EDIÇÃO Nº 1
O LH O DA
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UM MANUAL PARA FLANAR EM BELO HORIZONTE: 1) Escolha um local de partida; 2) Não delimite um local de chegada; 3) Vá. DICAS PARA UM FLANEUR COM TIMIDEZ DE PRINCIPIANTE: Olhe ao seu redor, ache um caminhante desconhecido, siga-o até o seu destino. O seu acaso agora ao desconhecido pertence. A partir de então, você terá um destino. Cabe a cidade te dizer qual é.
A cidade é escrita. Foi escrita, planejada, idealizada, sonhada, rabiscada, mapeada, negociada e transbordada para as entrelinhas. Cidade que fala, que grita, que opina, politiza, aluga-se, procura-se, pede direitos, pede clientes, pede impeachment, pede prece, pede mais uma rodada, pede ponto, pede carona, pede seu amor de volta em três dias. E vende ouro, vende tecido, vende sonhos, Aluga kitnet, aluga fantasia, aluga seu ouvido “já ouviu a palavra de Cristo hoje?”. Cidade que se escreve em linhas, desmancha em tinta, se ocupa em muros, se prolonga em nomes, que por sua vez, se dividem em números. No pixo e no outdoor, no metal já corroído em estilo art deco que anuncia a portaria do Edifício Levy. Ao lado, vendese caldo de cana. Em frente a rua exclama PARE. Do andar número sete se vê uma medianeira que fala não a língua dos homens, mas dos urbes. Na esquina, veja só, se faz câmbio. Termino o quarteirão em interseção.
Créditos: Sandra Leão - dj e colecionadora de fotos 3x4
Caminho nessas ruas e ando em bando, ainda que só. Sigo em passos coreografados, por pouco não te esbarro. Somos muitos, muito sós, andamos em coro, uníssono. Alcateia. Cardume. Enxame. Como os que andam entre os seus, gramaticalmente falando, o que seria o coletivo dos urbanos?
Trabalho de Conclusão de Curso; Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Jornalismo; 1/2022 Produzido por: Caio Brandão Carol Fonseca Catarina Ayres Guilherme Sá Mariana Cavalcanti Orientado por José Márcio Barros