Sรก de Joรฃo Pessoa (Poeta Popular)
Por onde andou
o Cordel?
Rio de Janeiro 2010
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ÍNDICE
1 – Literatura de cordel e poesia popular, pg. 3
2 – Por onde andou o cordel?, pg. 6
3 – Caminhos do Cordel, pg. 26
4 – Antologia de poetas e payadores, pg. 34
5 – Antologia de pliegos sueltos chilenos, pg. 195
6 – Apêndice, pg. 222
Capa Xilogravura de Marcelo Soares
3 LITERATURA DE CORDEL E POESIA POPULAR Ao recuperar alguns trabalhos já publicados para transformá-los em livros digitais, quase sempre me encontro diante de estruturas culturais cujas referências se apresentam às vezes contraditórias, às vezes análogas, mas sempre surpreendentes. No meio tempo em que foram escritas e os dias de hoje muita coisa aconteceu, mas a principal foi o advento da internet e o imenso universo de informação que permeia os navegadores da rede. No presente caso, o artigo Por onde andou o cordel?, publicado originalmente em novembro de 1988 e faz, neste 2010, 22 anos, se originou de uma peregrinação feita às cidades de Valparaíso e Santiago do Chile, em visita a parentes. Para satisfazer o velho vício que tenho e me mantém aceso, qual seja, o de rato de livrarias e sebos, mantenho sempre um lugar vago na agenda e só depois de cumpri-lo me dou por satisfeito. Foi em Santiago mesmo, na Livraria Andrés Bello¹ , uma das mais conceituadas livrarias do Chile, que encontrei dois folhetos do poeta Vitalício Ulloa – El Barbecho² e La Siembra³, ambos de 1986. Para completar a sorte encontrei o livro Antologia de 5 poetas populares, de Diego Muñoz (1971). Juntando a isso o volume do Martín Fierro – Ida y Vuelta, de José Hernández, tinha em mãos material suficiente para aguçar a curiosidade de saber até que limites a Literatura de Cordel havia chegado entre nossos vizinhos. Em matéria de organização achei a vertente chilena bem mais avançada, já tendo sido recolhido tudo aquilo que se relacione aos primeiros impressos de poesia popular, cuja datação é muito semelhante à brasileira, os primórdios remanescendo ao Século XVIII. A publicação de pliegos sueltos culminou com a saída consagrada do periódico Lira Popular, que durou de 1866 até meados de 1930, sendo considerada A Época de Ouro da Literatura Popular Impressa, segundo excertos extraídos de http://www.memoriachilena.cl/:
“Com o nome de Lira Popular conhecemos no Chile os pliegos sueltos, impressos que surgiram em finais do Século XIX e nos quais os poetas populares publicavam suas poesias em décimas, antiga forma métrica que passou para a América com a Conquista, junto a outras variadas expressões literárias usadas pelo povo, como adivinhações, refrães, contos, lendas e romances.” “Em cada pliego, o poeta incluía cinco ou seis composições em décimas, em geral glosadas de uma quadra, nas quais comentava – desde a sua própria
4 perspectiva – os acontecimentos nacionais e os fatos locais que os afetavam. Mesclavam-se, assim, casos da atualidade, que faziam alusão ao humano, com fatos e personagens bíblicos, que punham em cena o divino, brindes, payas, contrapontos, cuecas e tonadas.” “Cada pliego pertencia a um só poeta e estava encabeçado em geral, por toscas gravuras populares que ilustravam os temas, realizadas também por alguns deles. Os poetas vendiam seus pliegos anunciando-os aos gritos pelas ruas, mercados e estações de trem. Na Europa se chamava "literatura de cordel", pela forma com que seus autores ofereciam suas folhas penduradas em um cordel ou lenço, atados de uma árvore a outra. Os poetas populares publicaram também folhetos de pequeno tamanho com décimas e romances, assim como cuecas e canciones em moda na época.” “No Chile, o tempo de maior auge de este tipo de imprensa popular se deu aproximadamente entre os anos 1860 e 1920 e seu primeiro colecionador foi o professor alemão e estudioso de nossa cultura Rodolfo Lenz, que doou para a Biblioteca Nacional cerca de quinhentos pliegos que fazem parte das três únicas coleções que existem no nosso país. A Biblioteca Central da Universidad do Chile conta com a Coleção formada por don Raúl Amunátegui com uns 850 pliegos e a Biblioteca Nacional, ademais, conserva a reunida por Alamiro de Ávila que contem 350 pliegos.” “Afortunadamente, nos últimos vinte anos se tem reconhecido o valor, como fonte histórica, deste tipo de literatura popular. Estão começando a estudar nos pliegos temas como A Guerra do Pacifico, o Governo de José Manuel Balmaceda, problemas limítrofes e disputas eleitorais, entre outros. Também estão mostrando interesse os cantos por angelito e os cantos a lo divino em geral. “Especialmente valiosas são as gravuras populares com que os poetas ilustravam suas décimas, sobretudo as relacionadas com fatos trágicos e violentos: crimes e fuzilamentos.” A minha alegria é ver que o material de 1988 não envelheceu e que, somado a novas informações obtidas graças à internet, dará muita substância a quem quiser enveredar pelo mesmo caminho. NOTAS: 1 - Andrés Bello (1781-1865) - Lutou com Bolívar pela independência da Venezuela, Chile e Argentina. Na Inglaterra conseguiu apoio na luta contra a Espanha. Naturalizado chileno, fundou a Universidade do Chile e escreveu o Código Civil. 2 - El Barbecho é o terreno ainda inculto, deixado em repouso para se revitalizar. 3 - A Semeadura.
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(Gravura que ilustrou o artigo original n’O Galo)
6 POR ONDE ANDOU O CORDEL? (Publicado no jornal O Galo – Natal (RN), novembro de 1988)
Intróito
1. De outro grande poeta, Um tal Salomão Rovedo, Leio de carona O Galo, Jornal valente, sem medo, Gostei muito – se gostei! E assim não faço segredo.
5. Gostei do Galo, repito, É valoroso jornal, Mostra que é o Nordeste Também intelectual, Cristo nasceu em Belém E O Galo lá em Natal!
2. Pois esse Galo é assim: Bom de briga, barrufado, Cantando à boca-da-noite Um canto bem arrumado, Diz-que é amor que tá sendo Por outro amor raptado.
6. Quem tiver outro jornal Que fale assim desse jeito Pois mande aqui pro poeta, Gosto do que é bem feito, É o beiju do meu café, A rede que é meu leito.
3. Galo antes de cantar, Como sabe todo mundo, Bate asas só três vezes E anuncia num segundo Que Galo bom não é gordo, Mas forte, brabo e fecundo.
7. Senti falta do cordel – Poesia popular – Que na terra potiguar Sei que não há de faltar, Por isso mando um artigo Pro Galo amigo editar.
4. Se cantar fora de hora Amanhã tem novidade, Sabendo o canto de cor Canta com amor e vontade, Fecha os olhos inspirado Como cantasse a saudade...
8. Aqui quem fala pro Galo Neste cantar besta à toa É o poeta popular Que faz poesia da boa E se assina pelo nome De Sá de João Pessoa!
7 Sei que é coisa pra muita pesquisa de quem sabe e tem competência pra fazer, mas não custa dar um primeiro passo, um sabor de açúcar pra boca de quem tem gosto dessas coisas, como Leonardo Mota, Câmara Cascudo, herdeiros de Silvio Romero e Amadeu Amaral, companheiros de Théo Brandão, Jackson da Silva Lima, Florival Seraine, que como Mario de Andrade, por prazer das coisas nossas, largaram muito do que o galardão da literatice oficial lhes ofereceu pra registrar o folclore. E meto o bedelho sem medo, sem vergonhas de dar vexame, como quem já tempo tem de vida e de poesia pra poder depor e compor, de coisas que ouvi, que sei, que posso recontar. Foi assim que, andando por terras do Chile (sim, meus amigos, o Chile sem Pinochet é uma lindeza!), deparei com uma poesia popular da melhor qualidade, impressa e vendida assim mais ou menos como a nossa poesia de cordel. Daí me veio a interrogação: por onde andou o cordel? Por onde andou a poesia popular? Bem sabemos das origens ibéricas e provençais da poesia de cordel, desse canto improvisado em décimas que os violeiros apregoam e, em conseqüência, os inúmeros filhotes e derivados que daí ocorreram. A resposta mais óbvia e lógica é: se nossa poesia popular decerto veio via Portugal, de origem hispânica, nada mais justo pensar que a poesia popular castelhana também invadiu as colônias. Podemos ir mais longe? Ora, por aqui aportaram não só lusitanos mas espanhóis, flamengos e gauleses – pra não falar nos súditos de S. M. A Rainha da Inglaterra – e eles também tinham suas cantorias originais. Aposto,
8 portanto, que por aqui ficou, nos tempos coloniais, muito cantar de língua hispânica, que foram posteriormente reinventados e traduzidos ao nosso idioma/folclore. Mas isso é de-menos. Minha indagação é: até quando, como e onde o cantar hispano-lusitano chegou na América do Sul? Bem que gostaria de ter exemplos de outros vizinhos Venezuela abaixo, mas como disse no introdutório isso é coisa de maior fôlego e apetite pra essa turma jovem encarar, ir à luta e apresentar seus trabalhos como tese de mestrado, em vez de ficar catando chifre em cabeça de cobra, perdendo tempo tentando desvendar mistérios lacanianos ou vendo visagens nas carnavalizações impróprias dos baktines da vida. Arre! Minha curiosidade, meu ânimo tem fundamento pois da língua hispânica não temos esse maravilhoso poema popular chamado Martín Fierro? Poucos poetas de todos os tempos hão de alcançar a pureza que José Hernández (1834-1886), respeitemos “El Gaucho” (pronúncia acentuada no á)! Hernández, além de poeta foi muitas coisas: aventureiro, guerrilheiro, militar, senador e das muitas estripulias que fez, teve de fugir muitas vezes, pelo que andou também em terras do Brasil, lá no extremo sul, onde as fronteiras não têm fronteira e as terras se misturam formando o Pampa. Quando ele falava era como um trovão e tantas foram as suas façanhas que ficou conhecido entre os companheiros por Martín Fierro. Desse exílio em terras brasileiras nasceram os primeiros versos de El gaucho Martín Fierro (1872) e o poema publicado fez tanto sucesso que obrigou seu autor a compor La vuelta de Martín Fierro em 1879. Não obstante A volta ser também um belo poema, não supera a simplicidade e beleza
9 do original. Sem dúvida é o mais belo poema popular da América de todos os tempos e todos os portenhos até hoje aprendem a ler e escrever com as edições escolares de Martín Fierro. O poema é bem parecido com as nossas aventuras de cordel e, como todo cantador, Hernández inicia pedindo inspiração: Aquí me pongo a cantar Al compás de la vigüela, Que el hombre que lo desvela Una pena extraordinaria Como la ave solitaria Con el cantar se consuela. Pido a los Santos del Cielo Que ayuden mi pensamiento; Les pido en este momento Que voy a cantar mi historia Me refresquen la memoria Y aclaren mi entendimiento. Vengan Santos milagrosos, Vengan todos en mi ayuda, Que la lengua se me añuda Y se me turba la vista; Pido a Dios que me asista En una ocasión tan ruda.
10 Yo he visto muchos cantores, Con famas bien obtenidas, Y que después de adquiridas No las quieren sustentar: Parece que sin largar Se cansaron en partidas. Mas ande otro criollo pasa Martín fierro ha de pasar, Nada la hace recular Ni las fantasmas lo espantan; Y dende que todos cantan Yo también quiero cantar. Cantando me he de morir Cantando me han de enterrar, Y cantando he de llegar Al pie del eterno padre: Dende el vientre de mi madre Vine a este mundo a cantar. Que no se trabe mi lengua Ni me falte la palabra: El cantar mi gloria labra Y poniéndome a cantar, Cantando me han de encontrar Aunque la tierra se abra.
11 Me siento en el plan de un bajo A cantar un argumento: Como si soplara el viento Hago tiritar los pastos; Con oros, copas y bastos Juega allí mi pensamiento. Yo no soy cantor letrao, Mas si me pongo a cantar No tengo cuándo acabar Y me envejezco cantando: Las coplas me van brotando Como agua de manantial. Con la guitarra en la mano Ni las moscas se me arriman, Naides me pone el pie encima, Y cuando el pecho se entona, Hago gemir a la prima Y llorar a la bordona. Yo soy toro en mi rodeo Y torazo en rodeo ajeno; Siempre me tuve por güeno Y si me quieren probar, Salgan otros a cantar Y veremos quién es menos
12 No me hago al lao de la güeya Aunque vengan degollando, Con los blandos yo soy blando Y soy duro con los duros, Y ninguno en un apuro Me ha visto andar titubeando. En el peligro, ¡qué Cristos! El corazón se me enancha, Pues toda la tierra es cancha, Y de eso naides se asombre: El que se tiene por hombre Ande quiere hace pata ancha. Soy gaucho, y entiendaló Como mi lengua lo explica: Para mi la tierra es chica Y pudiera ser mayor; Ni la víbora me pica Ni quema mi frente el sol. Nací como nace el peje En el fondo de la mar; Naides me puede quitar Aquello que Dios me dió Lo que al mundo truje yo Del mundo lo he de llevar.
13 Mi gloria es vivir tan libre Como el pájaro del cielo: No hago nido en este suelo Ande hay tanto que sufrir, Y naides me ha de seguir Cuando yo remuento el vuelo. Yo no tengo en el amor Quien me venga con querellas; Como esas aves tan bellas Que saltan de rama en rama, Yo hago en el trébol mi cama, Y me cubren las estrellas. Y sepan cuantos escuchan De mis penas el relato, Que nunca peleo ni mato Sino por necesidá, Y que a tanta alversidá Solo me arrojó el mal trato Y atiendan la relación Que hace un gaucho perseguido, Que padre y marido ha sido Empeñoso y diligente, Y sin embargo la gente Lo tiene por un bandido.
14 Essa é a introdução de El gaucho Martín Fierro, poema que se estende por 395 sextilhas, quadras e versos corridos, que somados à La Vuelta de Martín Fierro dá um total de 1.193! Como se vê, uma linguagem riquíssima e popular que se enriquece ainda mais no decorrer da narrativa por onde perpassam elementos folclóricos, históricos, adagiário popular, modas e costumes de época, havidos numa região bravia de difícil sobrevivência. O exílio obrigou José Hernández a viver em Buenos Aires e ali socializou-se, politizou-se, fez carreira parlamentar. Escreveu muita coisa sobre os costumes do interior e, como disse, La Vuelta de Martín Fierro que, como os filmes Rambo um, dois, três, serviu apenas para amenizar algumas passagens relatadas na primeira história, sabido que esse Hernández foi mesmo um Martín Fierro de modo a não deixar inveja a Antonio Silvino e do destemido Lampião... Porém, quando queria cantar um conto, narrar uma leyenda, não havia igual a ele. Outro poeta popular argentino, do qual não se tem outras informações a não ser um poema publicado junto com El gaucho Martín Fierro é Juan Pedro López, autor de La leyenda del Mojón: Llovía torrencialmente Y en la estancia del Mojón Como adorando al fogón Estaba toda la gente. Dijo un viejo de repente: "Les voy a contar un cuento Aura que el agua y el viento
15 Train a la memoria mía... Cosas que naide sabía Y que yo diré al momento. Não é igualzinho aqui? Quantas vezes “adoramos” uma lamparina a ouvir histórias numa roda notívaga abrindo pindova... O poema é todo em décimas e pela introdução até que dá gosto conhecer todinho, né? (Quem quiser mando cópia...). Mas dizia, todo em décimas, essas décimas bem conhecidas da gente, as rimas acompanhando o rimar dos glosadores. E podem notar bem os elementos tanto de Martín Fierro como dessa primeira décima de La Leyenda... são exatamente os mesmos convocados por nossos contadores de estórias, nossos repentistas, nossos poetas populares. Pois é. Voltando ao Chile que, como disse, tirante Pinochet et caterva é país bem acolhedor, de gente simples, cantadores e bebedores dos excelentes tintos, país de mar com tantos frutos de deixar a gente bêbada, país que tem um Norte igualzinho ao nosso Nordeste, seco, árido, de poucas chuvas. Pois bem, nessa terra compridinha que vai se afastando lá pro rumo da Antártica (o continente, não a cerveja...), achei o verso inspirado de Vitalício Ulloa em dois folhetos intitulados El Barbecho (O forcado) e La Siembra (A semeadura), prometendo publicar em seguida La Consecha (A colheita) com o qual, penso, encerraria essa trilogia. Pena que não consegui esse último exemplar, mas espero um dia voltar ao Chile livre e até, quem sabe, bater um papo com Vitalício de poeta pra poeta. Vitalício Ulloa utiliza somente décimas e mais uma vez não tenho
16 elementos para saber se a poesia popular chilena fixou-se somente nas décimas ou mantém alguma variedade tão vasta quando a nossa que, particularmente, acho até exagerada... El Barbecho começa com uma Presentación muito típica, como a determinar a unidade da poesia popular latino-americana, pelo menos em dois aspectos: nesse e no relatar aventureiro e exagerado os contos populares, importados ou não: Yo soy Vitalício Ulloa, nací en el campo, señor, y es para mí gran honor este origen destacar, porque sirve pa’ explicar los vaivenes de la vida que ha sido pura subida sin ver todavía el plan y eso que he puesto mi afán en toda cosa emprendida. Mi casa ha hizo mi paire, al lao’el río, en un bajo tal vez para qu’el trabajo estuviera más a mano, pues con mí único hermano teníamos que salir en lanchón a combatir las mareas veleidosas
17 a veces tan contigiosas que nos costaba subir. Para eso hay que tener teso el lomo, y el pellejo tiene que ser muy parejo o se corta al comenzar, porque el trabajo’e remar no se lo doy a cualquiera, el agua es embelequera y juega bromas pesadas, con cualquier ola atrasada parecía yegua en la era. También le hicimo’a la hichona, al arado y al rozón, al hacha y al azadón, al martillo, el espinel, la red, la pala, el pincel, los libros, la poesía, el cuento, la fantasía, la guitarra y el serrucho; y a lo que le hicimos mucho jué a las mujeres, Usía. Con toito’estos ofícios de qué me podré quejar, nunca hei tenío que estar
18 botao como un ocioso, mi vivir ha sido hermoso y el tiempo no me ha faltao, tampoco yo le hei fallao y naiden me tiene queja. La vida, al ponerse vieja transforma todo el pasao. Hasta aquí no más yo llego porque ahora hay que brindar con cariñoso pensar, con amigos en presencia; es tan sabia la experiencia que nunca de nada olvida, ni cuando jue la partida, ni cuando estuvo el llegar; siempre es güeno presenciar la clara luz conseguida. E assim Vitalício Ulloa vai contando seu viver afanoso sem deixar de lado a poesia, que sobrevive mesmo nos tropeções que a vida nos prega. Depois desta apresentação segue os poemas: Recuerdos, Aqui estoy, Destino, Mamacita, todos em décimas. Vitalício Ulloa só foge desse cantar para mandar uma Cueca Largaza e é aí que ele se mostra popular mesmo, porque a cueca (pronuncia-se rápido – cüêca!) é um cantar musical tipicamente chileno, cheio de picardia, que não tem similar na América Latina. Diferente do tango e do bolerão, que são super-dramáticos e românticos, a cueca é o retrato de uma conquista
19 amorosa, cheia de vênias e carinhos que encerra romances e adeuses, simbolizados por um lenço que se mantém à mão enquanto durar a dança. Na contracapa de El Barbecho, Vitalício Ulloa deixa um recado que serve para todos nós: Por ahi se podría oír y es mejor que no se ensarte que desde un tiempo a esta parte poco hei podio escribir. Nada d’eso, mi vivir, ha estao a la orilla’el canto y me ha costao hasta llanto este humilde trabajar pues cuando empiezo a rimar se muy bien lo que aguanto. EL BARBECHO es cosa hecha LA SIEMBRA vendrá después y com empeño, tal vez, habrá que hacer LA COSECHA... Una tarea derecha logrará satisfacer, pues no debe envejecer esta décima sencilla su deslumbrante semilla siempre habrá de florecer.
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Merece ressalva o registro do modo de falar em poesia: “podío” por “podido”; “costao” por “costado”, etc. (muito comum no castelhano latino), repetindo literalmente tudo que Martín Fierro já registrava naqueles tempos. O uso constante de apóstrofe encurtando as palavras é visível. É notável como esse recurso em nada prejudica a poesia, pelo contrário, a torna curiosamente mais bela, porque diferente pelo ineditismo entre nós. Se em El Barbecho Vitalício Ulloa dá uma canja nos brindando com uma cueca, em La Siembra todos os dezessete poemas encadeados são em décimas. É lastimável que a gente não tenha um outro
tanto
de
poesia
popular
latino-americana
para
fazer
comparações e ir fundo nessa questão: por que a poesia de cordel brasileira é tão variada em estilo? Por que a poesia popular não teve a mesma disseminação nos países de língua hispânica? Qual o nível de sobrevivência da poesia popular nesses países? A existência de poetas como Vitalício Ulloa e de outros que já se tornaram lendas na poesia popular chilena, mostra que esse gênero está sobrevivendo... sabe-se lá como! Entre os mais tradicionais poetas populares chilenos, de vida tão aventurosa como a de José Hernández, estão: Raimundo Navarro Flores (1881-195?), autor de um curioso Cuntrapunto entre un cura y um penitente (Sade, Guerra Junqueiro, Leandro Gomes de Barros?);
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Ismael Sanches Duarte (1904), que na poesia Ante El Doctor, confiesa: Es feo que se lo diga, doctor, pero es la verdad vivo más por voluntad que por que da el oficio trabajo con sacrificio para mantenerme al día pero la salud y mi vida se van quedando en el piso. Abraham Jesús Brito, de quem, para se dizer tudo, convém repetir esta história: “Por volta de 1937, estava na casa de Pablo Neruda quando chamaram à porta. Eu mesmo fui atender. Era um estranho visitante. Chapéu e roupas puídas, um sobretudo muito grande, numa mão um cajado, na outra uma bolsa de papel grosso com alças de cordão. Por trás dos óculos grandes, um olhar inteligente, chispante e afável. Rosto acentuadamente moreno e bem barbeado. Cabelos brancos. Uma mirada distraída ou superficial poderia julgá-lo um mendigo. Porém, a figura estava revestida de tal dignidade, que após observá-la um instante era fácil reconhecer estar-se na presença de uma majestade rara. Era a majestade própria do poeta popular, a majestade do próprio povo nele encarnada. “Vive aqui o poeta “don” Pablo Neruda? me perguntou. Respondi afirmativamente. “Então faça-me o favor de dizer-
22 lhe que seu colega Abraham Jesús Brito, poeta popular nortista, veio aqui saudá-lo”. E desde então a amizade entre os dois poetas se firmou e cresceu. Quando Abraham morreu, seu colega mundialmente famoso escreveu uma elegia que dizia: “...y fue haciéndose agua por los ojos Y por las manos se fue haciendo raíces...” Dele disse Diego Muñoz, que registrou a história aí atrás: “Fue un gran poeta popular. Una gloria de la poesía popular chilena. No fue ni feliz ni desdichado, sino lo uno y lo outro; el tránsito de la desdicha hacia la felicidad humana. Un poeta popular!” Abraham Jesús foi o poeta-repórter do seu tempo. A segunda grande guerra passou pela sua poesia, as vitórias aliadas, os terremotos do Chile. Pedro Gonzalez (1918-1956), poeta que aprendeu a fazer versos apenas “para brincar con las palabras”, posto que mal sabia ler e escrever. Para sobreviver (lá como aqui a poesia não dá o de-comer), fazia artesanato de vime. Filho de camponeses, tentou melhor sorte nas Minas El Teniente. Ali a silicose atacou seus pulmões e tornou sua vida mais curta. Mesmo assim ainda participou e organizou o 1º Congresso Nacional de Poetas e Cantores Populares em 1954 e muito contribuiu para a sobrevivência da poesia popular chilena. No poema “A mi bello Chile”, Pedro Gonzalez faz uma bonita despedida:
23 Al fin, mi patria querida, te entrego mi corazón y com él va la razón y la juerza de mi vida; nunca serás sometida a invasores ni a tiranos, tu destino está em las manos de tus hombres y mujeres, porque ellos, Chile, te quieren ¡siempre libre y soberano!” Pedro Gonzalez não teve a desdita de ver Pinochet no poder. Como se sabe, Deus protege as crianças, os bêbados e os poetas... E pra encerrar essa mostra de poetas populares do Chile, eis o Lázaro Salgado (1902), poeta que – como o nosso Patativa do Assaré – compôs tudo de memória e sobrevivia da merreca que recolhia aos domingos na Veja de Santiago. Quando conseguia o dinheiro que necessitava para passar o dia, recolhia solenemente a sua viola e ia embora. Nada o faria ficar nem mais um segundo. Filho e neto de poetas populares, Lázaro Salgado tinha um tino político sagaz e, como a maioria, amava demasiadamente a sua terra. Dele são os versos a seguir, da época da campanha de Salvador Allende para a Presidência do Chile: El Presidente de Chile será Salvador Allende,
24 es honrado y no se vende como se han vendido miles; no es de esos tipos serviles, recto para hacer el bien, es llano como lo vem en su modo de tratar y a Chile va a gobernar el prototipo del bien. Esse espírito atualíssimo é notado em Desgracia de las pruebas nucleares e em A Yuri Gagarin, demonstrando uma poesia popular preocupada com problemas e temas internacionais. Lamento mais uma vez que não possam, vocês todos, saborear toda a sabedoria das poesia popular latino-americana, cujas raízes, desde Martín Fierro, se espalham por todo o continente e no Brasil tomou as formas peculiares que todos conhecemos. Por isso mesmo, alimento a esperança nessa turma de mais disposição na veia para ir fundo nesta pesquisa e trazer pra nós todos os caminhos por onde andou a poesia de cordel. BIBLIOGRAFIA José Hernández – Martín Fierro – Ida y Vuelta – Editorial Hangar, 1965 (Argentina) – El Gaucho Martín Fierro - Introducción y notas de Carlos Alberto Leguizamón – Ediciones Ateneo S/A, 1965 (México) Juan Pedro López – La Leyenda del Mojón – In Martín Fierro (cit.) Vitalício Ulloa – El Barbecho – Ed. do Autor, 1986 (Chile) – La Siembra – Ed. do Autor, 1986 (Chile) Diego Muñoz – Antología de 5 Poetas Populares – Ediciones Valores Literarios, 1971 (Chile)
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Xilogravura chilena
26 CAMINHOS DO CORDEL Depois de muito tempo enfronhado com a Literatura de Cordel (como ouvinte, leitor, admirador e autor), comecei a dirigir o olhar para os países vizinhos que, embora não tenham tido uma colonização similar a do Brasil, pecorreu os mesmos caminhos da assimilação cultural. No caso da assimilação cultural, a diferença estava no detalhe. A política espanhola tinha como parâmetros: a invasão, a dominação pela força e a exploração das riquezas à exaustão. Após esse período muitas das vezes as terras eram abandonadas ao seu próprio destino ou doadas aos parentes dos primeiros exploradores que saquearam todas as riquezas dos nativos. Pelo lado lusitano a conquista se dava através da ocupação habitacional, em lugar da invasão. Após a conquista inicial a dominação se dava através do viés religioso e cultural, incluindo a miscigenação. A parte criminosa cabia aos bandeirantes, cujo pagamento pela conquista de terras era coberta por ouro e pedras preciosas que descobrissem. Para isso tiveram que dizimar centenas de tribos indígenas – aí sim eram iguais aos tiranos espanhóis. Pode-se dizer o mesmo da aclimatação e da absorção dos aspectos culturais – neste caso a Literatura de Cordel – que veio junto com a colonização, tanto pra cá quanto pra alhures... Mas logo se percebe que os caminhos percorridos pela Literatura de Cordel não foram os mesmos. Entre os vizinhos castelhanos mais promissores na poesia popular destaca-se Argentina e Uruguai (que, junto com o Rio
27 Grande do Sul, chamarei Ramo Rioplatense) e Chile, Peru e Bolívia (logo, o Ramo Andino). No Cone Sul, que inclui a Argentina, o Uruguai e o Pampa Gaúcho, no princípio reinava a poesia popular gauchesca, cujos representantes mais famosos são, pela primazia, Bartolomé Hidalgo (1788-1822), Hilario Ascasubi (1807-1875) e José Hernandez (1834-1886), autor do mais famoso poema popular “Martín Fierro” – Ida y Vuelta [1] e mais Juan Pedro López (1885-1945) – autor de outro famoso poema popular “La leyenda del Mojón” [2]. A poesia popular gauchesca, no entanto, mudou de rumo e acabou por desaguar na payada, que se traduz por poesia e canto com acompanhamento de viola, depois do acordeom e bandonion. Logo em seguida a payada se aproximou das danças populares e – sem deixar de ser payada, se entrosou com a milonga e com o tango. O payador tem a mesma origem dos nossos cantadores repentistas e se apresenta ou sozinho ou em parelha, inventando as décimas ao ritmo da solicitação dos ouvintes. Existe uma querela entre os porteños que interessa diretamente aos estudiosos brasileiros e põe em dúvida a máxima de que o poeta popular é também necessariamente inculto. Não é bem assim, muito pelo contrário, como destaca a respeito, sem mais delongas, nada menos que Jorge Luis Borges, que em alentado estudo detona as aspirações dos cultores da poesia popular, tanto do ramo da payada quanto do ramo campestre ou gaucho. [3]
28 Quanto ao Ramo Andino, o exemplo mais antigo e organizado vem do Chile, Peru e Bolívia, como principais produtores da poesia popular. No Chile, inclusive, se usa também o termo cordel, embora de expressão diferente da nossa. O termo é abrangente e se refere à poesia popular em geral, principalmente porque abundam os poemas vendidos em folhas soltas (e não em folhetos), à moda das nossas canções. Existe tanto o Poeta Popular que apresenta improvisos, sozinho ou em dupla, quanto o Poeta de Cordel, que escreve e publica suas poesias em livretos, principalmente em pieglos sueltos. Ambas as correntes adotam como principal modelo a décima oitossilábica. Payada se chama a poesia que o payador canta recitando, acompanhado de guitarra, que se caracteriza por ser improvisada entre dois ou mais payadores sobre um tema. Em geral os temas que se tratam versam sobre a origem da vida, o amor, o lar e a morte. Sendo o payador um poeta repentista, ele costuma cantar sobre temas propostos pelos ouvintes ou em contraponto com outro (igual ao nosso desafio), podendo se referir ao mesmo assunto ou fazer perguntas que devem ser respondidas em verso. A arte do payador exige, para prender a atenção dos ouvintes, certa metodologia de elaboração oral, em que se fundem mensagem, canto e música. Outros elementos completam e caracterizam a paya: o metro dos versos e a rima empregada. Para estruturar sua mensagem o payador deve ter condições inatas: inspiração poética e agilidade mental. A isso tem de somar as aptidões de cantor, para vocalizar o improviso e tocar bem a guitarra, que serve de base tanto musical, como apoio ao metro dos versos. Quanto ao metro, os payadores preferem o octossílabo. O
29 canto do payador está sempre identificado com o ambiente, tanto para referir-se a episódios épicos, como à efusão lírica. José Hernández, em seu “Martín Fierro”, estabeleceu o norteamento da mensagem ao pedir: “...pero yo canto opinando que es mi modo de cantar”. No Sul do Brasil a palavra payada é grafada como se pronuncia: pajada. Muito já se escreveu sobre a origem dessa expressão. Alguns estudiosos dão o nome como de origem quíchua (indígena), entre muitas outras possibilidades. Quero lembrar – só para botar mais lenha na fogueira – que a expressão paja significa palha. É a mesma palha que se enrola o cigarro, que não pode ser negado a quem o pede: – Me dá uma palha? Sabemos que a característica mais marcante do pajador é a de se enturmar ao ambiente em que chega e de imediato procurar dar a sua paja, ou como se diz: dar uma palhinha, expressão igual a dar uma canja... Em todas as ocasiões ficou confirmado o vínculo indissolúvel entre a poesia popular e a guitarra ou, mais raro, outro instrumento musical como o acordeom. Fora do Brasil o Poeta Popular é também um compositor, suas apresentações estão sempre vinculadas à música, bem diferente da nossa monocórdia de influência árabe. Mas devo reconhecer que embarquei numa viagem sem fim. A gente vai pesquisando, a estrada vai se bifurcando, quando se dá conta, tem um monte de caminho para trilhar, inúmeras vertentes a serem analisadas, muita poesia popular para ser difundida, que esta é a
30 vontade maior. A esta altura, sem querer parar, estava me propondo a descobrir mais sobre a poesia popular no Paaguai, Bolívia e Peru, quiçá Cuba. Mas é impossível. Aqui deixo este trabalho como uma paja para que demais gente se aventure na estrada. Vale a pena, isso garanto. E como aperitivo vai aqui mesmo um grande número de poesias populares, poemas gauchescos, payadas e pajadas, bem como uma coletânea de pieglos sueltos dos tipos publicados no Chile, mas que apontam também para a Bolívia, Paraguai e Peru. Tudo isso acredito que dará uma boa amostragem sobre o tema Por onde andou o Cordel?. NOTAS: [1] José Hernández começou a escrever Martín Fierro no ano de 1869 em Santana do Livramento (Brasil), continuou em Montevidéu, quando escrevia no diário "La Patria" e terminou em Buenos Aires (1872). Por isso Martín Fierro é obra integradora, pois foi escrita em três países: Brasil, Uruguai e Argentina. José Hernández viveu o Martín Fierro antes de escrevê-lo ao abraçar o seu verdadeiro ideal: a defesa dos Direitos Humanos e do Federalismo. Em 1869 escreveu artigos pedindo o fim da guerra contra o Paraguai e a revogação da Lei de Fronteiras. O Governo Sarmiento decretou sua prisão e pôs a cabeça a prêmio, por isso ele teve de se refugiar em Montevidéu. Morreu ignorado pelos literatos de seu tempo. [2] Juan Pedro López nasceu em Echevarría e faleceu em Montevidéu (Uruguai). O autor de "La Leyenda del Mojón", começou cantando nos cafés dos bairros de Montevidéu. Mudou-se para a Argentina, onde atuou ao lado de Gabino Ezeiza e José Betinotti. Em 1929 foi para a Espanha, convidado pelo então célebre aviador Ramón Franco (irmão de Francisco Franco) e contou para ele a proeza da travessia num hidroavião de Huelva a Buenos Aires. Juan Pedro López, também autor de tangos e milongas, foi amigo e parceiro de Carlos Gardel. [3] Jorge Luis Borges: O ESCRITOR ARGENTINO E A TRADIÇÃO (fragmentos) Quero formular e justificar algumas proposições céticas sobre o problema do escritor argentino e a tradição. Meu ceticismo não se refere à dificuldade ou impossibilidade de resolvê-lo e sim à existência mesma do problema. Acredito que se nos enfrenta um problema retórico, mais do que uma verdadeira dificuldade mental, entendo que se trata de uma aparência, de um simulacro, de um pseudo-problema.
31 Começarei por uma solução que se fez quase instintiva, que se apresenta sem colaboração de raciocínios: a que afirma que a tradição literária argentina já existe na poesia gauchesca. Segundo ela, o léxico, os procedimentos, os temas da poesia gauchesca devem ilustrar o escritor contemporâneo e são um ponto de partida e talvez um arquétipo. Foi proposta por Lugones em El payador, no qual se lê que nós argentinos possuímos um poema clássico, o Martín Fierro, e que esse poema deve ser para nós o que os poemas homéricos foram para os gregos. Acredito que Martín Fierro seja a obra mais perdurável que nós, argentinos, já escrevemos e acredito com a mesma intensidade que não podemos supor que Martín Fierro é, como se tem dito algumas vezes, nossa Bíblia, nosso livro canônico. Ricardo Rojas estuda a poesia dos gauchescos – ou seja, a poesia de Hidalgo, Ascasubi, Estanislao del Campo e José Hernández – e a deriva da poesia dos payadores (1), da espontânea poesia dos gauchos. Faz notar que o metro da poesia popular é o octossílabo (2) e que os autores da poesia gauchesca manejam esse metro e acaba por considerar a poesia dos gauchescos como uma continuação ou magnificação da poesia dos payadores . Suspeito que há um grave erro nesta afirmação. Poderíamos dizer um hábil erro, porque se vê que Rojas, para dar raiz popular à poesia dos gauchescos, que começa em Hidalgo e culmina em Hernández, apresenta-a como uma continuação ou derivação daquela dos gauchos. Ricardo Rojas faz de Hidalgo um payador. Apesar disso, segundo a mesma Historia de la literatura argentina, este suposto payador começou compondo versos hendecassílabos, metro naturalmente vedado aos payadores. Entendo que há uma diferença fundamental entre a poesia dos gauchos e a poesia gauchesca. Basta comparar qualquer coleção de poesias populares com Martín Fierro, com Paulino Lucero, com Fausto, para encontrar essa diferença, que está não só no léxico como também no propósito dos poetas. Os poetas populares versificam temas gerais: as penas do amor e da ausência, a dor do amor e o faz com um léxico muito geral também. Ao contrário, os poetas gauchescos cultivam uma linguagem deliberadamente popular. O oposto do que ocorre nos poetas gauchescos onde há uma busca das palavras nativas, uma profusão da cor local. A prova é esta: um colombiano, um mexicano ou um espanhol podem entender as poesias dos payadores, dos gauchos, mas necessitam de um glossário para compreender Estanislao del Campo ou Ascasubi. Tudo isso pode se resumir assim: a poesia gauchesca, que produziu obras admiráveis, é um gênero literário tão artificial como qualquer outro. Nas primeiras composições, nas trovas de Bartolomé Hidalgo, já há um propósito de apresentá-las em função do gaucho, como ditas por gauchos, para que o leitor as leia com uma entonação gauchesca. É provável que agora a poesia gauchesca tenha influenciado os payadores e eles abundem em crioulismos, mas no princípio não aconteceu dessa
32 forma. Lembro-me, agora, de alguns versos de La urna que parecem escritos para que não se possa dizer que é um livro argentino. São os que dizem: “...El sol en los tejados y en las ventanas brilla. Ruiseñores quieren decir que están enamorados”. Aqui parece inevitável condenar: “el sol en los tejados y en las ventanas brilla”. Enrique Banchs escreveu estes versos num subúrbio de Buenos Aires e nos subúrbios de Buenos Aires não há telhados e sim azoteas (4). "Ruiseñores quieren decir que están enamorados”. O rouxinol é menos um pássaro da realidade do que da literatura, da tradição grega e germânica. Agora quero falar de uma obra justamente ilustre que os nacionalistas costumam invocar. Me refiro a Don Segundo Sombra de Güiraldes. Os nacionalistas nos dizem que Don Segundo Sombra é o exemplo de livro nacional. Mas se compararmos Don Segundo Sombra com as obras da tradição gauchesca, o que primeiramente encontramos são diferenças. Don Segundo Sombra abunda em metáforas de um tipo que não tem relação nenhuma com a fala do campo e sim com as metáforas dos cenáculos contemporâneos de Montmartre. No que diz respeito à fábula, à história, é fácil comprovar nela a influência de Kim de Kipling, cuja ação está na Índia e que foi escrito, por sua vez, sob a influência de Huckleberry Finn de Mark Twain, epopéia do Mississipi. (...) Qual é a tradição argentina? Creio que podemos responder facilmente e que não há problema nesta pergunta. Acredito que nossa tradição é toda a cultura ocidental e creio também que temos direito a essa tradição, um direito maior do que o que podem ter os habitantes de uma ou outra nação ocidental. (...) Tudo o que nós, escritores argentinos, façamos com felicidade pertencerá à tradição argentina, da mesma forma que o fato de tratar temas italianos pertence à tradição da Inglaterra por obra de Chaucer e de Shakespeare. NOTAS: [1] Homem camponês ou suburbano que, nas festas populares e reuniões, improvisa canções que acompanha com o violão. Em desafios, defronta-se com outro e vão se propondo alternadamente temas para improvisar os versos, em uma verdadeira luta de engenhos. Corresponde-se ao desafio dos cantadores brasileiros. [2] O verso em espanhol se mede diferentemente que em português: conta-se todas as sílabas dos versos, sendo que se acrescenta uma sílaba aos versos que terminam em palavra oxítona e resta-se uma daqueles que acabam em proparoxítona. O octossílabo espanhol, portanto, corresponde ao heptassílabo português. [3] Corresponde ao decassílabo brasileiro (cf. nota 2) [4] Parte superior das casas de teto plano. Terraço.
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Obs: A propósito da palavra azotea, achei alguns significados mais variados: (A) Las azoteas y los tejados estaban tan atestados de espectadores, que pensé no haber visto en todos mis viajes lugar más populoso. (B) Además de las zonas erógenas que rodean a su clítoris, la mujer tiene otra área extremadamente sensible en la azotea de su vagina. (C) Compramos un ático cuya azotea no es practicable, que es "sin uso", es más nisiquiera la escalera del edificio termina en la azotea sino en mi puerta... el caso es que quería que me abrieran un hueco en el techo de mi cocina para así poner una escalera y subir a la azotea. (D) Lady Gaga estaba hospedada en el Hotel Fountainbleau para dar un concierto pero ahora ha dado más que eso. Sin miedo a que alguien la pueda captar, Lady Gaga paseaba desnuda por la azotea del hotel. (Salomão Rovedo) BORGES, Jorge Luis. Discusión; Obras Completas. Buenos Aires: Emecé, 1957. p.151162: El escritor argentino y la tradición. Hipertextos: Graciela Cariello (Univ. Nac. de Rosário) Aproveitamos a tradução de Fabiele S. de Nardi
34 ANTOLOGIA DE POETAS E PAYADORES ANTONIO LUSSICH (1848-1928), homem de letras uruguaio, cultivou a poesia gauchesca, cujo trabalho maior é o poema "Los Tres Gauchos Orientales" (Coloquio entre os paisanos Julián Giménez, Mauricio Baliente e José Centurión sobre a Revolução Oriental, circunstâncias do desarme e pagamento do exército). Foi considerado por Jorge Luis Borges um antecessor de Martín Fierro de José Hernández. Participou da revista El Fogón, a mais importante do gênero gauchesco, fundada em 1895. Em 1896 adquiriu 1.800 hectares de um território virgem em Punta Ballena, quase sobre a costa do Rio da Prata, onde iniciou sua grande obra: a criação do Arboretum Lussich, um enorme jardim botânico natural. Em 1909, participou do reflorestamento da Ilha Gorriti, cuja fauna e vegetação original tinham sido arrasadas por um incêndio. Em 1917 vendeu sua participação na companhia de navegação fundada por seu pai para se dedicar em tempo integral à sua paixão. COLOQUIO ENTRE LOS PAISANOS JULIÁN GIMÉNEZ, MAURICIO BALIENTE Y JOSÉ CENTURIÓN SOBRE LA REVOLUCIÓN ORIENTAL EN CIRCUNSTANCIAS DEL DESARME Y PAGO DEL EJÉRCITO JULIÁN GIMÉNEZ ¡Dios lo guarde! Ha madrugao esta mañana aparcero, ya tiene al juego un puchero ¡y un churrasquito ensartao! MAURICIO BALIENTE Don Julián, ¿cómo le va, de su cuerpo contra el suelo, agarró el pájaro al vuelo ¿qué anda haciendo por acá? JULIÁN GIMÉNEZ A visitarlo venía pues nos van a licenciar, y no me quiero marchar sin que hablemos este día. ¿Y usté cordial no Baliente, pero siempre muy prolijo, ¿a que tiene ya de fijo también el agua caliente?
MAURICIO BALIENTE
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¡Cuando nada me ha faltao, soy gaucho muy albertido, y como hombre prevenido siempre estoy bien empilchao! Arrime aquella carona amigaso y siéntese, si algo sabe, cuénteme de esta paz tan comadrona. JULIÁN GIMÉNEZ ¡Como no, cuñao Baliente, vaya usté ensillando el mate, para que ansí mi gasnate pueda correr delijente! MAURICIO BALIENTE Tratemos pues de matiar ¿quiere dulce o cimarrón? De los dos tengo ración como poderlo agradar. JULIÁN GIMÉNEZ No soy gaucho resongón como usté guste aparcero, pero pa elejir prefiero, al amargo, el con terrón. MAURICIO BALIENTE La helada ha sido muy juerte de campo no mudaremos, ansí es mejor que prosiemos de nuestra tan triste suerte. JULIÁN GIMÉNEZ Algo serio le he de hablar, ponga el oído compañero, que es bastante lastimero lo que le quiero contar. MAURICIO BALIENTE
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A su mancho aquí estoy tiene pronta mi atención, córrase más al fogón porque a echarle leña voy. JULIÁN GIMÉNEZ El guacho voy a largar y oigame amigo Mauricio, que es de este horrible desquicio lo que usté me va a escuchar. Hoy de nuevo la Nación vuelve a cerrarnos la puerta, que sólo se encontró abierta por nuestra revolución; otra vez es la ocasión de emigrar al extranjero, esto por acá está fiero pa el blanco puro y lial, y como güen nacional a otra tierra dirme quiero. ¿Qué les importa a esa gente nuestros grandes sacrificios, o si hemos prestao servicios a nuestra causa, fielmente?; usté ha de estar bien corriente con quien vamos a tratar, y yo, como he de olvidar a los que han muerto a mi hermano; y antes de darles la mano mejor me mando mudar. Si amigaso don Mauricio nos han engüelto y boliao, lindaso nos ha pialao el General Aparicio; ya se acabó el sacrificio y el desarme va a venir, yo de acá quiero salir de este enrriedo o barajusta, y usté aparcero, si gusta me puede tamién seguir. Seis años de emigración
37 en suelo extraño tuvimos, penurias, males, sufrimos con grande risinación; cuando vino la invasión nos encontró decididos y hoy desgraciaos y vendidos cono hacienda por dinero, volvemos al extranjero dejando bienes queridos. MAURICIO BALIENTE Don Julián, ansí es la suerte fortuna o albercidá, ¡unas veces gloria da y otras veces da la muerte! Yo una haciendita tenía y un rancho de material; la suerte de en par en par tuitas seis huertas me abría. Y sin mermar trabajaba, pasando alegres los días, ¡cuando yo me pensaría que ansí mi suerte acababa! Tuito, tuito se perdió lo tuve que abandonar, saqué lo que pude alzar y a lo demás, dije adiós! ¡La guerra se lo comió y el rastro de lo que jue, será lo que encontraré cuando al pago caiga yo! Y una prenda yo tenía, su ricuerdo me entristece, la vista se me humedece al acordarme tuabía, triste para mi jue el día que tuve que separarme, para dir a presientarme a mi causa voluntario: ¡siempre traigo el relicario que ella medió al ausentarme!
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La guerra cuñao siguió y la que ansí me quería, vivir sin mi no podía y la pobre se murió; dende entonces ando yo echando al aire lamentos, que son quejosos acentos de un alma de amor partida; que en esta tan triste vida sólo encontró sufrimientos. JULIÁN GIMÉNEZ ¡Ha sentido usté esa muerte! El ricuerdo lo ha abatido, está tristaso, aflijido ¡que quiere cuñao! ¡la suerte! MAURICIO BALIENTE Don Julián, si usté sabiera Lo que se sufre en amando, ¡uno vive suspirando aunque suspirar no quiera! Ella es su prenda querida ella es su sueño durmiendo, sin ella vive sufriendo sin ella ¡pa que es la vida! Pero vamos a dejar eso amigo, en la ocasión yo no encuentro una razón en lo que acaba de hablar, lo he sentido a usté culpar al General Aparicio, el que tanto sacrificio ha hecho dende la invasión; voy a darle mi openión y causa de este desquicio! ¡Usté se acuerda, cuñao! el suelo patrio pisamos, y a poco andar lo golpiamos a Frenedoso el mentao; de allí juimos a otro lao
39 tierra adentro cabriolando, de vez en cuando sentando lindo la gama, aparcero; es decir a lo certero porque díbamos triunfando. Y el que no aflojaba a uaides en crudaso y terutero, jue a golpiarse con su apero hasta la gran Güenos Aires; diciendo que por desaires de su pago se había alsao; mienta criollaso a otro lao, cuente lo que ha sucedido, que en el Rincón jue vencido don Másimo y redotao. Tamién con Carabajal lindamente nos topamos, ¡pucha digo! si lo arriamos como yeguas a un corral; y don Castro el General nunca olvidará a Espuelitas, pues le dimos tortas fritas hasta que quedó atorao; ¡ese día si he carchao prendas de plata nuevitas! Dispués vino Ceverino allí rayamos los pingos; que día de matar gringos si era lansiar a lo fino: ricuerda cuando se vino aquel batallon a un flanco que cargaba quepi blanco, ahí si jue berenjenal y vieron que el nacional no había sido ni era manco. En Mercedes, Corralito, en Soriano, y en la Unión, siempre y en tuita ocasión sabimos pegarle al frito; pero por Cristo bendito se vino el dotorerio, de bombilla y tinterio, y ya empezó el barajuste,
40 sin que habiese más ajuste peliaban po el poderío. Andaban como manada los ases en esa Unión, haciendo la división y basa con la gauchada; hasta con la muchachada pueblera que había venido, les hablaban de un bandido tal o cual pa su interés; ansí que dende esa vez jue cayéndose el partido. De allí templamos cuñao pa con Suárez retozar, cuando juimos a acordar el pájaro había volao; Se nos había eclisao de la Sierra ese gilguero, y hasta el Sauce compañero no se nos quiso sentar: ¡más vale no ricordar lo que pasó allí aparcero! Que retirarnos tuvimos dispués de esa grande aición, ese día la opinión por casi, casi perdimos, pero pronto nos golvimos otra vez al gran montón, y vivando a la Nación estubimos disponidos, pa peliar a los bandidos con valor y decisión. Ya se estaban desgranando tinterillos delicaos, y los de en silla, montaos tamién se estaban sentando; sólo nos juimos quedando los güenos y parejitos, lanciadores probaditos y nada de entreveraos, otra bez ansí cuñaos nos juntamos los puritos.
41 Pero pa más estrupicio los letraos se nos golvieron, y ya tamién disunieron a Munis con Aparicio; ay empesaron su oficio de entregas y plumería, ansí que de día en día la cosa se jue mermando, y el patriotismo acabando con esa ambición que había. ¡Don Julián! sólo un dotor salió güeno y guapetón, ese no afloja al botón es letrao y escrebidor; güen gaucho como el mejor pa entreverarse en pelea, su lansa remolinea como culebra enojada; siempre sale ensangrentada ¡jue pucha! que colorea. JULIÁN GIMÉNEZ ¡Que me bá a decir Baliente! lo conosco de piapa; MAURICIO BALIENTE ¡Pucha! nada se le escapa conoce a tuita la gente. JULIÁN GIMÉNEZ ¡Cómo no conocer yo al Coronel más mentao, que ande quiera que ha peliao de siguro que triunfó! Dolores, Tacuarembó, Cuñapirú y los Queguays, y en tuitas partes del país Salvaña, es tan conocido, como ese pasto estendido que en tuita tierra echa rais. ¡Y qué mozo! da calor verlo montao en su flete,
42 bien aperao y paquete y peine para el amor; tenía un bayo rayador como benao de lijero, siempre con él el primero dentraba con bisarría, ¡ay juna! daba alegría el ver a ese compañero. MAURICIO BALIENTE Aura si que me ha tirao dos cuerpos en la carrera, será por la vez primera que otro me haiga aventajao. JULIÁN GIMÉNEZ ¡Quien me ha ganao a prosiar a bailarín ni a cantor, ni a manates de mi flor le he sabido recular. MAURICIO BALIENTE Ansina yo me he esplicao por la queja que usté dio, no es el general, crealo quien nos deja tan tiraos; son unos cuantos letraos mala plaga de este país, que el diablo les diera mais en vez de pluma y tintero; o alfalfa de algún potrero y otras yerbas, ¡e ainda mais! JULIÁN GIMÉNEZ Tamién medio portuguez amigaso es por lo visto; ¡no tiene nada de cristo cuando canta alguna vez! MAURICIO BALIENTE Ansí soy yo, dibertido, pero cuando el lomo hincho,
43 ¡sambullo como el capucho que de cerca es persiguido! JULIÁN GIMÉNEZ Tiene razón y no miente, mejor habiéramos ido, si nunca habiese venido a enviedarnos esa gente; que se llama inteligente y nos quiere enbozalar, para hacernos cabristiar y servirles de estrumentos, por que tienen el talento de las lauchas pa uñatiar. A la raya acérquese, ¿que le gusta, paz o guerra, o emigrar para otra tierra? sin tapujo esplíquese; bien se sabe, ya se ve, la patria es mejor dejuro, pero tamién le asiguro que tranquilo no va a estar, pues se lo van a limpiar y yo, por eso me apuro. Como quedar no va a haber van a enlasarnos mansitos y como a los corderitos pialar nos han de querer; conmigo no han de poder, soy arisco pa promesas, ¡que no me vengan con esas! ¡Es falso ese oro aparcero! ¡Enjaulen a otro jilguero, no son para mí esas presas! MAURICIO BALIENTE Yo no sé que retrucar estoy como un ay de mí, es tanto lo que sufrí que no sé ni ande dentrar: ¡dese güelta! va a llegar nuestro amigo Centurión, de juro en esta ocasión
44 su parecer nos va a dar; ¡llámelo! ¡se va a acercar y paremos la atención! JULIÁN GIMÉNEZ ¿Qué es eso don Centurión? de largo pasa este día, está la mañana fría ¡alléguese a este fogón! ¡Aprosímese a está yunta! ¿Y como va ese valor? véngase al calentador y chupará por la punta. JOSÉ CENTURIÓN Aunque voy medio apurao quiero acetarle el enbite, pues ya he tomao el desquite en lo mucho que he trotiao. JULIÁN GIMÉNEZ ¡Está gordaso su flete! JOSÉ CENTURIÓN ¡Como no, le doy gramilla, pa que no afloje en la orquilla si lo monta algún paquete! JULIÁN GIMÉNEZ ¿Qué quiere decir usté? ¡Ya lo piensa regalar! JOSÉ CENTURIÓN Me lo acaba de comprar Pelais el de San José. Como es gaucho paquetaso le gusta ensillar güen pingo; ¡pa montar ni es medio gringo sino paisano amachaso!
45 JULIÁN GIMÉNEZ ¿Qué se dice por su cancha qué tal está con la paz, yo creo que es nada más pa nuestra causa otra mancha? JOSÉ CENTURIÓN ¡Déjemne, ya prosiaré dispués de desenfrenar; le voy la sincha a aflojar que él pellisque, y yo hablaré! JULIÁN GIMÉNEZ ¿Tiene estaca? JOSÉ CENTURIÓN Y de mi flor, ¡cuando yo ando desprovisto, siempre tengo tuito listo de la jerga al maniador! Soy gaucho lindo y parejo de bosal, laso y coyunda, poco me enrriedo en la junda de mi reborber ¡canejo! JULIÁN GIMÉNEZ Dejémonos de parola, vamos al frito, que ya estamos con ansiedá pa que nos largue la bola. JOSÉ CENTURIÓN Que tienen para empinar que el garguero está en ayuna, dende que salió la luna que no sé lo que es chupar; mas hoy nos van a pagar y las botas nos pondremos, pucha ¡que le pegaremos al trago fiero! ¡cuñaos!
46 Vamos a quedar mamaos, porque ya la paz tendremos. JULIÁN GIMÉNEZ Sabe que es usté ladino, no se cansa ni un momento; ¡su lengua es el movimiento de la rueda de un molino! Si me hace acordar a un pion estrangis que yo tenía, era labia tuito el día en su idomia aquel nación. Y pa mi era una ceguera sin poderlo remediar, tuito se golvía hablar que en su tierra rico era. Que tenía allí que tanto ¡trigo, mais, verdulería; y pienso que si tenía sería en el camposanto! JOSÉ CENTURIÓN Y sabe que uste no mengua ya andamos medios parejos, nunca le faltan consejos y sin pelos en la lengua. JULIÁN GIMÉNEZ ¡Ya me tiró en la parada! Pero lárguese por fin, ¡No está oyendo este el clarín que está tocando carniada! JOSÉ CENTURIÓN ¡Tráiganse pues el porrón que a flus no quiero quedar, por la prenda he de empinar que me roba el corazón! JULIÁN GIMÉNEZ
47 ¿Quién es la favorecida? JOSÉ CENTURIÓN Eso sí quiero contar; ¡me gusta desembuchar y hablarles de mi alma y vida! Cuando juimos a la Unión a sitiar Montebideo, ¿recuerdan ustedes creo que mandaba medio tristón? Como no, mi corazón del cuerpo se me saltó, y tan juerte relinchó como bagual sin bastera, pialao por la vez primera que un domador ensilló. JULIÁN GIMÉNEZ ¿Pero por qué corcobiaba tan juerte don Centurión, desembuche la razón de lo que ansí lo atristaba. JOSÉ CENTURIÓN ¡Saben que cuando un puñal dentra con juerza en el pecho, caí al suelo uno derecho sintiendo un agudo mal! El amor es como un tajo que a fondo va al corazón, si antes con prebisión no le dice ¡aquí te atajo! ¡Y como podrá pararse el tajo para librarlo, si no se siente clavarlo tampoco podrá quitarse! ¡Pero cuando ve que aprieta, usté se larga sin más; ni vuelve la cara atrás dejándolo al muy sotreta.
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Pero siguiendo mi cuento empriéstenme su atención, sino esta linda ocasión se la va a llevar el viento. Cerca del Paso Durana una manguera se hallaba, y una quinta, donde estaba la que ha sido mi tirana; jui por allí un mañana y oí un canto, ¡que si viera, del Cielo creí que saliera y haí no más paré la oreja haciéndome comadreja, me quedé oyendo de ajuera! ¡Pero que tiernos lamentos! ¡Qué tristesa! ¡qué aflición! Si el más duro corazón debiera sentir tormentos, al escuchar los acentos de aquella voz lastimera, si alzar el vuelo pudiera me le había emparejao, y algo le habiese cantao a esa mujer hechisera. Dispués se salió a la puerta, entonces más me almiré; ¡le asiguro que quedé con tamaña boca abierta! ¡Qué brillantes rilumbrosos! ¡Ni en el cielo las estrellas alumbran nunca tan bellas como la luz de sus ojos! ¡Qué cutis! Dios nos dejara como escarcha blanco era, si hacerme pulga pudiera lo sangre yo le chupara! Otra también se salió ¡madre mía! que gran cosa, linda como mariposa que en un rosal se perdió.
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A dos más bide benir de Cristo ya me pasaba, ¿por qué de allí no templaba quedrán ustedes decir? ¡Es que estaba tan pegao como la mugre a sus güesos! ¡Como al tacaño los pesos! ¡Como el engrudo colao! JULIÁN GIMÉNEZ Ya se nos volvió a ladiar con su prosa compañero, ¡sujete más el garguero y deje de retozar! La mugre aunque cosa fiera siempre se puede lavar; ¿y usté como va a sacar del cuerpo su madriguera? JOSÉ CENTURIÓN Se equiboca mi criollaso ni un tubiano yo ya tengo, en este momento vengo de darme un bailo amachaso. Siguiendo mi rilasión, otra salió ¡qué lucero! más brilloso y hechicero que aquel de la madrugada. Ellas en mí se fijaron y una a la otra dijo ansí; ¡Qué andará haciendo po aquí este moro, y me miraron! ¿Cómo lo pasa, señor? No gusta unté descansar, puede a la sala pasar ¿quiere hacernos tal honor? Nada me hice del rogar y el pellón le refalé
50 a mi flete, y lo dejé, sujeto en un matorral. Pero sin saber por qué, ni en lo que en mí yo sentí, sé que a las mosas seguí y fue a la casa dentré. Allí tuitas cariñosas quién era yo, me dijieron, y a una viejita trajieron aquellas muy güenas mosas. Sentada estaba y sufría una grande enfermedá, era el ritrato en verdá de nuestra Virgen María. La pobre me saludó de güen modo y cariñosa, había sido muy hermosa en su mocedá, creo yo. Muy mucho me agasajaron y una tocó un estrumento; ¡qué manos! qué movimiento del tuito me intusiasmaron. ¡Qué guitarra! ¡qué acordión! ¡qué flauta! ¡ni qué pandero! ¡Si aquello diba certero al medio del corazón! Otra de ellas me ofertó colijo jue la cantora, ¡una debisa dotora, que bordadita me dio! Dende entonces les tomé pasión grande y hermanal, amor puro y sin igual que en mi pecho lo encerré. No es ese amor quemador como brasa que está ardiendo, y tuito va consumiendo con su juego matador.
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¡Es el amor que en el alma suavesito va creciendo, y nunca vamos perdiendo por él, la paz ni la calma! ¡Es la pasión adorada que tiene la flor de rosa, cuando ve salir briosa la aurora tan esperada! JULIÁN GIMÉNEZ ¡Acabe no Centurión que esa yerba ya ha cansao, en tuabía usté no ha hablao de la paz de esta ocasión! JOSÉ CENTURIÓN Tiene razón, pondré fin al amor, penas, dolores, ¡dejaremos esas flores pa dentrar a otro jardín! Aunque el amor y la guerra son casi de un parecer, nos hiere el uno sin ver nos echa la otra por tierra. ¡Yo prefiero un entrevero ande se pueda chusiar, que con polleras peliar para decirles te quiero! JULIÁN GIMÉNEZ No es cristo don Centurión ¡ah grullo que ha pelechao, el amor lo ha refinao dele pues al pericón! Vea si viene el mercachifle de la caña, mi aparcero, que hacer gárgara yo quiero, y echar un poco en el chifle.
52 Yo no entiendo más pasión ni más requiebros ni amores, que respirar los olores de jinebra un güen porrón. ¡Ella pa mí es la razón! ¡y el anís el sentimiento! ¡el licor es mi lamento! ¡y la caña el corazón! JOSÉ CENTURIÓN Si el barbijo más aprieta, don Julián hoy va a salir, compositor de a pedir; e intelijente pueta. JULIÁN GIMÉNEZ Ya me quieren engolver no son lauchas pal menudo; nunca naide pa mí pudo ¡cuando el querer es poder! JOSÉ CENTURIÓN Óiganme, voy a empezar lo que si ya les aviso, que es más largo que chorizo lo que quiero rilatar. En mi puesto me encontraba con un terne divertido, pegándole decidido a una jugada de taba; cuando siento se acercaba un soldao de polecía, el que a dos laos se venía, y hasta el cerco se allegó sin tapujos, y me dio un papel que me traía. Lo mandaba el comisario de nuestro pago el Minoano, medio diablón el paisano y pa los blancos corsario.
53 En el papel me decía, amigo don Centurión, es llegada la ocasión de amostrarse en este día; Aparicio y compañía nos acaban de invadir, apróntese pa venir, limpie su lansa y el sable, que mañana es muy probable que en su busca hemos de dir. Sin querer nada esperar las pilchas a luz saqué, el sable y muarra limpié y me dispuse a marchar. De un facón que tenía allí y de tacuara una caña, hice una lanza tamaña poniéndole un tongorí. Dejé el puesto al capataz con la haciendita y el rancho; y dije, ¡ya está el carancho que se vengan los demás! Me alzé con tuito mi apero, freno rico y de coscojas, riendas nuevitas en hoja y trensadas con esmero; linda carona de cuero de vaca muy bien sobada, jergas, bajeras, ni nada de las carchas olvidé hasta mi chapiao cargué de pura plata labrada. Copas, fiador y pretal estribos y cabezadas, con nuestras armas bordadas de la gran Banda Oriental; no he güelto a ver uno igual recao tan lindo y paquete, ¡ay juna! encima del flete como un sol aquello era, ni recordarlo quisiera pa que ¡si es al santo cuete!
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¡Qué cojinillo llevaba! de hilo puro y tan tupido, para hacer un lindo nido cuando la gente campaba; y un poncho que me quedaba de paño fino lo alcé, al fin casi completó del tuito mi pilcherío, lo que si del platerío otras cosas más saqué. Mis espuelas macumbés, mi rebenque con birolas, rico facón, güenas bolas, y linda manea, llevé; para el tirador me alcé diez pesos en plata blanca pa llegar a cualquier banca, pues soy medio jugador; ¡no me arrolla ni el mejor ni tengo la mano manca! Monté un saino brasiador pingo grande y parejito, para andar muy asiadito y bastante escarciador, ¡su cuerpo daba calor! y el herraje que llevaba como la luna brillaba en noche de escuridá; yo con orgullo en verdá en su lomo me sentaba. A los tientos del recao puse el poncho y até el laso, tamién arreglé de paso un maniador muy sobao, con presillas, bien cortao estacas, y una maceta, tuito sampé en mi maleta, y además até al bozal una mordaza oriental bien hechita y muy paqueta. JULIÁN GIMÉNEZ
55 Amigo don Centurión ¿pa tantas pilchas colijo, llevaría usté de fijo carguero con tal montón. JOSÉ CENTURIÓN En la vida andar tirando me ha gustao un mancarrón; y menos en la ocasión llevar uno cabristiando. JULIÁN GIMÉNEZ Vamos dejuro aparcero a tarjarle el chiripá, tantas tarjas tiene ya que se parece a un arnero. No se empaca pa contar ni es lerdo en la rilasión, ya va largo el pericón acabe pues de prosiar. JOSÉ CENTURIÓN ¡Ya le albertí antes de ahora que el petardo era largaso, como tres tiros de laso, y una consulta dotora! JULIÁN GIMÉNEZ Si siempre tiene salidas este fantasma embrujao; hasta a el diablo lo hace a un lao con tan juertes embestidas. JOSÉ CENTURIÓN Ansina soy, y seré ansina marcho viviendo, el mesmo seguiré siendo y el mesmito moriré. Pero no corten la hilada de la historia que seguía, sino ni basta este día pa que se quede acabada.
56 Me salí de aquel tirón con tantas prendas de plata, que del cogote a la pata era un vivo rilumbrón. JULIÁN GIMÉNEZ Usté va a sacar de aquí más de veinte rajaduras, tarjas y melladuras si sigue prosiando ansí. ¡Si no quedará esquilmao pa mentir don Centurión! ¡que labia al santo botón, va pareciendo un letrao! JOSÉ CENTURIÓN No soy criollo de esa gente llamada letra menuda, pero usté no ponga duda que soy gaucho entiligente. JULIÁN GIMÉNEZ ¿Cómo es eso amigo Mauricio? Como su labia sujeta, ¡haber pues tamién si aprieta o habrá ya dejao el vicio. MAURICIO BALIENTE ¡Cuando diantre yo he apretao! Siempre me gusta escuchar, y dispués que oigo prosiar abro entonces mi candao. JULIÁN GIMÉNEZ ¡Con que quedrá ser alcalde pero su ley será poca! MAURICIO BALIENTE Me gusta verle la boca cuando quiere hacer alarde. Denle duro al mancarrón
57 que no afloje en lo parlero, en tanto que yo el puchero voy a sacar del fogón. ¡pucha! que esta espumadito, ¡qué churrasco bien asao, córranse para este lao y corten del calientito. JULIÁN GIMÉNEZ ¡Si este Baliente, es matarse! Pa tuito tiene albertencia, y una grande conocencia pa siempre desempeñarse. MAURICIO BALIENTE ¡Están hablando de hambre y quieren que los combiden; de los que ni dan ni piden es este rico matambre. JOSÉ CENTURIÓN Y yo que no me iba a piar ¡pucha! sonso habiese sido, porque me habiera perdido poder de arriba embuchar. MAURICIO BALIENTE ¡Qué don José, tan diablón siempre tiene dicharachos, y algunos dentres amachos pa chantar cada ocasión! JULIÁN GIMÉNEZ El puchero y el asao hay de juro que asentar, ¿quién me quiere convidar con un negro bien armao? MAURICIO BALIENTE Cigarro le voy a dar pero si quiere ármelo, porque este lo arreglo yo
58 a mi modo de pitar. JULIÁN GIMÉNEZ En la comida perdimos nuestra gran conversación. JOSÉ CENTURIÓN Voy a limpiar mi facón y ya otra vez la seguimos. Siguiendo la rilasión salió mi flete escarsiando, y yo una copla cantando de la guerra al pericón; la pierna en esa ocasión lindamente me gustaba, y hasta el saino relinchaba de contento, créamelo; por eso colijo yo que el batuque le agradaba. Un tiro largo, trotié pa de paso visitar, un viejaso melitar en la barra del Cufré; cuando a la estancia llegué con gusto me recibieron, y desencillar me hicieron pa que mi flete pastiara; y ya sin finas que dentrara entre tuitos me dijieron. Pregunté por mi tocayo, y mi comadre me dijo, que había ensillao de fijo al primer canto de gallo; llevando el mejor caballo que en su tropilla tenía, pa llegar con sol tuabía a la estancia de Carrión, ande había una riunión de blancos para ese día. Entonces me dio pesar y quedé medio tristaso ella me dijo de paso
59 lo que yo voy a contar. Compadre don Centurión, esto en confianza le digo yo sé que usté es nuestro amigo y no nos hará traición; a más es de la opinión y por eso le he albertido, pa que quede prevenido que Aparicio ya invadió, y mi marido marchó a riunirse a su partido. ¡Pobre viejo mi tocayo siempre guapo y tan patriota, no andaba espiando a la sota para ensillar su caballo! JULIÁN GIMÉNEZ En los juegos de la tierra hay que andar muy delijentes, no hacen basa los suplentes en los naipes de la guerra. JOSÉ CENTURIÓN Otro paisano llegó con el pingo muy sudao, y venía tan trasijao que al llegar se le aplastó; uno pa mudar pidió, se echó al corral la manada, y a la primer reboliada un oberito enlasó, ahí mesmito lo sentó de una solo rastrillada. Forastero ser debía de un pago medio lejaso, pues preguntó por el paso que más cerquita estaría; diciéndonos que tenía de dirse, gran presición, de baqueano en la ocasión me oferté para endilgarlo, y en la picada dejarlo a seguir su comisión.
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Yo me fijé en el apero, sencillito, y sin chapiao, eso sí, poncho forrao como para un aguacero, un facón muy terutero le bide yo de un gataso, y un pistolón trabucaso de su cintura colgaba; en guascas no le faltaba dende los tientos al laso. Mi comadre lo embitó pa que un rato descansase, y un matesito tomase que aunque de priesa acetó. Comenzamos a prosiar, y del paso le abisé, que estaba muy bola a pie y difícil de pasar; más que lo diba a llevar a una picada matrera en donde pasar pudiera, si él me quería endilgar pa que rumbo iva a tirar si curiosidá no era. Como el apero me vio el sable, trabuco y lansa, Colijo, que gran confiansa no tuvo, y me receló; Ansí lo malicié yo, y le dije, mi aparcero usté de acá es forastero pero entre amigos está, tal vez no conocerá otra cosa compañero. De la orilla del Cufré a la más alta cuchilla, naide lo afrenta ni humilla a este gaucho que usté ve; he sido, y siempre seré el taita entre los de aquí; pero siempre fiel le jui al que de amigo le hablé; y de hoy suyo lo seré ¡y esos cinco deme a mí!
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Ande quiera es Centurión amigo de sus amigos, terror de los enemigos y criollaso de riunión; no soy manso pa el facón y lo que es pa barajar, como pulga en el picar de listo, soy rajacuero; y pa más, soy el puestero del estrangis más bosal. Don Fruto me retrucó con voz rellena y muy juerte, ¡alabo mucho su suerte y sépase quién soy yo! Me llamo Fruto de nombre y Costa de apelativo, de gaucho guapo y altivo tengo en mi pago renombre, le asiguro que no hay hombre más mentao en el Chaná, ni la mesma autoridá, me lleva con el encuentro, ellos saben que ande dentro respetao tuito será. Aunque me ve medio viejo tamién me gusta el amor, y soy pa compositor peine que ni liendres dejo; en tuito yo soy parejo soy gauchaso y soy dotor, pa bailar soy volador y en el eje soy lijero, ¡es al fin un terutero, don Costa, su servidor! Y ya que nos relinchamos ¿vamos a desembuchar? Si se quiere emparejar de esta cancha nos ladiamos. Con tapujos jamás ando y ande quiera decensillo; ¡ni me engüelbo en el obillo y tuito a guardar lo mando!
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¡Con qué don Fruto sea franco ahí mesmo le pregunté; ¿De que opinión es usté, será colorao o blanco? Aunque el viejo era matrero, me dijo, le tengo fe, y ahora mesmo empesaré ¡y ansí se vino al pandero! Usté me parece lial amigo don Centurión, ¡voy a abrirle el corazón como lo hace el Oriental! Paisano soy y he de ser, y de la blanca debisa, no es bordada, sino lisa pero la sé defender; ande quiera lo hago ver, y ahora voy a la riunión a ofertar a mi opinión este brazo en su servicio, para ayudar a Aparicio, en su gran rebolución. ¡De este compinche la mano que la apriete usté yo quiero, de hoy más tiene un compañero para peliar al tirano! Nunca José Centurión pelió contra su partido, jue siempre muy decidido pa ayudar a su opinión; ya que empieza el pericón para el frito nos iremos, y allí juntos bailaremos, vamos pues a presientarnos, y ante Aparicio mostrarnos que recibidos seremos. ¡Y eché al diablo al comisario que la carta me escribió, pa mi causa me iva yo como blanco partidario! Y a don Fruto le conté del cristo que me escribió,
63 muy mucho lo dibertió el modo que lo engañé. A esas horas ya la cruz de juro que me habría echao lo había al sonso madrugao, ¡y con patas de avestruz! Seguimos siempre marchando en un bajo, y por la orilla, de una machasa cuchilla la que estábamos costiando; cerca digamos llegando a una estancia y pulpería; el hambre nos perseguía y era tiempo de embuchar, allí fuimos a buscar por si algo pronto tenía. ¡Llegamos a la ramada de la esquina o del boliche, pedí al pulpero un espiche pa tomar la convidada! ¡Jue pucha! que mostrador pintao de negro por junto ¡como cajón de dijunto de tamañaso grandor! ¡Y qué le parece hermano! Le dije, ¿hay que churrasquiar? Aber patrón nos va a abiar con algo que tenga a mano. Sino, es cosa de un ratito armarnos de un asador, de ese membrillo cantor y chantarle un churrasquito. Que entre los gauchos cumplidos, pocas güeltas debe haber, pedir, pagar, y querer son siempre güenos partidos. Pero el gringo no era lerdo, y no se enredó en las cuartas, pronto llegó con dos sartas de chorizos, ¡puro cerdo! Ansí me gusta amigaso usté está bien engrasao,
64 de juro ha de estar sobao en la mordasa de un laso. Les asiguro en verdá que don Fruto era parlero, como loro barranquero de primera calida. COLOQUIO ENTRE LOS PAISANOS MAURICIO BALIENTE Y JOSÉ CENTURIÓN MAURICIO BALIENTE ¿Por acá don Centurión? Bien haiga con su madrina ¡A que al rastro de una china, se ha largao esta ocasión! CENTURIÓN Ni por pienso dio en el punto, le diré él porque llegué: de mi pago me ausenté por librarme ser dijunto. BALIENTE Esa es cosa muy formal y serio se pone el caso. CENTURIÓN Dentro de un rato amigaso oirá el gran merenjenal. ¿Y a usted que tal le va yendo? BALIENTE Medio cordial de salú pero de riales a flüs de esta cancha van juyendo. Pucha que se ha güelto viejo, tiene la barba y el pelo como esas nubes del cielo de un blanco medio azulejo.
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CENTURIÓN ¡Que quiere amigo Baliente, las penurias de esta vida me han puesto el alma abatida y el corazón impotente. Tanto he sufrido cuñao tan mala ha sido mi suerte, que muchas veces la muerte al Cielo se la he clamao. BALIENTE Siempre triste don José porque ingrato es su destino; corte hermano otro camino. CENTURIÓN ¡Si el mesmo sino tendré! BALIENTE Nunca sea desconfiao, son cambios que tiene el hombre, y quien por ellos se asombre jamás saldrá bien parao. CENTURIÓN Quiera oír su voto el Cielo, y sus palabras de aliento no se pierdan en el viento, trocando en suerte mi duelo. BALIENTE Suelte a volar su carancho, y cuente la albersidá que lo ha traído por acá, abandonando su rancho. CENTURIÓN
66 Para la oreja aparcero, escuche y no se me asuste, que tuito el desbarajuste le contaré por entero. BALIENTE Tiene pronta mi atención, estoy dispuesto a escucharlo, largue el royo sin cortarlo de esa fiera rilación. CENTURIÓN Mas antes de rilatar acomodaré a mi obero, que por él salvé este cuero, que quisieron ojalar. BALIENTE Metaló aquí en la ramada y tomando un cimarrón me contará la aflisión de esa su alma atribulada. ¡Ah! ¡Pingo para un apuro! Y de yapa que es cruzao. CENTURIÓN Montando en él, no hay venao contra mis bolas siguro. Esa suerte Dios me dio ni al más pintao embidéo, no muento maula ni feo demasiao maula soy yo. BALIENTE No se achique mi aparcero, como cuadro es de valer, ¡porque sin merma ha de ser aquel gaucho terutero! Que otro tiempo jue el primero pa la guerra y el amor,
67 pueta de menta y cantor letrao de labia y de cencia su nombre siempre en la ausencia fue alabao como el mejor! CENTURIÓN No amigaso, con los años todo se pierde en la vida, lo que fue ilusión querida hoy se cambió en desengaños. BALIENTE Boy a prender un tisón ¿Tiene mistos compañero? CENTURIÓN ¡Cuando le ha faltao yesquero al que es gaucho de fogón. BALIENTE ¡Ah terne! Siempre el mesmito, sólo en el pelo ha cambiao, y el cuero más chamuscao, pero en genio, ni un chiquito. CENTURIÓN Y usté tamién ño Baliente, con su peso y con su calma da caídas que van al alma ¡y queman como aguardiente! BALIENTE Alcance de aquel montón charamujas pa quemar, verá en un rato chispiar como yesca este fogón. Sirba de más, de ahí arriba descuelgue aquel asador, tengo un asao de mi flor para templar la barriga.
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¿Su buche ha de andar flacón? CENTURIÓN Como maleta vacida. BALIENTE Ganelé, pues, la partida y delé doble ración. Aura trate de domar ese vientre tan arisco, si se amansa del peyisco nos saldremos a pasiar; de paso lo he de llevar a una güena pulpería y aunque sea con lejía mamaos hemos de salir; ¡Para que tristes vivir pudiendo haber alegría! CENTURIÓN ¿Pero digamé cuñao tan sólo se encuentra aquí? BALIENTE Si siempre solo viví, y solo, el mundo he traquiao. Pa las hembras soy curao, pues no me enriedo en sus tientos soy libre como los vientos, como en el aire el chajá; y el amor nunca me hará salir del pecho un lamento. CENTURIÓN De una piscoira me habló cierta vez, que había tenido, y siguiendo a su partido de esa prenda se ausentó, la que de pena murió (Dios la tenga en santa gloria),
69 pero siempre en su memoria ritratada la tenía; cuasi lloraba ese día cuando rilató su historia. BALIENTE Olvide ño Centurión ese recuerdo tan triste, que mi pecho no resiste y me parte el corazón; cuentemé la rilación de lo que a usté le ha pasao; qué trifulca lo ha obligao abandonar la querencia, tal vez su sola alvertencia de algún pango lo ha salvao. CENTURIÓN Voy a contarle Baliente, que por poco mi peyejo en un cañadón lo dejo dijuntiao por un Teniente, que sirve con la otra gente y me quiso madrugar, saqué el cuerpo, por parar el golpe y pelé mi corbo, y en menos que se echa un sorbo pa el otro mundo jue a dar. BALIENTE ¿Cómo jue eso don José? CENTURIÓN Lo que está oyendo derecho y en pelea pecho a pecho contra el hoyo lo largué. Su gefe me lo mandó, como güeno yo colijo, a sorprenderme de fijo porqué al rancho se dentró; Y ahí no más me preguntó
70 si era blanco o colorao; yo que en la vida he negao la openión en que nací, le dije, que blanco fi dende que el mundo he pisao. Ya me pretendió atrasar y quiso cairme de hachasos, sin recularle ni un paso esta, le mandé guardar; y de hay me largué a ensillar ya una partida venía, para enterrarme sería si había estirao la pata. BALIENTE El tiro por la culata, velay les salió ese día. CENTURIÓN Cerré piernas al crusao y él quedó allí pataliando, su gente estará rezando que no muera condenao, intértanto yo he salvao por no ser tan mal ginete, y a las patas de su flete debe este gaucho la vida; ¡Que es cosa muy desabrida el perderla al santo cuete! El muerto estará en el cielo pueda que Dios lo perdone, mientras yo mil afliciones voy pasando en este suelo. BALIENTE Ansí en el mundo es la suerte; hoy contento se creerá, mañana tal vez tendrá que hacerle frente a la muerte.
71 JAIME CAETANO BRAUN (1924-1999), foi o mais renomado payador brasileiro, prestigiado na Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Conhecido como El Payador e utilizou o pseudônimo de Piraju, Martín Fierro, Chimango e Andarengo. Payador, poeta, radialista e compositor, Jaime Caetano Braun nasceu na Timbaúva (RS). Escreveu e compôs diversas payadas, poemas e canções, sempre ressaltando o Rio Grande do Sul, a vida campeira, o modo gaúcho, a natureza local. Jaime queria ser médico, mas tinha apenas o ensino médio. Se tornou autodidata da cultura sulina e dos remédios caseiros, pois afirmava que "todo missioneiro tem a obrigação de ser um curador". Membro e fundador da Academia Nativista Estância da Poesia Crioula, grupo de poetas tradicionalistas, publicou poemas em jornais, dirigiu o programa radiofônico Galpão de Estância e participou do programa Brasil Grande do Sul, na Rádio Guaíba. Na capital, o primeiro jornal a publicar seus poemas foi o A Hora, que dedicava toda uma página em cores. Atuou na política participando de palanques como payador. O poema O Petiço de São Borja fala de Getúlio Vargas. Fez a campanha de Ruy Ramos com o poema O Mouro do Alegrete. Ruy Ramos, também ligado ao tradicionalismo, lançou Jaime Caetano Braun como payador, no Congresso de Tradicionalismo de 1954. Participou da campanha de Leonel Brizola, João Goulart e Egidio Michaelsen. Em 1962 concorreu a vaga na Asssembléia Legislativa, ficando na suplência. Em 1999 Jaime Caetano faleceu de parada cardíaca em Porto Alegre. Seu corpo foi velado no Palácio Piratini e enterrado no cemitério João XXIII. Para o dia seguinte estava programado o lançamento de seu último disco “Êxitos Vol. 1”. AMARGO Velha infusão gauchesca De topete levantado O porongo requeimado Que te serve de vazilha Tem o feitio da coxilha Por onde o guasca domina, E esse gosto de resina Que não é amargo nem doce É o beijo que desgarrou-se Dos lábios de alguma china! A velha bomba prateada Que atrás do cerro desponta Como uma lança de ponta Encravada no repecho Assim jogada ao desleixo Até parece que espera O retorno de algum cuera Esparramado do bando Que decerto anda peleando Nalgum rincão de tapera!
72 Velho mate-chimarrão As vezes quando te chupo Eu sinto que me engarupo Bem sobre a anca da história, E repassando a memória Vejo tropilhas de um pêlo Selvagens em atropelo Entreverados na orgia Dos passes de bruxaria Quando o feiticeiro inculto Rezava o primeiro culto Da pampeana liturgia! Nessa lagoa parada Cheia de paus e de espuma Vão cruzando uma, por uma, Antepassadas visões Fandangos e marcações Entreveros e bochinchos Clarinadas e relinchos Por descampados e grotas, E quando tu te alvorotas No teu ronco anunciador Escuto ao longe o rumor De uma cordeona floreando E o vento norte assobiando Nos flecos do tirador! Sangue verde do meu pago Quando o teu gosto me invade Eu sinto necessidade De ver céu e campo aberto É algum mistério por certo Que arrebentando maneias Te faz corcovear nas veias Como se o sangue encarnado Verde tivesse voltado Do curador das peleias! Gaudéria essência charrua Do Rio Grande primitivo Chupo mais um, pra o estrivo E campo a fora me largo, Levando o teu gosto amargo Gravado em todo o meu ser, E um dia quando morrer, Deus me conceda esta graça
73 De expirar entre a fumaça Do meu chimarrão querido Porque então irei ungido Com água benta da raça!!! MILONGA DE TRÊS BANDEIRAS Composição: Jayme Caetano Braun e Noel Guarany Vieja milonga pampeana hija de llanos y vientos, chiruza de cuatro alientos de la tierra americana; Vieja milonga paisana de los montes y praderas, tus mensajes galponeras trenzaran en la oración al pié del mismo fogón los gauchos de tres banderas. Brasileño y oriental, Rio-grandense y argentino, piedras del mismo mamino, aguas del mismo caudal, hicieran, de tu señal, himnos de patria y clarin, hasta el mas hondo confin, de Osório-Artigas-Belgramo, Madariaga y San Martín! A tu conjuro peliaran, vieja milonga machaza los centauros de mi raza que al más allá se marcharan y las hembras te besaran con cariño y con amor cuando en la guitarra flor, enriedada en el cordeje, fuiste un llamado salvaje al corazón del cantor! Milonga - poncho y facón, calandria pampa y lucero, grito machazo del tero, calor de hogar y fogón, milonga del redomón, llevando pátria en las ancas, milonga de las potrancas
74 milonga de las congojas milonga divizas rojas, milonga divizas blancas. Blanco y azules pañuelos, celeste verde amarillos, milonga de los caudillos que hilvanaran nuestros suelos, milonga de los abuelos de las cepas cimarronas, milonga de las lloronas repiquetiando de lejos, milonga de los reflejos en las trenzas de las peonas. Martín Fierro - el viejo Pancho, Blau Nunes y Santo Veja, tu sonido gaucho llega parido nel mismo rancho y a lo largo y a lo ancho dibuja el suelo patrício cuando el payador de ofício repunta en vuelo bizarro, lanceros de Canabarro, rastreadores de Aparício. Con tu sonido encadenas nel mismo pampa dialecto, Antonio de Souza Neto, poncho - lanza y nazarenas, milong sangre en las venas de la história que se aleja, leyenda de pátria vieja que hizo del cielo diviza con Justo José de Urquiza, Juan Antonio y Lavalleja. Milonga de tres colores punteada en cuerdas de acero, cuando el último jilguero ensaya sus esteretores, nosotros los payadores, de la tradoción campera, saldremos a campo fuera, por los ranchos y fogones, tartamudeando oraciones pa' que el gaucho no se muera.
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Pero el jamás murirá, gaucho no puede morir, es ajes y el porvenir, lo que fué y lo vendrá, la lanza y el chiripá padran quedar nel repecho, Pero - Liberdade e Derecho, Dignidad y Gaucheria, el Patriotismo y la Hombria los guardamos en el pecho. Milonga de tres bandeiras, templada por manos rudas, mensaje de Dios, sin dudas sin cadenas ni fronteras, mañana por las praderas el viento pampa resonga con su guitarra de estrellas haciendo pátria con ella pues donde hay pátria, hay milonga. PAYADA DAS MISSÕES Meus irmãos de território - el pajador das missões Meus irmãos de território Que repontou dos fogões Seu bárbaro repertório Que chega para um ajutório Do nativismo e da crença Cantar é mais do que uma doença Que mau olhado ou quebranto E eu sou viciado no canto E canto se dão licença. Tetraneto de cacique, Bisneto de curandeira Trago um breve da parteira E dos ranchos de pau a pique Isso talvez justifique Essa imponência baguala Do cantor que quando fala Do sorsal que quando canta Brotam notas da garganta Que até o silêncio se cala.
76 E se fui índio primeiro Deste chão abarbarado Antes de ser espoliado Pelo ibérico estrangeiro Depois de ser missioneiro Não caí sem resistência E na bárbara pendência Do taura - sem Deus, nem lei Eu mesmo me aquerenciei Dentro da própria querência. E se ela me foi tomada Num raio guacho de luz Quando a beleza da cruz Curvou-se à força da espada Extinta a chama sagrada Que toda cultura encerra Eu que fui morto na guerra Num barbaresco repuxo Me transformei em gaúcho E renasci sobre a terra. Irmão gêmeo de Sepé Retornei de muito longe Trazendo a bêncão de um monge E do último pagé Que me ensinaram a fé E a senha dos rapezodos Para acalmar os denodos De missioneiro andador No ofício de pajador Que é o mais crioulo de todos. Desde então, canto - e cantando Persigo o tempo que viaja Em qualquer parte que haja Uma pátria se formando Um oprimido peleando E uma causa em abandono Sem nunca pegar no sono Onde existam espoliados Ou tiranos apossados De coisas que não tem dono. Canto a cordeona que chora E a guitarra que ponteia A Dalva que fogoneia
77 Quando vê clareando a aurora O pialo porteira a fora E o boi manso lambendo a canga Canto os lábios de pitanga Que tem gosto de resina E o corpo doce da china Respingando água da sanga. Eu canto a estrela boieira Eu canto o céu estrelado Eu canto o berro do gado Canto a vivência campeira Canto as lides de mangueira E os remansos do açude E no instinto de índio rude Dos primeiros evangélios Canto a esperança dos velhos E as ânsias da juventude. Eu canto a infância - essa planta Que merece ser cuidada A planta mais delicada Que nos ares se levanta Ela é a cultura mais santa Precisa de água e calor Porque Deus - nosso senhor Fez a luz, fez a umidade Pra que houvesse liberdade E dela, brotasse a flor. Não gosto de cantar rios Mortos pelos insensatos Nem vítimas de artefatos Dos humanos desvarios Nem os corações vazios Dos escravos de a cabresto E dentro deste contexto Não quero cantar de novo Os ancestrais do meu povo Mendigos vendendo cezo. Eu canto o dia que nasce Eu canto a tarde que morre Eu canto a sanga que corre E a lua que mostra a face E se o mundo se acabasse Numa tragédia bravia
78 Assim mesmo eu cantaria Um mundo nascendo doutro Indiada domando potro E bugra lavando a cria. Se acaso um dia, os feitores Dos quatro pontos cardeais Queimassem seus arsenais Mandando cultivar flores Nosotros, os pajadores Queimaríamos incenso No templo do pampa imenso Berço do ancestral andejo Que peleava por um beijo E morria por um lenço. NEGRINHO DO PASTOREIO Quando de noite transito No meu gauderiar andejo, Me paleteia o desejo De encontrar-te, duende amigo, Pois sei que trazes contigo, Negrinho esmirrado e feio, O Rio Grande em pastoreio No sinuelo do passado, E que ali, no descampado Que a luz da vela clareia, O teu vulto esguio, bombeia, Como Deus de rito estranho, A gauchada de antanho Que se perdeu na peleia! Juntos iremos lembrar Aquele maula estancieiro, Que ao botar num formigueiro O teu corpo de criança, Cravou bem fundo uma lança No próprio ser do rincão; Trazer a recordação, Aquela velha tropilha, Que do topo da coxilha Esparramou-se a lo léu, Para juntar-se no céu Contigo e Nossa Senhora, E hoje cruza, noite a fora, No meio dum fogaréu!
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Hás de contar-me o que viste Na tua ronda infinita, Desde a povoação jesuíta Ao reduto Guaiacurú, Quando Sepé Tiaraju Morrendo de lança em punho, Dava um guasca testemunho Da fibra continentina, E quando, nesta campina, O velho pendão farrapo Cruzava altaneiro e guapo Como uma benção divina! Dizem que trazes por diante Dos fletes que pastorejas, Assombrações malfazejas Das campanhas do JARAU, Repontas o fogo mau, Do andarengo BOITATÁ, E vagando, ao Deus dará, Nessa ronda de amargura, Vives na eterna procura, Pelas canchas e rodeios, De prendas, trastes e arreios Extraviados na planura! Tu conheces os segredos De ranchos e cemitérios Onde paisanos gaudérios Assinalaram passagem, Revives cada paragem Numa evocação singela, Por entre tocos de vela De humildes promessas pagas Onde o S das adagas Fazia o papel de cruz, E onde num raio de luz, Brilhava sempre a velinha, Invocando tu'a madrinha A Santa Mãe de Jesus! Presenciaste o velho drama Do gaúcho em formação, Quando este imenso rincão Era um selvagem deserto, Tudo céu e campo aberto
80 E onde Deus Nosso Senhor Pós o guasca peleador, De lança e de boleadeira E mandou fazer fronteira Onde quisesse, a lo largo, Dando o pingo, o mate-amargo E a china pra companheira! Por tudo isso é que sofro Quando altas horas despontas Entre os fletes que repontas Num barbaresco tropel, Lembrando o dono cruel Que num gesto asselvajado Te fez cumprir este fado De andar penando no ermo, Esperando sempre o termo, Que tarda tanto em chegar, E onde haveremos de estar, Enquadrilhados a grito Diante do Deus infinito Que vai por fim nos julgar! E assim como tu, Negrinho, Que um dia foste espancado E por fim martirizado Num formigueiro do pago, O meu peito de índio vago Também sofreu igual sorte, E hoje vagueia, sem norte, Sem fugir, por mais que ande, Deste formigueiro grande Onde costumes malditos Tentam matar aos pouquitos As tradições do RIO GRANDE.
81 ARABÍ RODRIGUES (1940), brasileiro, reside em Novo Hamburgo (RS) há 40 anos. É poeta, payador, jornalista, radialista, pesquisador e conferencista da história e do folclore gaúcho. Presidiu a Câmara Municipal em 1983, onde foi vereador por duas legislaturas. É autor da lei que instituiu o ensino da tradição e do folclore gaúchos na rede municipal de ensino. Assina também o projeto MARCA – Mutirão de Arte e Culturas Gaúchas, no CTG Porteira Velha de Novo Hamburgo. Presidiu o Conselho Municipal de Turismo, onde projetou e executou várias edições do carnaval e da Semana Farroupilha. Também participou da comissão organizadora dos festejos dos 50 anos de emancipação de Novo Hamburgo. Foi secretário municipal da Cultura de Campo Bom. Por sua atuação na política, recebeu o reconhecimento público através de premiações em 1982 e em 1983. É membro da Estância da Poesia Gaúcha desde 1980, laureado com a Medalha Jaime Caetano Braun em 2007. Sua participação em festivais de música nativista, em todo o Brasil, tem sido marcada por premiações sucessivas. Criou o Festival de Músicas Nativistas de Novo Hamburgo, denominado Pastoreio da Canção Nativa. Em parceria com vários poetas, entre eles Nelson Ortácio, criou a 30ª Região Tradicionalista e a Associação Tradicionalista de Novo Hamburgo. Também é fundador do DTG Sinuelo, do Colégio Marista Pio XII. É autor de mais de 200 composições, gravadas. Poeta com quatro livros publicados Pastoreio (1980), O Gaúcho (1985), Prenda Minha (1989) e Marcas do Tempo (1998). Integra o grupo musical "Garrão de Potro", ainda é autor do hino da Universidade Luterana do Brasil e do hino que assinala os 70 anos da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande. (http://arabi-rodrigues.blogspot.com/) ABELHA MESTRA Tupã, Alá, Aloin, meu Deus gaúcho, São Pedro, permitam do meu segredo, invocar um querubim; destes que cuidam de mim, de ti e do nosso Rio Grande: além da alma dos Andes, co’a brancura de mãos limpas, q’uesta prece chegue às grimpas do Martin Fierro de Hernandez. Não vê, que o povo gaúcho, sempre forte e aguerrido: resolveu, por decidido mudar o nosso debuxo, ante promessas, um luxo, de brilho matiz aurora, vento sul a campo fora; deu carta e jogou de mão e assim trocou um “zangão”, por uma “abelha mestra” de fora.
82 “Las cosas” corriam lindas: cordeona, festa, foguete; surgiu então, um bilhete, prenunciando tardes findas “y lo mejor”, trazia ainda, denuncias dalguns desmanchos. Enquanto isto, nos ranchos, o povo se perguntada, em verdade quem mandava, “abelha mestra”, ou o carancho? Enquanto seguia a “engronha”, a gaita velha roncava, um, ou outro apresentava, “os do Sem votos, os da Pamonha, a do Campestre”, que vergonha, “Placas Frias”, casa nova; O baile virou uma trova, “mi – maior- de – gavetão”. Morre em Brasília, um irmão, seus alfarrábios, são provas? “Una cosa és una cosa”, disse o cantor Uruguaio, sempre lembro quando saio, dos versos de Zitarroza. Guardo o perfume da moça, que nunca soube da festa, viu de longe a nova orquestra, o carancho pousar no poste. Mesmo que agente não goste, “ta” ajojado à abelha mestra... Agora, quando em silêncio, ouço ao longe a oito baixos, co’a cantiga do Gaudêncio, em honra ao Rio Grande macho. Doravante, só despacho de bombo, voz e guitarra. A sombra que a estrada embarra, “no lleva el corazón, dice Fierro, una ocazion, num de sus canto mas nobres: no és vergueza ser pobre, la vergueza és ser ladron”.. QUERUBINS DA RAÇA PAMPA
83 (ao poeta Antônio Carlos de Alencastro) Kati, meu irmão querido, parceiro de poesia, por sermos da mesma cria, somos do "garão torcido", de mais a mais convencidos, qu'o longe não nos atinge. A saudade, a gente finge, que foi embora pra sempre, a cuia, a chaleira, a trempe, a palha, o fumo, a solinge... Um mate feito a capricho, um pito feitio caseiro, a baforada e o cheiro, da china, o nosso cambicho, depois do velho cochicho: "to te esperando meu nego", surge a resposta: já chego, gostar de ti, é meu vício, pro desafio do ofício, vai ajeitando os pelegos. Assim o tempo nos leva, como tronco rio a "baixo". Doze braças a bate cacho, pro refugo dos malevas. Quando a lua engole as trevas no altar dos sentimentos, eu chego na voz dos ventos, qu surgem do paraíso, pra vislumbrar teu sorriso, co'as luzes do pensamento. Podes crer, neste momento, parado diante de mim, consigo ver no sem fim, o ser do teu firmamento. À sombra de teu talento, a minha musa se acampa, reproduz a tua estampa; à luz de campos em flores teus versos, são meus amores querubins da raça pampa. Por fim um abraço largo,
84 repete e bate outra vez, sempre co'a mesma altivez, de quem cumpre o seu encargo. Agora, mais um amargo, desses que alargam ternura e que adoçam a lonjura, além dos meus universos. Enquanto tu lê meus versos, salgo outra cevadura!!! Um grande abraço fraterno. O SER DO CORAÇÃO Meus irmãos de céu e terra, litoral, campo e cidade, estou faceiro, em verdade, a musa subiu a serra, justo, aonde Deus descerra, a luz por entre a ramagem. Por esta impura paragem, sigo o rumo do sem fim, buscando dentro de mim o motivo pra mensagem. Quando reparto a linguagem, pra desenhar o que tenho, adejo o chão, donde venho, sobre as flores, da paisagem. Entre o medo e a coragem, prefiro a voz da razão. Não sei por que a emoção, nos aflige e atrapalha, e quando livre se espalha por dentro do coração. Quando o sim, quer dizer não, a vida segue outro rumo, por isso não acostumo, co’essa tal evolução, leva um taura de roldão, sem pergunta e nem resposta. Até mesmo uma proposta de compra, ou venda de gado, tem que ter muito cuidado co’a facada pelas costas... Assim mesmo quando “enrosca”,
85 palavra e fio de bigode, o mais forte se sacode, e o outro que tire a “cosca”. No bolicho da “Marosca”, não se vende canha fiado, um sistema do finado, uma lição do Florêncio. O barulho do silêncio, faz o meu mundo calado. CULTURAL E CAMPEIRO (honor a La Bacaria de los Pinãles) Meus irmãos de honra e fé, querer de pátria, consciência; este amor pela querência, vem da fibra de Sepé. O primeiro a calçar o pé em defesa desta Terra; litoral, campanha, serra, centro, missões, capital, no mesmo cocho de sal, o Amor que Deus descerra. Luis e Maguida, patrões do Porteira do Rio Grande; pra qu’a saudade se abrande, ante o ser das emoções, valho-me aqui de Camões: “cessa tudo que a musa canta, quando um poder maior se levanta”; à borda dos corações... Assim sendo, estou de volta, chapéu e pena na mão, pra fazer uma oração, vê se a saudade me solta. Depois, fazer a recolta, tendo o Ângelo na guitarra. A sombra, qu’a estrada embarra, “no lleva el corazon; dice Fierro, una ocazion: uno de los canto mas nobres no és vergueza ser pobre, la vergueza és ser ladron”... Ante tanta fidalguia, do Roberto, do Peruquim,
86 o Nilso, o Jorge, bem assim do jeito da Vacaria, uma eterna poesia campo, mangueira, galpão, bufido de redomão, berro, guincho, manotaço e as doze braças do laço, pra garantir o tirão... Na cuia do mate amargo, o sangue verde do povo; esperança dum mundo novo, co’a alma do pampa largo. Devo ao Senhor, meu encargo de ser um sonho acordado; meu mundo foi preparado, no sem fim do universo, um Irmão a cada verso, entre "as romãs" ajoelhado... Por fim, o agradecimento ao gesto da patronagem, que passou nova mensagem, além dos Regulamentos. Vale mais os sentimentos, que a tal de burocracia. Em nome da poesia, tradição do nosso Estado: ao Ângelo, muito obrigado e mil gracias, VACARIA!!! MATE DE CONTRAPUNTO (homenagem ao poeta Nelson Ortácio) Irmão de fé e querer, aqui estou novamente, pr'um mate, que redepente, um verso pode nascer, daqueles, que sem dizer, dá ode-casa e apeia e "despacito" boleia, uma rima limpa e pura, em honra a nossa cultura depois, se abanca e mateia. Me agrada, quando mateamos, "hablar de cosas estrañas,
87 los regalos de campaña, que a lo largo veneramos". Nesta quadra aonde estamos; qualquer assunto, é assunto, mormente se tiver junto o nosso Deus das respostas, até o diabo "vira as costas", pr'um mate de "contra-punto". Os pensamentos vagueiam no topete da consciência, trazendo a voz da querência, quando as guitarras clareiam; bordoneios que semeiam, rufar de patas, arrancadas tropel de cascos, patriadas, sunir de laço e chilenas e o sorriso das morenas no peitoril das ramadas. É lindo, sentir nas veias o sangue verde,esta seiva, aflora por sobre a leiva como trava de maneia. Enquanto, a cuia passeia, entre uma e outra prosa, "o cheiro da cancorosa", faz recordar o momento, que somou o sentimento ao ser dalguma mimosa. Em fim, a vida é um planalto, cheio de pedras e espinhos. As flores, são os caminhos, que Deus nos mostra do alto. Ante outro sobre salto, à luz do mundo moderno prefiro a cor do inverno, sempre vestido de paz. A vida por ser fugaz, compraz o Amor eterno. UM BRINDE CO’AS DUAS MÃOS (em honra ao amigo Júnior, Bombinhas-SC) Meu caro Junior, um abraço do tamanho do Rio Grande,
88 co’a voz de Jose Hernandez, andando à sombra do passo. Em cada verso que faço, o garbo das pradarias, “alumbra” a tarde dos dias, que desconto da vaidade, pra ser sincero, em verdade, devo agora admitir, mesmo antes de sair, “tava” sentindo saudade... Saudade da convivência, o aconchego dos Irmãos, um brinde co’as duas mãos, com ternura e reverência, que faz lembrar a querência, em dia de marcação; guitarra, voz e canção, que arrebatam e que dá ciúmes; em fim, os nossos costumes, entre o Perequê e Bombas, lembrando noites de rondas ante o altar dos perfumes. Me agrada, quando o parceiro volteia, como pr’um pealo, espora e bico de galo, velho patuá do tropeiro; no “causo” dum entreveiro, sabe chegar e sair. Quem sabe pr’onde ir, não precisa perguntar, antes do dia clarear, já esta de pingo encilhado, aba-larga bem tapeado e mundo pra negociar. Terra, casa, apartamento, estância, prédio fazenda e o riso dalguma prenda, pra mermar o sentimento. É lindo quem tem talento, vontade, fibra e coragem, até o verde da paisagem, parece ser mais bonito. A gente chega solito, entre crentes e ateus,
89 cresce e vive, à luz de Deus, pra descobrir no presente: que somos contra-parentes, por que tu és um dos meus... PRA VIDA INTEIRA (em honra ao amigo "Nego Quadros") Nego Quadros, “con permiso, com la bendicion de Dios, ay estan delanteros, lo mas viejo compromizo, quien sabes, talvez porizo”, estoy de cuerpo presente. Alma limpa, nossa gente de campo, serra e missões e o querer bem dos galpões, que nos uni no presente. “Yo sei que muitos diran, que peco de atrevimento sy largo meo pensamento, pa el rumbo que ya eleji, pero sido siempre asi, galopeador contra el viento”. A muitos sobram talento, a outros faltam emoção, a mim sobra inspiração, para expor o sentimento... Por isso neste momento, vista larga, campo aberto, o longe, chega pra perto, pela Internet, este invento. Salgo nas alas del viento, chevo lazo e boleadoras, y lãs muzas criadoras, de rimas, métrica y bersos, traen de los mios universo, sonido de tuya Emissora... Salve “O Querência Nativa”, Programa, mais q’um programa, é a tradição, que nos chama, ao pé da consciência viva, é o céu da alma que estiva, na vastidão das praderas,
90 son lãs pampas sien fronteras: do viejo Jose Hernandez, del Uruguai y Rio Grande, bajo la misma bandera. Ao largo da carretera, que leva e traz encordadas, termina numa payada, que fica pra vida inteira... MUNDO DOS ARREIOS (homenagem ao amigo José Augusto) José Augusto, meu caro, recebi o teu recado e deveras, emocionado, à tua frente me paro. Nosso mundo é meio raro, comparado ao mundo novo, consciência, casca de ovo, palavra e fio de bigode e o saber do que não pode, mãos limpas, alma do povo. Nosso desejo sulino de paz, amor, liberdade, herdamos na tenra idade, do nosso ancestral menino”; depois, o Poder divino, que tudo sabe e tudo vê, alcançou-nos o porquê: sermos de campo e mangueira e o escudo da bandeira, do querido CTG. Além da pilcha completa, o poncho, a faca e o mango, este gosto por fandando, prenda bonita e discreta, cantiga, quando o poeta é dos bons e respeitado e o gaiteiro, no teclado, retrata o campo na sala, como quem engole a fala no lombo dum aporreado. Nos somos do tempo antigo, da legenda dos gaudérios,
91 palmeadores de hemisférios, que não refuga ao perigo. Me agrada, quando um amigo, desses “buenos”, que nem tu; bem montado, a “Capitu”, troteia mascando o freio, como quem para um rodeio nos campos Canguçu. Agora pro arremate, um convite pro amigo: se quiser vir ter comigo, “se chegue” pra mais um mate; antes que o tempo desate, a saudade do convívio. Não esqueça, que o alívio dum amigo por inteiro é saber que o companheiro: de honra, fibra e coragem é o motivo da mensagem por nosso Deus verdadeiro... AO EMIGRANTE O tempo acordou a voz do Imigrante Alemão que viu a transformação, da pátria mãe, ao algoz; por andar a esmo e a sós, rumou ao sul, sem destino, mar aberto, sol a pino, a fibra, a força, a coragem, por fim a bela paisagem do velho pago menino. Abordo do Protetor da Alemanha a Porto Alegre, cansado, já quase entregue, pela fome, a sede, o rigor, vislumbrou a mata em flor, no espelho do Guaíba. Aonde até hoje, estriba a lembrança da chegada. A São Leopoldo, a morada, meio dia, rio arriba. Em vinte e quatro de julho,
92 aportou no cais aberto e ao ver o longe mais perto, da consciência e do orgulho, ouviu do mato, o barulho da natureza intocada; a sinfonia orquestrada, ao trino do mundo novo, acordes, alma do povo e o campo branco de geada. Mil oitocentos e vinte e quatro, velho rio Kururay. Nosso pago era guri, pés descalços, campo e mato, algum rancho, lombo chato de vara, barro e capim, ternura de querubim, paciência de noite calma. Hoje, um desejo da alma, ver um mundo, lindo assim. Foi ali da Feitoria, casa dos nobres de antanho, que surgiu este rebanho, que trouxe paz, harmonia: a gaita, o chucrute, a chimia, comércio, indústria, progresso, nova luz, novo universo, até no jeito de amar e o sistema familiar o alemão, refez num verso. Depois da grei Farroupilha, a conquista do território, foi ordenança de Osório, outra vez, pelas coxilhas, desfez e fez armadilhas, domando o pampa bravio e num grande desafio, desbravou o sopé da serra e aquerenciou-se na terra, trocando o nome do Rio... Por fim, em honra da paz, a Lomba grande Gaúcha, Sociedade, que debuxa, a tradição que compraz.
93 Graças o querer audaz, deste valente alemão, abriu cancha em nosso chão, observando o Evangelho, desde Canguçu Velho, ao ser de nossa emoção... Agora depois de tudo: estrada, suor e peleias, o sangue de nossas veias, têm mescla deste abelhudo, misturado ao do “beiçudo”, temperou a nossa raça. Bem dito o Dia da Graça, do alemão, seus princípios, que emancipou municípios co’a nossa pátria na jaça... Seguindo o rastro dos outros, o Italiano, veio depois, o negro, o alemão, estes dois, já tinham domado os potros, recolhidas, alvorotos, logo após a criação, do nosso pago, este chão, de “payadas y contra-puntos” são iguais nossos assuntos ao falar de tradição Nosso maior compromisso é co’as luzes do Amor, amigo, não faz favor, apenas presta serviço e talvez seja por isso, que somos tão conhecidos, respeitados e queridos, por qualquer lugar que ande e para que o tempo abrande, a folga do meu encardo; um gole de amargo, sangue verde do Rio Grande... CONCERTO NO CAMPESTRE Patrão do ser infinito, olhas teus filhos na terra litoral,campanha, serra,
94 planalto, sempre bem dito: nosso pago está aflito, diante do desmazelo. Nossa cultura dum pêlo, foi transformada em negócio, os vendilhões já têm sócio, “perro”, relho e sinuelo. Vem daí o cotovelo, que tira a gente do páreo. Cada projeto, um calvário, puxão de orelha, cabelo, pra justificar o zelo, “a mocinha” do extrato, apareceu no retrato, que Grizotte publicou, e por pouco não apanhou, “só por causo” dum contrato. O tal de filme, “uma piada”, é como lidar co’a raiva” o livro e o extrato na gaiva, aonde as notas são guardadas, as legitimas e as clonadas, que dão origem a despesa. Descoberta a safadeza, quem queria aparecer, agora, só quer esconder a escuridão “da nobreza”. Por sorte, temos certeza: a moça não está sozinha, um dos sócios, co’a ladainha; se desmanchou em gentileza, e, ao comissário, com firmeza, soltou a língua e as notas. É “brabo” trocar as botas, bem no começo do baile, quem não sabe ler em braile, ensina orelhar a “sota”. Se não fosse uma vergonha, seria de dar risada. A “mocinha” perfumada, à sombra duma congonha, nivelada aos da “pamonha”, dos “Sem Voto” e do DETRAN
95 e que responder pro fã sobre o concerto, o caminho, com o nosso dinheiro, pão dos pobres do amanhã... DE PROSA E CANTIGA (Homenagem a Walter Morais) Walter Morais, meu irmão: de querer e de pendor, teu canto, é o Rio Grande em flor, na borda do coração; além do cheiro de chão, possui o gosto de pasto, legenda rangendo basto, sobre o lombo do cavalo, espora e bico de galo, sangue de pátria no rastro. Quando ouço a tua voz, “templada” como pra um pealo; cada verso que embuçalo, vejo a pampa de todos nós, trazendo a consciência a foz, dos sentimentos terrunhos, o tempo serrando os punhos, estrelas de pirilampos, ziguezagueando nos campos, trazem luz ao testemunho. Daqui do lombo do cerro, a onde nasci e me criei, o dom, tem força de Lei, mesmo vivendo o desterro. O ganido desse “perro”, parceiro dos desgarrados faz relembrar descampados, rufar de cascos, peleias e o sangue nas nossas veias, ao do índio misturados. Agora pra arrematar, um abraço bem cinchado, para que fique guardado, do lado esquerdo, este altar, que diz tudo, sem falar e tudo diz, sem dizer;
96 um amigo de bem querer, é como a alma do povo na seiva dum mate novo água pura de beber. A CASA DO SEM VOTO Meus irmãos de corpo e alma, de mate amargo e querência, venho em nome da prudência, que nos apraza e acalma. O silêncio bate palma, e o coração pede bis. Volto à Praça da Matriz, bandeja e pamonha prontas, ao pessoal que confere as contas que por discreto, é feliz... Um diz que há desmazelo, descontrole e nepotismo. Outro diz, foi egoísmo, açodamento, atropelo, por não ser do mesmo pêlo, dos que usam “placas discretas”; por ciúmes, quase que embreta, o que já estava no brete. É a história que se repete, quando “una cholita apreta”. Sempre soube que o ciumento, é corno por antecedência. O que chamo de prudência, é honra do Sentimento. Confundir descaramento, com segurança, descrição, é como trocar um canhão, por uma pistola vazia. Placa fria é placa fria, e não importa o patrão. Essa empáfia de segredo, é um disfarce conhecido; pra manter bem escondido, a luxuria do brinquedo. O que dá certeza e medo, são as denúncia que foram feitas quem por certo, não aceita
97 o rabo de quem for pego, nesse cabide de emprego, sem voto, “vão pra direita”. Quando penso na Arrancada, dos heróis de Trinta e Cinco, recordo o brio, o afinco, luz de palavra empenhada o rigor da cavalgada, além da fome, o cansaço, o desejo “templado” em aço, sob o Pendão de três cores. Onde estão estes valores, se perderam no espaço? A PAMONHA DO DETRAN Meus irmãos de campo e serra, litoral, centro e missões: em nome das tradições, do povo de nossa terra, ante à luz que Deus descerra no para-peito do tempo; cevo meu mate e contemplo, gaúchos d’antigamente e a honra de nossa gente, nosso modelo de exemplo. Entretanto, no momento, por incrível que pareça tem dado “dor de cabeça”, o principal Sentimento. Está sobrando talento e está faltando vergonha. A bandeja da pamonha, foi à Praça da Matriz e pra “regalo” dos guris, a vivenda da cegonha. A farra “empezo” la em cima, na bailanta do palácio. Quem diria que o prefácio, serviria a minha rima; tudo que afasta, aproxima, todo que cala, consente. Assistindo os “inocentes”, depondo na CPIs:
98 me dei conta que “os guris” “tavam” roubando nossa gente! Após apresentação, rapa-pé e ramalhete, de pronto, vinha o joguete: do não vi, do não sei não! Os direitos de ladrão, isso ai, eu não respondo, sou “sério e não me escondo”. Na maleta do “irmão”? tinha os sêlos do Macalão, e um mapa-múndi redondo. Mas, o assunto é o DETRAN, insiste o inquiridor. Excelência, por favor, não insista em “cosa” vã, se por “acauso”, amanhã, a justiça me chamar, ai sim, eu vou falar, tudo o que vi e o que sei mas, dentro da nossa lei, se abelha mestra deixar. Um deboche, que de dá medo, pela frieza que passa. A honra da nossa raça, encoberta pelo mosquedo, com cheiro de vinho azedo, cachorros de pêlo liso, vivendo num paraíso, com o dinheiro roubado, dos cofres do nosso Estado. Não pensem que sou conciso, não digam, que sou conciso!!! AOS PAIS Senhor dos mundos, padrão de saber, força e beleza; permita que a natureza, do verso dum pobre peão, alcance o ser da razão, amor que nos deu a vida, “con la madre” dividida, corpo, alma e coração.
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Porquê será que o agosto, prenuncio de primavera; tira a consciência da espera, clareando as cores do rosto. O tempo, guardião do posto, à porta do paraíso. Depois do grande sorriso, a víbora traz o desgosto. Assim, a lenda é contada, a maçã surgiu das trevas e o Adão ouvindo a Eva, já não ouvia mais nada, o céu, a terra encantada, água fresca, sombra boa. Fez do cetro, uma coroa nos botou nesta “roubada”. Agora pra disfarçar, gastamos nossos centavos; “o crescei-vos e multiplicai-vos”, faz um pai se desdobrar, somente pra contentar, quem escolhe o seu presente co’a afirmação, novamente é o senhor quem vai pagar. Pai é uma luz divina, que Deus repete na terra, pelo amor que descera, no ventre que descortina. A vida moça menina, o tempo velho monarca, não importa pêlo ou marca, tem que cumprir sua sina. Como pai, já sou avô, como qualquer outro velhinho, cheio de “dengues”, carinho que o Patão me reservou. Em todo lugar que vou, levo a luz da esperança e um sorriso de criança que o meu velho me legou!!! O NOSSO DEUS NEGRO
100 (ao Dr. Amaury Leopoldino de Freitas) Um deus negro, como a noite, quando a lua dorme cedo, conhecedor do segredo, do ser que chega ao apoite, pra se livrar do açoite, que se projeta disperso. O perfume do meu verso, reúne em torno de si, um deus, que ensina sorri, co'as luzes do universo. Atende a voz do alheio, como se fosse, um dos seus, seguindo o rastro de Deus, que perpassa o nosso meio. Um deus, que guarda o anseio na face de seu irmão. Do ventre do coração, brotam flores perfumadas, com ares de gargalhadas, ante o riso do perdão. Um deus, que transforma a dor, em caminho limpo e puro; condão de ser o futuro, aonde há voz de clamor. Um paladino do amor no sem fim do ser humano. Vaqueano dos mais vaqueanos, que a comparsa da consciência. Altaneiro na prudência, bondade de Soberano! O coração de criança, rebrilha acima da calma. Do silêncio, a sua alma, estende a mão da esperança, Da humildade, vem a confiança, que propaga de voz rouca. No tom, que perfuma a boca Esconde o conhecimento, de quem sabe, que o som vento apruma uma orelha mouca... Na cor da África materna,
101 o calor de sol a pino. Franqueza de rei sulino, na sua missão fraterna. Quem me dera a luz eterna, pra definir o querer. Eu faria, sem dizer, um verso de pôr na praça, somente pra render graças: ao Médico, deus do saber!!!
102 ATAHUALPA YUPANQUI (1908-1992) nasceu em Buenos Aires. Seu verdadeiro nome era Héctor Roberto Chavero. Durante a adolescência adotou o nome pelo qual ficou conhecido. Entre seus antepassados estão índios, crioulos e vascos: "Em aquellos pagos del Pergamino nací, para sumarme a la parentela de los Chavero del lejano Loreto santiagueño, de Villa Mercedes de San Luis, de la ruinosa capilla serrana de Alta Gracia. Me galopaban em la sangre trescientos anos de América, desde que don Diego Abad Martín Chavero llegó para abatir quebrachos y algarrobos y hacer puertas y columnas para iglesias y capillas (...) Por el lado materno vengo de Regino Haram, de Guipúzcoa, quien se planta em medio de la pampa, levanta su casona, y acerca a su vida a los Guevaras, a los Collazo, gentes 'muy de antes'..." (El canto del viento, I). A partir dos 18 anos inicia a peregrinação que o levará a diversos lugares, anos em que, além de músico, exerce diversos ofícios para ganhar a vida. Em 1930 começam as primeiras gravações do seu próprio cancioneiro. Na década de 1940 soma à sua atividade de músico a de escritor, publicando os primeiros livros: "Piedra Sola" e "Aires Indios". Depois publica a novela "Cerro Bayo", na qual se baseia o roteiro do filme "Horizontes de Piedra". Em 1945 se filia ao Partido Comunista. Esta filiação e a atitude crítica, o levarão a um silêncio forçado. As atuações foram proibidas, as gravações se interrompem, não se permite a interpretação de suas obras por outros artistas. Foi detido e encarcerado. A partir de 1953 levanta-se a proibição e volta a gravar. Recomeça a se apresentar em Buenos Aires e no interior do país. DaÍ em diante o reconhecimento se faz em prêmios e homenagens. Compõe duas cantatas: "El sacrificio de Tupac-Amaru" (1971), música de Enzo Gieco e Raúl Maldonado e "La Palabra Sagrada" (1989), música de Juan José Mosalini e Enzo Gieco. Publica os últimos livros "Guitarra", "El payador perseguido", "Del algarrobo al cerezo" e "La capataza". Ao final dos anos 1980 concretiza a criação da “Fundação Yupanqui”. Atahualpa Yupanqui faleceu na França em 1992. Seus restos mortais descansam em Cerro Colorado, Córdoba (Argentina). COPLAS DEL PAYADOR PERSEGUIDO Con permiso via a dentrar aunque no soy convidao, pero en mi pago, un asao no es de naides y es de todos. Yo via cantar a mi modo después que haiga churrasquiao. No tengo Dios pa pedir cuartiada en esta ocasión, ni puedo pedir perdón si entuavía no hei faltao; veré cuando haiga acabao; pero ésa es otra cuestión. Yo sé que muchos dirán que peco de atrevimiento si largo mi pensamiento
103 pal rumbo que ya elegí, pero siempre hei sido ansi; galopiador contra el viento. Eso lo llevo en la sangre dende mi tatarabuelo. Gente de pata en el suelo fueron mis antepasaos; criollos de cuatro provincias y con indios misturaos. Mi agüelo fue carretero, mi tata fue domador; nunca se buscó dotor pues se curaban con yuyos, o escuchando los murmullos de un estilo de mi flor. Como buen rancho paisano nunca faltó una encordada, de ésas que parecen nada pero que son sonadoras. Según el canto y la hora quedaba el alma sobada. Mi tata era sabedor por lo mucho que ha rodao. Y después que había cantao destemplaba cuarta y prima, y le echaba un poncho encima "pa que no hable demasiado..." La sangre tiene razones que hacen engordar las venas. Pena sobre pena y pena hacen que uno pegue el grito. La arena es un puñadito pero hay montañas de arena No sé si mi canto es lindo o si saldrá medio triste; nunca fui zorzal, ni existe plumaje más ordinario. Yo soy pájaro corsario que no conoce alpiste. Vuelo porque no me arrastro,
104 que el arrastrarse es la ruina; anido en árbol de espina lo mesmo que en cordilleras sin escuchar las zonceras del que vuela a lo gallina. No me arrimo así nomás a los jardines floridos. Sin querer vivo alvertido pa' no pisar el palito. Hay pájaros que solitos se entrampan por presumidos. Aunque mucho he padecido no me engrilla la prudencia. Es una falsa experiencia vivir temblándole a todo. Cada cual tiene su modo; la rebelión es mi cencia. Pobre nací y pobre vivo por eso soy delicao. Estoy con los de mi lao cinchando tuitos parejos pa' hacer nuevo lo que es viejo y verlo al mundo cambiao. Yo soy de los del montón, no soy flor de invernadero. Soy como el trébol pampero, crezco sin hacer barullo. Me apreto contra los yuyos y así lo aguanto al pampero. Acostumbrao a las sierras yo nunca me sé marear, y si me siento alabar me voy yendo despacito. Pero aquel que es compadrito paga pa' hacerse nombrar. Si alguien me dice señor, agradezco el homenaje; mas, soy gaucho entre gauchaje y soy nada entre los sabios. Y son pa' mi los agravios que le hagan al paisanaje.
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La vanidá es yuyo malo que envenena toda la huerta. Es preciso estar alerta manejando el azadón, pero no falta el varón que la riegue hasta en su puerta. El trabajo es cosa buena, es lo mejor da la vida; pero la vida es perdida trabajando en campo ajeno. Unos trabajan de trueno y es para otros la llovida. Trabajé en una cantera de piedritas de afilar. Cuarenta sabían pagar por cada piedra polida, y era a seis pesos vendida en eso del negociar. Apenas el sol salía ya estaba a los martillazos, y entre dos a los abrazos con los tamaños piegrones, y por esos moldejones las manos hechas pedazos. Otra vez fui panadero y hachero en un quebrachal; he cargao bloques de sal y también he pelao cañas, y un puñado de otras hazañas pa' mi bien o pa' mi mal. Buscando de desasnarme fui pinche de escribanía; la letra chiquita hacía pa' no malgastar sellao, y era también apretao el sueldo que recibía. Cansao de tantas miserias me largué pal Tucumán. Lapacho, aliso, arrayán, y hacha con los algarrobos.
106 ¡Por dos cincuenta! Era robo pa' que uno tenga ese afán. Sin estar fijo en un lao a toda labor le hacía, y ansí sucedió que un día que andaba de benteveo me topé con un arreo que dende Salta venía. Me picó ganas de andar y apalabré al capataz, y ansí, de golpe nomás el hombre me preguntó: ¿Tiene mula? Cómo no le dije . Y hambre, de más. A la semana de aquello repechaba cordilleras, faldas, cuestas y laderas siempre pal lao del poniente, bebiendo agua de virtiente y aguantando las soleras. Tal vez otro habrá rodao tanto como he rodao yo, y le juro, creameló, que he visto tanta pobreza, que yo pensé con tristeza: Dios por aquí no pasó. Se nos despeñó una vaca causa de la cerrazón, y nos pilló la oración cueriando y haciendo asao; dende ese día, cuñao se me gastó mi facón. Me sacudí las escarchas cuando bajé de los Andes, y anduve en estancias grandes cuidando unos parejeros; trompeta, tapa y sombrero, pero pa' los peones, de ande. La peonada, al descampao, el patrón, en Güenos Aires.
107 Nosotros, el cuello al aire con las caronas mojadas, y la hacienda de invernada más relumbrosa que un fraile. El estanciero tenía también sus cañaverales, y en los tiempos otoñales juntábamos los andrajos, y no íbamos p'abajo dejando los pedregales. Allí nos amontonaban en lote con otros criollos, cada cual buscaba un hoyo ande quinchar su guarida, y pasábamos la vida rigoriaos y sin apoyo. Faltar, no faltaba nada: vino, café y alpargatas. Si habré revoliao las patas en gatos y chacareras. Recién la cosa era fiera al ir a cobrar las latas. ¡Qué vida más despareja! Todo es ruindad y patraña; Pelar caña es hazaña del que nació pal rigor. Allí había un solo dulzor y estaba adentro e'la caña. Era un consuelo pal pobre andar jediendo a vinacho. Hombres grandes y muchachos como malditos en vida, esclavos de la bebida se lo pasaban borrachos. ¡Tristes domingos del surco los que yo he visto y vivido! Desparramaos y dormidos en la arena amanecían, a lo mejor soñarían con la muerte o el olvido...
108 Riojanos y santiagüeños, salteños y tucumanos, con el machete en la mano volteaban cañas maduras, pasando sus amarguras y aguantando como hermanos. ¡Rancho techao con maloja, vivienda del peleador! En medio de ese rigor no faltaba una vihuela, con que el pobre se consuela cantando coplas de amor. Yo también, que desde chango unido al canto crecí, más de un barato pedí y pa'los piones cantaba. ¡Lo que a ellos les pasaba también me pasaba a mí! Cuando yo aprendí a cantar armaba con pocos rollos. Y en la orilla de un arroyo bajo las ramas de un sauce, crecí mirando en el cauce mis sueños de pobre criollo. Cuando sentí una alegría; cuando el dolor me golpió; cuando una duda mordió mi corazón de paisano, desde el fondo de los llanos vino un canto y me curó... En esos tiempos pasaban cosas que ya no pasan. Cada cual tenía un cantar o copla de anochecida. Formas de curar la herida que sangra en el trajinar. Algunos cantaban bien. Otros, pobres, más o menos... Mas no eran cantos ajenos, aunque marca no tenían. Y todos se entretenían
109 guitarreando hasta el desvelo. Por ahí se allegaba un maistro, de esos puebleros letraos; juntaba tropa y versiaos que iban después a un libraco, y el hombre forraba el saco con lo que otros han pensao. Los peones formaban versos con sus antiguos dolores. Después vienen los señores con un cuaderno en la mano, copian el canto paisano y presumen de escritores. El criollo cuida su flete, su guitarra y su mujer; siente que enfrenta un deber cada vez que da la mano; y aunque pa'todo es baquiano sólo el canto ha de perder. ¡Coplas que lo acompañaron en las quebradas desiertas, aromas de flores muertas y de patriadas vividas, fueron la luz encendida para sus noches despiertas!... Se aflije si se le pierde un bozal, un maneador, pero no siente furor si al escucharle una trova, viene un pueblero y le roba su mejor canto de amor. De seguro, si uno piensa, le halla el nudo a la madeja, porque la copla más vieja, como la raíz de la vida, tiene el alma por guarida, que es ande anidan las quejas. Por eso el hombre al cantar con emoción verdadera, echa su pena p'ajuera
110 pa que la lleven los vientos, y ansí, siquiera un momento se alivia su embichadera. No es que no ame a su trova ni que desprecie su canto. Es como cuando un quebranto en la noche de los llanos hace aflojar al paisano y el viento le lleva el llanto. En asuntos del cantar, la vida nos va enseñando que sólo se va volando la copla que es livianita. Siempre caza palomitas cualquiera que anda cazando... Pero si el canto es protesta contra la ley del patrón, se arrastra de peón a peón en un profundo murmuyo, y marcha al ras de los yuyos como chasque en un malón. Se pueden perder mil trovas ande se canten quereres, versos de dichas, placeres, carreras y diversiones; suspiros de corazones y líricos padeceres. Pero si la copla cuenta del paisanaje la historia, ande el peón vueltea la noria de las miserias sufridas, ésa, se queda prendida como abrojo en la memoria! Lo que nos hizo dichosos tal vez se pueda olvidar; los años en su pasar mudarán los pensamientos. Pero angustias y tormentos son marcas que han de durar... Estas cosas que yo pienso
111 no salen por ocurrencia. Para formar mi esperencia yo masco antes de tragar. Ha sido largo el rodar de ande saqué la alvertencia. Si uno pulsa la guitarra pa cantar coplas de amor, de potros, de domador, de la sierra y las estrellas, dicen : ¡Qué cosa más bella! ¡Si canta que es un primor! Pero si uno, como Fierro, por ahíi se larga opinando, el pobre se va acercando con las orejas alertas, y el rico vicha la puerta y se aleja reculando. Debe trazar bien su melga quien se tenga por cantor, porque sólo el impostor se acomoda en toda huella. Que elija una sola estrella quien quiera ser sembrador... En el trance de elegir que mire el hombre p'adentro, ande se hacen los encuentros de pensares y sentires. Después que tire ande tire, con la concencia por centro. Hay diferentes montones, unos grandes, y otros chicos. Si va pal montón del rico el pobre que piensa poco, detrás de los equivocos se vienen los perjudicos. Yo vengo de muy abajo, y muy arriba no estoy. Al pobre mi canto doy y así lo paso contento, porque estoy en mi elemento y ahí valgo por lo que soy.
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Si alguna vuelta he cantao ante panzudos patrones, he picaneao las razones profundas del pobrerío. Yo no traiciono a los míos por palmas ni patacones. Aunque canto en todo rumbo tengo un rumbo preferido. Siempre canté estremecido las penas del paisanaje, la explotación y el ultraje de mis hermanos queridos. Pa que cambiaran las cosas busqué rumbo y me perdí; al tiempo, cuenta me dí y agarré por buen camino. ¡Antes que nada, argentino; y a mi bandera seguí...! Yo soy del norte y del sur, del llano y del litoral; y naide lo tome a mal si hay mil gramos en el kilo. Ande quiera estoy tranquillo pero ensillao, soy bagual. El cantor debe ser libre pa desarrollar su cencia. Sin buscar la convenencia ni alistarse con padrinos. De esos oscuros caminos yo ya tengo la experiencia. Yo canto, por ser antiguos cantos que ya son eternos; y hasta parecen modernos por lo que en ellos vichamos. Con el canto nos tapamos para entibiar los inviernos... Y no canto a los tiranos ni por orden del patrón. El pillo y el trapalón que se arreglen por su lado
113 con payadores comprados y cantores de salón. Por la fuerza de mi canto conozco celda y penal. Con fiereza sin igual más de una vez fui golpiao, y al calabozo tirao como tarro al basural. Se puede matar a un hombre. Pueden su rostro manchar, su guitarra chamuscar. ¡Pero el ideal de la vida, esa es leñita prendida que naide ha de apagar! Los malos se van alzando todo lo que hallan por ahí; como granitos de maíz siembran los peores ejemplos, y se viene bajo el templo de la decencia del país. Detrás del ruido del oro van los maulas como hacienda; no hay flojo que no se venda por una sucia moneda; mas, siempre en mi tierra queda gauchaje que la defienda. Cantor que cante a los pobres ni muerto se ha de callar. Pues ande vaya a parar el canto de ese cristiano, no ha de faltar el paisano que lo haga resucitar. El estanciero presume de gauchismo y arrogancia. El cree que es extravagancia que su peón viva mejor. Mas, no sabe ese señor que por su peón tiene estancia. Aquel que tenga sus reales hace muy bien en cuidarlos;
114 pero si quiere aumentarlos que a la ley no se haga el sordo. Que en todo puchero gordo los choclos se vuelven marlos. Una vuelta, sin trabajo, andaba por Tucumán, y en una fonda, ande van cantores de madrugada, me acerqué pa la payada que siempre ha sido mi afán. Aunque extrañando la monta me le apilé a un instrumento. Y al cabo de algún momento le di puerta a una baguala, con una coplita rala de esas que llevan los vientos. Tal vez fuera la guitarra. ¡Tan lindo como sonaba! Mi corazón remontaba tristezas de los caminos, y lo maldije al destino que tantas penas me daba. Un hombre se me acercó y me dijo : ¿Qué hace acá? Viaje pa la gran ciudad que allí lo van a entender; áhi tendrá fama, placer y plata pa regalar. ¡Para qué lo habré escuchao! ¡Si era la voz del mandinga! Buenos Aires, ciudá gringa, me tuvo muy apretao. Tuitos se me hacían a un lao como cuerpo a la jeringa. Y eso que no vine pobre pues traiba alpargatas nuevas. Las viejas pa cuando llueva en la alforja las metí; un pantalón color gris y un saco tirando a leva.
115 Saltando de radio en radio anduve, figuresé. Cuatro meses me pasé en partidas malogradas; naide aseguraba nada, y sin plata me quedé. Vendí mis lindas alforjas. Mi guitarra, ¡la vendi! En mi pobreza, ay de mí, me hubiera gustao guardala. ¡Tanto me ha costao comprarla Pero, en fin todo perdí! ¡Vihuela, dónde andarás, qué manos te están tocando. Noches enteras pensando siquiera como consuelo, que sea un canto de este suelo lo que te están arrancando...! Cuando el máiz está en barbecho luce un color brillantón; las hebras, como un nailón presumen con sus lindezas. Pero agachan la cabeza si las agarra el carbón. Igual me pasaba a mí en aquellos tiempos idos; joven, fuerte, presumido, y cuando se acabó el queso, volví en un triste regreso poblada l'alma de olvidos. Cosas de la juventud... ¡Malhaya, dónde andarás! Aura que estoy bataraz de tanto cambiar el pelo, recuerdo aquellos develos pero no miro p'atras. Me volví pal Tucumán nuevamente a padecer. Y en eso de andar y ver se pasarán muchos años entre penas, desengaños,
116 esperanzas y placer. Mas, no jué tiempo perdido, asegún lo ví después. Porque supe bien como es la vida de los paisanos. De todos me sentí hermano, del derecho y del revés. Siempre recuerdo los tiempos en que guapiando pasé, los cerros que atravesé buscando lo que no hallaba, y hasta a veces me quedaba por esos campos de a pie. La vida me fué enseñando lo que vale una guitarra; por ella anduve en las farras tal vez hecho un estropício, y casi me agarra el vicio con sus invisibles garras. Menos mal que llevo adentro lo que la tierra me dio. Patria, raza o que sé yo, pero que me iba salvando, y así, seguí caminando por los caminos de Dios. Pero como en la payada bien llamada contrapunto no acaba en esto el asunto sino que debe seguir, algo mas debo decir en la cuestión de los puntos. Yo no consegui aclarar, y no me explico el motivo, tres puntos consecutivos que algunos suelen usar. ¿Alguien me puede explicar estos puntos suspensivos? (http://www.cancioneros.com/)
117 BARTOLOMÉ HIDALGO (1788-1822) é considerado o iniciador da poesia gauchesca no Rio de la Plata. Órfão de pai, ele viveu com a mãe e irmãs em Montevidéu. Por ser de família modesta, sentiu na pele o rigor da sociedade. Até os 23 anos foi militar, o que influenciou os primeiros poemas. Compôs a Marcha Nacional Oriental para celebrar o armistício entre Buenos Aires e Montevidéu. Continuou vivendo em Montevidéu onde dirigiu A Casa da Comédia. Após a invasão portuguesa, foi para Buenos Aires e viveu a dura vida de poeta criollo que subsiste da venda das composições impressas em pliegos sueltos. Escreve Los Diálogos, sua obra mais importante. Bartolomé Hidalgo pertence à cultura popular. É daqueles autores considerados essenciais: são importantes no que dizem. Seus Cielitos [o cielito é equivalente à trova brasileira], fala das vicissitudes e de denúncias, que continuam em Los Tres Gauchos Orientales, Lussich e na voz de Martín Fierro, Hernández. Bartolomé Hidalgo foi o primeiro poeta que cantou o Uruguai, nas Octavas Orientales: Orientales, la patria peligra, reunidos al Salto volad; Libertad entonad en la marcha y al regreso decid Libertad. No Cielito de la Independencia sonha com uma nação formada por Argentina e Uruguai: Hoy una Nación en el mundo se presenta, pues las Provincias Unidas proclaman su Independencia. A obra de Bartolomé Hidalgo é classificada segundo o gênero: Cielitos e Diálogos Patrióticos, dividida em "poesia militante" (1811 a 1816) e em "poesia expectante" (1821 a 1822). São Cielitos em que o autor encarna a voz do povo, da comunidade. Poesia como arma, de conteúdo político, que fala da realidade para transformá-la. Poesia do fato histórico que denuncia, que intervém, que participa, ativa. Versos que se gritava na trincheira quando do sítio de Montevidéu. Também o Cielito contra os portugueses de 1816 e finalmente o primeiro Diálogo patriótico, com críticas sociais e ao roubo do bem público. (http://www.oni.escuelas.edu.ar) RELACIÓN QUE HACE EL GAUCHO RAMÓN CONTRERAS A JACINTO CHANO DE TODO LO QUE VIO EN LAS FIESTAS MAYAS DE BUENOS AIRES EN 1822. CHANO ¡Conque mi amigo Contreras, qué hace en el ruano gordazo! Pues desde antes de marcar no lo veo por el Pago.
118 CONTRERAS Tiempo hace que le ofrecí el venir a visitarlo, Y lo que se ofrece es deuda: ¡pucha! pero está lejazos. Mire que ya el mancarrón se me venía aplastando. ¿Y usté no jué a la ciudá a ver las fiestas este año? CHANO No me lo recuerde, amigo! Si supiera ¡voto al diablo! lo que me pasa ¡por Cristo! Se apareció el veinticuatro Sayavedra el domador a comprarne unos caballos: le pedí a dieciocho riales, le pareció de su agrado, y ya no se habló palabra, y ya el ajuste cerramos; por señas, que el trato se hizo con caña y con mate amargo. Caliéntase Sayavedra, y con el aguardientazo se echó atrás de su palabra, y deshacer quiso el trato. Me dio tal coraje, amigo, que me asiguré de un palo, y en cuanto lo descuidé, sin que pudiera estorbarlo, le acudí con cosa fresca: sintió el golpe, se hizo el gato, se enderezó, y ya se vino el alfajor relumbrando: yo quise meterle el poncho, pero amigo, quiso el diablo trompezase en una taba, y lueguito mi contrario se me durmió en una pierna que me dejó coloriando; en esto llegó la gente del puesto, y nos apartaron. Se jue y me quedé caliente sintiendo, no tanto el tajo
119 como el haberme impedío ver lasJunciones de Mayo: de ese día por el cual me arrimaron un balazo y peliaré hasta que quede en el suelo hecho miñangos. Si usté estuvo, Contreras, cuénteme lo que ha pasao. CONTRERAS ¡Ah fiestas lindas, amigo! No he visto en los otros años junciones más mandadoras, y mire que no lo engaño. El veinticuatro a la noche como es costumbre empezaron. Yo vi unas grandes colunas en coronas rematando y ramos llenos de flores puestos a modo de lazos. Las luces como aguacero colgadas entre los arcos, el Cabildo, la pirame, la recova y otros laos, y luego la versería. ¡Ah cosa linda! Un paisano me los estuvo leyendo, pero ¡ah pueta cristiano, qué décimas y qué trobos! Y todo siempre tirando a favor de nuestro Aquél; luego había en un tablao musiquería con juerza y bailando unos muchachos con arcos y muy compuestos, vestíos de azul y blanco, y al acabar, el más chico una relación echando, me dejó medio... quién sabe, ¡ah muchachito liviano, por Cristo que le habló lindo al Veinticinco de Mayo!
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Después siguieron los juegos y cierto que me quemaron porque me puse cerquita y de golpe me largaron unas cuantas escupidas que el poncho me lo cribaron A las ocho de tropel para la Mercé tiraron las gentes a las comedias: yo estaba medio cansao y enderecé a lo de Roque: dormí, y al cantar los gallos ya me vestí: calenté agua, estuve cimarroneando: y luego para la plaza agarré y vine despacio: llegué ¡bien haiga el humor! Llenitos todos los bancos de pura mujerería, y no amigo cualquier trapo sino mozas como azúcar. Hombres, eso era un milagro; y al punto en vanas tropillas se vinieron acercando los escueleros mayores cada uno con sus muchachos, con banderas de la Patria ocupando un trecho largo; llegaron a la pirame y al dir el sol coloriando y asomando una puntita... Bracatán, los cañonazos, la gritería, el tropel, música por todos laos, banderas, danzas, junciones, los escuelistas cantando, y después salió uno solo que tendría doce años, nos echó una relación... ¡Cosa linda, amigo Chano! Mire que a muchos patriotas las lágrimas les saltaron.
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Más tarde la soldadesca a la plaza jue dentrando, y desde el Juerte a la iglesia todo ese tiro ocupando. Salió el gobierno a las once con escolta de a caballo, con jefes y comendantes y otros muchos convidaos, dotores, escribanistas, las justicias a otro lao, detrás la oficialería los latones culebriando. La soldadesca hizo cancha y todos jueron pasando hasta llegar a la iglesia. Yo estaba medio delgao y enderecé a un bodegón, comí con Antonio el manco, y a la tarde me dijeron que había sortija en el Bajo; me jui de un hilo al paraje, y cierto, no me engañaron. En medio de la Alamera había un arco muy pintao con colores de la Patria: gente, amigo, como pasto, y una mozada lucida en caballos aperados con pretales y coscojas, pero pingos tan livianos que a la más chica pregunta no los sujetaba el diablo. Uno por uno rompía tendido como lagarto, y... zas... ya ensartó... ya no... ¡Oiganlé que pegó en falso! ¡Qué risa, y qué boraciar! Hasta que un mocito amargo le aflojó todo al rocín, y ¡bien haiga el ojo claro! se vino al humo, llegó y la sortija ensartando
122 le dio una sentada al pingo y todos viva gritaron. Vine a la plaza: las danzas seguían en el tablao; y vi subir a un inglés en un palo jabonao y allá en la punta colgando una chuspa con pesetas, una muestra y otros varios premios para el que llegase. El inglés era baquiano: se le prendió al palo viejo y moviendo pies y manos al galope llegó arriba, y al grito, ya le echó mano a la chuspa y se largó de un pataplús hasta abajo. De allí a otro rato volvió y se trepó en otro palo y también sacó una muestra. ¡Bien haiga el bisquete diablo! Después se treparon otros y algunos también llegaron. Pero lo que me dio risa jueron, amigo, otros palos que había con unas guascas para montar los muchachos, por nonbre rompe-cabezas; y en frente, en otro lao, un premio para el que juese hecho rana hasta toparlo; pero era tan belicoso aquel potro, amigo Chano, que muchacho que montaba, contra el suelo, y ya trepando estaba otro, y zas al suelo; hasta que vino un muchacho y sin respirar siquiera, se fue el pobre refalando por la guasca, llegó al fin y sacó el premio acordao. Pusieron luego un pañuelo
123 y me tenté ¡mire el diablo! Con poncho y todo monté y en cuanto me lo largaron al infierno me tiró, y sin poder remedíarlo (perdonando el mal estilo) me pegué tan gran culazo, que si allí tengo narices quedo para siempre ñato... Luego encendieron las velas y los bailes continuaron, la cuetería y los juegos. Después todos se marcharon otra vez a las comedias. Yo quise verlas un rato y me metí en el montón. Y tanto me rempujaron que me encontré en un galpón todo muy iluminao con casitas de madera y en el medio muchos bancos. No salían las comedias y yo ya estaba sudando, cuando, amigo, redepente árdese un maldito vaso que tenía luces adentro y la llama subió tanto que pegó juego en el techo; alborotóse el cotarro, y yo que estaba cerquita de la puerta, pegué un salto y ya no quise volver. Después me anduve pasiando por los cuarteles, que había también muy bonitos arcos y versos que daban miedo. Llegó el veintiséis de Mayo y siguieron las junciones como habían empezao. El veinsiete lo mesmo: un gentío temerario vino a la plaza: las danzas,
124 los hombres subiendo al palo, y allá en el rompe-cabezas a porfía los muchachos. Luego con muchas banderas otros niños se acercaron con una imagen muy linda y un tamborcito tocando. Pregunté qué virgen era, la Fama me contestaron: al tablao la subieron y allí estuvieron un rato, aonde uno de los niños los estuvo proclamando a todos sus compañeros. ¡Ah, pico de oro! Era un pasmo ver al muchacho caliente, y más patriota que el diablo. Después hubo volantines. Y un inglés todo pintao en un caballo al galope iba dando muchos saltos. Entre tanto la sortija la jugaban en el Bajo, por la plaza de Lorea otros también me contaron que había habido toros lindos; yo estaba ya tan cansao que así que dieron las ocho corté para lo de Alfaro, aonde estaban los amigos en beberaje y fandango: eché un cielito en batalla, y me resfalé hasta un cuarto aonde encontré a unos calandrias calientes jugando al paro. Yo llevaba unos rialitos, y así que echaron el cuatro se los planté, perdí en boca, y sin medio me dejaron. En esto un catre viché
125 y me le jui acomodando, me tapé con este poncho y allí me quedé roncando. Esto es, amigo del alma, lo que he visto y ha pasao. CHANO Ni oirlo quiera, amigo, como ha de ser, padezcamos a bien que el año que viene, si vivo, iré a acompañarlo, y la correremos juntos. Contreras lió su recao y estuvo allí todo un día; y al otro, ensilló su ruano, y se volvió a su querencia despidiéndose de Chano. AL TRIUNFO DE LIMA Y EL CALLAO, CIELITO PATRIÓTICO QUE COMPUSO EL GAUCHO RAMÓN CONTRERAS Descolgaré mi changango para cantar sin reveses, el triunfo de los patriotas en la Ciudad de los Reyes. Cielito, cielo que sí, están los Sanmartinistas tan amargos y ganosos , que no hay quien se les resista. Apartando una torada me encontraba yo en mi hacienda, pero al decir: Lima es nuestra le largué al bagual la rienda. Cielito, cielo que sí, cielito de Fr. Cirilo, y ya enderecé hasta el pueblo, y ya me vine en un hilo. Estaba medio cobarde porque ya otros payadores
126 y versistas muy sabidos escribieron puras flores. Allá va cielo y más cielo, cielito de la mañana... Después de los ruiseñores bien puede cantar la rana. Lima anduvo endureciendo entre el temor y el encono, y por ajuste de cuentas D. Laserna largó el mono. Cielito, cielo que sí, bien se lo pronostiqué, pero ya que así lo quiso tenga pacencia el Virrey. Desconfiando de su alzada quitaron a D. Pezuela porque el infeliz tenía medio picada una muela. Cielito, y luego a Laserna le encargaron el gobierno... ¡Ah, mozo para un encargue si no hubiera sido invierno! Juyó con todas las platas y aun alivió los conventos no dejando ni ratones con la juerza del tormento. Cielito, cielo que sí, tome bien la deresera, porque con la pesadumbre no dé en una vizcachera. Con puros mozos de garras San Martín entró triunfante, con jefes, y escribanistas y todos los comendantes. Cielito, cielo que sí, digo cese la pendencia, ya reventó la coyunda, y viva la Independencia.
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Y en cuanto gritaron viva, ya salieron boraciando los libres con las banderas que a la patria consagraron. Cielo, y ya las garabinas y los cajones roncaron, y hasta las campanas viejas allí dejaron el guano. ¡Qué bailes y qué junciones! y aquel beber tan prolijo, que en el rico es alegría y en el pobre pedo fijo. Cielito, cielo que no, por el bravo San Martín no hubo ciego violinista que no rompiese el violín. Cayó Lima: unos decían, ya tronó, gritaban otros ¡oiganlé al matucho viejo qué mal se agarró en el potro! Cielito, digo que sí, todo era humor y alegría, y andaba mandando juerza toda la mujerería. ¿Y qué me dicen, señores, de un tal general Cantera que diz que vino al Callao a llevarse una zoncera? Cielito, digo que sí, cielito de los escesos, este infeliz sucumbió como ratón en los quesos. Como el hambre le apretaba dejó el castillo al instante, y sacó la soldadesca a ver si le daba el aire.
128 Cielito, cielo que sí, cielito de tres por ocho, que se empezó a desgranar lo mesmo que maíz morocho. Más de ochocientos soldados se pasaron de carrera, y en un tris no más estuvo que se viniese Cantera. Cielito, digo que sí, de hambre morir no quisieron, y les encuentro razón porque estarían muy fieros. Viendosé entonces perdidos irse pensó por la costa, y Cockran meniando bala jue matando esta langosta. Cielito, digo que sí, por fin el pobre juyó y el Callao con sus cangallas a San Martín se rindió. Solo el general Ramírez quedó y también Olañeta, pero pronto me parece que entregarán la peseta. Cielito, cielo que sí, cielito del bien que quiero, estos pobres han quedao dando güeltas al potrero. La Patria, sigún mi cuenta, es lo mesmo que el banquero, que por precisión se lleva la plata de enero a enero. Cielito, en este supuesto sepa el amigo Fernando, que mientras él tenga apuntes la Patria sigue tallando. Que los medios que le quedan los va a perder, y muy presto,
129 y él no tiene caracú para coparnos el resto. Cielito, cielo que sí, cielito de los corrales, o han de agachar sin remedio o han de ir a los pajonales. Provincias de Buenos Aires y de Cuyo, valerosas, con triunfo tan singular debéis estar muy gozosas. Cielito, cielo que sí, cielito del fiero Marte, en empresas tan sublimes os tocó la mejor parte. Y con esto honor y gloria a los Sur-Americanos, que supieron con firmeza libertarnos del tirano. Cielito, digo que sí, cielito de la victoria, la Patria y sus dinos hijos vivan siempre en mi memoria. (1821) NUEVO DIÁLOGO PATRIÓTICO ENTRE RAMÓN CONTRERAS, GAUCHO DE LA GUARDIA DEL MONTE, Y CHANO, CAPATAZ DE UNA ESTANCIA EN LAS ISLAS DEL TORDILLO. CHANO ¿Qué dice, amigo Ramón, qué anda haciendo por mi Pago en el zaino parejero ? CONTRERAS Amigo, lo ando variando , porque tiene que correr con el zebruno de Hilario. CHANO
130 ¡Qué me cuenta! Si es ansí voy a poner ocho a cuatro a favor de este bagual , mire amigo que es caballo que en la rompida no más ya se recostó al contrario. CONTRERAS ¿Y cómo jue desde el día que estuvimos platicando? CHANO Con salú; pero sin yerba; desensille su caballo, tienda el apero y descanse. Tomá este pingo , Mariano, y con el bayo amarillo caminá y acollarálo. ¡Mire que de aquí a la Guardia hay un tirón temerario ! CONTRERAS Y con tantos aguaceros está el camino pesao, y malevos que da miedo anda uno no más topando, lo güeno que yo afilé a mi gusto el envenao , le hice con las de domar cuatro preguntas al zaino, y en cuanto lo vi ganoso y que se iba alborotando, le aflojé todo y me vine, pero siempre maliciando... Velay yerba, amigo viejo, iremos cimarroniando . CHANO ¿Y cómo va con la Patria que me tiene con cuidao? Ayer unos oficiales cayeron por lo de Pablo y mientras tomaban mate ,
131 lo asentaron , y mudaron, leyeron unas noticias atento del rey Fernando, que solicita con ansia por medio de diputaos ser aquí reconocido su constitución jurando. CONTRERAS Anda el rumrún hace días, por cierto no lo engañaron: los diputaos vinieron, y desde el barco mandaron toda la papelería a nombre del rey Fernando; ¡y venían roncadores ... la pu... los maturrangos! Pero, amigo, nuestra Junta al grito les largó el guacho y les mandó una respuesta más linda que San Bernardo. ¡Ah gauchos escribinistas en el papel de un cigarro! Viendo ellos que no embocaban, y que los habian torniao, alzaron los contrapesos y dando güeltas al barco, se jueron sin despedirse... Vayan con doscientos diablos. CHANO Mire que es hombre muy rudo el amigo Don Fernando: lo contemplo tan inútil asigún lo he figurao, que creo que ni silbar sabe, como yo soy Chano. De balde dimes la baja a todos sus mandatarios, y por nuestra libertá y sus derechos sagraos nos salimos campo ajuera, y al enemigo topando, el poncho a medio envolver y el alfajor en la mano,
132 con el corazón en Dios y en el santo escapulario de nuestra Virgen del Carmen, haciendo cuerpo de gato; sin reparar en las balas ni en los juertes cañonazos, nos golpiamos en la boca y ya nos entreveramos ; y a éste quiero, a éste no quiero, los juimos arrinconando, y a un grito: ¡Viva la Patria! el coraje redoblamos, y entre tires y humadera, entre reveses y tajos, empezaron a flaquiar, y tan del todo aflojaron, que de esta gran competencia ni memoria nos dejaron. De balde en otras aiciones les dimos contra los cardos: y si no que le pregunten a Posadas el mentao cómo le jue allá en las Piedras, y después allá en los barcos. Diga Tristán... Mas no quiero gastar pólvora en chimangos , porque era Tristán más triste que hombre pobre enamorao. Muesas en la del Cerrito; Marcó flojo y sanguinario en la aición de Chacabuco, Osorio es hombre fortacho allá en los Cerros de Espejo en la pendencia de Maipo. Hable Quimper y ese O'Relly y otros muchos que ahura callo. Todo es de balde, Contreras, pues si conoce Fernando que aunque haga rodar la taba culos no más sigue echando, ¿no es una barbaridá el venir ahura roncando ? Mejor es que duerma poco, porque amigo, a sus vasallos el nombre de Libertá creo que les va agradando, Y como él medio se acueste,
133 cuanto se quede roncando ya le hicieron trus la vaca, y ya me lo capotiaron. CONTRERAS ¡Ah Chano, si de sabido perdiz se hace entre las manos! Cuanto me ha dicho es ansina y yo no puedo negarlo; pero esté usté en el aquel que ellos andan cabuliando a ver si nos desunimos del todo, y en este caso arrancarnos lo que es nuestro y hasta el chiripá limpiarnos. CHANO ¡No toque, amigo, ese punto porque me llevan los diablos! ¿Quién nos mojaría la oreja si uniéramos nuestros brazos? No digo un Rey tan lulingo; rnas ni todos los tiranos juntos, con más soldadesca que hay yeguada en nuestros campos nos habían de hacer roncha; pero amigo, es el trabajo que nuestras desavenencias nos tienen medio atrasaos. ¡Ah sangre, amigo, preciosa tanta que se ha derramao! ¿No es un dolor ver, Contreras, que ya los americanos vivimos en guerra eterna, y que al enemigo dando ratos alegres y güenos los tengamos bien amargos? Pero yo espero desta hecha saludar al Sol de Mayo, en días más lisonjeros, unido con mis hermanos. Y ansí no hay que recular, que ya San Martín el bravo está en las puertas de Lima con puros mozos amargos ,
134 soldadesca corajuda, y sigún me han informao en Lima hay tanto patriota que Pezuela anda orejiando, y en logrando su redota ha de cambiar nuestro Estado, pues renace el patriotismo en el más infeliz rancho . CONTRERAS Si, señor, dejuramente. ¡Ah momento suspirao! Y en cuanto esto se concluya al grito nos descolgamos con latón y garabina a suplicarle un tapao que largue no más lo ajeno, porque es terrible pecao contra el gusto de su dueño usar lo que no se ha dao; y en concencia yo no quiero (porque soy muy güen cristiano) que ninguno se condene por hecho tan temerario. CHANO ¡Eso sí, Ramón Contreras! ¿Se acuerda del fandangazo que vimos en lo de Andújar cuando el general Belgrano hizo sonar los cueritos en Salta a los maturrangos ? Por cierto que en esta aición (sin intención de dañarnos) hizo un barro el general que aún hoy lo estamos pagando; él quiso ser generoso y presto miró su engaño, cuando hizo armas en su contra el juramentao Castro, que quebratando su voto manchó su honor y su grao. Estas generosidades muy lejos nos han tirao, porque el tirano presume
135 que un proceder tan bizarro sólo es falta de justicia; pero esto ya se ha pasao, y no será malo, amigo, si por fin escarmentamos. Por ahura saque el cuchillo, despachemos este asao y sestiaremos después, para ir a lo del Pelao a ver si entre su manada está, amigo, mi picazo, que hace días que este bruto de las mansas se ha apartao. Comieron con gran quietú, y después de haber sestiao ensillaron medio flojo, y se salieron al tranco al rancho de Andrés Bordón, alias el Indio Pelao, que en las pendencias de arriba sirvió de triste soldao, y en Vilcapugio de un tiro una pierna le troncharon. Dieron el grito en el cerco, los perros se alborotaron; Bordón dejó la cocina, los hizo apiar del caballo; y lo que entre ellos pasó lo diremos más despacio en otra ocasión, que en ésta ya la pluma se ha cansao. (1821) CIELITO DE LA INDEPENDENCIA Si de todo lo criado es el cielo lo mejor, el "cielo" ha de ser el baile de los Pueblos de la Unión. Cielo, cielito y más cielo, cielito siempre cantad que la alegría es del cielo, del cielo es la libertad. Hoy una Nación en el mundo se presenta,
136 pues las Provincias Unidas proclaman su Independencia. Cielito, cielo festivo, cielo de la libertad, jurando la Independencia no somos esclavos ya. Los del Río de la Plata cantan con aclamación, su libertad recobrada a esfuerzos de su valor. Cielo, cielito, cantemos, cielo de la amada Patria, que con sus hijos celebra su libertad suspirada. Los constantes argentinos juran hoy con heroísmo, eterna guerra al tirano, guerra eterna al despotismo. Cielo, cielito, cantemos se acabarán nuestras penas, porque ya hemos arrojado los grillos y las cadenas. Jurando la Independencia tenemos obligación, de ser buenos ciudadanos y consolidar la Unión. Cielo, cielito, cantemos, cielito de la unidad, unidos seremos libres, sin unión no hay libertad. Todo fiel americano hace a la Patria traición, si fomenta la discordia y no propende a la Unión. Cielo, cielito, cantemos que en el cielo está la paz, y el que la busque en discordia jamás la podrá encontrar.
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Oprobio eterno al que tenga la depravada intención de que la Patria se vea esclava de otra nación. Cielito, cielo festivo, cielito del entusiasmo, queremos antes morir que volver a ser esclavos. ¡Viva la Patria, patriotas! ¡Viva la Patria y la Unión, viva nuestra independencia, viva la nueva Nación! Cielito, cielo dichoso, cielo del americano, que el cielo hermoso del Sud es cielo más estrellado. El cielito de la Patria hemos de cantar, paisanos, porque cantando el cielito se inflama nuestro entusiasmo. Cielito, cielo y más cielo, cielito del corazón, que el cielo nos da la paz, y el cielo nos da la Unión. (http://www.biblioteca.clarin.com)
138 HILARIO ASCASUBI (1807-1875) nasceu no Uruguai filho de Mariano Ascasubi, andaluz e Loreta de Elía, cordobesa. Segundo Mugica Lainez "estava predestinado a ser um grande andarilho". Dos 12 aos 16 anos havia andado pela América do Norte e Guiana Francesa. Dizem que percorreu França, Portugal, Inglaterra e Valparaíso. Este é o roteiro que canta Hilario na "Prosa entre el imprentero y yo". Em 1824 dirige a imprensa de Salta e edita "La Revista Mensual de Salta", onde mostra espírito agudo e crítico. Se incorpora aos Cazadores comandados pelo general José María Paz e recebe a patente de tenente, toma parte do exército de Lamadrid. Conhece El Tigre de los Llanos (Don Facundo Quiroga), se incorpora e ascende a Capitão. Quando Lavalle se traslada ao Uruguai, Ascasubi publica o diário "El Arriero Argentino". No ano seguinte é levado a Buenos Aires prisioneiro e permanece detido dois anos, quando foge e se aloja em Montevidéu. Instala uma padaria e prospera. Em 1837 se casa com Laureana Villagrán e Oliver. Ajuda o General Lavalle e oferece refúgio aos emigrados de Buenos Aires. A fama de escritor cresce, firmada na tradição dos Cielitos de Hidalgo, lança seu primeiro diálogo entre os gauchos orientais Jacinto Amores e Juan Peñalva, que falam sobre as Festas Cívicas da Constituição Oriental em Montevidéu, celebradas em Julho de 1833. Em 1839 editou o periódico "El gaucho en campaña", que durou quatro números, onde sai o poema El Truquiflor. Sua vida, a atividade cívica, estão refletidos no poema Paulino Lucero, ou Los Gauchos del Río de la Plata, cantando e combatendo contra os tiranos da Argentina e Uruguai (1839/51) editado em 1872. Nele resume o sítio a Montevidéu, de 1843 a 1850. Asc abusi vai ao encontro do General Urquiza, por causa do conflito entre a Capital e a Confederação, como se vê em La Media Caña "La Tartamuda" 1853. Edita o periódico em prosa e verso, Aniceto el Gallo, gazeta joco-tristonha e gaucho-patriótica, humorística e circunstancial, provoca ironias, faz sangrar as feridas das figuras do momento. Em 1854 coopera na instalação do gás em Buenos Aires e de um ramal ferroviário para Magdalena. Insta a Pellegrini e Varela a construção do Teatro Colón, que inaugura com a ópera La Traviata. Ascasubi não comparece porque nesse dia falece sua filha Cristina, o que provoca a dor que o acompanhará até à morte. Escreve seu famoso poema Santos Vega, que renova as recordaçoes da pátria, dos entreveros gauchescos, da lhanura que guarda o melhor, como a reminiscencia dos anos da juventude. De volta a Buenos Aires, adoece e morre no dia 17/11/1875. (http://www.oni.escuelas.edu.ar/)
MARTÍN SAGAYO RECIBIENDO EN EL PALENQUE DE SU CASA A SU AMIGO PAULINO LUCERO. MARTÍN ¡Amigo! De aquella loma
139 que atrás del monte se ve, apenas lo devisé, dije: aquel mozo que asoma se me hace por la presencia ser el paisano Lucero; y felizmente, aparcero, me ha salido... LUCERO A la evidencia: porque como nunca juyo de esta causa en el afán; y como dice un refrán, en un pie a tu tierra, grullo, cuanto el general Urquiza ¡a quien lo conserve Dios! pegó el grito: "Vamonós contra Rosas", a la prisa, como es justa la contienda, por lo justo, al grito yo, decidido, del Cuaró me vine a tirar la rienda frente de Cualeguaychú y al Uruguay me azoté y lueguito me largué, a saber de su salú. ¿Y mi aparcera? MARTÍN Buenaza, siempre mentándolo a usté. Vaya, aparcero, apiesé; ya sabe que está en su casa, y no precisa... LUCERO Al momento: velay refalo el recao y me pongo a su mandao. MARTÍN Adelante: tome asiento.
140 LUCERO Pues, mire, amigo Sayago, yo al venir me presumía que no me conocería al volver por este pago. Pero si usté a la fortuna es igual en la memoria, ya puede hacer vanagloria de conocedor: ¡ahijuna! MARTÍN Lo que yo estoy conociendo es que usté viene templao y, como siempre, alentao. Conque, váyame diciendo: ¿Diadónde sale? LUCERO ¡Chancita! De lejas tierras, cuñao, después de haberme troteao media América enterita. De suerte que de mulita ya nada tengo, ¡qué Cristo! pues con las cosas que he visto en tanto como he andao, de todo estoy enterao y para todo estoy listo. Pero, paisano Martín, yo creiba que su amistá con mi larga ausiencia ya hubiese aflojao al fin. Ya ve que ¡siete años largos sin vernos hemos pasao! ¡Y cómo estoy de arrugao por tantos ratos amargos!... Así, yo hubiera apostao a que me desconocía, y que ni mentas haría de mí. MARTÍN
141 Se había equivocao: y lejos de eso, aparcero, tan presente lo he tenido que lo hubiera distinguido en el mayor entrevero. Digo esto, en la persuasión que usté en la otra tremolina habrá andao de garabina, por supuesto, y de latón; sobre el pingo noche y día peliando al divino ñudo, medio en pelota o desnudo y con la panza vacía. Pero ya por estos pagos, lo mesmo que por su tierra, se anda por concluir la guerra y las matanzas y estragos, bajo la suposición de que no corcoviará Rosas, y se allanará a organizar la nación por el orden federal, que Entre Ríos y Corrientes han proclamado valientes, y han de sostener... ¿qué tal? LUCERO ¡Muy lindo!... pero... veremos; porque ese Rosas, amigo, ¡es tan diablo... pucha, digo! ¡Cuántos males le debemos! Y aunque usté haiga forcejeao en otro tiempo por él, éste no es el tiempo aquél, y se habrá desengañao... MARTÍN ¿Forcejeao, dijo? Se engaña: por un deber he seguido, siempre medio persuadido que Rosas es un lagaña. LUCERO
142 ¿Medio no más, aparcero? ¿O se le hace rana el sapo? ¿A que si se lo destapo se persuade por entero? ¡Es un tigre hasta morir, con unas garras que asusta! Y a ese respeuto, si gusta, le explicaré mi sentir. MARTÍN ¡Pues no!, amigo: desde luego prosiga, y déle por ahi: y arme un cigarro, velay, también voy a darle fuego. LUCERO No... deje estar... ¡Voto a bríos! ¡Maldito sea el rosín! ¡Por Cristo! amigo Martín, he perdido los avios. ¡Ah, bruto! ¡si ha corcoviao hasta cortarme la cincha, y todavía relincha; y mire, se ha revolcao! MARTÍN Tiene laya de buenazo y bellaco... LUCERO Sin piedá, pero de conformidá, que luego es ¡superiorazo! Hoy cuasi me descompuso, porque en pelos me dejó, y ya también se bolió, pero salí, ¡como un huso! MARTÍN ¡Ah, gaucho!... Vení, Ramón; velay, agarrá ese overo,
143 y acollarálo ligero al zaino viejo rabón. ¿No será algún pescuecero su redomón, ño Paulino, que saque por el camino a la rastra a mi aguatero? No le hace: andá y del tirón traite el mate y la caldera; vaya, hijito, y de carrera cebenós un cimarrón. LUCERO Pues, yo crei que usté viviera siempre en la otra población, y hoy al darle el madrugón me encontré con la tapera. Luego me pude informar de su salú y paradero, y en la cruzada al overo se le antojó retozar. MARTÍN ¡Voto alante! En fin ya ve, después de tanto rodar, me he conseguido afirmar siempre en la costa del Clé: donde en otro tiempo, amigo, cuanto rancho he levantao, lueguito me lo han quemao, como si fuera castigo; hasta hoy que, como la rosa, vivo y puedo trabajar con miras de adelantar, si Dios no manda otra cosa. Pues acá de varios modos, siendo los hombres honraos, todos viven sosegaos y ganan su vida todos, mediante la protección que el gobernador Urquiza al pobre que la precisa le presta de corazón. Así, el hombre es bendecido, como bajado del cielo,
144 después de tanto desvelo y atraso que hemos sufrido. LUCERO Que dure es lo menester, y pronto, amigo, verá que esta provincia será feliz como debe ser, porque la naturaleza y Dios mesmo se ha esmerao en darle como le ha dao en su suelo su riqueza. Corriendo la agua a raudales por sus ríos caudalosos, y de ahi sus montes frondosos, sus campos y pastizales. Luego sus puertos y haciendas su trajín y produciones... ¿No valen más estos dones, que ejércitos y contiendas sin término? ¿Y para qué? Para que al fin el tirano llegue a ser el soberano de estos pagos. MARTÍN Riasé del Supremo y de su antojo, pues, para tal pretender, Rosas no debía ser tan ruin, tan malo, y tan flojo; ni debía ese asesino apoyarse en el terror, ni ser tan manotiador como tacaño y mezquino. Así condición ninguna tiene, sino fantasía; pero, ya se allega el día de que se le acabe, ¡ahijuna!... ¡Qué distinto proceder tiene acá el gobernador, a quien el restaurador le debe todo su ser!
145 Usté lo verá, paisano; por supuesto, lo verá, y si ha visto ¡me dirá! hombre más liso y más llano. Y verá con el empeño que proteje al hombre honrao, sin fijarse en lo pasao, ni en si es de Uropa o porteño. Porque su único sistema es perseguir los ladrones, pero que por opiniones ya ningún hombre le tema. También verá el adelanto de nuestra provincia entera, y al cruzar por aonde quiera le parecerá un encanto: Ver la porción de edificios que se alzan en todas partes para proteger las artes y diferentes oficios. Luego en los campos verá las escuelas que sostiene la Patria, en las cuales tiene a hombres de capacidá: Enseñando satisfechos y con esmeros prolijos a que aprendan nuestros hijos a defender sus derechos. Y últimamente, paisano, si hay gobiernos bienhechores, quizá uno de los mejores es el gobierno entrerriano. LUCERO ¡Qué primor! Así debía proceder todo gobierno, veríamos que al infierno iba a parar la anarquía. Pero, desgraciadamente, Rosas es tan envidioso, y tan diablo y revoltoso, que ya pretende al presente largarnos un buscapié
146 para hacernos chamuscar, porque no le ha de agradar esta quietú; creamé. Pues la Libertá y la paz son dos cosas que aborrece, a punto que se estremece de oírlas nombrar nada más. A bien que le he prometido destapárselo enterito, y voy hacerlo lueguito; ¿quiere atender?... MARTÍN Decidido le prometo mi atención: que un hombre de su razón merece ser atendido. LUCERO Pues bien, amigo Sayago, debajo de una amistá oirá con la claridá y la franqueza que lo hago. No hablo como lastimao; menos como correntino: hablaré como argentino, patriota y acreditao, que nunca ha diferenciao a porteños de entrerrianos, ni a Vallistas de puntanos, porque todos para mí, desde este pago a Jujuí, son mis queridos paisanos. Y en el rancho de Paulino puede con toda franqueza disponer de la pobreza cualquier paisano argentino, pues nunca ha sido mezquino, y a gala tiene Lucero, el que cualquier forastero llegue a golpiarle la puerta, siguro de hallarla abierta
147 con agrado verdadero. Sólo aborrezco a un audaz que piensa que la Nación es él solo en conclusión, y su familia, a lo más: y ese malevo tenaz, matador, morao y ruin, que ha promovido un sinfín de guerras calamitosas, no es una rana... ¡ése es Rosas! mesmito, amigo Martín, Que grita ¡federación! y degüello a la unidá, mientras que a su voluntá manotea a la Nación; y en veinte años de tesón que mata y grita audazmente ¡federación! que nos cuente, ¿que provincia ha prosperao o al menos se ha gobernao de por sí federalmente? Ninguna, amigo: al contrario, hoy miran su destrución v que en la Federación Rosas se ha alzao unitario, porque. a lo rey albitrario, desde San José de Flores fusila gobernadores, niñas preñadas y curas, y comete en sus locuras otra máquina de horrores. ¡Vea qué Federación tan gaucha! Y yo le respondo que, aunque soy medio redondo, conozco su explicación, que consiste en mi opinión, en que los pueblos unidos vivan, y no sometidos a tal provincia o caudillo que les atraque cuchillo y los tenga envilecidos... MARTÍN
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¡Ahijuna!... LUCERO No se caliente: deje estar que le relate. MARTÍN Siga, amigo: velay mate; velay también aguardiente. ¡Barajo!... ¡Qué relación! ¡Ah, Rosas, si en este istante te topara por delante! Si hasta me da comezón... LUCERO ¡Viera, aparcero Sayago, por esos pueblos de arriba, como he visto yo cuando iba, redotao por esos pagos! ¡Qué mortandades, qué estragos! ¡Cuánta familia inocente hasta hoy llora amargamente la miseria y viudedá que deben a la crueldá de Rosas únicamente! Luego, el encarnizamiento con que a los hombres persigue, y los rastrea, y los sigue lo mesmo que tigre hambriento. Así es que he visto un sin cuento de infelices desterraos, y hombres que han sido hacendaos rodando en tierras ajenas y viviendo a duras penas pobres y desesperaos. ¡Y así pretende el tirano que el país esté sosegao, habiéndolo desangrao de un modo tan inhumano! Ahora, dígame, paisano, si a usté también lo saquiara,
149 lo persiguiese y rastriara así con un odio eterno, usté, desde el quinto infierno, ¿con Rosas no se estrellara? MARTÍN Siguro, hasta el fin del mundo como a pleito lo seguía, y hasta lo perseguiría de la mar en lo profundo. Y a la prueba me remito en la presente patriarda, yendo a darle una sableada allá en Palermo mesmito. Y siendo tan revoltoso el paisano Juan Manuel, preciso es librarnos de él lo mesmo que de un rabioso; y entre todos sin reposo dejándonos de pelear, lo debemos corretear, que dispare a lo ñandú y se vaya a la gran-pu y nos deje sosegar. LUCERO Y que deje de amolarnos con tanta guerra al botón que arma allá ese baladrón con miras de exterminarnos. Que acá para gobernarnos federal y lindamente, sin hacer matar la gente, pero haciendo prosperar la patria no han de faltar gobiernos como el presente. MARTÍN ¡Ah, gaucho sabio y ladino! si es la cencia consumada, y patriota más que nada; eche un trago, ño Paulino.
150 LUCERO Vaya, amigo, ¡a la salú de sus pagos y los míos, y el gobierno de Entre Ríos que nos ha de dar quietú! ¡Y por la Federación! MARTÍN ¿La gaucha?... LUCERO No: ¡la entrerriana! la linda, la veterana, que hará feliz la Nación, hoy que su proclamación alza el general Urquiza, diciendo: "¡Aquí finaliza todo el poder de un tirano, que el ejército entrerriano, va a reducir a ceniza!" MARTÍN Amigo, ahi tengo un changango que pasa de rigular, y ahora mesmo hemos de armar para esta noche un fandango. Aunque ya no me acordaba que ayer, cuando iba al arroyo, mi Juana Rosa en un hoyo medio se sacó una taba; Y hoy de mañana salió con la Nicasia en las ancas, y en aquellas casas blancas debe estar, presumo yo, haciéndose acomodar la pata que se le ha hinchao: pero así mesino, cunao, esta noche ha de bailar. Y usté templando el changango saquemelé hasta la frisa, a salú de don Urquiza federal lindo y de rango!
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LUCERO Lo haré por él, lo prometo; pues, si antes fui su enernigo, ahora de veras le digo, me ha cautivao el afeto. viendo el empeño completo con que llama a los paisanos para que se den las manos y se dejen de matar; así es que lo han de apreciar todos los americanos. Y así, yo de corazón rendiré la vida a gusto en las filas de don Justo, sosteniendo su opinión de organizar la nación, hoy que el caso se presenta, para ajustarle la cuenta a ese tirano ambicioso, causal de tanto destrozo que nuestra patria lamenta. Y a quien el mesmo Entre Ríos le debe tantos atrasos, por las trabas y embarazos que antes le puso a estos ríos; creyendo en sus desvaríos Juan Manuel que el Paraná era de su propiedá; y cuando le daba gana no entraba ni una chalana. ¡Mire qué barbaridá! Y a todo barco atajaba, sin más razón ni derecho que sacarle hasta el afrecho en tributos que cobraba; de otro modo no largaba a ningún barco jamás y sólo a San Nicolás cuando más podían dir, pues si quería subir los hacía echar atrás.
152 ¡Qué diferencia hoy en día es recostarse a estos puertos, y verlos siempre cubiertos de purita barquería! con tanta banderería y tanta gente platuda que al criollo que Dios lo ayuda se arma rico redepente; lo que antes cuasi la gente andaba medio desnuda. Luego, en ganar amistades, ¿acaso se pierde nada?... ¿Y con gente bien portada que nos trae comodidades, cayendo de esas ciudades de Uropa tantos naciones, a levantar poblaciones en nuestros campos disiertos, que antes estaban cubiertos de tigres y cimarrones? ¿O debemos ahuyentar la gente que habla en la lengua? No, amigo, porque no hay mengua en que vengan a poblar; pues nos pueden enseñar muchas cosas que inoramos de toda laya: ¿a qué andamos con que naides necesita, si hay tanto y tanto mulita entre los que más pintamos? Dicen que "la extranjerada ¡algunos no dicen todos! nos han de comer los codos". ¿Qué nos han de comer? -¡Nada! Podrán comer carne asada, cuando apriendan a enlazar; y no se puede negar que son muy aficionaos a echar un pial, y alentaos si se ofrece a trabajar. Allá en mi pago tenemos un nacioncito bozal, muchacho muy liberal
153 con quien nos entretenemos; y al lazo le conocemos mucha afición de una vez. Y, ni sé qué nación es, pero cuando entre otras cosas le grito: "Pialáme a Rosas". MARTÍN ¡Será el diablo! Pues aquí anda otro carcamancito que contesta a lo chanchito, y a todo dice: "güi, güi", y ayer peló un bisturí de dos cuartas, afilao, y yo que estaba a su lao le dije: "¿Para qué es eso?" y él señalando el pescuezo nombró a Rosas, retobao LUCERO ¡Pero, si es temeridá lo que el hombre es mal querido y putiao y maldecido en todo pago y ciudá! Ya le dije, yo he corrido muchas tierras, y embarcao desde la mar del Callao hasta la Esquina he venido, y en Bolivia he conocido a hombres que no morirán de antojo, y le pegarán al Supremo una sumida, si Dios le presta la vida, al general Ballivián. Éste anda por Chuquisaca, y allá en Lima anda un Castilla, general, que si lo pilla a Rosas le arrima estaca; porque es libertal de a placa ese general limeño; y a todo gaucho abajeño que anda infeliz por allá en cualquier necesidá lo proteje con empeño.
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Así, yo vine prendao de otro general Torrijo. ¡Ah, mozo! un día me dijo, viéndome medio atrasao; "¿Muchacho, sos emigrao?" "Sí, señor", le respondí; "Pues tomá", -y le recebí; y como quien no da nada ahi me largó una gatiada que luego la redetí. Después en Chile, paisano, también me puse las botas, con muchos mozos patriotas que detestan al tirano; y el gobierno es tan humano, que a todos nos compadece, y dice que no merece Buenos Aires esa suerte, en que hoy se mira, y de muerte a Juan Manuel lo aborrece. ¿Y el general Virasoro? ¿Y el ejército que manda? ¡Por Dios! Le asiguro que anda contra Rosas, como un toro; y antes en manos de un Moro caiga ese bruto asesino, que no en las de un correntino. Así, que ande Rosas listo, pues si lo pillan ¡ah, Cristo! ¡Infeliz de su destino! Luego, en colmo de sus males, al Presidente su aliao, ya lo tienen apretao veintidós mil imperiales, todos mozos ternejales que lo han de sacar muriendo, y todos, estoy creyendo como una cosa sigura, que por sacarle una achura a Rosas se andan lambiendo. Y en todo el género humano, no crea, ni le parezca
155 que hay hombre que no aborrezca a Juan Manuel por tirano. ¿Y en el Paraguay, paisanos? ¡Viera a los paraguayitos todavía mamoncitos que apenas andan gatiando, y ya se largan gritando: ¡Ah hijitos! Y además el Presidente es un quiebra, sigún veo, pues le ha pedido rodeo al Héroe del Continente. LUCERO Sí, amigo, muy suavemente al principio lo ha palmeao, y ya lo ha redomoneao, hasta el verano que viene, que puede ser que lo enfrene y lo haga de su recao. MARTÍN ¡Ah, cosa! Dios lo bendiga, y le dé su santa gracia. ¡Che! mire: ahi viene Nicasia con mi china. Pero, diga: ¿se acuerda de Sandoval el payador? LUCERO ¡Cómo no! MARTÍN Un chumbo lo desnucó. LUCERO ¿Dónde?... MARTÍN En la Banda Oriental:
156 donde también por mi mal andando por esa tierra, cuando la maldita guerra en que Rosas nos metió, cuasi, cuasi, quedé yo estirao en una sierra. LUCERO Velay otra guerra, amigo, que hace Rosas al botón, de cuya desolación usté habrá sido testigo. Y ¿qué oriental enemigo tiene Entre Ríos? pregunto. ¿A qué cargas, a qué asunto mandó allá a la paisanada? ¿Sabe a qué, aparcero? A nada; a peliar por él, por junto. Cierto es que Frutos Rivero vino acá la vez pasada, porque allá la entrerrianada a él lo atropelló primero con don Pascual, que altanero se guasquió a Santa Lucía, pues de terne presumía, hasta que en una mañana y que vuelva, ¡y qué volvía! Y de ahi, Rosas se ha propuesto destruir la Banda Oriental que no le ha hecho ningún mal, ¡mire si es hombre funesto! Y no alega otro pretexto que mudarle presidente. ¿Qué le importa que Vicente, o Pedro, o Juan o Tadeo gobierne en Montevideo? ¿No digo bien? MARTÍN Mesmamente. LUCERO
157 Pues ya ve a los orientales matándose con horror, lo que es, amigo, un dolor, ¡porque son tan liberales! Y hay mozos tan racionales entre uno y otro partido, que si ya no se han unido no es por rencor, creamé, es solamente porqué ahi anda Rosas metido. Lo que antes, los orientales se daban cuatro sabliadas, y al tiro de camaradas quedaban todos iguales; mas hoy, con los federales que Rosas les ha injertao tan fiero los ha trenzao, que algunos ya lo coligen, y Dios permita y la Virgen que le hagan el cuerpo a un lao. Dios lo permita, repito, que se abracen como hermanos; porque, sin ser mis paisanos los apreceo infinito; pues ya sabe, aparcerito, que yo me crie por allá, y así es con temeridá lo que esa gente me agrada, y esas hembras más que nada, porque son una deidá. MARTÍN ¡Oiganle al cantor Lucero cómo se explica y se amaña! Pues bien, una media caña conciérteme, compañero. Toda de amor enterita, que se alborote el hembraje con las coplas, y le faje hasta la madrugadita. LUCERO Media caña y cielo junto,
158 será más lindo, aparcero, y que yo duerma primero, porque... ya me siento en punto... MARTÍN Echesé, aunque Juana Rosa venía y se ha entretenido, y si lo pilla dormido quizá se muestre quejosa. Pero ya que está templao, no hay que hacer caso, echesé, que yo lo dispertaré con un buen cordero asao... Aunque, amigo, la patrona lo ha querer agradar: dejemé, voy a carniar con cuero una vaquillona. ............ Y ya enderezó Martín rumbiando para el rodeo y Paulino a su deseo, hizo estas coplas por fin. RELACIÓN QUE DEL EMBARQUE, DEL VIAJE Y DEL FIN TRÁGICO DE LA ARROYERA LE FUE REMITIDO DESDE EL CAMPAMENTO DE ORIBE AL GACETERO JACINTO CIELO, POR SU AMIGO ANASTASIO EL CHILENO, EL CUAL ANDABA DE BOMBERO DE LOS PATRIOTAS ENTRE LOS SITIADORES DE MONTEVIDEO PRIMERA PARTE La Isidora regordeta se va a embarcar al Buseo: ¡vieran con qué zarandeo va arrastrando una chancleta! Que lleva un pie desocao de resultas de un fandango, en que le rompió el changango en la cabeza a un soldao; Y en esa noche con Brun bailando la refalosa, anduvo poco mañosa queriendo hacerle el betún.
159 Sabrán que esta moza al fin, no es porteña, es arroyera, pitadora y guitarrera y cantora del Tin tin. Que vino de la otra banda junto con los invasores, y que sabe hacer primores por todas partes donde anda; Y que hace mucho papel como güeña federala, pues se refriega en su sala con la hija de Juan Manuel. En fin, dicen que esta dama del Miguelete se aleja, y a mis paisanas les deja los recuerdos de su fama. También dicen de que al borde ha estado de perecer, y se quiere reponer porque ha perdido el engorde Pues no le asientan los pastos, y luego con la escasez que hay por ajuera, esta vez se ha fundido en hacer gastos. Así es que bien trasijada se retira la infeliz, echando por la nariz como suero de cuajada. Un ojo le lagrimea, del aire, dice Garvizo; que para él es un hechizo otro que le centellea. El Andaluz se hace almiba por agradar a Isidora, que es muchacha seguidora y nunca se muestra esquiva. Así es que a la despedida la acompaña una patrulla,
160 marchando sir, hacer bulla come gente dolorida. Pero la Isidora marcha sin demostrar sentimiento, con un semblante contento y más fresca que la escarcha. Lleva el rebozo terciao, airoso, a lo mazorquera, y en la frente de testera luce un moño colorao. Marcha con aire gitano, y una mano en la cadera, que sacude sandunguera con un garbo soberano. Para lucir los encajes, viste a media pantorilla un vestido de lanilla colorao y sin follajes. Ella no gasta bolsita como gasta una pueblera; pero carga una jueguera y también su barajita. Todo el cortejo se empeña en complacerla al partir, pero ella se quiere dir y a todo bicho desdeña. Casi se cai de barriga el cirujano, en mala hora se le clavó a la Isidora el cuchillo de la liga... Que lo levanta el galán trompezando, y cariñoso se lo presenta gustoso a la prenda de su afán. La Isidora lo recibe, y exclama: - ¡Cristo me valga! antes perdiera una nalga que no esta prenda de Oribe.
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Con la cual he de volver y a todas las unitarias, de balde han de ser plegarias, yo las he de componer. ¿Ha visto, dotor tuertero, estas zonzas de orientalas, que a todas las federalas nos tratan como a carnero? Esas mesmas que ahi están faroliando en el Cerrito, y haciéndole asco al moñito, no sé lo que pensarán. Pues mire, ¡a fe de Isidora, me voy con sangre en el ojo! y, he de volver por antojo con mi comadre Melchora; Y a toda la que se piensa que me ha de andar con diretes, le he de cruzar los cachetes y le he de cortar la trenza. ¡Moño grande! que se vea, se han de poner a la juerza: y a la que medio se tuerza se lo he de pegar con brea. ¡Caray! si me da una rabia el ver que a mí ¡a la Isidora! quieran ganarle a señora porque tienen mejor labia. ¡Y porque gastan corsé, y gorras a la francesa, ni levantan la cabeza a saludar! -Ya se ve... Aun no están acostumbradas a la mazorca y tin tin, pero de todas, al fin, me he de reír a carcajadas. Deje nomás que entre Oribe
162 y tome a Montevideo, que hemos de tener bureo como Rosas me lo escribe. Conque ansina, dotorcito, a todas digamelés, que he de volver otra vez, ¡que me anden con cuidadito! ................... En esta conversación hasta la playa llegaron, y en el momento mandaron los rosines un lanchón. Era preciso llevarla cargada para embarcarse, por no dejarla mojarse, que eso podía resfriarla. Entonces de la cadera se la prendió el Andaluz, y ella le gritó: ¡Jesús! ¡No me ruempa la pollera! Con todo se la echó al hombro, y hasta el lanchón la llevó; y al dejarla suspiró el tal Garvizo, ¡qué asombro! Conque ansina desde ahora es bueno que se prevengan, y las orientalas tengan ¡cuidado con la Isidora! SEGUNDA PARTE Por un duende que ha venido y que estuvo en lo de Rosas, ésta y otras muchas cosas diz que Anastasio ha sabido; Porque me escribe el Chileno, con respeuto a la Isidora, de que tuvo la señora un viaje pronto y muy güeno; Pues la tarde del embarque
163 alzó moño la Palmar, y a Güenos Aires fue a dar con la Arroyera y su charque. Y con viento rigular amaneció la Boleta, frente de la Recoleta aonde empezó a sujetar. Por supuesto, en la cruzada, la muchacha se almareó, y cuasi, cuasi largó la panza y la riñonada. Pero le dieron giniebra que cura la indigestión; y diz que sopló el porrón, y se lo limpió de una hebra. Luego le ofrecieron té; pero ella dijo: -No quiero ningún remedio extranjero, como no sea el culé... O mate de manzanilla junto con flor de mosqueta, que cuando estoy indigesta ¡me asienta a la maravilla! Quién sabe al fin si tomó a bordo esa medicina; pero luego en la cocina de golpe se amejoró: Comiéndose allí una tripa que le brindó el cocinero, con más de medio carnero y de galleta una tipa. Últimamente llegaron hasta dentro con el barco, y en lo más hondo del charco a soga larga lo ataron. Y al echar un bote al río le dijeron a Isidora: Venga a embarcarse, señora, con su petaca y su avío.
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Mesmamente la embarcaron en la culata del bote, y más ligero que al trote hasta la orilla llegaron. De allí la montó a babucha un marinero fornido, que llegó a tierra rendido y soltó a la camilucha: Cuando llegó un adecán flauchoncito y muy viejazo, que al soltarle ella un abrazo, le dijo: ¡Che, Corbalán! ¿Cómo estás? ¿Y Juan Manuel? ¿siempre con salú? contáme, o más bien acompañáme, voy a platicar con él. ¡Isidora de mi vida! díjole el viejo moquiando; ¡pues no! vamos disparando y que sea bien venida. Y ya también la sacó de bracete acollarada; que salió medio trabada desde el punto en que partió. ¡Qué de noticias traerás -le dijo- de esos parajes! Y ¿se aguantan los salvajes Rivera y el manco Paz? Nada te puedo contar ahora, dijo la Arroyera, pues se me anda la vedera y ya me voy por echar. Apuráte por favor: vamos ligero, viejito, y lleguemos, hermanito, a lo del Restaurador. Llegó la yunta, y adentro,
165 en la puerta de la sala ya tuvo la federala su primer feliz encuentro. Pues salió la Manuelita, y en cuanto la divisó; luego vino y se abrazó de firme con su amiguita, Queriéndola comer con los besos que le dio, hasta que le preguntó: -¿De dónde salís, mujer? ¡Mirá que sos una ingrata! pues ni de mí te acordás queriéndote mucho más que lo que me quiere tata. -Salí, porteña pintora, federala zalamera; que si yo no te quisiera, velay, ¡dijo la Isidora!... No te trujera esta lonja que le he sacao a un francés, para vos, ahi la tenés: esto es querer, no lisonja. Ansí es que me acuerdo yo, tomá, y dejáte de quejas; juntalá con las orejas que Oribe te regaló. -Ya no las tengo, hermanita, le respondió la pichona pues como eran cosa mona se las regalé a tatita. Ahora mesmo las verás en su cuarto, adonde tiene todo lo que lo entretiene: vení, mujer, te reirás. Entonces se despidió Corbalán de Isidorita: que a un tirón de Manuelita
166 para el cuarto cabrestió. Se colaron, ¡Virgen Santa! en ese cuarto que espanta de pensar que vive en él el tirano Juan Manuel, restaurador de las leyes, entre jeringas y fuelles, puñales, vergas, limetas, armas, serruchos, gacetas, bolas, lazos maniadores y otra porción de primores; pues lo primero que vió Isidora en cuanto entró, fue un cartel, con grandes letras sobre él, y una manea colgada de una lonja bien granada: y el letrero decía así: "¡Esta es del cuero del traidor Berón de Astrada! lonja que le fue sacada por unitario salvaje, en el paraje del Pago Largo afamado, donde fue descuartizado!" -Con razón: por malvao y salvajón, dijo la recién venida. Y en seguida, miró encima de una mesa, y entre un nicho, una cabeza cortada, y con la lengua apretada mordida, y la vista ennegrecida y con rastros de llorosa. Al pie tenía una losa escrita, y decía así: " Zelarrayán Los salvajes temblarán cuando se acuerden de ti". ¿Pues no? la Arroyera dijo: y vio
167 ahi nomás, en seguidita, colgada en una estaquita una cola o cabellera: y al preguntar de quién era pudo ver sobre un papel esta letra: "¡De Marciel! Esta es la barba y bigote, que con lonja del cogote le manda al Restaurador: Oribe, su servidor". - ¡Qué bonito, dijo Isidora, el versito! Y agarró un puñal, que reparó en diez o doce que había, que sobre el cabo tenía en la chapa este letrero: "Yo soy el verdadero recuerdo en homenaje del infame salvaje Manuel Vicente Maza. Si salgo de esta casa, ¡tiemble algún Presidente que no sea obediente, y, altanero se oponga, cuando Rosas disponga!". -¡Qué receta para Oribe, dijo Isidora, que vive sirviéndole a Juan Manuel, y queriendo hacer papel de Presidente legal, cuando en la Banda Oriental tan sólo el restaurador debe ser amo y señor, aunque el diablo se sacuda las orejas!... ¡Ah, mujer! hacéme al momento ver las de Borda: ¿dónde están? ¿Qué sequitas no estarán? Entonces la Manuelita las sacó de una cajita, y cuando se las mostró,
168 la gaucha las escupió, y pensó hacer otras cosas: pero en esto dentró Rosas en camisa y calzoncillos golpiándose los tobillos, con la cabeza amarrada, una cara endemoniada, y en la cintura una verga. Tendió en el suelo una jerga, puso al lado una botella, y se acostó cerca de ella sin soltar una expresión... y cuál fue la confusión de Isidora y Manuelita al sentir que su tatita redepente dio un bramido como tigre enfurecido, y echando espuma se alzó, y estas palabras soltó: "¡En la Horqueta del Rosario! ¡Flores, salvaje unitario! ¡Núñez, salvaje traidor!... Entonces le dio un temblor, y rechinando los dientes, y con gestos diferentes: "¡Asesina!" le gritó a Isidora; y la mandó degollar con sus soldaos, que acudieron asustaos. Cayó entonces desmayada la Arroyera, y arrastrada fue por dos indios; y al rato degollada como un pato. Cuando la iban a matar, Manuela se echó a llorar a los pies de Juan Manuel, suplicándole, pero él dijo: "¡Muera la ovejona! pues, si no, sale y pregona, que ya tengo convulsiones, de ver que los salvajones, se lo limpian a Alderete; y después, que lo sujete
169 el demonio al Pardejón, que viene, y en un cañón de taco me hace meter, y ahí nomás lo hace prender; cosa que en cuanto reviente ¡a los infiernos me avente donde con vergas y fuelles vaya a restaurar las leyes!... Luego pidió una botella de bebida, y se arrimó a Isidora; la miró, y de ahí se sentó sobre ella. ¡Fría estaba y desangrada! Pero Rosas, con todo eso, se agachó, le pegó un beso, y largó una carcajada. Luego acabó de beber muy ufano, y se paró, y a los indios les gritó: "Saquen de aquí esta mujer; llevenlá a la sepultura; vamos, prontito, al instante, y que venga y la levante el carro de la basura". Ansí la triste Arroyera un fin funesto ha tenido, sin valerle el haber sido federala y mazorquera. LA ENCUHETADA Hoy hará una trasnochada apretando el imprentero, y allá al rayar el lucero piensa acabar mi versada. Siendo ansí, a la madrugada le echaré en la población; pero antes hago intención (se lo alvierto por si acaso) de ir a pegarle un albazo llevándosela, patrón.
170 Por ahora voy a largar solamente el primer trozo, y hay otro más cosquilloso, que después le he de atracar hasta hacerlo corcoviar a ese conde Palmetón; y le asiguro, patrón, que no desprecio a otro inglés, más que a ese maula, y después a otro de un zaíno rabón. Conque, va sabe, temprano, mañana al venir el día, me cuelo en la imprentería de Hernández el Valenciano, y me agarro mano a mano a cimarroniar con él: y en cuanto acabe el papel dándomelo, de ahi mesmito, me guasquiaré, patroncito, a su casa de tropel. Verá, señor, con qué esmero ha pintao la estampería, que le ha hecho a mi versería Musiú Lebas, el santero. ¡Ah, francés, lindo!, ansí quiero pagarle muy rigular; y ansí tienen que alumbrar los que pretiendan libritos, con diez y ocho vintencitos al tiro y sin culanchear. Su amigo, Luciano Callejas. ADVERTENCIA A LOS UROPEOS COSQUILLOSOS Van tres gauchos liberales a quejarse, con razón, de una floja y ruin aición de dos gobiernos desleales. Siendo gauchos, como tales, se explicarán sin rodeos, sin que dentre en sus deseos ni un remoto pensamiento de hacer en el fundamento
171 agravio a los uropeos. DEDICATORIA Señor conde Palmetón: a usté por lo bien portao, y el haberse acreditao ¡tan lindo en su Intervinción! Callejas, de refilón, a nombre de la gauchada, le dedica esta enflautada celebrando entre otras cosas, ¡que en ancas le largue Rosas por el Harpy una ensilgada! ¿Sabe lo que es ensilgada? Es una vaina, patrón, sin grano, y ¡con su perdón¿ que jiede a bosta quemada: medio aceitosa, y buscada en los pagos del Tandil y propia para el candil de cualesquier baladrón; conque, atráquele, patrón, esa mecha a Mistre Pil. SORPRESA DEL GAUCHO MORALES AL RECIBIR A SU AMIGO OLIVERA EN SU RANCHO JUNTO A LAS TRINCHERAS DE MONTEVIDEO. MARCELO ¡Cristo!... ¿Si será verdá lo que dudo en la ocasión?. Cabal... no es una ilusión... que es él mesmo... ¡voto-va! lleguesé, amigo Olivera: ¿Diaónde sale? ¿Qué anda haciendo? OLIVERA ¡Tristemente consumiendo la vida, hasta que Dios quiera! Así caigo a su presencia dichosamente, aparcero,
172 pues acá soy forastero sin la menor conocencia. MARCELO Debe serlo, me hago el cargo, como que de Maldonao presumo que habrá llegao, y, habrá padecido largo... OLIVERA ¡Largo y fiero!... mesmamente: y toda laya de penas, tanto mías como ajenas, que es mejor que ni las mente porque el corazón, lueguito que dentro a considerar, se me oprime de pensar y se me hace chiquitito. MARCELO ¡Infeliz viejo Olivera! ¡lagrimiando!... sientesé; aunque no tengo, ya ve, ni un triste tronco siquiera. Ansí, amigaso, en el suelo crucesé sobre este ijar, a bien que no ha de extrañar... OLIVERA ¡Qué he de extrañar, ño Marcelo! después que me han baquetiao, ocho años de sacrificios tan crudos, que hasta los vicios ¡sin sentir he olvidao! MARCELO Dejuradamente lo creo: porque yo en el mesmo caso de infelicidá y atraso con la familia me veo.
173 Ahora mesmo mi Pilar cogió y fue desesperada a vender una frezada, ganosa de yerbatiar. OLIVERA ¿Conque, Dios se la conserva alentada?... MARCELO Y trajinista, mientras la salú le asista: ya verá como trai yerba, y tabaco y aguardiente, y en ancas puede que traiga la frezada, sin que la haiga ni empeñao siquieramente. Por lo tanto, a prevención voy a mandar hacer fuego, cosa que, en llegando, luego tomemos un cimarrón... Con su licencia... ¡Agapito: vení, llená la caldera!... AGAPITO ¡La bendición, ño Oliveral OLIVERA ¡Que Dios te haga un santo, hijito! ¡Temeridá que ha crecido el muchacho!... y memorista: en cuanto me echó la vista al golpe me ha conocido. Vení, largáme un abrazo, rubio amargo... ¿cómo estás? Y decíme... ¿te acordás de tu potrillo picazo?... AGAPITO ¿Cuál?... ¿Aquel bellaco viejo?
174 Me lo ajeniaron cuantuá en las puntas de Aceguá junto con otro azulejo. Que yo le puse collera y se lo prendí al picazo, porque como era malazo presumí que se me juera. Y ni bien se aquerenció cuando cierta madrugada, con la yunta y la manada una partida se arrío. MARCELO Vaya un recuerdo prolijo del tiempo de don Echagua pero de calentar agua, ¿a que no te acordás, hijo? Aunque... alvierto a ño Severo ganoso de hablar con vos; así, quédense los dos, que voy y vuelvo ligero. OLIVERA Bueno, paisano... ¿Conque, Agapito, ahora andarás como andamos, a cual más atrasao, pobre y a pie? AGAPITO Pobre, a veces suelo andar, y ansí mesmo siempre yo me amaño, creameló, y agenceo qué ensillar. Luego verá, ño Severo, un potrillo pangaré, lindo, que le trajiné a un inglés, que fue chasquero: Y salía cola alzada ajuera continuamente,
175 y de ahi volvía caliente a presumir en la Aguada: Aonde se apea y se cuela atrás de cualquier muchacha, a pesar que tiene facha de más zonzo que su agüela... OLIVERA ¡La del inglés, Agapito!... ¡barajo!... no te turbés... AGAPITO ¿Cuál quiere que sea, pues? La del bisquete mesmito: ese maula que cruzaba lo mesmo que autoridá, del Cerrito a la Ciudá, y aquí nos menospreciaba... Tanto, que a mí en la avanzada, porque le pedí un cigarro, si no ando vivo, en el barro me arronja de una pechada. ¡Ahijuna!... y se la juré. Ansí un día que salió de manabita y volvió trayendo el tal pangaré, Dije entre mí... "si te pillo hoy en pedo lo verás, matucho, si te me vas golpio y sin el potrillo!" OLIVERA ¡La Purísima, el muchacho, que es propio para un descuido! Me alegra que haigás salido alentao y vivaracho. Proseguí, no te parés, que recién me va gustando. AGAPITO
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Pues, como le iba contando, resolví dende esa vez no darle alce ni cuartel, y sobre el rastro ahí no más largármele por atrás, ¡y que se me iba el infiel! Advierta, señó Severo, que dende que lo seguí, y aun antes, ya conocí que el pingo era pajarero. De suerte que en cuanto entró en el pueblo esa mañana, le dio al potrillo la gana de espantarse, y se tendió; Y ya por el costillar lo echó al hombre de cabeza, y en colmo de la maleza medio lo empezó a arrastrar. Porque al cair, en la estribera de una pata lo enredó, fortuna que reventó el ojal de la arcionera. Entonces echó el caballo a disparar como flecha por esa calle derecha del Veinticinco de Mayo. Y yo atrás dél me largué, hasta que allá entre las tiendas se enredó fiero en las riendas, se sofrenó y lo agarré. SEVERO Mira el diablo ...¡de manera que en cuanto lo asiguraste, de ahí mesmo ya enderezaste a media rienda hasta juera! AGAPITO
177 Al contrario, le aflojé la cincha, y bajo la silla el tronco de una costilla de punta le acomode. Luego le cinché flojito, dejando el cuhete tapao, y el pingo, por de contao, comenzó a lomiar lueguito. Últimamente, tirando volví a trairselo al inglés, al cual lo encontré otra vez aliento y renegando. Y después que le arreglé el estribo como pude, dije entre mí: ¡Dios te ayude!... y el potrillo le arrimé. Conque, patrón... ¿cómo se halla? le pregunté medio en broma; y él me contestó en su aidioma: "¡Marchi diabli la caballa!" Y al verlo en disposición de montar, cuasi me río; porque... cuándo... ¡Cristo mío, se aguantaba el chapetón! Mesmamente la acerté. El hombre apenas montó, y ni bien se acomodó, ¡la gran... punta el pangaré! Cuando le asentó la nalga a la inglesa, y con el peso le hizo tomar gusto al güeso, se encogió, y ¡Cristo le valga! Conoció al jinete tierno, y al pingo se le hizo robo aliviarse, y de un corcovo echó la carga al infierno... OLIVERA
178 ¡Oiganlé al matucho inglés! ¡Cómo aflojó de un tirón... y tan altivos que son en sus barcos!... y ¿después? AGAPITO Hasta frente a un conventillo que le llaman de Pozolo, siguió guasquiándose solo y corcoviando el potrillo: Tanto, que al fin se quedó en pelos completamente, y como era consiguiente entonces se sosegó. Ahi mesmito lo agarré; y... "¡ahora sí, lo verás, laucha, si has de pelar esta chaucha!" le dije, y me le senté. Y dende allí cachetiando y meniándole talón, me fui a golpiar del tirón a la Aguada disparando. Y como hasta hoy en el pago ni el inglés me lo ha cobrao, que lo habrá descogotao es la cuenta que yo me hago. Conque ansí, señó Olivera, supuesto que se halla a pie, disponga del pangaré como guste y cuando quiera... MARCELO Pero, hijito, ¿todavía estás meniándole taba? ¿Y usté soltando la baba, aparcero? ¡Virgen mía! OLIVERA ¡Voto alante, ño Marcelo!
179 por su tardanza ha perdido de oir cómo me ha divertido su Agapito, que es un cielo, y gaucho crudo y a macho. MARCELO Y prosista más que todo; si no, repare del modo con que a mí me largó el guacho de hacer fuego y calentar la agua que yo le mandé. ¡Ah, diablito!... pero... che, ¡velay, acá está Pilar!... PILAR ¡Aparcero ño Olivera, gracias a Dios que lo veo! ¿y ña Petrona, y Mateo?... OLIVERA A su mandao, aparcera. MARCELO ¡María Santísima! Amigo, perdone si he olvidao el haberle preguntao por su mujer... pucha digo. OLIVERA Recién se acaba de apiar, y ya quería venir; pero no puede salir hasta medio pelechar. PILAR ¡Por vida!... y ¿cómo les ha ido en tanto apuro o redota? OLIVERA ¡Hágase cargo!... en pelota,
180 y en montón hemos venido. Pues mandaron embarcar de un modo tan redepente, que fue rejuntar la gente, y al momento de mandar, como aguacero a la costa la botería acudió, y el criollaje ahí se juntó como manga de langosta. De ahí empezaron a echar viajes al barco a menudo, y en el bordo como pudo nos hizo desparramar... Del pértigo a la culata de un barcazo roncador, ñato viejo y rodador a impulsos de una fogata: Cosquilloso a una ruedita que de atrás un marinero se le prendió a lo carnero, como haciéndole colita. Pero, paisana... ¡qué cosa de barco tan maquinal! y grandote el animal de una manera asombrosa. Oiga, le relataré la laya de barco que era, que no es fácil, aparcera; pero, en fin, me amañaré. Era un barco... ¡tamañazo! de madera de mi flor, y tendría de largor como dos tiros de lazo. En la barriga tenía un pozo, donde se apiaba la gente que trajinaba en pura carbonería.
181 Arriba los comendantes rodeaos de la oficialada, y mucha marinerada, con sombreros relumbrantes, Abajo había cuarteles y corrales y galpones; y encima grandes cañones con rondanas y cordeles. Y un cañuto ¡temerario! enterrao yo no sé cómo en lo más ancho del lomo, y más allá un campanario. Y luego en cada costao una rueda con aletas, que no he visto ni en carretas de esa laya de rodao. Viese, aparcera, al montar, ¡qué julepe y qué jabón nos pegó una quemazón que abajo entró a reventar!... Y ver salir apuraos como avestruces corridos... los hombres, que a unos chiflidos subían todos tiznaos. Yo me empecé a refalar el poncho para aliviarme, y estuve por azotarme, como carpincho, a la mar. Pero supe que de intento prendían abajo el fuego, y vi a un oficial que luego se puso a vichar atento. Y en cuanto por el cañuto vido salir la humadera, le aflojaron, aparcera, y echó a correr ese bruto. A dos laos, y relinchando, campo ajuera salió al mar,
182 aonde empezó a bellaquiar: y ya nos juimos echando. Luego nomás, en tendales quedó todito el hembraje, y atrasito entró el machaje a rodar como costales. Al momento una fatiga y un asco tal nos entró, que a todos nos revolvió tan de-una-vez la barriga... Que con los ojos saltaos, haciendo juerza bramaban los criollos, y gomitaban quedando despatarraos. Y sin poder aguantar a semejante alboroto, hasta el último poroto nos hizo desembuchar. Ansí he cruzao el camino con todito ese trabajo, y he venido cuesta abajo a entregármele al destino. MARCELO ¿Ha visto cuán rigoroso el nuestro nos ha salido, que a todos nos ha sumido en un abismo espantoso? ¿Y cuánta sangre y estrago aun devora nuestra tierra? sin terminarse esta guerra, porque hay hombres... PILAR Eche un trago; y arme, aparcero: velay papel, tabaco y facón, pues alvierto en la ocasión que usté ni cuchillo trai.
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OLIVERA Cabal, paisana: ni quiero negarle que traigo apenas muy poca sangre en las venas, y ojales por todo el cuero. MARCELO ¿Y cuándo, amigo, al remate, de esta custión llegaremos? ¡Por Cristo! que ya debemos tener juicio y... AGAPITO Velay mate. MARCELO ¿Será posible que siendo tan poquitos los paisanos, como fieras entre hermanos nos sigamos destruyendo? Usté que tiene experencia profunda, y conocimiento, y en cada razonamiento el poder de una sentencia, Diga, si por desventura nos ha condenao el cielo a tener el desconsuelo de cair a la sepultura. Sin que logremos jamás bendecir a cualesquiera que a nuestros hijos siquiera les ponga su tierra en paz... OLIVERA Sí, amigo: no desespere de que esta calamidá puede terminarse ya si la Virgen y Dios quiere.
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Pues ya sabe que en la vida no hay cosa que no termine, por más que el hombre imagine de que no tiene medida. MARCELO Con todo eso, van ocho años de ruina que hemos tenido; ¡y en la guerra hemos sufrido tan amargos desengaños!... De ambición en los de acá hasta asigurar el mono, y a lo último de abandono y perfidia en los de allá... ¿No ha visto de Ingalaterra y de Francia lo que han hecho con nosotros, que hasta el pecho nos han metido en la guerra? Haciendo al principio roncha con tanta alianza y promesa, y a lo último con vileza juir y meterse en la concha... Queriéndonos entregar después de sacrificaos por esos mesmos aliaos que nos han hecho matar ¡Malditos sean... ahijuna, ciertos monarcas del mundo, a quienes odio profundo les juro y piedá ninguna! Y de corazón, quisiera que cierto rey reculao algún día ande arrumbao y con las tripas de juera. Pues, si algún criollo no sale a sacarnos de este infierno, será nuestro mal eterno, ¡y cairse muerto más vale!
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OLIVERA Dejuro, tiene razón de quejarse y renegar; pues a eso ha dado lugar la ruinosa entrivención: Que la figura más ñata con fantástico poder, es lo que ha venido hacer en el Río de la Plata. Ansí es, paisano Marcelo, que me alegro de que Rosas a esas potencias famosas hoy las humille hasta el suelo. Sin que ninguno le ladre de esos diablos coronaos, que de miedo y sobajeaos lo están haciendo compadre: Y le quitan el bocleo como diciendo: "nos vamos, y velay que te entregarnos por junto a Montevideo". Aonde nos echan bravatas a nosotros, pero a aquél, al tirano Juan Manuel lo saludan con fragatas. En fin, usté me ha templao, y malo es que me caliente; pero... déme el aguardiente, y luego me oirá, cuñao. MARCELO ¡Ah, viejo terne!... de balde lo traquea la vejez, se conserva cada vez con más letras que un alcalde. Sí, amigo: me ha de gustar oirlo a usté, y oir a Callejas;
186 casualmente hacen parejas en el modo de pensar. OLIVERA ¿Conque, mi amigo Luciano, también anda por acá? me alegro. Y ¿cómo le va? MARCELO Rigularmente, paisano. Hoy ha venido un ganao que lo están desembarcando, y allí lo dejé enlazando por seis pesos y un asao. Y ahí mestizo me asiguró que viene a hacer medio día conmigo, y que me trairía vino duro, ¡y qué sé yo! De suerte que comeremos; y luego con mi patrona a traer a será Petrona al cuartel nos largaremos. Pero... ¿usté está cabeciando? Mal dormido.. ya se ve... OLIVERA Es verdá... MARCELO ... Pues echesé vaya medio dormitando. Y... andá, Pilar, por favor, mientras duerme ño Severo, ve si te empriesta el pulpero un vaso y el asador. Y en cuanto llegue Luciano, la venida de Olivera celebraremos siquiera
187 con un pedo soberano. Ansí, aprontáte, mujer, como para cocinar; que yo voy a trajinar más leña, que es menester. Vos, Agapito, por la olla andá al muelle, ya sabés... AGAPITO ¿Y si me topa el inglés? PILAR Sumíle, hijito, la bolla. AGAPITO Entonces, por si lo pillo, y me atropella Balija para irme más a la fija voy a llevar mi cuchillo. Pues, si me atraviesa el zaino en que ahora anda, y con la tranca me ataja, y volea la anca ahi mesmo le desenvaino... MARCELO Salí... maula... farolero: si te ronca, ¿qué has de hacer? AGAPITO Nadita... aunque... puede ser ¡que le haga sonar el cuero!
188 VITALÍCIO ULLOA (1929) - Com o advento da internet finalmente conseguimos desvendar algo do poeta popular chileno que deu origem ao artigo publicado n’O Galo. Trata-se de Don Pedro Agustín Alonzo Retamal, poeta e escritor, cultor de duas linhas da escritura: Poesia Popular e narrativas de suas experiências pessoais. Destacado poeta popular da Comuna de las Cruces, de trajetória nacional, costuma apresentarse com o pseudônimo de Vitalício Ulloa, fazendo-o sempre com os versos mais chamativos possíveis. Pedro Agustín Alonzo Retamal, nasceu em Puerto Saavedra (Chile), em 28/08/1929. É professor diplomado pela Escola Normal Rural de Victoria e professor de História e Geografia, formado no Instituto Pedagógico da Universidade Técnica Federal. Desde cedo o ofício de escritor chega à vida de Pedro Alonzo. Presidiu grupos literários em Temuco, Algol e San Fernando. Ganhou prêmios em Poesia e Pintura. Em 1987 se radicou em Las Cruces, onde começou a publicar La Lira Popular, com a colaboração Municipal. Participa de vários “Encuentros de Payadores”. Pedro Alonzo, com modéstia natural, o caráter campechano, um estilo direto, franco, de maneiras afáveis, tem cativado a todos que têm o privilégio de conhecê-lo. É também autor de publicações sobre poesia popular, além de fazer circular o periódico La Lira Popular, folheto que conta histórias em versos octossílabos e que já tem mais de trezentos números publicados. Eis como o poeta se apresenta: “Aquí llegó Vitalicio Siempre buscando rivales No de esos tales por cuales Sino cantores de oficio. Pá mi nunca ha sido vicio Este de contra puntear Y si me quieren probar Pues afine su instrumento Yo estoy listo en el momento Para salirle a payar. “Al poeta popular Le dedico esta razón Con mi mejor intención Pues no le debo fallar. Es cuanto puedo entregar De mi siembra lo granado Pues no olvidé lo pactado Y fui fiel al proceder; Entrego este suceder Como el más justo legado. Publicações de Vitalício Ulloa em Poesia Popular: El Barbecho, 1986 - La Siembra, 1986 - La cosecha, 1987 - El rastrojo, 1992 - Colón en décima, 1993 - El arado, 1994 - La chalaila, 1994 - El horno, 1995 - La rueda, 1996 - El chonchón, 1997 - La callada, 1998 Los zuecos, 1999 - La trilla, 2000 - El yugo, 2002 - Mote Pelao, 2003 e La rueca, 2004.
189 JUAN PEDRO LÓPEZ (1885-1945), nasceu em Echevarría e faleceu em Montevidéu (Uruguai). O autor do famoso poema La Leyenda del Mojón, começou cedo atuando nos cafés dos bairros de Montevidéu. Mudou-se para a Argentina, onde atuou ao lado de Gabino Ezeiza e José Betinotti. Em 1929 foi para a Espanha, convidado pelo então célebre aviador Ramón Franco (irmão do Ditador Francisco Franco) e cantou para ele a proeza da travessia num hidroavião de Huelva a Buenos Aires. Juan Pedro López é também autor de tangos e milongas, tendo sido amigo e parceiro do cantor Carlos Gardel. LA LEYENDA DEL MOJÓN Llovía torrencialmente Y en la estancia del Mojón Como adorando al fogón Estaba toda la gente. Dijo un viejo de repente: "Les voy a contar un cuento Aura que el agua y el viento Train a la memoria mía... Cosas que naide sabía Y que yo diré al momento. Tal vez tenga que luchar Con mas de un inconveniente Pa que resista la mente El cuento sin lagrimear, Pero Dios que supo dar Paciencia a mi corazón Tal vez venga en esta ocasión A alumbrar con su reflejo El alma de un gaucho viejo Que ya lo espera el cajón. No se asusten si mi cuento Les recuerda en este día Algo que ya no podía... Ocultar mi sentimiento. Vuelquen todos un momento La memoria en el pasao Que allí verán retratao Con tuitos sus pormenores Una tragedia de amores Que el silencio a sepultao. Hay cosas que yo no puedo Detallar como es debido, Unas, porque se han perdido Y otras, porque tengo miedo.
190 Pero ya que en el enriedo Les metí, pido atención, Que si la imaginación Me ayuda en este momento Conocerán por mi cuento "La leyenda del Mojón". Alcáncenme un amargo Pa que suavice mi pecho, Que voy a dentrar derecho Al asunto, porque es largo; Haré juerza sin embargo, Pa llegar hasta el final, Y, si atiende cada cual Con espíritu sereno, Verán como un hombre gueno Llego a hacerse criminal. Setenta años, quien diría Que vivo aquí en estos pagos Sin conocer mas halagos Que la gran tristeza mia, Setenta años no es un día, Pueden tenerlo por cierto, Pues si mis dichas han muerto Aura tengo la virtud De ser pa esta juventud Lo mesmo que un libro abierto". Iban a golpear las manos Por lo que el viejo decía, Pero una lagrima fría Los detuvo a los paisanos. "Hay sentimientos humanos Dijo el viejo conmovido Que los años con su ruido No borran de la memoria, Y este cuento es una historia Que pa mi no tiene olvido. Allá en mis años de mozo, Y perdonen la distancia, Sucedió que en esa estancia Hubo un crimen misterioso, En un alazán precioso Llego aquí un desconocido, Mozo lindo, muy cumplido,
191 Que al hablar con el patrón Quedo en la estancia de pión Siendo dispues muy querido. Al poco tiempo nomás, El amor lo picotio Y el mocito se caso Con la hija del capataz, Todo marchaba al compás De la dicha y el amor Y pa grandeza mayor Dios les mando con cariño Un blanco y hermoso niño Mas bonito que una flor. Iban pasando los años Muy felices en su choza, Ella alegre y guenamoza, El juerte y sin desengaños. Pero, misterios extraños, Llegaron... y la traición Deshizo del mocetón Sus mas queridos anhelos Y el fantasma de los celos Se clavo en su corazón. Aguanto el hombre callao Hasta dar con la evidencia Y un día fingió una ausencia Que jamas había pensao. Dijo que tenia un ganao Que llevar pa la Tablada. Que era una guena bolada Pa ganarse algunos pesos Y así entre risas y besos Se despidió de su amada. A la una de la mañana Del otro día justamente, Llego el hombre derepente Convertido en fiera humana; De un golpe hecho la ventana Contra el suelo en mil pedazos Y avanzando a grandes pasos, Ciego de rabia y dolor, Viendo que su único amor Descansaba en otros brazos.
192 Como un sordo movimiento en seguida se sintió, después un cuerpo cayo y otro cuerpo en el momento. Ni un quejido, ni un lamento Salió de la habitación. Y pa concluir su misión Cuando los vio dijuntos, Los enterró a los dos juntos Donde hoy esta ese mojón. En la estancia se sabia Que la ingrata lo engañaba Pero a el nadie le contaba La disgracia en que vivía. Por eso la polecia No hizo caso mayormente, Pues dijeron: "La inocente Se jue con su gavilán..." Y en cambio los dos están Descansando eternamente". - ¡Ahi juna! - grito un paisano Si es así lo que habla el viejo Ese era un macho, ¡canejo! ¡Yo le besaría la mano!... -¡Yo soy! - le grito el anciano -, ¡Venga, m´hijo, besamé!... Yo jui m´hijo el que mate A tu madre disgraciada Porque en la cama abrasada Con otro hombre la encontré. - Hizo bien tata querido - Grito el hijo sin encono -, Venga, viejo, lo perdono Por lo tanto que ha sufrido; Pero aura, tata , le pido Que no la maldiga mas, Que si jue mala y audaz Por mi perdónela, padre, Que una madre, siempre es madre, Déjela que duerma en paz!... Los dos hombres se abrazaron Como nunca lo habían hecho, Juntando pecho con pecho
193 Como dos niños lloraron, Padre he hijo se besaron Pero con tal sentimiento, Que el humano pensamiento No puede pintar ahora La escena conmovedora De aquel trágico momento. Los ojos de aquella gente Con el llanto se inundaron Y todos mudos se quedaron Bajo un silencio imponente, Volvió a decir, nuevamente, Allí están en el mojón Y poniendo el corazón El anciano en lo que dijo, Le pidió perdón al hijo Y el hijo le dio perdón.
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195 ANTOLOGIA DE PLIEGOS SUELTOS CHILENOS
Adolfo Reyes: Hundimiento de un puente Daniel Meneses: Fusilamiento del reo Ismael Bustamante Gran Incendio en Guayaquil Horrible crimen en Gultro Horroroso salteo en Arequipa La horrible catástrofe en la Lavandería Internacional El Loro: La colona muerta Gregorio Sarzosa: Versos Nuevos José Dionisio Castro: Gran Incendio en Chillán José Hipólito Cordero: Cuntrapunto entre el despachero i el tomador El Hombre descuerado El hombre que se casó con seis mujeres El hechor que ultimó a una niñita Gran catástrofe en Mulchen La chilota que dio a luz a un niño La niña vestida de hombre La sierpe aparecida en Las Pallatas Triste ejecución Versos del nacimiento del niño de Dios Juan B[autista] Peralta: La lira popular # 39 La lira popular # 79 La lira popular en versos de ocho silabas Rumores de guerra Liborio Salgado: Fin de Mundo! El Cometa Margarita Flores: Viva Errazuriz con su triunfo completo Pepa Aravena: Viva el 18!
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222 APÊNDICE LOS PAYADORES ARGENTINOS Y BALEARES El payador ha sido un personaje característico de las poblaciones rurales argentinas y del cual quedan aún algunos herederos. Además de hallarse figuras parecidas en otros países americanos, descubrimos un símil en las Islas Baleares: el glosador. Primero, veamos la definición que da el Diccionario Enciclopédico Códex de la voz payador: "Coplero que canta acompañándose con la guitarra, generalmente en diálogos improvisados". El payador aparece en la literatura gauchesca, por ejemplo, en el Martín Fierro, de José Hernández, poema compuesto parcialmente en la ciudad de Rosario, donde su autor supo residir varios años. Quizá, al menos en el ámbito literario, el payador más famoso sea Santos Vega. Leopoldo Lugones (uno de los más destacados escritores argentinos) dedicó por su parte un libro al payador. La payada es el canto del payador. La payada de contrapunto es el certamen poético y musical donde intervienen dos payadores, desafiándose en una especie de duelo verbal e ingenioso. El verbo payar (cantar payadas) y paya (versificación improvisada de los payadores) integran la misma familia de palabras, que tendría su origen en la voz quechua paclla: campesino. Cabe informar que existe el término pallador: coplero y cantor errante en América meridional. La forma payador (sonando la y como una sh en inglés) es típica del castellano rioplatense o pampeano. Ahora veamos lo que expresa la Enciclopedia Catalana Básica 2 Interactiva respecto de la voz glosador: "Poeta popular de Mallorca y de Menorca. Los glosadores, hombres o mujeres, en general analfabetos, componen glosas -cantares, coplas-, algunas veces impresas como literatura de caña y cordel. Estas creaciones son repetidas por el pueblo, que las tradicionaliza o que en ocasiones recuerda al autor, no siempre auténtico. Son típicos los combates de glosadores, las glosadas, donde los mismos improvisan cantando o recitando uno después del otro, deshaciendo los argumentos contrarios y devolviéndose mutuamente las indirectas. Hay muchos glosadores mallorquines conocidos desde el siglo XVIII. Entre los más populares cabe citar a Sebastià Gelabert, Pau Noguera i Ripoll, Andreu Coll i Bernat, Sebastià Marques i Ortegas, y Pere Antoni Jusama i Barceló." La presencia de mujeres entre los glosadores baleares le daría una nota distintiva frente a los payadores argentinos. Para tener una idea más precisa de nuestros payadores, veamos lo que dice al respecto el Diccionario Biográfico, Histórico y Geográfico Argentino El Ateneo (Buenos Aires, 1997): "Tipo popular del cantor que improvisa acompañándose de la guitarra. Originariamente gaucho, tuvo luego notables representantes en ambientes urbanos. No se confunde con los tipos afines del simple guitarrero, del cantor que entona versos ajenos, del improvisador que no canta ni sostiene duelos poéticos, ni menos con el compositor de encargo. Se caracteriza por rasgos como los siguientes: vida errante;
223 culto de la amistad, respecto al valor; actitud caballeresca y desdén por el trabajo; condiciones de sociabilidad e intelectuales (ingenio, memoria, inspiración); condiciones artísticas (don del canto, ejecución de la guitarra, dominio de la versificación tradicional). La payada consiste en una suerte de duelo poético y se sostiene a base de versos octosílabos combinados en cuartetas y décimas, con acompañamiento de guitarra. La combinación elegida por el iniciador debe ser mantenida por el contrincante. Suscita respeto, admiración, amor y es agente de sociabilidad al provocar las reuniones, bailes y cantos, especialmente las payadas. El más famoso fue Santos Vega, de discutida realidad histórica. Según el mito popular y legendario, fue vencido por el diablo en una payada de contrapunto. Del folclore pasó a la literatura inspirando numerosas obras, en prosa y en verso (la más famosa es el poema de Rafael Obligado), que terminaron por idealizar su figura. Algunos de los temas tradicionales de las payadas se remontan a la Edad Media española." (Javier Etcheverry) http://www.abarcusrosario.com.ar/
224 LA POESÍA GAUCHESCA Y LAS PAYADAS Sin embargo - y seguramente por su misma carencia cultural - la literatura gauchesca no es obra de gauchos. Como regla general, la literatura gauchesca más representativa - en cuanto recoge y presenta no solamente el lenguaje de los gauchos, sino sus condiciones vitales y sus peripecias supuestamente típicas - ha sido obra de hombres cultos o en todo caso semicultos, que habiendo participado de diversas formas en la vivencia del medio gauchesco, y también habiendo desarrollado una especial valoración de lo que representaba ese medio en diversos aspectos éticos o estéticos, recurrieron a las formas literarias y a los instrumentos artísticos para su presentación. Si bien es cierto que expresiones versificadas surgieron espontáneamente en el ambiente rural de los gauchos — especialmente ligadas al canto con la guitarra — ellas no llegaron a conformar una cultura folklórica tradicional; sino que lo que constituye el fondo cultural integrado por la poesía gauchesca es esencialmente el resultado de una obra deliberadamente producida por autores de origen urbano, que a menudo compartieron el deseo de describir el medio físico y social del gaucho con el interés de valerse de ello como instrumento de propagación de opiniones, frecuentemente por motivaciones políticas; anticipando una práctica que todavía perdura, aunque en aquel entonces no tenía el carácter adicional de su lucratividad. Pero sin duda, además del obvio contenido referido al ambiente gauchesco, lo que caracteriza a la poesía gauchesca es el empleo de un lenguaje, que destaca la diferenciación respecto del español puro, en base al empleo de expresiones y también de inflexiones propias del habla del gaucho. A pesar de que — sin existir una documentación fiel de la expresividad oral de los gauchos — esas modalidades hayan sido generalmente admitidas como las utilizadas por ellos, sin que posiblemente hubieran sido conocidas de antemano por muchos de quienes las leían o escuchaban. Es muy posible, además, que en cierto grado la expresividad oral real de los gauchos haya sido de alguna manera acentuada o atenuada por los autores, con fines de agregar notas pintorescas a sus personajes como de hacerlas más accesibles al público; cuando no para ajustarse a los requisitos de las propias formas versificadas empleadas. Las formas versificadas de expresión de la lírica gauchesca están claramente influidas por su vinculación originaria al canto de un solista que se acompaña con la guitarra; y a los contenidos de su temática. La métrica es fundamentalmente el octosílabo tradicional del romancero hispano; que se presta para los ritmos musicales de la guitarra y para imprimir a la expresión un intenso dinamismo y agilidad. La estrofa también guarda estrecha relación con el carácter de brevedad y a menudo la búsqueda de un efecto de sorpresa, por lo cual la más corriente — sobre todo para las obras de extensión — ha sido la cuarteta. Dentro de la clasificación general de la lírica gauchesca se encuentran: Las payadas, consistentes en una confrontación de habilidades de improvisación entre dos cantores, a partir de un juego de alardes iníciales y de ulteriores preguntas y respuestas, para lo cual se turnan, procurándose una final decisión de cuál ha sido el
225 triunfador. El ejemplo más accesible está contenido en “La vuelta de Martín Fierro” en que este personaje se enfrenta con el hermano de “El Negro” al que había dado muerte en un baile. También existen publicadas algunas payadas, sobre todo de los últimos payadores argentinos de la época gauchesca, como Gabino Ezeiza y Juan de Nava. De este último, se dice que conoció en Montevideo a Carlos Gardel cuando todavía era un adolescente, y fue su maestro de guitarra. http://www.liceodigital.com
226 O AUTOR Salomão Rovedo (1942), nascido em João Pessoa (PB), mas de formação cultural em São Luis (MA), mora no Rio de Janeiro desde 1963. Poesia: Abertura Poética (Antologia), Walmir Ayala/César de Araújo, 1975; Tributo, 1980; 12 Poetas Alternativos (Antologia), Leila Míccolis/Tanussi, 1981; Chuva Fina (Antologia), Leila Míccolis/Tanussi Cardoso, 1982; Folguedos, c/Xilos de Marcelo Soares,1983; Erótica (Poesia), c/Xilos de Marcelo Soares, 1984; Livro das Sete Canções (Poesia), 1987. e-Books: Poesia: Porca elegia, 7 canções, Sentimental, Amaricanto, bluesia, Mel, Espelho de Venus, 4 Quartetos para a amada cidade de São Luis, 6 Rocks Matutos, Amor a São Luis e ódio, Sonetos de Abgar Renault (antologia), Glosas Escabrosas (c/Xilos de Marcelo Soares), Suite Picasso. Contos: O sonhador, Sonja Sonrisal, A apaixonada de Beethoven, Arte de criar periquitos, A estrela ambulante, O breve reinado das donzelas. Outros: Cervantes e Quixote (Artigos), Gardênia (Romance), Stefan Zweig Pensamentos e Perfis (Antologia), Ilha (Romance), Meu caderno de Sylvia Plath (Antologia), Viagem em torno de Dom Quixote (Pesquisa), 3 x Gullar (Ficção), Literatura de Cordel (Ensaio), Quilombo, Um auto de sangue (ensaio). Como Sá de João Pessoa: Macunaíma em versos de cordel, Antologia de cordel #1 - #2 - #3 e #4, Por onde andou o cordel?. Todos os e-books estão disponíveis na Internet: use sites de busca. Foto: Priscila Rovedo
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