Ilustração: Jennifer Freua Gubeissi dos Santos – turma 195
Quarta-feira, hora melancólica das 17h30, quando chove. Choveu úmido e frio na tarde antes sufocante de novembro. Ela caminhava na direção do metrô, os sapatos molhados. Pelo menos o metrô lhe parecia um progresso no meio dos tempos sombrios. Dava-lhe a sensação de estar em outro país. A decadência em torno a assustava. Aliás, ultimamente, tudo lhe parecia decadente, cinza. Agora Bruna andava com a cabeça baixa pela grande Paulista. A avenida costumava ser motivo de alegria quando ela tinha Laís, sua melhor amiga, ao seu lado. Até que um dia Laís mudou-se de país. Bruna tornara-se alguém triste, sem amigos. Ela achou que tudo melhoraria se mudasse de escola, mas, mesmo depois de meses na escola nova, a situação continuava a mesma. A garota, em seus 15 anos, era cinza, uma bagunça completa segundo ela mesma. Sentia que a felicidade estava a quilômetros de distância. As pessoas diziam que Bruna tinha que parar de pensar no passado e que a depressão era só para chamar atenção. Os outros sempre querem palpitar sobre nossa vida, mas não se importam realmente como nos sentimos. A fotografia era sua válvula de escape. Poder capturar momentos especiais era incrível! A parte mais emocionante do dia de Bruna era o curso de fotografia que ela fazia depois da escola. Nele, podia ver o mundo através de lentes e se expressar por elas.
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Sua vida começou a mudar quando o professor de História passou um trabalho de final de ano. Os alunos teriam que retratar São Paulo fazendo aquilo que gostassem. Bruna já estava se preparando para fotografar a cidade sozinha quando um garoto sentou-se ao seu lado: - Soube que você também gosta de fotografia. – ele disse apontando para o colar da garota, que tinha um pingente em formato de câmera – Que tal fazermos o trabalho juntos? Bruna olhou no fundo dos olhos verdes escuros de Alex, um rapaz quase tão misterioso quanto ela, e respondeu: - Seria ótimo! – talvez fosse a hora de olhar para frente. Então os dois fotografaram a cidade da garoa juntos. Estação da Luz, Catedral da Sé, Parque do Ibirapuera... Até a Paulista ganhou cores novamente. Bruna e Alex conversavam como velhos conhecidos, completavam-se. - Você foi o melhor que me aconteceu esse ano! – ele declarou quando terminaram o trabalho, depois de algumas semanas. A garota o olhou e então sorriu como não sorrira há meses, mostrando não só os dentes, mas também a alma. O amor pode mudar o mundo, e, se não mudá-lo em sua totalidade, muda as pessoas.
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Pequena pianista Texto: Viviane de Paula Colletta – turma 214 Ilustração: Giovanna Bars Souza – turma 214
Desde pequena, a música sempre foi algo presente em minha vida. Minha mãe tocava piano em suas horas vagas e meu pai, violão. Eu vivi e cresci em um ambiente musical. Passava horas sentada no sofá escutando minha mãe ao piano, encantada. Certas vezes, até dançava. Aos meus seis anos, decidi que queria fazer parte dessa vida repleta de música e pedi para minha mãe me matricular em um curso de piano, para que eu pudesse aprender a tocar e a encantar os outros com melodias, da mesma forma que minha mãe fazia comigo. Assim chegou o dia da minha tão esperada aula. Entrei na sala e a professora estava lá, com um outro aluno, um pouco mais velho que eu, auxiliando-o a tocar. No momento, imaginei-me naquele ambiente, tocando. Ao perceber a minha presença, a professora logo parou e se apressou em vir me receber. Fiquei feliz e, em seguida, chegou minha vez de
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sentar diante do piano. Já havia algumas vezes tentado tocar em casa, mas nunca foi algo tão sério como naquele momento. Não era simples como pensei. Antes de tocar meus pequenos dedos naquelas teclas, teria de aprender a ler partituras, descobrir onde se localizava cada nota musical e outras regras básicas. Eu não desisti. Treinei, e treinei por muitos dias. Chegaram a ser anos, até que, finalmente, eu tive a chance de me apresentar em um teatro. Tinha apenas dez anos e, ao entrar no teatro, vendo aquelas cortinas que logo se abririam para mim, a ansiedade tomou conta do meu corpo. Estava toda arrumada, com um vestido roxo e um coque no cabelo, clássico. Ao subir no palco e olhar para o enorme público, meus dedos começaram a tremer, mas eu não podia falhar bem naquela hora. Tive de manter a pose, me concentrar e tocar. Enquanto tocava, parecia que todas aquelas pessoas haviam desaparecido, entrei em meu próprio mundo, o mundo da música. Ao final, recebi muitos aplausos e me emocionei. A partir daquele dia, meus pais me apelidaram de pequena pianista. Toco piano até hoje, é o que faço na maior parte do meu dia, é minha paixão. Não existe sensação melhor do que emocionar as pessoas, de ter um sonho realizado.
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Sonho de adolescente Texto: Rodrigo Polito Bianchini – turma 213 Ilustração: Thalia Camacho Gardin – turma 213
Era a viagem mais esperada do ano. Todos estavam eufóricos. A animação era inimaginável e a ansiedade por novas experiências era tamanha que ninguém ficava quieto nem sequer um minuto. Já na parada do ônibus, antes de chegar ao hotel, pude perceber que tudo aquilo seria inesquecível. Barra Bonita foi um sonho, do começo ao fim, e cada segundo dentro daquele hotel foi aproveitado com animação, alegria e de uma maneira muito descontraída. Cada conversa no quarto com meus amigos, cada momento na piscina, cada ritual pré-jogo, cada festa, cada refeição... Tudo era parte de algo que se tornou memorável para nós. Por outro lado, também fizemos história. O Quem Tá Bem Futebol Clube consagrou-se campeão de forma inédita na CIA CUP, trazendo a taça para o Sagrado pela primeira vez em sua história. O clube fundado em 2016 já tem muita história para contar. Uma união entre amigos, em que o carisma, a fé, a simplicidade e a humildade reinam em cada um.
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Foi tudo um sonho que se iniciou quando vencemos o time do Bandeirantes por 2x0. Nas quartas de final, acabamos enfrentando nossos amigos e maiores rivais: o Retidos FC, que acabou sendo vencido em um grande jogo finalizado em 3x1. O mesmo aconteceu com a equipe do Arquidiocesano, que não teve a mínima chance em uma partida com o resultado de 8x5. A final foi repleta de euforia e críticas por parte das equipes derrotadas, que apoiaram o time do Colégio Metodista com todas as suas vozes e tentaram desmoralizar a equipe do Quem Tá Bem FC, a qual não se abalou e respondeu dentro de quadra. Em dia muito chuvoso, marcado por duelos dentro e fora de campo, o placar marcou um atropelo a nosso favor: nos rostos dos jogadores, o choro e a felicidade de quem fazia história. Mais tarde, no jantar de gala, o capitão Tiago levantou o caneco e nós mostramos para todos presentes que, mesmo diante de críticas e desaprovações, a fé compartilhada na “Hora da Liturgia” prevaleceu e o que era justo desde o começo acabou por se concretizar. Participantes da história: Alexandre Moretti França Enzo Scervino Cardoso Lucas Moretti Marangoni Rodrigo Rezende Pereira Tiago Paschoal Pereira Victor de Andrade Scapin
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A Ilha Misteriosa Texto: Fernanda Helena Neto e Silva – turma 211 Ilustração: Giovanna Ancona – turma 211
Parece que foi ontem que minha mãe completara quarenta anos e eu sete. Mesmo após um longo período, eu me lembro completamente da Ilha de Páscoa, localizada no sul do Oceano Pacífico, e cada detalhe ficou gravado em minha memória. Viajei por horas em um avião quase vazio, usando minha mãe de travesseiro e meu pai como apoio. Dormi todo o trajeto e quando acordei: bem-vinda à Ilha! Esse foi um dos menores lugares onde já estive. A ilha mede, aproximadamente, 163,6 quilômetros quadrados. Atravessá-la era fácil, sendo que o deslocamento levava cerca de uma hora. Visitei os Moais, as grandes estátuas de pedra, o Vulcão Rano Raraku, atualmente inativo, a antiga cidade de Orongo e belíssimas praias... mas o auge foi a ida à caverna Ana Kakenga. Na época, eu era pequena e acreditava em muitos seres mágicos, mas sei e garanto que vi um brilho o qual me guiou para dentro de uma caverna, levando-me a encontrar o presente de aniversário da minha mãe. Esse brilho, em um primeiro momento, parecia um punhado de gliter jogado no ar. Na minha imaginação infantil, naquele momento, eu estava realizando um sonho: a visão de uma fada! Aquela magia inédita me conduziu a um determinado caminho e, tomando a frente do guia, segui sozinha até a caverna Kakenga. Arrisquei-me dentro dela, sempre seguindo aquele indecifrável brilho. Até que parei de caminhar, agachei-me e peguei entre meus pequenos dedos um anel frágil, perfeito. Estava em ótimas condições, parecia ter acabado de sair de uma joalheria! E sim, foi esse o presente de minha mãe. Um anel simples, marcante, com uma grande história.
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A queda Texto: Mateus de Almeida e Silva Dorigon- turma 221 Ilustração: Alison Borba Ferreira – turma 221
Com um solavanco e uma guinada, a grande porta de carvalho entalhado se abriu, revelando ao jardineiro o cômodo que guardava, em meio aos rangidos e estalos das dobradiças deterioradas. - Meu senhor, venho informar-lhe que estou partindo – declarou pesarosamente o rapaz. Gesticulei para que desse um passo à frente, permissão que causou a ascensão de uma nuvem de poeira advinda do carpete. - É passível de terror, a situação pela qual passamos, Florêncio. Obrigado pelo serviço prestado, e... desejo-lhe as melhores oportunidades. Vá com Deus, sim? – apontei, enquanto direcionava o olhar para os arbustos nos jardins. As sombras projetavam uma dança sinistra nas névoas crepusculares, conforme a brisa suave os atingia. Escuridão sobrepondo trevas. Seu pai fora meu funcionário antes dele, e o avô, antes ainda. O jovem seguiu o ofício da família e até que estivesse apto para assumir o cargo, punha-se a desenvolver-se em meu patrimônio, sob minha tutela. Eu vira o progenitor dar seu último suspiro enquanto meu confiável funcionário era incapaz de assumir a própria vida. Até a maturidade, providenciei todos os cuidados. Agora, tudo parecia ter sido em vão. Florêncio assentiu, cabisbaixo, e então se retirou. Além de possuir sua estrutura como fruto da construção de minha casa, também re-
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presentava a última reminiscência de todo um corpo de criados que já agiu nos bastidores de um lugar onde outrora fora tomado como um verdadeiro lar, permeado de felicidade, não só para os proprietários, mas inclusive para os agregados. Levantei-me da poltrona em que me sentava, dura como pedra. Com os primeiros indícios da falência, toda a rica mobília de meu solar fora vendida. Naquela época, ainda tentando me iludir com o fato de que não poderia mais sustentar o mesmo estilo de vida de antes, acabei por providenciar cópias idênticas dos móveis clássicos, porém de qualidade inferior. Ao olhar para as paredes, era possível observar obras de arte tão magníficas que não poderiam ser encontradas em nenhum outro lugar do mundo. Grandiosos bailes e jantares eram organizados aqui, mas de vez em quando, na tentativa de disfarçar o esnobismo e elitização, fazíamos alguns eventos beneficentes. Uma vez, até cheguei a abrir a casa para visitação da população local, residente da área aos arredores de minha morada. Saí da sala e adentrei em um corredor extenso e largo. Em sua extremidade, só havia um espelho, em proporções colossais. Segui reto, evitando encarar meu reflexo, não querendo bater de frente com o que me tornei, tão reduzido, tão fraco. Estive doente por um longo período. Ainda conseguia custear meu tratamento, na época. Quando comecei a melhorar, uma esperança de fuga da crise também surgiu, mas o pior ainda estava por vir. Um dia quando acordei, recebi uma carta do banco. Minha conta fora esvaziada e todo o meu capital sumira, juntamente com minha amada. Alcancei a porta da frente antes que o jardineiro partisse. Agora, conseguia ver bem a minha situação. O imponente sobrado vitoriano da família se erguia sobre mim, não mais dourado, e sim com uma cor de limo opaca. Acenei, com um sorriso melancólico no rosto, ao assistir ao homem partir. Lá se ia um resquício da era áurea, que se converteu em um baque sem precedentes.
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Ele era diferente Texto e Ilustração: Stephanie Mark Li – turma 222
Sonhador ele era. Esperançoso também. Mas, acima de tudo, ele era diferente. Muitos de sua idade estavam na escola brincando com outros amigos e aprendendo lendo livros, mas a realidade dele era outra. Tinha uns sete ou oito anos. Era magro, um pouco mais baixo em relação às crianças da sua idade. Não se destacava em nada fisicamente. Vivia nas ruas. Ainda era pequeno e estranhava tudo o que via. Questionava o porquê dos fatos. Quando pedia algum trocado, percebia que as pessoas o ignoravam. Não sabia bem a razão disso. Pedia dinheiro para os carros, mas quando se aproximava, as janelas subiam sempre. Não conseguia nada desse jeito. Sua barriga roncava constantemente. Não tinha dinheiro suficiente para comprar um lanche e muitas vezes era expulso dos estabeleci-
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mentos antes de pedir algo ao atendente. Quando conseguia alguma coisa, era obrigado a destinar o valor ao seus pais. Porém, naquele dia, tudo mudaria, ele pensava. Tinha esperanças de que sua barriga não roncaria mais. E realmente o cotidiano da criança foi quebrado por uma situação inesperada. Quando foi pedir dinheiro entre os carros naquela tarde, um deles finalmente abaixara o vidro. Seu coração começou a disparar. Nunca chegara naquela etapa. Seus olhos brilhavam. E um sorriso estampava seu rosto. Uma mão se estendera para fora da janela com uma nota de cem reais. Uma cara de surpresa. Afinal, nunca vira uma nota daquelas em sua vida. Agradeceu infinitamente o moço do carro. Prometera para si mesmo que iria guardar muito bem aquele dinheiro e usá-lo sabiamente. Nem sequer sabia o que seria usar algo “sabiamente”, apenas prometera aquilo. Não contou nada aos pais. Tinha medo do que poderia acontecer se soubessem. Andou saltitando pelas ruas e, no caminho, encontrou um velhinho. Sua fisionomia era oposta a do menino. Estava triste, desanimado. Fechava os olhos para imaginar uma outra realidade. Percebendo o desânimo do homem, o menino pensou que poderia deixá-lo mais feliz se lhe desse aquele dinheiro. Achou que se ele tivera aquela felicidade toda ao receber aquela nota, poderia fazer com que o velhinho também tivesse toda aquela euforia. Como dito anteriormente, o menino era diferente. Decidiu então dar o dinheiro que acabara de receber. O sorriso no rosto do homem apareceu simultaneamente. Mas ele, após cinco segundos de plenitude, pensou que não poderia aceitar o dinheiro da criança. Sentir-se-ia pior diante de tal situação. O menino teve a ideia então de usar aquele dinheiro juntos. Convidou o velhinho para tomar um lanche. O sorriso voltou a se estampar no rosto do homem. Ao sentarem à mesa, os dois sorriam como se tivessem conquistado a verdadeira felicidade, o menino tinha agora a perfeita consciência do que era usar algo sabiamente. Ele sentia que estava no caminho certo. A felicidade era, de fato, possível.
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O desafio da gramática Ttexto: Rogério Begliomini de Alencar – turma 223 Ilustração: Alison Borba Ferreira – turma 221
Há muito tempo, conta-se a história do lendário capitão José, conhecido pelo seu jeito durão e com muita precisão no linguajar: ele convertia todos que cruzassem seu caminho a pronunciar corretamente todos os vocábulos da língua. A língua portuguesa era sua única e verdadeira religião. Durante um dia, às duas horas da tarde, o capitão aprisionou quatro piratas em seu navio, os quais haviam cruzado seu caminho, desafiando-o a um duelo de vocábulos. O vencedor seria quem pronunciasse melhor todos os vocábulos e respondesse de forma correta todos os desafios gramaticais. José sentou-se numa cadeira bem ao centro de seu navio e começou o duelo, interrogando os prisioneiros. O capitão ordenou que o primeiro, um jovem pirata, se aproximasse. Seu nome era Arthur. O jovem logo fez sua pergunta para o senhor na cadeira. Em seguida, o capitão levantou-se e falou: quem deve perguntar sempre primeiro sou eu! Somente se o seu oponente acertasse, poderia fazer uma pergunta. O professor José rapidamente falou a palavra zarpar e perguntou a Arthur qual era sua classe gramatical. O jovem errou e foi encaminhando à prisão, aguardando sua pena. O senhor chamou o segundo pirata. Seu nome era João Paulo e tinha uma aparência envelhecida. O capitão começou a fazer uma pergunta sobre flexões do substantivo naviarra. João pensou e disse ser um substantivo masculino, singular e diminutivo. Pouco tempo depois, o capitão diz que estava errado. João Paulo pergunta o porquê
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e o senhor responde que ele acertou parcialmente, mas errou no final, já que era aumentativo e não diminutivo. João Paulo acaba tendo o mesmo destino de Arthur e se junta a ele. Chamou o terceiro pirata, uma mulher; seu nome era Valentina, mas usava seu apelido Valente. Ele fez uma pergunta fácil: qual é o sinônimo de navio? Ela logo respondeu corretamente. Afirmou que era embarcação. Chega o momento pelo qual todos estavam aguardando, uma pergunta ao capitão. Valentina perguntou: - Segundo a classificação de substantivos, qual era a do substantivo navio? José responde, com muita precisão, que era concreto, ele havia acertado a pergunta e seus homens comemoraram. Ele dirigiu-se à sua próxima pergunta relacionada à palavra veleiro: é um adjetivo, advérbio, substantivo ou uma locução verbal? Valentina respondeu, de forma imprópria, como sendo advérbio e foi mandada para junto dos outros. O capitão chamou o último pirata, um homem de meia idade, conhecido pelo apelido de O correto. Seu nome era Roberto. Havia rumores de que esse homem era um pirata que não falhava em sua pronúncia e significado das palavras. A pergunta a ele foi: qual das palavras não é sinônimo de navio: galera, vaso, nau, vasilha ou piroga? Roberto respondeu corretamente: vasilha. O senhor, já com um pouco de medo, esperou a pergunta que iria derrotá-lo. O correto logo pensou numa pergunta sobre algo que nem o bravo capitão saberia responder: qual o prefixo da palavra antinavio? O capitão pensou que seria o anti, mas pelo nervosismo e uma certa insegurança falou vio. Ele havia errado e todos ficaram apavorados. O capitão alegou que estava cansado e tentou fugir daquela situação embaraçosa. Assim que José disse que estava cansado, Roberto falou que a pena de seus amigos não deveria ser a de ficar na prisão e sim aprender gramática com ele e com o capitão. A proposta foi aceita: aprender com Roberto e com ele, capitão José! Os outros três piratas aceitaram de bom grado a pena. Melhor estudar gramática em 44 lições com seus dois mestres do que andar em cima da tábua e ser jogado ao mar!
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Escravidão na contemporaneidade Texto: Débora Moreira Carneiro Rezeck – turma 231 Ilustração: Giovanna dos Santos Bianco – turma 231
Após a Guerra Fria, passou a vigorar o fenômeno denominado globalização, modelo econômico de viés capitalista, no qual o consumo é constantemente incentivado. Assim, a busca pela produção com melhor custo benefício foi intensificada, sem considerar, em muitos casos, as condições de trabalho daqueles que produzem as mercadorias. Nesse cenário, milhares de pessoas são escravizadas para atender às demandas mercadológicas, o que torna urgente a interferência nessa injusta situação. A desigualdade é um fator marcante na pós-modernidade. Ela é potencializada pelo fato de muitas pessoas, ao tentar assegurar o sustento de suas famílias, aceitarem condições de trabalho indignas, colocando a saúde e a liberdade em risco. Muitos bolivianos, por exemplo, são explorados em oficinas de confecções na cidade de São Paulo, trabalhando em ambientes insalubres, com longas jornadas e tendo o mínimo retorno financeiro. É possível constatar, portanto, que essa mo-
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dalidade de trabalho está relacionada a um tipo de escravidão, na qual o indivíduo possui pouca ou nenhuma autonomia para gerir sua vida. A falta de fiscalização e de punição, quando necessário, serve de estímulo para que o trabalho degradante se perpetue. É comum a apresentação, em diversas mídias, de notícias relatando o fato de importantes empresas utilizarem trabalhado escravo para expandir seus lucros, pois, em geral, não encontram empecilhos em tal prática. Desse modo, medidas são necessárias para combater a exploração dos trabalhadores. É importante que o Ministério do Trabalho realize verificações constantes em locais de produção de bens de consumo e, se constatada condição de escravidão, deve-se haver punições justas, as quais inibam esse tipo de crime. A sociedade civil, por meio de Organizações Não Governamentais, pode agir na promoção de ações a fim de facilitar o acesso de pessoas com vulnerabilidade social a empregos nos quais haja respeito à jornada de trabalho e à remuneração mínima. Por fim, o consumidor possui um papel fundamental nessa situação, informando-se e não comprando produtos oriundos de mão de obra escrava.
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Fim dos Fatos Texto: Daniela Diamantino – turma 232 Ilustração: Isabela Novelli Maciel – turma 214
Todos os anos, o dicionário Oxford elege a palavra do ano. Em 2016, o termo eleito foi “pósverdade”, que denomina uma situação em que os fatos perdem sua importância em relação às convicções pessoais, de modo que a verdade torna-se irrelevante. O aumento do uso dessa palavra exprime algo significativo sobre a realidade atual, na qual os fatos são cada vez mais distorcidos para atender interesses de alguns indivíduos. Assim, há medidas de ordem pessoal e coletiva que necessitam ser realizadas, a fim de evitar a disseminação de narrativas parciais e tendenciosas. A sociedade contemporânea vive conectada. Apenas no Facebook, em fevereiro de 2017, havia mais de dois bilhões de usuários. Tais circunstâncias possibilitam um fluxo de informação de proporção inédita na história. Essas conexões facilitam a propagação de textos não verídicos em uma escala alarmante. Na maioria das vezes, tais textos apresentam a mesma estrutura de notícias de fontes conhecidas e convencem grande parte dos leitores, os quais formam opiniões a partir dessas informações e tendem a compartilhá-las, disseminando ideias que correspondem apenas à versão na qual alguns preferem acreditar. A pós-verdade mostrou-se uma arma poderosa durante o período de eleições, em diversos países, como no Brasil e até mesmo nos Estados Unidos. Foi na eleição norte-americana, mais recente, que o termo ganhou notoriedade, designando uma das estratégias que pode
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ter influenciado a vitória de Donald Trump em um dos momentos mais conturbados da história política americana. Em um mundo onde as pessoas demonstram ter uma necessidade cada vez maior de opinar sobre todos os acontecimentos, a pós-verdade não pode ser ignorada. Os leitores precisam estar atentos à manipulação de dados e informações, sabendo identificá-las e tendo o cuidado de evitar sua difusão. As mídias sociais, nas quais esses textos são postados e reproduzidos, também podem adotar medidas de punição, como o banimento de páginas de notícias falsas. É preciso que as pessoas compreendam a dimensão do transtorno causado pela disseminação de fatos não verdadeiros e o modo como eles influenciam a realidade.
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Tecnologia e educação Texto: Lucas dos Santos Formigoni – turma 232 Ilustração: Alice Victoria Reis Moura – turma 212
Considerado como uma das grandes revoluções dos séculos XX e XXI para diversos filósofos e sociólogos, o avanço tecnológico, além de trazer conquistas e desenvolvimento, também mostra sua face preocupante. Cresce o número de indivíduos, principalmente crianças, escravas de aparelhos tecnológicos que, nos últimos anos, tomam o lugar de livros, de brincadeiras e de atividades físicas. Tal assunto, pauta na sociedade contemporânea, precisa ser discutido com cautela e atenção, em especial no ambiente educacional. Segundo Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, vivemos em uma modernidade líquida, fruto de tecnologias que vêm usurpando as relações pessoais, tornando-nos seres de extrema fragilidade social e marcados pela superficialidade. O mesmo, por sua vez, ocorre nas salas escolares. O uso da tecnologia, embora traga benefícios, pode consolidar um tipo de aluno fragmentado e robótico, o qual depende de um aparelho conectado à rede para encontrar-se no mundo. Observa-se uma situação em que, de modo geral, ocorre o fim da relação professor-aluno ou “aluno-aluno’’ e se estabelece a interação “homem-máquina”, potencializada pelo uso contínuo de tablets e smartphones. Entretanto, não se pode vestir um manto apocalíptico em relação aos avanços tecnológicos, os quais também oferecem uma grande possibilidade de desenvolvimento, principalmente na construção do conhecimento. É válido ressaltar, por exemplo, a democratização das
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informações no mundo digital, no qual o aluno tem uma facilidade maior para pesquisar temas tratados em sala e buscar novos dados, construindo uma base mais sólida para o seu amadurecimento intelectual. Além do mais, existe o encurtamento das distâncias, havendo possibilidade do indivíduo estar lado a lado do seu professor ou colegas de trabalho via comunicação remota. Portanto, embora a tecnologia possa ferir as relações humanas, é inviável retirá-la das salas de aula e do cotidiano. Nas aulas, é importante orientar os alunos sobre como usar de forma adequada os aparelhos eletrônicos, assim como utilizar a própria tecnologia para fins acadêmicos e para otimizar os processos escolares. Ademais, do ponto de vista pessoal, é preciso fazer uso do bom senso e do conhecimento para não se tornar um escravo tecnológico.