Revista em Família nº49

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INSPETORIA SANTA CATARINA DE SENA

Inspetoria Santa Catarina de Sena

| Ano 40 | n° 49| janeiro fevereiro março e abril | São Paulo | SP

No ano de 1892, começa a história das Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil


Editorial

Com Maria, vamos para frente! Prezados Leitores, Em pleno tempo pascal, temos a alegria de receber o primeiro número do “Em Família-2017”. Com o Cristo Ressuscitado, Senhor da vida e da história, neste ano, celebramos com alegria e gratidão alguns momentos significativos na caminhada de nossa Inspetoria. A Ti, Deus, o nosso louvor e Ação de Graças: • Pelos 125 anos da chegada das 12 primeiras Filhas de Maria Auxiliadora vindas do Uruguai ao Brasil, na cidade de Guaratinguetá – Instituto Nossa Senhora do Carmo. Contemplemos a audácia, a coragem, a paixão educativa dessas mulheres que foram capazes de deixar tudo para aqui, semear o Reino de Deus segundo o coração de Dom Bosco e de Madre Mazzarello. • Pelos 110 anos de vida e história do Colégio de Santa Inês-São Paulo. Deixemos rodar um filme, em nossa mente e em nosso coração, e certamente veremos as numerosas crianças, adolescentes e jovens que passaram pelos espaços educativos dessa entidade. Quantos desafios e sonhos foram cultivados! • Pelos 90 anos do Instituto Coração de Jesus – Santo André! Muita doação e compromisso em formar bons cristãos e honestos cidadãos, testemunhando o amor preveniente de Deus. Dom Bosco costumava dizer: “É Maria que nos conduz!” Agradeçamos a presença da Mãe Auxiliadora que acompanhou, guiou, orientou toda vida e missão durante todos esses anos e com certeza podemos afirmar: Ainda hoje, é Ela quem tudo faz! O “Em Família” vem também enriquecido por lindas e profundas reflexões que nos possibilitam a leitura e o aprofundamento para melhor vivermos nossa vocação humana, cristã e religiosa. Façamos tesouro de tudo isso para que nossa vida seja sempre mais profética e nossa missão de discípulas-missionárias comprometida com a vida, sobretudo, com os que mais sofrem. No mês de maio do Ano jubilar Mariano, acolhamos as palavras de Maria: “Façam tudo o que ele lhes disser” e, a seu exemplo, cresceremos em nossa vocação sendo “auxiliadoras principalmente entre os jovens” . Com Maria, vamos para frente! Um fraterno abraço.

Ir. Helena Gesser Redação, produção e distribuição Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Andréa Pereira Projeto gráfico Andréa Pereira Capa : Banco de Imagens Revisão Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Fotos Inspetoria Santa Catarina de Sena Colaboração Irmãs e Comunidades da Inspetoria Santa Catarina de Sena

Contato editorial@fmabsp.org.br EM FAMÍLIA | Ano 40 | nº 49 Centro de Comunicação Marinella Castagno

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Rua Três Rios, 362, Bom Retiro 01123-000 São Paulo | SP Tel. 55 11 3331 7003 www.salesianas.org.br Em Família é uma publicação formativa, que divulga e informa sobre o cotidiano das comunidades das Filhas de Maria Auxiliadora na Inspetoria Santa Catarina de Sena e suas frentes de trabalhos.


Sumário

COLÉGIO DE SANTA INÊS

110 anos de História

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO:

Dia das Comunicações Sociais

Relembre e fique sabendo o que aconteceu em nossas comunidades nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril, programe-se para as próximas atividades. Divirta-se, emocione-se, Em Família.

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Editorial Capa Artigo Entrevista Registro É Festa Programe-se Falecidos

ENTREVISTA

Entrevista com Ir. Theresinha de Castro

MENSAGEM DO REITOR MOR

Festa de Dom Bosco e o ano de 2017

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Capa

As Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil e no Estado de São Paulo Por Irmã Maria de Lourdes Becker

No ano de 1875, Dom Bosco iniciava a expansão de sua Obra, além dos limites europeus, atravessando o Atlântico e chegando à América, mais precisamente à Argentina. Conforme seus biógrafos, este empreendimento não se deu por acaso nem de maneira improvisa. Desde a juventude, Dom Bosco havia sentido os apelos das terras distantes. Jovem sacerdote aprendeu um pouco de espanhol e não partiu para terras longínquas, com os Padres Oblatos de Maria, porque foi impedido por seu conselheiro espiritual que afirmava que sua missão estava entre os jovens da periferia de Turim.

selvagem, emoldurada por uma altíssima cadeia de montanhas, habitada por homens de grande estatura, cor bronzeada, seminus e de aparência feroz. Todos com peles de animais nos ombros, nas mãos lanças e laços corriam pela planície, caçando animais, lutando entre si, atracando-se com soldados europeus e deixando o campo coberto de cadáveres.

“De repente, diz Dom Bosco – aparece no horizonte um grupo de homens que, pela maneira de trajar, logo reconheci como missionários. Aproximam-se daqueles infelizes com o rosto sorridente que se preparavam para lhes pregar o evangelho. Fitei alguns para ver se conhecia a que Ordem pertenciam ou até mesmo Dom Bosco ficou entres seus meninos, mas não se os conhecia pessoalmente. Tudo em vão! Aliás, abandonou o ideal missionário. Numa noite, do os selvagens não deram tempo para isso. À medida ano de 1871, um ‘sonho´ inflamou ainda mais o que os iam alcançando, atiravam-nos por terra, desejo de transplantar seus salesianos e Filhas assassinavam-nos e reduziam-nos em pedaços(...) Eu de Maria Auxiliadora. Nesse sonho, ele se viu pensava comigo: quem poderá conseguir converter transportado a uma imensa e desconhecida região esses selvagens? Estava imerso nestas reflexões, 4 | Em Família


Capa quando vi aparecer, do mesmo lado do horizonte, um segundo grupo de missionários. Não eram muito numerosos, mas tinham um ar alegre e vinham precedidos por uma multidão de meninos. Vão também assassiná-los, pensei. E me pus a observálos para ver se os reconhecia. Alguns, sim. Eram todos salesianos e poderia nomear diversos deles. Fiz então sinais para que parassem, pois estavam correndo ao encontro da morte. Mas, não foi assim! Apenas se aproximaram, aqueles homens lhes faziam festas, depuseram as armas, deixaram a ferocidade natural e receberam aos recém-vindos com sinais de simpatia. “Vamos ver em que vai dar isto!”, pensava. E com minha grande surpresa, tudo acabou muito bem. (...)” ¹

em todo caminho de aperfeiçoamento moral e religioso que pare na satisfação de objetivos já alcançados(...) Não se deve também excluir a vontade de se livrar dos muitos assédios locais e legalistas, em nível civil e canônico: de um lado, títulos acadêmicos, inspeções, regras paralisantes; de outro, as rigorosas normas sobre ordenações, a excessiva institucionalização da formação religiosa, a imposição de etapas e vínculos inflexíveis na formação cultural, (...)” ² Também para este novo projeto, Dom Bosco recebeu o incentivo de Pio IX que recomendou aos salesianos duas metas principais na América do Sul: dar assistência aos filhos dos numerosos imigrantes italianos e ocupar-se da evangelização A partir desta noite, Dom Bosco procurava nos dos indígenas, inaugurando assim novas frentes atlas, nas ilustrações dos livros, nas descrições para as atividades educativas dos salesianos, de viajantes, nas conversas com missionários de porém, sem perder de vista a finalidade primeira do passagem, os traços dos selvagens do sonho atendimento à juventude pobre e sedenta de amor. que tanto o impressionara. E um dia, o cônsul da Argentina, Comendador João Gazzolo, residente em No dia 14 de novembro de 1875, os dez primeiros Savona, conheceu os salesianos que ali trabalhavam missionários salesianos, liderados pelo Padre e manifestou o desejo de tê-los em sua Pátria. Em Giovanni Cagliero³ , zarparam do Porto de Gênova 1874, indo a Turim, visitou Dom Bosco e, propôs- e desembarcaram em Buenos Aires no dia 17 de lhe, principalmente, em nome do Arcebispo de dezembro, iniciando uma nova história no Novo Buenos Aires, que aceitasse a evangelização das Continente. Em Buenos Aires e em San Nicolás imensas regiões desertas que se estendem ao sul da de los Arroyos fundaram obras destinadas, Argentina: Patagônia, Terra do Fogo e Arquipélago principalmente, aos imigrantes italianos, conforme de Magalhães. Durante a conversa com o Diplomata, a recomendação da Santa Sé, porém, “o apostolado ficou claro para Dom Bosco que os ‘selvagens do dos salesianos não deveria limitar-se à população sonho’ eram os Patagões do extremo sul argentino de origem europeia, pois, ninguém desconhecia e imediatamente aceitou o pedido. o objetivo distante: a Patagônia”4 . E, quatro anos Além de anunciar Jesus Cristo aos ‘desconhecidos’ de além-mar, era, como afirma Pietro Braido, resposta “em face de suas preocupações mais ou menos explícitas: a instituição, a Congregação, podia correr risco do apagamento e da fossilização caso não se lançasse em novos objetivos, como acontece – segundo sua doutrina espiritual –

depois, iniciaram as atividades missionárias entre os patagões. Em 1876, os Salesianos chegaram a Montevidéu, Uruguai, no dia 11 de dezembro e a primeira casa fundada foi o Colégio Pio de Villa Colón, sob a direção do Padre Luís Lasagna.5

¹ Cf. Auffray, A, Dom Bosco, segunda edição, tradução de R. Zend., São Paulo, Livraria Editora Salesiana, 1955, p. 384-385. ²Braido, Pietro – Dom Bosco: Padre dos jovens no século da liberdade , vol. II , tradução de Lopes, Geraldo, São Paulo, Editora Salesiana, 2008, p. 129. ³ Padre Giovanni Cagliero entrara com 13 anos no Oratório, em novembro de 1851. Formado por Dom Bosco como aspirante à vida eclesiástica e salesiana, tornou-se o segundo no Conselho que assistia o Fundador no governo da Sociedade Salesiana. Foi bispo de Casale em 1908 e Cardeal Arcebispo de Turim (1909-1912). Monsenhor Cagliero foi o primeiro Cardeal Salesiano. Morreu de infarto em Turim, em 1926, com 88 anos, declarado Servo de Deus em 1988 e está próximo de ser beatificado.

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Capa De 1878 a 1881, a América Latina foi considerada única Província, com sede em Buenos Aires, abrangendo as Obras da Argentina e do Uruguai. Em 1887, começa a história missionária das Filhas de Maria Auxiliadora como narra a Cronistória: “No dia 08 de setembro –festa de Maria Santíssima e primeiro sábado – é comunicada à comunidade a decisão de Dom Bosco para uma primeira partida das FMA para a América: sua meta será o Uruguai. Ao ouvir tão bela notícia, um hino de alegria se eleva de cada coração: todas são gratas a Nossa Senhora pela escolha que quis fazer de tão pobres filhas para enviá-las além-mar pela redenção de tantas almas sedentas de luz, de vida eterna” (I volume da Cronistória das FMA, p. 220.) Entre as muitas que se ofereceram, foram escolhidas seis, todas muito jovens e Irmã Angela Valllese6 eleita como superiora. Antes da grande viagem são recebidas pelo Papa Pio IX, que com grande ternura, dirige-lhes as palavras: “sede como conchas das fontes que recebem a água e a derramam para utilidade de todos: conchas de virtude e de ciência... Como verdadeiras mães, solícitas e amorosas, fareis muito bem” (Cf. Cronistória, volume I p. 227). No dia 14 de novembro, as Filhas de Maria Auxiliadora, juntamente com a terceira expedição missionária dos salesianos, partem para o Uruguai, e na solene despedida, Dom Bosco explica-lhes: “Não sereis logo missionárias entre os selvagens, mas começareis a consolidar o Reino de Deus no meio dos fiéis que o abandonaram: depois, haveis de propagá-lo entre os que não o conhecem”. Realmente, começaram a trabalhar em Villa Colón, numa casa muito pobre e três anos depois iniciam,

com os Salesianos, o tão desejado trabalho com os indígenas na distante Patagônia. No dia 14 de junho de 1883, os Salesianos chegaram ao Brasil, mais precisamente a Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, depois de amplas conversações e entendimentos entre o Bispo do Rio de Janeiro, Dom Pedro Maria de Lacerda e os Superiores da Congregação. Conforme o historiador Riolando Azzi, “Os primeiros discípulos de Dom Bosco não se instalaram em nossa Pátria espontaneamente, ou seja, a partir de uma decisão da Congregação, mas, sim como resposta a uma solicitação de diversos membros do episcopado brasileiro, empenhados no movimento de reforma católica(...) Desde meados do século XIX iniciou-se no Brasil um importante movimento do episcopado brasileiro, empenhado na substituição do antigo modelo eclesial da Cristandade, de origem medieval, implantado no período colonial, pelo modelo de Igreja considerado como sociedade hierárquica, preconizado pelo Concílio Tridentino. Na realidade, a Igreja do Brasil nasceu como um departamento do Estado Lusitano, em vista dos direitos de Padroado conferidos pela Santa Sé à Coroa de Portugal. Durante todo o período colonial, e ainda nas primeiras décadas do século XIX, o chefe efetivo da Igreja aqui estabelecida era o monarca lusitano, sucedido posteriormente pelo imperador do Brasil”7 Desde 1878, Dom Bosco e sua obra tornaram-se admirados no Brasil graças à imprensa que se referia com grandes elogios ao trabalho educativo que os salesianos vinham fazendo em favor dos meninos pobres de Turim. Alguns anos depois, da mesma forma, as Filhas de Maria Auxiliadora se tornaram

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Cf. Wirth, Dom Bosco e os Salesianos, São Paulo, Editorial Dom Bosco, 1971, p. 220 5 D. Luigi Lasagna nasceu em Montemagno, Asti, Itália, em 1850.. Em 1862 entrou para o Oratório de Valdocco.Em 1866 vestia o hábito talar e em ‘68 era já Salesiano. Dom Bosco escolheu-o para a

segunda expedição missionária, em 1876. Primeiramente como Diretor do Colégio Pio de Villa Colón, no Uruguai, depois como Inspetor, desenvolveu intensa atividade, que deixou marcas profundas não apenas na vida da Congregação salesiana no Uruguai e no Brasil, mas também no campo da ação educativa e social. Em 1883 dá inicio à Obra salesiana no Brasil. No início de 1893, D. Lasagna foi preconizado Bispo titular de Trípoli e o Santo Padre, em audiência especial, lhe recomendava as Missões do Uruguai. Faleceu, no Brasil, em desastre de trem no ano de 1895, em Juiz de Fora, Minas Gerais 6 Nasceu em Lu Monferrato (Alessandria) no dia 18 de janeiro de 1854 e faleceu em Nizza Monferrato (Alessandria) no dia 18 de agosto de1914.   Foi a primeira a iniciar a ação missionária no Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Fez parte da terceira expedição missionária ao Uruguai liderada por Dom Costamagna.  7 Azzi, Riolando, Os Salesianos no Brasil à luz da História, Editora Salesiana de Dom Bosco, São Paulo, 1982, p.15

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Capa conhecidas e desejadas, tanto pelas autoridades eclesiásticas como pelas civis que reconheciam a urgência da educação das meninas brasileiras de todas as classes sociais.

com a educação fundou um colégio para meninos e construiu o Colégio do Carmo para as meninas com a intenção de entregá-lo às Filhas de Maria Auxiliadora.

O grande intermediador da vinda das Salesianas para o Brasil foi Monsenhor João Filippo, nascido em 1845, em São Vicenzo de Cosenza, Itália, que após a sua ordenação sacerdotal escolheu o Brasil, mais precisamente, a cidade de Guaratinguetá, no Estado de São Paulo, como seu campo de missão e apostolado sacerdotal.

Monsenhor Filippo, durante a construção do Colégio, manteve-se em contato com Dom Lasagna, Inspetor Geral das Missões na América, encarregado da expansão da obra salesiana nos países da América do Sul, por intermédio dos Salesianos estabelecidos no Rio de Janeiro, e solicitou-lhe a presença das Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil, mais precisamente, em Guaratinguetá, oferecendo o Colégio para acolher as tão esperadas educadoras segundo o espírito de Dom Bosco, assim descrito no primeiro livro de Crônicas do Colégio Nossa Senhora do Carmo:

Silva8 descreve Monsenhor Filippo como benfeitor da cidade e alguém com autoridade junto à população pobre e à camada dos aristocratas, os proprietários rurais, donos de fazenda de café. Para melhor atendimento da população, patrocinou reformas de igrejas, ampliação e melhoramentos no prédio da Santa Casa de Misericórdia, fundação do Asilo de Santa Isabel. Preocupado

“(...) O Collegio de Nossa Senhora do Carmo, cuja construção fora iniciada em 1887 e terminada em 1891, ergue-se sobre trezentos palmos de comprimento e cento e quarenta e cinco de largura. É

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Capa defendido das faíscas electricas por três para-raios de superior qualidade, com boquel de ponta de platina, sendo um de seis metros, outro de quatro metros e outro de três com corda conductor ligando o para-raio da torre aos outros até a chapa do edifício, sendo a corda de sete cordões de sete fios cada um. O Collegio é um sobrado que tem acomodações para mais de 400 meninas, com vastíssimos salões perfeitamente arejados reunindo todos os requisitos das mais escrupulosa hygiene, servido por uma canalisação de água potável de primeira qualidade e abundante, exclusivamente do Collegio. No centro há uma área espaçosa no meio da qual levanta-se uma colunna que serve de chafariz. A Capella é de optimo gosto, elegante, avarantada podendo as alunnas ouvir missa e assistir aos demais officios do culto, do pavimento superior. (...)” Dom Lasagna apresentou a Dom Rua, então Superior da Congregação, que aceitou a solicitação e a generosa oferta de Monsenhor João Filippo. E no ano de 1892, começa a história das Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil, confundindo a história da Inspetoria Santa Catarina de Sena com a história da primeira casa, Colégio Nossa Senhora do Carmo de Guaratinguetá: “No anno de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos e noventa e um, occupando a sede pontifícia o augusto Pontifice S.Santidade Leão XIII, governando o Bispado de São Paulo, S. Excellencia Reverendissima o Senhor Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, sendo Vigario da Parochia de Guaratinguetá o Reverendissimo Conego Benedicto Honoro Ottoni; sendo Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil, o Marechal Floriano Peixoto e Presidente do Estado de São Paulo o Doutor 8 | Em Família

Bernardino de Campos – o Reverendissimo Padre João Filippo, oriundo da cidade de Cosenza em Italia e residente na cidade de Guaratinguetá há uns vinte annos. Offereceu à Congregação Salesiana, um vasto e bello edifício situado sobre a pittoresca collina de S. Gonçalo próximo à cidade, com o fim de ser aberta uma casa de educação para meninas. O Reitor Maior da Congregação Salesiana, o Reverendissimo Padre Miguel Rua e a Superiora Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, a Reverenda Madre Catharina Daghero representados, o primeiro no Inspetor das Casas Salesianas do Uruguay e Brazil, o Reverendissimo Padre Luiz Lasagna e segunda na Visitadora das Casas das Filhas de Maria Auxiliadora do Uruguay a Reverenda Madre Emilia Borgna, acceitaram a offerta bem como a de uma casa em Lorena e outra em Pindamonhangaba para idêntico fim. No dia cinco de Março de mil oito centos e noventa e dous, partiram de


Capa Montividéo, capital da Republica Oriental do Uruguay, doze Irmãs, Filhas de Maria Auxiliadora com o fim de abrir as ditas três Casas. Foi nomeada Superiora, representante da Visitadora a Reverenda Madre Thereza Rinaldi. Vieram em sua companhia as Irmãs Florinda Bittencourt, Helena Hospital, Paula Zuccarino, Joanna Narizano, Dolores Machin, Anna Couto, Dilecta Maldarin, Justina Gros, Francisca Garcia e as Noviças Mathilde Bouvier, Maria Luiza Schillino. A expedição

veio acompanhada pelo Rev.mo Padre Domingos Albanello que tinha sido nomeado Prefeito do Collegio de São Joaquim em Lorena e pelo Rev.mo Padre Thomé Barale. O Rev.mo Padre Inspector Luiz Lasagna, em razão da sua próxima partida para Itália onde ia assistir ao Capitulo Geral, não pode, como intencionava, acompanhar a expedição.” 9 Assim vinham do Uruguai e não diretamente da Itália, as primeiras Irmãs de Maria Auxiliadora ao Brasil. Eram missionárias italianas, uruguaias e o que há de mais interessante, uma delas, Irmã Anna Couto, era brasileira – havia entrado na Congregação no Uruguai e, por motivo de saúde, fora enviada ao Brasil, para ver se os “ares nativos” poderiam curá-la. As Irmãs chegaram ao Rio de Janeiro pelo navio Sud América, no dia 10 de março de 1892 e se hospedaram no Asylo Sancta Leopoldina das Irmãs de São Vicente de Paulo. Às quatro horas da tarde do dia 13 de março chegaram a Lorena; no dia 15, receberam a visita do Padre João Filippo. Somente no dia 16 chegaram a Guaratinguetá, São Paulo, acolhidas pelo grande benfeitor, autoridades, povo, como escreveu a superiora Madre Teresa Rinaldi ao Superior Geral, Dom Miguel Rua: “Faz um mês que nos encontramos nesta República: creio que o Senhor terá sabido por outros a recepção que tivemos. Em todo caso lhe direi que parecem coisas do outro mundo, e que ficamos muito confusas ao ver-nos assim acolhidas.

Atribuímos tudo à maior glória de Deus, e da cara congregação salesiana, à qual estamos felizes de ser agregadas. Nas três paradas que fizemos, nos veio receber um mundo de gente com música e procissão, e com todas as autoridades eclesiásticas e civis. Oh! Como amam Dom Bosco nestas regiões!” 10 O Vale do Paraíba é o berço da Obra das FMA no Brasil. As cidades situadas na região apresentavam aspecto tipicamente interiorano. A Igreja era símbolo da religião católica, elemento integrante da formação social luso-brasileiro. Os proprietários de terras e de escravos controlavam a vida pública. Os moradores tinham, em geral, horizontes culturais bastante restritos. Era pequena a área de influência dessas cidades, pois, os habitantes preocupavam-se quase que apenas com os seus assuntos locais devido à distância dos centros mais importantes: São Paulo e Rio de Janeiro. É dentro dessas perspectivas limitadas que as Irmãs passam a realizar a sua atividade educacional e assistencial. Em consequência da cultura, sobretudo, cafeeira as diversas localidades do Vale ofereciam instrução elementar para as crianças, mas, em razão da situação de dependência da Mulher, dava-se mais importância à escolarização dos meninos. Portanto, na região do Vale do Paraíba, a presença das FMA, foi fundamental de para educação feminina. Em fins do século XIX, multiplicaram-se no País os internatos para meninas e jovens; também as FMA consideraram este regime como ideal para a educação da juventude, procurando valorizar o mais possível o internato para preparar a jovem adequadamente para a futura vida familiar, ao mesmo tempo, que a defendia dos eventuais perigos decorrentes da vida social. A formação cristã das meninas era, sem dúvida, a razão principal da atividade educativa das Irmãs. Além da janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 9


Capa educação da fé, havia outros objetivos principais: a formação moral, a preparação para a vida do lar e a preocupação com a orientação para possível vida consagrada. As Irmãs abriram também externatos e Oratórios Festivos onde primava a Associação das Filhas de Maria. A presença dos imigrantes italianos na Capital de São Paulo e no Oeste Paulista foi um estímulo para procurar implantar nessa região a Obra de Dom Bosco, estimulando também a presença das Irmãs, principalmente, com as fundações de: Araras, Batatais e Ribeirão Preto. A primeira fundação de Colégio na capital paulista – 1894 - não teve resultados esperados e a obra acabou absorvida pelo Asilo do Ipiranga, cuja direção foi confiada às Irmãs, em 1896 pelo Dr. José Vicente, sobrinho do conde Moreira Lima, e vinculado à aristocracia rural do Vale do Paraíba. A fundação do Colégio Santa Inês, em 1907, no bairro operário Bom Retiro, significou ainda o direcionamento das Irmãs para o atendimento privilegiado das filhas de italianos e seus descendentes, conforme as orientações do próprio Dom Bosco, fiel às diretrizes pontifícias. Com o passar do tempo, a imigração estrangeira expandiuse no Bairro com a chegada de judeus, gregos, armênios, peruanos...(e mais recentemente sulcoreanos e bolivianos), provocando transformações culturais e sociais com aquilo que cada etnia trazia como herança cultural de seus locais de origem. As FMA têm acompanhado grande parte das transformações culturais e sociais assumindo a educação de descendentes de todas essas variadas etnias. O terrível acidente ferroviário ocorrido em Juiz de Fora, em 1895, provocou o falecimento de Don Luis

Lasagna que estava em tratativas para a fundação da Obra das FMA no Estado de Minas Gerais; assim sendo, tal Obra só foi iniciada no ano de 1896 com a fundação da Santa Casa de Ouro Preto e do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Ponte Nova. Nesse mesmo ano, os Salesianos estabeleceramse em Cachoeira do Campo e em 1904 as Irmãs também fundaram Obra na cidade. A partir de 1909, as Irmãs se estabeleceram também na cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, com a fundação do Externato Santa Teresa e do Oratório festivo Nossa Senhora Auxiliadora. A atividade missionária era considerada uma tarefa que envolvia numerosos perigos e riscos de vida, sendo necessário, para tal, muita coragem e resistência. Apesar das dificuldades e sacrifícios que envolviam a vida missionária, as Irmãs sempre estiveram ao lado dos salesianos na tarefa de catequese e civilização dos índios a partir da primeira experiência missionária na Colônia Teresa Cristina, no Mato Grosso, de 1895 a 1898. A partir de 1901, estiveram presentes nas três Colônias indígenas do leste do Mato Grosso: Colônia Sagrado Coração de Jesus em Tachos, Colônia Imaculada no Rio das Garças e Colônia São José em Sangradouro; colaboraram ainda na Colônia de Palmeiras, um entreposto das missões. Setores específicos na atuação das Irmãs: cuidado da alimentação, vestuário e saúde dos Salesianos e, ao mesmo tempo, educação e catequese das mulheres e das crianças indígenas. Em Mato Grosso, além da atuação nas missões, as Irmãs desenvolveram atividades em estabelecimentos educativos, obras assistenciais e colaboração com a organização doméstica

8 Silva, Maria Aparecida Felix do Amaral – A Educação das Mulheres no Vale do Paraíba através da ação das Irmãs Salesianas – O Colégio do Carmo de Guaratinguetá: 1892 – 1910 – Pontifícia Universidade de São Paulo – SP – 2000 – p. 17 9 Crônicas do Colégio Nossa Senhora do Carmo – volume I – transcrição da ortografia da época. 10 Bolletino Salesiano, ano XVI, 1892, p. 163

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Capa das comunidades salesianas: Asilo Santa Rita em Cuiabá, uma obra análoga em Ladário; no setor de saúde, o Hospital Beneficente de Corumbá; Coxipó da Ponte, rouparia do noviciado salesiano; Colégio de São Gonçalo de Cuiabá; Colégio Imaculada Conceição de Corumbá e Colégio Santa Catarina em Cuiabá. A dependência dos Padres salesianos é, sem dúvida, uma das características dessa etapa da implantação da Obra das FMA no Brasil, pois, os filhos de Dom Bosco tinham poder de decisão na condução das Inspetorias e comunidades locais. Nessa etapa, grande era o número de jovens desejosas de ingressar no Instituto das FMA atraídas pelo caráter familiar e alegre dominante nas comunidades religiosas. O espírito de sacrifício ocupava um enfoque destacado na formação dos futuros membros do Instituto em sintonia com o padrão estabelecido pela doutrina católica referente ao papel da mulher na sociedade. Merece destaque,nessa etapa, o papel pioneiro das FMA nas atividades missionárias. Faltava ainda uma definição mais clara sobre o carisma educativo do Instituto, sendo por vezes as religiosas confundidas com as “Irmãs de Caridade”, por seu atendimento na esfera da saúde e assistência social. Na medida em que as FMA iniciaram a implantação da obra salesiana no Brasil, foi também organizado o governo inspetorial. Em 1892, Irmã Teresa Rinaldi foi nomeada Superiora e representante da Visitadora, Madre Emilia Borgna, com o título de Vice-Visitadora. Em 1893, tendo sido criada a nova Visitadoria do Brasil, Madre Emilia Borgna voltou ao Uruguai e no dia 15 de outubro, Dom Lasagna apresentou “a Visitadora

do Brasil na pessoa da Reverenda Madre Teresa Rinaldi”. A festa de Santa Teresa, no dia 15 de outubro de 1895, em Araras, em homenagem a Madre Teresa Rinaldi contou com a presença de vários sacerdotes e do próprio Lasagna. Poucos dias depois, a Visitadora partia para Minas Gerais com a expedição organizada por Dom Lasagna para fundação de Casas naquele Estado. Tanto ela como o prelado foram vitimas do desastre ocorrido em Juiz de Fora a 05 de novembro. Com a morte de Madre Rinaldi, a Irmã Ana Masera, mestra das noviças, foi designada como diretora interina do Colégio do Carmo. A 20 de agosto de 1896, chegava a Guaratinguetá a Superiora Geral, Madre Catarina Daghero, e o Bispo Dom Cagliero. No dia 25 deste mês, o prelado apresenta à comunidade “os membros do novo Capítulo da Casa”, sendo Ana Masera designada oficialmente como Diretora do Carmo e Visitadora que acompanhou a Madre Geral na visita às diversas Casas das Irmãs. 1897 foram fechados os Colégios Imaculada Conceição de Pindamonhangaba e o Colégio Maria Auxiliadora de Lorena. Em Guaratinguetá e Lorena, as Irmãs assumiram a direção interna das Santas Casas de Misericórdia, respectivamente nos anos de 1900 e de 1902. Em 1904, foram abertas três novas Obras: Cachoeira do Campo em Minas; Batatais no Estado de São Paulo e a direção da Santa Casa em Ponte Nova. Em 1905, as Irmãs aceitaram a direção da Santa Casa de Ribeirão Preto; em 1907, dava-se início ao Colégio de Santa Inês em São Paulo. Madre Ana Masera tomou parte, na Itália, dos janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 11


Capa Capítulos Gerais da Congregação: 1899, 1905 e 1907. Permaneceu no cargo por um período de 12 anos. Ao participar do Capítulo Geral dos Salesianos, em 1886, o Padre Luis Lasagna propôs a criação de uma Inspetoria das FMA para o Uruguai e o Brasil, separada da Inspetoria Argentina. Aconteceu neste mesmo ano, em fase experimental, a criação da Visitadoria do Uruguai e Brasil. Como resultado de maior autonomia adquirida pelas FMA no Brasil, pelas distâncias, pela multiplicação de Obras, a 7 de fevereiro de 1908, a Visitadoria do Brasil é separada do Uruguai como Inspetoria Santa Catarina de Sena, com sede em São Paulo, no Colégio de Santa Inês. Em janeiro de 1909, visita extraordinária da Madre Vigária do Conselho Geral, Madre Enrichetta Sorbone, que permanece na Inspetoria até o mês de novembro. No período da gestão de Madre Emilia Borgna, a Sede da Inspetoria é transferida para o Colégio de Santa Inês em São Paulo. Seu mandato termina em 1916, transferida para o cargo de Mestra de Noviças em Lorena. Em 1916, as superioras do Instituto decidiram que Madre Teresa Giussani assumiria o governo da Inspetoria Santa Catarina de Sena, permanecendo ao mesmo tempo como Inspetora do Mato Grosso. Uma das primeiras tarefas da nova Inspetora foi organizar as celebrações comemorativas das Bodas de Prata da chegada das Irmãs ao Brasil. Em seu mandato foram abertas: 1916: Asilo e Casa de Repouso Santa Isabel em Guaratinguetá; 1918: Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Ribeirão Preto e Instituto Nossa Senhora Auxiliadora de São Paulo; 1920: Casa Nossa Senhora das Graças– Noviciado do Ipiranga em São Paulo; 1921: Casa 12 | Em Família

Maria Auxiliadora, em Ascurra, Santa Catarina. A consolidação do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora em São Paulo deu-se no período:1917 – 1942. Sob o ponto de vista político e econômico esta etapa é marcada pela afirmação do Estado de São Paulo no cenário nacional, em razão do desenvolvimento da cultura cafeeira, bem como do processo de urbanização e industrialização. É, também, dentro desse espaço geográfico que as Obras das FMA terão um expansão mais significativa. Do ponto de vista cultural, ocorre uma alteração significativa: à influência da cultura européia, sobretudo francesa, que marcara a chamada “belle époque”, sucede, após a Primeira Guerra Mundial, um despertar mais forte dos sentimentos nacionalistas; no Brasil, essa nova etapa é iniciada pela Semana de Arte Moderna em 1922. Simultaneamente, também, na instituição católica, ocorrem mudanças expressivas: os Bispos reformadores, cuja preocupação básica fora o alinhamento da Igreja do Brasil aos ditames da Cúria Romana, gerando o processo de romanização, são agora suplantados pelos Bispos restauradores tendo como orientação principal afirmar a presença da fé cristã na sociedade brasileira, contando inclusive, para isso, com a colaboração do Estado. Existe, portanto, uma maior aproximação entre hierarquia eclesiástica e poder público. Entre os Bispos, que se destacam nesta nova etapa, encontram-se alguns salesianos como Dom Francisco de Aquino Corrêa, Dom Henrique Mourão e os irmãos Dom Helvécio e Dom Emanuel Gomes de Oliveira. Esses prelados não apenas manifestarão seu apreço pela Obra das FMA, mas procurarão que as Obras das Religiosas se consolidem ou se


Capa expandam em suas respectivas dioceses. Trata-se de fato, de um período em que se consolida a presença das FMA no País. Tendo como base e eixo o Estado de São Paulo, a atuação educativa hospitalar e assistencial das Salesianas de Dom Bosco também se fortalece e consolida numa área periférica, compreendendo os Estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Em modo análogo, a atividade missionária, já implantada no Mato Grosso, se estende agora para a região amazônica. Além disso, é iniciada também a presença das religiosas em típica área de imigração europeia, através da missão em Santa Catarina. Por último, são lançadas algumas pontas de lança, com as primeiras fundações na região do Norte e Nordeste do Brasil. Embora a atuação das religiosas continue ainda polivalente nessa etapa, nota-se uma afirmação progressiva da esfera educacional, sobretudo com a multiplicação das Escolas Normais. Na primeira metade do século XX, principalmente, no Estado de São Paulo há um desenvolvimento cultural mais expressivo devido ao aceleramento do progresso econômico como consequência da expansão da lavoura cafeeira e do incipiente processo de industrialização, tendo como uma das consequências a necessidade, cada vez maior, de estabelecimentos de ensino e educação, superando-se uma tradição agrária de indiferença com relação ao conhecimento cientifico. As FMA expandem sua rede escolar; além dos Colégios já existentes abrem-se o internato em Ribeirão Preto e os externatos: do bairro do Brás, São Paulo, em Santo André, em São José dos Campos, mantendo-se o externato de Lorena.

Na etapa inicial, prevalecia o ensino elementar; a partir dos anos 20 começam a ser incrementados os primeiros cursos de ensino médio com a iniciativa mais significativa das Escolas Normais, destinadas à formação de professoras primárias. Nessa etapa histórica que se inicia em 1917, as FMA começam afirmar-se no setor educacional, mesmo continuando a atuar no campo da saúde e da assistência social. Nessa fase se consolida a imagem das Salesianas de Dom Bosco como religiosas educadoras e não mais como “Irmãs de Caridade”. As alunas passavam de uma visão marcadamente familiar, local e regional para uma perspectiva cultural mais abrangente, sendo introduzidas na chamada “cultura universal”. No período da Consolidação da Inspetoria houve etapas dramáticas, tais como: o final da Primeira Guerra Mundial; a gripe espanhola em 1918; as revoluções paulistas de 1924, 1930 e 1932; e o início da Segunda Guerra Mundial em 1938. Além do direcionamento em favor das Obras educacionais as FMA continuaram a ocupar-se às obras de assistência social e aos cuidados da saúde das camadas mais desprotegidas da população, mantendo-se à frente de 04 Santas Casas assumidas no período anterior: Lorena, Guaratinguetá, Ribeirão Preto e Batatais e, a partir de 1918, no Hospital da Caridade do Brás e de 1935 na Santa Casa de Misericórdia de São José dos Campos. Ao lado dos hospitais, as Irmãs mantiveram-se também no Asilo Santa Isabel de Guaratinguetá e nos Asilos anexos às Santas Casas de Lorena e Batatais. Neste período, tendo como polo irradiador o Estado de São Paulo, as FMA ocuparam-se de comunidades religiosas em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e Goiás. janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 13


Capa O aspecto mais importante a ser assinalado é o aumento significativo de cursos normais. Essa será a característica dos Estados de Goiás e do Rio de Janeiro. No campo hospitalar foi mantida a presença das Irmãs na Santas Casas de Ponte Nova e de Ouro Preto, porém, em 1926, a direção do hospital ouropretano foi transferida para as Irmãs Carmelitas da Providência. Em 1921, as FMA iniciaram a implantação de sua obra no Estado de Santa Catarina onde os salesianos já atuavam desde 1916. As religiosas estabeleceram-se em Ascurra assumindo a antiga escola “Dante Aligheri” que passou a denominar-se Escolas Reunidas Dom Bosco. Três anos depois, 1924, estabeleceram-se também em Rio dos Cedros, assumindo a direção das Escolas Paroquiais. Essas duas Obras tiveram existência precária e efêmera. Em 1928, foi fechada a Casa de Ascurra e 1930, a de Rio dos Cedros. A partir de 1928, as FMA implantaram sua obra em Rio do Sul. Somente a partir de 1942, as FMA passaram a realizar também o atendimento no Hospital Cruzeiro de Rio do Sul. Nesta etapa, a obra de Dom Bosco em Santa Catarina era considerada como uma “missão”não só em razão de precariedade de recursos humanos e materiais, mas, também pela sua especificidade pastoral, ou seja, o atendimento aos colonos descendentes de imigrantes europeus.

setores: educacional e hospitalar, porém, o Mato Grosso continuou sendo considerado, nesse período, como uma área missionária. Atendendo a um pedido de Monsenhor Massa, futuro bispo salesiano, a Inspetoria Anna Covi de São Paulo organizou o primeiro grupo de quatro missionárias destinadas ao Rio Negro, AM, as quais chegaram a Manaus no dia 29 de janeiro de 1923 e, em São Gabriel das Cachoeiras no dia 16 de fevereiro, após 37 dias de viagem. Em fevereiro, foi aberto o Oratório e já a 19 de março foi aberto o Externato. A presença benéfica das Irmãs estende-se aos numerosos doentes tendo-lhes sido confiado o Dispensário gratuito e o Hospital. A partir de 1925, as FMA passaram a trabalhar também na Missão de Taracuá. Em 1930, foi fundada a terceira comunidade missionária no Rio Negro, Jauareté. As Irmãs vindas de São Paulo chegaram ao local da missão no dia 22 de maio. As Irmãs tinham a seu encargo dar às meninas instrução e educação conforme sua condição. As internas, além dos estudos elementares, eram ocupadas em trabalhos domésticos, cultivo da horta,etc. A última comunidade missionária fundada pelas FMA, no Rio Negro, foi em Barcelos, inaugurada no dia 11 de março de 1934.

Neste período, no Mato Grosso observa-se um surto inicial de progresso no sul do Estado.

Além dessas quatro comunidades missionárias, fundadas na Prelazia do Rio Negro, as FMA fundaram também, nesse período, uma missão na Prelazia de Porto Velho, na localidade do mesmo nome, no dia 19 de março de 1930.

A atuação das FMA foi mais expressiva em dois

Em 1935, começou a funcionar o Ginásio e 1937 a

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Capa Escola Normal Rural. Em 07 de setembro de 1939 foi inaugurado, em Porto Velho, o Hospital São José. Em 1926, as FMA marcaram sua presença em Pernambuco com o início da Obra em Petrolina. Na década de 30, surgiram três novas comunidades: Manaus, em 1930; Baturité em 1932 e Fortaleza em 1933. 1.3. INSPETORIA SANTA CATARINA DE SENA No período da Consolidação das FMA, no Brasil, foram dados passos significativos em termos de melhor organização das províncias. O território brasileiro foi dividido em três províncias. À primeira Inspetoria, com o nome de Santa Catarina de Sena, ficaram reservados os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde já haviam sido fundadas obras no período anterior. Passaram a ser incluídos nessa província também os Estados de Santa Catarina e de Goiás. Ganhou novamente autonomia a Inspetoria de Mato Grosso, que até 1922 esteve sob a direção de São Paulo. Dessa Inspetoria continuaram dependentes as Casas fundadas na Prelazia do Araguaia. Por último, foi criada a Inspetoria do Nordeste com Casas fundadas nos Estados de Pernambuco, Ceará, Pará e Amazonas.

Irmãs chegando a Cucuí, localidade próxima às fronteiras da Venezuela e da Colômbia, em 1967; e ainda Corumbá, próxima à Bolívia”. Essa expansão provoca uma nova organização territorial nas Obras por meio da criação de Inspetorias, com a divisão da Inspetoria Santa Catarina de Sena, de São Paulo, BSP: Inspetoria Imaculada Auxiliadora – Campo Grande – 1941; Inspetoria Maria Auxiliadora – Recife – 1941, abrangendo as regiões do Norte e Nordeste; Inspetoria Madre Mazzarello – Belo Horizonte – 1948; Inspetoria Laura Vicuña – Manaus – 1961 – desmembramento da Inspetoria de Recife; Inspetoria Nossa Senhora Aparecida – Porto Alegre – 1967; Inspetoria Nossa Senhora da Penha – Rio de Janeiro – 1984 – desmembramento da Inspetoria de Belo Horizonte; Inspetoria – Nossa Senhora da Paz – Cuiabá – 1993 – desmembramento da Inspetoria de Campo Grande; Inspetoria Santa Teresinha – Manaus – 2005 – desmembramento da Inspetoria Laura Vicuña de Manaus.

Na introdução do terceiro volume das “As Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil: cem anos de História”, o historiador Riolando Azzi (2003) afirma que as décadas de 40 e 50 são marcadas pela expansão das obras das Salesianas, por todo o território nacional: “as fundações atingem Uruguaiana, extremo sul do país, na fronteira com a Argentina, e do outro lado, no extremo norte, com as primeiras janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 15


Artigo

As 12 Irmãs escolhidas de um dos escritos de Irmã Edméa Battaglia

Há 120 (hoje 125) anos chegavam ao Brasil as 12 primeiras Filhas de Maria Auxiliadora. O número das primeiras missionárias tem o sabor bíblico e profético: doze eram os apóstolos de Jesus...E eles levaram o Evangelho por toda a parte. Doze eram as primeiras Irmãs e 120 (125) anos depois de sua chegada, estamos colhendo os frutos de sua missão.

nova Pátria. Era inteligente, delicada, não media sacrifícios para atender a tudo...Mas, já viera ao Brasil com a saúde abalada, na esperança de recuperar as forças debilitadas. Infelizmente, faleceu no dia 06 de agosto de 1893, vítima de tuberculose.

Irmã Dolores Machin – nascida em São José de

Montevidéu a 12 de maio de 1878. Oratoriana de O que mais nos impressiona no grupo das Las Piedras, com 12 anos, entrou como postulante primeiras Irmãs, é o fato de que entre elas havia em Villa Colón: piedosa, exata cumpridora dos uma brasileira que professara no Uruguai. deveres, noviça e professa exemplar, era a mais nova do grupo missionário. Foi enfermeira dedicada, Irmã Anna do Couto – Infelizmente conhecemos prudente, de ânimo sempre equilibrado. Faleceu poucos dados de sua vida: sabemos que nasceu no bastante jovem, com 21 anos e aos nove anos de Rio de Janeiro no dia 03 de setembro de 1866 e que, profissão religiosa, no dia 28 de janeiro de1899. por circunstâncias que não conhecemos, com a família transferiu-se para o Uruguai.Com 22 anos foi Irmã Joana Narizzano – nascida em admitida, como postulante, no Instituto, no dia 04 Montevidéu a 27 de dezembro de 1869 e falecida de agosto de 1888. Sendo a única a falar o português em Villa Colón, no dia 30 de setembro de 1899 com deve ter sido um elemento de muita importância nove anos de profissão. Escolhida para integrar no primeiro contato das Irmãs missionárias com a a primeira expedição missionária para o Brasil, 16 | Em Família


Artigo partiu do Uruguai com o entusiasmo de uma Irmã cheia de zelo apostólico, levando no coração a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora e o amor a Dom Bosco para compartilhá-los com as jovens de sua nova pátria. Foi Diretora em Lorena e em Pindamonhangaba.

Irmã Paula Zuccarino – nascida no dia 19 de janeiro de 1868 e falecida no dia 06 de novembro de 1922. Pôde demonstrar suas qualidades e virtudes nos longos anos em que dedicou sua vida em benefício dos irmãos brasileiros. Criteriosa e de delicada caridade, colocou suas capacidades e experiência a serviço de todos: Irmãs, jovens, alunos e leigos. Caráter marcado pela “santa liberdade dos filhos de Deus”, como a classificavam suas Irmãs, mas, era, ao mesmo tempo, humilde, bondosa e enérgica.

Irmã Florinda Bittencourt – não era uruguaia, nasceu em Aguavia – Portugal – a 18 de março de 1852. A família transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde conheceu os Salesianos e, no entusiasmo de sua vocação não se intimidou deixar seus parentes no Brasil para iniciar a vida religiosa no Uruguai, adaptando-se a novos costumes, nova língua. No Uruguai fez o postulado e o noviciado em 1889. Já professa voltou ao Brasil para enfrentar corajosamente os tempos heroicos das primeiras fundações. Sempre devotada, ocupou logo postos de responsabilidade: ecônoma na Casa Inspetorial, então em Guaratinguetá, Diretora das Santas Casas que iam sendo abertas.

Quem a conheceu, no final de sua vida, a recorda, já sem forças e com a perda da lucidez da mente, ajudando, enquanto pôde, a consertar a roupa e cerzindo as meias dos alunos dos Salesianos de Lorena. Faleceu no dia 24 de fevereiro de 1944. Irmã Justina Gross – era francesa, da Savóia, onde nasceu a 21 de janeiro de 1859. Faleceu em Lorena, no dia 20 de março de 1948. Quem a conheceu, pôde afirmar que Irmã Justina era o retrato do seu nome: alta, silenciosa, de riso discreto e olhar transparente. Embora francesa de origem, ainda menina acompanhou os pais na transferência para o Uruguai. Em Villa Colón iniciou o seu Noviciado em 1891 e já, em 1892, partiu para o Brasil, onde dedicou sua vida por mais de meio século, em trabalho silencioso e fecundo, na oficina de costura, paciente e eficiente com as mãos habilidosas. Sempre dedicada até o fim da vida, aconselhando discretamente a quem se mostrava desanimada diante das dificuldades do magistério: “Calma! Nada de ficar agitada... Deus fez o mundo em seis dias...Deus é paz e não está na agitação. Sua piedade era linear. Seu espírito encontrava alimento, sobretudo na oração do Pai Nosso. Com bastante idade foi para a Casa de Lorena, onde por dois longos anos muito dolorosos ficou presa a uma cama devido à paralisia.

Irmã Diletta Maldarin – nasceu em Rovigo, no Veneto, no dia 21 de junho de 1870 e faleceu em Lorena no dia 24 de julho de 1938. janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 17


Artigo A família Maldarin imigrou para o Brasil quando Dileta tinha 18 anos e passou a residir perto do Santuário do Coração de Jesus, dos Salesianos, onde Diletta teve a felicidade da direção do Padre Luiz Zanchetta que, descobrindo nela a vocação orientou-a para Montevidéu onde Diletta fez o postulado e o noviciado e de onde retornou ao Brasil com o primeiro grupo de Irmãs. A partir de Lorena, em Casa anexa ao Colégio São Joaquim, respondeu pela cozinha e lavanderia dos Salesianos, numa vida de muito trabalho e privação. Passou depois por várias casas da Inspetoria e finalmente voltou para Lorena para a Casa Maria Auxiliadora com a saúde muito abalada e onde faleceu num dia dedicado a Maria Auxiliadora a que tanto amava.

Irmã Elena Ospital – Era uruguaia, natural de Paisandu, onde nasceu a 18 de agosto de 1872, para onde voltou em momento de difícil situação na Inspetoria brasileira e onde faleceu no dia 15 de julho de 1949 com 77 anos de idade e 61 de vida salesiana. Foi Diretora dos Colégios de Guaratinguetá, Ponte Nova, Belo Horizonte e Colégio de Santa Inês, São Paulo. Foi também membro do Conselho Inspetorial. Era exímia educadora, empenhada na formação das Irmãs, procurando que fossem sempre alegres para melhor transmitirem o espírito de Dom Bosco. Era exemplo de serenidade mesmo quando duras provas a feriram profundamente e exigiram dela deixar o Brasil e retornar ao Uruguai, em 1932. A caridade e a piedade foram sua grande característica e o amor de Deus a sustentou sempre, mesmo sentindo viva saudades do Brasil.

Irmã Maria Luiza Schillino – Natural de Paisandu, Uruguai, nasceu a 25 de setembro de 1870, faleceu em Coxipó da Ponte, Mato Grosso, no dia 07 de abril de 1957. Pouco se sabe de sua vida até a entrada no Instituto, como postulante, em Villa Cólon a 15 de dezembro de 1891. Ainda noviça, veio para o Brasil na primeira expedição missionária, tendo professado em 18 | Em Família

Guaratinguetá, no dia 24 de dezembro de 1894. Trabalhou em várias Casas da Inspetoria por 10 anos e, em 1915, partiu Missionária para o Mato Grosso, onde, também, por 10 anos permaneceu em Cuiabá como professora de música e responsável pela portaria. Caráter forte, enérgico e de grande generosidade. Sua piedade profunda e sincera era a força que a sustentava contra sua natureza forte e exuberante. Era capaz de compreender e aliviar o sofrimento alheio e de reconhecer humildemente seus erros. Incansável no trabalho, rica de espirito de sacrifício, humilde e sincera, deixou de si uma belíssima lembrança.

Irmã

Francisca

Garcia

– Uruguaia de Montevidéu onde nasceu no dia 24 de julho de 1874, faleceu em Lorena em 1967, exatamente quando se comemorava , no Brasil, a chegada das primeiras Irmãs há 75 anos...Irmã Francisca era única supérstite daquele generoso grupo de 1892... quando ela, no entusiasmo dos 25 anos, chegava à nova Pátria, trazendo a riqueza, o ardor e as esperanças dos seus sonhos missionários. Do Carmo, em Guaratinguetá, ao Colégio da Imaculada, de breve duração em Pindamonhangaba, passando por várias Casas da Inspetoria, Irmã Francisca viveu a dura prova do desastre de Juiz de Fora, em 1895. Acompanhou o desenvolvimento do Instituto no Brasil. Distinguiu-se como professora de música, catequista e assistente. Idosa e necessitada de descanso passou pelo Asilo São José de Lorena e posteriormente para a Santa Casa. Quem teve a alegria de conhecê-la na Santa Casa de Lorena, lembra-se dela com carinho: pequenina, silenciosa, olhar e modos tranquilos. Recebia com afeto às pessoas que a visitavam. Todas as Irmãs tinham um carinho respeitoso por aquela Irmã que viu nascer a Inspetoria, entregando generosamente seus 75 anos de missão, no Brasil, para o bem de tantas crianças, jovens, adultos, idosos que acompanhou com seu grande coração salesiano.

Irmã Mathilde Bouvier – Pouco se sabe da


Artigo jovem noviça da primeira expedição das Filhas de Maria Auxiliadora que aportou no Brasil, em 1892. De 1895 a 1906 foi Diretora n Colégio de Araras; de 1907 a 1910, Diretora em Batatais. Neste mesmo ano de 1910, voltou para o Uruguai, retirando-se definitivamente do Instituto.

Irmã Teresa Rinaldi – Propositalmente, deixamos os dados de Irmã Teresa Rinaldi para o final desta relação: de algum modo ela é, para nós, a síntese da primeira Expedição das Filhas de Maria Auxiliadora ao Brasil. Seu sangue derramado em viagem para abertura de novas Casas, alargando os limites da ação educativa das FMA, foi semente do que hoje, 120 (125) anos após a chegada das Salesianas ao Brasil, se espalha por toda a nossa Pátria. Irmã Teresa Rinaldi nasceu em Dogliani – Cuneo – Itália – no dia 12 de outubro de 1862, professa em 1881, pronunciou os primeiros votos em Sampiedarena, nas mãos de Dom Bosco, na noite da partida para o Uruguai. No Uruguai foi professora em Las Piedras e Diretora em Paisandu, destacando-se pela extraordinária dedicação às jovens mais pobres e abandonadas. Sua capacidade e larga visão foram verdadeiramente importantes para as obras do Uruguai e lhe granjearam as mais sinceras amizades. Em 1891, foi designada a chefiar o primeiro grupo das FMA que viria implantar o Instituto em terras brasileiras, chegando em Guaratinguetá, no dia 16 de março de 1892. Sua piedade, sabedoria, capacidade de governo e grandeza de coração, em tempo recorde, já haviam levado às Filhas de Dom Bosco às cidades de Guaratinguetá, Lorena, Pindamonhangaba, Araras e São Paulo, abrindo Escolas, Internatos, Oratórios Festivos, Oficinas...Era sempre a primeira nos serviços mais sacrificados, amava e pobreza, era capaz de usar os sapatos que as internas colocavam de lado...Não pensava em si mesma, não admitia exceções, privilégios. Como Diretora e também

como Visitadora tinha tudo em comum, nem quarto individual, nem escritório particular. Suas devoções particulares: Jesus Sacramentado e Maria Auxiliadora. Cuidava com esmero das funções religiosas, acompanhava ao órgão os cantos de Irmãs e alunas. Preocupava-se particularmente com a formação espiritual e profissional das Irmãs. Sua perspicácia antevia o grande futuro do Instituto no Brasil. Tão preciosa vida foi truncada de forma violenta no terrível desastre ferroviário de Juiz de Fora. No dia 05 de novembro de 1895. Dom Luiz Lasagna, Bispo e Inspetor dos Salesianos, seu Secretário e mais um SDB, a Visitadora das FMA, mais oito Irmãs e a Senhora Joana Lusso, mãe de Irmã Marta Lusso, dirigiam-se respectivamente para Cachoeira do Campo e Ponte Nova, e as Irmãs para Ouro Preto e Ponte Nova, em Minas Gerais, para novas fundações. A comitiva que chegava às 14h a Juiz de Fora, depois de breve parada, seguia viagem para Mariano Procópio, quando um trem, que havia saído dessa estação para Juiz de Fora, chocou-se com violência com o trem onde viajavam os salesianos e FMA. O vagão do Correio invadiu o vagão em que estava a Comitiva Salesiana. Dom Lasagna morreu esmagado. Morreram também seu Secretário, Madre Teresa, Irmã Júlia Argenton e um foguista. Dona Joana Lusso, horrivelmente ferida, viria a falecer oito dias mais tarde... Pode-se imaginar a consternação de toda a Família Salesiana diante da catástrofe...Também a dor e as lágrimas de todos os habitantes de Juiz de Forma e de seus vizinhos. A primeira Superiora das FMA no Brasil havia entregue tudo a esta nova Pátria que já amava com sua e que acabava de fecundar com seu sangue. Fonte: pesquisa de Irmã Dulce Hirata por ocasião dos 100 anos da chegada das FMA ao Brasil

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Artigo

Colégio de Santa Inês 110 anos Por Irmã Dorcelina Rampi A fundação do Colégio de Santa Inês, na capital paulista, coincide com o momento em que as Irmãs passaram a ter maior independência em relação aos salesianos. A obra deveria ser o “novo centro das obras das Filhas de Maria Auxiliadora”, quando iriam o processo de alargar a atuação para o Oeste Paulista, deixando o Vale do Paraíba. O bairro do Bom Retiro, com predominância de imigrantes italianos foi o local escolhido para o Colégio, em uma pequena casa conhecida como “chácara dos ingleses”. As Irmãs iniciaram a atividade educativa, segundo relatam as crônicas, abrindo um externato com dois cursos: o Jardim de Infância, misto, para crianças de até sete anos; e o Curso Elementar, em quatro anos, somente para meninas, conforme relata o Livro de Crônica 20 | Em Família

da casa. Em ambos os cursos seguia-se o programa das escolas oficiais do Estado. Aos domingos e dias santos, funcionava o “Oratório Festivo”, frequentado, sobretudo, por crianças e jovens da classe operária. Conforme registro na Crônica, as Irmãs deixaram escrito que grandes e muitas foram as dificuldades, restando somente as forças provenientes da fé: “o movimento de alunas é lento e desencorajante. Visita repetida de fiscais de ensino. Um estranho mal-estar se apodera das Irmãs, e todas sentem-se desanimadas. Falta tudo em casa, e por vezes, o que comer. Só Nossa Senhora Auxiliadora nos ajuda e nos dá esperança de dias melhores.” (Livro de Crônica do Colégio de Santa Inês 1907-1914)


Artigo As religiosas davam testemunho de sua opção pela educação, apesar das dificuldades que viveram, mas que foram sendo superadas em cada obra que surgia no Brasil: “Com a graça de Deus e a proteção de Maria pudemos resolver graves dificuldades financeiras. Há satisfação no bairro e na cidade, pela ação educativa das Irmãs, pelo trabalho que fazem no Oratório Festivo. As crianças e jovens que frequentam a casa querem muito bem às Irmãs. Há verdadeira aceitação do Colégio na cidade e no interior.” (Livro de Crônica do Colégio de Santa Inês 1907-1914) Apesar das dificuldades, o edifício foi crescendo e aumentando também o número de crianças e jovens que ali chegavam. Em 1908, inaugurou-se o Internato, com 23 alunas. Em 1909, ampliou-se o desenvolvimento escolar e religioso do Colégio, com a criação do Curso Secundário, para completar a educação das alunas e preparar candidatas à Escola Normal Primária e Secundária. A Escola Normal Livre anexa ao Colégio de Santa Inês surge quando se pleiteia e se obtém, do Governo Estadual, o direito de funcionamento nos moldes traçados pela Lei 2269, de 31 de dezembro de 1927, equiparada às oficiais. As atividades foram iniciadas, segundo o Livro Histórico da Escola Normal Livre anexa ao Colégio de Santa Inês, conforme o Decreto de 16 de fevereiro de 1928, assinado pelo Presidente do Estado, Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, e pelo secretário da Educação e Saúde Pública, Fábio de Sá Barreto. “Logo ao início do funcionamento da Escola Normal Livre anexa ao Colégio de Santa Inês, os exames de admissão foram realizados no período de 27 de fevereiro a 2 de março, por uma comissão designada e composta pelos professores Roldão Lopes de Barros (Presidente), Luiz Pinto e Silva e Manoel Bergstron Loureço Filho (Ata do Livro de Inscrições para os exames de suficiência, p. 5). Das vinte e oito

alunas inscritas, vinte e três foram aprovadas, e a aula inaugural foi proferida pelo professor João Lourenço Rodrigues. Já no ano de 1929, por oficio nº 67, de 4 de janeiro, foi enviada, ao Inspetor Fiscal da Escola, a autorização de funcionamento da Escola Normal em regime de Internato-Externato. Nessas condições, a referida escola normal passava, então, a receber moças, não só da cidade de São Paulo, mas provenientes de outras cidades e também estados. Ainda nos primeiros anos de funcionamento, o professor Ataliba de Oliveira, Inspetor encarregado de visitas para fiscalização, quer das dependências do colégio, quer dos cadernos de Desenho, Cartografia, Anatomia, Português e Francês das Normalistas, deixou o seguinte termo no livro “Histórico da Escola Normal”, por ocasião de sua primeira visita à escola: “...acabo de visitar a Escola Normal Livre do Santa Inez. Em companhia da Ex.ma Ir. Diretora e do Sr. Inspetor Fiscal, percorri as primeiras dependências do colégio cuja instalação é magnífica. Assistindo aulas e verificando os trabalhos das alunas constatei, com prazer, que este estabelecimento corresponde aos intuitos do Governo do Estado. Daqui sairão por certo verdadeiras educadoras da infância, compenetradas da alta missão que lhes vai caber na vida.” (Livro de Registro interno do Colégio de Santa Inês – Histórico da Escola Normal, 1930). Em maio de 1930, o Secretário da Educação e Saúde Pública, conforme registro interno do histórico da escola, concedeu à Diretora da Escola Normal que as alunas do 3º ano normal fizessem os exercícios de tirocínio no ensino primário da própria escola, o que antes era feito todas as 4ª e 6ª feiras em aulas práticas de Didática no Grupo Escolar Prudente de Moraes. A função de direção era exercida por uma religiosa, brasileira, formada pela Escola Normal da Praça da República, conforme prescrições das leis oficiais. O janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 21


Artigo corpo docente, em sua maioria, era composto por religiosas, exceto nas disciplinas de Inglês, Aritmética, Geometria, Psicologia e Pedagogia, Organização Escolar e Didática, Higiene e Puericultura, e no grupo de professores auxiliares para o ensino de História, Geografia e Matemática, como é possível atestar pelas condições apresentadas para que lhes fosse concedido o privilégio da equiparação: “- terem sido fundadas e serem mantidas por nacionais, com corpo docente também de nacionais; - serem seus cursos e programas organizados de acordo com o regime adotado nas escolas normais oficiais; - possuírem um patrimônio mínimo de duzentos contos de réis; - estarem situadas em municípios que não possuíssem escola normal oficial, exceto no caso de escolas com regime de internato; apenas uma escola normal livre no regime de externato seria equiparada em cada município; - ser o professor de Pedagogia e Didática de nomeação do governo, com os mesmos vencimentos de seus pares das escolas normais oficiais.” (Tanuri, 1979, pp.207-208) Conforme atesta o Livro do Histórico da Escola Normal, no decorrer do ano, as normalistas recebiam visitas oficiais de “professores-inspetores”, quer para ministrarem aulas práticas, quer para assistirem às explicações, ou ainda, para revistar os cadernos. A Escola Normal Livre anexa ao Colégio de Santa Inês era uma “escola equiparada”. Segundo Tanuri (1979, p.209) “houve, logo no primeiro ano de funcionamento das escolas equiparadas, 44 classes com 1503 alunos matriculados, ao lado de 3.126 matriculados nas dez escolas normais oficiais”. Para a autora, o regime de equiparação era a causa direta das modificações ocorridas no quadro de ensino paulista e que, em breve, as escolas equiparadas de iniciativa privada e municipal estariam em condições de superar o estado em tal setor. Neste caso, isto se confirma no relatório apresentado como parte das 22 | Em Família

exigências para a equiparação, em que se relata que a Escola Normal anexa ao Colégio de Santa Inês havia, em total conformidade com as normas vigentes, diplomado cerca de 228 professoras de 1930 a 1939. Em 24 de maio de 1930, por concessão do Senhor Secretário da Educação e Saúde Pública, as alunas do 3º ano do Curso Normal passaram a fazer as aulas práticas no curso primário da própria escola, o que denota a preocupação da escola em se equiparar com a escola oficial quer pela seriedade, quer no cumprimento das leis, quer pela organização didática. Quanto ao curso complementar, o Livro Histórico da Escola Normal, os relatórios referentes às exigências de equiparação e o livro de matrículas atestam a existência do curso complementar no colégio, quer pelo registro de inscrições com os nomes das candidatas, ou seja, pelo exame de admissão, quer pela festa de encerramento de ano com as devidas turmas, preenchendo, assim, o quesito como uma “instituição completa”. No dia 17 de março de 1933 foi enviado ao Professor Fiscal da Escola Normal, pelo Diretor Geral do Ensino, Fernando de Azevedo, uma circular, descrevendo as disposições que deveriam vigorar provisoriamente, relativas ao regime de notas e ao modo de promoção no curso secundário fundamental das Escolas Normais. O Livro do Histórico atesta que em tudo foram seguidas, por parte da escola, as disposições do Departamento de Educação, quer quanto à equiparação, quer quanto à nomeação de professor de Educação para a escola, quer quanto à implantação do novo sistema de notas. O ofício encaminhado pela Diretora da Escola Normal Livre anexa ao Colégio de Santa Inês, Irmã Jécia Pinheiro, ao diretor Geral da Repartição de Informações, Estatística e Divulgação da Secretaria de Estado da Educação e Saúde Pública, em março de 1933, demonstra a disposição, por parte da Escola,


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em atender as normas prescritas pela secretaria e para que o preparo das professoras do estabelecimento fosse em tudo idêntico ao oficial. O pedido de material feito, nesse mesmo ofício, por exemplo, denota que, na escola, circulava o mesmo material de ensino da escola oficial.

“Ilmo. Sr. Acusando o recebimento da circular nº 2/110/471 de V.S. e o volume a que a mesma se refere, comunicamoslhe, com prazer, que a diretoria deste Colégio já deu as necessárias providências para que nas aulas do curso secundário se dê leitura comentada e se façam oportunas discussões e trabalhos escritos sobre a preciosa conferência do eminente brasileiro Dr. Miguel Couto. No entanto pedimos a V.S. queira remeter-nos mais algumas dezenas do referido opúsculo, pois os que nos vieram apenas chegaram para os docentes e um pequeno número de alunas. Aproveitamos o ensejo para solicitar outrossim de V.S. enviar-nos , para o nosso “Curso de Formação Profissional de professoras”, revistas, folhetos, estatísticas, fotografias, o que possa enfim colocar nossas “futuras professoras” a par do movimento educacional que se realiza em todo o Brasil e, deste modo, fomentar, entre as mesmas, maior interesse pela causa da educação, em nossa Pátria. Na certeza de que será grato a V.S. colaborar conosco para a formação e preparo de um professorado competente e capaz de satisfazer as necessidades nacionais nos subscrevemos com a mais elevada estima e consideração,

Ir. Jécia Pinheiro – Diretora (São Paulo, 20 de março de 1933”

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As raízes de nossa história

Por Irmã Maria de Lourdes Becker O grande intermediador da vinda dos Salesianos para o Brasil foi Monsenhor Filippo, nascido em 1845, em São Vicenzo de Cosenza, Itália, que após sua ordenação, escolheu o Brasil, mais precisamente, a cidade de Guaratinguetá, no Estado de São Paulo, como seu campo de missão e apostolado sacerdotal. Monsenhor Filippo é descrito, por alguns historiadores de Guaratinguetá, como benfeitor da cidade e alguém com autoridade junto à população pobre e à camada dos aristocratas, os proprietários rurais, donos de fazenda de café. Para melhor atendimento da população, patrocinou reformas de igrejas, ampliação e melhoramentos no prédio da Santa Casa de Misericórdia, fundação do Asilo de Santa Isabel. Preocupado com a educação fundou um colégio para meninos e construiu o Colégio do Carmo para as meninas e, mais tarde, a Casa do Puríssimo Coração de Maria. Monsenhor Filippo, durante a construção do Colégio, manteve-se em contato com Dom Lasagna, Inspetor Geral das Missões da América, encarregado da expansão da obra salesiana na América do Sul, por intermédio dos Salesianos estabelecidos no Rio de Janeiro, e solicitou-lhe a presença das Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil, mais precisamente em Guaratinguetá, oferecendo” o Colégio para acolher as tão esperadas educadoras segundo o espírito de Dom Bosco, assim descrito por ele no primeiro “Programa do “Collegio de Nossa Senhora do Carmo para Meninas dirigido pelas Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora – Guaratinguetá – Estado de São Paulo – 1891”: “(...) O Collegio de Nossa Senhora do Carmo, cuja construção fora iniciada em 1887 e terminada em 1891, ergue-se sobre trezentos palmos de comprimento e cento e quarenta e cinco de largura. É defendido das faíscas electricas por três para-raios de superior qualidade, com boquel de ponta de platina, sendo 24 | Em Família


Artigo um de seis metros, outro de quatro metros e outro de três com corda conductor ligando o para-raio da torre aos outros até a chapa do edifício, sendo a corda de sete cordões e sete fios cada um. O Collegio é um sobrado que tem acomodações para mais de 400 meninas, com vastíssimos salões perfeitamente arejados reunindo todos os requisitos das mais escrupulosas hygiene, servido por uma canalisação de água potável de primeira qualidade e abundante, exclusivamente do Collegio. No centro há uma área espaçosa no meio da qual levanta-se uma coluna que serve de chafariz. A Capella é de optimo gosto, elegante, avantajada podendo as alunas ouvir missa e assistir aos demais officios do culto, do pavimento superior. A torre tem 135 palmos de altura, em cuja summidade ostenta majestosa a imagem da Padroeira. Possue, o Estabelecimento, excelentes recreios todos murados e grande terreno banhado por um ribeirão. Collocado sobre uma bonita collina, o Establecimento, oferece uma perspectiva encantadora, e uma vista esplendida por todos os lados. A escolha do local não podia ser melhor; é dois passos da cidade, e ao mesmo tempo retirado do bolício da multidão e do tumulto da praça, e é sobre modo saudável. O Collegio tem acomodações para mais de 400 alumnas internas, o seu futuro será o mais risonho possível, prestará os mais assingnalados serviços à causa da Religião e da Pátria, que é uma e a mesma coisa, à educação e instrucção das meninas de todas classes sociais, e principalmente das pobres, órfãs e desvalidas entregues aos cuidados e ao zelo incommensuravel das ilustradas e virtuosas Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora, Congregação instituída pelo santo sacerdote, D. João Bosco (...)” Dom Lasagna apresentou o pedido a Dom Rua, então Superior da Congregação, que aceitou a solicitação e a generosa oferta de Monsenhor João Filippo. O primeiro “Programa do Collegio de Nossa

Senhora do Carmo para Meninas dirigido pelas Filhas de Maria Auxiliadora – Guaratinguetá – Estado de São Paulo – 1891” foi elaborado por Monsenhor Filippo e elencava as disciplinas a serem ministradas, as condições de admissão, o enxoval e os objetos de toilette solitados às futuras alunas. Apesar de todo o esforço de Monsenhor Filippo para construir o Colégio do Carmo, para trazer as Filhas de Maria Auxiliadora para o Brasil, não foi poupado de duras críticas e sofrimentos que não podemos negar diante de uma carta que Monsenhor enviou para um determinado senhor cujo nome não é citado. (carta p. 103 do livro) “Ilmo. Sr. Boas Festas Visitei V.Sª em 1886, pedindo-lhe esmola para fundar uma casa de educação nesta cidade. Visito-o hoje e peço-lhe a esmola de ler o que diz respeito a essa fundação já realizada e que se chama Collegio Nossa Senhora do Carmo. Ninguém ignora as tempestades movidas contra mim por ocasião dessa fundação. Falou-se muito...e tudo ouvi calado, esperando pelo dia da justificação que é agora que reverente apresento ao público os livros de entrada e saída, de receitas e despesas, e peço a todos (em nome de Deus e da Virgem do Carmo) a caridade de lerem e examinarem bem esses documentos para que todos sejam juízes. Ofereço mais, juntamente a esses documentos a avaliação das mesmas obras feitas pelos distintíssimos senhores engenheiros, doutores Benedito Vieira e Justin Norbet. Apresentei ao público não somente o estabelecimento que prometi fazer, mas ainda o necessário para poder-se inaugurar e funcionar; descobrimento e canalização de água, etc. Apresentei obra completa em muito pouco tempo e pela terça parte menos do que a avaliação de todos, como justifico pelos documentos atestados janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 25


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já referidos; e para chegar a esse estado no curto espaço de três anos e poucos meses. O que não me custou! Abandonei meus interesses, larguei tudo, estudei e fiz todas as economias possíveis; tomei compromissos com os capitalistas e levei as obras sem parar um dia; trabalhei com minhas próprias mãos, me confundi com os operários, minhas vestes sacerdotais seguidamente sujas e laceradas pelo contato dos materiais e molhadas pelo suor; o reboque e os tijolos, frequentes vezes, receberam o sangue de minhas feridas mãos! Os companheiros operários são testemunhas. E quantos trabalhos, sacrifícios, insônias, humilhações, vexames, privações e até fome! Deus o sabe! E tudo isso tem sido qualificado e 26 | Em Família

apregoado por ladroeira, especulação, etc! A ingratidão é a chaga mais doída do mundo e é com que sempre os do mundo remuneram seus servidores! Atacaram-me por todos os modos, tomaram até o expediente de publicar aos quatro ventos (para que ninguém me atendesse) ser eu comerciante dessa praça. Contra essa calúnia protestei pelos jornais desta cidade em 1888 e torno sentidamente protestar hoje e considero essa leviandade a maior injúria e injustiça que se tem procurado fazer. (...) Os livros que tratam dessas obras são sete e ficam à disposição do respeitável público por esta ordem: vinte dias em frente ao portão do collegio das sete da manhã às seis da tarde; um mês na


Artigo anteporta principal da matriz e nas mesmas horas, a começar do Domingo da Ressurreição. Nada recebi que não conste dos referidos livros, se alguém souber do contrário, fale e restituirei cento por cento. Declaro (em desmentida aos que, para deprimirem a minha dedicação, propalaram que recebia ordenado pelo meus serviço) que de ninguém recebi incumbência dessa obra: foi minha deliberação em 29 de junho de 1886, aniversário do meu batismo, em reconhecimento a Deus e à sua divina Mãe, a Imaculada Virgem do Carmo, sob cuja proteção nasci. De ninguém, portanto, recebi nem espero receber remuneração alguma. Tudo fiz e continuo a fazer gratuitamente; o ordenado de que fui julgado merecedor e que recebi desses senhores próximos é que todos sabem: uma coroa de impropérios! Cansei e envelheci em trabalhar por dotar Guaratinguetá com esse melhoramento, e estou cansado de justificar a minha inocência! Como isto é doído! E por que razão tanto alarido?(...) Peço a Guaratinguetá que queira bem seu collegio; ele representa a minha boa vontade em querer prestar bom serviço. Fiz o que pude e espero lhe ser ainda útil. O collegio está feito, é verdade, mas as paredes não fornecem o necessário para vida aos que nele habitam; não tem patrimônio, é pobre, e o que recebe das alunas pensionistas mal dá para o custeio da casa; e mesmo assim (além de grande utilidade que por elevem a Guaratinguetá) oferece ao público m externato gratuito e conserva internas um bom número de meninas pobres; merece, portanto, ser querido e auxiliado para que possa prestar ainda serviço melhor.(...) Permita o Sagrado Coração de Jesus que o Collegio Nossa Senhora do Carmo possa receber e educar só meninas pobres. É o que as virtuosas e ilustradas Irmãs que o dirigem e eu muito desejamos.

Espero que a distinta e religiosa Guaratinguetá não despreze o meu pedido. Nada peço para mim, tudo fiz e tudo peço para Guaratinguetá; é a ela que recomendo o collegio como pai extremoso em ato de fazer longa viagem, a seu íntimo amigo entrega e recomenda o seu querido filhinho. E eu, pois, enquanto vivo e ainda depois de morto, não cessarei de dirigir fervorosas súplicas a Jesus Cristo e a Nossa Senhora do Carmo para que abençoem e sempre protejam Guaratinguetá, preservando-a de todos males, fazendo-a seu escolhido e querido povo. Guaratinguetá, 25 de março de 1893. João Filippo”

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Instituto Coração de Jesus 90 anos Sua origem e fundação O grande colégio que hoje educa com o objetivo de oferecer e desenvolver o ensino nos seus vários graus, bem como dedicar-se a obras de promoção humana, filantrópica e social, sem discriminação de sexo, idade, cor, credo religioso ou político e condição social, teve origem humilde como todas as grandes obras, como dizem as crônicas. Nasceu no dia 19 de junho de 1927. Já no dia 29 de junho de 1920, seis meses depois da morte do sacerdote dos Missionários de São Carlos, o Pe. Luiz Capra, falecido a 3 de fevereiro desse mesmo ano e que é considerado o “fundador” dessa “obra” por tê-la idealizado, o pároco Dom Augusto Rizzi havia realizado com os vários chefes de antigas famílias de Santo André a primeira reunião na qual tratou da compra do terreno para a fundação da futura “obra”que seria hoje o “nosso Colégio”. “Proteção moral e instrução às crianças especialmente às pobres e abandonadas”, era sua finalidade específica.

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Artigo O “colégio” passou por diversas fases sob diversos nomes: Centro Educativo Padre Luiz Capra, nome que não foi usado, pois o povo passou a usar logo Asilo Infantil Padre Luiz Capra, Externato Padre Luiz Capra, Ginásio Padre Luiz Capra, criado a 24/06/1948 e iniciando seu funcionamento no dia 1º de março de 1949. Finalmente Instituto Coração de Jesus em 1957. A chegada das Irmãs, realizou-se com muita pompa. Madre Constanza conta-nos na “Crônica da Casa”: “No ano do Senhor, 1927, regendo a Cátedra de S. Pedro, SS. Pio XI, sendo Presidente da República, o Sr. Washington Luís, do Estado o Dr. Júlio Prestes, regendo a Arquidiocese de S. Paulo S. Excia. Mons. Conte Duarte Leopoldo e Silva, sendo Superiora Geral do Instituto Madre Luiza Vaschetti, Superior Geral dos Salesianos O Revmo. Dom Filipe Rinaldi, Inspetora Madre Anna Covi, Prefeito da cidade de S. Bernardo Dr. Saladino Franco, às 2 horas da tarde do dia 19 de junho chegavam a esta cidade acompanhadas pela Revda. Madre Inspetora, pela conselheira Ir. Helena Hospital e pela Ecônoma Inspetorial Ir. Catarina Capelli, as cinco irmãs que deviam dar início a esta “Casa”: Ir. Constanza Storti ( diretora) - Ir. Maria Steymeir, Ir. Maria Alves, Ir. Maria do Carmo Chaves e a postulante Maria Isabel Pereira, professora das várias classes. Na estação éramos esperadas pelo Sr. Pároco, Dom Augusto Rizzi, por várias autoridades locais, pelos membros da Diretoria de várias Associações Religiosas. Depois dos cumprimentos de ocasião toda a comitiva

(mais de 30 carros) acompanhou as Irmãs à Paróquia onde eramos esperadas por todas as Associações e recebidas ao som de sinos e rojões. À porta da Igreja, ao chegarem as Irmãs, o menino José Gaiarsa, cumprimentou a Revda. Madre Inspetora “. Em seguida a menina, Zenith Giglio, saúda a nova Ir. Diretora oferecendo-lhe também um ramo de flores. Logo após, o Revdo. Pároco implora as bênçãos de Deus sobre as tão “suspiradas irmãs”. A igreja está repleta, todos querem ver as Irmãs as quais tomam lugar num banco preparado e enfeitado festivamente para elas. Cessando o canto, o Revmo. Pároco com um comovente discurso de boas vindas, apresenta as Irmãs ao povo, para educação de seus filhos. Com linguagem simples e entusiasta traduz toda a sua gratidão a Deus que, após 7 anos de longa espera, satisfaz o imenso desejo do povo mandando-lhes as tão desejadas Filhas de D. Bosco para a salvação da juventude de Santo André... Comoveu-se ao dizer isso, e, com ele, todos os presentes. Terminada a função com o Canto de TE DEUM, toda a comitiva acompanha as Irmãs à nova residência. Às 6 horas, o jantar de gala especialmente preparado e servido pelas beneméritas Damas de Santa Terezinha que tanto trabalharam para a fundação desta Casa”. Continua a Crônica: Finalidade ou motivo que determinou esta fundação: A educação dos filhos e filhas do povo e a salvação da juventude de Santo André. A Casa “Centro Educativo Pe. Luiz Capra ”divide-se em duas secções: - Asilo Infantil janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 29


Artigo e Escola Paroquial tendo anexo o Oratório Em janeiro de 1928: abertura da Escola Noturna Festivo “dopo scuola” e logo mais a para operárias Escola Noturna. Crônica, julho de 1927) Benfeitores: Dados numéricos em 1927: Foram as “Damas de Santa Terezinha do Menino Jesus”, antigas “Damas da Caridade” as grandes - Asilo Infantil: 160 crianças benfeitoras que muito cooperaram para a - Escola Paroquial: 110 fundação e manutenção desta Casa durante - Dopo Scuola: 100 seus primeiros anos de vida. Adquiriram, com - Aula Particular: 12 bastante antecedência o terreno. - Catecismo para as operárias: 50 - Catecismo diário: 100 a 120 Primeiros anos: - Assistência à Missa Dominical: 300 a 400 A vida das Irmãs, no princípio, foi bastante - Oratório festivo masculino: 300 sacrificada. Eram realmente pobres. Até para - Oratório festivo feminino: 300 trocar uma lâmpada precisava-se pedir à comissão. Nos primeiros anos as Irmãs assistem diariamente a Santa Missa na

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Artigo Paróquia de Santo André ( uma subida de 8 A Casa é “de administração”. As Irmãs recebem quarteirões...) o “pagamento” através do Pároco, que, por sua 14 de julho: início regular das aulas (200 vez recebe a mensalidade dos alunos das Irmãs. crianças entre meninos e meninas) estando E a Vida entre trabalhos e lutas continua por 90 ainda por terminar as salas de aula. anos bem vividos. 17 de julho: início do Oratório Festivo com 360 crianças... “as quais, felizes como páscoa Fonte: Crônicas do Instituto correm festivas... e já se sentem amicíssimas das Coração de Jesus pobres filhas de D. Bosco”. O Oratório funciona das 12h às 6 horas da tarde e até as 7 horas porque as crianças só resolvem ir embora ao escurecer. 24 de julho: As Irmãs conseguem a presença de Jesus Eucarístico em Casa. Diz-nos Ir. Constanza: Oh! Come fu lunga l’assenza di Gesú, come fu interminabile questo mese e tre giorni! La nostra Cappelina é povera, si... ma aggiustiamo Gesú il meglio possibile... ci pare, sentiamo che sta contento!” Nesse dia há pela 1ª vez a Missa em casa. Em dezembro o número das crianças do Oratório Festivo passa a 550. As Irmãs acompanham as oratorianas à Missa dominical na Paróquia ( 300 a 400 crianças)

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Entrevista

Entrevista com Ir. Theresinha Castro Ir. Theresinha Castro é Salesiana há 64 anos e ex-aluna do Colégio de Santa Inês

1. Conte-nos um pouco de sua história Sou natural de Casa Branca, Estado de São Paulo, nasci no dia 15 de outubro de 1929. Atualmente minha residência é Colégio de Santa Inês Estudei neste Colégio porque um tio materno, cursava Odontologia na Faculdade de Odontologia e Farmácia da USP, em frente ao Colégio e, como conhecia as Irmãs, conseguiu uma vaga para mim, que era difícil na época. 2. Como era o Colégio em sua época? Vim do Interior do Estado, onde morava e estudava em Casa Branca e, por cinco anos, fui aluna interna do Colégio, de 1945 a 1949, quando me formei professora. Cursei, portanto, o 3º e 4º anos Ginasiais, 32 | Em Família

o Pré Normal, 1º e 2º anos Normais. Naquela época, as professoras, na sua totalidade eram as Irmãs, cuja relação conosco, alunas era melhor possível. Encontrei no Colégio, a continuação de minha casa, um verdadeiro lar, onde vivi e convivi com prazer, minha adorável juventude, onde realizei plenamente os meus projetos pessoais que eram variados e muitos. ...Amava o meu Colégio e tudo que havia nele; estudávamos muito, mas muito mesmo. As Irmãs eram ótimas professoras, bem preparadas e muito exigentes. Não brincavam em serviço. Foram modelos de vida e competência. Depois de Jesus Cristo e Maria Auxiliadora, Dom Bosco sempre foi a inspiração, o modelo e a imagem que na Ação Educativa, nas Aulas e na Vivência do


Entrevista dia a dia, as Irmãs nos transmitiam. Éramos verdadeiramente preparadas para a vida e a sociedade do tempo. Os métodos educativos modernos faziam parte da formação e das metodologias das nossas mestras. Conhecíamos perfeitamente, por estudo e vivência o Sistema Preventivo de Dom Bosco. O Colégio de Santa Inês gozava da “fama” de ser dos melhores de São Paulo. 3. O que havia no Colégio fora da sala de aula? As atividades eram numerosas; muitos jogos quase que diários, muita música e cantos, passeios diversos, desfiles internos e externos em algumas festividades. As festas religiosas e cívicas eram celebradas com muita pompa, curtíamos muito e dizíamos com frequência que eram de “arromba”!!! Nossa biblioteca escolar e a circulante eram atualizadas e líamos muito. Quanto ao associacionismo e o forte da época era a Ação Católica e para nós, estudantes, a JEC (Juventude Estudantil Católica) da qual fui membro diretivo e ativo durante todos os meus anos de estudo. A JEC foi decisiva na minha juventude, na formação da minha personalidade e contribuição de minhas decisões de vida. 4. Como o Colégio contribui para seu crescimento profissional? Como mulher, fui altamente beneficiada e profundamente atingida pela educação e espiritualidade recebidas no Colégio. 5. Qual a influência de Dom Bosco em sua vida? Foi tão profunda a influência que após minha formatura optei por ser Salesiana. Sou Salesiana há 62 anos e educadora há 64 anos. Licenciada e Bacharel em Geografia e História, Biblioteconomia, Pedagogia, Orientação

Educacional e Cultura Religiosa, Pós-Graduada em Mestrado pela USP em Ciências Sociais, Demografia e Sociologia do Lazer pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP), Planejamento Educacional pela Universidade do Chile, Santiago. Fui Diretora Geral do Instituto Coração de Jesus em Santo André por 28 anos e das Faculdades Integradas Coração de Jesus por 32 anos desde sua fundação em 1976. A influência de Dom Bosco em minha vida foi plena e permanece. 4. Deixe uma mensagem para os leitores da Revista Em Família? Queridos leitores, a vida é a arte de pintar e sentir a própria história, somos riscos, traços, curvas e cores que fazem da nossa vida uma verdadeira obra de arte.

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Registro

300 anos de bênçãos! Muitos peregrinos, devotos e romeiros de Nossa Senhora Aparecida, acorrem ao seu Santuário Basílica, em Aparecida, cidade paulista, no Vale do Paraíba, para homenagear e render piedosa devoção à Mãe do Redentor, Mãe dos brasileiros, confiando na sua maternal proteção e poderosa intercessão, buscando consolo para suas angustias e tribulações, refúgio nos momentos difíceis e uma verdadeira e singela devoção àquela que soube e quis fazer sempre a vontade de Deus.

brasileiros e brasileiras têm por sua Rainha e Padroeira. São muitos os que se dirigem à capital mariana do Brasil, capital da fé e lugar de mística. Anualmente acorrem ao trono da Mãe Aparecida 12 milhões de pessoas, segundo as estatísticas oficiais do Santuário Nacional.

O piedoso gesto de peregrinar ao Santuário tem as suas origens já no início da história do povo de Israel e do próprio cristianismo. Peregrinar significa colocar-se a caminho de um determinado lugar santo. Israel subia em peregrinação à Jerusalém Adentrar ao seu Santuário Basílica é um gesto para oferecer sacrifícios e honrar o nome de visível e piedoso da grande devoção que os Deus no Santuário. Já Santa Helena, a mãe do

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Registro Imperador Constantino, realizara, segundo os relatos atuais, a primeira peregrinação à Terra Santa, o destino foi o Santo Sepulcro. Peregrinar é um dos meios que nos faz pensar na conversão diária. Os cristãos caminham rumo à pátria definitiva, ou seja, a eternidade. O gesto de colocar-se em movimento é dizer que almejamos um encontro pessoal com Jesus Cristo. Na história da Igreja vemos numerosas peregrinações a lugares santos. Os fiéis iam em peregrinação à Basílica do Apóstolo Pedro, localizada em Roma, demonstrando veneração ao primado daquele a quem foi confiado a autoridade e a chefia do colégio apostólico, dando origem ao título de Romeiros. Aqui, no Brasil, existem muitas manifestações visíveis desse bonito e significativo gesto de peregrinar. São destinos variados e cheios de história, tradições e costumes. Confiemos na poderosa ajuda da Mãe de Deus e nossa Mãe. Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, acolha com bondade as humildes e unânimes preces que lhe dirigimos. Confortados e esperançosos, na certeza da intercessão da nossa padroeira celestial, vivamos dia a dia, na presença de Deus, como filhos necessitados do seu amor e da sua misericórdia. Seminarista Everton Vieira da Silva | everton@rmater.org.br Seminário Missionário Arquidiocesano Redemptoris Mater - Brasília - DF Associado da Academia Maria

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Registro

Poema da Mãe Cabocla Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil Ir. Olga de Sá

Foi preciso que eu morasse bem perto de ti para conhecer-te um pouco melhor. Foi preciso que visse muitas vezes tua casa cheia de povo humilde, de povo simples, de meu povo, para avaliar menos mal o teu amor. Foi preciso, minha Nossa Senhora, que eu mesma me sentisse peregrina, em tua casa, pobre como os mais pobres de meu povo, para colher os teus segredos. E afinal compreendi porque tens um manto que envolve e afaga e conforta e agasalha, todas as mães-caboclas do Brasil. Compreendi porque não tens o Menino, e 36 | Em Família


Registro porque, sendo Mãe, não O trazes nos braços, pois

Sinto a alma do Brasil que flutua

há tantos meninos, minha Nossa Senhora, há

confiante, sofrida, corajosa e humilde,

tantos chorando, dentro e fora,

entre as paredes singelas de tua igreja.

de tua Casa!

Eu vejo naquele que chega e se vai, naquele que reza e cumpre as promessas,

Se tivesses o Menino sadio no colo,

o Brasileiro-peregrino do teu amor.

terias certamente que o descer ao chão,

O pobre caboclo veio lá de Londrina,

para apertar junto ao teu coração

com sua malinha vazia e disforme,

a criançada chorosa e doente,

p’ra despedir-se de ti;

que enche tua igreja de dar inocente

o pobre caboclo veio lá de Londrina,

quase todos os dias.

vai p’ra tão longe, vai p’ro porto Guaíra,

Compreendi, afinal, minha Nossa Senhora,

tratar do gado, pois o café já não dá.

porque tua Casa é barulhenta,

Noivos simples, caiçaras, vieram de longe,

e teus filhos te suplicam aos gemidos,

trocando a festança de sua terrinha,

puxando-te pelo manto e pelo vestido,

pelas bênçãos maternas de Nossa Senhora.

como os meninos caboclos de minha terra.

Assim passam todos, alegres ou tristes,

Em tua Casa de costumes antigos,

mais cedo ou mais tarde, um dia na vida,

a súplica das multidões que lamentam,

e ante o teu trono singelo e humano,

os sussurros das dores que gritam,

flutua plangente, terna e valente,

são as vozes caladas de todos nós.

a alma-cabocla de minha terra!

A tua roda se move e aglomera

Afinal compreendi,

um povo que reza por todos os poros,

Que tu és a mais bonita,

minha querida e Santa Nossa Senhora!

a mais bondosa, graciosa e catita,

Basta vê-lo que se ajoelha pelas ruas,

Mãe-Cabloca de minha terra!

que te carrega pelas cidades, que enche as estradas de cruzes e vêlas, sobre a morte abandonada dos coitadinhos. Um povo que reza pelos gestos contidos, pelo sorriso bom, pelo corpo arredio, pela leveza dos membros, pela sua pobreza, esse povo que é teu, de quem és Rainha, Mãe-Cabocla e Senhora do meu Brasil! janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 37


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Exortação Apostólica pós-Sinodal do Papa Francisco sobre a família. “Amoris laetitia”, a “Alegria do Amor”. O “EM FAMÍLIA” reproduz a síntese da Exortação, publicada pelo site “Rádio Vaticano – a voz do Papa e da Igreja em diálogo com o mundo”.

Capítulo primeiro: “À luz da Palavra” No primeiro capítulo, o Papa articula a sua reflexão a partir das Sagradas Escrituras, em particular, com a meditação sobre o Salmo 128, característico da liturgia nupcial hebraica e também da cristã. A Bíblia ”aparece cheia de famílias, gerações, histórias de amor e de crises familiares”(AL 8). 38 | Em Família

Capítulo segundo: “A realidade e os desafios das famílias” Partindo do terreno bíblico, o Papa considera, no segundo capítulo, a situação atual das famílias, mantendo ”os pés assentes na terra” (AL 6) como se pode ler na Exortação. A humildade do realismo ajuda a não apresentar ”um ideal teológico do matrimónio demasiado abstrato, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efetivas das famílias tais como são”(AL 36).


Registro O matrimónio é “um caminho dinâmico de crescimento e realização”. “Somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituílas”(AL37) refere o Papa Francisco no seu texto, pois, Jesus propunha um ideal exigente, mas ”não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adúltera” (AL 38).

Capítulo terceiro: “O olhar fixo em Jesus: a vocação da família” O terceiro capítulo da Exortação é dedicado a alguns elementos essenciais do ensinamento da Igreja acerca do matrimónio e da família. Em 30 parágrafos ilustra a vocação à família de acordo com o Evangelho, assim como ela foi recebida pela Igreja ao longo do tempo, sobretudo quanto ao tema da indissolubilidade, da sacramentalidade do matrimónio, da transmissão da vida e da educação dos filhos. Fazem-se inúmeras citações daGaudium et spes do Vaticano II, da Humanae vitae de Paulo VI, da Familiaris consortiode João Paulo II.

Capítulo quarto: “O amor no matrimónio” O amor no matrimónio é o título do quarto capítulo desta Exortação e ilustra-o a partir do “hino ao amor” de S. Paulo na Primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 13, 4-7). Este capítulo desenvolve o carácter quotidiano do amor que se opõe a todos os idealismos: ”não se deve atirar para cima de duas pessoas limitadas o peso tremendo de ter que reproduzir perfeitamente a união que existe entre Cristo e a sua Igreja, porque o matrimónio como sinal implica um processo dinâmico, que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus” (AL 122). Também neste capítulo uma reflexão sobre o amor

ao longo da vida e da sua transformação. Podese ler no documento: “Não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável, comprometer-nos a amar-nos e a viver unidos até que a morte nos separe, e viver sempre uma rica intimidade” (AL 163).

Capítulo quinto: “O amor que se torna fecundo” O capítulo quinto desta Exortação Apostólica foca-se sobre a fecundidade, do acolher de uma nova vida, da espera própria da gravidez, do amor de mãe e de pai. Mas também da fecundidade alargada, da adoção, do acolhimento do contributo das famílias para a promoção de uma “cultura do encontro”, da vida na família em sentido amplo, com a presença de tios, primos, parentes dos parentes, amigos. A “Amoris laetitia” não toma em consideração a família ”mononuclear”, mas está bem consciente da família como rede de relações alargadas. A própria mística do sacramento do matrimónio tem um profundo carácter social (cf. AL 186). E no âmbito desta dimensão social, o Papa sublinha em particular tanto o papel específico da relação entre jovens e idosos, como a relação entre irmãos como aprendizagem de crescimento na relação com os outros.

Capítulo sexto: “Algumas perspetivas pastorais” No capítulo sexto da exortação o Papa aborda algumas vias pastorais que orientam para a edificação de famílias sólidas e fecundas de acordo com o plano de Deus. Em particular, o Papa observa que ”os ministros ordenados carecem, habitualmente, de formação adequada para tratar dos complexos problemas atuais das famílias” (AL janeiro | fevereiro | março e abril 2017 | 39


Registro 202). Se, por um lado, é necessário melhorar a formação psico-afetiva dos seminaristas e envolver mais a família na formação para o ministério (cf. AL 203), por outro ”pode ser útil também a experiência da longa tradição oriental dos sacerdotes casados” (AL 202). Neste sexto capítulo importantes referências à preparação para o matrimónio, acompanhamento dos esposos nos primeiros anos da vida matrimonial, acompanhamento das pessoas abandonadas, separadas ou divorciadas. Ao mesmo tempo é reiterada a plena comunhão na Eucaristia dos divorciados e em relação aos divorciados recasados é reforçada a sua “comunhão eclesial” e o acompanhamento das suas situações que não deve ser visto como uma debilidade da indissolubilidade do matrimónio mas uma expressão de caridade.

Capítulo sétimo: “Reforçar a educação dos filhos” O capítulo sétimo é integralmente dedicado à educação dos filhos: a sua formação ética, o valor da sanção como estímulo, o realismo paciente, a educação sexual, a transmissão da fé e, mais em geral, a vida familiar como contexto educativo. É ressaltado pelo Santo Padre que “o que interessa acima de tudo é gerar no filho, com muito amor, processos de amadurecimento da sua liberdade, de preparação, de crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia” (AL 261).

Capítulo oitavo: “Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade” O capítulo oitavo faz um convite à misericórdia e ao discernimento pastoral diante de situações que não correspondem plenamente ao que o 40 | Em Família

Senhor propõe. O Papa usa aqui três verbos muito importantes: ”acompanhar, discernir e integrar”, os quais são fundamentais para responder a situações de fragilidade, complexas ou irregulares. Em seguida, apresenta a necessária gradualidade na pastoral, a importância do discernimento, as normas e circunstâncias atenuantes no discernimento pastoral e, por fim, aquela que é por ele definida como a ”lógica da misericórdia pastoral”. As situações ditas de irregulares devem ter um discernimento pessoal e pastoral e – segundo a Exortação – “os batizados que se divorciaram e voltaram a casar civilmente devem ser mais integrados na comunidade cristã sob as diferentes formas possíveis”. Em particular, o Santo Padre afirma numa nota de pé de página que “em certos casos poderá existir também a ajuda dos sacramentos”, recordando que o confessionário não deve ser uma sala de tortura e que a Eucaristia “não é um prémio para os perfeitos, mas um alimento para os débeis”. Mais em geral, o Papa profere uma afirmação extremamente importante para que se compreenda a orientação e o sentido da Exortação: ”é compreensível que não se devia esperar do Sínodo ou desta Exortação uma nova normativa geral de tipo canónico, aplicável a todos os casos. É possível apenas um novo encorajamento a um responsável discernimento pessoal e pastoral dos casos particulares, que deveria reconhecer: uma vez que “o grau de responsabilidade não é igual em todos os casos, as consequências ou efeitos duma norma não devem necessariamente ser sempre os mesmos” (AL 300). O Papa desenvolve em profundidade as exigências e características do caminho de acompanhamento


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e discernimento em diálogo profundo entre fiéis e pastores. A este propósito, faz apelo à reflexão da Igreja ”sobre os condicionamentos e as circunstâncias atenuantes” no que respeita à imputabilidade das ações e, apoiando-se em S. Tomás de Aquino, detém-se na relação entre «as normas e o discernimento», afirmando: ”É verdade que as normas gerais apresentam um bem que nunca se deve ignorar nem descuidar, mas, na sua formulação, não podem abarcar absolutamente todas as situações particulares. Ao mesmo tempo é preciso afirmar que, precisamente por esta razão, aquilo que faz parte dum discernimento prático duma situação particular não pode ser elevado à categoria de norma” (AL 304).

Senhor Se serve para os levar às alturas da união

Capítulo nono: “Espiritualidade conjugal e familiar”

limites, mas também não renunciemos a procurar

O nono capítulo é dedicado à espiritualidade conjugal e familiar, ”feita de milhares de gestos reais e concretos” (AL 315). Diz-se com clareza que ”aqueles que têm desejos espirituais profundos não devem sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito, mas é um percurso de que o

mística” (AL 316). Tudo, ”os momentos de alegria, o descanso ou a festa, e mesmo a sexualidade são sentidos como uma participação na vida plena da sua Ressurreição” (AL 317). No parágrafo conclusivo, o Papa afirma: ”Nenhuma família é uma realidade perfeita e confecionada duma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar. (…). Todos somos chamados a manter viva a tensão para algo mais além de nós mesmos e dos nossos limites, e cada família deve viver neste estímulo constante. Avancemos, famílias; continuemos a caminhar! (…). Não percamos a esperança por causa dos nossos a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida” (AL 325).

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Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais “Não tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43, 5). Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo. Graças ao progresso tecnológico, o acesso aos meios de comunicação possibilita a muitas pessoas ter conhecimento quase instantâneo das notícias e divulgá-las de forma capilar. Estas notícias podem ser boas ou más, verdadeiras ou falsas. Já os nossos antigos pais na fé comparavam a mente humana à mó do moinho que, movido

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Registro pela água, não se pode parar. Mas o moleiro encarregado do moinho tem possibilidades de decidir se quer moer, nele, trigo ou joio. A mente do homem está sempre em ação e não pode parar de «moer» o que recebe, mas cabe a nós decidir o material que lhe fornecemos (cf. Cassiano o Romano, Carta a Leôncio Igumeno). Gostaria que esta mensagem pudesse chegar, como um encorajamento, a todos aqueles que diariamente, seja no âmbito profissional seja nas relações pessoais, «moem» tantas informações para oferecer um pão fragrante e bom a quantos se alimentam dos frutos da sua comunicação. A todos quero exortar a uma comunicação construtiva, que, rejeitando os preconceitos contra o outro, promova uma cultura do encontro por meio da qual se possa aprender a olhar, com convicta confiança, a realidade. Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas «notícias más» (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falimento nas vicissitudes humanas). Não se trata, naturalmente, de promover desinformação onde seja ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num otimismo ingénuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal. Antes, pelo contrário, queria que todos procurássemos ultrapassar aquele sentimento de mau-humor e resignação que, muitas vezes, se apodera de nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou a impressão de não ser possível pôr limites ao mal. Aliás, num sistema comunicador onde vigora a lógica de que uma notícia boa não desperta a atenção, e por conseguinte não é uma notícia, e onde o drama do sofrimento e o mistério do mal facilmente são elevados a espetáculo, podemos ser tentados a anestesiar a consciência

ou cair no desespero. Gostaria, pois, de dar a minha contribuição para a busca dum estilo comunicador aberto e criativo, que não se prontifique a conceder papel de protagonista ao mal, mas procure evidenciar as possíveis soluções, inspirando uma abordagem propositiva e responsável nas pessoas a quem se comunica a notícia. A todos queria convidar a oferecer aos homens e mulheres do nosso tempo relatos permeados pela lógica da «boa notícia».

A boa notícia A vida do homem não se reduz a uma crônica asséptica de eventos, mas é história, e uma história à espera de ser contada por meio da escolha duma chave interpretativa capaz de selecionar e reunir os dados mais importantes. Em si mesma, a realidade não tem um significado unívoco. Tudo depende do olhar com que a enxergamos, dos «óculos» que decidimos pôr para ver: mudando as lentes, também a realidade aparece diversa. Então, qual poderia ser o ponto de partida bom para ler a realidade com os «óculos» certos?

Não tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43, 5). Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo janeiro | fevereiro | março e abril 2017 | 43


Para nós, cristãos, os óculos adequados para decifrar a realidade só podem ser os da boa notícia: partir da Boa Notícia por excelência, ou seja, o «Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus» (Mc 1, 1). É com estas palavras que o evangelista Marcos começa a sua narração: com o anúncio da «boa notícia», que tem a ver com Jesus; mas, mais do que uma informação sobre Jesus, a boa notícia é o próprio Jesus. Com efeito, ao ler as páginas do Evangelho, descobre-se que o título da obra corresponde ao seu conteúdo e, principalmente, que este conteúdo é a própria pessoa de Jesus. Esta boa notícia, que é o próprio Jesus, não se diz boa porque nela não se encontra sofrimento, mas porque o próprio sofrimento é vivido num quadro mais amplo, como parte integrante do seu amor ao Pai e à humanidade. Em Cristo, Deus fez-Se solidário com toda a situação humana, revelando-nos que não estamos sozinhos, porque temos um Pai que nunca pode esquecer os seus filhos. «Não tenhas medo, que Eu estou contigo» (Is 43, 5): é a palavra consoladora de um Deus desde sempre envolvido na história do seu povo. No seu Filho amado, esta promessa de Deus – «Eu estou contigo» – assume toda a nossa fraqueza, chegando ao ponto de sofrer a nossa morte. N’Ele, as próprias trevas e a morte tornam-se lugar de comunhão com a Luz e a Vida. Nasce, assim, uma esperança acessível a todos,

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precisamente no lugar onde a vida conhece a amargura do falimento. Trata-se duma esperança que não decepciona porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações (cf. Rm 5, 5) e faz germinar a vida nova, como a planta cresce da semente caída na terra. Visto sob esta luz, qualquer novo drama que aconteça na história do mundo torna-se cenário possível também duma boa notícia, uma vez que o amor consegue sempre encontrar o caminho da proximidade e suscitar corações capazes de se comover, rostos capazes de não se abater, mãos prontas a construir.

A confiança na semente do Reino Para introduzir os seus discípulos e as multidões nesta mentalidade evangélica e entregar-lhes os «óculos» adequados para se aproximar da lógica do amor que morre e ressuscita, Jesus recorria às parábolas, nas quais muitas vezes se compara o Reino de Deus com a semente, cuja força vital irrompe precisamente quando morre na terra (cf. Mc 4, 1-34). O recurso a imagens e metáforas para comunicar a força humilde do Reino não é um modo de reduzir a sua importância e urgência, mas a forma misericordiosa que deixa, ao ouvinte, o «espaço» de liberdade para a acolher e aplicar também a si mesmo. Além disso, é o caminho privilegiado para expressar a dignidade imensa do mistério pascal, deixando que sejam as


imagens – mais do que os conceitos – a comunicar a beleza paradoxal da vida nova em Cristo, onde as hostilidades e a cruz não anulam, mas realizam a salvação de Deus, onde a fraqueza é mais forte do que qualquer poder humano, onde o falimento pode ser o prelúdio da maior realização de tudo no amor. Na verdade, é precisamente assim que amadurece e se entranha a esperança do Reino de Deus, ou seja, «como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce» (Mc 4, 26-27). O Reino de Deus já está no meio de nós, como uma semente escondida a um olhar superficial e cujo crescimento acontece no silêncio. Mas quem tem olhos, tornados limpos pelo Espírito Santo, consegue vê-lo germinar e não se deixa roubar a alegria do Reino por causa do joio sempre presente.

Os horizontes do Espírito A esperança fundada na boa notícia que é Jesus faz-nos erguer os olhos e impele-nos a contempláLo no quadro litúrgico da Festa da Ascensão. Aparentemente, o Senhor afasta-Se de nós, quando na realidade são os horizontes da esperança que se alargam. Pois em Cristo, que eleva a nossa humanidade até ao Céu, cada homem e cada mulher consegue ter «plena liberdade para a entrada no santuário por meio do sangue de Jesus. Ele abriu para nós um caminho novo e vivo através do véu, isto é, da sua humanidade» (Heb 10, 19-20). Por meio «da força do Espírito Santo», podemos ser «testemunhas» e comunicadores duma humanidade nova, redimida, «até aos confins da terra» (cf. At 1, 7-8).

também o nosso modo de comunicar. Tal confiança que nos torna capazes de atuar – nas mais variadas formas em que acontece hoje a comunicação – com a persuasão de que é possível enxergar e iluminar a boa notícia presente na realidade de cada história e no rosto de cada pessoa. Quem, com fé, se deixa guiar pelo Espírito Santo, torna-se capaz de discernir, em cada evento, o que acontece entre Deus e a humanidade, reconhecendo como Ele mesmo, no cenário dramático deste mundo, esteja compondo a trama duma história de salvação. O fio, com que se tece esta história sagrada, é a esperança, e o seu tecedor só pode ser o Espírito Consolador. A esperança é a mais humilde das virtudes, porque permanece escondida nas pregas da vida, mas é semelhante ao fermento que faz levedar toda a massa. Alimentamo-la lendo sem cessar a Boa Notícia, aquele Evangelho que foi «reimpresso» em tantas edições nas vidas dos Santos, homens e mulheres que se tornaram ícones do amor de Deus. Também hoje é o Espírito que semeia em nós o desejo do Reino, através de muitos «canais» vivos, por meio das pessoas que se deixam conduzir pela Boa Notícia no meio do drama da história, tornando-se como que faróis na escuridão deste mundo, que iluminam a rota e abrem novas sendas de confiança e esperança. Vaticano, 24 de janeiro

A confiança na semente do Reino de Deus e na lógica da Páscoa não pode deixar de moldar janeiro | fevereiro | março e abril 2017 | 45


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Mensagem do Reitor-Mor aos jovens na festa de Dom Bosco e para todo o ano 2017 Meus queridos jovens de todo o mundo salesiano, queridas jovens e queridos jovens: recebam minha saudação de amigo, de irmão, de pai – em nome de Dom Bosco –, ao fazer-me presente ‘batendo às portas de suas vidas’, na festa do nosso Amado Dom Bosco. Há alguns dias, o Papa Francisco escrevia uma carta aos jovens para a apresentação do documento que servirá de preparação à XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos a ser celebrado em outubro de 2018. No início dessa carta, o Papa dizia: “eu quis que vocês estivessem no centro da atenção, porque os tenho no coração”. Posso garantir-lhes que eu mesmo sei, por experiência pessoal, o que significa trazê-los no coração e desejar-lhes todo o bem, embora em muitos casos ainda não tenhamos podido nos cumprimentar pessoalmente. Sabem de uma coisa? Muitas vezes, quando me encontro com jovens do mundo e devo falar-lhes, gosto de pensar que é o que Dom Bosco, em nome de Jesus, gostaria de dizer-lhes. Mesmo ciente de que é grande a diversidade entre vocês, de acordo com os países e continentes em que vivem, a diversidade das culturas, a diversidade das visões de quem, com seus estudos universitários, se prepara para a vida; e que é muito diferente a realidade de quem tem meios humanos e econômicos para realizar as próprias potencialidades e a realidade de outros jovens que possuem oportunidades muito menores etc., os seus jovens corações sempre têm muito em comum, são muito parecidos apesar das diferenças e, por isso, posso dizer-lhes alguma coisa a todos, independentemente de onde se encontram. Minha mensagem hoje está em total sintonia como o que lhes pediu algumas vezes o Papa Francisco: “Eu confio em vocês, jovens, e rezo por vocês. Ousem ir contracorrente”. São muitos os adultos que confiam plenamente em vocês. Eu sou um deles, meus queridos jovens, e os incentivo a serem valorosos em suas vidas. 46 | Em Família


Registro Incentivo-os a terem a força de ir ‘contracorrente’ quando o apelo à fidelidade, a vocês mesmos e a Jesus, ressoar com força no interior de seus corações. O mundo de hoje precisa de vocês. Precisa de grandes ideais, que são próprios da sua juventude e dos seus sonhos juvenis. O mundo precisa, mais do que nunca, de jovens cheios de esperança e fortaleza, que não tenham medo de viver, de sonhar, de buscar uma profunda e verdadeira felicidade, aquela pela qual Deus habita em seus corações. Jovens que se sintam atraídos pelo compromisso e sejam capazes de se comprometerem e amar “até doer”, como disse certa vez Madre Teresa de Calcutá, hoje santa. Jovens capazes, a partir de seus compromissos, de dar o próprio tempo e dar-se a si mesmos. Existem também muitos jovens ‘cansados, entediados ou desencantados’, ou que simplesmente nunca se entusiasmaram com nada, jovens muito fracos e frágeis; por isso, precisam de outros jovens, de vocês, que falando da vida e com a mesma linguagem vital, mostrem-lhes que há outros caminhos e possibilidades; jovens que os ajudem a entender realmente que fugir dos desafios da vida nunca é uma solução, e que, também como verdadeiros ‘discípulosmissionários’, os ajudem a descobrir Jesus em suas vidas e a crer n’Ele. Um Jesus que, certamente, ‘não lhes vende fumaça”, mas oferece Vida, daquela autêntica, da sua, Ele mesmo. Queridos jovens, creio que uma coisa tão simples como esta Dom Bosco poderia dizer-lhes neste 31 de janeiro de 2017, com palavras e linguagem de hoje, assim como também lhes diz o Papa na carta mencionada: “Não tenham medo… Um mundo melhor constróise também graças a vocês, ao seu desejo de mudança e à sua generosidade. Não tenham medo de ouvir o Espírito que lhes sugere escolhas audazes, não hesitem quando a consciência lhes pedir que arrisquem para seguir o Mestre”. Desejo, de todo o coração, que isso aconteça para vocês. Arriscar sempre que se trate de Jesus e de Deus Pai em suas vidas. Nunca lhes faltará a sua Presença por meio do Espírito e será garantia segura do seu caminho humano de felicidade. Com verdadeiro afeto, cumprimento-os desejando-lhes uma feliz festa de Dom Bosco e a proteção sempre materna de nossa Mãe Auxiliadora. Ángel Fernández Artime, sdb Reitor-Mor janeiro | fevereiro | março e abril 2017| 47


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Jubileu 60, 50 e 25 anos de consagração religiosa Na tarde do dia 14 de janeiro, na Capela do Colégio de Santa Inês, as Irmãs Aldahyr De Bortoli, Ana

da Silva, que traduz e confirma a gratidão, de modo especial, à Nossa Senhora Auxiliadora.

Francisca Marques de Azevedo, Aparecida Geralda de Freitas, Diomira Marcolin, Donância Maria de

REZANDO...CELEBRANDO UM JUBILEU

Godoy, Maria Aparecida Delphino, Martha Mansur, Oda Junqueira, Lucia Maistro, Mirian Morotti,

1. Deus de Abrãao, Deus do chamado, Deus da

Aparecida de Fátima Barboza e Célia Regina Pinto

vocação! Também a nós fizeste ouvir um dia, a tua

agradeceram a Deus a alegria de um dia terem dito

voz Voz que chama, que convoca, que envia Vós

SIM a Deus, na vida religiosa salesiana, fazendo

que ecoa firme, ainda hoje em nosso coração!

seus o poema, presente de Irmã Célia Apparecida 48 | Em Família


Registro 2. Anos muitos são já passados do nosso primeiro sim. Parece ter sido ontem, Senhor, a tua convocação! Quando o amor está presente e é atuante Os anos passam ligeiros, para o coração cantante! 3. A experiência, Senhor, do teu amor fiel, É saborosa para nós, é mais doce que o mel. Queremos, pois, nesta hora de imensa gratidão Fazer–nos canto, poesia, fazer-nos louvação! 4. Louvação pela grandeza do teu dom. Louvação pela beleza da salesiana identidade Com o qual nos tatuaste por pura gratuidade! 5. Exulta , pois, Senhor, nosso coração de alegria Pois nos fizeste felizes “Filhas de Maria” Filhas daquela que, da Igreja é Mãe e Protetora Filhas amorosas de Maria Auxiliadora! 6. Nós te rendemos mil graças Deus de Abraão, Deus de Isaac, de Jacó, Deus de todos nós Nós te agradecemos, Deus de Dom Bosco, de Madre Mazzarello e de nossos Santos. Pelos Jubileus alegres, que em Cristo, na Inspetoria, na Igreja Celebramos entre tantos cantos! 7. Obrigadas, Senhor, pelo dom da Vocação FMA Obrigadas por Dom Bosco, por Maria Mazzarello, a nossa “Main”! Graças de damos pelo carisma salesiano, verdadeira aliança Que pelos jovens e, com eles, nos faz missionárias de alegria e esperança!

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Noviciado: Tempo de experiência de Deus Por Indianara Laurentino | Noviça, BPA

No dia 14 de janeiro, às 07h30, no Centro de Espiritualidade Flos Carmelis – Mairiporã - SP, sete jovens postulantes, vindas de cinco Inspetorias do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, Maria Auxiliadora, Laura Vicuña, Madre Mazzarello, iniciaram mais uma etapa formativa no Noviciado Interinspetorial Nossa Senhora das Graças com sede na Inspetoria Santa Catarina de Sena – BSP. Após um período de sete dias de retiro anual, assessorado por padre Roque Luiz Sibioni, SDB, as postulantes receberam a medalha de noviça entregue por Ir. Helena Gesser, Inspetora de São Paulo, iniciando oficialmente o “caminho de 50 | Em Família

inserção à Vida Religiosa no seguimento de Cristo, em confronto com a Palavra de Deus, com o estudo e a vivência das Constituições para assumir a identidade de Filha de Maria Auxiliadora”. A frase escolhida pelas jovens para iluminar a nova etapa foi o versículo 18 do capítulo 4 da carta aos Coríntios: “Procuramos as coisas visíveis, pois estas duram para sempre”. Irmã Helena enfatizou que “o caminho do noviciado é feito de serenidade e seriedade, por isso rezem, aprofundem, deixem que Deus conduza a cada uma, e confiem em Maria. Preparem-se para serem boas FMA pois, os jovens esperam isso de


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nós. Busquem a santidade”. A celebração foi envolvida pela alegria do “sim” de cada uma das jovens, e como expressou a noviça Eudenice da Luz Maia é “impossível descrever a emoção que senti ao receber a medalha de noviça, senti que meu sonho, meu projeto de vida estava mais perto de tornar-se realidade. Senti-me feliz pelo “sim” ao noviciado, um sim que me deixa mais próxima de Cristo e fortalece meu querer doar a vida pelo Reino de Deus a serviço da juventude”. A atual comunidade do noviciado interinspetorial é formada pelas Irmãs Rosângela Maria Clemente, Mestra de noviças, Célia Regina Pinto (BSP) Ana Maria Cordeiro (BBH) e a noviça de segundo ano Aldiana Moreira Cordeiro da Inspetoria Santa Terezinha (BMT) e as noviças de primeiro ano. O objetivo primeiro deste perído é o de fortalecer a experiência de Deus na própria vida,

respondendo ao chamado do Senhor no carisma Salesiano, e, conforme o projeto formativo das Filhas de Maria Auxiliadora, o noviciado é o tempo propicio para aprofundar a “experiência vocacional dos fundadores e interiorizar os valores evangélicos e salesianos”, onde a jovem inicia um processo mais radical do seguimento de Cristo, através da oração, vida comunitária e missão. As noviças manifestam sua gratidão a todas as pessoas que as ajudaram, acompanharam e rezaram para que pudessem, com coragem e liberdade, descobrir e responder sua vocação. Obrigadas, por tantas vidas presentes na vida de cada uma e pelo testemunho de alegria e compromisso de tantas Irmãs Salesianas.

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Convivência Vocacional 2017 Por Irmã Maria de Lourdes Fidelis dos Santos

A Inspetoria Santa Catarina de Sena amplia o processo de conscientização e vivência da Pastoral Vocacional, respondendo aos apelos da Igreja, do Instituto e da realidade dos novos tempos. O Papa Francisco nos diz: “ Para ter Vocações, é preciso abrir as portas aos jovens e portas se abrem com a oração, boa vontade e risco. Com portas fechadas ninguém pode entrar para o Encontro com o Senhor.” A Inspetoria abriu as portas do Coração e lançou para a juventude o seu grito de Felicidade: “Venham e vejam !” Somos felizes e queremos compartilhar com vocês, a nossa Felicidade! Dando prosseguimento às atividades vocacionais, foi realizado, nos dias 4 e 5 de março, a Primeira Convivência Vocacional - 2017, na Casa Mornese, em São José dos Campos, local escolhido para as Convivências deste ano. Foi precedida por uma forte divulgação nas diversas redes sociais e desejamos ampliar a propagação nas Comunidades, Obras e 52 | Em Família

Paroquias dos Salesianos! Participaram dessa primeira Convivência, 17 Jovens, com idade de 15 a 27 anos, das quais onze já concluíram a Faculdade ou a cursando, provenientes de lugares diversos: Campinas, São Paulo, Cruzeiro, Lorena, Guaratinguetá e São José dos Campos. Foi um Encontro produtivo, com ampla participação e muita alegria. As Jovens revelaramse abertas, sedentas e atuantes nas Paróquias de origem. A Comunidade da Casa Mornese teve um forte papel na organização geral, preparando um ambiente acolhedor, dinâmicas criativas, que possibilitaram às jovens, uma bonita apresentação e partilha das expectativas sobre o Encontro. Após a dinâmica inicial, houve um rico momento de Leitura Orante, sobre o texto de Jo 1,35-42, orientado por Ir. Nilza Fátima de Moraes, com envolvimento total e animada participação das


Registro Jovens. O Tema do Encontro foi: “O Coração Oratoriano”, apresentado em quatro etapas pelas Formandas da Casa Mornese. A Postulante Bruna Elias, desenvolveu o subtema: CASA QUE ACOLHE, focando o Espírito de Família como elemento fundamental que a distingue como ambiente acolhedor e atenção personalizada. Realizou a dinâmica da CASA, concluindo ser O CORAÇÃO ORATORIANO: CASA que acolhe, que dá espaço e onde todos caminham juntos! CAPELA - a colocação feita pela Aspirante, Vitória Souza, destacou a Capela como lugar de anúncio alegre do Evangelho, onde os jovens se encontram com Cristo, crescem na vida de oração e aprendem a amar e confiar em Maria. A Capela é o coração da Casa salesiana! SALA DE AULA – o comentário feito pela Aspirante, Thwanny Alves, comparou o Oratório como Escola de Vida, onde os jovens são acolhidos, divertemse, têm formação profissional, educação para os valores humanos e cristãos, e as relações são elementos centrais de seu itinerário formativo. PÁTIO- a reflexão apresentada pela postulante Isadora Chiliani, salientou o Pátio como lugar de encontro com os amigos, espaço onde cada um revê sua essência, onde o divertimento e a evangelização se entrelaçam. Nesse espaço, há jogos, músicas, teatros, dança, brincadeiras e a Evangelização por meio dos ‘bons-dias’ ou ‘boas-tardes’, momentos relevantes na formação das crianças e jovens. O Oratório é a alma da Congregação Salesiana, é a essência do nosso carisma. Após animada recreação, as participantes fizeram uma atividade sugerida e acompanhada pela Psicóloga, Ir. Josefina Franco. Depois assistiram ao filme de Dom Bosco - “ Uma Vida para os Jovens, a fim de conhecer o seu Oratório, suas lutas, desafios e sofrimentos. À noite, houve o que chamamos: Roda de “Pinga Fogo”- em que as Jovens fizeram às Irmãs e Formandas da Casa Mornese e do Instituto São José uma avalanche de perguntas sobre a Vida Religiosa e a experiência do Período de Formação. Foi uma demonstração de interesse profundo, com seriedade invejável, deixando-nos felizes

pela necessidade e importância desse momento para elas. Encerramos o dia, com a Boa Noite de Ir. Célia Aparecida da Silva, com o tema: “ Toda Vida é Vocação”! No dia 05 participamos da Missa na Paróquia Sagrada Família e 6 jovens, as mais jovens, participaram da abertura do Oratório, com as Formandas e Ir. Nilza, na Comunidade Beira Rio, capela Nossa Senhora Aparecida da Paróquia Santo Agostinho, na Urbanova. Às onze jovens, que cursam a Faculdade ou já a concluíram, permaneceram na Casa Mornese para um momento de reflexão, com Ir. Josefina Franco, sobre a Humanização do ser- Encontro Com Meu EU- e os seus próximos “Cinquenta Anos”, que dependerão das opções que se fizerem agora. Depois a apresentação do PPT sobre o Ser Transparente. Em seguida, momento de deserto e avaliação da experiência vocacional. O Encontro foi concluído com o almoço e considerado como um tempo rico em que as jovens puderam destacar as ideias fortes e os questionamentos próprios e necessários para a LARGADA do “ VENHAM E VEJAM”!

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Registro

Celebração de Entrega de Medalhas as Aspirantes e Postulantes Por Luana Oliveira | Postulante – BSP

“Eis que venho, Senhor, com prazer fazer a tua vontade!” (Sl 40,8) Com grande alegria, no dia 12 de março, foi realizada, na Casa Mornese de São José dos Campos, a Celebração de entrega de medalhas às Aspirantes e Postulantes. Na presença das Irmãs das Comunidades da Inspetoria, as jovens Thwanny Ingrid da Silva Alves e Vitória Pereira de Souza receberam a medalha de Aspirante e as formandas, Bruna de Paula Elias, Isadora Chiliani Oliveira e Luana Keity da Silva Oliveira, a de Postulante, no Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, das mãos da Inspetora Ir. Helena Gesser. Para iluminar o tempo do Aspirantado, Vitória 54 | Em Família

e Thwanny escolheram a passagem bíblica do Livro dos Cânticos (7,11. 8,6-7): “Grava-me como um selo em teu coração!” e, como símbolo “o Lavabo”, representando a inserção na comunidade formadora, assim como o Batismo nos inicia na vida da Igreja. A água nos purifica! Como em um rio, ela é o fluido do amor de Deus que vem ao nosso encontro para se tornar Um conosco; e a “Açucena”, sinal da escolha de Deus por nós, de sermos amadas e escolhidas para uma missão no meio da juventude. Como iluminação para etapa do Postulado, a passagem bíblica escolhida foi a do Evangelho de Lucas 24,13-35: “Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho?”. E para


Registro melhor vivenciar esse tempo de aprofundamento e rupturas evangélicas, as formandas Bruna, Isadora e Luana adotaram, como símbolo, “a Concha”, expressão da escuta. Nessa nova etapa, queremos estar com nossos ouvidos atentos à voz de Deus que nos chama e faz abrasar nossos corações. -“As Sandálias”, representando nosso caminhar ao encontro de Jesus, mais um passo que damos e queremos deixá-Lo acompanhar-nos nesse caminho. -“O Coração”, centro das nossas decisões. Queremos transformar-nos pelo Encontro com Ele, deixando que o coração se surpreenda, arda e gere nova vida n’Ele. Irmã Helena Gesser, em sua fala, salientou a importância de deixarmo-nos guiar por Maria, pois, ninguém melhor do que Ela, que formou Jesus em si, para formá-Lo em nós. Lembrou-nos que é necessário, na etapa formativa, entrar na escola de Maria, como fizeram Dom Bosco e Madre Mazzarello para, a cada dia, sentirmos mais e mais o coração arder e nos transformar pelo encontro com seu Filho e para que ela conserve sempre em nós suas virtudes. Após suas palavras animadoras, Ir. Helena entregou-nos as medalhas, oficializando assim, a entrada no Aspirantado e Postulado.

Em seguida, elevamos nosso agradecimento a Deus que nos chamou e nos ungiu com a vocação salesiana, à Ir. Helena, representante viva de Madre Mazzarello em nossa Inspetoria. Gratidão às primeiras Irmãs com as quais convivemos e nos apresentaram o carisma salesiano, Irmãs que souberam tocar, em nós, a “corda que vibra”, motivando-nos a darmos passos concretos rumo ao discernimento de nossa vocação. Gratidão à Ir. Nilza Fátima de Moraes, Ir. Márcia Mucci e Ir. Maria de Lourdes Fidelis que, neste ano ,abriram o coração para estarem conosco e disseram seu SIM para nos acompanhar nesta nova etapa. E a todas as Irmãs da Inspetoria Santa Catarina de Sena, pois nos sentimos acompanhadas por cada uma que, com carinho, se recordam de nós em suas orações, sustentando nossa caminhada. A Celebração encerrou-se com um momento Mariano, diante daquela que “tudo fez” na vida de nossos santos fundadores: Maria! A ela, entregamos nossa caminhada, para que seja a Mãe que acompanha e protege nossa vocação e nos fortaleça nesse tempo formativo. A ela todo louvor e por tudo damos graças a Deus! Finalizamos com uma alegre e saborosa confraternização!

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1º Campo Nacional VIDES aborda tema “Ama teu próximo como a ti mesmo” Por Irmã Metka Kastelic

Nos dias 10 a 15 de Janeiro de 2017, 35 voluntários representando 8 inspetorias das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) do Brasil estiveram reunidos na cidade de Guaratinguetá/SP para o 1º Campo Nacional VIDES, cujo o tema foi: “Ama teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22:39). Foram tratados assuntos referentes ao VIDES no Brasil e no âmbito internacional, tendo como palestrante nos momentos formativos a Irmã Leonor Salazar (Delegada VIDES Internacional). Foram abordados o histórico do VIDES e do voluntariado no mundo, o que é ser voluntário e as práticas do voluntariado VIDES atualmente. Também foram apresentados os documentos que explicam a estrutura internacional e nacional da organização, sua atuação junto à Organização das Nações Unidas (ONU), a declaração final do último Congresso Internacional realizado em Julho de 2016 e o plano 56 | Em Família

de ação para as atividades nos próximos anos (20162020). Além dos momentos formativos, tivemos ricas experiências de espiritualidade com orações, missas e visitas aos Santuários de Nossa Senhora Aparecida e Frei Galvão, ao Colégio do Carmo (primeira casa das FMA no Brasil) e a visita de prática voluntária na Fazenda da Esperança, que abriga crianças em situação de risco, homens e mulheres em recuperação da dependência química e pessoas portadoras do vírus HIV. O final do encontro foi marcado pela definição dos caminhos a serem percorridos para criar a estrutura de um VIDES Brasil, figura de representação nacional de todos os grupos VIDES em território brasileiro, além de uma grande festa, onde os grupos puderam mostrar um pouco da sua cultura local, dançar, cantar e se divertir!


Registro

Equipe Nacional de Comunicação das FMA em São Paulo Sob a coordenação de Irmã Márcia Kofferman (BPA). No início dos trabalhos, Irmã Maria Helena Moreira, Conselheira Geral pela Comunicação, fez-se presente por meio de uma mensagem agradecida pelo empenho de cada uma e desejando alegria e persistência na missão. Foi muito enriquecedora foi a partilha das experiências comunicativas de cada Inspetoria. Por meio de uma videoconferência, a coordenadora da ECOSAM – Equipe de Comunicação das Américas, Irmã Susana Li Tong, residente em Costa Rica, fez o repasse, em linhas gerais do encontro da ECOSAM 2016, realizado em Montevidéu, Uruguai, com o tema “Missionárias de Esperança e alegria: ontem, hoje e amanhã” e nos apresentou as componentes das várias Equipes Interinspetoriais que constituem a ECOSAM. Encerrando sua fala, Irmã Susana parabenizou a

ECOSBRASIL pelo trabalho que realiza como equipe nacional, afirmando que sua atuação sinaliza e confirma que é possível se organizar e desenvolver trabalhos conjuntos e enfatizou a importância de realizar eventos interâmbitos, como por exemplo, um trabalho com foco vocacional. O dia 17, foi dedicado à elaboração de um novo Itinerário de Comunicação Social para a formação inicial com o objetivo de “Capacitar as jovens e as FMA nas etapas da formação inicial, na perspectiva educomunicativa, para atuarem de forma livre, crítica e responsável no mundo mediado pela cultura da Comunicação”. O próximo encontro da equipe será realizado, no próximo mês de julho, na Inspetoria Nossa Senhora da Penha, no Rio de Janeiro.

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Comunicadores da Rede Salesiana Brasil reunem-se em São Paulo Irmã Maria de Lourdes Macedo Becker

A reunião anual da Rede Salesiana Brasil de Comunicação – RSB Comunicação – foi realizada no Colégio de Santa Inês, no dia 14 e 15 de março próximo passado, com a presença dos delegados e coordenadoras inspetoriais SDB e FMA do Brasil, da direção executiva, Irmã Márcia Kofferman (BPA) e Padre João Carlos Ribeiro (BRE), da assessora da Comunicação, Marcela Gomes de Souza e da Inspetora referente da Conferência das Inspetorias do Brasil, Irmã Ana Teresa Pinto (BRJ). Na abertura, Irmã Ana Teresa dirigiu ao grupo 58 | Em Família

palavras de estímulo e encorajamento na missão que desempenha, lembrando que “Nós somos comunicação e Comunicação é algo circular que vamos tecendo, tecendo, até gerarmos comunhão. Cuidar da criação, continuar a obra criada é missão que passa pela comunicação”. Antes da apresentação da pauta, foi lida a mensagem de Irmã Helena Moreira, Conselheira Geral das FMA pelo Âmbito da Comunicação, desejando “um fecundo espaço de partilha e de busca, em vista de promover a sinergia da missão educativa no Brasil” e agradecendo pela doação do


Registro tempo e dos dons pessoais de cada participante em vista do bem e do crescimento da missão em terras brasileiras.” O dia 14 foi dedicado à apresentação do Relatório de atividades 2016 e do Planejamento 2017 pautados nos três eixos: animação, formação e produção. Também foi repassada e discutida a proposta do website para sites das Escolas, Obras Sociais, Paróquias, Inspetoria, chegandose à definição de cores, segundo as apresentadas no portal RSB, acrescentando a cor verde para as Inspetorias. Concluído o primeiro momento, o grupo debruçou-se sobre as Diretrizes Nacionais de Comunicação da RSB Brasil, trabalho iniciado, na reunião realizada em 2016, em Porto Alegre. Os trabalhos do segundo dia deram continuidade à elaboração das Diretrizes Nacionais de Comunicação que deverá ser apresentada à Diretoria da RSB; à escolha do novo trabalho da equipe: construção do Manual de Redação. No momento da partilha de “Boas Práticas”, as Inspetorias SDB e FMA de São Paulo apresentaram o projeto “Somos Salesianos” proposto inicialmente para divulgar, em único canal, os resultados dos alunos das Escolas do Polo SP RSB Escolas aprovados nos vestibulares; a Irmã Claudia Pianes (BRJ) apresentou as Jornadas

Comunicativas de formação, em parceria com a ACSSA, realizadas em sua Inspetoria. Na conclusão dos dois dias de reunião, o Padre João Carlos leu a mensagem do Padre Gildásio, inspetor referente pela CISBRASIL, e a do Padre Filiberto, Conselheiro Geral pela Comunicação, que parabenizou o grupo pelos processos que ativa no campo da Comunicação, enfatizando que a “Comunicação salesiana é o ponto de encontro de todos os setores, é a linha de unificação de todos os serviços da missão salesiana, é a voz e a imagem que torna visível o bem que fazemos para os jovens em cada país e em cada Inspetoria. A Comunicação faz ver todo o bem que fazemos para a glória de Deus.” Ficou estabelecido que o próximo encontro será nos 12 a 16 de março do próximo ano, em local a ser definido. O encontro foi encerrado com uma Ave-Maria, agradecendo e entregando à Mãe Aparecida, Auxiliadora de todo o povo brasileiro, os melhores empenhos e disposição de todos na continuação de um trabalho comunicativo sempre comprometido com a causa do Reino, segundo o Carisma Salesiano.

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Registro

Encontro Nacional da Família Salesiana O Encontro Nacional da Família Salesiana com o tema “Família Salesiana: sonhos – recursos –

Irmãs Gabriela Patiño e Leslye Socorro Sandigo Ortega vindas da Casa Geral de Roma.

desafios” foi realizado, nos dias 24 a 27 de março,

O Encontro teve início com a Lectio Divina,

no Colégio de Santa Inês. Estiveram presentes

animada por Irmã Maria Luisa, a partir do texto de 1

quarenta e cinco participantes entre FMA, Ex-

Cor 12, 12-17, que fez com que todos percebessem

alunas, Salesianas Cooperadoras, ADMA e um

a Família Salesiana como comunidade carismática

representante das Damas de Maria Auxiliadora

espiritual formada por diversos Grupos conforme

provenientes de todas as Inspetorias brasileiras. O

as diferentes vocações, na Igreja, a serviço dos

Encontro foi animado pela Irmã Maria Luisa Miranda,

jovens e dos pobres e para a promoção de um

Conselheira Geral responsável pelo Âmbito da

novo humanismo cristão.

Família Salesiana, e pelas Delegadas das Ex-alunas e dos Salesianos Cooperadores respectivamente 60 | Em Família

Ao longo dos dias, foram apresentadas as Iluminações:


Registro • Missão partilhada: de Valdocco e Mornese ao hoje da nossa História, por Irmã Maria Luisa que levantou sérios questionamentos com as perguntas “Cabe agora perguntar-nos, nós, que neste momento, temos nas mãos a chama do carisma salesiano: que queremos entregar às futuras gerações? Os que vierem depois de nós: terão a possibilidade de se educar sob a genialidade do Sistema Preventivo de Dom Bosco e com o calor da intuição educativa feminina de Maria Mazzarello? • Vinho novo em odres velho – Irmã Leslye delineou o perfil, sua formação, o papel na estrutura interna da Família Salesiana do Delegado e da Delegada dos vários Grupos. • A explanação sobre a Exortação Apostólica do Papa Francisco “Amoris Laetitia” feita, com muita propriedade, pelo Professor e Teólogo Fernando Altemeyer Jr., contribuiu para futura leitura mais aprofundada do documento pontifício.

Muito significativa e enriquecedora foi a dinâmica aplicada para a apresentação das três Associações: ADMA, Ex-alunas e SSCC em que todos tiveram a oportunidade de conhecer de forma clara e profunda o histórico e a missão de cada grupo. Momento rico de conhecimento foi a partilha dos trabalhos realizados, como Família Salesiana, nas diversas Inspetorias, que trouxe sugestões concretas para melhor animação dos centros locais. A tarde do domingo, dia 26, foi reservada para peregrinação ao Santuário de Aparecida, celebrando os 300 anos do aparecimento da pequena imagem da Senhora Aparecida, Auxiliadora e Rainha do Brasil, e renovando o desejo de continuar anunciando seu Filho Jesus, nas pegadas de Dom Bosco e de Madre Mazzarello. Na noite de sábado, dia 25, de forma criativa, com muita alegria, cantos, danças, sorteios, as participantes expressaram a alegria do “estar junto”.

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É Festa

Celebrando a vida - Aniversariantes ABRIL 02. Maria do Carmo de Carvalho Martins 11. Maria José Gabriel 12. Lina Silvestrin 13. Isadora Chiliani Oliveira (asp.) 18. Vilma Santoro Bertini 24. Maria Apparecida Delphino Neyde Enid A da Silva 25. Alaíde Deretti – (Cons. Geral – Missões) 29. Tatiane Cristina das Graças – (nov.) 30. Tatiane Alves de Queiroz (nov.) MAIO

02. Terezinha Mafalda de Almeida 03. Ana Alzira Fogaça 05. Anna Maria Orlando – Cecília Tredezini Celene Couto Rodrigues (nov.) 06. Chiara Cazzuola – Vigária Geral 13. Vilma Tallone – Ecônoma Geral 14. Valéria Timóteo Soares 17. Wilma do Carmo Antonelli 20. Lucy Rose Ozhkayil – Conselheira Visitadora 23. Ilza M. Beinotti – Maria da Conceição Silva 24. Phyllis Neves – (Conselheira Visitadora) 27. Maria da Glória Moreira 31. Aldina Andreazza

JUNHO

01. Ivone Braga de Rezende 04. Celina Gerardi – Maria Eliete Lopes 07. Alice de Souza Sant´Anna 13. Madre Antonia Colombo 20. Jandyra Hummel 29. Piera Cavaglià (Secretária Geral) JULHO

01. M. Aparecida Nunes 03. Maria Luiza Ravanhani 04. M. Ap. Sartorelli – Maria Tavares – Cláudia Regina Corrêa Ribeiro – Jandira Rodrigues Camargo 05. Diva Mucci – Maria Luiza Novais 09. Maria da Encarnação – Cleonice Aparecida Lourenço 10. Adelina Silva 12. Rosalba Perotti 18. Susana Walchak Marija Pece (Conselheira. Visitadora) Thwanny Ingrid da Silva Alves (asp.) 20. Lúcia Aparecida dos Santos 25. Maria do Socorro Oliveira 29. Maria Bernadette Camargo 30. Indianara Laurentino (nov.)

PROGRAME-SE MAIO 02 - 04: Postulinter 03: GREPE 05: RSB Social | Encontro Formativo FMA & SDB | Lorena 06 - 07: Convivência Vocacional 09 - 12: ESA Medelin 09 - 11: Novinter II 13: Festa Madre Mazzarello 14: Dia das Mães 24: Festa de Maria Auxiliadora 62 | Em Família

28: Reunião de Diretoras e Economas 29: Reunião de Conselho Inspetorial

JUNHO 01 - 03: Seminário Nacional da PJ: Brasília 03 - 04: Convivência Vocaciona Juninter 05 - 07: Postulinter 10 - 11: Encontro dos Coordenadores da FS | CSI


Programe-se

PROGRAME-SE

PROGRAME-SE 12 - 14: Novinter II 14 - 16: PDU Experiência Missionária 16 - 18: Encontro Nacional de Liderança BSP e BPA 19: GREI | 9h Conselho Inspetorial | 14h 20 - 22: Aspirinter 25: Festa Junina CMA e CST 27 - 29: Novinter I

JULHO 01 - 06: Retiro Anual Mairiporã 07 - 09: Formação Permanente CSI 23 - 29: Semana Missionária em Aparecida

LEMBRANÇA

+ dia 27 de janeiro, Sr. Horácio Tredezini, irmão de Ir. Cecília Tredezini + 01 de fevereiro , a Sra. Maria Antônia dos Santos Gabriel, Irmã de Ir. Maria José Gabriel.

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Festa Del Grazie 2017

Con tutto il cuore annunciamo la Gioia !


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