INSPETORIA SANTA CATARINA DE SENA
Inspetoria Santa Catarina de Sena
| Ano 40 | n° 54 setembro outubro novembro e dezembro | São Paulo | SP
Hoje, o Filho de Deus nasceu: Ele, nos dará a paz do coração que jamais terá fim.
Editorial
Belém é aqui, aqui é Natal! Prezados Leitores, Belém é aqui, aqui é Natal! Belém é aqui, quando no meu coração habita o amor! Quando ele se abre para acolher e amar as pessoas, sobretudo os pequenos e os pobres! Belém é aqui, quando na minha família, vivo o perdão, o respeito, a harmonia e a paz! Belém é aqui, quando no meu trabalho, sou capaz de colaborar na construção da justiça, e da solidariedade! Belém é aqui, quando junto aos meus amigos e amigas, promovo a vida, a felicidade e o bem querer recíproco! Belém é aqui, quando na Comunidade Religiosa, sou missionária de esperança e de alegria, sou testemunha do amor de Deus, sobretudo, junto aos jovens. Belém é aqui, quando na Família Salesiana, vivo segundo o coração de Dom Bosco e de Madre Mazzarello, fazendo o bem a todos e vivendo a santidade no cotidiano! Belém é aqui, quando na Igreja, sou membro vivo e atuante, quando anuncio a Boa Notícia que é Jesus, Cristo com fé e esperança! Belém é aqui, quando em meio à humanidade, luto pela verdade, pelos direitos de todos, luto para que todos tenham vida e a tenham em abundância! Natal é aqui, quando transformo o meu coração como o de Maria, numa manjedoura e dou tempo e lugar para o Menino Deus nascer e morar! FELIZ NATAL E ABENÇOADO 2019! Fraternalmente,
Ir. Helena Gesser
Redação, produção e distribuição Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Andréa Pereira Projeto gráfico Andréa Pereira Capa : Banco de Imagens Revisão Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Fotos Inspetoria Santa Catarina de Sena Colaboração Irmãs e Comunidades da Inspetoria Santa Catarina de Sena
Contato editorial@fmabsp.org.br
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EM FAMÍLIA | Ano 40 | nº 54
Centro de Comunicação Marinella Castagno Rua Três Rios, 362, Bom Retiro 01123-000 São Paulo | SP Tel. 55 11 3331 7003 www.salesianas.org.br Em Família é uma publicação formativa que divulga e informa sobre o cotidiano das comunidades das Filhas de Maria Auxiliadora na Inspetoria Santa Catarina de Sena, e suas frentes de trabalhos.
Sumário
NATAL EM MORNESE
Ir. Rosalba Peroti
O PAPEL DOS PAIS NA ESCOLHA PROFISSIONAL
Por Leo Fraiman
Relembre e fique sabendo o que aconteceu em nossas comunidades nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro programe-se para as próximas atividades. Divirta-se, emocione-se, Em Família.
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16 Editorial Capa Artigo Registro Poema de Natal É Festa
Cartas Muito obrigada pela partilha! É uma ótima revista, sempre fico feliz em ler os artigos de qualidade que publicam. Abraços e um bom final de semana, Ana Cosenza Editora do Boletim Salesiano - Brasil Muito obrigado pela partilha da rica Revista Em Família. Parabéns pela riqueza de conteúdo e vida. Um abraço. P. Asídio Deretti
OBSERVATÓRIO JUVENTUDES
Ir. Silvana Soares
FAZER MEMÓRIA É FAZER HISTÓRIA
Ir. Iracema Schoeps
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Agradeço muito esta publicação da revista Em Família. Não posso dizer que já li, mas já olhei tudo! Do começo ao fim. Trabalho muito bem feito, com títulos convidativos! Vou saber o que anda acontecendo por aí. Muito obrigada! Que Deus continue abençoando a presença e o trabalho de vocês aí na minha terra. Grande abraço e orações, Ir. Maria de Lourdes Barreto
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Capa
Natal em Mornese Por Irmã Rosalba Peroti
No ano de 1981, para as celebrações do MM81, ou seja: para o centenário da morte de Madre Mazzarello, foi rodado um filme biográfico sobre ela. Muitas de nós vimos, talvez inúmeras vezes, o filme: “Tralci di una vite forte”, um filme, em preto e branco, que, entre outras inciativas programadas para o ano centenário, despertou ou intensificou o amor por Madre Mazzarello e o desejo de conhecêla sempre mais. Já se passaram mais de 30 anos do lançamento do filme. Foi um trabalho bem feito, visto e apreciado por inúmeras pessoas: Irmãs, jovens, educadores, famílias... em todo o nosso mundo. Havia nele cenas de grande profundidade e força sugestiva. Dentre elas, uma, eu lembro de modo especial e, ao trazê-la à memória, ainda hoje, ela me comove. Trata-se da cena, que tinha como fundo musical este poema natalício, que a tradição atribui (letra e música) a Santo Afonso Maria de Liguori, baseado em uma canção popular. Eis o 4 | Em Família
texto: “Tu scendi dalle stelle Oh Re del cielo/ E vieni in una grotta Al freddo, al gelo. Io ti vedo qui a tremar. Bambno mio divino! Oh Dio beato Oh quanto ti costò avermi amato. Tu che sei del mondo ll CreatoreTi mancano panni e fuoco. Oh mio Signore ... (1) Na verdade, no filme, são duas cenas, que acontecem contemporaneamente. Uma, mostra duas jovens alunas do Colégio, remexendo um baú, de onde extraem roupas, enfeites e outras futilidades, que destoavam do ambiente despojado da Casa de Mornese. Isto as divertia muito e elas o manifestam com contínuas exclamações de surpresa e altas gargalhadas, ambas alheias totalmente ao momento e ao ambiente, demonstrando que não se submetiam aos costumes da Casa, nem se continham, mesmo no momento solene da
Capa Missa da noite de Natal. Contemporaneamente, nas outras cenas, vê-se Madre Mazzarello, com o semblante preocupado, mas confiante na graça de Deus, implorada ardentemente por ela e por toda a Comunidade, para que Ele tocasse o coração das jovens. Com carinho e tino pedagógico, a Madre deixara em lugar visível, um bilhete de “Feliz Natal”, àquelas que se haviam declarado livres de fazer o que achavam bom. As duas jovens presumivelmente, Corinna Arrigotti e Emma Ferrero, eram as duas, que no filme, desafiavam Madre Mazzarello, numa rebelião que a “graça de Mornese”, não tardaria em mudar favoravelmente. A veracidade de vários elementos que estas cenas apresentam, não têm apoio nos acontecimentos descritos nos volumes da Cronistória. Correspondem a uma realidade verdadeira, na qual era certo o interesse de Madre Mazzarello e da Comunidade, para que as jovens mudassem de conduta e aderissem a todo o contexto de “santa alegria”, tal como era o clima da Casa de Mornese, comprovado de tantas formas na literatura dos primeiros anos de nosso Instituto. Podemos perguntar: “Houve de fato o bilhete? As jovens eram mesmo Corinna Arrigotti e Emma Ferrero? Fizeram juntas um caminho de conversão? ” São todas perguntas a que, uma leitura atenta da história dos inícios não consegue responder satisfatoriamente. Porém isso, não desvaloriza a cena, pois parece lícito considerá-la um recurso não totalmente verdadeiro mas verossímil, uma “liberdade artística, ” que não desmerece o objetivo da obra, que é o de divulgar com os recursos da arte cinematográfica esta atmosfera única de santidade salesiana, de propostas educativas exigentes, vividas por Madre Mazzarello e pela Comunidade de Mornese.(2) Penso nesta força espiritual que emanava daquela Casa abençoada. Era como um “fluido interior, ” que partia de corações repletos de Deus, que levava à mudança de vida. Era o próprio Espírito Santo que se fazia vivo e presente na mente e na vontade daquelas Irmãs e jovens. Espírito que agia como um contágio benéfico, uma unção espiritual, vinda do Alto, que encontrava o desejo de santidade, na
Casa, como se fosse algo de natural, embora de fato, ele fosse fruto de docilidade interior, de muita virtude e maturidade espiritual. Percorrendo os volumes II e III da Cronistória vê-se que o tempo de Natal tinha um encanto e uma ternura envolventes, em Mornese. Talvez, a atmosfera externa de frio e neve compusessem o cenário para que o Natal, pelo aconchego e felicidade com que se vivia, se tornasse uma Festa inesquecível. Era um clima totalmente diferente do que se vivia nas terras sem fim dos pampas, pelos missionários e missionárias que chegavam nas várias expedições para a Argentina e Uruguai. Madre Mazzarello faz esse comentário, como logo veremos, em uma das suas cartas a Dom Cagliero. Além de algumas referências ao Natal em Mornese, durante os últimos anos de vida de Madre Mazzarello, o que ela transmite nas Cartas, sobre este aspecto, nos faz colher a vivência do Natal em Mornese, os sentimentos que ele desperta nos corações, estimulados pelas expressões da Madre, como o célebre “ reavivar o fogo’, ou seja, ativar a chama interior, que partindo da Madre, iluminava e aquecia os corações das “filhinhas” de perto e de longe. Isso resulta em um ambiente muito peculiar, em que reina a santa alegria, tão bem definida, na nota n.2 à Carta n. 7, da Madre a Dom Cagliero. Parece-nos oportuno transcrevê-la: “A santa alegria foi uma das características do “espírito de Mornese”. O “Natal em Mornese” tem um significado muito especial para a primeira geração de FMA. As celebrações litúrgicas, as “Missas em canto” como se dizia na época- a preparação do presépio pelas alunas e pelas Irmãs, a própria paisagem mornesina, com seus campos cobertos de neve, formavam a moldura de um quadro de lembranças, que ficou gravado na alma de quem viveu lá. Inclusive, as Cartas da Madre, depois da transferência da CasaMãe para Nizza, fazem alusões que se poderiam dizer saudosas, daquele tempo. ” Não só a “Cronistória”, portanto, o atesta, mas também, como o diz a nota acima, algumas cartas da Madre dirigidas aos Superiores e a outros destinatários como: Irmãs e comunidades, fazem referência ao Natal, na nossa primeira Casa. É setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Capa importante ressaltar que os destinatários a quem a Madre se dirigia, nutriam a seu respeito, elos de profundo afeto e grande sintonia espiritual. Em trechos destas Cartas, Madre Mazzarello extravasa, podemos dizer, sua gratidão, seu grande amor por Jesus Menino, sua alegria, fé e coragem e seus desejos de bem, partilhados pela Comunidade de Mornese, em grande comunhão com ela e com as pessoas a quem ela se dirige. Trazemos alguns exemplos, reportados das Cartas: Ela escreve a Dom Cagliero, com quem tem muita confiança: “Conte-nos também se não acharam estranho celebrar o Natal e começar o ano no verão. Eu tenho a impressão de que as festas não sejam tão bonitas naquela estação. Estou certa? A neve que cobre os nossos campos, o silêncio que reina em toda parte, dão uma ideia clara do Deus Menino, deitado num estábulo, abandonado por todos, tremendo de frio. Apesar de tudo, se Deus quisesse que alguma de nós fosse celebrar o nascimento do Menino Jesus, naquela região distante chamada América, nós todas iríamos de boa vontade” (3) Em outra Carta a Dom Cagliero: “(na Missa do Natal), todas rezamos de coração, ao Menino Jesus também pelos nossos queridos missionários salesianos: nós Lhe pedimos que abençoe seus trabalhos, e console seus corações com a conversão de todas essas almas da América. O dia passou em santa alegria, na companhia do Menino Jesus. E enquanto me lembro: na América tem o Menino Jesus? Se não, nós O levaremos”(4) E às Irmãs de Villa Colón: “As Irmãs darão a vocês, notícias das Casas e façam com que elas contem muitas, muitas coisas e Façam com que elas estejam alegres e infundamlhes muita coragem. Viva o Menino Jesus! E Viva Maria! Viva São 6 | Em Família
José e todos os Santos do Paraíso! E Viva a todas as Filhas de Maria Auxiliadora! Coragem, coragem, minhas boas e queridas filhas! ” (5) Teríamos ainda outras citações de Cartas, mas o artigo não visa esgotar o assunto, que por outro lado, é muito rico e se oferece a outros aprofundamentos. São aqui pequenos acenos de como se celebrava esta querida festa, em Mornese. Uma tradição querida, de ontem e de hoje. Termino com a frase de introdução à Carta. Madre escreve a Dom Cagliero, na carta n.3, já citada: “Viva o Menino Jesus! E quem O ama! Em qualquer parte em que esteja! ” Seja também para todas nós, neste tempo de transformações rápidas, o clima espiritual de Mornese, um convite a “reavivar o fogo, a encher nosso coração de alegria e esperança, a lembrar de todos os “Meninos Jesus”: crianças e jovens, que enchem nossas Casas, passam pela nossa vida e tocam o nosso coração. Que a alegria sincera e verdadeira do Natal, avive a perspectiva de um futuro mais honesto e justo, nos anime na missão de “apóstolas de esperança e alegria, qualifique nossos encontros e esteja presente em todas/os nós como soa o augúrio de Madre Mazzarello: “em qualquer lugar onde estejamos.” Viva o Menino Jesus! ”
Capa
******* 1) Pesquisa feita no Google sobre a canção. Além da informação sobre a autoria do canto, há a possibilidade de ouvir a interpretação de Andrea Bocelli e a de Luciano Pavarotti, belíssima, acompanhado por um coral de crianças e jovens. 2)- Transcrevo o parecer dado por Ir. Eliane Petri, FMA, doutora em Teologia Espiritual pela Pontifícia Universidade Salesiana de Roma. No texto que segue, ela elucida os questionamentos levantados a respeito da historicidade de alguns acontecimentos, como dissemos acima: “O que você pergunta, Ir Rosalba, também foi uma curiosidade minha. Procurei na Cronistória uma referência ao bilhete que Madre Mazzarello escreveu (cena do filme) mas não existe. Certamente há a referência que a Madre e Irmãs rezam, suplicando ao Menino Jesus um toque de graça para a jovem Emma, enquanto o Natal vai se aproximando (Cron II 235-237). Procurei também na biografia de Ir. Henriqueta Sorbone, onde se trata do seu sofrimento em relação a Emma, mas não encontrei o fato. Diz-se somente que passa o Natal sem que a jovem manifeste uma mudança de atitude. Nos testemunhos do processo de canonização, também não há referências ao Natal. Portanto, cheguei à conclusão que aquela
cena é uma liberdade de expressão, um modo de interpretar o que a Cronistória afirma sobre as festas natalícias de 1877 e as súplicas ardentes ao Menino Jesus por Emma Ferrero. Há também, no meu parecer, um detalhe a ser evidenciado no filme, detalhe não totalmente exato, ao menos no confronto com as fontes de que dispomos: naquele momento, no Colégio, Corina é uma jovem já “convertida”. Mas esses detalhes não diminuem em nada o valor do filme, que na minha opinião, é um filme belíssimo, que teve pleno êxito e que, como todo filme, é sempre uma interpretação dos fatos e das fontes.(3)”Cartas de Santa M. Domingas Mazzarello”, e. em português, tradução de Ir. Joanna d´Arc Fontes, Belo Horizonte, Brasil, 1992 3) o.c. Carta n. 3 a Dom Cagliero, de 29 de dezembro de 1875, p..41. 4) o.c. Carta n. 7, a Dom Cagliero de 27 de dezembro de 1876. p.57 .Na nota n;2 desta Carta, encontra-se a descrição da “santa alegria” de Mornese. (5) o.c. Carta n. 14, de 9 de dezembro de 1878 às Irmã de Villa Colón, p. 72.
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Artigo
Diário de um Jumentinho Por João Carlos Teixeira
Existem memórias que insistem em nos visitar, mesmo quando se passam muitos anos. Alguns acontecimentos nos marcam de forma tão decisiva que nos sentimos privilegiados de poder ser simples coadjuvantes, pois isso, também, pode representar algo grandioso. Ainda lembro-me daquela noite: Eu, ali pequeno, detrás de um monte de feno observava nosso dono chegando, com um casal apressado, para apresentar nossas humildes instalações e, em seguida, se retirar. Parecia que finalmente haviam encontrado o lugar que tanto estavam buscando. A moça, acanhada, aparentando pouca idade, com uma barriga enorme, procurou logo um lugar para se sentar. O homem, com barba cheia e olhar sério, tinha um sorriso acolhedor, mas que escondia 8 | Em Família
a preocupação pela ocasião. Mexendo nos móveis e objetos, procurava ajeitar aquele espaço para o que viria a acontecer depois. De repente, a tensão e o silêncio foram interrompidos pelo choro de uma criança. Dava para perceber que alguma coisa muito grande acontecia. Algo de muito especial estava no ar! Acabou-se a pressa e a agitação. Em poucos minutos, nosso pequeno estábulo se transformou em um aconchegante dormitório. No fundo, desconfiado, o boizinho observava como o lugar em que nos alimentávamos se transformava na cama improvisada que irradiava uma Luz que pacificava tudo em volta. Havia alegria, riso, frases de tons animados e carinhosos. Normalmente, cochichavam olhando para
Artigo
a criança, mas, às vezes, escapavam palavras ditas com mais entusiasmo e movimentos expansivos. Algum tempo depois, chegaram três senhores. Com roupas bonitas, lembro-me que falavam solenemente enquanto faziam gestos com as mãos. Deixaram alguns objetos com a família. Possivelmente presentes para o menino-Luz. A claridade do dia veio e todos foram embora, mas aquela paz nunca me abandonou. Lembro-me de que, enquanto presenciava tudo
pode nos dar? O espaço em nossos corações está preparado para a chegada do menino-Luz, com a humildade necessária para o Seu protagonismo, ou aquele casal terá que continuar procurando um lugar para o nascimento Dele? Quanto a mim, após longas distâncias percorridas e muito tempo passado, voltei a sentir aquela Luz outra vez. Já era velho e lembro-me apenas de alguém dizendo ao meu dono: “o Senhor precisa dele”. Senti-me importante. Não por minha capa-
aquilo, perguntava-me: ‘afinal, o que um jovem ju- cidade, mas, pelo exemplo que um pobre animal mentinho poderia contribuir com aquilo tudo?’, como eu poderia dar para o resto do mundo. Certamente, muitos devem pensar assim. Mas, acho importante atinar um pouco mais sobre tudo isso: aposto que muitas das próximas gerações fariam de tudo para poder ver de perto aquele garoto tão iluminado, tocá-la, ouvi-lo. Não deve ter sido por acaso que eu, um mero jumentinho, fui um dos primeiros a poder contemplá-Lo e que aquele lugar adaptado, e não um palácio real, foi o escolhido para aquele grande acontecimento. Que lição isso setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo
Observatório Juventudes Por Irmã Silvana Soares Na contemporaneidade emerge uma atenção especial de várias áreas do conhecimento sobre as juventudes. Esse movimento acontece especialmente pelas transformações rápidas no mundo cultural, sendo que, a juventude representa uma condição social e cultural que mostram as diversas mudanças que se realizam no conjunto da história da humanidade. Muitos estudos e aprofundamentos no âmbito acadêmico crescem fortemente em muitas partes do mundo, inclusive no nosso país. Cada vez mais, o conjunto da diversidade de realidades, experiências e vivências sociais e culturais da sociedade crescem e se ampliam, provocando a necessidade de uma constante busca de compreensão do que acontece no cenário dessas representações que emergem de forma contínua, especialmente as deficiências do desenvolvimento econômico que geram a pobreza e a vulnerabilidade de muitas crianças e jovens. 10 | Em Família
Esse contexto de pobreza no qual vive a juventude provoca nas organizações que cuidam desses jovens o desafio de conhecer a realidade social para melhor atender e realizar ações que venham promover uma superação da vulnerabilidade juvenil. É neste cenário que se desenvolve a preocupação das universidades e de toda a sociedade na busca de uma aproximação e conhecimento das juventudes. São muitas as instituições que se organizam e projetam espaços de observatórios das juventudes. É neste contexto que, em Lorena, a comunidade também se interessou por criar e formar espaços de conhecimento e integração, especialmente das juventudes que se encontram localmente. Conforme a visão construída a respeito das juventudes se observa que: Os estudos contemporâneos das Juventudes, em especial das Ciências Sociais e da Educação, têm destacado a diversidade juvenil e a
Artigo multiplicidade cultural que sujeitos desta etapa apresentam. Ao observar e estudar esses sujeitos podemos ampliar a compreensão, rompendo com pensamentos s i m p l i s t a s que resistem em existir. Na última década projetose políticas públicas foram criados, centros de estudos e secretarias específicas de política juvenil foram estruturadas, visando ampliar e proporcionar as Juventudes espaços para socialização e expressão de suas identidades. Os operadores dos direitos das Juventudes defendem veementemente estruturas e setores para estas, pois ao contemplarmos de forma específica os jovens nas estruturas políticas, possibilitamos a busca pela efetividade dos direitos juvenis”. (ALVARENGA, 2018) No intuito de caminhar com o desenvolvimento das ciências que procuram compreender o contexto de vida das juventudes, o Observatório na cidade de Lorena vem realizando um caminho de crescimento, de desenvolvimento e de construção sobre as intenções e objetivos que se pretendem atingir em relação à ideia que constitui em si a proposta do Observatório. A intenção e o objetivo principal do Observatório será o de aprofundar o conhecimento da realidade juvenil; promover no campo das ciências humanas voltadas para as juventudes a reflexão sobre temas relacionados à defesa dos direitos humanos; promover a ação evangelizadora no mundo juvenil propondo os direitos humanos, contribuir com assessorias a respeito das juventudes; articular a participação e o protagonismo dos jovens; elaborar subsídios sobre os diversos temas relacionados com as políticas públicas das juventudes. Para atingir esses objetivos a caminhada do Observatório se realiza perseguindo três eixos centrais: a pesquisa, a articulação e a formação. A) Pesquisa: A pesquisa se volta para o conjunto de ações concretas voltadas para a prática da pesquisa, ou seja, de estudos, de produção acadêmica a respeito das juventudes. Inclui também a participação em simpósios e congressos de observatórios no Brasil. A proposta trata-se de estimular e de produzir conhecimento científico sobre juventudes. B) A articulação se realiza por meio de uma
O objetivo principal do Observatório será o de aprofundar o conhecimento da realidade juvenil; promover no campo das ciências humanas voltadas para as juventudes a reflexão sobre temas relacionados à defesa dos direitos humanos; promover a ação evangelizadora no mundo juvenil propondo os direitos humanos, contribuir com assessorias a respeito das juventudes; articular a participação e o protagonismo dos jovens; elaborar subsídios sobre os diversos temas relacionados com as políticas públicas das juventudes. proposta pedagógica que busca o diálogo com as juventudes na escuta dos grupos e coletivos dos bairros, das comunidades e associações, e com isso, provoca-se o debate e a conversa com esses jovens procurando compreender o que pensam, sentem, percebem e vivem. Ao mesmo tempo se torna um espaço de provocação e de tentativas de articular os jovens para que eles possam construir espaços de participação, de envolvimento com os seus grupos e coletivos. Tanto a pesquisa quanto a articulação são espaços primordiais que oferecem elementos de conhecimentos sobre as juventudes para o desenvolvimento de políticas públicas que atendam às suas necessidades educativas, formativas, sociais, psicossociais. Enfim, trazem em evidência um conjunto de aspectos que precisam ser desenvolvidos para que os jovens possam superar muitas vezes, as diversas situações de setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
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vulnerabilidades em que se encontram. Neste sentido, a perspectiva terá em vista promover o protagonismo juvenil e a formação para a cidadania. C) O eixo formativo pretende favorecer aos educadores e os diversos segmentos que trabalham diretamente com a juventude elementos do movimento cultural, social a respeito das juventudes e propor caminhos metodológicos, pedagógicos para o trabalho com as juventudes. A intenção é oferecer assessoria para a formação de agentes e educadores juvenis. A proposta de ação metodológica do Observatório juventudes está intimamente relacionada às propostas realizadas pelo Sínodo dos Bispos que tratou do tema sobre os jovens. O caminho que se busca percorrer é o de escutar os jovens, interpretar o que está presente fala dos jovens, ou seja, o que eles manifestam com a finalidade de propor perspectivas de ações práticas de escutar, ver, interpretar, discernir e avaliar para ser uma igreja que se abre para a realidade da vida nas suas diversas dimensões, nos aspectos que apresentam dificuldades e problemáticas no processo do desenvolvimento humano. É o caminho metodológico do discernimento que leva a reconhecer a partir do olhar de escuta que permite compreender as angústias, esperanças, alegrias e sonhos dos jovens e procurar as oportunidades para se oferecer caminhos educativos e formativos 12 | Em Família
da pessoa. É preciso interpretar a realidade juvenil sem perder de vista a oportunidade de construir conhecimentos a partir da escuta dos jovens e realizar uma leitura do mundo juvenil considerando uma visão interdisciplinar. O Observatório Juventudes caminha perseguindo a possibilidade de olhar para os jovens à luz da perspectiva do Sínodo que nos coloca no movimento de uma Igreja em saída para escutar os jovens e com eles construir não somente um legado de conhecimentos e teorias a respeito da vida dos jovens e do seu desenvolvimento no contexto contemporâneo, mas desvendar a possibilidade de olhar as novidades culturais e sociais sobre o modo de ser e de se expressar dos jovens a partir da compreensão do Ser humano no conjunto dos contextos sociais e culturais à luz de uma visão que orienta para um caminhar com a juventude e responder por meio da orientação formativa as suas expectativas e anseios em relação ao tempo presente e futuro. A escuta dos jovens permite e reafirma a necessidade de desvendar as imagens que construímos a respeito das juventudes como afirma a experiência prática: Se a imagem dos e das jovens é vista desconfigurada, certamente não terão espaços efetivos para expressão autêntica de sua identidade. Ao distorcer a imagem certamente a relação será distorcida, ou seja, a sociedade de uma forma geral busca uma relação com as Juventudes a partir da
Artigo imagem criada, subjugada, com características e definições pré-estabelecidas, que de nada contribui para a existência real e autêntica. Se faz necessário a busca pela desmistificação da imagem juvenil para que se possibilite sua legítima construção como sujeito social, respeitando sua heterogeneidade. Assim, percebemos o quanto ainda temos que nos aproximar, estar perto do cotidiano das Juventudes e de suas relações, pois caso contrário continuaremos a reproduzir representações sociais juvenis distantes da forma real de ser. (ALVARENGA, 2018) Os conhecimentos construídos a respeito das juventudes serão apenas um trampolim que visam compreender as dinâmicas sociais e culturais com o objetivo de possibilitar aos educadores elementos que favoreçam o conhecimento de quem são os jovens e que necessidades formativas emergem da realidade juvenil, da diversidade de condições em que vivem os jovens. Esse conhecimento torna possível a construção de projetos educativos a partir da realidade da vida, das estradas viáveis para a formação dos jovens, dos processos que deverão ser percorridos para o desenvolvimento e a promoção social do jovem como cidadãos e protagonistas de novas relações humanas, de uma nova organização social que possibilite a todos uma justa relação de igualdade e de qualidade de vida. Permite também escolher e avaliar as práticas educativas, as práticas de orientação que sejam pertinentes e significativas. O movimento de observação e conhecimento da realidade juvenil precisa olhar a juventude como um tempo de discernimento sobre o próprio projeto de vida, de realização de algumas escolhas importantes que têm em vista concretizarem o sentido da própria vida. Neste horizonte das escolhas o jovem deve realizar e construir o próprio projeto de vida. Os jovens se encontram diante de um cenário amplo de possibilidades, de caminhos que poderão seguir. Naturalmente emerge alguns nós em relação à opção de vida como a dificuldade de realizar escolhas definitivas em meio a uma cultura contemporânea fragmentada. Fragmentação do tempo que não tem nada haver com o antes e o depois. Não existe uma relação, cada momento é vivido livremente.
Não existe relação entre os sentidos e as finalidades. (CASTILLO, 2018, p. 19) Para uma opção de vida é necessário considerar alguns pressupostos. “A vida como projeto supõe uma relação, um sentido do antes, do agora e do depois [...]. O núcleo central do sentido está além dos fenômenos e fragmentos. Implica reconhecer que o tempo não é uma mera sucessão, mas uma íntima relação entre o passado, presente e futuro”. (CASTILLO, 2018, p. 21) As pesquisas e conhecimentos construídos sobre as juventudes trazem contribuições e reflexões que oferecem coordenadas das ciências humanas sobre a escolha de vida. O tema da escolha é central, não se pode educar a fé se não existe o trabalho de conhecimento da própria realidade. Existe a necessidade de uma compreensão mais profunda das questões sociológicas, culturais, midiáticas. Emergir no conhecimento sobre o mundo cultural, social para orientar as escolhas de vida que os jovens deverão realizar. Os jovens vivem a experiência de escolhas na própria vida no tempo. O tempo é algo natural. O crescimento acontece no tempo em que a pessoa pode se desenvolver. Necessário incidir sobre o processo do tempo de formação utilizando os diversos conhecimentos construídos pelas ciências. O acompanhamento formativo é o espaço onde a pessoa discerne a sua escolha. A educação é um processo decisional sobre a própria vocação. È um processo e novo campo de batalha da educação orientar as escolhas. É necessário educar para a escolha. É ajudar a colher o mistério da vida como vocação. CASTILLO, Raúl Biord. Presentazione/ Contestualizzazione Della Tematica del Sinodo: “Sgranando Il Racconto Della Vita. Giovani e Schelte di Vita: Prospettive Educative. Congresso Internazionale. Università Pontificia Salesiana. Roma 20 -23 Setembro 2018. ALVARENGA, CLEBER. Entrevista: Um breve olhar sobre as juventudes contemporâneas. Observatório Juventudes – Unifatea. Lorena, 27 de Novembro de 2018.
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Artigo
Regras de boa convivência Por Paulo Pio
Os pais costumam trabalhar muito para que nada falte aos seus filhos. Ofertam a eles os melhores calçados e as roupas mais modernas. Procuram educá-los nas melhores escolas e universidades. Contratam bons profissionais para cuidarem dos seus lares. Investem em planos de saúde caríssimos. Todos esses procedimentos são louváveis e importantes. No entanto, observamos, em milhares de famílias, infelizmente, filhos com sérios problemas em se relacionar com a vida. Filhos materialistas, autoritários e emocionalmente instáveis, que poderão se transformar em adultos mimados que não crescerão nunca. Apenas bens materiais e o excesso de zelo não são suficientes para proporcionar uma boa formação moral e um caráter ilibado aos filhos dessa geração. Existem valores intangíveis que devem ser aprendidos no lar e que são de singular importância nas famílias de hoje. Esses ensinamentos e normas de conduta, 14 | Em Família
se bem assimilados e vividos em sua essência, vão ajudar a transformar essa geração nos grandes homens e mulheres do amanhã, construtores de um mundo melhor. AMOR “Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos e não tivesse amor, eu nada seria.” Essa frase, proferida por Paulo de Tarso, possui um admirável poder de síntese para resumir um sentimento maior que pode unir a humanidade. O amor é a energia mais poderosa do universo. O amor tem o poder de libertar qualquer pessoa que o sinta em sua plenitude. Amar é desejar o melhor para o outro incondicionalmente. Quando soubermos a exata proporção dessa força de realização e a utilizarmos no dia a dia, a paz reinará nos lares e cidades do mundo.
Artigo pequenos gestos ajudam: ensinar a guardar os TEMPO brinquedos após utilizá-los, ajudar a lavar a louça do almoço, dar uma força na limpeza do jardim, O tempo é o bem mais precioso do universo e a apagar as luzes antes de sair, lavar as mãos depois única coisa que não volta. O minuto que passou já de ir ao banheiro. Gestos como esses, aprendidos se foi. Ele não é apenas o momento entre o levantar e internalizados quando ainda se é criança, serão e o dormir. A existência nos cobra o tempo perdido devolvidos para a sociedade depois na forma de a cada minuto. Aquela preguiça em estudar para a adultos responsáveis, honestos e idôneos. É mais prova. A oportunidade deixada para trás por ação fácil ensinar do que corrigir. do comodismo. O compromisso assumido e não realizado por descaso e displicência são exemplos SOLIDARIEDADE clássicos da importância da “qualidade do tempo” em nossas vidas. Ser solidário é partilhar alegrias e tristezas. É colocar o bem público acima do privado. É GRATIDÃO mover dentro de si um sentimento de amor e de fraternidade por tudo e por todos. É ser cordial e A gratidão gera bons sentimentos e deve ser caridoso no trato com as pessoas. Enfrentamos uma ensinada pelos pais para seus filhos desde a mais competição desenfreada na sociedade: a procura tenra idade. Temos de estimular a criança a ser pelo melhor emprego, a busca por uma vaga na grata e demonstrar aos outros sua gratidão. Esta faculdade, o trânsito caótico das grandes cidades. atitude virtuosa é um sentimento que dificilmente Esses e outros fatores fazem com que tenhamos se esquece. de ser competitivos sempre. A solidariedade é o “Muito obrigado”, “Por favor”, “Com licença”, antídoto para os males do egoísmo. Devemos com “Bom dia”, “Boa tarde”, “Boa noite”, são expressões urgência tomar consciência de que ninguém vai ser de gratidão que não estão e nunca estarão em feliz sozinho. Somos seres gregários, aprendemos a desuso e sempre vão ser gostosas de ouvir quando viver e a nos defender em bando desde a época das acompanhadas de um anseio sincero do coração. cavernas. AFETO
PERDÃO
Amor se demonstra no dia a dia. Pais afetuosos e amigos que demonstram essa virtude aos seus filhos sabem que, pela lei da reciprocidade, também serão contemplados com manifestações espontâneas de afeto e carinho. Partilhar momentos importantes, dar atenção nas horas de dificuldade, retribuir o carinho recebido, desligar a TV e fechar o jornal para ouvir e conversar, beijar e abraçar com sinceridade são formas simples, mas eficazes, de demonstrar afeto.
Esquecer ofensas pessoais ou algo de desagradável que alguém lhe fez exige uma firmeza de caráter e um desprendimento que poucos conseguem conquistar no decorrer da vida. Na convivência em família, o perdão é fator primordial para uma boa relação entre pais e filhos. Vamos ensinar o perdão aos filhos. Para que isso aconteça, precisa-se quebrar alguns paradigmas. Temos de passar a enxergar alguns fatos da vida com as lentes da compreensão e da sabedoria. Temos de procurar ver no patrão difícil, no funcionário CIDADANIA indisciplinado, no vizinho insensato, no governante corrupto, no familiar complicado, pessoas que Devemos deixar em nossa passagem pelo podem nos ensinar algo. Não é fácil, mas é possível. mundo gestos e atitudes de cidadania. No lar, setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo
O papel dos pais na escolha profissional Por Leo Fraiman Todos nós sabemos como as pressões sociais
Existem pais que querem que os filhos sigam a
podem ser desmotivadoras. Mas estas existem por
“profissão da família”, onde todos são engenheiros,
um motivo, certo? Desde pequenos, os familiares
médicos,
perguntam o que queremos ser quando crescermos.
caminho mais fácil, mas e se o filho, por exemplo,
Astronauta, dançarino, mágico, tudo é possível.
desejar ser músico? Não é porque uma profissão é
Mas, no começo da adolescência, a resposta assume
menos valorizada que outra, por determinada famí
advogados,
etc.
Pode ser até um
um peso maior, e podem começar a julgar se os Iia, que ela não traz satisfação profissional e uma desejos são mesmo viaveis, “realistas” ou mesmo
carreira de sucesso. Algumas profissões só parecem
se vão garantir sucesso. A pressão cresce e parece impossíveis, muito complicadas ou desvalorizadas que é preciso escolher uma carreira estavel, que dá
por falta de informação da sociedade e de pais
dinheiro e renome e, se acontecer de ser o que você que têm dificuldade em acompanhar novidades na gosta de fazer, otimo ao contrario, que pena, mas
área. Muitas das profissões que, hoje são bastante
“pelo menos você vai ganhar bem”.
valorizadas e apontadas, pelos meios de informação
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Artigo como “apostas para o futuro”, nem existiam há 1O
o que conseguirem coletar para, então, decidir.
ou 20 anos. E quando se fala em profissões do
É preciso levar em conta o estilo da profissão, a
futuro, hoje, também fala-se de algo inimaginável,
satisfação profissional que você acredita que ela lhe
em um contexto que muda a todo momento.
trará, as matérias estudadas no curso da graduação,
Hoje, temos acesso em um dia à quantidade de
quais faculdades e instituições oferecem esse curso,
informações de toda uma vida na ldade Média.
como é o estilo de vida e rotina dos profissionais, o
Estamos, cada vez mais, rápidos e, acompanhando
retorno financeiro e, principalmente, a viabilidade.
os avanços, também as profissões se modificam. Os
Lembrando, é preciso enfatizar, que a decisão
pais, professores e familiares, em geral, temem pelas
final é do indivíduo em momento de escolha.
escolhas dos jovens. É comum aconselhar a escolher
Afinal, quem vai trabalhar com aquilo, senão pelo
algo “seguro”, esquecendo-se que a adolescência
resto da vida, mas por um bom tempo dela, é o
é justamente a fase da experimentação.
jovem. Isso não significa, no entanto, que é preciso
As profissões mais recentes, como tudo o que
gerar um conflito desnecessário e uma situação
é novo, assustam. No entanto, a melhor forma de
de confronto familiar. O diálogo mantém o respeito
driblar a falta de conhecimento sobre um assunto
entre todos e mostra maturidade. É a melhor forma
é se informar. Se o adolescente quer ser Engenheiro
de convencer — mostrando argumentos, expondo
Ambiental, mas a família acha que é melhor fazer
os pros e contras — e de manter um born convívio.
Engenharia Mecânica, por exemplo, a sugestão é
A escolha profissional é a primeira de muitas
que busquem mais informações sobre o curso e as
outras grandes escolhas que virão. E a primeira vez
ocupações profissionais, conversem com pessoas
que nos sentimos “adultos”, podendo decidir o que
que ja trabalham na área e levem em conta tudo
desejamos fazer de nossas vidas. No entanto, essa maturidade vem acompanhada de um grande medo e se der errado? Claro que ninguém quer errar e começar algo novamente pode trazer frustrações, mas a boa notícia é que, atualmente, a grande maioria das pessoas já percebeu errar é humano e acontece, não é o fim ao mundo. E é ainda melhor quando temos a oportunidade de aprender com nossos erros e recomeçar. Se isso acontecer com seu filho ou filha, lembre-se de incentivá-Ios a pensar: no que sou bom? No que posso melhorar? E façam, juntos, uma lista ae habilidades e competências, cruzando-as com as profissões de interesse. Assim, fica mais fácil descobrir os próximos passos.
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O Processo de Discernimento e a escolha existencial de Dom Bosco pelos jovens pobres e abandonados Por Noviça Celene Couto Rodrigues A mensagem de Nossa Senhora, ao menino João Bosco, no famoso Sonho dos 9 anos, ressoa como um aviso do processo de discernimento vocacional que deveria passar. Dom Bosco é conhecido como Pai e mestre da juventude, mas para chegar à convicção interior de que deveria doar sua vida inteira aos jovens, sobretudo aos mais pobres e abandonados, precisou percorrer um itinerário de discernimento.
procurando compreender os sonhos, ouvindo as mediações, vivendo plenamente todas as oportunidades, recebidas em seu tempo e lugar, e se questionando profundamente, Dom Bosco conseguiu encontrar o verdadeiro sentido de sua vida e assim empregar todas as suas energias, até o último suspiro, aos seus jovens amados.
Esse singelo artigo tem por objetivo central apresentar o processo de discernimento que Somente ao percorrer esse itinerário, em levou Dom Bosco a fazer sua escolha existencial busca do sentido mais profundo de sua vida, pelos jovens pobres e abandonados. 18 | Em Família
Artigo A primeira parte trabalha os embasamentos teóricos sobre o discernimento e aplicabilidade do tema na vida de Dom Bosco. A segunda, analisa o processo que levou Dom Bosco à sua escolha existencial pelos jovens mais pobres e abandonados, incluindo o contexto socioespacial, vivido por ele em sua época. A terceira, apresenta a crise vivida por Dom Bosco, o “click” vocacional e sua resposta generosa, tendo como exemplo Jesus Cristo. E a quarta parte, despretensiosamente, dialogaremos a escolha existencial de Dom Bosco com a escolha da América Latina e Caribe, desde Medellin, e, de toda a Igreja com o Papa Francisco, que apresenta os pobres como “os destinatários preferidos de todo cristão” (Francisco, 2017). Esperamos assim, contribuir para um mergulho, cada vez mais profundo, em nossa raiz carismática e eclesial, para que possamos, ainda hoje, aprender da vida de nosso Pai fundador, fiel discípulo do seguimento de Jesus Cristo, a dar a vida pelos mais pobres, fazendo de sua causa, a nossa bandeira de luta para a implementação da Civilização do amor. 1- O DISCERNIMENTO O discernimento é, segundo Rupnik, uma realidade relacional, como o é a própria fé. De fato, a fé cristã é uma realidade relacional porque é Deus que se revela e se comunica como amor, e o amor pressupõe o reconhecimento de um “tu”. Deus é amor porque comunicação absoluta, eterna relacionalidade, tanto no ato primordial do amor recíproco das três pessoas divinas quanto na criação. Por isso, a experiência da relação livre que o homem experimenta no discernimento nunca é apenas relação entre homem e Deus, mas inclui a relação homem-homem e até mesmo homemcriação, pois entrar numa relação autêntica com
O discernimento define-se, portanto, “como a arte por meio da qual o homem compreende a palavra que lhe foi dirigida e nessa palavra, abrese o caminho que deve percorrer para responder à Palavra” (Rupnik, 2004).
Deus significa entrar nessa ótica do amor que é uma relação vinificadora com tudo o que existe. Tornar própria essa visão significa captar e perceber todos os instrumentos dessa linda sinfonia que estão intrinsicamente sendo executados em harmonia, pois, ligam todas as partes da criação e fazem surgir a comunhão do ser com tudo o que existe. Como todos esses instrumentos indicam o mesmo aspecto da realidade divina, sua presença nas coisas, nos objetos, na produção humana, infunde neles um novo significado, pelo qual cada coisa e cada ação é capaz de assumir um significado mais profundo. Assim, nos é “oferecida uma visão essencialmente sacramental do mundo pela qual, através das coisas, temos acesso à sua verdade” (Rupnik, 2004). Assim, o discernimento é a arte de compreender a si mesmo, levando em conta essa conjuntura de comunhão, pois se trata de “ver-se na unidade porque se vê com os olhos de Deus que vê a unidade de vida” (Rupnik, 2004). O discernimento define-se, portanto, “como a arte por meio da qual o homem compreende a setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo palavra que lhe foi dirigida e nessa palavra, abrese o caminho que deve percorrer para responder à Palavra” (Rupnik, 2004). É o discernimento que nos ajuda a santificar o tempo que Deus nos pôs à disposição para que cumpramos nossa vocação, que é o amor, e portanto, para se realizar em Cristo, plena realização do amor em sua Páscoa que é a nossa Páscoa. A vocação não é um fato automático, mas um processo de amadurecimento das relações, a partir daquela relação fundante com Deus. É, assim, um progressivo ver a si mesmo e a história com os olhos de Deus, um ver como Deus se realiza em mim e nos outros e como eu posso me dispor a essa obra de maneira a fazer parte da humanidade que Cristo assume, e por meio da qual assume também a criação, para entregar tudo ao Pai. Portanto, o discernimento não é um cálculo, uma lógica dedutiva, nem uma discussão ou um enigma a ser desvendado, mas uma oração, a ascese constante da renúncia ao próprio querer, ao próprio pensamento, elaborando-o como se dependesse totalmente de mim, mas deixando-o totalmente livre. Cada etapa da vida tem sua crise própria e o discernimento se dá paulatinamente à caminhada, ou seja, à própria experiência. Inegavelmente, apenas encontramos respostas daquilo que nos perguntamos. Dentro dessa perspectiva vê-se claramente o discernimento como um contínuo processo. Nem mesmo após a decisão tomada se pode cessar o discernimento, pois seu processo “virá como atitude contínua de autopurificação mesmo nos atos bons” (Libânio, 1977) e da indicação de Deus por onde seguir. Sendo assim, a memória se torna, então, praticamente o caminho privilegiado da vida espiritual, pois é “a capacidade de desenvolver com cuidado e atenção para aprender a discernir e 20 | Em Família
adquirir uma atitude constante de discernimento” (Rupnik, 2004). Por isso, o discernimento leva ao evento fundante, que é o amor de Deus e a sua vontade sobre nós. Baseia-se na integralidade cognoscitiva do Espírito Santo, até chegar a se ver com os olhos de Deus. 1.1 O DISCERNIMENTO NA VIDA DE DOM BOSCO Na vida de Dom Bosco, percebemos diferentes etapas de discernimento. Em cada uma delas, vivida intensamente, observamos seu itinerário pessoal em busca daquilo que é chamado a ser. Lemoyne, nas Memórias Biográficas, descreve as etapas de discernimento de Dom Bosco: “A esta altura não podemos deixar de fixar o nosso olhar no progressivo e racional suceder-se de vários e surpreendentes sonhos. Aos 9 anos, João Bosco tem conhecimento da grandiosa missão que lhe era confiada; aos 16, ouve a promessa dos meios materiais dispensáveis para acolher e manter os incontáveis jovens; aos 19, um mandato imperioso dá-lhe a entender que não é livre de aceitar a missão recebida; *aos 21, é lhe manifestada a classe de jovens de cujo bem espiritual deverá ocupar-se de modo especial; aos 22, é lhe indicada uma grande cidade, Turim, onde deverá iniciar seus trabalhos apostólicos e suas fundações. E, como veremos, não terminam aqui as misteriosas instruções que continuarão em intervalos até cumprir-se a obra de Deus”. (MB, vol.I, pág.46) Revisitando a vida de Dom Bosco, identificamos que desde a primeira infância, deu provas de inclinação para o sacerdócio. O Sonho dos 9 anos ficou impresso em sua vida, mente e coração de tal forma que para ele significou sempre “aquela palavra” dita por Deus sobre si. Afirmava que o sonho de Murialdo estava
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gravado em sua memória e que havia até se renovado de maneira mais clara, e se “assim lhe quisesse dar fé, devia optar pelo estado eclesiástico, ao qual se sentia inclinado. Porém, a pouca fé nos sonhos, estilo de vida e certos hábitos do coração e a falta absoluta de virtudes necessárias para esse estado tornavam duvidosa e bastante difícil a decisão nesse sentido” (MO, 2008). Tais palavras nos apresenta um jovem a caminho. Um jovem que busca as respostas para as perguntas essenciais de sua vida. Essa atitude de discernimento lhe era tão forte que irrompe em todas as dimensões de sua vida, chegando ao inconsciente e se manifestando nos sonhos. Os sonhos retificam a situação consciente e acrescenta material que ainda está lhe faltando. É só a partir do conhecimento da situação consciente que se pode descobrir que sinal dar aos conteúdos inconscientes.
Segundo Jung, os sonhos podem exprimir verdades e sentenças filosóficas, recordações, planos e antecipações. Afirma que: “É extremamente raro que um sonho isolado e obscuro possa ser interpretado com razoável segurança... A interpretação só adquire uma relativa segurança numa série de sonhos, em que os sonhos posteriores vão corrigindo as incorreções contidas nas interpretações anteriores. Também é na série de sonhos que conteúdos e motivos básicos são reconhecidos com maior clareza...” (Jung, 2002) Sendo assim, como Jung, entendemos uma série de sonhos não como uma sucessão fortuita de acontecimentos desconexos e isolados, mas como um processo de desenvolvimento e de organização que se desenrola segundo um plano bem elaborado e não através de um processo exclusivamente intelectual (Cf. Ferreira, 2011). À essa altura, podemos nos perguntar, se a setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo opção pelos jovens estava no inconsciente de João Bosco quando se questionava sobre sua vocação e se assim fosse, que papel ela teve em sua decisão vocacional. Em meados da década de 1830, aos 16 anos, a opção definitiva pelos jovens ficava como algo que pertencia ao futuro. Dom Bosco, diz-nos nas Memórias do Oratório, que aos 10 anos já estava empenhado no apostolado juvenil compatível com sua idade. Ao longo dos anos de estudo em Chieri, o oratório improvisado e o “ministério” entre os colegas eram um compromisso sério de sua parte. Mais ainda, as imagens do sonho vocacional são símbolos do ministério sacerdotal em favor dos jovens. A vocação sacerdotal, sugestão direta do sonho, foi direcionada à opção pelos jovens (Lenti, 2012). Aos 19 anos, em meio a um sério conflito interior a fim de decidir a própria vocação, João Bosco tem um sonho, o do mandato imperioso, onde o próprio Jesus o manda se colocar à frente dos meninos e guiá-los (MB I, 123). Esse sonho significou para João, sem sombra de dúvidas, a confirmação de que o cuidado com a juventude não era um capricho seu, mas uma missão que o próprio Deus havia lhe dado.
2- A ESCOLHA EXISTENCIAL PELOS JOVENS POBRES E ABANDONADOS Mesmo com a certeza do sacerdócio e do trabalho com os jovens, ainda havia, uma inquietação interior em Dom Bosco: qual rumo tomar em sua vida após sua ordenação sacerdotal sem excluir os jovens de suas escolhas? Com quais jovens trabalhar? Estamos em Chieri, no ano de 1841, aos 05 de junho, quando João Bosco fez sua ordenação sacerdotal. Ouvindo os conselhos de Pe.Cafasso, seu diretor espiritual, fez a opção de prosseguir 22 | Em Família
os estudos de moral e pregação no Colégio Eclesiástico em Turim. Assim, em 3 de novembro do mesmo ano, o neossacerdote afirma que seguiu “prazerosamente o sábio conselho” (MO, 2008) e ingressou no Colégio para aperfeiçoar seus estudos. Numa passagem das Memórias do Oratório (2008, pg117), Dom Bosco escreve sobre sua experiência no Colégio: “Nos nossos seminários estuda-se somente a dogmática especulativa; da moral estudam apenas as questões disputadas. Nele, aprende-se a ser padre”. O dia dos jovens sacerdotes eram estruturados sobre duas conferências: uma de manhã com o padre Guala, e a segunda à noite com padre Cafasso (Bosco, 1993). A finalidade das conferências não era apresentar teorias teológicas, mas estruturar as experiências cotidianas que os jovens sacerdotes presenciavam em suas ações pastorais. No restante do dia, os sacerdotes exerciam o ministério no ambiente da cidade tais como hospitais, prisões, institutos de beneficência, mansões, casas populares, assistência aos doentes e idosos. Se o Colégio Eclesiástico contribuiu decisivamente na formação sacerdotal de Dom Bosco, a experiência sob a orientação de padre Cafasso foi nova e relevante. Teve, de fato, o caráter de uma segunda conversão. (Lenti, 2012) Dom Bosco encontrou em Cafasso o pai bom e o guia seguro para chegar à maturidade humanoespiritual. “Todas as feridas, confusões desde a infância, adolescência e juventude foram enfim curadas” (Lenti, 2011), conseguindo assim paz de espírito, direção e liberdade. No Colégio, com Cafasso, Dom Bosco alcançou a maturidade teológica e vocacional, aprendendo por meio de diversos ministérios sacerdotais que o levaram à descoberta de uma determinada categoria de jovens aos quais se
Artigo sentia pessoalmente chamado. Foi o momento do “click” vocacional de sua vida, em que sob a direção de Cafasso, ele fez a opção definitiva pelos jovens pobres e abandonados. João passou três anos providenciais no Colégio Eclesiástico. Não apenas enriqueceram sua mente com um cabedal de conhecimentos preciosos, mas também e principalmente porque o puseram em contato com as misérias, cujo conhecimento serviu para orientar definitivamente sua vocação de pai da juventude, sobretudo à juventude em situação de risco na Turim dos meados do século XIX (Lenti, 2012). 2.1- CONTEXTO SÓCIO ESPACIAL Qual foi a Turim encontrada por Dom Bosco ao chegar no Colégio Eclesiástico e que se tornou o cenário de sua segunda conversão? A população de Turim viveu um notável crescimento demográfico após as guerras napoleônicas na Itália e na Europa. Mas, o movimento migratório a Turim se deu, principalmente, em função da Revolução Industrial. A decadência da população rural, devido a diminuição das propriedades familiares, paralela ao crescimento de grandes propriedades e de trabalhadores assalariados, desencadeou um movimento migratório de marcha para a cidade em busca da sobrevivência, gerando um rápido crescimento urbano sem a devida infraestrutura. Muitos desses migrantes, mesmo não conseguindo emprego nas pequenas indústrias, permaneciam na cidade porque não tinham para onde retornar. Alojavam-se sobretudo nos bairros mais pobres que surgiram ao longo dos rios Dora e Pó (Lenti, 2012). Turim, nessa época era uma cidade que crescia rapidamente e atraía para si uma multidão de meninos pobres e de moços contratados pelas
empresas construtoras. Eram principalmente trabalhadores manuais, serventes de pedreiro, marceneiros principiantes. “Dormiam onde podiam, quase sempre miseravelmente, em grupos de cinco ou seis em porões ou em sótãos insalubres. Mas esses ao menos formavam um exército de trabalhadores. O pior era o que se via ao lado deles: uma multidão de meninos abandonados, ociosos, que fervilhavam quase por toda a parte, nas imediações da cidadela, ao longo do Rio Pó, nos terrenos baldios que aguardavam construções, meninos abandonados pelos pais ou por eles instigados à mendicância...” (Auffray, 1946). Desde as primeiras semanas que esteve no Colégio Eclesiástico, Dom Bosco pôde de tocar com suas próprias mãos o estado de abandono moral em que se encontrava a maior parte da juventude da classe operária. Dedicou-se ao ministério dos jovens que andavam pelas ruas da cidade e que, com frequência, encontrava nas prisões. Lenti, ressalta que, assim foram assentadas “as bases da espiritualidade Salesiana que o fundador incorporaria mais tarde nas Constituições e deixaria em legado aos seus filhos e filhas espirituais” (2012). 2.1.2 JOVENS POBRES E ABANDONADOS Quem eram os jovens pobres e abandonados que Dom Bosco conheceu e que chamaram sua atenção desde que chegou a Turim? Desde sua chegada a Turim, percebeu a diferença existente entre os jovens pobres camponeses dos Becchi, os pobres estudantes de Chieri com a nova - para ele - pobreza encontrada nos jovens de Turim. Eram, portanto, jovens locais, que viviam nos subúrbios dos bairros ao norte de Turim, tentando sobreviver com qualquer meio que lhes fosse oferecido; ou meninos migrantes setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
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temporários, empregados nas construções, sem condições dignas de trabalho. Todos eles eram jovens em situação de risco. Dom Bosco, em Memórias do Oratório, ressalta que, de fato, muitos deles estiveram na prisão ou corriam o risco de ir para ela. Na verdade, se tratava de “jovens pertencentes à categoria designada na imprensa do tempo como pobres e abandonados. Todos os dias, mais de mil meninos e jovens aglomeravam-se pelos arredores da praça e do mercado da Porta Palácio, à espera de serem contratados ou simplesmente ficavam circulando...”. (Lenti, 2012). Assim, submetiam-se a explorações de todos os tipos e ficavam expostos aos perigos físicos e morais. Grandes eram os índices de delinquência, de bandos juvenis, de analfabetismo e castigos (Lenti,2012). “Essa situação de risco físico e moral explica a praxe de Dom Bosco de visitar os meninos no local de trabalho e pedir contratos 24 | Em Família
escritos de seus empregadores” (Petitti, 97). Em seu tempo, as crianças, adolescentes, jovens e adultos, trabalhavam 16 horas seguidas e até mais. Não havia reconhecimento dos direitos humanos e sociais. Muitos morriam de graves doenças pulmonares. Outros, de fome e frio. Não havia salário e a remuneração dependia do interesse do patrão. Tal situação ficou de tal modo impregnada em Dom Bosco que passou a tomar todo o seu tempo e gastos de energia com a preocupação intensa de ajudar aqueles meninos, sem qualquer amparo ou perspectivas de vida e vida em abundância. 3 - DA CRISE AO “O CLICK” Dom Bosco percebeu que o Estado, as estruturas paroquiais da época, as práticas pastorais do clero mais velho e também do Colégio Eclesiástico eram incapazes de resolver a problemática social
Artigo vivida pelos jovens. Assim que foi encarregado, por Cafasso, de visitar as prisões, teve a oportunidade de, pela primeira vez, se defrontar com a condição alarmante e lamentável de muitos jovens, ali detidos. Este contexto doloroso para a sociedade é devastador para seu coração. Dom Bosco encontrou nas prisões de Turim os jovens condenados à morte lenta e ficou perturbado. Ele mesmo relata essa experiência: “Lá pude verificar como é grande a malícia e a miséria dos homens. Ver turmas de jovens, de 12 e 18 anos, todos eles sãos, robustos, e de vivo engenho, mas sem nada fazer, picados pelos insetos, à míngua de pão espiritual e temporal, foi algo que me horrorizou [...]. Qual não foi, porém, minha admiração e surpresa quando percebi que muitos deles saíam com firme propósito de vida melhor e, não obstante, voltavam logo à prisão, da qual haviam saído poucos dias antes...” (MO, 2005). Podemos imaginar e até sentir a dor de Dom Bosco ao se deparar com essa realidade juvenil. Para ele, que se via inclinado a cuidar dos jovens, vê-los padecer, sozinhos e sem perspectivas causava-lhe um desconsolo imensurável. Aqui se deu sua grande crise: “Se tivessem lá fora um amigo que tomasse conta deles, os assistisse dos instruísse... não se poderiam manter afastados da ruína ou pelo menos não diminuiria o número dos que retornam ao cárcere? ” (MO, 2005). Dom Bosco começou a descobrir, dessa forma, adolescentes e jovens migrantes, vítimas da fome, do analfabetismo, da exploração sexual, do trabalho escravo, do abandono familiar e social. Eram meninos pobres e sem a chance de serem reconhecidos como cidadãos e cristãos, que viviam nas periferias de Turim, expostos a todo tipo de perigos. Percebemos que Dom Bosco foi interpelado,
nas entranhas, pela realidade dos jovens de Turim de sua época a questionar a sua própria vida e a voltar a responder à pergunta central de sua existência: O que Deus quer que eu seja? Que eu faça? Em Turim, Deus preparava ‘o novo’ na vida de Dom Bosco e, por meio da experiência da dor, pelo sofrimento dos jovens pobres e abandonados, nasce a esperança de ajudar a mudar a realidade em que vivia. 3.1 A EXEMPLO DE JESUS Assim é possível perceber que nada foi acidental na vida de Dom Bosco. Ele não escolheu os jovens mais pobres somente porque sentiu pena. O que Dom Bosco sentiu foi compaixão evangélica. A compaixão tem como modelo o próprio Jesus. Segundo o evangelho de Mateus, certa vez, Jesus saiu da cidade de Jericó e encontrou um grupo de cegos que gritava por Ele, pedindo auxílio: “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós” (Mt20,31). Jesus para diante deles e sente compaixão daquelas pessoas colocadas à margem de tudo, até mesmo da vida. A partir desse sentimento empático, que consiste em sentir com o outro a sua cegueira e exclusão, Jesus se coloca no lugar daqueles que gritam. Então, movido por esse sentimento Ele os cura. Lucas nos apresenta, também, outro fato significativo sobre a compaixão quando narra que Jesus passava pela cidade de Naim e, de repente, apareceu uma multidão que levava o morto para sepultar. Acontece que era um filho jovem de uma mulher viúva. As viúvas eram abandonadas por todos e não tinham ninguém por elas, a não ser os filhos, e essa tinha perdido seu filho único. A mulher chorava e se lamentava. Jesus viu tudo isso é “encheu-se de compaixão por ela” setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo (Lc 7,33ss), e ressuscitou o morto. Como, acima, verifica-se um sentimento de quem se coloca no lugar do que sofre e age para salvar. Dom Bosco foi movido por essa compaixão. Ele começou a ver os jovens nas terríveis prisões de Turim, nas praças, nos telhados das casas limpando chaminés, correndo até o perigo de morrerem asfixiados, durante as limpezas; “jovens que faziam as belas roupas dos nobres, mas viviam com trapos; jovens ainda que vendiam pão nas padarias, mas não tinham o que comer; jovens que trabalhavam nas fábricas de couro, nas construções dos edifícios e não tinham sequer onde morar” (Mendonça, 2008). Tudo isso, Dom Bosco observou e foi movido pela compaixão. De um lado estava a própria experiência de menino, de adolescente, lutando para sobreviver, arriscando tudo para conseguir estudar e realizar seu sonho. De outro, estavam aqueles meninos abandonados por todos. Ele sabia muito bem o significado das dores daqueles jovens. Por isso, sua compaixão foi imensa. Devia decidir-se. Sem vacilar, optou pelos jovens pobres e abandonados. Estava ali o verdadeiro e mais profundo sentido de sua vida e missão. O “click” que sempre buscou e que ao tempo de Deus foi revelado. Dom Bosco, dessa forma, sentia-se participante do mistério da salvação. Ajudando os jovens pobres e abandonados sentia que estava ajudando a completar o que faltava à crucificação de Jesus. Assim como o Bom Pastor cuida de suas ovelhas e vai atrás da ovelha que se perdeu, ele também deveria ir atrás, cuidar, acolher e educar os jovens pobres abandonados. Eis o seu lema sacerdotal, “da mihi animas cetera tole”, acontecendo diante de seus olhos e possibilitando a graça de muitos jovens terem suas vidas restauradas, por meio de uma vida digna, verdadeiro sinal da ressurreição do Senhor para todos. 26 | Em Família
3.2 A RESPOSTA Dom Bosco se perguntava se poderia fazer alguma coisa por esses jovens. Depois de conversar com padre Cafasso, estabeleceu o plano de começar a reunir os jovens e cuidar deles. Evidencia-se assim sua metodologia e instrumental de seu discernimento a fim de descobrir e fazer a vontade de Deus em sua vida: estar atento à realidade, captar os sinais dos tempos, pedir conselho a quem os pode dar e, sobretudo, apoiar-se na graça divina e na proteção materna de Maria. Percebemos aqui, que Dom Bosco se coloca como apóstolo autêntico, pois se preocupa em não confundir seus próprios desejos, ainda que generosos, com a vontade de Deus. O diálogo entre ele e padre Cafasso é um dos pontos culminantes de sua vida espiritual. Por essa razão, recomendará sempre aos jovens que recorram de boa mente e de maneira estável a um guia confiável e estável, ou seja, trilharem esse caminho da procura da vontade de Deus como ele mesmo o fez. Nas notas históricas de 1862, Dom Bosco, descreve os inícios do Oratório como resposta à situação de risco por causa da falta da instrução religiosa: “A ideia dos Oratórios surgiu de minhas visitas frequentes às prisões da cidade. Nesses lugares, aonde haviam desembocado os fracassos espirituais e materiais, encontravamse muitos jovens na flor da juventude, com mentes despertas, corações sadios, que bem podiam ser consolo das famílias e o orgulho da pátria. Contudo, estavam ali detidos em estado de degradação e condenados pela sociedade... a experiência também demonstrava que, se fossem ajudados aos poucos a perceberem sua dignidade humana, muitos deles mudariam de
Artigo conduta, mesmo estando na prisão, e, que se fossem soltos viveriam de tal modo que nunca mais teriam que retornar... Para comprovar essa percepção, iniciamos a dar instrução religiosa adequada nas prisões da capital, e pouco mais tarde, na sacristia da Igreja São Francisco de Assis; assim começaram as reuniões aos domingos e dias festivos no Oratório. Os encontros eram abertos aos jovens saídos da prisão e aos que, durante a semana, se reuniam pelas praças e ruas, como também aos que estavam nas fábricas... Foi em 1841 que isso começou...” (Braido,1862). Dom Bosco indica, assim, que os contatos com os jovens em situações de risco se deram nas prisões. O oratório começou com a instrução religiosa dos jovens que saíram da prisão e que perambulavam pelas praças ou que estavam empregados nas fábricas (Lenti,2012). A segunda conversão de Dom Bosco, fruto do seu processo de discernimento, o levou ao conhecimento da categoria de jovens que dedicaria sua vida e missão. Surge assim a parcela do carisma salesiano na Igreja: o cuidado da juventude. 4- DIÁLOGO ECLESIAL Dom Bosco, foi um homem além de seu tempo e toda essa sua preocupação com os jovens mais pobres, dos anos 1800, foi um percurso que a Igreja também viveu a partir, sobretudo, do advento do Concílio Vaticano II. No dia 16 de novembro de 1965, ao findar o Concílio Vaticano II, alguns bispos celebraram uma missa nas catacumbas de Santa Domitila e firmaram o pacto chamado, “O Pacto das Catacumbas”. O Papa João XXIII falou da importância da pobreza, que não obteve forte repercussão
conciliar de modo a entrar explicitamente nos documentos do concílio. A partir da segunda sessão, vendo que a Igreja para seguir Jesus Cristo radicalmente precisava viver a pobreza, ou seja, não a miserabilidade, mas, sim, se contentar com aquilo que é o necessário para viver, os bispos começaram a perceber que muitas coisas passavam da essencialidade. E assinaram um documento, sobretudo, os bispos latino americanos, comprometendo-se a ter os pobres como aqueles mais importantes em sua vida pastoral. E, passaram e ler o Concílio na linha dos mais pobres. Nesse momento histórico, cerca de 500 bispos assumiram a preocupação e tomaram o compromisso de se pensar e ajudar os pobres a saírem da situação de miséria e exclusão social. Não se tratava apenas de fazer para, mas, também, e principalmente, de fazer com, ensinandoos e instruindo-os a serem instrumentos de transformação da sociedade. A Igreja dos pobres não é aquela que apenas vai aos pobres, mas também, se desveste das atitudes de poder e dominação até nas próprias vestes, residências, meios de transportes e assim, os bispos e sacerdotes participarem na vida do povo. Medellin, foi o Concílio Vaticano II da América Latina e do Caribe, o verdadeiro Pentecostes. Aqui se fez a opção pelos pobres, pelas comunidades e pela militância a partir da fé. (Medelin, 1968). A Igreja começa a ter um novo rosto, marcando sua presença nos problemas do mundo, denunciando as injustiças e sendo voz dos menos favorecidos. Em Puebla, a Igreja ensina a todos a sua própria dignidade de filhos de Deus. Esta verdade se realiza, sobretudo, por meio da opção preferencial pelos pobres, nascida anteriormente, mas, será em Puebla que irá abranger todas as dimensões da ação pastoral da Igreja do Brasil. Aqui a linha setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo metodológica pastoral da igreja, consistia em buscar respostas para operacionalizar a opção pelos pobres por meio de uma libertação integral da pessoa humana em crescente comunhão e participação (cf. Libânio, 1979). Santo Domingo, embora com menor vigor, continua falando da necessidade da opção pelos pobres diante do empobrecimento e da agudização da brecha entre ricos e pobres, ao dizer que “evangelizar é fazer o que Jesus Cristo fez, quando mostrou na sinagoga que veio para ‘evangelizar’ os pobres (Lc 4,18-19)”, e continua afirmando: “Esta é a fundamentação que nos compromete numa opção evangélica e preferencial pelos pobres, firme e irrevogável, mas não exclusiva e nem excludente, tão solenemente afirmada nas Conferências de Medellín e Puebla... Descobrir nos rostos sofredores dos pobres o rosto do Senhor (Mt 25,31-46) é algo que desafia todos os cristãos a uma profunda conversão pessoal e eclesial” (Santo Domingo, 1992). Conferência de Aparecida partiu da premissa de que “A opção pelos pobres é uma das características que marcam o rosto da Igreja latino-americana e caribenha... Com efeito, é uma contradição dolorosa que o continente de maior número de católicos seja também o de maior iniquidade social” (Aparecida, 2007). É um desafio à credibilidade no anúncio do evangelho. Exige-se uma grande firmeza no anúncio do evangelho e em suas imprescindíveis consequências para toda pessoa crente, como também “uma grande dose de humildade para reconhecer nossas próprias deficiências e limitações e entrar em diálogo com pessoas de outros horizontes para buscar unir-se em uma tarefa que ‘convida a todos’ na busca da justiça social e no respeito à liberdade da pessoa humana” (Aparecida, 2007). 28 | Em Família
A eleição do Papa Francisco, latino americano, “eclesializou” institucionalmente a opção pelos pobres para toda a Igreja. Não sabemos se ele conheceu o pacto das catacumbas, mas, ao assumir o nome Francisco, afirma que sua escolha se deu exatamente para que não se esquecesse dos mais pobres. Para ele, “estar ao lado dos pobres é viver plenamente o evangelho” (Francisco, 20016). Ao lermos a Evangelii Gaudium, percebemos que Francisco apresenta, como primeiro horizonte essencial da Igreja, a opção pelos pobres, e seus gestos e palavras caminham nessa direção. Afirma querer uma “Igreja pobre para os pobres” (EG, 2013). Francisco faz parte de uma herança do pacto das catacumbas, ele tem suas raízes fincadas em uma Igreja atenta aos mártires, à luta pela justiça e que se fez pobre com os pobres assim como Jesus Cristo. Francisco, nos mostra, que se a Igreja é “povo de Deus”, como é afirmado na Lumen Gentiun, a opção pelos pobres se concretiza numa Igreja servidora, encarnada na história, na participação e comunhão de todas as pessoas como verdadeiras portadoras de uma esperança escatológica que define a libertação da pessoa inteira e de todas as pessoas. O Papa Francisco, afirma que a primeira atenção a ser dada à pobreza é de tipo assistencial. Mas, a ajuda não pode ficar apenas nisso, é preciso traçar caminhos de promoção e integração à comunidade tirando do pobre “o rótulo de eterno marginalizado” (Francisco, 2015). Em 2015, no encontro com os salesianos de Dom Bosco, as Filhas de Maria Auxiliadora e toda a Família Salesiana, o Papa Francisco, ressaltou um aspecto importante da vida e vocação de Dom Bosco como sacerdote dos jovens, principalmente dos mais pobres: “Ele realizou-o com firmeza e constância, entre
Artigo
obstáculos e dificuldades, com a sensibilidade de um coração generoso. Não deu um passo, não proferiu uma palavra, não lançou mão a um empreendimento que não tivesse em vista a salvação da juventude... Realmente, ele preocupou-se de modo exclusivo às almas» (Constituições salesianas, n. 21). O carisma de Dom Bosco leva-nos a ser educadores dos jovens, pondo em prática aquela pedagogia da fé que se resume assim: «Evangelizar educando e educar evangelizando» (Diretório geral para a catequese, n. 147). Evangelizar os jovens, educar os jovens a tempo inteiro, começando pelos mais frágeis e abandonados, propondo um estilo educativo feito de razão, religião e benignidade, universalmente estimado como «sistema preventivo». Aquela mansidão tão forte de Dom Bosco, que certamente tinha aprendido da sua mãe Margherita. Mansidão e ternura forte! Encorajo-vos a prosseguir com generosidade e
confiança as múltiplas obras a favor das novas gerações: oratórios, centros juvenis, institutos profissionais, escolas e colégios. No entanto, sem esquecer aqueles aos quais Dom Bosco chamava «meninos de rua»: eles têm muita necessidade de esperança, de ser formados para a alegria da vida cristã” (Francisco, 2015). Podemos perceber que o processo de discernimento de Dom Bosco que o levou à sua segunda conversão, isto é, à decisão de entregar a sua vida pela salvação dos jovens mais pobres e abandonados, caracterizou o “jeito de Dom Bosco” de ser Igreja e, como seus filhos e filhas, somos chamados(as), no hoje da história, a continuar essa linda missão. 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS: O LEGADO Papa Francisco, nesse mesmo encontro afirma que: “Dom Bosco foi sempre dócil e fiel à Igreja e setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo
ao Papa, seguindo as suas sugestões e indicações pastorais. Hoje a Igreja dirige-se a vós, filhos e filhas espirituais deste grande santo, e de modo concreto convida-vos a sair, a ir sempre de novo para encontrar os adolescentes e os jovens lá onde eles vivem: nas periferias das metrópoles, nas áreas de perigo físico e moral, nos contextos sociais onde faltam muitos bens materiais, mas onde faltam sobretudo o amor, a compreensão, a ternura e a esperança. Ir ao seu encontro com a paternidade transbordante de Dom Bosco. O oratório de Dom Bosco nasceu do encontro com os jovens de rua e, durante um certo tempo, viveu itinerante entre os bairros de Turim. Espero que possais anunciar a todos a misericórdia de Jesus, fazendo «oratório» em todos os lugares, especialmente nos mais impenetráveis; levando ao coração o estilo oratoriano de Dom Bosco e olhando para horizontes apostólicos cada vez mais amplos. Da raiz sólida que ele plantou há 30 | Em Família
duzentos anos no terreno da Igreja e da sociedade germinaram muitos ramos: trinta instituições religiosas vivem o seu carisma para compartilhar a sua missão de levar o Evangelho até aos confins das periferias. Além disso, o Senhor abençoou este serviço suscitando no meio de vós, ao longo destes dois séculos, uma numerosa plêiade de pessoas que a Igreja proclamou santos e beatos. Encorajo-vos a prosseguir ao longo deste caminho, imitando a fé de quantos vos precederam”. O carisma salesiano é um dom do Espírito à Igreja, em favor de determinados destinatários. A vocação Salesiana, mais do que nosso privilégio, é direito da juventude, especialmente da juventude mais pobre e necessitada: o Espírito nos chamou para ela e nos enviou para evangelizá-la. Diante disso, examinar a localização exata da nossa presença apostólica e aprofundar o conceito de evangelização na escola de Dom Bosco, com suas implicações atuais, torna-se
Artigo imperativo. Trabalho urgente e complexo, que reclama de nós uma consciência social e uma visão esclarecida da nossa tarefa para a justiça no mundo. Sabemos o quanto é fácil fazer demagogia quando se fala de escolher os pobres, e, que está na moda uma certa tentação de políticos quando se afirma que a evangelização implica também na promoção humana e libertação das injustiças sociais. Mas, é necessário, afinal, correr algum risco, como Dom Bosco correu, como Madre Mazzarello correu, como Jesus Cristo correu e sofreu a morte violenta da cruz. Seria muito tranquilo carregar, no coração, nada menos do que um carisma e nunca sentir a novidade dinâmica e incômoda de ser interpelado pelos antigos e novos gritos da juventude pobre e abandonada. Com Dom Bosco não foi assim! Foi em seu coração que primeiramente vibrou a corda da melodia de sua vida “da mihi animas cetera tole”. E, se hoje estamos aqui é para darmos continuidade a essa grande e bela sinfonia, que é gratuitamente dom de Deus. Somos chamadas a seguir os passos de Dom Bosco, conhecer a realidade, nos deixar interpelar pelos gritos dos jovens pobres, andar com eles, ser a sua voz, ouvir as mediações, rezar, prestar atenção nos sonhos e confiar inteiramente em Nossa Senhora Auxiliadora. Só assim, a seu tempo, tudo compreenderemos e seremos resposta credível do amor de Deus aos jovens e a garantia da perpetuação de nosso carisma na Igreja.
São Paulo: Editorial Dom Bosco, s/d BOSCO, Terésio. Dom Bosco: uma biografia nova. São Paulo: Salesiana, 1993, p. 509-513. BOSCO, São João. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales: 1815-1855. São Paulo: Editora Salesiana, 2005. LEMOYNE, João Batista. Memorie Biografiche di San Giovanni Bosco. v. 2, LEMOYNE, João Batista. Memorie Biografiche di San Giovanni Bosco. v. 3, LENTI Arthur J., Dom Bosco: História e Carisma, volume 1, 1ªedição. Brasília-CIB, 2012 LENTI Arthur J., Dom Bosco: História e Carisma, volume 2, 1ªedição. Brasília-CIB, 2012 LENTI Arthur J., Dom Bosco: História e Carisma, volume 3, 1ªedição. Brasília-CIB, 2012 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium. In: http://www.vatican.va. CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO. Documento de Aparecida. In: http://www.celam. org. ____. DOCUMENTO DE PUEBLA. In: http://www. celam.org. FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Vaticano: 2013. In: www. vatican.va FRANCISCO, Papa. Encontro com os salesianos. Vaticano: 2015 www.vatican.va . HOONAERT, Eduardo. Teologia que vem das catacumbas: desafios atuais. In: www.deus.com – Desafios da Teologia num mundo virtual. São Paulo: Loyola, 2003. JUNG, Carl Gustav . Memórias, Sonhos, Façamos como Dom Bosco fez! “Quereis fazer- Reflexões [1964]. RJ: Nova Fronteira, 1996b. me coisa divina? Educai a juventude”. (Dom Bosco) LIBANIO, J. B. A escola da liberdade. Subsídios para meditar. São Paulo: Loyola, 1977. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUFFRAY Augustin, Dom Bosco, 4ªedição, São Paulo, Salesiana Dom Bosco, s/d AUBRY J. Escritos espirituais de São João Bosco. setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo
Fazer memória é fazer história Por Ir. Iracema Schoeps eIr. Manoracy Vitar Medeiros
Estamos deixando a cidade de Diadema. Em revisão com o povo das Comunidades nasceu este texto que compartilhamos com vocês. Como nasceram as Comunidades Cristãs
Passos da caminhada
As
Comunidades
Cristãs
No princípio Deus criou a Serra do Mar, coberta de vegetação e de mananciais cujas águas
de
Diadema jorravam em belas fontes, minas e cascatas. Aqui
nasceram nas casas onde os pequenos grupos nasceu Diadema, coroa do ABC. se reuniam para a Novena de Natal, os encontros
Como região próxima de São Bernardo do
da Campanha da Fraternidade, as reflexões Campo e do Porto de Santos, instalaram-se aqui bíblicas, a reza do terço levando a imagem de indústrias de autopeças, o que atraiu a migração, Nossa Senhora e conversando.
principalmente,
de
nordestinos,
Para avaliar os passos da caminhada nasceu, paranaenses. Opequeno
município
mineiros, se
viu
também, esta analogia com o Livro do Gênesis 1, a ocupado por milhares de barracos formando criação, elaborada por grupos das Comunidades imensas favelas, sem as mínimas condições da Paróquia Menino Jesus: 32 | Em Família
de infra-estrutura: água, esgoto, iluminação,
Artigo
transporte, educação e saúde.
conseguir emprego. O emprego era o “ouro”.
“E nos bairros ‘a água não havia sido separada Não é à toa que existem os bairros com nomes da terra’: era uma lama só! Não havia água de Eldorado, Casa Grande! encanada: só água do poço e perto das fossas. Luz,
Diadema era “Coração de Mãe”. Sempre
só de vela, lamparina ou lampião. Asfalto, nem cabendo mais uns. pensar! Condução: o“Poeirinha”, com intervalo
Migrantes
chegando
para
uma
cultura
de mais de hora entre um e outro quando não completamente diversa de seus lugares de quebrava; senão, era para mais de duas horas origem, desorientados por perderem suas raízes. a espera. E a situação se tornava mais crítica
E a cidade crescia desordenadamente.
ainda no tempo das chuvas. No emaranhado
E ao mesmo tempo aconteciam, nas casas,
dos barracos, as notícias dos familiares distantes as novenas e o terço, a formação bíblica, a não chegavam porque o correio também não Catequese e as Celebrações ocupando os chegava”. E o grupo viu que tudo isso era muito ruim! O grupo viu que tudo precisava de re-criação. E Deus também.
espaços nas Escolas, tudo misturado com a conversa sobre a vida. E nem Deus sabia se isso era muito bom ou era ruim!
Houve uma tarde e uma manhã.
O grupo, muito menos!
Foi o primeiro dia da Criação das Comunidades
Houve uma tarde e uma manhã.
Eclesiais de Base (CEBs).
Foi o segundo dia da Criação das CEBs.
Diadema era um verdadeiro paraíso para se setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo
A organização e a luta dos moradores por Trabalhador e da Trabalhadora” no dia 1º de melhores condições de vida se fortaleceram. Mobilizações populares aconteceram. Abaixo-
maio na Igreja Matriz de S. Bernardo. Fizeram o CAP – Curso de formação para
assinados foram levados às várias Secretarias Agentes de Pastoral, a princípio na Igreja Matriz Municipais e ao Governo Estadual.
Imaculada Conceição e posteriormente na Igreja
A presença das Irmãs em várias Comunidades São Pedro, bairro Taboão. Cresceu a ligação fécontribuiu com a formação bíblica e catequética, vida! para uma visão crítica da realidade pela ligação
Esta foi a semente de uma Administração
da fé e da vida, pela ligação da fé e da política Democrática e Popular em Diadema. Política?! Sim, no sentido de uma formação para a
E os grupos viram que tudo isso era muito
participação da vida na cidade, para a cidadania. bom! E Deus também. Tudo contribuiu na formação das lideranças
Houve uma tarde e uma manhã.
locais. Aumentaram os Grupos de Reflexão nas
Foi o terceiro dia da Criação das CEBs.
casas com um novo jeito de rezar a partir de
As Comunidades Eclesiais de Base foram
fatos da vida e a Palavra de Deus iluminando e responsáveis pelo início da urbanização das apontando o compromisso com as situações da favelas, da concessão do uso do solo, de realidade do povo trabalhador.
melhores condições de vida, do transporte,
Lideranças participaram das “Semanas do das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) nos Trabalhador” e a organização das mesmas bairros, da construção e instalações de Escolas, nas Comunidades. Participaram da “Missa do da canalização de córregos, do asfalto, 34 | Em Família
das
Artigo
bibliotecas e Centros culturais. Os barracos políticos comprometidos com as mudanças deram lugar aos Núcleos Habitacionais, às casas sociais. de alvenaria que foram se verticalizando, nos
E Deus viu que tudo isso era muito bom!
lotes de tamanho mínimo.(4mx6m) Todas essas
E o povo também!
conquistas só foram possíveis graças à união e
Houve uma tarde e uma manhã.
organização dos moradores.
Foi o quarto dia da Criação das CEBs.
Os Movimentos dos Trabalhadores Rurais
A Pastoral do Negro tornou visível nas
Comunidades a questão racial e a Missa Afro Sem Terra receberam o apoio de algumas no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, Comunidades de Base de Diadema. passou a fazer parte do Calendário de algumas
Porem, começou a crescer o desemprego.
Comunidades. Também a questão de gênero E começou, também, a organização dos foi tema da formação e da Celebração pelo desempregados de Diadema que se uniram ao “Dia Internacional da Mulher” (8 de março) nas Movimento de Desempregados do ABC e do Comunidades.
Estado de S. Paulo e acamparam por 89 dias no
As CEBS, as Comissões de Moradores, os Parque Ibirapuera, Capital. Sindicatos e Associações, o Movimento de
Na contra-mão do desemprego, comissões e
Moradia, dentre outras organizações populares grupos das CEBs começaram a arrecadar dinheiro foram os grandes responsáveis pela formação e abrirem contas no Banco com o objetivo da consciência crítica dos munícipes de Diadema de adquirirem terrenos para a construção através das lutas populares e da eleição de de espaços próprios para as atividades das setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Artigo
Comunidades.
é o segundo município com maior densidade
Assim foram as construções materiais das demográfica no Brasil. Comunidades, as Capelas nos bairros.
Embora com 99% das ruas iluminadas,
E nasceram as novas Paróquias.
asfaltadas e com coleta de lixo, com inúmeras
O povo tinha uma certeza: isso era muito bom. Escolas Estaduais de 1º e 2º graus, Escolas E Deus tinha uma dúvida atroz: Será que isso municipais desde creches e berçários à escolas era bom?
de 1º grau e profissionalizantes, com Unidades
Só o tempo é que responderia “sim” ou “não”a Básicas de Saúde, quatro hospitais, um Pronto esta dúvida de Deus.
Socorro, o Quarteirão da Saúde, seus maiores
Houve uma tarde e uma manhã.
problemas
ainda
são:
desemprego,
baixa
Foi o quinto dia da Criação das CEBs.
escolaridade, violência, drogas, casas e terrenos não regularizados.
E porque se foram construindo mulheres e
Contudo, foi intensa a participação política da
homens conscientes e guerreiros à imagem e maioria de seus habitantes que conseguiram, semelhança de Deus foram muitas as conquistas através da definição de prioridades no Orçamento das Comissões de Moradores dos bairros. Hoje Participativo, a descentralização da cultura e do Diadema
tem,
aproximadamente,
450
mil lazer, através da criação de Centros Culturais,
habitantes. Devido a sua pequena área, 32,5 km², Bibliotecas, Ginásios de Esporte, Unidades destes, 5 km² como área de proteção ambiental, Básicas de Saúde e Escolas Profissionalizantes
Artigo nos bairros. Foram Projetos para a cidade: seu despreparo profissional, com o aumento “Adolescente aprendiz”, “Centro de referência da do consumo do álcool e outras drogas, com o Juventude”, “Diadema mudando de cara”, “Mov@ desconhecimento das causas do aquecimento Diadema”, “Pé na rua”, “Diadema segura”, “Lugar global e a irresponsabilidade e omissão diante de criança é...”, “Ação compartilhada”, “Saúde em de problemas ambientais como o lixo nas ruas, a casa”, os Conselhos Populares de Educação, de falta de coleta seletiva, a violência, o desemprego, Saúde, da Habitação, do Idoso, da Criança e do as injustiças. Adolescente, e a última conquista: a Faculdade
E Deus vê que isso não é nada bom.
Pública de Diadema.
O grupo viu que é necessário uma re-criação
No Plebiscito sobre o porte de armas e munições das CEBs. Diadema foi um dos poucos municípios que disse
Houve uma tarde e uma manhã.
“sim ao desarmamento”.
Foi o sétimo dia.
É essa participação popular que nos faz dizer:
Mas, felizmente ainda existe nas Comunidades
“Quando o povo trabalha junto a cidade vai mais a tribo das “bocas duras”, das atrevidas e abusadas, longe. Quem passa, vê. Quem mora, sente”.
do “João teimoso” e da “Maria tira-teima”, que
Assim foi Diadema: uma cidade de todos!
são aquele “sangue bom”, embora considerados
E Deus viu que isto é muito bom!
“pedra no sapato” por muita gente.
Houve uma tarde e uma manhã.
E Deus está vendo que será necessário um
Foi o sexto dia da Criação das CEBs.
oitavo dia para “re-criação” das CEBs.
Mas a Igreja, aos poucos, voltou-se para si
própria.
E
as
Comunidades
de
Base
“descansaram”! Muitas se acomodaram! Louvam
É só Deus que está vendo? O Papa Francisco e nós também! De quantas tardes e de quantas manhãs
e cantam. Agradecem e se preocupam quase que precisaremos? exclusivamente com o culto, com o “sagrado” e o
Estamos no 8º dia. Este é o dia de uma nova
“divino”; E também se preocupam com a doação Criação das CEBs da jovem Diadema que de cestas básicas, de remédios, de enxovais de completou 59 anos no dia 8 de dezembro de bebê, de fraldas descartáveis, de leite, mas sem 2018. o objetivo da formação sócio-educativa das pessoas que recebem estas doações. Por isso se preocupam muito pouco com o que é do “mundo”, com os problemas de “fora”.
Problemas, como a formação para as
responsabilidades de família, a qualidade de Educação nas Escolas Estaduais, a falta de formação aos valores humanos dos jovens e
Registro
I Seminário de Espiritualidade Salesiana – “com Dom Bosco na trilha salesiana” Por Noviçiado Interinspetorial Nossa Senhora das Graças - SP No dia 02 de dezembro 2018, no Noviciado oração inicial, refletimos as palavras do Santo Interinspetorial Nossa Senhora das Graças, Fundador que nos convidou a ser “missionárias realizou-se o I Seminário de Espiritualidade com o bom exemplo de vida”. (MB XI, 407) Salesiana com o tema: “Com Dom Bosco na
Estudar a espiritualidade de Dom Bosco é
trilha Salesiana”. A abertura realizada, na parte sempre mergulhar em uma espiral crescente da manhã, contou com as palavras de Irmã que parece não ter fim, pois cada nova leitura Vani Moreira (BBH) que, durante esse ano, é permeada de novidade, de curiosidade incentivou a realização desse rico evento que que inspira o leitor a querer beber mais nas promove o aprendizado e o protagonismo das fontes salesianas. Foi assim que as noviças futuras F.M.A.
desenvolveram e apresentaram seus temas,
Rezando a sabedoria de Dom Bosco, na de forma nova, criativa e dinâmica, deixando 38 | Em Família
Registro a quem as assistia, a sede de descobrir o novo que trazia a cada apresentação. Na parte da manhã, as apresentações começaram a partir do tema desenvolvido por Eudenice da luz Maia (BPA): “Incidência de Mamãe Margarida na vida de Dom Bosco”. Expressou, em suas falas, a figura importante da mãe na vida de João Bosco, o testemunho feminino na educação cristã e moral de seus filhos. O acompanhamento na vida de Dom Bosco” foi outro tema que fez a plateia lembrar de pessoas que marcaram suas vidas por meio do acompanhamento, da escuta cuidadosa e do discernimento. Justiane Pinheiro (BMT) foi a noviça que desenvolveu esse tema, destacando pessoas que foram instrumentos de Deus na vida de Dom Bosco, as que o acompanharam e o inseriram também nessa arte educativa e espiritual. Bruna Rodrigues Lôbo (BBH) trabalhou o seguinte tema: “A força atrativa de Dom Bosco”. Destacou o poder da atração que ele manifestava sobre seus jovens, força que está enraizada nas fontes do Espírito e que o ajudou a revelar seu carisma juvenil na Igreja e no mundo. A vivência da oração, que impulsiona a missão, foi o tema apresentado por Rafaela Moraes da Silva (BMA) que fez os participantes rezarem com o tema: “Dom Bosco, santo ativo, orante”. Fechando a manhã, de forma calma e tranquila, Natalina Ferreira Melo (BMT) falou da virtude da mansidão com o tema: “A vivência da mansidão na vida de Dom Bosco”. Provocativa e questionadora nos impeliu a viver melhor essa qualidade na missão com a
juventude hoje. Após o almoço, nossa tarde foi enriquecida com a colocação da noviça Isadora Chiliane (BSP) abordando “a influência da Divina Providência na Vida de Dom Bosco”. Com base no Catecismo da Igreja Católica, Isadora nos levou a refletir sobre o auxílio de Deus em nossas necessidades. Auxilio que exige nossa contribuição, pois o ser humano nada alcança e nada pode sem a ação de Deus, por isso é preciso estarmos ligados a Ele. Dom Bosco sempre caminhou confiante na providência de Deus que realizou em sua vida uma ação eficaz, consolidando seus projetos com a intercessão de Maria Auxiliadora. Bruna Elias (BSP), apresentou “A amizade na vida e ação educativa de Dom Bosco”. A amizade autêntica transforma a vida e gera comprometimento, um querer bem. Com este tema, fomos levadas a recordar os fiéis amigos de Dom Bosco que o ajudaram e o motivaram em sua caminhada para a concretização de seu projeto de vida. Com a amizade do padre Calosso, sua experiência com o judeu Jonas, com Luís Comollo e com o padre Cafasso, Dom Bosco amadureceu sua amizade com Jesus Cristo que fez dele o grande amigo dos jovens. Dom Bosco tinha clara sua missão: ganhar o coração dos jovens para Deus. Para isto, “A pedagogia da Presença” foi sua ferramenta eficaz, tema desenvolvido pela noviça Ingrid Stéphanie Gomes (BMA), que nos levou a descobrir a ‘presença’ como força pulsante do coração de toda Filha de Maria Auxiliadora e educadores, presença que transforma vidas e visa sempre resgatar o positivo de cada um. Stéphanie nos levou a fazer memória das pessoas significativas em nossas vidas. Na setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Registro
figura de Dom Bosco, destacou seu estilo de ser que atraía os meninos, levando a cada um a se sentir único e mais amado. Seu método era a proximidade, a amizade, o afeto e o compromisso com o bem dos jovens. Como modelo, Dom Bosco inspirava-se em Cristo Bom Pastor e na presença de Maria Auxiliadora, que o acompanhou desde pequeno. Os sonhos são um dos elementos que mais despertam interesse com relação a Dom Bosco, portanto, falar dele e não falar de seus sonhos é como narrar a vida de Jesus sem mencionar suas parábolas. “Os sonhos e suas influências na vida de Dom Bosco” foi o tema desenvolvido pela noviça Luana Oliveira (BSP) que apresentou o sentido dos sonhos nas teorias da metafísica e da física quântica, analisando os sonhos, no contexto bíblico e suas versões na psicologia e na espiritualidade, chegando aos sonhos de Dom Bosco e o caminho espiritual entregue, por Deus, a ele nos sonhos. Caminho que, como filhos e filhas 40 | Em Família
de um sonhador, devemos hoje abraçar. Dom Bosco tinha clareza de sua vocação para o sacerdócio e sabia que precisava ajudar os meninos, mas quais meninos? “O processo de discernimento e a escolha existencial de Dom Bosco pelos jovens pobres e abandonados” foi
Registro a reflexão que nos trouxe a noviça Celene Couto (BSP). Na vida de Dom Bosco houve um trajeto de discernimento para chegar a seu campo de missão. Os jovens mais pobres e abandonados precisavam de alguém por eles, de um amigo, de um pai, e o Senhor suscitou Dom Bosco para essa missão. Celene nos deu um embasamento teórico sobre o discernimento e sua aplicação, apresentando o discernimento como a “arte por meio da qual o homem compreende a palavra que lhe foi dirigida, abrindo-se a Palavra de Deus”. Utilizando do sonho do Rio Pó, que Dom Bosco teve aos 21 anos, vimos o processo de Dom Bosco e o ‘click’ de optar pelos meninos abandonados, órfãos, que não tinham ninguém por eles. Assim, nos recordou que nossa bandeira são os jovens mais pobres, precisamos, como Dom Bosco, mostrar-lhes que têm alguém por eles, conhecer suas dores e ser presente em suas vidas. Para as noviças, este seminário de culminância das aulas de Itinerário Espiritual de Dom Bosco foi uma experiência renovadora:
vez mais, à arte de aprender, apreciar a história dos que nos antecederam e agradecer pelo bem imenso que aqui realizaram”. (Bruna EliasNoviça 1º ano – BSP) “Já tive a oportunidade de participar de outros seminários de espiritualidade salesiana e é sempre motivo de enriquecimento mútuo, de me enraizar um pouco mais nas fontes do carisma. Aprofundei o tema: “A força atrativa na vida de D. Bosco” e pude perceber o quanto é essencial tê-lo presente em nossa ação pastoral hoje, para que, como Dom Bosco, saibamos atrair os jovens e conduzi-los ao melhor que puderem ser. Foi também gratificante ter a presença de nossas Irmãs da casa Santa Teresinha e da Casa Inspetorial, pois estar em família, partilhando a espiritualidade é sempre mais leve, rico e motivador o diálogo”. (Bruna Rodrigues LôboNoviça do 1º ano - BBH)
“A experiência do Seminário de Espiritualidade Salesiana foi uma rica oportunidade de mergulhar nas raízes carismáticas para ser, cada “Quanto mais se conhece uma pessoa, mais vez mais, “do jeito de Dom Bosco.” (Celene Couto cresce a admiração, o amor, o respeito por Rodrigues - Noviça do 2º ano – BSP) ela. E não foi diferente com Dom Bosco. Ter a oportunidade de pesquisar mais sua vida, sob “A experiência do seminário foi uma o olhar da amizade, como um dos principais graça de Deus. Tive a oportunidade de me recursos para a eficácia de sua ação educativa e desafiar, e conhecer um pouco mais a vida de como valor na construção das relações, foi uma Mamãe Margarida. Durante as apresentações riqueza única e momento de aprofundamento fizemos uma bonita experiência de partilha da espiritualidade de nosso pai, mestre e amigo. e aprofundamento do Carisma Salesiano”. Partilhar esse trabalho, por meio do Seminário (Eudenice da Luz Maia - Noviça do 2° ano- BPA) foi um momento de muita alegria e crescimento “O I Seminário de Espiritualidade Salesiana recíproco. foi uma experiência única. A oportunidade de Que Dom Bosco continue a inspirar nossos aprofundar uma linha da espiritualidade de bons propósitos e que estejamos abertas, cada Dom Bosco e confrontar com a própria vida e setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Registro caminhada me ajudou a reafirmar o chamado à vocação Salesiana. Escolhi o tema da Divina Providência em Dom Bosco porque a forma como ele se entregou totalmente nas mãos de Deus e se abandonou confiantemente em sua providência sempre me chamou muita atenção. E este é um aspecto que estou buscando incessantemente aprofundar em minha caminhada e na minha relação com Deus. Agradeço a Deus e a Irmã Vani a oportunidade de poder participar deste Seminário, que nos enriqueceu de conhecimento, experiência e sabedoria.” (Isadora ChilianeNoviça do 1° ano- BSP) “Este 1º Seminário foi uma experiência muito rica de partilha de aprendizado. Enriqueceu-nos no aprofundamento da história de nosso querido pai Dom Bosco. Através do estudo sobre meu tema: “Dom Bosco e o acompanhamento dos jovens” pude perceber as lutas e as conquistas que Dom Bosco travou para fazer o bem à juventude mais pobre de sua época. Sinto que hoje somos também chamadas a lançar as sementes da escuta, da amizade, da fé, alargando o nosso olhar, a exemplo de Dom Bosco. ” (Justiane de Jesus Ferreira - Noviça do 1º ano – BMT)
“Senti-me feliz com a realização do primeiro seminário de espiritualidade salesiana, foi uma experiência maravilhosa em que pude aprofundar o tema: “A vivência da mansidão em Dom Bosco”. O estudo para o aprofundamento foi prazeroso, senti-me ainda mais interpelada a cultivar e viver a mansidão evangélica. Ajudoume ainda a ter mais gosto pela leitura. Foi um dia muito especial por poder partilhar um pouco mais da nossa espiritualidade, entre nós noviças e irmãs da casa Santa Teresinha e comunidade Inspetorial”. (Natalina Ferreira Melo - Noviça do 1º ano – BMT)
“Para mim, o seminário foi a expressão maior da dedicação de cada uma de nós no aprofundamento da espiritualidade salesiana em São João Bosco. Momento forte de familiaridade e de interioridade com os temas estudados e rezados, ao longo do ano, nas aulas ministradas por Ir. Vani Moreira. Ver em Dom Bosco sua santidade, movida pela oração transformada em ação, foi motivo para crescer na arte do cultivo espiritual a exemplo de nosso Pai Fundador. Gratidão a esse momento rico de partilha e comunhão com nossas irmãs “vizinhas” e toda a Inspetoria representadas pela “O Seminário foi a culminância de um ano Inspetora Ir. Helena Gesser e as Irmãs da Casa rico em salesianidade, onde pude aprofundar Inspetorial”. (Rafaela Moraes da Silva - Noviça do o carisma e a vida do nosso fundador, 1º ano – BMA) descobrindo a grandeza de sua vocação e missão. Desenvolver a pesquisa e aprofundar o “Participar do Seminário esse ano foi um tema dos sonhos de Dom Bosco foi um grande presente, foi realmente um dia muito rico de aprendizado, pois descobri sua força motivadora espiritualidade salesiana e uma oportunidade por um outro ângulo, o que me ajudou a crescer de retorno às fontes espirituais de nosso carisma. espiritualmente e acreditar nos meus sonhos A elaboração dos trabalhos nos possibilitou para o bem da juventude.” (Luana Keity da S. alargar o olhar para nossa história, recordar Oliveira- Noviça do 1° ano- BSP) nossas origens, vivendo o seu espírito no concreto 42 | Em Família
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do cotidiano. Contar com a presença das Irmãs da Casa Santa Teresinha foi um momento de graça e a constatação de que a vida salesiana é bela. Agradeço a Deus essa oportunidade e de forma muito especial a Ir. Vani, organizadora desse projeto. Em nossas vidas ela é sempre motivo de luz”. (Stéphanie Gomes- Noviça do 2º ano – BMA) Com o término das apresentações, tivemos um rico momento de ressonância do dia. As irmãs fizeram perguntas e partilharam suas experiências diante dos temas. As noviças partilharam o motivo que as levaram a escolha dos temas e o espírito de gratidão pela partilha era reciproco.
o gosto pelo estudo. Precisamos de irmãs de qualidade, de mulheres educadoras”. Em suas palavras, irmã Helena nos motivou a cultivar sempre o amor pelo conhecimento, pois os jovens merecem nosso melhor. E desejou que, este seminário, seja a primeira gota para um aprofundamento sempre maior. Encerramos com um agradecimento particular à Comunidade Formativa do Noviciado, em especial á Irmã Vani Moreira, e as Irmãs que, com carinho, participaram deste dia conosco. Concluindo o Seminário, rezamos a novena da Imaculada Conceição, confiando à Mãe Imaculada nossas vidas, missão e vocação.
A inspetora irmã Helena Gesser (BSP), concluiu nosso dia parabenizando pela organização do seminário e pelo esforço e apresentação de cada uma. Ressaltou o apelo da Madre Yvonne, nos recordando que o “Instituto é educativo, mas estamos perdendo setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
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Congresso Internacional “Jovens e Escolha de Vida”
Realizou-se de 20 a 23 de setembro de 2018 o Congresso Internacional “Jovens e Escolha de Vida: Perspectivas Educacionais” promovido pela Universidade Pontifícia Salesiana (UPS) e Pontifícia Faculdade de Ciências da Educação “Auxilium”. Foram acolhidos, na Universidade Pontifícia Salesiana (UPS), sede do Congresso, cerca de 500 participantes, dos quais 185 Filhas de Maria Auxiliadora e Leigos, representando o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Estiveram presentes Madre Geral do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, Ir. Yvonne Reungoat, a 44 | Em Família
Conselheira para a Pastoral Juvenil, Ir. Runita Borja, a Secretária Geral, Ir. Piera Cavaglià, juntamente com outras Conselheiras Gerais e algumas colaboradoras do Âmbito. “A juventude se caracteriza como tempo privilegiado em que a pessoa realiza escolhas que determinam sua identidade e a linha de sua existência... Ela é configurada, não apenas, como uma fase de transição entre os primeiros passos, dados na adolescência, em direção à autonomia, e a responsabilidade da idade adulta, mas, como o momento de um salto qualitativo, do ponto de vista
Registro do envolvimento pessoal, nos relacionamentos e nos compromissos e da capacidade de interioridade e solidão. Naturalmente, é um momento de experimentação, de altos e baixos, de alternância entre esperança e medo e da tensão necessária entre aspectos positivos e negativos, por meio dos quais se aprende a articular e integrar as dimensões afetivas, sexuais, intelectuais, espirituais, corporais, relacionais, sociais. Esse caminho, que percorre pequenas escolhas cotidianas e decisões de maior importância, permite a cada um descobrir a própria singularidade e a originalidade de sua vocação “. (“Instrumentum laboris” da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. nº 16.18) O Congresso Internacional Jovens e Escolha de Vida: Perspectivas Educacionais, foi três dias intensos de estudo e debate, de confronto e escuta, com o objetivo de contribuir para o estudo do mundo juvenil, em relação às escolhas de vida, a partir da qualificação da pesquisa universitária, no âmbito das ciências da educação e na perspectiva mais geral do humanismo pedagógico cristão, que fundamenta o sistema formativo de São João Bosco. Os palestrantes e especialistas convidados eram provenientes de 18 países diferentes, oito da Europa e 10 de fora da Europa. A abertura do evento teve início, na quinta feira, 20 de setembro, na Sala Paulo VI, da Universidade Pontifícia Salesiana, com a Conferência introdutória, apresentando e enquadrando o tema do Sínodo da Juventude, por Dom Raúl Biord Castillo, Bispo de La Guaíra (Venezuela), Vice-presidente da Conferência Episcopal Venezuelana. As sessões de sexta feira, 21 de setembro, foram respectivamente ‘Na escuta dos jovens e Em diálogo para discernir’, intervenções sobre a condição juvenil e sobre como o mundo dos educadores adultos a considera, em relação a vários contextos culturais. O Painel intitulado ‘A vida dos jovens: modelos,
estilos, valores e escolhas’, organizado pelo Observatório Internacional da Juventude, da Universidade Pontifícia Salesiana (UPS) e pela Pontifícia Faculdade de Ciências da Educação Auxilium, contou com a participação de alguns estudiosos do continente europeu, americano, africano e asiático. À tarde, nas sessões paralelas foram apresentados os temas: “Para uma releitura antropológica da dinâmica da escolha livre dos jovens” ; “Os dinamismos psicológicos implicados nas escolhas dos jovens”; “Como formar os jovens para escolhas livres e responsáveis: dinamismos motivacionais, afetivos e volitivos”; “Os desafios da Pastoral Juvenil hoje”. As atividades do dia foram concluídas com a sessão de “Comunicações”, animada por docentes FMA, SDB e Leigos. A primeira parte do programa de sábado, 22 de setembro, foi dedicada às perspectivas educacionais, em chave eclesial e salesiana, primeiro, confrontando com a experiência de formação de São João Bosco e de Santa Maria Domingas Mazzarello e depois, desenvolvendo as propostas para a educação atual, no horizonte do sistema educativo salesiano. À tarde, houve a apresentação de 18 “boas práticas” de caminhos para educar os jovens nas escolhas a serem feitas nos diferentes âmbitos de vida, com referência a experiências em andamento na Argentina, Brasil, Canadá, Colômbia, Filipinas, França, Itália, Madagascar, Eslováquia, Espanha e Suíça. A última sessão do Congresso, domingo 23 de setembro, foi dedicada às Conclusões, e terminou com a Celebração Eucarística presidida por Pe. Fabio Attard, Conselheiro Geral para a Pastoral Juvenil Salesiana. Fonte: Site do Instituto setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
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V Encontro da Comissão Ensino Superior-FMA De 17 a 19 de setembro de 2018 realizou-se, na Casa Geral das FMA, em Roma, o V Encontro da Comissão das Instituições de Ensino Superior (ISS-FMA). Foram 15 os participantes vindos de 10 países, entre os quais Filhas de Maria Auxiliadora e Leigos representantes das Instituições da África, América, Ásia e Europa. Os objetivos do encontro foram: retomar a Comissão para reforçar a rede entre as ISS-FMA; rever o Plano de Ação da Comissão para projetar o futuro; iniciar o processo de preparação do III Encontro Mundial das ISS-FMA. O encontro foi organizado pelo Âmbito da Pastoral Juvenil, dirigido pela Conselheira Geral, Ir. Runita Borja e pela referente para as ISS-FMA, Ir. Ivone Goulart Lopes. 46 | Em Família
Foram tratadas algumas questões: memória histórica do trabalho das ISS-FMA; identidade da Comissão; indicações para o estudo da figura de Santa Maria Domingas Mazzarello na pastoral das ISS-FMA; Pastoral (esboço, diretrizes); Publicação Científica das ISS-FMA (Coleção de Ensino Superior em Perspectiva: expeirências e práticas); DEISP – Documentação, Educação e Inovação no Sistema Preventivo de Dom Bosco; Observatório da juventude; Compromissos – Escolhas – Opção – Políticas contidas na Carta de Identidade de 2011. A Comissão decidiu continuar com uma ação mais organizada, em rede, vendo os desafios, escolhendo as prioridades, as políticas e as linhas de ação. Também dedicou parte do
Registro encontro para a organização do III Encontro Mundial das ISS-FMA previsto para 2019. A Carta de Identidade, os Atos do Capítulo Geral XXIII, a Programação dos Âmbitos do Conselho Geral 2015-2020, a Circular da Madre, nº 951 sugerem o compromisso de estar com as jovens e os jovens, ouvindo-os, dando-lhes confiança, acreditando neles, encontrandoos onde estão. O serviço maior que se pode oferecer é a educação, para acompanhar os jovens à plenitude da vida. “Como seria maravilhoso se as salas de aula das universidades fossem OFICINAS DE ESPERANÇA, oficinas onde se trabalha um futuro melhor, onde se aprende a ser responsável por si e pelo mundo! Serem ARTESÃOS DE ESPERANÇA. E cada um de vocês pode se tornar um para os outros”. Papa Francisco encoraja a Universidade a ser ainda berço de uma cultura de esperança e de paz, confiando-lhe três direitos para renovar o sonho de um novo humanismo: o direito à cultura, como cultivo de um senso crítico; cultura é o que cultiva, que faz crescer o humano; o direito à esperança, como oposição às “frases feitas do populismo” e à “disseminação preocupante e lucrativa de notícias falsas”; e finalmente o direito à paz, como direito de todos para resolver os conflitos sem violência. Cada universidade está chamada a buscar o que une. Cultura, esperança e paz têm um denominador comum: inclusão. As ISS-FMA se encontram frente a profundas mudanças no modo de pensar, conhecer e agir. As Linhas Orientadoras da Missão Educativa das FMA (nº 14) partem desta constatação: “Hoje, mais de que nunca, não se pode pensar num trajeto educativo sem levar em conta o contexto em que se vive; por isso, somente
partindo dessa realidade, desses desafios, é possível formular, “insieme” com os jovens e as jovens, os percursos mais adequados...” Repensar o próprio papel educativo no novo horizonte de aprendizagem, na perspectiva de um humanismo integral e transcendente, é uma tarefa urgente. Certamente, a dimensão cultural e, mais especificamente, a abordagem do conhecimento e dos métodos de aprendizagem, é apenas uma perspectiva que não pode ser entendida sem envolver também a perspectiva evangelizadora, social e comunicativa. Impulsiona-nos nesta missão a paixão educativa, porque “Segundo a tradição salesiana, a alma da educação é a paixão pelas jovens e pelos jovens, a arte de lhes dar confiança , de amar o que eles amam, de acompanhálos na busca de sentido”. Nesta perspectiva o acompanhamento se faz elemento de qualificação do nosso trabalho, incluindo uma abordagem cultural. Estimulante e sereno o diálogo-confronto com a Madre Geral que, encorajando os participantes, concluiu dizendo: «Desejo-lhes que sejam mulheres e homens de cultura, educadoras/ores das novas gerações capazes de conjugar vida e fé, ciência e fé, para a alegria de vocês e de suas, seus jovens!» O Professor Dr. Wellington de Oliveira, Reitor da UNIFATEA, participou em nome de nossa Inspetoria. Fonte: Site do Instituto
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II Encontro internacional de Comunicação e Educação discute evolução das práticas em diversos países Por Luis Fernando Miguel De 12 a 14 de novembro, foi realizado, na Universidade de São Paulo (USP), o II Encontro Internacional de Educomunicação e VIII Encontro Brasileiro de Educomunicação. A programação contou com inúmeras palestras, workshops, oficinas, apresentações de trabalhos acadêmicos e partilhas educomunicativas. Destaque para a cobertura do evento, que foi realizada de maneira colaborativa, entre os participantes e crianças, adolescentes e jovens 48 | Em Família
que participam de projetos educomunicativos. A Rede Salesiana Brasil também se fez presente, por meio da Diretora Executiva de Comunicação, Ir. Márcia Kofferman, que compartilhou a experiência Salesiana - especialmente das FMA - com a Educomunicação. Em suas falas, Irmã Márcia explanou sobre as nuances existentes entre o Sistema Preventivo - vivenciado em
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nossas instituições educativas - e a própria comunicação/educação, que se desenvolve Educomunicação, evidenciando os pontos por meio de ações que culminam em políticas convergentes entre eles. públicas e pesquisas acadêmicas, conhecidas como educação midiática, educomunicação, Também estiveram presentes os dentre outras expressões. Comunicadores Andréa Pereira (Assessora de Comunicação da Inspetoria), Geovani Amorim No segundo dia do Congresso, coube à (Assessor de Comunicação do Instituto São mesa-redonda “Inovação e Protagonismo José) e Luiz Fernando Miguel (Assessor de Social, na educação midiática” contextualizar Comunicação do Instituto Nossa Senhora do a memória histórica dos caminhos percorridos Carmo) e a Professora Ana Júlia (Coordenadora pela educação midiática e educomunicação Pedagógica do Instituto São José). no Brasil, Portugal e Peru. É importante ressaltar que a Educomunicação tem sido um modelo adotado em diversos países, como prática transformadora. Pesquisadores do Canadá, Itália, Espanha, México e Brasil apresentam a caminhada de seus países na mesa redonda “20 anos da educação midiática: perspectivas históricas”, que marcou o início do II Congresso Internacional de Comunicação e Educação. Reconhecido internacionalmente, Paulo Freire é considerado o precursor da interface
A mediação desta mesa coube ao representante da Unesco no Brasil, Adauto Cândido Soares, que propôs a discussão a partir da singularidade da proposta em cada país e das estratégias que estão sendo utilizadas para o diálogo com os sistemas de ensino. Tomaram parte da discussão Manuel Pinto, de Portugal; Regina Alcântara Assis, da TV Escola, do Rio de Janeiro (RJ); Maria Teresa Del Calmen Quiroz Velasco, do Peru; e Ir. Márcia Koffermann, da Rede Salesiana. setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
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Para a Irmã Márcia Koffermann, o que levou as salesianas a se encantarem pela educomunicação “foi a capacidade de diálogo que a mesma tem com o Sistema Preventivo da educação salesiana”. Isso porque sua proposta pedagógica se baliza na prevenção, num ambiente que educa, nas relações amorosas com os jovens, no estudo, na profissionalização, na cultura, nas expressões artísticas e na comunicação. Ao relembrar das origens, a salesiana lembra que o fundador da organização, Dom Bosco, trabalhava em rede e acreditava que “os jovens são sujeitos com condições de criar e produzir. Para isso, articulou sua proposta educativa no tripé razão, religião e afetividade para manter o equilíbrio e integralidade do ser humano”.
busca permanente de respostas teóricas e práticas às complexas relações da sociedade contemporânea. “A educação é assumida como um percurso comunicativo que precisa ser construído, analisado e avaliado permanentemente, para que as pessoas se descubram como produtoras de cultura a partir da apropriação críticas dos recursos da informação e comunicação social” assim, Koffermann define como se dá a articulação entre Sistema Preventivo e Educomunicação. O Congresso aconteceu também em clima de festa, pois 20 anos antes - em 1998 - era realizado o I Congresso Internacional de Comunicação e Educação, no mesmo local, com a participação de muitos que ali estavam, participando da II edição.
Para ajudar no desenvolvimento integral da Participar de um evento de tamanha pessoa, a educomunicação se apresenta como grandiosidade foi uma grande honra para nós 50 | Em Família
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da Inspetoria Santa Catarina de Sena, pois sabemos que de alguma forma contribuímos para essa história de sucesso. Durante o evento, nas apresentações, enxergava a presença de nossos destinatários, os educandos e suas famílias, tendo a consciência de que as práticas educomunicativas transformam o ser humano e o seu entorno.
essência, Educomunicativo e nos leva a considerar o outro, ser humano que caminha conosco, em todas as suas dimensões, valorizando seus dons e talentos. Para isso, todos educador Salesiano é chamado a ser um potencial Educomunicador e levar seus interlocutores ao reconhecimento dos nossos espaços como verdadeiros “Ecossistemas comunicativos”.
Todos que participaram do Congresso saíram abastecidos e repletos de ânimo, que revigora e incentiva a buscar novas práticas e investir com ardor nas práticas que já executamos. É nítida a sintonia entre o Carisma Salesiano e a Educomunicação, especialmente no que diz respeito ao compartilhamento de ideias, convivência e possibilidade de que todos participem e sejam protagonistas nos processos. Nosso Carisma Educativo-Pastoral é, em setembro| outubro | novembro e dezembro 2018
Comemoração
XXXI Assembleia Inspetorial Queridas Irmãs e Noviças, “Alarga o espaço da tua tenda” (Is 54,2) Quem bom estarmos aqui, na Tenda do Colégio de Santa Inês, a nossa grande Tenda Inspetorial, para juntas louvar, agradecer, partilhar, projetar a nossa caminhada e firmar as estacas em terra firme para que as tempestades, os ventos, os medos e inseguranças não derrubem a nossa Tenda. A Tenda simboliza a minha, a tua vida; a minha, a tua casa; os meus e os teus projetos; a minha Nova Configuração, a tua Nova Configuração! O tamanho atual de nossa “tenda” não é suficiente para abrigar o que Deus deseja fazer em nossas vidas, em nossas comunidades, em nossa Inspetoria! Se Deus nos pede para alargar o espaço da Tenda, significa que Ele está projetando e acrescentando algo mais e coisas maiores. Hoje, Deus pede que façamos uma ampliação, uma reconstrução de nossas Tendas que pode tornar o meu e o teu viver mais humano, mais solidário e mais fraterno para sermos sempre mais missionárias de esperança e de alegria. Alargar a Tenda significa realizar mudanças, conquistar novos espaços, aumentar nossos limites. A tenda é móvel e tem a capacidade para crescer, movimentar, adaptar-se... assim é a nossa vida de mulheres consagradas salesianas. Essa é a experiência que estamos fazendo como Inspetorias do Brasil... alargar a tenda para ressignificar o Carisma em terras brasileiras. Minhas queridas Irmãs e Noviças, alarguemos a nossa Tenda e deixemos as bênçãos de Deus fluirem em nossa caminhada. Deus está fazendo mudanças em nossas vidas, em nossas comunidades, nas Inspetorias do Brasil, mudanças que vão além do que nós até agora estávamos habituadas a viver. Temos a grande certeza de que Deus caminha conosco. Maria, a grande TENDA de Deus, nos acompanhe e nos ajude a alargar a tenda e firmar bem as estacas para que sejamos fiéis ao Projeto de Dom Bosco e de Madre Mazzarello, hoje! Uma feliz e abençoada Assembleia Inspetorial! Ir. Helena Gesser
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Comemoração
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Comemoração
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Poemas de Natal
Canto de Natal, de Manuel Bandeira O nosso menino Nasceu em Belém. Nasceu tão-somente Para querer bem. Nasceu sobre as palhas O nosso menino. Mas a mãe sabia Que ele era divino. Vem para sofrer A morte na cruz, O nosso menino. Seu nome é Jesus. Por nós ele aceita O humano destino: Louvemos a glória De Jesus menino.
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O Que Fizeram do Natal, de Carlos Drummond de Andrade Natal O sino toca fino. Não tem neves, não tem gelos. Natal. Já nasceu o deus menino. As beatas foram ver, Encontraram o coitadinho (Natal) mais o boi mais o burrinho e lá em cima a estrelinha alumiando. Natal. As beatas ajoelharam e adoraram o deus nuzinho mas as filhas das beatas e os namorados das filhas foram dançar black-bottom nos clubes sem presépio.
Poemas de Natal
História Antiga, de Miguel Torga
A Noite de Natal, de Mário de SáCarneiro Em a noite de Natal Alegram-se os pequenitos; Pois sabem que o bom Jesus Costuma dar-lhes bonitos. Vão se deitar os lindinhos Mas nem dormem de contentes E somente às dez horas Adormecem inocentes. Perguntam logo à criada Quando acorde de manhã Se Jesus lhes não deu nada. – Deu-lhes sim, muitos bonitos. – Queremo-nos já levantar Respondem os pequenitos.
Era uma vez, lá na Judeia, um rei. Feio bicho, de resto: Uma cara de burro sem cabresto E duas grandes tranças. A gente olhava, reparava e via Que naquela figura não havia Olhos de quem gosta de crianças. E, na verdade, assim acontecia. Porque um dia, O malvado, Só por ter o poder de quem é rei Por não ter coração, Sem mais nem menos, Mandou matar quantos eram pequenos Nas cidades e aldeias da nação. Mas, por acaso ou milagre, aconteceu Que, num burrinho pela areia fora, Fugiu Daquelas mãos de sangue um pequenito Que o vivo sol da vida acarinhou; E bastou Esse palmo de sonho Para encher este mundo de alegria; Para crescer, ser Deus; E meter no inferno o tal das tranças, Só porque ele não gostava de crianças.
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É Festa
Celebrando a vida - Aniversariantes DEZEMBRO
03. Rafaela Moraes da Silva (nov.) 04. M. Guadalupe Lara 06. Mathilde Orlando 11. Célia Regina Pinto 12. Valentina Maria Delfino Hurtado (asp.) 13. Maria Luzia Dantas 16. Therezinha Caffer 19. Rosa Maria Valente 20. M. Conceição Gomes 24. Maria Antonieta Momenso Natalina Ferreira Melo (nov.) 26. Cecília Fauza – Ruth Cardoso 27. Celina Carraturi – Ana Luiza da Silva Medeiros 28. Maria das Graças Alves 29. Adair Sberga – Francisca Rosa da Silva 31. Chantal M’ ukase (Conselheira Visitadora) JANEIRO
03. Dorcelina de Fátima Rampi 04. Márcia Mucci 05. Luzia Maria de Morais (Miziara) 06. Maria Auxiliadora Magalhães 08. Maria Luiza Miranda – (Cons. Geral – F. Salesiana) 14.Yvonne Reungoat- Madre Geral 16. Iolanda Pilotto 19. Isaura Chereguini 21. Teresinha Vicente 22. Dulce Mirian Hirata – Maria das Graças Rodrigues 27. Diomira Marcolin – Maria Lucília G. F. Relva 29. Maria Auxiliadora Barros
FEVEREIRO
02. Elza Aparecida Rodrigues 03. Ana Alves de Jesus Marinho 04. Heloisa Monaco do Nascimento 05. Margarida Santos 09. Teresa Crist. Pisani Domiciano Maria de Lourdes Fidelis dos Santos 11. Maria Tereza de Jesus Rodrigues Ramos 15. Violeta Horvath 22. Maria Nair de Souza 25. M. Eunice Wolff – Valentina Augusto M. L. M.Becker 27. Asilé Elcy Fachini MARÇO
02. Helena Maria César Marcondes 05. Olga Leme 06. Sílvia Boullosa – Cons. Visitadora 07. Olympia Dias 10. Sílvia Irene Pela 14. Maria Martha de Lima 17. Zilá Maria de Godói 18. Maria José Aparecida dos Santos 19. Maria do Carmo de Souza 22. Anna Aparecida da Conceição Monteiro 24. Martha Mansur 25. Ap. Bernardete V. Florentino 27. Olga de Sá 29. Elena Sadler (Alicia Lydia Sadler) 30. Giuseppina Ronchi 31. Maria Isabel Salles
LEMBRANÇA + 05 de dezembro de 2019, a Sra. Antônia Lara, irmã de Ir. Guadalupe + 09 de dezembro 2018, o Sr. Francisco Gianacópulos, cunhado de Ir. Maria Guadalupe + 15 de dezembro 2018, a Ir. Ruth Wittlich, na Casa Maria Auxiliadora - Lorena
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PROGRAME-SE
Jesus Menino “Penso em todas as crianças assassinadas e maltratadas hoje, seja naquelas que o são antes de ver a luz, privadas do amor generoso dos seus pais e sepultadas no egoísmo de uma cultura que não ama a vida; seja nas crianças desalojadas devido às guerras e perseguições, abusadas e exploradas sob os nossos olhos e o nosso silêncio cúmplice; seja ainda nas crianças massacradas nos bombardeamentos, inclusive onde o Filho de Deus nasceu. Ainda hoje o seu silêncio impotente grita sob a espada de tantos Herodes. Sobre o seu sangue, estende-se hoje a sombra dos Herodes do nosso tempo. Verdadeiramente há tantas lágrimas neste Natal que se juntam às lágrimas de Jesus Menino!” . Papa Francisco
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