INSPETORIA SANTA CATARINA DE SENA
Inspetoria Santa Catarina de Sena
| Ano 40 | n° 55 janeiro fevereiro março e abril | São Paulo | SP
MEMORIAL FILHAS DE MARIA AUXILIADORA É INAUGURADO NO BRASIL
Editorial
A santidade é também para você Prezados Leitores, “A santidade é também para você!” (Estreia 2019) Estamos vivendo um ano muito rico de apelos e propostas para percorrer, com os jovens, o caminho da santidade! (Cf Art. Const. 5) De acordo com o testemunho de Dom Bosco e Madre Mazzarello, a santidade salesiana se concretiza no cotidiano, vivendo o amor em pequenos gestos e fazendo o bem a todos! Esta santidade é possível para todos. É dom de Deus e opção pessoal! Em clima pascal, de vida, de esperança e de santidade, estamos recebendo o “Em Família” que nos presenteia com excelentes conteúdos para leitura, confronto, atualização e aprofundamento. O “Em Família” nos convida a: • olhar ao nosso redor e perceber as realidades que nos desafiam e que nos inquietam; • escutar o grito do nosso povo, cada vez mais, sofrido diante das injustiças sociais e institucionais; • acolher o convite dos nossos jovens que nos pedem mais presença, escuta e acompanhamento; • fazer de cada dia um dia de “graça” e “bem”, tornando-o salvífico; • louvar o Criador que continua sua obra criadora por meio de tantos fatos, acontecimentos, atividades e encontros. Maria, mulher da vida nova, eduque o coração de seus filhos e filhas, para que, ressuscitados com Cristo, busquem sempre as coisas do alto (Cl 3,1).
Fraternalmente,
Ir. Helena Gesser Redação, produção e distribuição Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Andréa Pereira Projeto gráfico Andréa Pereira Capa : Banco de Imagens Revisão Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Fotos Inspetoria Santa Catarina de Sena Colaboração Irmãs e Comunidades da Inspetoria Santa Catarina de Sena
Contato editorial@fmabsp.org.br
2 | Em Família
EM FAMÍLIA | Ano 40 | nº 55
Centro de Comunicação Marinella Castagno Rua Três Rios, 362, Bom Retiro 01123-000 São Paulo | SP Tel. 55 11 3331 7003 www.salesianas.org.br Em Família é uma publicação formativa que divulga e informa sobre o cotidiano das comunidades das Filhas de Maria Auxiliadora na Inspetoria Santa Catarina de Sena, e suas frentes de trabalhos.
Sumário
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CAMPANHA DA FRATERNIDADE
e o desafio da fé ressureição - Ir. Ivone Brandão
A SANTIDADE NA ESCOLA DE DOM BOSCO
Pe. Aldo Giraudo - Trad. Ir. Vilma Bertini
Relembre e fique sabendo o que aconteceu em nossas comunidades nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril programe-se para as próximas atividades. Divirta-se, emocione-se, Em Família.
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JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
Ir. Monaliza Machado
CONEXÃO E SEU PAPEL
com as futuras gerações - Renata Lela
Ho ricevuto con molto piacere la rivista Em Familia N° 54. E’ molto ricca e presenta in modo bellissimo la vita della vostra realtà. Grazie di cuore! Unisco l’augurio di sante Feste per il Natale e l’Anno nuovo. Porti pace, serenità e tanta speranza. Dio ti benedica. Un abbraccio con affetto grande - Sr. Yvonne Reungoat fma Obrigada, Parabéns!!!! A revista está super rica e com uma linda diagramação. Grande abraço - Ir. Adair Sberga Obrigada pela partilha e parabéns pelo Em Família, como sempre com artigos muito interessantes e bem redigidos. Abraços - Ana Cosenza
50 02 04 10 62 68 78 79
Editorial Capa Artigo Entrevista Registro É Festa Poema
Cartas
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Obrigada pelo envio da Revista Em Familia n° 54. Lindona! Quantos e tão belos artigos. Obrigada. Continua anunciando essas Boas Notícias de família. Que o Deus-conosco te abençoe e te plenifique de muitas graças, de Paz e de alegrias. Com carinho um forte abraço - Ir. Alaide Deretti Muito obrigado pelo envio da REVISTA EM FAMÍLIA. Fico contente com tanta vitalidade em todas as presenças. Isto é Natal todos os dias. PARABÉNS! Auguro a todas um FELIZ NATAL e ABENÇOADO 2019. Com estima - P. Asídio Deretti - Inspetor SDB
Porto Alegre
janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Capa
Memoria é
No sábado, 23 de março 2019, fo
Casa do Puríssimo Coração de Ma NO BRASIL, com a presença do
do Prefeito Municipal da cidade
Inspetoras, Irmã Helena Gesser d
Maria Ivone Ranghetti da Inspet
e de Filhas de Maria Auxiliadora Paulo e de outros Estados. Os motivos para a instalação
dimensão missionária para o no
em Mornese, no norte da Itália e
Uruguai a primeira expedição mi
carismática e formar as novas gera
o nosso carisma, o Instituto das F
de formação permanente intitula
(PEM), aberto a toda a Família Sal
A experiência de visitar os lug
missionários chegaram, o conhe
seu trabalho, de sua união com D
e populações pioneiras instalad
frutos de santidade que aí flores
do Colégio de Junin de los Andes
beato Zeferino Namuncurá, jove Zatti, irmão leigo salesiano e de
de Maria Auxiliadora, são de gran
a seguir o impulso dos nossos Fu 4 | Em Família
Capa
al Filhas de Maria Auxiliadora é inaugurado no Brasil
oi inaugurado solenemente em Guaratinguetá, na
aria, o MEMORIAL FILHAS DE MARIA AUXILIADORA Arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes,
e e de várias Autoridades Civis e Religiosas, das
da Inspetoria Santa Catarina de Sena e de Irmã
toria Nossa Senhora Aparecida de Porto Alegre,
a, representantes de várias comunidades de São do MEMORIAL estão ligados à importância da
osso Carisma: de fato, o nosso Instituto, fundado,
em 1872, em novembro de 1877 já enviava para o
issionária. Para avivar sempre mais esta dimensão
ações e os numerosos leigos comprometidos com
Filhas de Maria Auxiliadora organizou um projeto
ado PROJETO DE ESPIRITUALIDADE MISSIONÁRIA
lesiana, em nível mundial.
gares onde nossas primeiras Irmãs missionárias e
ecimento e a reflexão orante de suas vidas e do
Deus, vivido na entrega sem limites aos indígenas
dos em regiões inóspitas e de difícil acesso, os
sceram como a Beata Laura Vicuña, nossa aluna
s (Patagônia, Argentina) que morreu aos 13 anos,
em indígena, aluno salesiano, o beato Artemides outras grandes figuras de Salesianos e de Filhas
nde valia para os dias atuais, impulsionando-nos
Fundadores e as palavras do nosso querido Papa janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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Francisco que nos manda sair de nosso conforto para anunciarmos o Evangelho nas periferias existenciais e geográficas de hoje. O Projeto PEM, até então, possuía três percursos missionários, percorrendo: 1. A Bacia do Rio Prata (Uruguai e Argentina); 2. A Patagônia Norte (Argentina); 3. A Patagônia Sul (parte meridional do Chile e da Argentina). No último Capítulo Geral, 2008, as Superioras pediram às Províncias Brasileiras a organização de um quarto 6 | Em Família
percurso que contemplasse a fundação e a expansão do Instituto em nosso território. Esta é, portanto, a razão próxima da montagem do MEMORIAL FILHAS DE MARIA AUXILIADORA NO BRASIL que se une à razão mais ampla e permanente: ser um centro de formação e difusão do carisma de Dom Bosco e de Madre Mazzarello para toda a família salesiana do Brasil e do exterior, bem como para a população em geral. Os projetos educativos, que serão realizados pelo Memorial, buscarão atender o público infantil e juvenil das nossas Escolas, Faculdades e Centros Sociais, das Escolas Públicas e Particulares do território, da sociedade guaratinguetaense em geral. O MEMORIAL está localizado em Guaratinguetá, pois, foi nesta cidade que as Filhas de Maria Auxiliadora chegaram, pela primeira vez, ao Brasil, em 1892, vindas do Uruguai, por decisão do então Inspetor, Dom
Capa
Luís Lasagna, a convite do benemérito sacerdote local, Monsenhor João Filippo, grande admirador do nosso Pai Dom Bosco. Além de responder ao pedido feito durante Capítulo Geral XXIII, nosso objetivo principal é que o MEMORIAL se transforme em centro irradiador da memória do nosso Carisma e forme as futuras gerações e nossos colaboradores no genuíno espírito salesiano. O MEMORIAL conta a nossa trajetória educativo-missionária por meio de um acervo rico em detalhes e registra sensorialmente nossa história nos aspectos afetivo, cultural e religioso. Aqui, fica registrado o nosso agradecimento a todas e a todos que se dedicaram incansavelmente, ao longo de cinco ano, para a concretização deste SONHO!
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Capa Mensagem da Madre Geral, Ir. Yvonne Reungoat, por ocasião da inauguração do Memorial Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil Querida Irmã Helena Gesser, Inspetora, Queridas Irmãs aqui reunidas Queridos Salesianos e membros da Família Salesiana Queridos colaboradores e colaboradoras, benfeitores, amigos, pais, jovens Prezadas Autoridades religiosas e civis Com esta mensagem, desejo fazer-me presente neste dia tão significativo da inauguração do Memorial Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil. Em primeiro lugar, agradeço ao Senhor pelo desenvolvimento do carisma salesiano no Brasil e por sua atual vitalidade, o qual como em uma “viagem carismática”, continua a ser no hoje, sinal de esperança para as novas gerações na Igreja e na sociedade. Sou profundamente grata à Inspetora, Irmã Helena Gesser, às Filhas de Maria Auxiliadora da Inspetoria Santa Catarina de Sena, em particular à Irmã Dorcelina de Fátima Rampi, ecônoma inspetorial e à equipe de pesquisa histórica, por haver contribuído de forma esplendida para a realização de um antigo sonho: recolher, em um “Memorial”, a preciosidade do carisma salesiano vivido e testemunhado nestes longos anos, por tantas Irmãs, Colaboradores e Colaboradoras e jovens, no espírito do Sistema Preventivo de São João Bosco, e traduzido com criatividade feminina por Santa Maria Domingas Mazzarello. Expresso minha gratidão e estima pelos que, com diferentes responsabilidades na Igreja e na Sociedade, têm colaborado e contribuído de modo efetivo e eficaz na realização deste evento, oferecendo apoio, encorajamento e meios concretos. O bem semeado desde os inícios e que continua ainda hoje, e a presença de vocês, constitui um sinal belo e promissor de uma abertura às novas perspectivas futuras. Alegro-me com o objetivo do “Memorial” que é o de criar uma oportunidade de diálogo, envolvente e vital como o visitante: jovens e adultos, afim de que o contato com a memória do passado os façam reconhecer a ação incessante de Deus, e se deixem invadir por Ele, se maravilhem com as obras que Ele realiza através de pessoas humildes,
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Capa simples, pobres de meios e ricas somente do espírito do “da mihi animas cetera tolle”, (dai-me os corações e ficai com o resto) e se projetem para o futuro com a esperança renovada. Para mim, esta é uma proposta “salesianamente inteligente”, que por meio do cuidado dos ambientes, estudados com sabedoria e profundidade e dos meios tecnológicos escolhidos, se transforma em uma proposta educativa, sobretudo para as novas gerações. Uma proposta que enamora o visitante pelas riquezas e beleza da espiritualidade salesiana e que pode ser para todos novo caminho de evangelização no espírito dos nossos Fundadores. Enquanto lhes escrevo, sinto-me presente aí, no meio de vocês, com afeto e emoção. Sim, porque a página da história que vocês continuarão a escrever é motivo de alegria, de esperança, de futuro. Até aqui quis expressar o meu obrigada e a minha estima por vocês pelo belo resultado conseguido neste histórico empreendimento que é o Memorial e pelo objetivo que se propõe! Agora acrescento um desejo que gostaria chegasse a cada um, a cada uma de vocês: o “Memorial” é inaugurado, mas depende de todos em plena sinergia, criar uma rede de difusão e irradiação desta experiência para que aumente não só o número de visitantes, mas sobretudo, que ela se expanda em novas propostas educativa, vocacionais e de anúncios evangélicos. O caminho do diálogo com quantos virão visitar este lugar, e espero que antes ou depois também eu consiga estar entre eles, fará brilhar com a luz da santidade, que enriqueceu este tempo de graça e que testemunha com os sinais concretos aqui recolhidos com competência e profissionalidade, paixão educativa e grande amor à história. Em uma cultura onde domina “a ideologia do presente”, desejo que o “Memorial” possa mostrar aos jovens o laço indestrutível e profundo entre a beleza da memória, a riqueza e os valores do presente com a abertura e prospectiva inéditas do futuro. Renovando a minha gratidão, confio a Maria Auxiliadora, aos Santos da Família Salesiana e os da terra brasileira, esta magnifica realização. Acompanhem e enriqueçam, sempre mais de bens, o “Memorial com uma história enraizada no carisma de Dom Bosco e de Madre Mazzarello. Ele não conhece os desgastes e os limites do tempo que passa porque goza da presença geradora do Espírito Santo que incansavelmente opera, age, renova a vida e fecunda a missão educativa. Uma saudação carinhosa a todos com afeto e grande estima. A bênção do Senhor entre na vida de vocês, das comunidades e das famílias, e que ela seja sempre a alegria e a esperança de todos vocês!
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Artigo
Campanha da Fraternidade e o desafio da fé na Ressurreição Por Ir. Ivone Brandão de Oliveira
Vivemos em tempos difíceis e nesse momento somos tentadas a dizer que não podemos fazer nada. Dois casos criminosos divulgados pelos meios de comunicação social contra pobres e indefesos, nos deixaram estarrecidas: o caso de Brumadinho e a morte dos jovens nas dependências do Flamengo. Estes são apenas sinais do descaso do poder político em relação à população mais pobre e da impunidade, segundo Boechat. Como falar de Políticas Públicas no momento que vivemos? O que domina, resulta na indiferença frente aos grandes problemas que atravessamos. Com uma onda de políticos corruptos, com a ganância econômica, impondo o mercado e a manipulação da mídia, com advogados e juízes que se vendem, e os grandes não cumprem pena 10 | Em Família
porque o dinheiro fala mais alto que os crimes. Ante uma população que se sente impotente, corremos o risco de nos tornar insensíveis e indiferentes às situações extremas de pobreza e as notícias de impunidade, contemplando as pessoas em situação de rua, deitadas nas calçadas das grandes cidades, sem perceber o número de pessoas assassinadas e o índice crescente de homicídios, feminicídios e suicídios por falta de horizontes, oportunidades e empregos. Vivemos em tempo de temor e medos. O sistema mundial, centrado na economia do mercado, transforma o ser humano em mera mercadoria que deve produzir e gerar lucro. Serve também de alerta antecipado, sinal do anti-reino de Deus com terríveis perigos. Esses perigos nos compelem a
Artigo agir e fazer o necessário para evitá-los. Qualquer resposta à questão do nosso temor, repercute no agir. No medo e na indiferença, está em jogo a nossa vida; na esperança e no enfrentamento, uma vida plena. Uma ação no temor e na indiferença vê as crises; uma ação na esperança e no enfrentamento, identifica as oportunidades na crise. Creio que aqui esteja o motivo pelo qual a CNBB tenha escolhido como tema da C.F. “Políticas Públicas”, em vista da realização da profecia de Isaías: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (1,27). O ponto de partida é Jesus Cristo. Com o olhar voltado para Ele, na força do Espírito Santo, é possível viver o testemunho da transformação de todas as coisas nele. Papa Francisco nos convida a sermos comunidade em saída, dinamizada pela misericórdia, investindo no encontro e no diálogo. Como cristãos, somos chamadas a participar da transformação da sociedade. Minha convicção, hoje, é o Cristo Crucificado, o que não é novidade porque é a fé da Igreja desde sempre. E por que o Crucificado? Porque aí Jesus revela o Caminho, a Verdade e a Vida. O Caminho é expressão do serviço doado até o fim: ”Não há maior amor que dar a vida” (Jo 15,13). A Verdade porque na cruz Jesus desmascarou a ideologia veiculada pela religião, que justificava a discriminação das pessoas; por sua morte, Jesus mostra a mentira, a violência e as injustiças do sistema político, tanto assim que até mesmo o centurião romano confessou: “Verdadeiramente este homem era filho de Deus” (Mc 15,39). A cruz é a única forma de expressar nossa Fé e nosso compromisso com Jesus: “Se alguém quer me seguir, tomo sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). A narrativa que, começou anunciando um caminho através do deserto, agora termina no caminho da cruz - castigo supremo para os que quisessem desafiar a soberania de Roma. Na frente,
em baixo deste cadafalso romano, tudo o que os adversários de Jesus conseguiram reunir para ridicularizá-lo. Atrás, algumas mulheres discípulas olhavam o quadro com horror. Quem de nós realmente se acha preparado para aceitar que, permanecendo ali, ele mostra o caminho da Vida e libertação, para reconhecer que neste momento os poderes foram derrubados e o reino veio em poder e glória? Jesus é pregado à cruz na “terceira hora” (nove horas da manhã). É-nos mostrado o motivo de sua morte: “Rei dos judeus” (15,26). Jesus é executado pela presunção de desafiar as autoridades romanas. Depois, vem o episódio da zombaria (15,27-32) e ele entre dois “bandidos “Um à sua direita e outro à sua esquerda” - as mesmas posições de honra que os discípulos anteriormente disputaram (10,37). Jesus realmente se comprometera a “salvar” a vida (3,4) e de fato admoestou seus discípulos contra a tentativa de querer salvar sua própria vida (8,36). Os adversários de Jesus imploram-lhe que rejeite a cruz: “desce da cruz para que vejamos e creiamos” (15,32), mas Ele não desce. Aqui a guerra de mitos de Marcos alcança seu ponto culminante em dois grandes motivos de julgamento. O primeiro é a súbita escuridão que envolve a terra durante três horas. Isto é extraído de Ex 10,22, quando Javé, na guerra de mitos contra o faraó, escureceu o sol no Egito durante três dias. Segue a isso, na nona hora, o primeiro “grande clamor” que é a terceira e a última alusão ao Sl 22. Ao descrever Jesus como o homem justo sofredor que fala no salmo, a ênfase se situa em uma amargura em nada mitigada e decorrente do abandono. Naquele momento, o “véu do santuário rasgouse em duas partes de cima até em baixo” (15,38). A morte de Jesus desmascarou o fato de que o “rasgão” na “roupa velha” é irreparável (2,21); a ordem simbólica, tal como se achava situada, centralizada no santuário, foi derrubada. O homem janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Artigo forte não prevaleceu, sua “casa” foi saqueada. O mito do Humano vencendo os dirigentes da época é mito revolucionário que justifica a resistência à ordem dominante e promete sua ruína. Marcos faz referência a algumas mulheres “vigilantes”. Elas são discípulas de Jesus, da Galileia. Ele as descreve como discípulas-modelo. Elas não só “seguiram”, mas ainda “serviram” (9,35; 10,43) a Jesus ao longo do ministério na Galileia. Elas subiram com Jesus a Jerusalém e permaneceram com ele até a morte. Elas agora se transformam em verdadeiras discípulas. As mulheres fizeram as duas coisas que os homens na comunidade acharam impossível: elas foram servas e continuaram a seguir Jesus também depois que ele foi preso e executado. Elas são três e Marcos as apresenta como alternativa para os três homens do círculo íntimo anterior (Pedro, Tiago e João). A ordem do mundo está sendo revolucionada, desde o mais elevado poder político até os mais profundos padrões culturais, e a revolução começa dentro da nova comunidade. É a estas mulheres, os “últimos” que se tornaram “primeiros”, que será confiada a mensagem da ressurreição. A autêntica missão de misericórdia foi realizada pelas mulheres (Mc 16,1-3). Elas descobrem que o selo posto para o “fechamento” do sepulcro foi removido. Elas “entram” no túmulo e aí encontram não Jesus, porém, um “jovem” que está sentado. Ele está envolvido em veste branca, a mesma cor das vestes de Jesus na transfiguração (9,3) e frase idêntica é usada para descrever o paralelo dos mártires no Apocalipse (7,9.13). As mulheres estão “profundamente perturbadas”. Cada um destes simbolismos apocalípticos nos compele a concluir que as mulheres compreendem que elas se acham na presença de figura de mártir “glorificado”. O jovem ordena às mulheres que “vão e digam aos discípulos dele e a Pedro que e Ele vai à sua 12 | Em Família
frente para a Galileia; lá o verão, exatamente como ele lhes dissera” (16,7). Assim como eles o seguiram na ida “para Jerusalém” (Mc 10,32), agora devem segui-lo “de volta à Galileia”. Aí, eles “o verão”. Onde “os discípulos e Pedro” formam chamados pela primeira vez, nomeados, enviados em missão e instruídos por Jesus. A narrativa é circular. A plena revelação do Humano não surtiu nem em vitória triunfal para a comunidade, nem em derrota e falência trágicas, mas na regeneração da missão messiânica. O convite feito por Jesus, por meio do jovem, para segui-lo à Galileia, é o terceiro e último chamado ao discipulado. Ele evoca tanto esperança (ele agora se encontra com novo aspecto) quanto terror (suas vestes são as de mártir). Marcos termina a narrativa com o relato de que as mulheres cheias de medo “nada disseram a ninguém” (Mc 16,8). As mulheres ouvem a recomendação de falarem e não permanecerem em silêncio. O fim de um texto não é o fim da obra, quando o narrador deixa o assunto sem terminar para o leitor completar, mental e imaginariamente. O narrador cria a expectativa e depois cancela-a, deixando o leitor admirar-se pensando porque despertou a expectativa em primeiro lugar... O convite do jovem deve provocar medo e emoção em nós, se é que o tomamos a sério: “Quando Cristo chama uma pessoa, ele ordena que ela vá e morra” (Bonhoeffer). Marcos sugere um desafio ao leitor sob a forma de pergunta sem solução. “Fugiremos” ou “seguiremos? ”. Nós não compreendemos o que a “ressurreição” significa, mas, é necessário se manter firme, sabendo que Jesus ainda vai à nossa frente, incentivando-nos a seguir o caminho da cruz. Não é tragédia nem vitória. É desafio interminável para segui-lo mais uma vez. Marcos ao terminar o relato, deixa algo atravessado na garganta: não é um final feliz.
Artigo Marcos recusa resolvê-lo para nós; ele pretende deixar-nos descobrir por nós mesmos se as mulheres conseguiram ou não superar o medo a fim de proclamarem o novo começo na Galileia. A narrativa do discipulado só pode verdadeiramente ser retomada se o leitor resolver assumir a prática da vocação messiânica; e nossa resposta se torna possível pelo fato de Jesus continuar “caminhando à nossa frente”. A cruz de Jesus derrubou os poderes. O novo começo que deve ser encontrado na Galileia é verdadeiramente nova criação. A questão feita por Marcos à sua comunidade é atual para nós, hoje: acreditamos ou não que o caminho é a Cruz? Para isso, é necessário vencer o medo e a indiferença, ocupando espaços de decisão, estudando leis, participando de conselhos, e exigindo políticas públicas que respondam às necessidades reais de direito e cidadania, garantindo equidade no “bem viver” para todos. Estamos dispostos a percorrer esse caminho?
Referências Bibliográficas Myers, Ched. O Evangelho de Marcos. São Paulo: Paulinas – 1992 Montmann, Jürgen, Ética da Esperança. Petrópolis: Vozes, 2010.
Oração da Campanha de Fraternidade 2019 Pai misericordioso e compassivo, que governais o mundo com justiça e amor, dai-nos um coração sábio para reconhecer a presença do vosso Reino entre nós. Em sua grande misericórdia, Jesus, o Filho amado, habitando entre nós testemunhou o vosso infinito amor e anunciou o Evangelho da fraternidade e da paz. Seu exemplo nos ensine a acolher os pobres e marginalizados, nossos irmãos e irmãs com políticas públicas justas, e sejamos construtores de uma sociedade humana e solidária. O divino Espírito acenda em nossa Igreja a caridade sincera e o amor fraterno; a honestidade e o direito resplandeçam em nossa sociedade e sejamos verdadeiros cidadãos do “novo céu e da nova terra”. Amém! janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Artigo
O desafiante encontro com a verdade sobre mim mesma Por Ir. Nilza Fátima de Moraes
Sou imensamente grata à Inspetoria, na pessoa de Ir. Helena Gesser e à Ir Silvia Boullosa que me propuseram esta desafiante Escola de encontro com a verdade sobre mim mesma. Entre os dias 02 a 31 de janeiro 2019, tive a graça de participar da 1ª Etapa da Escola para Formadores “Jesus Mestre”, na Associação Transcender, à Rua Gandavo, 195, Vila Clementino, SP. A Escola “Jesus Mestre”, (Mt 23,8), foi fundada em 1983, em Porto Alegre, RS, por um grupo de docentes graduados no Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Itália. Alicerçada nos mesmos princípios, a Associação propõe os conteúdos do Instituto e tem sua metodologia adaptada à realidade brasileira. O 14 | Em Família
objetivo é preparar religiosos, sacerdotes e leigos comprometidos, capazes de integrar, em si mesmos, as dimensões humana e espiritual para realizar eficazmente a missão formativa e apostólica que lhes é confiada. Após a admissão dos candidatos pela Assembleia dos Professores, realizada em setembro de 2018, foi-nos exigido, para o primeiro dia de aula, a elaboração de um trabalho escrito em base aos seguintes teóricos da personalidade: Freud, Skinner, Jung, Allport, Rogers, Frankl e Maslow. A proposta do trabalho era comparar a visão de pessoa humana, que estes autores representam, considerando qual a visão do homem que cada teoria da personalidade estudada tem, além de mencionar e explicar para
Artigo cada teoria os elementos que o cristão pode ou não aceitar. Para tanto, a bibliografia requerida foi a de Jess Feist – Gregory J. Feist – Tomi-Ann Roberts, Teorias da Personalidade. ARTMED EDITORA, Porto Alegre, 2015. Depois deste empenhativo trabalho de preparação prévia, iniciou-se o primeiro bloco de estudos sobre Psicopedagogia I, ministrada por Ir. Neuza Botelho dos Santos. Foi aprofundado, nesta disciplina, a importância de reconhecer a trajetória da própria aprendizagem escolar, bem como procurar uma maior coerência entre o que se faz e o que se pensa, em vista de futuras aprendizagens significativas, caracterizadas por uma visão não fragmentada do ser humano, mas pelo cuidado em não rotular as pessoas, enxergando-as sempre além das aparências. Em seguida, passou-se ao estudo da Antropologia Psicológica com o Prof. Dr. Pe Deolino Pedro Baldissera. O objetivo do curso foi compreender a visão Antropológica Cristã, na perspectiva do chamado–resposta à vocação cristã, por meio da integração interdisciplinar entre a filosofia (o quê), a psicologia (como funciona) e a teologia (para quê), utilizando o método transcendental de Bernard Lonergan, empregado por Rulla. Este método parte daquilo que o sujeito experimenta e faz. Cada indivíduo tem seus modos de agir, de sentir e de viver a própria experiência, e seus modos de compreender e de julgar. Segundo Rulla, o espírito do homem, sua mente e seu coração são uma força ativa para a transcendência, mas o ser humano é constitutivamente limitado na liberdade e na capacidade de autotranscendência, o que interfere na dialética entre o Eu ideal e o Eu atual, isto é, uma oposição entre sua tendência para a autotranscendência ilimitada e a sua própria limitação, voltada para o imanente.
O método transcendental de Lonergan implica compreender os quatro níveis de operações: experiência (percepção), inteligência (intelecção), juízo (reflexão crítica) e decisão (responsabilidade), que leva as pessoas a lidarem com suas necessidades inatas e a escolher determinados valores, que vão sendo internalizados no decorrer da vida e se transformam em atitudes ou hábitos, virtudes ou vícios. Esta busca pelo transcendente e pelo sentido da vida, consiste no conhecimento (entender o bem), na moralidade (decidir-se pelo bem) e no amor (realizar o bem). Na autotranscendência do amor, a pessoa se coloca a serviço do outro e o seu fim último é o próprio Deus. Deus é o único Ser capaz de levar a pessoa à completa realização de si mesma e este processo repercute na liberdade, responsabilidade e decisão. Tratando-se da dimensão vocacional, expressa pelo Concílio Vaticano II, toda pessoa é chamada a um diálogo de amor e comunhão com Deus, em Cristo e com a Igreja pelo dom do Espírito. Neste sentido, Karl Rahner defende que a pessoa é dotada, desde a sua criação, dessa abertura para o Transcendente e, portanto, é capaz de receber o Amor, que é o próprio Deus. Na sequência, foi trabalhada a disciplina Psicologia do Desenvolvimento Humano pela Profª Ir. Renata Vetroni Barros, SCVE, tendo como objetivo geral analisar o desenvolvimento autêntico da personalidade humana, à luz do mistério, sua continuidade e mudanças durante o processo de amadurecimento. Segundo Rulla, o desenvolvimento humano consiste na busca da autotranscedência teocêntrica no amor, um processo onde a pessoa caminha para aquilo que é chamada a ser. À medida em que a janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Artigo pessoa vai se desenvolvendo, se conhecendo, ela vai se tornando mais integrada, flexível, madura e livre para viver os valores autotranscendentes da primeira dimensão, ou seja, aquela relativa aos valores transcendentes e se decide conforme o quarto nível operativo dos sistemas motivacionais de Lonergan, onde o conhecimento se dá pela experiência que exige a inteligência, a análise e a decisão com responsabilidade e liberdade. Franco Imoda, em seu livro Psicologia e Mistério afirma que viver o mistério autenticamente significa viver o desenvolvimento e aceitar a própria vocação. Este mistério é processo que se manifesta: no riso, no jogo, na busca, na dor, na solidão, na insatisfação, no mistério vivido e nas situações privilegiadas. O importante é percebermos os parâmetros de leitura das dimensões do mistério, que podem ser entendidos como mediações do homem no seu mistério antropológico e a variedade de suas manifestações concretas e observáveis pela psicologia. O primeiro parâmetro é a dimensão da ALTERIDADE, ou seja, a real relação com o outro, com o ambiente e com um Outro. Só há crescimento no confronto com o outro e a cada tentativa de eliminar a alteridade pode significar uma redução, provavelmente uma perda, da dimensão antropológica do mistério. Por isso, é necessário avaliar se a pessoa possui a capacidade de formar relacionamentos apropriados e adequados na vida. Esta capacidade está ligada ao desenvolvimento da primeira fase da vida, a psicogênese.
a vida permanece marcada por uma espécie de desordem, de alienação e, portanto, de insegurança e vulnerabilidade próprias do momento negativo.; b) Situação de ausência, isto é, a dinâmica da necessidade, do desejo imediato e do desequilíbrio. O desejo marcado pelo não ter, pelo não ser, leva a pessoa a um reequilíbrio pela busca de satisfação e mediação que contribuam com a “solução”; c) Situação de transformação é aquela que faz a síntese dos dois momentos. A transformação exige renúncia, implica num contínuo enfrentamento desta ansiedade e desta luta nas suas formas mais concretas. Por fim, a Temporalidade para Imoda é inevitável e revela que a tensão entre passado, presente e futuro não é eliminável, isto é, significa respeitar o sentido do tempo na vida, ouvindo com paciência os eventos, aceitando o senso de responsabilidade e de realismo do passado, empenhando-se no presente com a consciência de estar construindo o próprio futuro.
Por fim, o terceiro parâmetro expressa-se entre o ser e o vir a ser, entre a continuidade e transformação e explora o “como” elas se interagem. Para entender estes ESTÁGIOS, é preciso compreender que a pessoa tem as suas dimensões: física, social, cognitiva, moral, afetiva, religiosa e interpessoal. Para tanto, faz-se necessário perceber em qual fase se está e a idade não significa ter maturidade. O estágio da vocação madura não significa que a pessoa esteja bem em tudo. Portanto, o desenvolvimento humano à luz do estágio, consiste na superação gradual daquela determinada fase da vida em vista de aquisições de novas estruturas, ou O segundo parâmetro da TEMPORALIDADE é mudança de uma estrutura para outra, mediante à também inerente ao mistério humano e supõe multiplicidade de mediações pedagógicas. três situações de relação com o outro: a) Situação de presença que causa equilíbrio, confiança, Quando o estágio se torna fim em si mesmo segurança, integra a pessoa e ela se sente presente podem ocorrer bloqueios no desenvolvimento, a si mesma e com os outros. Sem este momento, tais como: o bloqueio da progressão: é quando a 16 | Em Família
Artigo pessoa em vez de ir seguindo os estágios um após o outro, salta e vai lá na frente, mas a natureza humana não dá salto. Não podemos exigir e forçar a criança a passar de um estágio para o outro. O bloqueio da fixação se dá quando a pessoa se fixa em um determinado ponto do processo e, mesmo que seja a hora de ir para a frente, para a próxima fase, permanece e não dá passos. Também acontece o bloqueio da regressão, que é a “volta” para a fase onde houve a fixação, sem poder dispor de uma integração adequada e, com a ajuda de um profissional, a pessoa ressignifica o próprio desenvolvimento. Neste sentido, considerando a teoria do Apego de Mary Ainsworth, a pessoa é capaz de lidar com as carências e dependências afetivas quando é trabalhada a autoestima e a confiança em si mesmo. Conforme vão crescendo a autoconfiança e a segurança, a pessoa cresce independente do elogio do outro. Quem não fez a experiência de pertencer ou de sentir-se suficientemente seguro em um ambiente pode ser que não seja um grande explorador, mas tenderá a permanecer fechado e defensivo no seu ninho. A capacidade de separar-se das figuras do Apego e de formar novos “apegos” representa a prova evolutiva da adolescência e dos primeiros anos da idade adulta.
Ressignificar o próprio passado supõe vivenciar... sentir, de fato, o que se sente ao contar a sua própria história. Implica no exercício da liberdade de aceitarse no confronto com o próprio limite, aceitarse como ser humano com necessidades, emoções e lembranças que se confrontam com um passado relativamente glorioso ou incômodo.
A primeira Etapa da Escola para Formadores encerrou-se com o estudo de Psicologia do Desenvolvimento Moral, uma oportunidade para refletir sobre um dos temas mais relevantes da atualidade. O objetivo da disciplina foi ampliar a compreensão de moralidade diante da grande Ressignificar o próprio passado supõe vivenciar... fragilidade de princípios morais que orientam as sentir, de fato, o que se sente ao contar a sua própria condutas e o problema dos condicionamentos história. Implica no exercício da liberdade de aceitar- psicológicos que interferem de modo muito se no confronto com o próprio limite, aceitar-se significativo em nossa realidade. como ser humano com necessidades, emoções e lembranças que se confrontam com um passado Vivemos em um mundo confuso, consumista, relativamente glorioso ou incômodo. A tentação de permissivo, marcado pelo relativismo moral, pela não aceitar e de fugir é sempre forte, mas é preciso cultura do efêmero, pela ausência de referenciais aprender a ressignificar as experiências de forma significativos, onde o agir humano é muito frágil, racional-afetiva para se chegar à essência de si impregnado do prazer pelo prazer, etc. Neste mesmo e se identificar com Jesus Cristo. contexto, as escolhas devem ter como referência janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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os valores cristãos mesmo que sejam um desafio identificar-se com eles e assimilá-los. Segundo Rulla, os valores podem ser classificados em: a) Valores não especificamente humanos: não distinguem o homem dos animais; b) Valores infra morais: são específicos do ser humano, são aqueles valores naturais que não envolvem o exercício da liberdade e da responsabilidade do eu; c) Valores morais: atingem a pessoa naquilo que ela tem de mais próprio, seu ser e agir livres. Por esta classe de valores a pessoa é julgada enquanto pessoa, sendo considerada uma pessoa boa ou má, de acordo com os valores que assume, independente de outras qualidades como beleza, força, inteligência, etc.; d) Valores religiosos: referem-se `a relação da pessoa com Deus e o ápice destes valores é expresso pelo conceito de santidade e o quanto a pessoa consegue assimilá-lo vitalmente. 18 | Em Família
Outro aspecto fundamental do desenvolvimento moral é a sua localização dentro do quadro do desenvolvimento da pessoa. Otto Kernberg, psiquiatra, observa que a cultura atual incita as necessidades narcisistas nas interações sociais, enfatizando a acumulação de bens materiais, estimulando a competição e a consequente inveja. Segundo este autor, a autêntica satisfação no relacionamento interpessoal acontece quando há a transcendência, a capacidade de ir além de si mesmo e experimentar a sensação de unidade com os outros que viveram, amaram e sofreram no decorrer da história, sejam elas familiares ou não. Kernberg também distingue os diversos níveis da estrutura psíquica da pessoa, o da estrutura normal, neurótica, borderline ou psicótica. Em sua teoria das relações objetuais, Kernberg se esforça por interpretar a dimensão intrapsíquica, a partir da relação com a figura parental materna. Sua tese principal afirma que as estruturas determinadas pelas relações objetuais internalizadas constituem um
Artigo determinante na integração do Ego, e um anormal desenvolvimento destas relações determina diversos tipos de psicopatologia. O processo do desenvolvimento se diferencia em estágios, e o desenvolvimento insatisfatório dos diferentes estágios levará às distintas psicopatologias. As fases do desenvolvimento de Kernberg são: a) Autismo – a criança vive ainda no seu mundo; não estabelece relação objetual: come e dorme. Um bloqueio neste estágio comprometeria a relação e a consequência última seria uma psicose; b) Simbiose –acontece uma constelação EuObjeto positivo ou Eu-Objeto negativa. Fixar-se ou regredir a este nível equivale ao impedimento ou perda da diferenciação dos limites do ego, fenômeno característico das psicoses simbióticas infantis, de tipos de esquizofrenia em adultos e das psicoses depressivas; c) Diferenciação entre o eu e o objeto – é alcançada quando a criança se percebe um ser separado da mãe. Um mundo interno dela é bom; d) Integração e ulteriores desenvolvimentos - das representações positivas de si e do objeto; e) Consolidação do eu - acontece o estabelecimento do superego e do eu-ideal. Em relação à personalidade normal suas características principais são: conceito integrado de si e do outro, a identidade do EU é coesa e estruturada, há uma avaliação adequada, empatia e investimento emotivo profundo nas relações de dependência madura. A força do EU se reflete na capacidade de controlar as emoções e os impulsos na gestão da frustração e da ânsia. Superego integrado e maduro supõe interiorização de valores estáveis, responsabilidade pessoal, uma autocrítica realista, respeito pelas normas sociais e pelos valores condivididos. Gestão dos impulsos agressivos e libídicos, de modo apropriado e satisfatório.
Portanto, o homem pode assumir formas distintas de transcendência, tais como: 1) AUTOTRANSCENDÊNCIA INTELECTUAL: neste nível o homem é levado ao conhecimento da verdade e é visto como um ser aberto à verdade, capaz de relacionar-se com a realidade em nível de profundidade, sendo capaz de julgar entre o verdadeiro e o falso. Muitas vezes, distorcemos a realidade, por conta de nossas conveniências pessoais; 2) AUTOTRANSCENDÊNCIA MORAL – neste nível, a pessoa se volta para aquilo que é verdadeiramente bom, procurando conhecer o que é bom e verdadeiro. Assim, o homem vai além da realização dos interesses pessoais, da satisfação de suas preferências, ultrapassa o bem aparente em direção aos valores objetivos e reais; 3) AUTOTRANSCENDÊNCIA NA DINÂMICA DO AMOR: é o momento em que se torna real a capacidade humana de amar e o amor permeia as iniciativas humanas como um todo. A pessoa madura é aquela que desenvolveu a capacidade de amar e a busca do bem em si e não somente o bem para mim. 4) Um outro autor, de suma importância para o desenvolvimento moral, é Kohlberg. Ele se situa na perspectiva cognitivo-evolutiva, divergindo substancialmente da psicanalista e da comportamental. Para ele, o desenvolvimento moral é universal, independente da cultura o que gerou muita polêmica na época. Kohlberg criticou o contrato social, adotado pelo governo dos Estados Unidos que, a seu juízo “deixava uma certa margem ao subjetivismo e ao relativismo moral”. Quanto ao método, Kohlberg parte do modelo piagetiano que consistia basicamente na apresentação de estórias, a partir das quais se devia formular um juízo, a ser justificado para compreender a estrutura interna da pessoa e janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Artigo perceber qual era o seu nível do desenvolvimento moral. Entendendo o tipo de raciocínio, se entende o tipo de juízo. A partir das críticas recebidas, Kohlberg e colaboradores tornam o seu método mais simples e preciso, chegando à definição de uma sequência universal, composta por três níveis e seis estágios, que são os seis modos diferentes de elaborar o julgamento. Convenção é uma palavra fundamental para Kohlberg, pois a sociedade é construída a partir de acordos que se fazem. Não é possível conviver em sociedade sem direitos e deveres estabelecidos. Um estágio é qualitativamente diferente do outro.
externas ao EU, estabelecidas por eles. A pessoa do 2º estágio pensa: “O que vou receber em troca”? É a lógica do mercado, das empresas. A pessoa cumpre a regra por interesses pessoais;
2. NÍVEL CONVENCIONAL – período da adolescência e adultos; adota as normas da sociedade como próprias, porque se identifica com elas. Recompensa psicológica. A expectativa e a dimensão afetiva do outro é que determinam as relações. A maioria das pessoas está no nível convencional. Os papeis que desempenhamos na sociedade devem atender às expectativas; Estágio 3: Concórdia interpessoal, ou seja, do bom menino – boa menina. Atenção à qualidade 1. Nível Pré-Convencional – próprio da das relações interpessoais, ter motivações boa maior parte das crianças até 10 anos, de alguns ou gentis, e ser interessado nos outros, enquanto adolescentes e adultos delinquentes. A pessoa agir bem é entendido como ser leal aos outros, não chegou ainda a compreender e sustentar as considerar os seus sentimentos, ser leal, fiel, regras e a autoridade convencional da sociedade. respeitoso e grato; Pessoa que não entende que a sociedade é regida Estágio 4: Orientação à lei e à ordem. As regras por regras, não pensa no outro. É um nível de pré- são fixas; lei é lei; a observância das leis é para moral, normal numa criança, mas não no adulto. A manter a ordem social. A questão aqui é entender o criança, normalmente é atenta às regras culturais e que a pessoa entende como lei. Está presente uma às etiquetas de bem e mal, de justo e injusto, mas hierarquia de valores abstratos; as interpreta ou em base às consequências físicohedonísticas das ações (punição, recompensa e 3. Nível Pós Convencional, autônomo ou de troca de favores). Princípio – é atingido por uma minoria de adultos após os 20 -25 anos. Aceita-se que as leis existam, Este nível divide-se em dois estágios: porém há uma crítica em relação às situações e Estágio 1: Punição e Obediência. Aumentar o salvaguardam os princípios universais justos. O policiamento – ameaça, evitar a punição. O ponto próprio Jesus supera a Lei, isto é, cumpre-a de de vista é o do indivíduo isolado, sendo ao mesmo maneira correta; tempo determinístico e materialista. A criança ainda Estágio 5: Orientação legalística, para o contrato não conseguiu superar o egocentrismo, no sentido social, geralmente com tons utilitarísticos. Há piagetiano, tendendo a confundir a perspectiva da o reconhecimento das normas, mas não são autoridade com a sua. Errar é fazer um dano físico, e heterônimas; servem para proteger os direitos a consciência é o medo da punição. fundamentais das pessoas. Indivíduo problemático Estágio 2: Relativista instrumental. As normas e para a sociedade: aquele do tipo profético; as expectativas da sociedade são ainda vistas como Estágio 6: As pessoas agem fundamentadas em 20 | Em Família
Artigo princípios éticos universais. Neste estágio o bem é definido a partir de decisões de consciência, em acordo com princípios éticos escolhidos pessoalmente. A pessoa, neste estágio, teria a capacidade de julgar imparcialmente a partir de princípios éticos. Papa Francisco nos estimula a vivermos na perspectiva do 5º ao 6º estágio.
como, diariamente, como último ato antes de me recolher, proponho-me a pensar diante de Jesus no sentimento mais forte vivido durante o dia, nomeálo, identificar qual foi a causa de tal sentimento e como lidei com ele. Dessa forma, conscientemente, tenho a oportunidade de encontrar-me com a verdade sobre mim, mesmo que ela doa, mas que, com certeza, me libertará, pois, o ser humano é Por fim, seguem algumas considerações essencialmente orientado para o crescimento, em críticas dos estágios do desenvolvimento moral busca da verdade, do bem verdadeiro e do amor. na perspectiva de Kohlberg, nos seus aspectos positivos e negativos: - A sua teoria é muito restrita no campo da moralidade, não considerando a questão da verdade, da fé, do desenvolvimento humano, da cultura e da tecnologia; - A compreensão proposta por Kohlberg pode ser identificada com o liberalismo individual, não atingindo o nível mais elevado do dom de si, que é um dos elementos centrais da doutrina cristã, e de fundamental importância para a vida humana; - Ser inteligente não significa raciocinar moralmente, pois devemos ser cognitivamente maduros para raciocinar moralmente; - A emoção influi quantitativamente no juízo moral e a qualidade dos afetos é determinada pelo desenvolvimento cognitivo estrutural. Estas afirmações são parcialmente verdadeiras por não considerar os resíduos subconscientes na personalidade; - Opondo-se ao relativismo, Kohlberg afirmou que existem conceitos, valores e conteúdos base dos princípios da moralidade universal. Concretamente, a primeira Etapa dessa Escola para Formadores será concluída, em julho de 2019, com a entrega de três trabalhos de aprofundamento relativos aos conteúdos estudados em janeiro. Por ora, posso afirmar que a experiência vivenciada continua, semanalmente, com os encontros de crescimento vocacional onde sou acompanhada nesse processo de conhecimento mais profundo das minhas consistências e inconsistências, bem janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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Jornada Mundial da Juventude Por Ir. Monaliza Machado
A 34ª edição da Jornada Mundial da Juventude foi realizada no Panamá, América Central, entre os dias 22 a 28 de janeiro de 2019, concluindo um itinerário mariano com o lema “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Com este lema, o Papa Francisco convidou a juventude a empreender um caminho de discernimento vocacional e de experiência de Deus, respondendo com alegria ao Projeto de Jesus. Com alegria e entusiasmo, embarcamos para a Cidade do Panamá com nosso pequeno grupo de peregrinos: Gabriel Guirão (ex-aluno do Colégio Auxiliadora), Gabriel Cichy (ex-aluno do INSASP), Juliana Silva (Educadora no Instituto São José), Ir. Aline Leite e eu, Ir. Monaliza Machado. No aeroporto, tivemos a graça de encontrar Dom Vilson Basso, referente da Juventude pela CNBB, 22 | Em Família
Artigo que partilhou conosco a experiência do Sínodo dos Jovens, os encontros informais com o Papa e o documento final. A Jornada Mundial da Juventude foi um tempo oportuno de encontro: encontro com Deus, consigo mesmo e, principalmente, encontro com os outros. Com muitos outros. As barreiras geográficas, físicas, culturais e de idiomas foram interpeladas por uma única experiência de partilha, de unidade, de ser Igreja. Os encontros realizados, ao longo do caminho, das ruas, das praças, faziam ressoar ,dentro de nós, uma única certeza: Jesus Cristo. Não importava a língua: português, polonês, francês, italiano, inglês ou espanhol, comunicávamos por meio da linguagem do coração, do sorriso, da alegria e da fé. Como Maria, a serva do Senhor, desejávamos dizer SIM a Ele, sem reservas, numa entrega total do nosso ser. Ficamos alojados no Instituto Técnico Dom Bosco, comunidade dos Salesianos, com outros 1000 jovens do Movimento Juvenil Salesiano FMA e SDB do Centro América.
A Jornada Mundial da Juventude foi um tempo oportuno de encontro: encontro com Deus, consigo mesmo e, principalmente, encontro com os outros. Com muitos outros. As barreiras geográficas, físicas, culturais e de idiomas foram interpeladas por uma única experiência de partilha, de unidade, de ser Igreja. Nosso agradecimento especial ao Pe. Àngel Prado Mendoza (Inspetor CAM) e o Pe. René González por nos ter acolhido com tanta alegria e disponibilidade. Nesse universo salesiano, pudemos nos enriquecer com tantas partilhas, conversas e encontros, fazer novas amizades, realizar muitos “câmbios” (troca de lembrancinhas), conviver diariamente com a Madre Geral, Yvonne Reungoat, e o Reitor-Mor, Pe. Àngel Fernandez Artime e, principalmente, perceber e tocar a beleza do nosso carisma salesiano, que é único em diversos lugares do mundo. O Fórum do Movimento Juvenil Salesiano foi momento oportuno de aprendizado, partilha e escuta. Nossos jovens, Gabriel Guirão e Gabriel Cichy participaram dele, com dedicação e entusiasmo, com outros 100 jovens, se envolvendo nas atividades propostas. A Festa Salesiana realizada, no período da tarde do janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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mesmo dia do Fórum, foi a festa da alegria! Reunidos, com aproximadamente 3 mil jovens salesianos, acolhemos a presença da Madre Geral e do Reitor-mor entusiasmados com a proposta para este ano: santidade juvenil. Encerramos o dia, com um momento forte de Vigília, Adoração e louvor e com o tradicional boa-noite da Madre e do Reitor. Vivi uma experiência particular com a imprensa que me enriqueceu muito, pois, com a credencial, pude ter acesso a alguns eventos centrais, dialogar com outros comunicadores do mundo, participar da roda de conversa com o Reitor-mor, partilhar experiências com o pe. Filiberto González, SDB (responsável pelo Dicastério da Comunicação Social dos Salesianos), e com Ir. Suzana Li FMA, além de participar de entrevistas do Boletim Salesiano e da gravação da Agenzia Info Salesiana. A presença do Papa Francisco, sem dúvida, foi o ponto alto de toda a experiência de peregrinação. Com ele, vivenciamos a Acolhida, a Via Crucis, a Vigília e a Missa de envio. É o grande 24 | Em Família
Pastor que cuida, orienta, guia e protege suas ovelhas. Em suas falas e homilias pediu a todos os jovens que fossem entusiasmados e que fizessem a diferença no mundo com a própria vida. Os jovens não são o futuro, são o presente, o aqui e o agora, o agora de Deus. Não podem deixar e aceitar que outros decidam sobre suas vidas, que decidam sobre seu futuro, seus sonhos e ideais, mas é necessário o despertar para uma consciência social, cultural e política,
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para uma transformação vital. Como modelo e guia, nos ofereceu Maria que não era uma influencer – uma influenciadora digital – mas, sem querer nem o procurar, tornou-se a mulher que maior influência teve na história, porque Maria, era influencer de Deus. Com poucas palavras, soube dizer «sim», confiando no amor e nas promessas de Deus, única força capaz de fazer novas todas as coisas. Na Vigília, houve um momento especial para
nós, salesianas e salesianos, quando o Papa citou carinhosamente nosso amado santo Fundador, Dom Bosco: “Aqueles que gostam de Dom Bosco, um aplauso. Dom Bosco não foi buscar os jovens em nenhum lugar distante ou especial, mas aprendeu a ver o que acontecia na cidade, com os olhos de Deus, impressionandose com as centenas de crianças e jovens abandonados, sem escola, sem trabalho e sem a mão amiga de uma comunidade. João Bosco fê-lo e animou-se a dar o primeiro passo: abraçar a vida como ela se apresenta; e, a partir disto, não teve medo de dar o segundo: criar com eles uma comunidade, uma família onde se sentissem amados, com trabalho e estudo, ou seja, deu-lhes raízes para que se agarrassem e chegassem ao céu, para que pudessem ser alguém na sociedade, portanto, dar raízes para que se agarrem e não caiam com o vento, isso fez Dom Bosco, isso fazem os santos, isso fazem as comunidades que sabem olhar os jovens com os olhos de Deus. Vocês, adultos, animam-se a olhar os jovens com os olhos de Deus? ”. Este janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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...olhar os jovens com esperança, afeto, paciência e amor; a dedicar investimento, energias e tempo para escutá-los, acompanhá-los e ajudá-los a realizar um processo sistemático na construção do seu próprio Projeto de vida.
questionamento do Papa Francisco nos interpela, como Filhas de Maria Auxiliadora, a olhar os jovens com esperança, afeto, paciência e amor; a dedicar investimento, energias e tempo para escutá-los, acompanhá-los e ajudá-los a realizar um processo sistemático na construção do seu próprio Projeto de vida. Agradeço, de modo particular, Ir. Claudia Regina, nossa coordenadora de Pastoral Juvenil Inspetorial que, desde o início, nos incentivou a mergulhar nestas águas profundas. Ao Conselho Inspetorial por nos proporcionar vivenciar a beleza da JMJ, e, sem dúvidas, aos meus amigos peregrinos, com a presença especial do Ir. Eduardo Toledo sdb, que deu um toque especial ao nosso grupo de alegria, festa e fraternidade! “Haham!” Muitos foram os momentos vividos. Trazemos no coração essa rica e profunda experiência e, em nosso caminho o compromisso o desejo de viver fielmente a medida alta da vida: a santidade, traduzida do nosso jeito salesiano. Hasta pronto! Nos vemos em Portugal, Lisboa em 2022! Jornada Mundial da Juventude
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Bate papo com Reitor-Mor Ángel Fernández Artime durante JMJ 2019 Como Você vê a Evangelização dos Jovens por meio das Redes Sociais? E como a Igreja, os salesianos precisam se adaptar a essa nova forma de falar e de se comunicar com as Juventudes? Reitor-mor: Agradeço a pergunta porque vejo que é muito atual. Bom, eu lhes diria que se Dom Bosco estivesse vivo entre nós, em carne e osso, não tenho nenhuma dúvida de que estaria na vanguarda e desejaria empreender um caminho educativo, com a Comunicação, a serviço da evangelização, da educação, da formação porque, no século 19, ele estava à frente do seu tempo, publicando centenas de livros, difundido a leitura. Digo, com alegria, que, em nossa Família Salesiana, temos, entre os 31 grupos da nossa Família, a Canção Nova do Brasil, que tem como essência do seu carisma a evangelização por meio da Comunicação Social. E a mensagem chega a muitas pessoas. E me conecto novamente com a pergunta: assim tem que ser a nossa Família Salesiana. Em primeiro lugar, não podemos ter medo desses Meios, que não têm fim em si mesmos, mas, são Meios para a nossa missão. Existem muitos educadores e educadoras que hoje são analfabetos e, no nosso século, não podemos ser analfabetos naquilo que se refere à formação e à educação. Os jovens que encontramos ontem, cerca de três mil, na Festa do Movimento Juvenil Salesiana, são todos filhos da era digital. E ficou admirado com um jovem de 16 ano, que usava, ao mesmo tempo, vários meios e aparelhos para realizar uma gravação em vídeo e postar nas redes. Concluindo, temos que caminhar, fazendo caminho com os jovens, oferecendo a eles oportunidades que nem sempre encontram, acreditar que possuem muitos dons e capacidades digitais, mas não possuem capacidade para tomar distância e se posicionar criticamente, porque para isso se é educado e para isso precisa ser formado. É aí onde a Igreja e nós educadores temos que estar! janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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Este Que Vos Escreve Por João Carlos Teixeira
“Uma grande jornada começa sempre pelo primeiro passo”, já disse o filósofo Lao-Tsé. Pois bem, tendo já registrado o bordão inicial que faz a função de frase de efeito e que será oportunamente retomada ao fim do texto, faz-se mister esclarecer que: 1) A Jornada Mundial da Juventude do Panamá, “deste que vos escreve” não começou no Panamá, mas sim em um bairro periférico da Zona Oeste, com a Missa de envio da Delegação da Paróquia São Luís Maria Grignon de Montfort, composta por dois membros, dos quais “este que vos escreve” era o coordenador e Igor Belarmino 28 | Em Família
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(o outro membro da delegação) era o vicecoordenador, eventualmente podendo até mesmo assumir a coordenação, no caso de vacância do coordenador oficial, no caso, “este que vos escreve”; 2) A Jornada Mundial da Juventude do Panamá não foi assim tão mundial quanto se esperava, graça à modesta participação de delegações de outros continentes, que não o americano (com presença massiva), inclusive sendo digno de nota que a quantidade de peregrinos europeus era quase tão pequena quanto a da delegação da Paróquia São Luís Maria Grignon de Montfort. Com exceção dos poloneses, com uma presença tão grande que, “este que vos escreve”, pensou, mais de uma vez, que na Polônia tenha restado apenas Andrzej Duda (o presidente polonês). Assim sendo, não seria exagero dizer que a América Latina realizou uma JMJ e convidou a Polônia para participar; 3) A Jornada Mundial da Juventude do Panamá, “deste que vos escreve”, foi a primeira Jornada Mundial da Juventude em que “este que vos escreve” não estava mais considerado como juventude. Ao menos pelo IBGE. Na Missa de envio, ainda na periferia
paulistana, o providencial Evangelho que narra a epopeia de reis magos que, procurando um Menino Deus recém-nascido, chegam a um canto igualmente periférico, irrelevante para o poderoso Império Romano, mas que entrou para a geografia da salvação, por ser local em que se deu o encontro da humanidade e Deus. O perigo de se pagar com a vida fez com que os reis magos voltassem por outro caminho, evitando o conflito com Herodes que lhes havia pedido informações do ‘rei’ que surgira. Assim como a grande jornada de Baltasar, Melchior e Gaspar, o trajeto até o Panamá foi longo, tendo como destino inicial a Costa Rica, onde deveríamos participar do Dia nas Dioceses. Contudo, antes do aeroporto costarriquense de San José, o voo fez uma escala em solo panamenho. O aeroporto, já janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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tomado por peregrinos, prenunciava a tônica dos próximos dias. Mas “este que vos escreve” ainda precisava seguir viagem para o próximo país, e daí até Cartago, na paróquia de San Rafael de Oreamuno. Neste rincão, a experiência da ‘Pré-Jornada’, como ficou conhecido o evento preparatório para a grande celebração da juventude no Panamá, proporcionou uma vivência mais próxima da comunidade local e mais íntima de Deus. Para “este que vos escreve”, um momento epifânico, por excelência de encontro com Jesus presente na Eucaristia, nos irmãos e irmãs e em nós mesmos. De ônibus, cruzando por terra, a fronteira entre Costa Rica e Panamá, portanto, tendo que se submeter às surpresas do controle de imigração e todo arrepio que esta experiência pode causar, vem à mente o drama de quem deixa sua terra para não morrer de fome, de perseguição política ou de um tiro na testa simplesmente por protestar. E várias histórias atravessam quem está aberto à experiência empática do outro, mas dois episódios marcaram sobremaneira a este que lhes escreve. O primeiro é o relato de uma nicaraguense que falou do desespero de ver o país em crise e não poder sequer protestar porque o governo repreende manifestações 30 | Em Família
com tiros de verdade (!). Isto mesmo: Não são balas de borracha ou festim. São cápsulas que perfuram, ferem e matam. Isso explica o grande número de nicaraguenses na Costa Rica. Já no Panamá, enquanto almoçavam, em um restaurante conveniado, o coordenador da delegação da Paróquia São Luís Maria Grignon de Montfort e seu subcoordenador, no caso “este que vos escreve” e Igor Belarmino, presenciaram o exato momento em que um canal de notícias local reportava que Juan Guaidó se autoproclamara presidente da Venezuela. As cinco garçonetes presentes no recinto somadas a um cozinheiro choravam e diziam que agora poderiam voltar para casa. Não há imunidade para a dor do outro assim como não há ideologia que sobreviva à fome. Obviamente que substituir uma ditadura por
Artigo outra não deve ser uma opção, e, como a política é composta por astutos abutres, cada novo passo deve ser observado com precaução e desconfiança. Não há ainda como não pensar em José e Maria, refugiados em busca de um local para que seu filho fizesse o que a natureza urgia aos berros: nascer. Junto com o menino Jesus, choram crianças que foram privadas de terem seus pais por perto, em uma certa nação ao norte, acusadas de serem imigrantes ilegais. É estúpido ainda conceber um planeta em que linhas imaginárias tenham a pretensão de determinar a qualidade das pessoas. Neste sentido, Francisco em seu primeiro discurso na JMJ, enfaticamente critica os “construtores de muros que semeiam o medo e procuram dividir” em vez de construírem pontes, que ligam, unem e congregam. Na diversidade de línguas, culturas, etnias e costumes, entre um cambio de um chaveiro e outro, o que se percebe é que a linguagem do amor e do encontro são universais. A alegria do encontro: com o outro, consigo mesmo, com Deus: Não há ouro, mirra ou incenso que valha mais aos olhos do menino Deus recém-nascido. Cristo nasce em cada um que promove a cultura do encontro, seja na periferia de São Paulo, em Cartago ou no Panamá. Por isso, sua existência é desafiadora porque contesta tratados assinados em gélidos gabinetes. Malditos sejam! E assim como começa toda jornada deve terminar. A jornada “deste que vos escreve” foi forçada a retornar à Costa Rica (de onde sairia o voo de volta a São Paulo). Houve uma tentativa de se retornar diretamente do Panamá, haja vista que o mesmo voo faria escala neste país. Não que “este que vos escreve” não tenha gostado
da Costa Rica e não queria rever os amigos feitos aí, mas é que as 18 horas de viagem, em um ônibus com 19 centímetros de espaço entre bancos, faz qualquer viajante com um metro e oitenta repensar o valor das amizades. Mateus escreve, em seu Evangelho, que os reis magos fizeram outro caminho após encontrar Jesus. De tão espetacular, a volta deste encontro não pode se dar pelo mesmo caminho. Não se pode fazer o mesmo trajeto, caminhar por sobre os próprios passos e repetir os mesmos erros. No entanto, os 500 dólares, exigidos pela companhia aérea para embarcar direto para o Brasil, fizeram com que “este que vos escreve” concluísse que 19 centímetros não representam nada para quem valoriza suas amizades. Se a companhia aérea impossibilitou a imitação dos reis magos, modificando o caminho de volta, “este que vos escreve” contentou-se com a linguagem figurada do texto sagrado, ao notar que, quando tocou o solo, pela primeira vez em São Paulo, após quase vinte dias, não era mais o mesmo da última vez que havia pisado naquele chão, pois, se ninguém volta o mesmo depois do encontro com Cristo, não seria diferente com “este que vos escreve”.
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A Santidade na escola de Dom Bosco ALDO GIRAUDO, SDB - UPS (ROMA) | Traduzido por Ir. Vilma Bertini - 1º parte
Para entender a ideia que Dom Bosco possuia sobre santidade, não podemos deixar de contar um fato, por ele mesmo narrado, na Vida de São Domingos Sávio. Um jovem, recém-chegado à comunidade de Valdocco, durante o recreio, estava observando os jogos de seus companheiros. Era Camillo Gavio, de aparência frágil, pálido e um olhar bastante sério. Sofria de problemas cardíacos e achava-se em convalescência. Domingos, sempre atencioso, aproximou-se, começou a conversar com ele e perguntou-lhe o motivo de sua tristeza. Fiquei doente. Tive tanta palpitação de coração que quase morri e ainda não estou curado. Você gostaria de sarar, não é mesmo, disse Domingos. “Não é bem assim, desejo fazer 32 | Em Família
a vontade de Deus”. Esta afirmação inesperada revelou a Domingos, a maturidade espiritual do companheiro e, por isso, continuou a conversa dizendo: “quem deseja fazer a vontade de Deus deseja santificar-se” (cf. 1Ts. 4,3); então, você quer mesmo ser santo? “Este é o meu grande desejo, mas não sei o que devo fazer! “Vou lhe contar em poucas palavras”, respondeu Domingos. “Nós, aqui, fazemos consistir a santidade em estarmos muito alegres” (Vite, 84) Quando citamos este fato, normalmente paramos aqui. Gostamos desta bela e significativa afirmação, desta definição alegre da santidade salesiana e a consideramos suficiente para expressar o tipo de perfeição cristã promovido por Dom Bosco. Esquecemos
Artigo que a conversa de Domingos continuava, sugerindo um programa de santidade muito bem articulado e exigente. “Nós procuraremos apenas evitar o pecado, como um grande inimigo que nos rouba a graça de Deus e a paz do coração; procuraremos cumprir exatamente os nossos deveres e participar das práticas de piedade. Escreva hoje mesmo para lembrar-se: Servite Domino in laetitia, sirvamos o Senhor em santa alegria” (Vite, 84). Nestas frases, está condensado todo o ensinamento espiritual de Dom Bosco. Ele estava realmente convencido de que o “estar muito alegres” era fruto da graça divina que, inunda e plasma o coração e a mente de quem se decide a colocar Deus no centro da própria vida, na doação radical de si, animado pela caridade e, portanto, não se preocupa apenas em evitar o menor pecado, mas ficava vigilante e ativo para discernir e realizar sempre a divina vontade e para cumprir, com amor, todos os seus deveres cotidianos -especialmente aqueles próprios de seu estado de vida-. Estes deveres, ele os realiza com a solicitude, a exatidão e a amabilidade derivadas de um verdadeiro desapego do coração das coisas do “mundo”, dos próprios interesses, para poder doar- se, em total liberdade, a Deus e aos irmãos, sempre disponível e feliz em fazer “o que agrada a Deus” (como diria São Francisco de Sales), de poder servi-Lo com amor e alegria espiritual. Só quem está unificado interiormente pela caridade pode servir o Senhor na alegria, como a Virgem Maria: “Eis-me aqui, sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38) - e como o Cristo que doou-se a si mesmo pela salvação da humanidade -“Eis. Eu
venho ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,7). A dedicação a Deus, origem de todo bem, é fonte de felicidade plena e duradoura. Assim, a bela afirmação de Domingos Sávio adquire o seu pleno significado somente quando nós a colocamos em um contexto mais amplo: do diálogo completo em que foi pronunciada, do caminho espiritual do jovem santo, da proposta formativa articulada por Dom Bosco aos jovens e do fervoroso ambiente educativo do Oratório, daqueles anos Apesar de ter sido inspirada em várias tradições espirituais cristãs, sobretudo, na de São Francisco de Sales e de Santo Afonso de Liguori, a santidade, ensinada por Dom Bosco, tem uma conotação inconfundível e é fruto de um processo espiritual caracterizado por passos progressivos, numa tensão crescente, orientada para a plenitude da caridade, marcado por alguns momentos decisivos e por situações especiais: o empenho batismal; a inclinação natural; a mortificação pessoal; o viver na presença de Deus 1.“ENTREGAR-SE TOTALMENTE.
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Já na primeira edição do “Jovem Instruído”, constatamos o esforço de Dom Bosco para ensinar aos rapazes do Oratório que somos verdadeiramente felizes, realizados em todas as nossas potencialidades, apenas quando nos doamos a Deus, isto é, “desde jovem”, quando nos convertemos a Ele com todo o nosso ser, sem deixar a conversão para uma idade avançada porque “se nós começamos a viver bem agora, que somos jovens, seremos bons na vida adulta e na hora da morte, início da eterna janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Artigo felicidade” (GP 67). “Coragem, portanto, meus queridos, dai-vos logo à virtude e vos garanto a alegria de servir ao Senhor” (GP, 13). “Praticar a virtude” (isto é, viver bem e santamente) e “servir o Senhor”, é antes de tudo fruto de uma tomada de consciência. De uma iluminação interior e da consequente decisão de sair da indiferença, da mediocridade ou do hábito de pecar; mudar de vida e comportar-se como autênticos cristãos, verdadeiros discípulos de Cristo. Dom Bosco empregou todas as suas habilidades para fazer nascer, no coração e na mente dos jovens, este desejo e esta determinação. De fato, sem esta decisão, sem esta mudança radical do “homem velho para o homem novo”, não existe vida cristã nem se pode fazer algum progresso no caminho da perfeição evangélica. Dom Bosco intuía ser esta a essência de sua missão, uma missão recebida, quando ainda era um menino, como lemos na história do sonho dos nove anos: “Comece imediatamente a instruí-los sobre a feiura do pecado e a preciosidade da virtude”, “com mansidão e caridade” (MO 62). Tal objetivo o guiou, ao longo de toda a sua vida, e buscou concretizá-lo apaixonadamente: - iluminando a mente dos jovens mediante a educação, o raciocínio, a explicação da Palavra de Deus e a leitura espiritual; - conquistando o coração dos jovens com o acolhimento amoroso e cordial, a verdadeira amizade, o afeto demonstrado, com um amor desinteressado, operativo e com a dedicação educativa; - atraindo-os com sua fascinante personalidade, sua realização pessoal, com o exemplo luminoso de sua própria vida unificada e potencializada pela caridade; - inserindo-os em ambientes educativos positivos, fervorosos e agradáveis, em comunidades juvenis acolhedoras, serenas e ricas de estímulos, adaptadas às necessidades e expectativas concretas dos jovens; - fazendo-os experimentar concretamente, mediante o sacramento da reconciliação, a alegria e a beleza da vida da graça; - sustentando-os passo a passo com uma assistência atenta, comunitária e personalizada, com um eficaz acompanhamento educativo e espiritual, no caminho da purificação do coração e da mente, da construção das virtudes, do gosto pela oração e da união com Deus, da comunhão transfigurante com Cristo Eucarístico, da afetividade e da oblatividade nas relações e da operosidade humana.
Assim, eles chegavam verdadeiramente a experimentar e compreender a beleza e a alegria de serem cristãos, a “preciosidade da virtude”, de um estilo santo de vida, em contraposição à “feiura” de uma vivencia medíocre, mesquinha e pecaminosa. O que Dom Bosco desejava encaminhar era, portanto, um processo voltado à plena realização da vocação pessoal de cada jovem, em nível humano e interior, que conseguisse, ao mesmo tempo, quebrar resistências e bloqueios interiores, libertar energias espirituais e morais, dar um equilíbrio sólido e favorecer a plena expansão de todas as potencialidades. Assim, Dom Bosco ajudava os jovens a entrar decididamente no caminho batismal que lhes 34 | Em Família
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permitia assumir, com firmeza de vontade e generosa doação, as promessas do batismo, concretizando-as eficazmente na vida cotidiana: a renúncia a satanás e a todas as suas obras, às seduções do pecado, às atrações do mal. E a fé em Deus Criador e Pai, em Jesus Redentor, mestre e modelo, no Espirito santificador. Desta forma, dava a eles o sentido concreto do primeiro mandamento: “Eu sou o Senhor teu Deus. Não terás outro Deus fora de mim”; “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente” (Mt. 22,37). Os ajudava a fazer de tal modo que Deus fosse realmente o centro unificador de todo o ser, no seguimento de Cristo. A Vida de Miguel Magone mostra toda a eficácia desta pedagogia cristã: o simpático encontro com Dom Bosco que: o acolhe amorosamente e lhe oferece a oportunidade de sair de uma situação de pobreza e perigo; o coloca em um ambiente positivo, estimulante e animado; o ajuda com respeito a “desfazer os nós de uma consciência emaranhada”; mostra-lhe o caminho mais simples e eficaz para assumir a própria vida, colocando-a em ordem. Tudo isto progressiva e docemente. Assim, Miguel se abre à conversão; nasce nele a determinação de “abandonar o demônio” (Vidas, 122) e “entregar-se a Deus”; chega a saborear a feliz experiência da vida da graça que, pouco a pouco, mediante uma diligente correspondência, amadurecerá e transfigurará a sua personalidade. A conversão de Miguel Magone assinala o início de uma vida radicalmente nova e santa, animada por um elã generoso e impressionante. Na vida de Domingos Sávio está amplamente documentada a determinação batismal, os propósitos da primeira comunhão que culminam na decisão radical: “A morte mas não pecado” (Vite, 46), retomados e confirmados no dia 8 de dezembro de 1854: “Maria eu vos dou meu coração; janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Artigo fazei que ele seja sempre vosso”. Jesus e Maria sede sempre vós os meus amigos, mas por piedade, fazei-me antes morrer do que cair na desgraça de cometer um só pecado (Vite, 57)estes propósitos se tornam a essência de sua oração: “Sim, meu Deus, eu já vos disse e repito, eu vos amo e quero amar até morrer. Se vedes que eu vos ofenderei, mandai-me a morte. Sim, antes morrer que pecar” (Vite, 90)- e serão confirmadas no leito de morte: “Repito e mil vezes o direi: antes morrer que pecar” (Vite, 98). É o mesmo percurso de totalidade que caracterizou o caminho espiritual do próprio Dom Bosco, como podemos intuir nas páginas das Memórias do Oratório, quando descreve a sua primeira comunhão e as recomendações de sua mãe: “Estou persuadida de que Deus, realmente, tomou posse do teu coração. Promete-Lhe fazer tudo quanto estiver ao teu alcance para te conservares bom, até o fim de tua vida...” (Vite, 69) ; quando revela a fecundidade interior de sua entrega ao acompanhamento espiritual de Dom Calosso: “Naquele tempo comecei a saborear o que é a vida espiritual...” (MO 71); quando, sobretudo, narra a entrega radical de si mesmo a Deus, no momento da vestição clerical: No dia de São Miguel (outubro de 1834) aproximei-me dos santos sacramentos, em seguida, o teólogo Cinzano, pároco e vigário foraneo de minha terra natal, abençoou minha batina e me vestiu como clérigo antes da missa solene. Quando me disse para depor as vestes seculares com as seguintes palavras “Exuat te Dominus veterem hominem suis”, disse em meu coração: ”Oh, quanta roupa velha preciso tirar”. “Meu Deus, destruí em mim todas as minhas más inclinações”. 36 | Em Família
Quando, ao entregar-me o colarinho acrescentou: “Induat te Dominus novum hominem, qui secundum Deum creatus est in iustitia et sanctitate veritatis!” senti-me profundamente comovido e acrescentei de mim para mim: Sim, meu Deus, fazei que, neste moment,o eu me revista de um homem novo, isto é, que a partir deste momento eu comece uma vida nova, inteiramente de acordo com a divina vontade e que a justiça e a santidade sejam o objeto constante dos meus pensamentos, das minhas palavras e ações. Assim seja. “Oh Maria, sede a minha salvação!” (MO 101) O deixar as vestes seculares para vestir a batina, a contraposição entre o homem velho e o homem novo acompanhado pela decisão de iniciar uma “vida nova, totalmente de acordo com a divina vontade” isto é, orientada à plena realização da vontade de Deus e constantemente voltada à justiça e à santidade, constituem uma chamada eficaz à mudança de vida exigida pelo batismo e pelo seguimento de Cristo. Foi uma drástica ruptura com seu estilo de vida anterior (que, segundo as palavras do próprio Dom Bosco, não era ruim, “mas dissipado e orgulhoso’), ainda mais acentuado pela narração do desgosto sofrido durante o banquete em que o pároco o levou após a vestição. “Que companhia poderia oferecer essa gente a quem, na manhã daquele mesmo dia, havia vestido o santo hábito para entregarse totalmente a Deus?” (MO 102) A decisão pela conversão, embora sincera e total, sozinha, não basta. É necessário passar por uma concreta reforma moral da própria existência e a uma real mudança de mentalidade. Nas Memórias Dom Bosco é bastante claro: “Depois daquele dia, deveria cuidar de
Artigo mim mesmo. A vida levada, até então, devia ser radicalmente reformada. Não que, nos anos passados, tivesse sido abominável, mas dissipada, vaidosa, dada a jogos, saltos, brinquedos e coisas semelhantes que alegravam momentaneamente, mas não satisfaziam o coração. Para traçar um projeto de vida estável e não esquecê-lo, escrevi as seguintes resoluções [...] (MO – 102) A esta altura, estão elencados sete empenhos ou propósitos relacionados àquelas atitudes que Dom Bosco julgava não condizentes com uma vida de total consagração: 1. Fuga das ocasiões de dissipação, de dispersão e vã glória; 2. Vida mais “retirada”, amada e praticada (entendida como vida de recolhimento espiritual, modesta, isolada, laboriosa); 3. Temperança e sobriedade; 4. Empenho para adquirir uma cultura religiosa, em contraposição àquela profana, como forma para “servir” o Senhor; 5. Preservação da virtude da castidade “com todo o meu empenho”; 6. Espírito de oração; 7. Exercício cotidiano de conversas pastorais para a edificação do próximo (MO 102-103). A conclusão da narrativa lembra a promessa para imprimir na alma o propósito de servir a Deus que Francisco de Sales coloca no ápice do caminho de purificação para confirmar a opção de servir somente a Deus: “Para que [aqueles propósitos] me ficassem bem impressos -escreve Dom Bosco- fui prostrar-me diante da imagem de Nossa Senhora, os li para Ela, e, depois de ter rezado uma prece, prometi formalmente à celeste Benfeitora observálos a custo de todo e qualquer sacrifício” (MO 103). O Santo de Savoia, de fato, ligava a conversão à “vida devota”, a uma vivência cristã radical, como uma decisão pessoal e renovação da promessa de fidelidade feitas, em meu nome, a Deus por ocasião do batismo” (Filotea, parte 1, cap. XX). janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Dom Bosco declara que todos podem e devem se tornar santos, basta querer; em cada estado de vida isto é possível: é suficiente “fazer bem todas as coisas”, viver como bons cristãos na caridade, colocar em prática o evangelho no cotidiano da vida, suportando e sofrendo tudo por amor a Deus, e tudo oferecendo a Ele. 2. É FÁCIL TORNAR-SE SANTOS Na antropologia teológica de Dom Bosco, o homem é criado por Deus para a santidade e para a comunhão amorosa com Ele, uma comunhão que encontrará sua plenitude na eternidade, mas, que é possível já nesta vida. Ele estava convencido que, cada pessoa, também o jovem mais pobre e menos dotado é chamado à santidade e pode, realmente, tornar-se santo. Na introdução de um dos primeiros volumes das “Leituras Católicas”, a Vida de santa Zita, empregada doméstica e de Santo Izidoro, camponês (1853), Dom Bosco escreve: ... “ Ó vós todos que trabalhais, que sois cumulados por sofrimentos e provações, se quiserdes encontrar uma fonte inextinguível de consolações, se quiserdes tornar-vos felizes, sede Santos! “Tornar-se santo” direis vós, quem 38 | Em Família
pode aspirar a isso? Precisaria ter tempo para entreter-se em contínuas orações, e na igreja; precisaria ser rico para poder fazer grandes esmolas; precisaria ser culto para poder compreender, estudar e argumentar. Esta perigosa ilusão é um grande erro, queridos e bons amigos. Para tornarmo-nos santos não precisamos ser donos do nosso tempo, nem sermos ricos nem literatos. [...] Então do que precisamos afinal, para sermos santos? De uma só coisa: precisamos querer. Sim, desde que vós queirais, podeis ser santos; não vos falta nada, além da do querer. Os exemplos dos Santos, cuja vida estamos prestes a colocar sob vossos olhos, são de pessoas, que viveram em precárias condições, entre trabalhos de uma vida ativa. Operários, agricultores, artesãos, mercadores, empregados, jovens se santificaram no próprio estado de vida. E como se santificaram? Fazendo bem tudo o que deviam fazer. Todos cumpriam os próprios deveres para com Deus, sofrendo tudo por seu amor, oferecendo a Ele seus sofrimentos e dificuldades: Esta é a grande ciência da saúde eterna e da santidade” (Santa Zita, 6-7) Dom Bosco declara que todos podem e devem se tornar santos, basta querer; em cada estado de vida isto é possível: é suficiente “fazer bem todas as coisas”, viver como bons cristãos na caridade, colocar em prática o evangelho no cotidiano da vida, suportando e sofrendo tudo por amor a Deus, e tudo oferecendo a Ele. Esta declaração do chamado universal à santidade e da facilidade em realizá-la impressionou profundamente Domingos Sávio. Fazia seis meses que o menino Sávio morava, no Oratório, quando ouviu um sermão sobre o modo fácil de se tornar santo. O pregador
desenvolveu especialmente três pensamentos que calaram profundamente na alma de Domingos, ou seja: é vontade de Deus que todos sejamos santos; é muito fácil conseguir isso; é um grande premio preparado no céu para quem se torna santo. Aquela pregação para Domingos, foi como uma centelha que inflamou seu coração de amor de Deus (Vidas, 61). As particulares condições interiores em que se encontrava Domingos que, poucos meses antes, havia renovado sua doação ao Senhor, explicam o profundo efeito que aquela pregação lhe causou. Não foi apenas uma reação entusiasmada, diante de uma bela explanação, mas, como explica claramente Dom Bosco, foi uma experiência mística: “Aquela pregação, para Domingos, foi como uma centelha que inflamou seu coração de amor de Deus” O diálogo que se seguiu o confirma e as histórias relatadas, ao longo do capítulo, demonstram que não era um entusiasmo passageiro ou um voluntarismo movido pelas argumentações convictas do pregador. Foi uma irrupção do Espírito na alma de Domingos, um incendium amoris (para usar o belo titulo do De tríplice via de São Boaventura), um incontido transbordamento da divina caridade num coração purificado e incondicionalmente disponível aos “trabalhos da divina graça”. Domingos, portanto, não apenas sentia o “desejo” e “a vontade”, mas tinha “absoluta necessidade” de tornar-se santo, não podia resistir a esta atração tão forte da graça. Certamente, a sua foi uma experiência única, mas é interessante notar como Dom Bosco
orientou este enorme desejo que o rapaz não sabia administrar. À pergunta: “diga-me então o que devo fazer para começar esta tarefa”, o santo educador respondeu reconduzindo-o à vida diária. Eu louvei o propósito dele, mas o exortei a não se afligir, porque nas perturbações do espírito não se conhece a voz do Senhor; que, pelo contrário, eu queria que mantivesse uma constante e equilibrada alegria e assim, orientando-o a ser perseverante no cumprimento de seus deveres de piedade e de estudo, recomendei-lhe que não deixasse de participar sempre dos recreios com seus companheiros (Vite, 62). Ou seja, também nesta situação espiritual particularíssima e privilegiada, Dom Bosco repete o que costumava dizer a todos: a santidade não é algo de extraordinário e difícil; é construída no cotidiano, vivendo como bons cristãos, no cumprimento fiel e amoroso dos deveres do próprio estado que, no caso de Domingos, eram aqueles próprios de um jovem estudante do Oratório: estudo, piedade, obediência, bondade para com todos, pureza, fraternidade e alegria. Entre os companheiros, espirito de caridade e de serviço. O mesmo programa está apresentado na biografia de Miguel Magone e na de Francisco Besucco, em que se encontra sintetizada uma fórmula muito feliz: “Alegria, estudo, piedade. Este é o grande programa que, se você o praticar, poderá viver feliz e fazer grande bem à sua alma” (Vite, 195).
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A voz dos jovens no Sínodo dos Bispos Ir.Celene Couto Rodrigues A XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada de 3 a 28 de outubro de 2018, em Roma, com o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, foi um verdadeiro chamado do Papa Francisco para escutar os jovens, ouvir seus clamores e aprender com eles. Um tempo de Pentecostes eclesial que trouxe consigo seu típico frescor e entusiasmo juvenil. A participação in loco dos jovens contribuiu para despertar a sinodalidade de modo muito concreto, partindo das realidades em 40 | Em Família
que vivem e da rotina diária com todos os seus cansaços e esperanças. A forma sinodal da Igreja se faz visível, exatamente nessas realidades, e é a modalidade certa para o anúncio e a transmissão da fé. Como resultado de um verdadeiro trabalho de equipe dos padres sinodais, juntamente com os jovens, foi elaborado o Documento Final do Sínodo sobre os jovens e aprovado pelo Papa Francisco na tarde do 27 de outubro, na sala do Sínodo¹.
Artigo O clima sinodal permitiu aos bispos e aos jovens participantes abertura para dialogar e expressar mutuamente seus sonhos, angústias, desejos, fragilidades, alegrias e sentimentos. Muito se tem falado sobre o documento final do Sínodo sob diferentes perspectivas, mas o que realmente consiste na fala expressa dos jovens e qual é a fala da Igreja? Sendo assim, uma vez que o caminho sinodal não está finalizado, mas apenas foi iniciado, esse singelo artigo, não tem como propósito esgotar o assunto, mas sim, tem o objetivo de apresentar propositivamente a voz dos jovens, no Documento Final do Sínodo, e apresentar pistas de reflexões e ações iluminadas pelo Sistema Preventivo de Dom Bosco.
relacionado com a forma com que se percebe o mundo e a si mesmo. Os jovens apontam a necessidade de ser Igreja e sentem que suas vozes não são consideradas interessantes nem úteis no âmbito social e eclesial, sobretudo a dos mais pobres e explorados ( cf. Df nº7). Alguns jovens, “sentem as tradições familiares como opressivas e abandonam-se sob a pressão de uma cultura globalizada que, às vezes, os deixa sem pontos de referência” (Df nº7). Afirmam também, que se sentem “tentados a concentrar-se na fruição do presente, tendendo por vezes a prestar pouca atenção à memória do passado donde provém e, de modo particular, dos numerosos dons que lhe foram transmitidos pelos pais, pelos avós e pela bagagem cultural em que 1- PERCEBENDO AS CONJUGAÇÕES vivem” ( Df nº35). VERBAIS JUVENIS Ressaltam ainda que se consideram nas mãos No Documento Final do Sínodo, percebemos de um destino já escrito e sem condições de a voz dos jovens, principalmente, a partir de mudança, ao ponto de sentirem-se dominados três verbos: sentir, manifestar e pedir. Tais por um ideal abstrato, que não toca em verbos nos apresentam uma análise do perfil profundidade as suas vidas, caracterizado por dos jovens de hoje, possibilitando- nos pensar um contexto de competição desordenada e em ações concretas e inculturadas para seus violenta (cf. Df nº91). itinerários. Apontam o fascínio pela gradual aventura da 1.1- VERBO SENTIR descoberta de si mesmos (cf. Df nº77), o desejo de viver os valores cristãos e de colocar os seus Semanticamente, segundo o dicionário dons a serviço do Reino de Deus, por meio de língua portuguesa, Aurélio, sentir é ter a de suas escolhas profissionais e vocacionais. sensação, perceber através dos sentidos, ter Sendo assim, constata-se que muitos jovens consciência, conceber, pressentir, adivinhar e “vivem a orientação profissional num horizonte intuir. É ser afetado por alguma coisa e sofrer vocacional”( Df nº77). Por essas razões, sentem as consequências. Entender emocional ou a necessidade de terem adultos disponíveis e intelectualmente, ter sentimentos e apreciar capazes de os acompanhar (cf. Df nº7). a beleza, ou seja, está intrinsicamente janeiro | fevereiro | março e abril 2019
1.2- VERBO MANIFESTAR
Demonstram interesse e abertura ao transcendente e declaram que, em determinadas culturas, muitos, consideram a religião como uma questão privada e selecionam, a partir de diferentes tradições espirituais, os elementos em que descobrem as próprias convicções, caracterizando assim, uma pluralidade religiosa subjetiva (cf. Df nº49) e não comunitária.
Etmologicamente, a origem da palavra manifestar vem do latim manifestare que consiste em dar a conhecer, tornar público, declarar, revelar, divulgar, demonstrar e comunicar. Sendo assim, podemos afirmar que manifestar é a ação empírica do sentir, pois permite que desejos, sentimentos e pensamentos mais profundos tornem-se públicos, ou seja, revelados à partir do ponto Também, revelaram o desejo que muitos de vista da pessoa humana, em nosso caso, jovens têm de conhecer melhor a própria fé, dos jovens. descobrir suas raízes bíblicas, compreender o desenvolvimento histórico da doutrina, o Em relação ao proferimento de suas sentido dos dogmas e a riqueza da liturgia (cf. necessidades, os jovens afirmam que estão Df nº160). Mostraram-se capazes de apreciar e numa busca progressiva do sentido perene viver com intensidade celebrações autênticas, de suas vidas. Exprimem o desejo de serem nas quais a beleza dos sinais, o cuidado da ouvidos, reconhecidos e acompanhados (cf. pregação e o envolvimento comunitário falam Df nº7), pois apresentam necessidade de ajuda realmente de Deus (cf. Df nº134). para unificar a própria vida e reconhecem o discernimento como instrumento fundamental Para eles, a oração, é “um momento para estabelecer uma leitura das experiências privilegiado de experiência de Deus e da cotidianas (cf. Df nº141). comunidade eclesial e um ponto de partida para a missão” (Df nº51). Em contrapartida, Manifestam gratidão aos que já os têm apontam que, em muitos lugares, “assisteacompanhado, lamentam a carência de pessoas se um certo afastamento dos sacramentos e experientes e dedicadas ao acompanhamento da Eucaristia dominical, sentida mais como (cf. Df nº9) e reiteram a grande necessidade de preceito moral do que um feliz encontro com modelos (cf. Df nº31), verdadeiros referenciais, o Senhor Ressuscitado e com a comunidade” “de santos que formem outros santos” (Df nº166) (Df nº51). e que possam os ajudar a trilhar um caminho de vida e vida em abundância (Jo10,10) que Reconhecem Jesus, “como Salvador e caracteriza o caminho de santidade sonhado Filho de Deus e com frequência sentem-se por Deus para cada um, revelando assim, que próximos d’Ele por meio de Maria, sua Mãe, “a santidade é o rosto mais belo da Igreja” comprometendo-se num caminho de fé. (Francisco, Gaudete et exsultate, n. 9). Outros, não mantêm uma relação pessoal com Ele, mas consideram-no um homem bom e 42 | Em Família
uma referência ética. Outros ainda, encontramno por meio de uma forte experiência do Espírito. Contrariamente, para outros constitui uma figura do passado, desprovida de relevância existencial ou muito distante da experiência humana” (Df nº50). Contudo, afirmam que são sensíveis à figura de Jesus, dependendo da forma atraente e eficaz como Ele é apresentado (cf. Df nº50). Confere-se que, habita, também hoje, no coração de muitos jovens, que são membros vivos da Igreja, o desejo pela verdadeira beleza. Sendo assim, demonstram a paixão de buscar a verdade, o encantamento por perceber o mundo através dos olhos de Deus, a capacidade de partilhar e a alegria do anúncio (cf. Df nº116).
o ensejo de que, na Igreja, se adote um estilo de diálogo menos paternalista e mais franco, porporcionando-lhes mais protagonismo nos processos decisórios das ações eclesiais. Querem ser envolvidos e valorizados para se sentirem protagonistas da vida e missão da Igreja (cf. Df nº119).
Ao analisar a importância de grandes eventos religiosos, reconhecem e valorizamnos como oportunidades de se realizar uma verdadeira experiência de transfiguração, que permite captar a beleza do rosto do Senhor, e, a partir daí, fazer importantes opções de vida. Desse modo, certificam-se de que os melhores frutos destas experiências recolhem-se na vida cotidiana e é esse o cerne que une a fé e a vida A Igreja transparece, aos olhos de muitos (cf. Df nº142), pois o trabalho é, para muitos, jovens, como uma instituição que impõe “uma ocasião para reconhecer e valorizar os regras, proibições e obrigações (cf. Df nº73). dons recebidos” (Df nº86). Expressam assim, o desejo de receber da Apresentaram seu protagonismo por meio Igreja uma palavra clara e cheia de humana empatia (cf. Df nº39). Entre as expectativas de iniciativas que oferecem a oportunidade de dos jovens, destaca-se, de maneira especial, experimentar a convivência entre membros janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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de religiões e culturas diferentes, para que 1.3- VERBO PEDIR todos, num clima de convivialidade e respeito pelas respetivas crenças, sejam atores dum Os pedidos dos jovens aparecem de forma compromisso comum e compartilhado na explícita em três demandas específicas: sociedade (155). quanto às minorias, quanto à formação da pessoa em suas diferentes dimensões e Demonstraram o desejo explícito de quanto à necessidade de uma espiritualidade diálogo e crescimento da unidade entre de comunhão. as comunidades cristãs separadas (cf. Df nº156) e, nas “questões relativas à diferença 1.3.1- MINORIAS entre identidade masculina e feminina, à reciprocidade entre homens e mulheres e à Os jovens pedem para ser acolhidos e homossexualidade” (Df nº39). respeitados na sua originalidade (cf. Df nº45) e, Com efeito, “os jovens desafiam a Igreja solicitam maior reconhecimento e valorização a ser profética neste campo, com as palavras, das mulheres na sociedade e na Igreja (cf. Df mas, sobretudo por meio de opções que nº55). No que diz respeito à promoção da mostrem a possibilidade duma economia justiça, rogam um compromisso decidido e amiga da pessoa e do meio ambiente” (Df coerente, que ponha fim em toda a conivência nº153). Afirmam a necessidade de se viver com a mentalidade mundana (cf. Df nº46). coerentemente as finanças e as relações para que, ao estarem na Igreja sendo Igreja, possam 1.3.2- FORMAÇÃO se sentir, simplesmente, em casa. Cabe ressaltar que, a formação para os jovens participantes é entendida como um processo 44 | Em Família
Artigo integral da pessoa, e apontam a necessidade do ensino básico (cf. Df nº158) que desenvolve competências técnicas e intelectuais, por isso, solicitam tal empenho da Igreja nessa área. Mas, também, faz parte desse mesmo processo, o acompanhamento, afim de ajudá-los a descobrir o sentido de suas vidas (cf. Df nº93). Nesse contexto, seus pedidos são: o acompanhamento por parte de sacerdotes, religiosos e religiosas; a educação ao discernimento para aprender aproveitar as oportunidades e descartar os riscos (cf. Df nº145) e a qualificação da figura dos acompanhadores (cf. Df nº101). 1.3.3- ESPIRITUALIDADE DE COMUNHÃO Os jovens pedem que a Igreja resplandeça por autenticidade, exemplaridade, competência, corresponsabilidade e solidez cultural (cf. Df nº57), pedem para caminhar com a Igreja (cf. Df nº119), afim de enfrentarem juntos os desafios da evangelização atual e, que exista diálogo com todas as pessoas indistintamente, “não para receber uma fatia do poder, mas a fim de contribuir para o bem comum” (132), ou seja, “nos pedem para avançar rumo à plena comunhão” (Df nº156). Nesse sentido, pedem propostas de oração e momentos sacramentais capazes de tocar suas vidas, no cotidiano, por meio de uma liturgia dinâmica, autêntica e jubilosa (cf. Df nº51). Há, também, alguns jovens que “pedem expressamente para ser deixados em paz, uma vez que sentem a sua presença como importuna e até mesmo irritante” (Df nº156).
2- BASTA QUE SEJAIS JOVENS! Como iria doer no coração dos nossos fundadores o pedido desses jovens para serem deixados em paz (cf. Df nº156)! Certamente, Dom Bosco responderia a eles: “Basta que sejais jovens para que eu vos ame” (AUBRY, 2014) pois tinha a convicção de que, “o amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor,13, 4-7). Mas, também, como iriam se sentir impelidos com as manifestações e pedidos que revelam a sede de absoluto da juventude! O relato da cronistória volume II, nos permite imaginar tamanho encantamento e metodologia de Madre Mazzarello pela abertura do coração dos jovens ao transcendente: “…admirava a candida ternura de uma alma sem dobras. Observava-a de longe, deixando que agisse livremente…” (pág.28) O Sínodo dos bispos sobre os jovens nos provoca a entrar no coração de Dom Bosco e Madre Mazzarello a fim de perceber seus movimentos interiores e fazer deles, escola que configura o nosso coração ao de Jesus Cristo. “Uma educação na linha da experiência de Dom Bosco e Maria Domingas Mazzarello sabe descobrir as enormes potencialidades de bem, orientá-las para metas de comunhão e de partilha, partindo do conhecimento real dos problemas em escala mundial, como o progressivo empobrecimento do planeta janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Artigo e o domínio da cultura mediática...Daqui a importância de conhecer as coordenadas para uma leitura crítica do mundo juvenil que, com poucas exceções, se unem em algumas constantes: a sociedade multicultural, a vida paralela, o mundo virtual, a pluripertença, a precariedade, a busca de espiritualidade” (LOME, 2006). O fruto dessa experiência mística e educativa é o amor preferencial pelos jovens, sobretudo pelos mais pobres. Consiste em nossa essência carismática e parte do princípio do direito fundamental de cada pessoa a uma vida digna e, portanto “interpela a responsabilidade social de cada um com relação à destinação universal dos bens” (FMA, 2007). Podemos nos perguntar: quais os verbos que Dom Bosco e Madre Mazzarello conjugariam a partir da conjugação dos jovens de hoje? E quais os verbos que, a exemplo de nossos fundadores, conjugamos à partir da conjugação juvenil no documento final do Sínodo sobre os jovens? 3-EVANGELIZAR E EDUCAR: EIS OS VERBOS QUE CONJUGAMOS! Evangelizar e educar são os verbos conjugados por Dom Bosco e Madre Mazzarello e como forma de gratidão à essa herança carismática, recebida gratuidamente, devemos assumir a missão de conjugar com as nossas vidas, no hoje da história, esses dois verbos de forma criativa, atraente e inculturada.
Mazzarello implica garantir sempre o caráter de boa nova e os ares frescos da novidade da espiritualidade juvenil salesiana. Para responder aos desafios da realidade cultural, deverá fundamentalmente se orientar na defesa da vida e da cultura dos pobres. Sendo assim, não nos cabe hegemonizar o processo cultural, mas se associar a outros atores sociais, que almejam os mesmos objetivos e seguem ideiais evangélicos, na busca da constituição do sujeito histórico, capaz de construir uma sociedade distinta, mais habitável e fraternal para todos, ou seja, formar um bom cristão e um honesto cidadão. Nesse sentido, na Jornada Mundial da juventude no Rio de Janeiro, o Papa Francisco clamou aos jovens: “queridos jovens, por favor não olheis o mundo de cima do balcão! Ide ao encontro do mundo! Jesus não ficou em cima do balcão. Ele mergulhou... Mergulhai na vida como Jesus fez” (2013)². Os pedidos dos jovens, elencados anteriormente, nos revelam que não desejam apenas assistir aos acontecimentos do mundo, mas sim, desejam e buscam o protagonismo na sociedade e na Igreja. Concomitante sinalizam que a dimensão libertadora da educaçãoevangelização só emergirá se nos situarmos na mesma posição em que Jesus se situou, do lado dos últimos e do reverso da história e, para isso, precisamos apresentar Jesus de Nazaré de forma atrativa e encantadora.
“À luz da Encarnação de Cristo, a pastoral Evangelizar educando e educar juvenil das FMA põe no centro a pessoa evangelizando do jeito de Dom Bosco e Madre em crescimento, para que tenha vida em 46 | Em Família
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abundância, isto é, possa amadurecer em todas as dimensões que a constituem. Tal finalidade se persegue conjugando perspectivas intimamente integradas entre si: a perspectiva cultural, que orienta a ler e interpretar a realidade em vista da promoção da cultura da e para a vida; a perspectiva evangelizadora, que promove uma harmoniosa e fecunda integração entre fé e experiência cotidiana; a perspectiva social, em vista da promoção nos jovens - de uma cidadania ativa e solidária; a perspectiva comunicativa, importante para qualificar as relações mútuas e entre as gerações, e para enfrentar, de modo adequado, a mudança cultural provocada também pelas novas tecnologias e pelos novos meios de comunicação” (LOME,2006). Nesse contexto, o Sistema Preventivo, como método educativo e espiritualidade, embasa nossas propostas e caminhos a serem trilhados para a educação e evangelização dos nossos jovens, pois, Dom Bosco afirmava que “o apostolado dos jovens é um dos meios
mais eficazes para transformar o mundo dos adultos” (Giraudo, 2012). O tripé do Sistema Preventivo - razão, religião e “amorevolezza” - nos indica uma visão harmônica da pessoa dotada de razão, afetividade, vontade e abertura ao transcendente. Nesse sentido, o Sistema Preventivo é um exemplo de humanismo pedagógico cristão, onde a centralidade da fé está indissoluvelmente unida à profusão dos valores presentes na história (Giraudo,2012). Metodologicamente, o nosso projeto educativo “tem em mira orientar os jovens para a escolha do bem e guiar a sua riqueza afetiva para o dom de si, ajudando a superar gradualmente o egocentrismo da adolescência, e acompanhando-os para o encontro transformador com Deus, em Cristo” (LOME, 2006). Ao confrontarmos a vida com o Evangelho, percebemos que ele não apenas propõe uma relação pessoal com Deus, mas, também, uma vida social impregnada de fraternidade e de dignidade para todos, janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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pois, uma fé autêntica, “nunca é cômoda ou individualista, mas sim traz em si um grande desejo de mudar o mundo, transmitir valores e deixar o mundo um pouco melhor depois que passamos por ele”(EG,2014). CONSIDERAÇÕES FINAIS: INSIEME COM OS JOVENS O caminho da sinodalidade vivido é o advento de uma Igreja sonhada pelos jovens, em que o jovem pode ser jovem sendo Igreja, vivendo sua fé, lutando por seus ideais e vivendo segundo sua vocação e opção profissional. O Papa Francisco na homilia da missa de abertura do Sínodo, afirmou: “Os jovens, fruto de muitas das decisões tomadas no passado, exortam-nos a cuidar do presente, com maior esforço e com eles, a lutar contra tudo aquilo que impede a sua vida de crescer com dignidade. Pedem-nos e exigemnos uma dedicação criativa, uma dinâmica inteligente, entusiasta e cheia de esperança, e que não os deixemos sozinhos nas mãos de 48 | Em Família
tantos traficantes de morte que oprimem a sua vida e obscurecem a sua visão”¹. Caminhar insieme com os jovens, eis o imperativo sinodal apresentado e pedido pelos jovens. Por meio de suas percepções manifestadas e pedidos, eles nos mostraram que não querem ser apenas mais um grupo e/ ou uma ação pastoral da Igreja, mas, desejam participar e partilhar as alegrias, tristezas e desafios no cotidiano. Salesianamente falando, iluminados pelo Sistema Preventivo de Dom Bosco, não consiste apenas em tê-los por perto, mas sim, de demonstrar o quanto os amamos afim de se sentirem plenamente amados. Amor esse, que transpassa o entendimento e faz vibrar intensamente o coração. Só que ama confia a participação e o protagonismo. Madre Yvonne Rengout, em sua circular número 983, nos lembra que caminhar juntos é uma peregrinação que empenha a buscar, dialogar, enfrentar o cansaço da viagem, tendo como meta a esperança (cf Df, nº 136). A verdadeira esperança é Jesus. “É Ele que
Artigo o coração procura mesmo sem saber”(cf. C983)³. Após ouvir sua voz, temos a missão de ajudar os jovens a entrar em profundidade no próprio coração para descobrir para onde o Senhor os chama. Uma vez que sua voz foi ouvida, caminhemos insieme com os jovens, conjugando todos os verbos necessários para a construção da Civilização do Amor.
¹ O Documento, portanto, recolhe as 364 formas, ou emendas, apresentadas. Todos os parágrafos do texto foram aprovados com pelo menos dois terços dos votos. (Fonte: https:// www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/201810/sinodo-jovens-2018-documento-finalsintese.html acesso em 17/03/2019 ²https://w2.vatican.va/content/francesco/ p t / h o m i l i e s / 2 0 13 / d o c u m e n t s / p a p a francesco_20130728_celebrazione-xxviiiREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS gmg.html acesso em 17/03/2019 AUBRY, JOSEPH . ESCRITOS ESPIRITUAIS. SÃO PAULO: ³Carta Circular 383 – Madre Yvonne Reungoat EDIÇÕES SALESIANAS, 2014. BÍBLIA – BÍBLIA DE JERUSALÉM. SÃO PAULO: PAULUS, – novembro 2018 2002. EDEBE. DOM BOSCO. CARTA DE ROMA. 2012E EDEBE. FONTES SALESIANAS: SISTEMA PREVENTIVO E EDUCAÇÃO DA JUVENTUDE. 2012. GIRAUDO, ALDO. DOM BOSCO FALA-NOS NE EDUCAÇÃO, O SISTEMA PREVENTIVO E A CARTA DE ROMA. SÃO PAULO: EDIÇÃO SOCIEDADE SALESIANA, 2013. GIRAUDO, ALDO. VIDAS DE JOVENS, BIOGRAFIAS DE DOMINGOS SÁVIO, MIGUEL MAGONE E FRANCISCO BESUCCO. SÃO PAULO: EDIÇÕES SALESIANAS, 2012. INSTITUTO FILHAS DE MARIA AUXILIADORA. CRONISTÓRIA VOLUME II, 1988. INSTITUTO FILHAS DE MARIA AUXILIADORA. PARA QUE TODOS TENHAM VIDA E VIDA EM ABUNDÂNCIA. LINHAS ORIENTADORAS DA MISSÃO EDUCATIVA DAS FMA. TURIN: ELLEDICI, 2006. INSTITUTO FILHAS DE MARIA AUXILIADORA. COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO. ORIENTAÇÃO PARA O INSTITUTO DAS FMA, EMI, BOLOGNA 2007. PAPA FRANCISCO. EVANGELII GAUDIUM. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA. VATICANO: LIBRERIA ED. VATICANA, 2013. PAPA FRANCISCO. LAUDATO SI. CARTA ENCÍCLICA. LIBRERIA ED. VATICANA. 2015. PAPA FRANCISCO. GAUDETE ET EXULTATE. LIBRERIA ED. VATICANA 2018. XV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO, OS JOVENS, A FÉ E O DISCERNIMENTO VOCACIONAL, PAULUS, 2018.
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A conexão e seu papel com as futuras gerações Por Renata Lela – Psicóloga
Conexão...qual o significado dessa palavra? Se procurarmos no dicionário Aurélio, teremos a seguinte definição “Estado de coisas ligadas; Enlace ou vínculo entre pessoas ou entidades”. O Apego Seguro, como por definição na Psicologia, se dá quando desenvolvemos a conexão e o vínculo com a certeza de que seremos correspondidos e de que poderemos contar com nossas fontes de vínculo confiáveis. Ele é desenvolvido desde intra-útero, quando começa a conexão mãe-filho e segue por toda a vida, mas a infância e a adolescência, principalmente a infância, consistem em períodos cruciais para a formação do Apego de forma segura e capaz de criar futuramente 50 | Em Família
cidadãos do bem e da paz. A partir do momento em que o bebê está sendo gerado e seu cérebro começa a se desenvolver, com toda a capacidade necessária para conseguir estabelecer vínculos, criar conexões e desenvolver a visão mental dele mesmo e dos outros, somos todos coresponsáveis por esse processo. Todos nós que nos relacionamos com ele seremos co-responsáveis. E a partir daí, seremos responsáveis por tudo que ele vier a fazer, nessa inter-relação em que vivemos. O que eu faço afeta diretamente o outro e o que o outro faz, me afeta também. Na definição de Conexão, temos um “estado de
Artigo coisas ligadas”, então, diante dessa definição, tudo e todos estão ligados e conectados, ainda que a gente não queira admitir ou prefira olhar somente para a nossa realidade, a nossa família e para nossos filhos. E quando recebemos chocados a notícia de que dois adolescentes, entraram em uma escola e atiraram em outros adolescentes e acabaram por dar fim à própria vida e atônitos, pensamos: “O que está acontecendo com o mundo? Porque essas coisas tem acontecido?”, somos forçados a olhar para o todo, para os outros, para além de nós mesmos e de nossos filhos. Escutei essas perguntas acima, várias vezes durante esses dias, e confesso que também me fiz as mesmas perguntas, mas aí mudei para: “Onde está minha responsabilidade perante tudo isso? ”, “O que eu poderia estar fazendo que não estou?” e as respostas começaram a aparecer. Estamos tão distantes uns dos outros, fechados em nosso próprio mundo, em nossas casas, que estão fechadas em condomínios. Saímos fechados em nossos carros, nos fechamos na tecnologia e nos fechamos também muitas vezes, dentro dos nossos próprios lares. Não conseguimos criar conexões e estabelecer vínculos de apego seguro com nossos próprios filhos que estão apenas alguns metros distantes de nós, mas esperamos que depois, nossos filhos saíam e consigam desenvolver a empatia, o respeito e estabelecer conexões com outras pessoas. Reagimos às situações que acontecem dentro de nossa própria casa, muitas vezes, de forma agressiva e violenta, com gritos e ameaças e esperamos que nossos filhos saíam e consigam
Estamos tão distantes uns dos outros, fechados em nosso próprio mundo, em nossas casas, que estão fechadas em condomínios. Saímos fechados em nossos carros, nos fechamos na tecnologia e nos fechamos também muitas vezes, dentro dos nossos próprios lares. resolver as situações de suas vidas de forma pacífica e amigável. A Psicologia Infantil e a Neurociência já nos explicam, desde há muito tempo, que os filhos irão reproduzir o que aprenderam com os adultos de confiança que os cercam, os adultos que se tornarão referência na consolidação do Apego Seguro, através de conexões de afeto, de segurança, de cuidado. Então, como podemos exigir algo que eles não aprenderam? Como podemos esperar que cérebros ainda em desenvolvimento resolvam situações que nem mesmo nós, os adultos, com cérebros já desenvolvidos, ainda não conseguimos? Rudolf Dreikurs, um psiquiatra e educador vienense, costumava colocar que “AS CRIANÇAS PRECISAM DE ENCORAJAMENTO ASSIM COMO AS PLANTAS PRECISAM DE ÁGUA”. Mas diante de tudo isso, alguns questionamentos começam a surgir: como encorajar meus filhos? Como desenvolver esse janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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Apego Seguro? Como criar conexões sólidas baseadas no amor e na paz? A Disciplina Positiva através de Rudolf Dreikurs, um dos psiquiatras de referência da mesma, também nos ensina que qualquer ser humano para conseguir se desenvolver de forma segura e com comportamentos e objetivos acertados, precisa de apenas duas necessidades supridas (além das básicas, claro): Necessidade de se sentir pertencente a algo e de ser aceito. Quando isso não ocorre de forma natural, a tendência é a de que através de algumas formas equivocadas, todo ser humano venha a buscar por isso. Por isso, se queremos que nossos filhos encontrem a aceitação e o pertencimento dentro da nossa relação com eles, nosso papel como pai, mãe e até mesmo como educadores, pois dentro do ambiente escolar, as crianças e 52 | Em Família
os adolescentes também tendem a buscar por tudo isso, devemos dar a eles o entendimento através de nossas atitudes de que podem contar com a gente, que eles fazem parte da nossa vida, que são aceitos como são. Mas como fazer isso? Parece complexo, mas na verdade é algo muito simples. Algumas dicas podem ajudar: - Escutando ativamente sem julgamentos, pacientemente e de forma pacífica, para depois conduzir para melhores decisões e escolhas; - Dedicando tempo de qualidade a estar com eles, de fato, deixando a tecnologia durante esse tempo; - Resolvendo conflitos e comportamentos inadequados com conexão, para depois
Artigo acontecer a correção. Por conexão, entendam conhecida dele: abraços, carinhos, trocas de olhares diretos, “A mão que balança o berço é a mão que colo, acolhimento e por correção, nunca e governa o mundo” em hipótese alguma, entendam agressões e Eu acrescentaria a mão que balança o berço, desrespeito; que conduz por todos os caminhos, que os ensina a ler e a escrever, que os fazem sentir-se - Respeito acima de tudo em nossas relações, aceitos e pertencentes a algo, que lhes transmite dentro do ambiente em que vivemos, com os valores, que lhes auxilia a construir seu caráter. outros, em todos os locais, até mesmo quando Que possamos ser cada um de nós, “a mão necessário a correção, que ela seja de forma que balança o berço”, cada um à sua forma, nas respeitosa e pacífica; mais diversas fontes de trabalho e de relação com a infância, a adolescência e a educação, - Tratando os nossos filhos da forma como pois através de nossa contribuição, estaremos gostaríamos de ser tratados; deixando para o mundo, as futuras gerações que irão conduzi-lo. - Tratando os outros da forma como gostaríamos que nossos filhos também os Renata Lela – Psicóloga – CRP: 06/68519 tratassem; Especialista em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva Infância e - Ajudando nossos filhos a encontrar o Adolescência que eles tem de melhor dentro deles e a Especialista em Psicologia Clínica pelo acreditarem em si, nas suas capacidades e Conselho Federal de Psicologia potencialidades; Email: renata@espacoesperanto.com.br Site: www.espacoesperanto.com.br - E em muitas situações, simplesmente Redes sociais: Instagram: Espaço Esperanto deixando com que entendam que estamos Facebook: Esperanto Espaço Terapêutico ali, para caso precisem de nós. Colunista do Site Descobrindo Crianças Portanto, quando consigo criar uma conexão sólida com meus filhos e um apego seguro, sem exageros, construo relações sólidas e de segurança com o mundo, com os outros, porque no fundo, é isso que acontece. Estamos todos conectados e interligados e o que aconteceu no Colégio, há algum tempo atrás, também é de nossa responsabilidade e nos afeta, mesmo que distante de nós, pois como já dizia Abraham Lincoln, há anos atrás, em uma frase muito janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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Corinna e Corina, Vidas que floresceram aos pés da Cruz
Por Ir. Rosalba Perotti Para quem crê, não existe “destino”. Há uma resposta livre às situações que se apresentam no correr de dias e anos e constituem a “existência”, a vida vivida de cada um (a) de nós: vida mais ou menos bem sucedida, mais ou menos curta, mais ou menos desafiadora. E entre tantas vidas, entre os bilhões de seres humanos que passaram ou passarão por esta terra, há coincidências, semelhanças, mesmo na diversidade de tempos, lugares, temperamentos, oportunidades.
um amor incondicional a Jesus. Elas, como Ele, chegaram à glória da Ressurreição, passando pelo grande Mistério, que é a Cruz.
Corinna Arrigotti - nome familiar, que nos traz à memória, um caminho árduo de santidade. O primeiro e o segundo volumes da “Cronistória”, dedicam a Corinna, várias páginas, importantes por ela pertencer ao primeiro grupo de FMA, que professaram ou receberam a medalha de Noviças a 5 de agosto de 1872. Eram quatro as que receberam a medalha de Noviças e Corinna Este breve relato, vai tratar de duas FMA, era uma delas. Onze, as que professaram como de diferentes épocas de nosso Instituto, uma Filhas de Maria Auxiliadora, com à frente, Ir. da Itália, outra do Brasil, que deram uma Maria Mazzarello.(1) resposta generosa ao chamado vocacional, aceitando humilhações e sofrimentos para Vida e morte marcam os primeiros tempos serem coerentes com as promessas feitas com do Instituto. Corinna foi a segunda FMA a os votos. Viveram e morreram, testemunhando falecer, no dia 5 de junho de 1874. A biografia 54 | Em Família
Artigo põe em relevo a dramaticidade com que viveu os quase dois anos de Vida Religiosa e as circunstâncias realmente heroicas que levaram ao desenlace, sua breve vida. Órfã de mãe, um tio, temendo a vida leviana à qual o pai a expunha, pede a Dom Pestarino que a receba como interna na casa das Filhas da Imaculada. A jovem é atraente, instruída, hábil pianista e habituada a uma vida mundana. Vai a Mornese com o consentimento do pai como professora de música. Tinha dezessete anos. Foi recebida festivamente pela comunidade, embora seu luxo contrastasse com a simplicidade da casa. Corinna possuía uma natureza ardente: era gentil, sensível, mas também teimosa. “O que se passaria naquela cabecinha enfeitada? ” pensava Maín e temia que a novidade, que Corinna trazia à Casa, perturbasse as meninas, tão pouco habituadas à vida mundana. Maín a observava com carinho e rezava... Com persuasão e tato materno e muita oração, caminha com ela para uma mudança radical de vida. Sobretudo a lembrança da mãe falecida e a consciência mais clara do vazio que uma vida dissipada lhe causava, tocaram-lhe o coração. (2) Une-se à oração da comunidade, aproximase dos Sacramentos, torna-se exemplar na generosidade e fervor. A conversão fora radical. Veste-se pobremente, não procura nenhuma satisfação na comida, já tão reduzida e frugal. Mortifica seu amor próprio e não procura pôr em realce seus dotes para a música. É admitida como Noviça em 5 de agosto de1872. Passam os meses, sem novidades. Em um dia de março de 1874, o pai irrompe furioso em Mornese (3) e contra tudo e todos a leva de volta para a casa, apesar das lágrimas e súplicas de Corinna.
Corinna Arrigotti- nome familiar, que nos traz à memória, um caminho árduo de santidade. O primeiro e o segundo volumes da “Cronistória”, dedicam a Corinna, várias páginas, importantes por ela pertencer ao primeiro grupo de FMA, que professaram ou receberam a medalha de Noviças a 5 de agosto de 1872. Eram quatro as que receberam a medalha de Noviças e Corinna era uma delas. Onze, as que professaram como Filhas de Maria Auxiliadora, com à frente, Ir. Maria Mazzarello.(1) Ele pensa fazê-la levar à vida de antes. Mas Corinna era radicalmente outra pessoa. A graça trabalhara nela admiravelmente. Era tempo de Quaresma. Na casa, as Filhas e meninas redobram as orações e penitências, pois a lembrança de Corinna enche os corações de dor. O pai mostra-se sempre mais intransigente, proibindo-a de sair e negando-lhe até a alimentação. A Comunidade vive uma penosa Quaresma. Todas, sobretudo Maín, que a conhecia a fundo, rezam fervorosamente. Com dor e angústia, imploram a Deus sua volta. Rezam também pelo pai que, por um orgulho cego, não teme sacrificar a filha. Mesmo na janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Artigo dor, Corinna demonstra seu forte caráter e não cede, firme como uma rocha. Prefere a morte a renegar seus votos. Uma circunstância providencial acontece. Corinna é chamada a assistir o avô muito doente, que vem a falecer. O mesmo tio que a levara a Mornese aproveita a situação e a reconduz de volta . Corinna chega finalmente a Mornese. (4) Não pode acreditar que voltou à sua suspirada Comunidade. Mas está extremamente abalada pelos sofrimentos físicos e morais, pelos quais passou. É uma sombra do que fora. Uma febre insistente a prostra e não consegue mais levantar-se. Os dias se sucedem sem nenhuma melhora. Ela confia às Irmãs que a assistem amorosamente, especialmente a Maria Mazzarello, que ela está oferecendo tudo pela conversão do pai e pelo Instituto. Readquire, aos poucos, uma grande serenidade e já sente a alegria de unirse a Deus e encontrar a mãe, tão querida. Morre serenamente no dia 5 de junho de 1874; certa de encontrar sua mãe e perdoando o pai, cuja intolerância truncou-lhe a vida. (5) A ”Cronistória” reportando sua chegada a Mornese chama-a de “uma nova flor” (6) De fato, Corinna viveu em poucos anos, uma trajetória de trevas e luz, um caminho de santidade breve, mas muito intenso. A “nova flor” recebida com carinho e alegria em nossa primeira Comunidade, soube entregar-se com generosidade ao Amor e “desabrochar aos pés da Cruz”, deixando-nos um luminoso exemplo de santidade. Corinna foi a primeira professora de música e a primeira Secretária, do Instituto. Passam os anos. As FMA vão se espalhando, para várias partes do mundo, levando um “espírito”: o espírito de Valdocco e de Mornese. 56 | Em Família
A 16 de março de 1892, chegam do Uruguai a Guaratinguetá, dez Irmãs e duas Noviças, para fundar a primeira Casa no Brasil (7). Há 26 anos o carisma salesiano feminino está sendo implantado em várias partes do Brasil, a partir da primeira Casa, o Colégio do Carmo, construído por Mons. João Filippo, o santo e benemérito Fundador da Casa. As páginas da “Crônica do Colégio, em vários momentos, descrevem a vida e o trabalho educativo de uma Comunidade grande e empenhada, em que Irmãs e meninas vivem uma intensa vida cristã e, sobretudo as internas assimilam, de perto, de suas educadoras, os valores da pedagogia salesiana. Há uma grande sintonia entre elas e um verdadeiro protagonismo das alunas, nos movimentos e acontecimentos da Casa. Na Comunidade, há uma Irmã jovem, que possui um modo todo pessoal de aproximar-se das meninas, amando-as com desprendimento, mas com afeto sincero e profundo. E as meninas lhe retribuem com o mesmo afeto. É Irmã Corina Lima. Os documentos de que dispomos, além da “Crônica do Colégio”, nos ajudam a traçar o seu perfil (8). Nascera em Lorena (SP), no dia 19 de maio de 1883. Possuía uma arte: a “arte” de saber sofrer, conservando a naturalidade, sem que ninguém o percebesse. Sua vocação e seu amor à Auxiliadora nascem e crescem em ambiente salesiano: antes em Lorena (onde mora sua família) e em seguida como interna, no Carmo. Ternamente ligada ao pai, por quem é muito amada, somente depois de sua morte, pede para ingressar no Instituto. A Nossa Senhora ela já se consagrara como membro ativo da “Pia União das Filhas de Maria”, sementeira de muitas vocações religiosas. Sua piedade tinha
Artigo além disso o toque especial de amor à Eucaristia. E com filial confiança, sustentou-a também, até o fim da vida, um grande amor a São José. Faz o postulado e noviciado, professando no ano de 1910. Ei-la, pois, iniciando sua vida de professora e assistente salesiana no “seu” Colégio. Podese dizer que foi uma religiosa exemplar, na observância das pequenas coisas, desprendida de si, afetuosa e responsável, muito próxima das meninas, mas sempre com o coração aberto e livre. As meninas a amavam muito e viam também que, apesar da aparente fragilidade, ela possuía uma têmpera de aço. Um pormenor, reportado unicamente em sua biografia em português, atesta sua fortaleza. Uma Irmã da comunidade, que fora pessoa de autoridade, certamente enferma psiquicamente, “irrompia na sala de Ir. Corina quando tudo procedia em calma, disciplina e aproveitamento das alunas (conta uma delas) e começava a interrogar intempestivamente as meninas atônitas, irrompendo depois em reclamações e até insultos, contra a professora, que se mantinha serena e silenciosa. Quando saía “o furacão”, assim a chamavam as meninas, elas queriam protestar contra as acusações e injustiças, mas eram impedidas pela firme intransigência de Ir. Corina. ” “Nem uma palavra”, dizia ela, vamos continuar a aula. ” Esta cena repetia-se quase todas as semanas (9). A biografia transcreve ainda o testemunho de outra interna: “Outra prova da santidade de Ir. Corina era o fervor de sua piedade: Ocupada o dia inteiro com as meninas, inclusive no estudo da noite, foi-lhe oferecida à substituição nessa assistência. Ela aceitou somente os últimos 15 minutos, para ficar na capela. Foi em um desses momentos de intimidade com Deus que ela escreveu um longo poema. Inspirada por uma rosa que estava ao
A ‘‘Cronistória” reportando sua chegada a Mornese chama-a de “uma nova flor” (6) De fato, Corinna viveu em poucos anos, uma trajetória de trevas e luz, um caminho de santidade breve, mas muito intenso. A “nova flor” recebida com carinho e alegria em nossa primeira Comunidade, soube entregar-se com generosidade ao Amor e “desabrochar aos pés da Cruz”, deixando-nos um luminoso exemplo de santidade. Corinna foi a primeira professora de música e a primeira Secretária, do Instituto.
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Artigo lado do sacrário, escreve o poema intitulado: “A alma e a flor”, do qual extraímos estes trechos: “Quando te vejo, flor mimosa e bela, qual sentinela de meu bom Jesus...”: “Viverei de amor, para todo o sempre. Feliz serei assim, mais do que tu, ó flor”.
pelo Franciscano, Fr. Nicolau Leurs, a quem impressiona a tranquilidade inalterável da enferma. Sempre de olhos fixos na imagem de Maria, suporta os sofrimentos, que são muitos. Na madrugada do dia 10 de novembro de 1918, entrega sua bela alma a Deus, com a consternação da Comunidade, da população da Viveu também, despojada de si mesma e Cidade, com a solidariedade de muitas pessoas de tudo o que vai se acumulando,... Viveu a que a conheciam, A todos, a notícia comove pobreza evangélica. Entre as poucas coisas profundamente. (11) que deixou, nada havia de supérfluo, nem um alfinete! O equilíbrio ao qual chegou, foi fruto Garantem as Irmãs que o último desejo de de reflexão, vigilância, oração e muita confiança sua vida foi oferecer-se pelo Carmo e suas em Deus. alunas. (12) É crença corrente que Deus aceitou o sacrifício de sua alma inocente. A Inspetora, Ir Em fins de novembro e 1918, o Colégio Teresa Guissani, sintetizou assim sua vida: ”Era teve que dispensar bruscamente as alunas, sábia e era santa” (12). pelo grassar da “gripe espanhola” que fazia vítimas em várias partes do País As alunas Corina, como Corinna, foram “flores” que foram dispensadas e somente três contraíram desabrocharam aos pés da Cruz. Identificadas a doença, mas de forma leve e em pouco a Jesus na Paixão, vivem a alegria da Páscoa tempo também puderam voltar para a família. eterna. Somente Ir. Corina, entre as Irmãs atingidas, continuou a dar preocupação. Da Crônica do Muitos pontos comuns uniram essas Colégio” extraímos algumas notícias. (10) duas queridas Irmãs. Ambas viveram e testemunharam a santidade do cotidiano. Em Estamos no dia 4 de novembro de 1918. “O ambas, a oferta da vida pelo Instituto, a fortaleza médico que diariamente visita a caríssima no sofrimento, o afeto de Irmãs e meninas, a enferma, declara verificar-se de doença de morte santa. Os anos passaram, mas elas estão caráter grave: uma bronco-pneumonia gripal”. sempre presentes a Deus e suas vidas são para Para combatê-la usa de todos os meios nós, um dom inestimável, que nunca perderá o conhecidos pela ciência, mas com pouco ou seu valor. Que esta oferta generosa continue a nenhum resultado favorável. A doente piora dar frutos de santidade em nosso Instituto! sem talvez possibilidade de salvá-la. Passa tão mal, com febre alta e, por quatro dias consecutivos, recebe a sagrada Comunhão, (1) Crorinistória ,.vol. I ed. Insp. Santa para a qual ela se prepara com fervor e desejo Catarina de Sena, S.Paulo, 1981, p 271-272. admiráveis. Recebe a Unção dos Enfermos (2) o.c. p.226-227. 58 | Em Família
Artigo (3) Cronistória II-, p.55-56. (4) o.c. p. 61-62. (5) o.c. p.60-70. (6) Cronistória I, p.226. (7) “Crònica do Colégio Nossa Senhora do Carmo,” Insp. Santa Catarina de Sena. S.Paulo, 2018 p.155 (8) “Elas nos prcederam”, Insp, Sta. Catarina de Sena, S.Paulo,1975. p.14-16. (9) O.c. p.15 (10) Crônica do Colégo do Carmo p.173
(11) “Elas nos precederam”, p. 15 Foram também confrontadosos:”Cenni biografici FMA, decennio 1872-1882”,p.9-12, para Ir.Corinna Arrigotti e”Cenni biografici FMA, biennio 1917-1918,” p.290-294. Para Ir. Corina Lima.
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Artigo
Organize-se
“O Vento Nunca É Favorável Para O Marinheiro Que Não Sabe Para Que Porto Se Dirige” - Elísio Reali Por Paulo Cesa Pio Organizar a vida, viver com intensidade, implementar estas “libertadoras” regras de o momento presente sem as amarras da conduta em nossas vidas. desorganização. Planejar o futuro com método
Organização é uma lei natural de Deus. Nada
e disciplina, procurando atingir os objetivos é caótico no Universo. Deus organiza com propostos de forma clara e objetiva. Relembrar perfeição toda a sua criação, do átomo aos o passado, aprender com os erros e retirar deles sistemas estelares, tudo possui uma correlação, o aprendizado que vai servir de mola mestra um fim, uma matemática divina que organiza e para novas realizações. Todas de
estas
encadeia todas as formas.
afirmações
conhecimento
da
coerentes
maioria
são
O ser desorganizado demora muito mais para
daqueles conquistar seus objetivos, sejam eles pessoais,
que já se colocaram no longo caminho do profissionais ou morais. Algumas pessoas autoconhecimento. No entanto, como é difícil caminham pela vida de forma aleatória, sem 60 | Em Família
Artigo rumo ou destino a seguir. Viver assim é como
Se você sente dificuldades em se organizar,
navegar no oceano sem uma carta náutica, é procure o apoio daqueles que já conquistaram tomar um táxi e não fornecer o endereço para o esta virtude, busque aprender com um bom motorista. Tudo se torna mais difícil e exaustivo. exemplo e a partir daí comece a criar sua própria Organização pessoal é a base de tudo. maneira de viver. Devemos
começar,
organizando
nossa
O ser humano organizado, consegue realizar
“casa íntima”, ou seja, nossos pensamentos, muito mais, com economia de tempo e energia. para depois refletirmos esta mudança nos O trabalho torna-se mais produtivo e a vida comportamentos e atos de todos os dias. -- Comece retirando de sua mente fatos
mais prazerosa. Como nos disse o saudoso Renato Russo:
negativos que minam sua energia, procure “Disciplina é liberdade”. deixar seus espaços mentais livres para as coisas que realmente importam na vida, como a amizade, o amor ao próximo, a família, um bom livro, a oração, etc.
Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito Pitágoras
-- Faça uma faxina mental todos os dias. Não dê lugar para a tristeza e a angústia, elas são
Paulo Cesar Pio
péssimas companheiras de viagem, além de
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serem “amigas íntimas” da depressão.
Especialista em Dependência Química
-- Liberte-se dos preconceitos, da intolerância,
Diretor e editor do projeto Pais Atentos
dos ressentimentos. Libere espaços para os
Idealizador do projeto EDUCAPAIS
bons pensamentos, valorize as coisas boas que
www.projetoeducapais.com.br
lhe acontecem todos os dias. -- Use seu tempo com sabedoria. Não desperdice suas horas em comentários menos felizes ou atitudes improdutivas. -- Em seu lar ou no trabalho material, não acumule coisas. Coloque os atrasos em dia, pode ser aquela louça da noite anterior, aquele telefonema que passou sem retorno, aquela agenda atrasada, aquele armário que precisa de uma limpeza, aquela roupa suja no cesto. Você caminhará pela vida mais leve e focado no aqui e agora. janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Entrevista
Entrevista com Ir. Iracema Schoeps 1.Conte um pouco de sua vida familiar, de seus sonhos de jovem Nasci em Santo André, SP, aos 14 de agosto de 1934. Minha mãe, Maria, brasileira, natural de São Joaquim da Barra, SP e meu pai, René, de nacionalidade belga. Sou a única mulher; a sexta, entre oito filhos, sete homens. Fui batizada, mais por tradição familiar, no dia 7 de outubro de 1934, na Igreja de Nossa Senhora da Penha, São Paulo. Meus pais não participavam de cultos religiosos, porém, cultivavam profundamente os valores humanos eu diria, cristãos e os exigiam de cada filho. Formavam um casal apaixonado. Meu pai, contador, sempre trabalhou pelo bem comum. Fundou a primeira Associação se Amigos de Bairro, em Santo André, que por meio de reivindicações conquistou um posto de saúde para nosso Bairro. Fundou a Federação das Sociedades Amigos de Bairro, o Clube dos Amigos Livro (uma Biblioteca circulante) e o Câmera Clube de Santo André. Morávamos na Vila Alpina, um bairro formado por muitas chácaras. Um dos grandes proprietários construiu uma pequena capela em honra a Santo Antonio e a doou, bem como uma grande área de 62 | Em Família
Entrevista terra, aos Franciscanos Capuchinhos. Os freis apareciam por lá uma vez ao mês. Aqueles homens, com hábitos marrons, para mim, eram um mistério. Minha avó é quem me explicava quem eram e o que faziam. Aos cinco anos, comecei a freqüentar o Jardim da Infância no então Externato Pe. Luiz Capra, hoje Instituto Coração de Jesus, dirigido pelas Irmãs Salesianas. Demorei a me acostumar com a vestimenta de cor preta que usavam. Lá desenvolvi a fé e me apaixonei por Maria Auxiliadora e por Jesus de Nazaré. Conheci Dom Bosco. Nossos prêmios de catecismo, em geral, eram livretos sobre a vida dele. Todos os anos nós, alunas, recebíamos um novo opúsculo que eu devorava. Sempre gostei muito de ler. Era um hábito familiar. Ganhei a História Sagrada de Dom Bosco: foi uma festa para mim. Aqui nasceu meu amor pela Palavra de Deus. Depois que terminei o Curso Primário, estudei somente em Escolas Públicas. Foi, portanto, a partir da vivência do Colégio que tive minha iniciação cristã, com o acompanhamento de minha avó paterna. Comecei a participar das missas, na Capela de Santo Antonio, com a pequena comunidade que se formava ao seu redor. Dois Franciscanos foram residir nos fundos da Capela. Visitavam as famílias, organizaram a Catequese, as Associações como a Cruzada Eucarística, as Filhas de Maria, os Congregados Marianos, o Apostolado da Oração... Aos onze anos, eu já era Catequista na Capela. Exibida! Sabia de cor o 1º e o 2º Catecismo da Doutrina Cristã. Mas, seguindo a escola de Dom Bosco, introduzi uma novidade na catequese: aos domingos à tarde, fazíamos passeios com a meninada. Era uma
festa. Tornou-se intensa minha participação na vida paroquial.
2. O que a levou a consagrar-se a serviço do Reino no Instituto das FMA? Queria ter disponibilidade para seguir Jesus mais de perto e dedicar minha vida às jovens. Meu confessor desejava muito que eu fosse franciscana. Porém, a vida de D. Bosco sempre me falou mais forte. Em 1952, durante a Missão Redentorista, em preparação à criação da Diocese de Santo André, não resisti ao chamado que até então tentava abafar. Conversei com Irmã Rosa Ceron, Diretora do Colégio de Santo André, que me encaminhou para Ir. Pierina Avogadro, no Colégio de Santa Inês, responsável pelas vocações. Meu pai era muito crítico em relação à Vida Consagrada (reconheço hoje que, em alguns aspectos, ele tinha razão). Ele se opôs com veemência. Necessitei de muita firmeza para resistir. Ingressei no aspirantado somente depois que completei a maioridade civil. Durante os anos de formação, meus pais não me visitaram. Meus irmãos o faziam às escondidas. No segundo ano do Noviciado, por ocasião da morte de minha avó paterna, Ir Luiza Seghezzi me acompanhou até nossa casa em Santo André e fizemos as pazes.
3. Em quais frentes você semeou a Palavra de Deus? Minha primeira missão foi no Instituto Anjo da Guarda, SP, como professora no Ginásio Profissionalizante e no Curso Primário, além janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Entrevista de atividades no Oratório e como Catequista na Capela D. Bosco. Em Ribeirão Preto, no Patronato Madre Mazzarello, como animadora da Comunidade e professora. No Instituto São José, São José dos Campos, casa que acolhia o Aspirantado e o Juniorato, como animadora da Comunidade e como professora de desenho e trabalhos manuais. Em Araras, Campinas na Inserção no Meio Popular; em Santo André, além da inserção, como Coordenadora Diocesana da Catequese por nove anos. Em São Bernardo do Campo e Diadema, mesmo inserida no Meio Popular, dei um período diário de trabalho, na Inspetoria, acompanhando a Comunicação.
lhes oferecer o Curso Científico e apenas a área de Magistério. Era urgente dar um passo. Em 1971, com a colaboração de pais e professores do ITA (Instituto Técnico de Aeronáutica), organizamos e instalamos os laboratórios e o curso científico com as áreas de Física, Química e Biologia. No final do ano, solicitei ao Conselho Inspetorial, que enviasse uma Irmã com formação nessas áreas a fim de acompanhar a experiência. Em 1972, o Instituto comemorava seu primeiro centenário de fundação e, com o lema “Aos cem anos é preciso nascer de novo”, nossa Madre Geral fazia um apelo às Inspetorias que se voltassem para um trabalho concreto com os pobres. Era o momento em que os Bispos 4. Como foi o seu despertar para a também solicitavam às Congregações que Inserção no Meio Popular? aderissem aos projetos voltados à periferia. A Inspetoria acolheu o apelo do Instituto O Colégio de São José dos Campos, recém e o desejo de algumas Irmãs de se voltarem construído, perdia suas melhores alunas por não para o Meio Popular. Na reunião do Conselho Inspetorial, procurávamos mais uma Irmã para compor a Comunidade. Eu tinha a intenção de, ao deixar a animação do Instituto São José, dar continuidade aos estudos. Não pensava em inserção. Diante da procura de um nome, senti um forte apelo: ofereci-me para ir. A aceitação do Conselho Inspetorial foi unânime.
5. Quais os apelos que você sente como “desafios” no Meio Popular? A realidade sofrida do povo foi e ainda é o maior apelo: o descuido do Poder Público pelas necessidades básicas da população como moradia, água, esgoto, iluminação, lazer, escolas, transporte, foram motivação 64 | Em Família
Entrevista para a aproximação e trabalho conjunto com o povo e com outras entidades; a falta de oportunidades de estudo e profissionalização para os jovens, as Comunidades cristãs mais voltadas para uma pastoral de manutenção me incentivaram a mergulhar profundamente na missão. Era e é, ainda, muito alto o número de jovens dependentes químicos e infratores. Era preciso fazer algo diante da meta de Jesus: Eu vim para que todos tenham vida (Jo10,10) Para estar na periferia, econômica e existencial, é preciso estar inteira: coração, entranhas, cabeça, mãos e pés. “Tira tuas sandálias porque o lugar que pisas é sagrado” (Ex 3,). O lugar do sofrimento do povo é sagrado”. Estar inteira, respeitosa, descalça de todo e qualquer preconceito. É preciso ter um coração misericordioso capaz de se colocar na dor e na miséria do outro, sem condenações, sem soluções prontas. Saber ouvir, ouvir, ouvir... ter a cabeça na situação para avaliar causas, consequências e buscar saídas libertadoras com cada pessoa. Como Jesus de Nazaré estaria diante desta pessoa, deste grupo? É a pergunta a fazer-se a todo momento... É necessário viver a proposta de Isaias “Ele não clama nem levanta a voz, não quebra a cana rachada nem apaga o pavio ainda fumega. Não esmorecerá nem se deixará abater enquanto não estabelecer a justiça...te formei e te constitui para abrires os olhos aos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Isaias 42,3ss) Quanta cegueira, quantas prisões, quanta treva.
6. Quais as alegrias que esta Missão trouxe à sua vida de Consagração FMA? Retomo uma estrofe de um poema que Ir. Manoracy e eu compusemos e que expressa um pouco a motivação de minha grande alegria: “Então eu vi e ouvi mulheres recobrando a coragem, a classe trabalhadora buscando dignidade. Adolescentes, jovens e antigos moradores de rua, alcoólatras e dependentes químicos cantando e contando caminhos novos, sem medo de vencer o medo, matando a desesperança desfraldando a bandeira da paz. Eu vi o brilho de felicidade nos olhos de todos pela alegria da reciprocidade. Eu ouvi na gargalhada das mulheres, na autonomia das rodas de capoeira, na corresponsabilidade do janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Entrevista samba na avenida a batida alegre das baterias, “Então eu vi e ouvi dos ritos afros e das Nações Indígenas os ritmos mulheres recobrando de uma vida feliz, partilhada e solidária: a a coragem, a classe Celebração da vida na Pátria Grande”. trabalhadora Quanto a se alegrar, celebrar e agradecer! buscando dignidade. 7. Como foi atuar o Sistema Preventivo Adolescentes, jovens no Meio Popular? e antigos moradores de rua, alcoólatras e Por meio do Espírito de Família, a amorevolezza, amar e fazer-se sentir amada (o), é a chave que dependentes químicos abre qualquer coração. Trabalhar para que os cantando e contando jovens e mulheres saíssem do ciclo fatalista caminhos novos, sem de suas famílias, que fossem protagonistas da medo de vencer o medo, própria existência, que desenvolvessem valores matando a desesperança humanos e cristãos e que se colocassem a serviço desfraldando a bandeira dos irmãos e irmãs, onde estivessem foram minhas grandes metas. da paz. Eu vi o brilho O desenvolvimento das Comunidades de felicidade nos olhos Cristãs pelas lideranças formadas, crianças, adolescentes, jovens e famílias que se conhecem, de todos pela alegria se ajudam, refletem e aprofundam a Palavra de da reciprocidade. Eu Deus, celebram a Eucaristia (também como sinal ouvi na gargalhada das da doação da própria vida) é fonte de alegria e mulheres, na autonomia certeza da continuidade dos trabalhos. das rodas de capoeira, Pela busca dos últimos, dos dependentes químicos e seus familiares. na corresponsabilidade do samba na avenida 8. Quais as práticas comunicativas a batida alegre das utilizadas nesta Missão? baterias, dos ritos afros e Na década de noventa, participei da Equipe das Nações Indígenas os ritmos de uma vida feliz, Nacional e Equipe América de Comunicação. Foram anos muito ricos; foi o período que partilhada e solidária: iniciamos a informatização de alguns setores a Celebração da vida na na Inspetoria, partindo do CCMAC. Instalamos a primeira rede de internet... A Fatea elaborou Pátria Grande”. 66 | Em Família
Entrevista
o primeiro Site da Equipe América. Foram anos de iniciação para as Irmãs, Professores e Educadores (as). Foi nesse período que nasceu a “Proposta de Educomunicação para a Família Salesiana”. Como tudo o que era novo e diferente trazia insegurança, não foi diferente com as novas tecnológicas que surgiram e evoluíram. Atualmente um (a) jovem não pode imaginar um mundo sem internet e telefonia móvel. Elaborei material bíblico-catequético para crianças, adolescentes, jovens e adultos. Material para novenas várias, Grupos de Rua, Cursos Bíblicos e formativos. A comunicação pessoal e afetiva é essencial no Meio Popular. Contudo, tive a oportunidade de desenvolver, por vários anos, um programa de Educomunicação com adolescentes e jovens. Foram atividades com o objetivo de instaurar novas relações pedagógicas, educar para a convivência e a cooperação, alfabetizar para o multimidial, ler criticamente os meios de comunicação social e desenvolver competências comunicativas, através de oficinas de: Jogos Cooperativos, Literatura e Poesia, Dança
(circular, de rua, afro, cigana), Teatro, Fotografia, Jornal e Vídeo
9. Tendo presente sua Missão no Meio Popular, uma frase O Papa adverte: ‘Fale mais de Deus do que de si próprio’. Sinto-me meio constrangida. Sei que ainda estou a caminho, mas olhando para trás, posso afirmar que vivi um pouco o propósito que fiz na minha Primeira Profissão: Fiz-me tudo para todos para ganhar alguns poucos para Cristo (1 Cor 9,22).
10. Sua mensagem para os leitores do EM FAMÍLIA. Acima de tudo o amor. Na missão, somente o amor manifestado, o interesse pela vida do outro (a), o conhecimento recíproco e a ternura constroem, libertam e edificam. Deixam marcas. Que as novas gerações não tenham medo de amar e de sujar os pés nas estradas sofridas dos jovens verdadeiramente pobres. janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Registro
Encontro da ECOSBRASIL Após o Encontro da RSB Comunicação, nos dias 21 e 22 de março próximo passado, sob a coordenação de Irmã Márcia Kofferman, com a presença da Coordenação de Comunicação das nove Inspetorias do Brasil, e de Irmã Ana Teresa Pinto, Inspetora referente, foi realizado o Encontro da ECOSBRASIL. O objetivo maior do encontro foi a preparação para o Seminário Interamericano de Educomunicação das Filhas de Maria proposto pela ECOSAM – Equipe de Comunicação Social da América – com o tema: “Educomunicação: força profética do Sistema Preventivo” e com o slogan: “Jesus veio e caminha com eles” (Lc 24,15). O Seminário, a ser realizado em São Paulo, se propõe a habilitar a releitura da Educomunicação, no contexto atual na perspectiva do Sistema Preventivo, e, conforme a carta enviada pela ECOSAM, deseja ser “um processo de aprendizagem que permita maior capacitação e unificação em relação às práticas educomunicativas promovidas na América. ” Portanto, a maior parte do tempo dos dias 21 e 22, foi dedicada ao planejamento da infraestrutura 68 | Em Família
do Seminário, da acolhida dos participantes sob a responsabilidade da ECOSBRASIL. Terminada a organização do Seminário, o Grupo retomou o Planejamento Estratégico da ECOSBRASIL e revisou as ações propostas para o triênio e os compromissos assumidos que devem ser atuados nas Inspetorias. Também foi possível fazer uma análise do perfil e funções da coordenadora e do coordenador inspetorial de Comunicação, a partir do que foi trabalhado com a psicóloga, Patrícia Michelin, no encontro da Rede Salesiana Brasil de Comunicação. Após a avaliação em que, mais uma vez, foi destacado o trabalho, a dedicação e a liderança de Irmã Márcia Kofferman e a fraternidade existente no Grupo, agradecemos a acolhida carinhosa das Irmãs da Inspetoria Maria Auxiliadora e pedimos a Nossa Senhora, a primeira comunicadora do Amor, que nos ajude na missão de comunicar a Palavra principalmente à juventude.
Registro
I Encontro de Educomunicação-BSP Na última segunda-feira de março, foi realizado, no Colégio de Santa Inês, o I Encontro de Formação em Educomunicação, promovido pela Inspetoria Santa Catarina de Sena. Os participantes foram acolhidos pela Coordenadora de Comunicação, Ir. Maria de Lourdes Becker, e pela assessora de comunicação, Andréa Pereira. No período da manhã, foi apresentado o Itinerário Formativo de Educomunicação com destaque para o seu objetivo: “oferecer aos educadores de diferentes realidades do Brasil um Itinerário, gradual e sistemático, que dê os elementos necessários para iniciar e/ou qualificar os projetos educomunicacionais nas instituições salesianas. A pergunta: “o que você entende por Educomunicação?” abriu caminho para a projeção do vídeo de uma enatrevista do Professor Adilson Citelli, sobre práticas educomunicativas, seguida por atividade em grupo e pela animada socialização
das reflexões. Após o almoço, foram apresentadas a Sistematização das experiências educomunicativas por: Geovani Amorim do Instituto São José; Luiz Fernando Miguel do Colégio do Carmo; Marcela Costa do Colégio de Santa Inês, Francisco Gardel Giovanelli da Casa Betânia; Marcela Costa do Colégio Auxiliadora; Cíntia Mendes e Camila Diniz do Instituto Coração de Jesus. Neste encontro, mais uma vez, ficou claro, para todos os participantes. que a Educomunicação é um meio privilegiado, que o Educador-comunicador possui para garantir aos adolescentes e jovens o acesso ao direito à Comunicação, portanto, para colocar os meios de informação a serviço dos interesses e necessidades dos educandos, garantido a todos o direito de livre expressão e o acesso às tecnologias da informação, conforme afirma Volpi e Palazzo em 2010. janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Registro
Encontro Rede Salesiana Brasil de Comunicação Com o tema “Acompanhamento na perspectiva da Comunicação”, em Carpina, PE, no Juvenato Maria Auxiliadora, foi realizado, nos dias 19 e 20 de março próximo passado, sob a coordenação de Irmã Márcia Kofferman, o Encontro Nacional da Rede Salesiana Brasil de Comunicação, com a presença da Coordenação Inspetorial das FMA, dos Delegados das Inspetorias dos Salesianos e dos responsáveis pela equipe do Boletim Salesiano. O primeiro dia, festa de São José, foi enriquecido com a presença do Pe. Filiberto Gonzalez, Conselheiro Geral do Discastério da Comunicação que, numa breve reflexão referiuse à importância do trabalho em equipe FMA e SDB que vem sendo realizado no Brasil, enfatizando que, acima de tudo, a Comunicação é relação. Também estiveram presentes, neste dia, Irmã Maria Adriana Gomes da Silva, Inspetora da Inspetoria Maria Auxiliadora, Ir. Ana Teresa Pinto, Inspetora Referente pela Comunicação das FMA, Pe. Nivaldo Pessinatti, Inspetor dos SDB de Recife, Pe. João Carlos Ribeiro Rodrigues e Irmã Maria da Paz, Ecônoma Inspetorial da Inspetoria FMA de Recife. Na oração inicial, a partir do ícone evangélico – Discípulos de Emaús – que melhor ilumina a 70 | Em Família
Registro caminhada do Comunicador com as pessoas que acompanha, refletimos sobre a atitude do Mestre com os dois discípulos que vão para Emaús. Atitude não de mestre, mas de um simples companheiro de caminho, que vai ao encontro, sem utilizar o tom solene de quem ensina, mas o tom de quem pergunta e se interessa com amizade, provocando a mudança de atitudes. Em seguida, houve a/o: • apresentação do Relatório anual de Atividades da RSB Comunicação 2018 abrangendo as áreas da Animação, Formação, Produção e Informação; • entrega de vários subsídios; • trabalho em grupos: Acompanhamento na perspectiva dos documentos de Comunicação dos Institutos FMA e SDB. Encerrando os trabalhos, no final da tarde, Padre Filiberto presidiu a Celebração Eucarística, destacando a figura de São José. O dia seguinte, 20 de março, foi dedicado à Formação de Liderança pela psicóloga Patrícia Michelin, proveniente de Porto Alegre. Patrícia, por meio de dinâmicas, trabalho em grupo, insistiu na importância de delegar e de acompanhar e nos ofereceu pistas para adaptar e, até mesmo, modificar nosso comportamento como responsáveis por uma equipe inspetorial. Agradeço a todos os organizadores do encontro, de modo especial, à Irmã Márcia Kofferman e às Irmãs da Inspetoria Maria Auxiliadora. janeiro | fevereiro | março e abril 2019
Registro
II encontro de Oficinas de Planejamento e desenvolvimento (OPD’S) e Centro de Formação Profissional (CFP’S) Por Ir. Ana Luiza da Silva Medeiros e Ir. Celene Couto Rodrigues
Durante os dias 25 de fevereiro a 01 de março, foi realizado no Instituto Teológico PIX no Alto da Lapa, o segundo encontro de Oficinas de Planejamento e Desenvolvimento (OPD’S) e Centro de Formação Profissional (CFP’S) da América. Estiveram presentes 70 participantes de diversas inspetorias da América Latina, provindas de oito países , entre elas cinco FMA e catorze SDB. Da inspetoria Santa Catarina de Sena participaram, a leiga Rosemeire Gomes, gestora do Polo São Paulo de ação social das FMA, Irmã Dorcelina de Fátima Rampi, Irmã Ana Luiza da Silva Medeiros e Irmã Celene Couto Rodrigues. O objetivo desse segundo módulo, conduzido por Leandro Lamas Valarelli da empresa de Estratégica e Mudança de Instituição, foi trabalhar o Marco lógico. No primeiro dia, a apresentação da visão geral das atividades e movimentos, desenvolvidos nas diferentes CFP’S da América, foi momento rico de aprendizado e partilhas de experiências. No segundo dia, tivemos a belíssima oportunidade de visitar e conhecer a Obra Social 72 | Em Família
Registro Dom Bosco de Itaquera estruturada de forma concreta, possibilitando ricas trocas de experiências entre todos os participantes e o presenciar algumas de suas lindas atividades. Da acolhida pela fanfarra e pelos educadores, à apresentação do espetáculo do Circo, às refeições preparadas pelos alunos de gastronomia, com cardápios tipicamente brasileiros, à visita das oficinas desenvolvidas no núcleo de Itaquera, ao ensaio da escola de samba, à celebração eucarística foram manifestações de que a Civilização do amor pode ser construída e é construída concretamente todos os dias pontualmente em Itaquera. Inegavelmente, Padre Rosalvino é Dom Bosco hoje em nossa realidade. A partir do terceiro dia, o palestrante Leandro iniciou o trabalho com o grupo, trazendo a reflexão sobre a cadeia de impactos, as ideias pré-formadas e os aspectos mais assertivos sobre a mesma. Após sua explanação foi possível dar início ao trabalho, em grupos, com casos concretos para aplicar as ferramentas ensinadas nas palestras. Foram momentos propícios para fixar a teoria. Por meio das orientações do moderador, conseguimos melhorar o aprendizado e conseguir mais segurança para colocá-lo em prática no nosso cotidiano. A experiência de partilhar projetos, sonhos, desafios, a possibilidade de aprendermos juntos e a convivência com diferentes culturas nos enriquece de substratos essenciais para o entendimento e gestão de nossas obras. A Família Salesiana fala uma mesma língua: a linguagem do amor, do
jeito de Dom Bosco e Madre Mazzarello. Foi grande o aprendizado e nos motivou a conhecer e aprofundar as novas metodologias que cercam nossas frentes de trabalho para a criação de novas possibilidades, visando melhor responder aos desafios que nos aparecem na elaboração e monitoria de nossos projetos, para fazer, cada vez mais, o bem para nossos queridos e amados jovens. Partimos, com a certeza de termos participado de um encontro bastante intenso, com a cabeça cheia de novos conhecimentos e um coração repleto de esperanças. “Para mim, a oficina de ‘Projeto de fortalecimento de capacidades’, foi uma imensa oportunidade de crescimento e fortalecimento de conhecimento teórico e abertura de mente para mudança de paradigmas, melhorar a capacidade de planejar com mais objetividade e possibilidade de eficiência e eficácia nas mudanças das situações de vida das nossas crianças, adolescentes e jovens através de nossa obras e frente de trabalho.” (Ir.Ana Luiza) “Foi uma experiência ímpar para ampliar meus conhecimentos na área de gestão, mas, sobretudo, inspirar novas ações e alegrar-me em poder conhecer e me juntar com tantas FMAs, SDBs, leigos e leigas de toda a América que se empenham diariamente para ajudar os jovens a terem vida e vida em abundância nas diferentes realidades e desafios que vivemos hoje”. (Irmã Celene)
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Registro
Celebração de entrada no noviciado iniciação àvida religiosa Na manhã do dia 18 de janeiro de 2019, no Centro de Espiritualidade Flos Carmeli, em Mairiporã-SP, encerrando o Retiro Anual, foi realizada a Celebração de Iniciação à Vida Religiosa em que seis postulantes de três inspetorias do Brasil receberam a medalha de Noviça, simbolizando o compromisso com a missão que desejam abraçar, certas da presença materna e singela de Maria Auxiliadora. As jovens: Adriana Soares Dantas, Denise Menezes Alencar e Maria Diana Aguiar Azevedo (BMT); Giselle Ferreira dos Santos e Olívia Maria Matas (BRE) e Thaísa Mara de Souza (BBH) escolheram, como símbolo da nova etapa, a argila e a frase-força “Como barro nas mãos do Oleiro, assim sereis vós em minhas mãos” (Jr 18,6), desejosas de serem este “barro”, abandonando-se nas mãos do Senhor, Aquele que, com ternura e firmeza, forma e transforma. O itinerário de Iniciação do Noviciado, no Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, é marcado por uma profunda experiência com Deus, realimentação da vida no Espírito e êxodo que possibilita o encontro com o transcendente. Irmã Helena Gesser, Inspetora da Inspetoria Santa Catarina de Sena que acolheu as 74 | Em Família
Registro
Noviças, na Casa do Noviciado Interinspetorial Nossa Senhora das Graças-SP, evidenciou que “A etapa é vivenciada na lógica dos pequenos passos, por isso, faz-se necessário uma abertura de coração e de mente para se deixarem conduzir pelas mãos do Divino Oleiro e dos grandes formadores explicitados nas Constituições: o Espírito Santo e Maria Santíssima”. Por meio da singela e significativa celebração, as seis noviças confirmaram seu “sim” ao chamado que Deus lhes fez para segui-Lo radicalmente, trabalhando em favor do Reino, em meio às juventudes, fazendo vivo e eficaz o Evangelho e o Carisma Salesiano dos santos fundadores, Dom Bosco e Madre Mazzarello. Com o coração repleto de gratidão, as noviças do 1° ano, renovaram o desejo de aprender, conhecer e vivenciar o projeto formativo do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, concretizado no cotidiano da vida comunitária e na doação integral ao sonho que Deus tem para cada uma. Gratas ao testemunho, ao acompanhamento, às orações de inúmeras Filhas de Maria Auxiliadora, Irmãs Salesianas, as Noviças partilharam brevemente o que significou este passo para suas caminhadas formativas: Relatos das Noviças 1° ANO “O momento do retiro foi muito tranquilo, bem dirigido por Pe. Sílvio (sdb). Suas colocações sobre o silêncio interno, o perceber Deus nas pequenas coisas, o contemplar as pessoas, o cuidar do momento de oração, o perseguir o silêncio como forma de perseguir a sabedoria, o ser feliz janeiro | fevereiro | março e abril 2019
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naquilo que escolhemos, o pensar em nossas ações, o ser coerentes com a vida, palavras que em ajudaram e me conectaramm com o importante momento de passagem para o noviciado. Senti-me muito feliz por estar ali, junto às nossas Irmãs da Inspetoria Santa Catarina de Sena e minhas colegas de formação. Foi alegre o momento e, por isso, sou grata a Deus, às Irmãs e às formandas daqui e as Irmãs da Inspetoria Santa Teresinha, por suas orações e voto de confiança. Que Maria nos acompanhe... Amém.” [Adriana Soares Dantas (BMT)] “Quão profunda e inesquecível foi vivenciar a experiência do retiro anual pela primeira vez. Tudo convidava a silenciar-se para encontrar-se com o Criador, principalmente no momento da partilha da mesa da Santa Eucaristia. De fato, o retiro foi tempo de graça de Deus, especialmente para este início de caminhada à Vida religiosa que me coloco à disposição como “ barro nas mãos do Oleiro” [Denise Menezes Alencar (BMT)] “Para dar continuidade à etapa formativa do noviciado, eu pude vivenciar um tempo forte de experiência com Deus. Momento de graça e tempo de conversão. Tempo que proporcionoume entrar mais na profundidade da minha vida, vocação e missão que Deus me confia. Com muita alegria, participei do momento significativo: a iniciação à Vida Religiosa, colocando minha vida nas mãos do “Mestre Oleiro” e de Maria Auxiliadora. ” [Maria Diana Aguiar Azevedo (BMT)] 76 | Em Família
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“A celebração da iniciação à vida religiosa foi um momento significativo, cheio de alegria e gratidão a Deus, que “como a argila nas mãos do oleiro”, o Senhor irá me conduzindo na concretização do seu projeto em minha vida. ” [Giselle Ferreira dos Santos (BRE)] “Foi uma experiência profunda com Deus. E “como barro nas mãos do oleiro, assim sereis vós em minhas mãos” quero deixar-me modelar por Ele. No momento em que recebi a medalha senti pulsar, em meu coração, o chamado a uma mudança de vida e o percorrer um novo caminho, com abertura e gratidão, manifestando essa alegria imensa em meio aos jovens, centro da nossa missão.” [Olívia Maria Matas (BRE)] “Gratidão é o que brotou em meu coração ao receber a medalha de noviça, durante a Celebração que marcou o meu início à Vida Religiosa Salesiana. Momento que marcou mais um passo em minha caminhada formativa no Instituto, fazendo-me sentir impelida a doarme generosamente à missão à qual sou chamada, como a argila nas mãos do Oleiro que é moldada conforme seus desígnios e gestos singelos de amor”. [Thaísa Mara de Souza (BBH)]
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É Festa
Celebrando a vida - Aniversariantes ABRIL
02. Maria do Carmo de Carvalho Martins 11. Maria José Gabriel 13. Isadora Chiliani Oliveira (nov) 18. Vilma Santoro Bertini 24. Maria Apparecida Delphino Neyde Enid Alves da Silva 25. Alaíde Deretti – (Cons. Geral – Missões) 29. Denize Salvador MAIO
02. Terezinha Mafalda de Almeida 03. Ana Alzira Fogaça 05. Anna Maria Orlando Cecília Tredezini – Celene Couto Rodrigues t. 06. Chiara Cazzuola – Vigária Geral 13. Vilma Tallone – Ecônoma Geral 14. Valéria Timóteo Soares 17. Wilma do Carmo Antonelli 20. Lucy Rose Ozhkayil – Conselheira Visitadora 23. Ilza M. Beinotti – Maria da Conceição Silva 24. Phyllis Neves – (Conselheira Visitadora) 27. Maria da Glória Moreira
JUNHO
01. Ivone Braga de Rezende 04. Celina Gerardi – Maria Eliete Lopes 07. Alice de Souza Sant´Anna 13. Madre Antonia Colombo 20. Jandyra Hummel 29. Piera Cavaglià (Secretária Geral) JULHO
01. M. Aparecida Nunes 03. Maria Luiza Ravanhani 04. M. Ap. Sartorelli – Maria Tavares Cláudia Regina Corrêa Ribeiro Jandira Rodrigues Camargo 05. Diva Mucci – Maria Luiza Novais 09. Maria da Encarnação Cleonice Aparecida Lourenço 10. Adelina Silva 12. Rosalba Perotti 18. Susana Walchak Marija Pece (Conselheira. Visitadora) 20. Lúcia Aparecida dos Santos 25. Maria do Socorro Oliveira 29. Maria Bernadette Camargo
LEMBRANÇA + 27/12 – Sr. Jorge Luiz Marin, irmão de nossa Irmã Augenir, faleceu, em Americana + 22/02 - Sr. Fernando, tio de Ir. Célia Regina Pinto, em São José dos Campos + 24/03 - Juliana Fidelis, sobrinha de Ir. Maria de Lourdes Fidelis + 21/03 - Maria do Carmo Rodrigues Xavier, irmã de Ir. Elza Aparecida Rodrigues
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Jesus ressuscitou dos mortos. Ressoa na Igreja, por todo o mundo, este anúncio, juntamente com o cântico do Aleluia: Jesus é o Senhor, o Pai ressuscitou-O e Ele está vivo para sempre no meio de nós. O próprio Jesus preanunciara a sua morte e ressurreição com a imagem do grão de trigo. Dizia: «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24). Foi isto mesmo que aconteceu: Jesus, o grão de trigo semeado por Deus nos sulcos da terra, morreu vítima do pecado do mundo, permaneceu dois dias no sepulcro; mas, naquela sua morte, estava contida toda a força do amor de Deus, que se desencadeou e manifestou ao terceiro dia, aquele que celebramos hoje: a Páscoa de Cristo Senhor. Nós, cristãos, acreditamos e sabemos que a ressurreição de Cristo é a verdadeira esperança do mundo, a esperança que não decepciona. É a força do grão de trigo, a do amor que se humilha e oferece até ao fim e que verdadeiramente renova o mundo. Esta força dá fruto também hoje nos sulcos da nossa história, marcada por tantas injustiças e violências. Dá frutos de esperança e dignidade onde há miséria e exclusão, onde há fome e falta trabalho, no meio dos deslocados e refugiados – frequentemente rejeitados pela cultura atual do descarte – das vítimas do narcotráfico, do tráfico de pessoas e da escravidão dos nossos tempos. (...) (...) Queridos irmãos e irmãs! Também a nós, como às mulheres que acorreram ao sepulcro, é-nos dirigida esta palavra: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!» (Lc 24, 5-6). A morte, a solidão e o medo já não são a última palavra. Há uma palavra que vem depois e que só Deus pode pronunciar: é a palavra da Ressurreição. Com a força do amor de Deus, ela «afugenta os crimes, lava as culpas, restitui a inocência aos pecadores, dá alegria aos tristes, derruba os poderosos, dissipa os ódios, estabelece a concórdia e a paz» (Precônio Pascal). Feliz Páscoa para todos! Trecho da mensagem do Papa Francisco em 2018
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Festa da GratidĂŁo 2019
Obrigada, Madre Yvonne