L e m b r a r sYlViA pLaTh *****
NÃO autorizada rascunhos& manuscritos TRADUCIÓNS
álbum de fotos* *****
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*(encontrados num lixão de Cachambi,rj) ***** 2006
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não autorizada vítimas (in)versões & leituras & tropeços & lusitanismos &tc
3 40 GRAUS DE FEBRE Pura? Que vem a ser isso? As línguas do inferno São baças, baças como as tríplices Línguas do apático, gordo Cérbero Que arqueja junto à entrada. Incapaz De lamber limpamente O febril tendão, o pecado, o pecado. Crepita a chama. O indelével aroma De espevitada vela! Amor, amor, escassa a fumaça Rola de mim como a echarpe de Isadora, e temo Que uma das bandas venha a prender‐se na roda. A amarela e morosa fumaça Faz o seu próprio elemento. Não irá alto Mas rolará em redor do globo A asfixiar o idoso e o humilde, O frágil E delicado bebê no seu berço, A lívida orquídea Suspensa do seu jardim suspenso no ar, Diabólico leopardo! A radiação faz que ela embranqueça E a extingue em uma hora. Engordurar os corpos dos adúlteros Tal qual as cinzas de Hiroshima e corroê‐los. O pecado. O pecado. Querido, a noite inteira Eu passei oscilando, morta, viva, morta, viva. Os lençóis opressivos como beijos de um devasso. Três dias. Três noites. água de limão, canja
4 Aguada, enjoa‐me. Sou por demais pura para ti ou para alguém. Teu corpo Magoa‐me como o mundo magoa Deus. Sou uma lanterna – Minha cabeça uma lua De papel japonês, minha pele de ouro laminado Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa. Não te assombra meu coração. E minha luz. Eu sou, toda eu, uma enorme camélia Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros. Creio que vou subir, Creio que posso ir bem alto – As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu Sou uma virgem pura De acetileno Acompanhada de rosas, De beijos, de querubins, Do que venham a ser essas coisas rosadas. Não tu, nem ele Não ele, nem ele (Eu toda a dissolver‐me, anágua de puta velha) – Ao Paraíso. PAPOULAS DE JULHO Papoulas pequeninas, pequeninas chamas do inferno, Vocês não fazem nada de mal? Bruxuleiam. Não posso pegá‐las. Ponho as mãos entre as chamas. Sem queimar. E me exaure olhá‐las Bruxuleando, vermelho vivo e rugoso como mucosa de uma boca. Uma boca em hemorragia. Babados hemorrágicos!
5 Há fumaças impalpáveis para mim. Onde os teus narcóticos, tuas nauseantes cápsulas? Ai se eu sangrasse ou dormisse! – Se minha boca desposasse uma ferida assim! Ou seus extratos levitassem a mim nessa cápsula de vidro, Entorpecendo e aquietando. Mas sem cor. Sem cor. (20/7/1962) PAPOULAS DE JULHO Ó papoulinhas, pequenas flamas do inferno, Então não fazem mal? Vocês vibram. É impossível tocá‐las. Eu ponho as mãos entre as flamas. Nada me queima. E me fatiga ficar a olhá‐las Assim vibrantes, enrugadas e rubras, como a pele de uma boca. Uma boca sangrando. Pequenas franjas sangrentas! Há vapores que não posso tocar. Onde estão os narcóticos, as repugnantes cápsulas? Se eu pudesse sangrar, ou dormir! Se minha boca pudesse unir‐se a tal ferida! Ou que seus licores filtrem‐se em mim, nessa cápsula de vidro, Entorpecendo e apaziguando. Mas sem cor. Sem cor alguma. OVELHA NA CERRAÇÃO Os morros desaparecem na brancura. Pessoas ou estrelas Tristes me olham, desapontadas comigo. O trem deixa uma linha de sopros. O lento
6 Cavalo cor de ferrugem. Cascos, dolorosos guizos – Toda manhã a Manhã esteve escura, Uma flor esquecida. Meus ossos gozam de uma calma, os campos Longe derretem meu coração. Tudo ameaça deixar‐me ir por um céu sem estrelas e órfão, uma água espessa. OVELHA NA NÉVOA Os morros derrapam em brancura. Gente ou estrelas Me encaram com tristeza, eu as desaponto. O trem deixa uma linha de alento. Ó lento Cavalo ferrugento. Cascos, sinos dolentes – A manhã inteira a Manhã enegrecendo, Restou uma flor. Meus ossos se aquietam, os campos Distantes fundem meu coração. Eles ameaçam Deixar que eu passe para um céu Sem astro, sem pai, um charco. (2/7/1962 a 28/1/1963) A CHEGADA DA CAIXA DE ABELHAS Encomendei esta caixa de madeira Clara, exata, quase um fardo para carregar. Eu diria que é o ataúde de um anão ou De um bebê quadrado Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.
7 Está trancada, é perigosa. Tenho de passar a noite com ela e Não consigo me afastar. Não tem janelas, não posso ver o que há dentro. Apenas uma pequena grade e nenhuma saída. Espio pela grade. Está escuro, escuro. Enxame de mãos africanas Mínimas, encolhidas para exportação, Negro em negro, escalando com fúria. Como deixá‐las sair? É o barulho que mais me apavora, As sílabas ininteligíveis. São como uma turba romana, Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu deus, juntas! Escuto esse latim furioso. Não sou um César. Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos. Podem ser devolvidos. Podem morrer, não preciso alimentá‐los, sou a dona. Me pergunto se têm fome. Me pergunto se me esqueceriam Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore. Há laburnos, colunatas louras, Anáguas de cereja. Poderiam imediatamente ignorar‐me. No meu vestido lunar e véu funerário Não sou uma fonte de mel. Por que então recorrer a mim? Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá‐los. A caixa é apenas temporária. PALAVRAS Golpes De machado que fazem soar a madeira, e os ecos!
8 Ecos partem Do centro como cavalos. A seiva Jorra como lágrimas, como a água lutando Para repor seu espelho Sobre a rocha Que cai e rola, Crânio branco Comido por ervas daninhas. Anos depois as encontro Na estrada – Palavras secas e sem rumo, Infatigável bater de cascos. Enquanto Do fundo do poço estrelas fixas Governam uma vida. ARIEL Estagnação no breu. Então o azul mana insubstancial Do pico e das distâncias. Leoa dos céus, Como nos tornamos uma, Pino dos calcanhares e joelhos! – A ruga Se desmancha e se apaga, irmã do Arco castanho Do pescoço que não posso estreitar, Bagas de olho Crioulo atiram anzóis Turvos – Bocados negros de sangue doce, Sombras. Alguma coisa mais Me arrasta pelo ar –
9 Coxas, cabelos Escamas de meus calcanhares. Branca Godiva, eu me descasco – Mãos mortas, privações mortas. E agora Me convulsiono em trigo, cintilância de mares. O choro da criança Derrete na parede. E eu Sou a flecha, O orvalho que voa Suicida, num só impulso Dentro do vermelho Olho, caldeirão da manhã. (27/10/1962) ARIEL Estancamento no escuro E então o fluir azul e insubstancial De montanha e distância. Leoa do Senhor Como nos unimos Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco Afunda e passa, irmão Do arco tenso Do pescoço que não consigo dobrar. Sementes De olhos negros lançam escuros Anzóis... Negro, doce sangue na boca, Sombra, Um outro vôo
10 Me arrasta pelo ar... Coxas, pêlos; Escamas e calcanhares. Branca Godiva, descasco Mãos mortas, asperezas mortas. E então Ondulo como trigo, um brilho de mares. O grito da criança Escorre pela parede. E eu Sou a flecha, O orvalho que voa, Suicida, unido com o impulso Dentro do olho Vermelho, caldeirão da manhã. OUTONO DE RÃ O verão envelhece, mãe impiedosa. Os insetos vão escassos, esquálidos. Em nossos lares palustres nós apenas Coaxamos e definhamos. As manhas se dissipam em sonolência. O sol brilha pachorrento Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós. O charco nos repugna. A geada cobre até aranhas. Obviamente O deus da plenitude Está morando longe daqui. Nosso povo rareia Lamentavelmente. COLHER AMORAS Ninguém nas veredas e nada, nada além das amoras, Amoras de ambos os lados, embora mais à direita Uma aléia de amoras descendo em curva e um mar Se alçando lá no fim. Amoras
11 Grandes como o meu polegar e a silenciar como olhos De ébano nas sebes, gordas De sumo azul‐vermelho. O sumo esbanja entre meus dedos. Eu não pedira esta fraternidade de sangue: – elas na certa me amam. E se acomodam em meu jarro, achatando‐se os lados. No alto, as gralhas negras, revoada cacofonica – Pedaços de papel queimado girando num céu a pleno. É delas a única voz protestando, protestando... Acho que o mar não aparecera. As campinas altas e verdes resplandecem como acesas por dentro. Chego a um arbusto cheio de amoras tão maduras que o arbusto é de moscas Pendentes, suas barrigas verde‐azuladas e os vitrais das asas numa tela chinesa. A festa de mel das amoras alvoroçou‐as. Elas acreditam no céu. Uma curva mais: amoras e arbustos terminam. Tudo o que vem agora é o mar. De entre dois morros uma súbita brisa se afunila em direção a mim E me esbofeteia a face. Esses montes são muito verdes e doces para quem provou sal. Entre eles, sigo a trilha das ovelhas. Numa última curva Alcanço a face norte dos montes, cor de laranja e rocha E a face olha para nada, nada exceto um grande espaço De luzes brancas metálicas; nada exceto um ruído de ferramentas sobre a prata, Os golpes e golpes contra um metal intratável. COLHENDO AMORAS Ninguém no caminho, e nada, nada a não ser amoras, amoras dos dois lados, embora mais à direita, uma aléia de amoras, descendo em curvas fechadas, e um mar algures, lá ao longe, arfando. Amoras tão grandes como a cabeça do meu polegar, e mudas como olhos negros nas sebes, repletas de um suco azul‐vermelho. Este desperdiça‐se nos meus dedos. Não pedira tal comunhão de sangue; devem amar‐me. Comprimem‐se numa garrafa de leite, de encontro aos seus lados. Sobre mim passam, com a sua cacofonia, os corvos em bandos negros, pedaços de papel queimado oscilando num céu ventoso. A sua voz é a única que está a protestar, a protestar. Julgo que o mar não vai mesmo aparecer. Os verdes e altos prados brilham como iluminados por dentro. Chego a um arbusto de bagas tão maduras: é um arbusto de moscas,
12 suspendendo os seus abdomens azuis esverdeados e os vidrilhos alados de um biombo chinês. O festim de mel das bagas surpreendeu‐as; julgam‐se no paraíso. Para além de uma curva, as bagas e os arbustos acabam. A única coisa que vem a seguir é o mar. De entre duas colinas sopra contra mim um vento súbito, sacudindo como fantasmas a sua roupa branca contra o meu rosto. Estas colinas são demasiado verdes e suaves para terem saboreado o sal. Sigo, entre elas, a vereda aberta pelas ovelhas. Uma última curva leva‐me até à face norte das colinas, e a face é urna rocha alaranjada que olha para nada, nada a não ser uma grande extensão de luzes brancas e cor de estanho e um ruído como o de um ourives O PARQUE DO CASARÃO As fontes secaram; é o fim das rosas. Incenso de morte. Teu dia chega. São pequenos Buda as peras gordas. Uma névoa azul arrastando o lago. Caminhas em plena era de peixes, Pelos presunçosos séculos do porco – Cabeça, dedão do pé e da mão Assomam aos poucos da sombra. A História Cria floreios quebrados, Essas coroas de acanto, E a gralha se paramenta. Herdas a hera branca, uma asa de abelha, Dois suicidas, os lobos de família, Horas de vazio. Alguns astros árduos Já amarelaram os céus. A aranha em seu próprio fio Atravessa o lago. Os vermes Deixam seus tugúrios habituais. Convergem, convergem os passarinhos Auspiciando um difícil nascer. (1959)
13 EU SOU VERTICAL Mas não que não quisesse ser horizontal. Não sou árvore com minha raiz no solo Sugando minerais e amor materno Para, a cada março, refulgir em folha, Nem sou a beleza de um canteiro Colhendo meu quinhão de Ohs e me exibindo em cor, Desconhecendo que me despétalo em breve. Comparados a mim, uma árvore é imortal E um pendão nada alto, embora mais assombroso, O que eu quero é a longevidade de uma e a audácia do outro. À luz infinitesimal das estrelas, Flores e árvores trescalam seus frios perfumes. Eu me movo entre elas, mas nenhuma me nota. Chego a pensar que pareço o mais perfeitamente Com elas quando estou dormindo – Os pensamentos esmaecem. É mais natural para mim deitar. Céu e eu então animamos a prosa, Hei de servir no dia em que deitar afinal: E as árvores aí talvez em mim tocassem e as flores comigo se ocupassem. (28/3/1961) ÚLTIMAS PALAVRAS Não quero um simples caixão, quero um sarcófago Com rajas de tigre e um rosto em relevo, Redondo como a lua, para fitar o alto. Quero estar de olhos neles quando eles chegarem Furando a mudez de minerais e raízes. Estou a vê‐los – caras de astros remotos, pálidas. Agora não são nada, não são sequer bebês. Eu os concebo sem pai nem mãe como os primeiros deuses. Certamente indagarão se fui importante. Como fruta me cristalizo e conservo meus dias! Meu espelho está se embaçando – Uns poucos alentos e ele nada reflete. As flores e as faces ficam brancas de pano. Não creio no espírito. Foge como vapor Em sonhos, pelo furo da boca e dos olhos. Não o detenho.
14 Nem voltará um dia. É o contrário das coisas. Elas duram, o lustrozinho íntimo delas Ainda morno de tanto manuseio. Titilando quase. Quando as solas dos meus pés resfriarem, O olho azul da minha turquesa me confortará. Deixem comigo minhas caçarolas de cobre, deixem meus potes de rouge Florirem em volta como flores da noite de bom perfume. Embrulhar‐me‐ão com bandagens e deporão meu coração Aos meus pés em lindo pacote. Eu não reconhecerei eu mesma. Tudo será turvo, E o resplendor dessas coisinhas, mais doce que a face de Istar. (21/10/1961) ESPELHO Sou prata e exato. Eu não prejulgo. O que vejo engulo de imediato Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto. Não sou cruel, tão somente veraz – O olho de um deusinho, de quatro cantos. O tempo todo reflito sobre a parede em frente. É rosa, com manchas. Fitei‐a tanto Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila. Faces e escuridão insistem em nos separar. Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim, Buscando em domínios meus o que realmente é. Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua. Vejo suas costas e as reflito fielmente. Ela me paga em choro e agitação de mãos. Sou importante para ela. Ela vai e vem. A cada manhã sua face reveza com a escuridão. Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo. (23/10/1961) ÁRVORE Para Ruth Fainlight Fui ao fundo – ela diz. Sei pela minha raiz mestra: É o que temias. Eu não temo: já estive lá.
15 É o mar o que em mim escutas, E seus desassossegos? Ou a voz do nada, não era essa tua loucura? O amor é sombra larga. Como mentes e em seu encalço choras Ouça: estes são os seus cascos: disparou como cavalo. Noite afora galoparei assim, impetuosamente, Até tua cabeça virar pedra e o travesseiro a relva, Ecoando, ecoando. Ou devo te mostrar o som dos venenos? É a chuva agora, aquietando. E este é seu fruto: metálico como arsênico. Sofri as atrocidades dos poentes. Escorchados à raiz Meus filamentos rubros secam e estendem dedos de arame. Agora me desfaço em pedaços que voam como paus. Uma ventania dessa violência Não suporta nada ao redor: preciso gritar. A lua também não tem pena: me arrastaria Cruelmente, mirrando‐me. Sua radiância me lesa. Ou quem sabe se a captei. Deixo que se vá. Deixo que se vá Diminuída e chocha como se após cirurgia radical. Como teus maus sonhos me possuem e obsedam. Um grito mora em mim. À noite, ele se afoita, Procurando com suas presas algo para amar. Essa coisa preta me aterroriza Dormitando em mim O dia inteiro sinto seu retorcer fofo, suas felpas, sua malignidade. As nuvens passam e se dispersam. São aquelas as faces do amor, aquelas pálidas irremediáveis? Para isso é que meu coração se turba?
16 Não sou capaz de outro conhecer. O que é isto, este rosto Tão criminoso em sua sufocação de galhos? – A insídia de seus ácidos beija. É o que petrifica o querer. São falhas isoladas e tardonhas Que matam e matam e matam. (19/4/1962) EVENTO Como os elementos se solidificam! – O luar, este penhasco de giz Em cuja fenda deitamos Sem trocar um olhar. Ouço um pio de coruja Vindo de seu índigo frio. Vogais intoleráveis assaltam meu coração. O bebê no berço branco se mexe e ofega, Abre a boca agora, pedindo. O rostinho talhado em madeira vermelha de dor. Aí surgem estrelas – inextirpáveis, duras. Um toque: arde e aflige. Não posso ver teus olhos. Onde a flor da maçã cristaliza a noite Eu me perco em voltas, Uma trilha de velhas culpas, funda e amarga. Aqui o amor não pode chegar. Uma negra lacuna se entreabre. No beiço em frente Uma alma branquinha está acenando, um verme branquinho. Meus membros também me abandonaram. Quem nos espedaçou? O breu agora se funde. Mutilados nos tocamos. (21/5/1962)
17 OS MENSAGEIROS A palavra de lesma na chapa de folha? Minha é que não é. Não a aceite. Ácido acético em lata lacrada? Não o aceite. Genuíno é que não é. Um anel de ouro com o sol dentro? Mentiras. Mentiras e dor. Geada numa folha, o imaculado Caldeirão, proseando e frigindo De si para si no topo de cada um Dos nove Alpes negros. Um turtuveio nos espelhos, O mar espedaçando o seu, cinza – Amor, amor, estação minha. (4/11/1962) TALIDOMIDA Ó semi‐lua – Semi‐cérebro, luminosidade – Negro, mascarado de branco, Suas escuras Amputações se arrastam e arrepiam – Aranhoso, nocivo. Que luva Que algo de couro Protegeu Me dessa sombra – Os indeléveis botões, Calombos nas omoplatas,
18 Faces que Desembocam em ser, arrancando O lacerado Âmnio‐sangue de ausências. Custa‐me uma noite de marcenaria Um espaço para esta minha prenda, Um amor De dois olhos úmidos e berreiro. Baba branca De indiferença! Os frutos escuros rodam e caem. O vidro se esfacela. A imagem Escapole e aborta como gotas de mercúrio. (8/2/1962) CANÇÃO DE MARIA O cordeiro dominical frige em sua gordura. A gordura Sacrifica sua opacidade... Uma janela, ouro santo. O fogo a faz preciosa, O mesmo fogo Que derrete os heréticos de sebo E despoja os judeus. Suas grossas mortalhas flutuam Sobre a cicatriz da Polônia e a devastada Germânia. Eles não morrem. Pássaros grisalhos obsedam meu coração, Cinza‐boca, cinza de olho. Eles pousam. No alto
19 Precipício Que evacuou um homem no espaço Os fornos resplendiam como céus, incandescentes. É um coração. Este holocausto em que me movo, Ó filho dourado que o mundo matará e comerá. (19/11/1962) CRIA Seu olho claro é a coisa mais linda que existe. Quero enchê‐lo de cor e patinhos, O zoológico do recém Em cujos nomes meditas – Anêmona de abril, flor de cacto, Pequeno Talo sem ruga, Poça em que imagens Teriam de ser grandiosas e clássicas Não esse agitado Retorcer de mãos, esse teto Escuro sem estrela alguma. (28/1/1963) PALAVRAS Achas Após seus baques a madeira range, Ecoando! Ecos em viagem Fora do centro como águas. A seiva Brota como lágrimas, como água na refrega Para repor seu espelho Sobre a pedra Que tomba e rola,
20 Um crânio branco, Comido por verdes daninhos. Depois de anos eu Com eles me deparo na estrada – Palavras secas, à solta, o infatigável bater de cascos, Enquanto Do fundo do poço, fixas estrelas Governam uma vida. (1/2/1963) LINDE A mulher está perfeita. Seu corpo Morto ostenta o sorriso do consumado, A ilusão de uma necessidade grega Flui pelas dobras de sua toga, Seus pés Nus parecem dizer: Ficamos por aqui, acabou. Cada criança morta enrodilhada, uma serpente branca. Uma para cada pequena Leiteira, agora vazia. Ela cingiu‐as A seu corpo como pétalas De rosa que fecha quando o jardim Estupora e os odores sangram Pelas fauces fundas e doces da flor da noite. A lua não tem de quê se entristecer Velando, embuçada em osso. Ela não se altera mais com coisas do tipo. Seus negrumes crepitam e arrastam. (5/2/1963)
21 ACHAVA QUE NÃO PODIA SER MAGOADA Achava que não podia ser magoada; achava que com certeza era imune ao sofrimento – imune às dores do espírito ou à agonia. Meu mundo tinha o calor do sol de abril Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro. Minha alma em êxtase, ainda assim conheceu a dor suave e aguda que só o prazer pode conter. Minha alma planava sobre as gaivotas que, ofegantes, tão alto se lançando, lá no topo pareciam roçar suas asas farfalhantes no teto azul do céu. (Como é frágil o coração humano – um latejar, um frêmito – um frágil, luzente instrumento de cristal que chora ou canta.) Então de súbito meu mundo escureceu E as trevas encobriram minha alegria. Restou uma ausência triste e doída Onde mãos sem cuidado tocaram e destruíram minha teia prateada de felicidade. As mãos estacaram, atônitas. Mãos que me amavam, choraram ao ver os destroços do meu firma‐ mento. (Como é frágil o coração humano – espelhado poço de pensamentos. Tão profundo e trêmulo instrumento de vidro, que canta ou chora.)
22 BONDADE A Bondade baila em meu lar. Dona Bondade, quanta beleza! As pedras azul‐escarlates de seus anéis Espargem‐se nas janelas, os espelhos Transbordam de alegria. O que é mais puro que o choro de um filho? O choro de um coelho pode ter mais ardor Mas ele não tem alma. O açúcar cura tudo, diz a Bondade. Açúcar um fluido necessário, Seus cristais um pequeno cataplasma. Ó Bondade, bondade Colando os cacos com doçura! Minhas sedas japonesas, desesperadas borboletas, Alfinetadas a qualquer minuto, anestesiadas. E lá vem você, com uma xícara de chá Envolta em fumaça. O fluxo sanguíneo é poesia, Impossível estancá‐lo. Você me confia dois filhos, duas flores. PARALÍTICO Acontece. Será que continua? – Minha mente uma pedra, Sem dedos para segurar, sem língua, Meu deus o pulmão de aço Que me ama, bombeia Dois sacos de poeira Para dentro e para fora Não vai Me deixar piorar enquanto Lá fora o dia desliza, eterno tique‐taque. A noite traz violetas, Tapetes de olhos,
23 Luzes, Vozes de veludo Anônimas: – Tudo bem? O peito duro, inatingível. Ovo choco, deitado Todo Em todo um mundo que não posso tocar No branco e tenso Tambor do meu leito Fotos vêm me visitar – Minha mulher, morta e imóvel, estola anos 20 A boca repleta de pérolas Duas meninas Imóveis como ela, sussurram: – Somos suas filhas lágrimas tranqüilas Encobrem meus lábios, Olhos, nariz e Ouvidos, Celofane claro Que não posso quebrar Em minhas costas nuas. Sorrio, um Buda, todas As necessidades, desejos Caem em mim como anéis Abraçando suas luzes. A garra Da magnólia Por seu próprio aroma entorpecida Não pede nada da vida. METÁFORAS Sou um enigma em nove sílabas, Um elefante, casa pesada, Um melão solto sobre dois brotos. oh fruta rubra, marfim, bons troncos! Esse pão que cresce fermentando. Dinheiro novo na bolsa cheia. Eu sou meio, palco, vaca prenha. Comi um saco de maçãs verdes, Tomei o trem do qual não se desce.
24 O ENFORCADO Pelas raízes do meu cabelo algum deus se apoderou de mim. Fervi em seus volts azuis como um profeta do deserto. As noites caíram longe dos olhos como uma pálpebra de lagarto: Um mundo de simples dias brancos numa órbita sem sombras. APREENSÕES Existe este muro branco, acima do qual o céu se faz – Infinito, verde, todo intocável. Anjos nadam ali, a as estrelas, em indiferença também. Eles são meu meio. O sol se esvai neste muro, sangrando suas luzes. Um muro cinza agora, arranhado a sangrento. Não há como escapar da mente? Passos atrás de mim espiralam poço adentro. Não há árvores nem aces neste mundo, Só existe um azedume. Este muro vermelho recua continuamente: Um punho vermelho, abrindo a fechando, Dois sacos de papel cinza – É disco que eu sou feita, disco a de um terror De rodar sob crazes a uma chuva de pietás. Num muro negro, pássaros inidentificáveis Giram suas cabeças a gritam. Não se fala de imortalidade entre eles! Frios brancos nos alcançam: Movem‐se com pressa. ASILO DE VELHAS Fendidas em negro, feito besouros, Frágeis como cerâmica antiga Que um sopro faria em pedaços, As velhas se arrrastam aqui Para o sol nas rochas ou Se escoram contra o muro Cujas pedras guardam algum calor.
25 Agulhas tecem num ave‐adunco Contraponto a suas vozes: Filhos, filhas, filhas a filhos, Distantes a frios como fotos, Netos que ninguém conhece. A idade gasta o melhor pano negro Vermelho‐ferrugem ou verde como liquens. Ao grito‐da‐conga os velhos fantasmas juntam‐se Para enxotá‐las da relva. De camas em fileiras como caixões As senhoras de touca riem. E a Morte, aquele abutre de cabeça branca. Estaca em halls onde o pavio da vela Encurta quando respiram. PARA UM ÓRFÃO DE PAI Você terá clareza de uma ausência, agora, Crescendo ao seu lado, como uma árvore, Uma árvore da morte, sem cor, um eucalipto australiano Desfolhado, castrado pelo relâmpago – uma ilusão, E um céu como um traseiro de porco, uma total falta de atenção. Mas justo agora você está mudo, E amo sua ignorância, O seu espelho cego. Olho E não vejo rosto senão o meu, e você acha engraçado. É bom para mim Fazer você puxar meu nariz, um degrau de escada. Um dia você pode tocar o que é errado Os crânios pequenos, as colinas azuis assoladas, o divinorrível silêncio. Até então seus sorrisos são dinheiro achado. CONTUSÃO A cor invade o lugar, púrpura baça. O resto do corpo está todo pálido, Cor de pérola. Numa fenda de rocha O mar suga obsessivamente, Uma cavidade o âmago de todo o mar.
26 Do tamanho de uma mosca, A marca do destino Rasteja muro abaixo. O coração se fecha. O mar reflui, Os espelhos são cobertos. A LUA E O TEIXO Esta é a luz da razão, fria e planetária. As árvores da razão são negras. A luz é azul. As ervas descarregam as suas mágoas nos meus pés como se eu fosse Deus, Picando os meus tornozelos e murmurando a sua humildade. Esfumadas, inebriantes neblinas habitam este lugar Separado da minha casa por uma fieira de lápides. Só não consigo ver para onde se vai. A lua não é nenhuma porta. É um rosto em seu pleno direito, Branco como os nós dos dedos e terrivelmente transtornado. Arrasta o mar atrás de si como um delito obscuro; silenciosa Com a boca em O num esgar de total desespero. Vivo aqui. Duas vezes aos domingos, os sinos assustam o céu – Oito línguas enormes a afirmar a Ressurreição. No final, fazem soar os seus nomes sobriamente. O teixo aponta para o alto. Tem forma gótica. Os olhos seguem‐no e encontram a lua. A lua é a minha mãe. Ela não é doce como Maria. As suas roupas azuis libertam pequenos morcegos e corujas. Como eu gostaria de acreditar na ternura – O rosto da efígie, dulcificado pelas velas, A desviar para mim, em particular, os seus olhos ternos. Caí muito longe. As nuvens a florescer Azuis e místicas sobre a face das estrelas. Dentro da igreja, os santos vão ficar todos azuis, A pairar com seus pés delicados sobre os bancos frios, De mãos e rostos rígidos pela santidade. A lua não vê nada disto. É calva e selvagem. E a mensagem do teixo é a escuridão – escuridão e silêncio.
27 EDGE The woman is perfected. Her dead Body wears the smile of accomplishment, The illusion of a Greek necessity Flows in the scrolls of her toga, Her bare Feet seem to be saying: We have come so far, it is over. Each dead child coiled, a white serpent, One at each little Pitcher of milk, now empty. She has folded Them back into her body as petals Of a rose close when the garden Stiffens and odors bleed From the sweet, deep throats of the night flower. The moon has nothing to be sad about, Staring from her hood of bone. She is used to this sort of thing. Her blacks crackle and drag. LIMITE A mulher está perfeita. Seu corpo Morto enverga o sorriso de completude, A ilusão de necessidade Grega voga pelos veios da sua toga, Seus pés
28 Nus parecem dizer: Já caminhamos tanto, acabou. Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca, Uma para cada pequena Tigela de leite vazia. Ela recolheu‐as todas Em seu corpo, como pétalas Da rosa que se encerra, quando o jardim Enrija e aromas sangram Da fenda doce, funda, da flor noturna. A lua não tem porque estar triste Espectadora de touca De osso; ela está acostumada. Suas crateras trincam, fissura. MAD GIRLʹS LOVE SONG I shut my eyes and all the world drops dead; I lift my lids and all is born again. (I think I made you up inside my head.) The stars go waltzing out in blue and red, And arbitrary blackness gallops in: I shut my eyes and all the world drops dead. I dreamed that you bewitched me into bed And sung me moon‐struck, kissed me quite insane. (I think I made you up inside my head.) God topples from the sky, hellʹs fires fade: Exit seraphim and Satanʹs men: I shut my eyes and all the world drops dead. I dreamed that you bewitched me into bed And sung me moon‐struck, kissed me quite insane. (I think I made you up inside my head.) God topples from the sky, hellʹs fires fade: Exit seraphim and Satanʹs men:
29 I shut my eyes and all the world drops dead. I fancied youʹd return the way you said, But I grow old and I forget your name. (I think I made you up inside my head.) I should have loved a thunderbird instead; At least when spring comes they roar back again. I shut my eyes and all the world drops dead. (I think I made you up inside my head.) CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer (Acho que te criei no interior da minha mente) Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, Entra a galope a arbitrária escuridão: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama, Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para a insanidade. (Acho que te criei no interior de minha mente) Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo do inferno: Retiram‐se os serafins e os homens de Satã: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Imaginei que voltarias como prometeste Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome. (Acho que te criei no interior de minha mente) Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente.) MIRROR I am silver and exact. I have no preconceptions. Whatever I see I swallow immediately Just as it is, unmisted by love or dislike. I am not cruel, just truthful ‐ The eye of a little god, four cournered.
30 Most of the time I meditate on the opposite wall. It is pink, with speckles. I have looked at it so long I think it is a part of my heart. But it flickers. Faces and darkness separate us over and over. Now I am a lake. A woman bends over me, Searching my reaches for what she really is. Then she turns to those liars, the candles or the moon. I see her back, and reflect it faithfully. She rewards me with tears and an agitation of hands I am important to her. She comes and goes. Each morning it is her face that replaces the darkness. In me she has drowned a young girl, and in me an old woman Rises toward her day after day, like a terrible fish. ESPELHO Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos. Tudo o que vejo engulo imediatamente Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão. Não sou cruel, apenas verdadeiro ‐ O olho de um pequeno deus, de quatro cantos. Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente. Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo, Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila. Rostos e escuridão nos separam toda hora. Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim, Buscando na minha superfície o que ela realmente é. Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua. Vejo suas costas, e as reflito fielmente. Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos. Sou importante para ela. Ela vem e vai. A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão. Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível. MUSHROOMS Overnight, very Whitely, discreetly, Very quietly Our toes, our noses Take hold on the loam,
31 Acquire the air. Nobody sees us, Stops us, betrays us; The small grains make room. Soft fists insist on Heaving the needles, The leafy bedding, Even the paving. Our hammers, our rams, Earless and eyeless, Perfectly voiceless, Widen the crannies, Shoulder through holes. We Diet on water, On crumbs of shadow, Bland‐mannered, asking Little or nothing. So many of us! So many of us! We are shelves, we are Tables, we are meek, We are edible, Nudgers and shovers In spite of ourselves. Our kind multiplies: We shall by morning Inherit the earth. Our footʹs in the door. COGUMELOS Varando a noite, com Brandura, brancura, Silêncio absoluto, Do artelho aos narizes
32 Tomamos posse da argila E do ar adquirido. Ninguém nos avista, Nos detém, nos agride; Evadem‐se os grãozinhos. Punhos suaves insistem Em brandir agulhas, O recheio folhudo, Até o calçamento. Nossos martelos, marretas, Sem olhos e ouvidos, De voz nem um fio Alargam as gretas, Ombro abrindo fendas. Nós Vivemos a pão e água, Migalhas de sombra, Com modos afáveis, Inquirindo pouco ou nada. São tantos de nós! São tantos de nós! Somos estantes, somos Mesas, somos humildes, Somos comestíveis, Aos trancos e arranques Apesar de nós mesmos Nossa espécie se expande: Pela manhã, havemos De herdar o planeta. E nosso pé porta adentro. RESOLVE Day of mist: day of tarnish with hands
33 unserviceable, I wait for the milk van the one‐eared cat laps its gray paw and the coal fire burns outside, the little hedge leaves are become quite yellow a milk‐film blurs the empty bottles on the windowsill no glory descends two water drops poise on the arched green stem of my neighborʹs rose bush o bent bow of thorns the cat unsheathes its claws the world turns today today I will not disenchant my twelve black‐gowned examiners or bunch my fist in the windʹs sneer. DECISÃO Dia nublado: dia cinzento fico de mãos bobas esperando o leiteiro o gato de uma orelha lambe a pata cinza e ardem brasas em chamas lá fora, vão ficando amarelinhas
34 as folhas da trepadeira uma fina fita de leite embaça garrafas vazias na janela nenhuma glória provém duas gotas se equilibram numa verde envergada haste da roseira na casa ao lado ó se arca de espinhos o gato afia as garras o mundo gira hoje hoje não irei desiludir meus doze engalanados examinadores nem cerrarei meu punho na ironia do vento. SHEEP IN FOG The hills step off into whiteness. People or stars Regard me sadly, I disappoint them. The train leaves a line of breath. O slow Horse the color of rust, Hooves, dolorous bells ‐ All morning the Morning has been blackening, A flower left out. My bones hold a stillness, the far Fields melt my heart. They threaten To let me through to a heaven Starless and fatherless, a dark water.
35 OVELHA NA BRUMA As colinas somem na brancura. Estrelas ou pessoas Olham‐me tristes, vexadas comigo. O trem lega uma linha de sopros. O tardio Cavalo de cor enferrujada, Cascos, dolentes guizos ‐ Toda manhã A Manhã ficou escura. Essa flor perdida. Meus ossos fruem duma calma, os campos Distantes derretem meu coração. Ameaçam Deixar‐me seguir pelo céu Órfão e sem estrelas, água turva. THE MUNICH MANNEQUINS Perfection is terrible, it cannot have children. Cold as snow breath, it tamps the womb Where the yew trees blow like hydras, The tree of life and the tree of life Unloosing their moons, month after month, to no purpouse. The blood flood is the flood of love, The absolute sacrifice. It means: no more idols but me, Me and you. So, in their sulfur loveliness, in their smiles These mannequins lean tonight In Munich, morgue between Paris and Rome, Naked and bald in their furs, Orange lollies on silver sticks,
36 Intolerable, without minds. The snow drops its pieces of darkness, Nobody’s about. In the hotels Hands will be opening doors and setting Down shoes for a polish of carbon Into which broad toes will go tomorrow. O the domesticity of these windows, The baby lace, the green‐leaved confectionery, The thick Germans slumbering in their bottomless Stolz. And the black phones on hooks Glittering Glittering and digesting Voicelessness. The snow has no voice OS MANNEQUINS DE MUNIQUE A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos. Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero Onde os teixos inflam como hidras, A árvore da vida e a árvore da vida. Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo. O jorro de sangue é o jorro do amor, O sacrifício absoluto. Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu Eu e você. Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos Esses manequins se inclinam esta noite Em Munique, necrotério entre Roma e Paris, Nus e carecas em seus casacos de pele, Pirulitos de laranja com hastes de prata Insuportáveis, sem cérebro. A neve pinga seus pedaços de escuridão.
37 Ninguém por perto. Nos hotéis Mãos vão abrir portas e deixar Sapatos no chão para uma mão de graxa Onde dedos largos vão entrar amanhã. Ah, essas domésticas janelas, As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito, Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo. E nos ganchos, os telefones pretos Cintilando Cintilando e digerindo A mudez. A neve não tem voz. OS MANEQUINS DE MUNIQUE A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos. Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero Onde os teixos inflam como hidras, A árvore da vida e a árvore da vida. Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo. O jorro de sangue é o jorro do amor, O sacrifício absoluto. Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu Eu e você. Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos Esses manequins se inclinam esta noite Em Munique, necrotério entre Roma e Paris, Nus e carecas em seus casacos de pele, Pirulitos de laranja com hastes de prata Insuportáveis, sem cérebro. A neve pinga seus pedaços de escuridão. Ninguém por perto. Nos hotéis Mãos vão abrir portas e deixar
38 Sapatos no chão para uma mão de graxa Onde dedos largos vão entrar amanhã. Ah, essas domésticas janelas, As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito, Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo. E nos ganchos, os telefones pretos Cintilando Cintilando e digerindo A mudez. A neve não tem voz. WORDS Axes After whose stroke the wood rings, And the echoes! Echoes traveling Off from the center like horses. The sap Wells like tears, like the Water striving To re‐establish its mirror Over the rock That drops and turns, A white skull, Eaten by weedy greens. Years later I Encounter them on the road‐‐‐ Words dry and riderless, The indefatigable hoof‐taps. While From the bottom of the pool, fixed stars Govern a life.
39 PALAVRAS Golpes, De machado na madeira, E os ecos! Ecos que partem A galope. A seiva Jorra como pranto, como Água lutando Para repor seu espelho sobre a rocha Que cai e rola, Crânio branco Comido pelas ervas. Anos depois, na estrada, Encontro Essas palavras secas e sem rédeas, Bater de cascos incansável. Enquanto Do fundo do poço, estrelas fixas Decidem uma vida. AS FONTES ESTÃO SECAS... As fontes estão secas e as rosas acabaram. Incenso da morte. O teu dia aproxima‐se. As pêras engordam como pequenos budas. Uma névoa azul prolonga o lago. Moves‐te através da era dos peixes, dos presumidos séculos do porco... A cabeça, os dedos dos pés e das mãos saem nítidos da sombra. A História alimenta estas caneluras quebradas, estas coroas de acantos, e o corvo vem arranjar as suas vestes. Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha. Dois suicidas, os lobos da família, horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas
40 já iluminam os céus. A aranha na sua própria teia atravessa o lago. Os vermes abandonam as suas casas habituais. As pequenas aves convergem, convergem com as suas dádivas para um difícil nascimento. AUGE A mulher está perfeita. Morto, Seu corpo mostra um sorriso de satisfação, A ilusão de uma necessidade grega Flui pelas dobras de sua toga, Nus, seus pés Parecem nos dizer: Fomos tão longe, é o fim. Cada criança morta, uma serpente branca, Em volta de cada Vasilha de leite, agora vazia. Ela abraçou Todas em seu seio como pétalas De uma rosa que se fecha quando o jardim Se espessa e odores sangram Da garganta profunda e doce de uma flor noturna. A lua não tem nada que estar triste, Espiando tudo de seu capuz de osso. Ela já está acostumada a isso. Seu lado negro avança e draga.
41 CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer (Acho que te criei no interior da minha mente) Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, Entra a galope a arbitrária escuridão: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama, Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para a insanidade. (Acho que te criei no interior de minha mente) Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo do inferno: Retiram‐se os serafins e os homens de Satã: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Imaginei que voltarias como prometeste Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome. (Acho que te criei no interior de minha mente) Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente) LORELEI Não existe nenhuma noite para nos afogarmos: lua cheia, um rio correndo negro sob um suave reflexo de espelho, névoas azuis da água gotejando de malha para malha como redes de pesca embora os pescadores durmam, torres sólidas do castelo multiplicando‐se num espelho todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam em minha direção, perturbando o rosto
42 da quietude. Do nadir erguem os seus membros plenos de opulência, cabelos mais pesados que o mármore esculpido. Cantam um mundo mais cheio e límpido do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção traz uma carga demasiado pesada para ser escutada pelas espirais do ouvido, aqui, num país onde um sensato senhor governa equilibradamente. Ao serem perturbadas pela harmonia que existem além da ordem deste mundo, as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas nos recifes em declive do pesadelo, prometendo um abrigo certo; de dia, estendem‐se para além dos limites da inércia, das saliências que existem também nas altas janelas. Pior ainda que esta canção de enlouquecer é o vosso silêncio. Na origem do apelo do vosso coração gelado ‐ a embriaguez das grandes profundezas. Ó rio, como vejo serem arrastadas lá no fundo do teu curso de prata, aquelas grandes deusas da paz. Pedra, pedra, leva‐me lá para baixo. OUTONO DE RÃ O verão envelhece, mãe impiedosa. Os insetos vão escassos, esquálidos. Em nossos lares palustres nós apenas Coaxamos e definhamos. As manhas se dissipam em sonolência. O sol brilha pachorrento
43 Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós. O charco nos repugna. A geada cobre até aranhas. Obviamente O deus da plenitude Está morando longe daqui. Nosso povo rareia Lamentavelmente. VENTO QUENTE Lamento cego no vento, dias lunares de inverno, Infância, os passos se perdem discretos em negra sebe, Longo toque noturno. Discreta vem a noite branca, Transforma em sonhos purpúreos tormento e dor Da vida pedregosa, Para que nunca o espinho deixe o corpo em decomposição. Profunda em sono suspira a alma angustiada, Profundo o vento em árvores destruídas, E a figura de lamento da mãe Vagueia pela floresta solitária Desse luto silente; noites Repletas de lágrimas, de anjos de fogo. Prateado, espatifa‐se contra a parede nua um esqueleto de criança. OVELHAS NA NÉVOA As colinas penetram na brancura. Homens ou estrelas olham‐me com tristeza, desiludo‐os. O comboio deixa um rastro do seu alento. Oh vagaroso cavalo da cor da ferrugem, Cascos, dolorosos sinos... Toda a manhã a manhã obscureceu uma flor abandonada. Os meus ossos absorvem a quietude, longínquos campos enternecem o meu coração.
44 Ameaçam levar‐me para um céu sem estrelas e sem pai: uma água negra. PAPOILAS EM JULHO Pequenas papoilas, pequenas chamas infernais, sois inofensivas? Estremeceis. Não posso tocar‐vos. Ponho as minhas mãos por entre as chamas. Mas nada queima. E fico exausta quando vos vejo estremecer assim, pregueadas e rubras como a pele da boca. Uma boca há pouco ensangüentada. Pequenas orlas de sangue! Há nela um fumo que não consigo tocar. Onde está o vosso ópio, as vossas cápsulas nauseabundas? Se eu pudesse esvair‐me em sangue ou dormir!... Se a minha boca conseguisse desposar uma tal ferida! Ou os vossos licores me penetrassem, nesta cápsula de vidro, trazendo‐me a acalmia e o silêncio. Mas sem cor. Sem nenhuma cor. EDGE The woman is perfected. Her dead Body wears the smile of accomplishment, The illusion of a Greek necessity Flows in the scrolls of her toga, Her bare Feet seem to be saying: We have come so far, it is over. Each dead child coiled, a white serpent,
45 One at each little Pitcher of milk, now empty. She has folded Them back into her body as petals Of a rose close when the garden Stiffens and odors bleed From the sweet, deep throats of the night flower. The moon has nothing to be sad about, Staring from her hood of bone. She is used to this sort of thing. Her blacks crackle and drag. LIMITE A mulher está perfeita. Seu corpo Morto enverga o sorriso de completude, A ilusão de necessidade Grega voga pelos veios da sua toga, Seus pés Nus parecem dizer: Já caminhamos tanto, acabou. Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca, Uma para cada pequena Tigela de leite vazia. Ela recolheu‐as todas Em seu corpo, como pétalas Da rosa que se encerra, quando o jardim Enrija e aromas sangram Da fenda doce, funda, da flor noturna. A lua não tem porque estar triste Espectadora de touca
46 De osso; ela está acostumada. Suas crateras trincam, fissura. MAD GIRLʹS LOVE SONG I shut my eyes and all the world drops dead; I lift my lids and all is born again. (I think I made you up inside my head.) The stars go waltzing out in blue and red, And arbitrary blackness gallops in: I shut my eyes and all the world drops dead. I dreamed that you bewitched me into bed And sung me moon‐struck, kissed me quite insane. (I think I made you up inside my head.) God topples from the sky, hellʹs fires fade: Exit seraphim and Satanʹs men: I shut my eyes and all the world drops dead. I dreamed that you bewitched me into bed And sung me moon‐struck, kissed me quite insane. (I think I made you up inside my head.) God topples from the sky, hellʹs fires fade: Exit seraphim and Satanʹs men: I shut my eyes and all the world drops dead. I fancied youʹd return the way you said, But I grow old and I forget your name. (I think I made you up inside my head.) I should have loved a thunderbird instead; At least when spring comes they roar back again. I shut my eyes and all the world drops dead. (I think I made you up inside my head.) CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer (Acho que te criei no interior da minha mente)
47 Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, Entra a galope a arbitrária escuridão: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama, Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para a insanidade. (Acho que te criei no interior de minha mente) Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo do inferno: Retiram‐se os serafins e os homens de Satã: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Imaginei que voltarias como prometeste Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome. (Acho que te criei no interior de minha mente) Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente.) MIRROR I am silver and exact. I have no preconceptions. Whatever I see I swallow immediately Just as it is, unmisted by love or dislike. I am not cruel, just truthful ‐ The eye of a little god, four cournered. Most of the time I meditate on the opposite wall. It is pink, with speckles. I have looked at it so long I think it is a part of my heart. But it flickers. Faces and darkness separate us over and over. Now I am a lake. A woman bends over me, Searching my reaches for what she really is. Then she turns to those liars, the candles or the moon. I see her back, and reflect it faithfully. She rewards me with tears and an agitation of hands I am important to her. She comes and goes. Each morning it is her face that replaces the darkness. In me she has drowned a young girl, and in me an old woman Rises toward her day after day, like a terrible fish.
48 ESPELHO Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos. Tudo o que vejo engulo imediatamente Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão. Não sou cruel, apenas verdadeiro ‐ O olho de um pequeno deus, de quatro cantos. Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente. Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo, Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila. Rostos e escuridão nos separam toda hora. Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim, Buscando na minha superfície o que ela realmente é. Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua. Vejo suas costas, e as reflito fielmente. Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos. Sou importante para ela. Ela vem e vai. A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão. Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível. MUSHROOMS Overnight, very Whitely, discreetly, Very quietly Our toes, our noses Take hold on the loam, Acquire the air. Nobody sees us, Stops us, betrays us; The small grains make room. Soft fists insist on Heaving the needles, The leafy bedding, Even the paving. Our hammers, our rams, Earless and eyeless,
49 Perfectly voiceless, Widen the crannies, Shoulder through holes. We Diet on water, On crumbs of shadow, Bland‐mannered, asking Little or nothing. So many of us! So many of us! We are shelves, we are Tables, we are meek, We are edible, Nudgers and shovers In spite of ourselves. Our kind multiplies: We shall by morning Inherit the earth. Our footʹs in the door. COGUMELOS Varando a noite, com Brandura, brancura, Silêncio absoluto, Do artelho aos narizes Tomamos posse da argila E do ar adquirido. Ninguém nos avista, Nos detém, nos agride; Evadem‐se os grãozinhos. Punhos suaves insistem Em brandir agulhas, O recheio folhudo, Até o calçamento. Nossos martelos, marretas,
50 Sem olhos e ouvidos, De voz nem um fio Alargam as gretas, Ombro abrindo fendas. Nós Vivemos a pão e água, Migalhas de sombra, Com modos afáveis, Inquirindo pouco ou nada. São tantos de nós! São tantos de nós! Somos estantes, somos Mesas, somos humildes, Somos comestíveis, Aos trancos e arranques Apesar de nós mesmos Nossa espécie se expande: Pela manhã, havemos De herdar o planeta. E nosso pé porta adentro. RESOLVE Day of mist: day of tarnish with hands unserviceable, I wait for the milk van the one‐eared cat laps its gray paw and the coal fire burns outside, the little hedge leaves are become quite yellow a milk‐film blurs the empty bottles on the windowsill
51 no glory descends two water drops poise on the arched green stem of my neighborʹs rose bush o bent bow of thorns the cat unsheathes its claws the world turns today today I will not disenchant my twelve black‐gowned examiners or bunch my fist in the windʹs sneer. DECISÃO Dia nublado: dia cinzento fico de mãos bobas esperando o leiteiro o gato de uma orelha lambe a pata cinza e ardem brasas em chamas lá fora, vão ficando amarelinhas as folhas da trepadeira uma fina fita de leite embaça garrafas vazias na janela nenhuma glória provém duas gotas se equilibram numa verde envergada haste da roseira na casa ao lado ó se arca de espinhos o gato afia as garras
52 o mundo gira hoje hoje não irei desiludir meus doze engalanados examinadores nem cerrarei meu punho na ironia do vento. SHEEP IN FOG The hills step off into whiteness. People or stars Regard me sadly, I disappoint them. The train leaves a line of breath. O slow Horse the color of rust, Hooves, dolorous bells ‐ All morning the Morning has been blackening, A flower left out. My bones hold a stillness, the far Fields melt my heart. They threaten To let me through to a heaven Starless and fatherless, a dark water. OVELHA NA BRUMA As colinas somem na brancura. Estrelas ou pessoas Olham‐me tristes, vexadas comigo. O trem lega uma linha de sopros. O tardio Cavalo de cor enferrujada, Cascos, dolentes guizos ‐ Toda manhã A Manhã ficou escura. Essa flor perdida.
53 Meus ossos fruem duma calma, os campos Distantes derretem meu coração. Ameaçam Deixar‐me seguir pelo céu Órfão e sem estrelas, água turva. THE MUNICH MANNEQUINS Perfection is terrible, it cannot have children. Cold as snow breath, it tamps the womb Where the yew trees blow like hydras, The tree of life and the tree of life Unloosing their moons, month after month, to no purpouse. The blood flood is the flood of love, The absolute sacrifice. It means: no more idols but me, Me and you. So, in their sulfur loveliness, in their smiles These mannequins lean tonight In Munich, morgue between Paris and Rome, Naked and bald in their furs, Orange lollies on silver sticks, Intolerable, without minds. The snow drops its pieces of darkness, Nobody’s about. In the hotels Hands will be opening doors and setting Down shoes for a polish of carbon Into which broad toes will go tomorrow. O the domesticity of these windows, The baby lace, the green‐leaved confectionery, The thick Germans slumbering in their bottomless Stolz. And the black phones on hooks
54 Glittering Glittering and digesting Voicelessness. The snow has no voice OS MANNEQUINS DE MUNIQUE A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos. Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero Onde os teixos inflam como hidras, A árvore da vida e a árvore da vida. Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo. O jorro de sangue é o jorro do amor, O sacrifício absoluto. Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu Eu e você. Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos Esses manequins se inclinam esta noite Em Munique, necrotério entre Roma e Paris, Nus e carecas em seus casacos de pele, Pirulitos de laranja com hastes de prata Insuportáveis, sem cérebro. A neve pinga seus pedaços de escuridão. Ninguém por perto. Nos hotéis Mãos vão abrir portas e deixar Sapatos no chão para uma mão de graxa Onde dedos largos vão entrar amanhã. Ah, essas domésticas janelas, As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito, Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo. E nos ganchos, os telefones pretos Cintilando Cintilando e digerindo
55 A mudez. A neve não tem voz. OS MANEQUINS DE MUNIQUE A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos. Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero Onde os teixos inflam como hidras, A árvore da vida e a árvore da vida. Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo. O jorro de sangue é o jorro do amor, O sacrifício absoluto. Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu Eu e você. Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos Esses manequins se inclinam esta noite Em Munique, necrotério entre Roma e Paris, Nus e carecas em seus casacos de pele, Pirulitos de laranja com hastes de prata Insuportáveis, sem cérebro. A neve pinga seus pedaços de escuridão. Ninguém por perto. Nos hotéis Mãos vão abrir portas e deixar Sapatos no chão para uma mão de graxa Onde dedos largos vão entrar amanhã. Ah, essas domésticas janelas, As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito, Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo. E nos ganchos, os telefones pretos Cintilando Cintilando e digerindo A mudez. A neve não tem voz.
56 WORDS Axes After whose stroke the wood rings, And the echoes! Echoes traveling Off from the center like horses. The sap Wells like tears, like the Water striving To re‐establish its mirror Over the rock That drops and turns, A white skull, Eaten by weedy greens. Years later I Encounter them on the road‐‐‐ Words dry and riderless, The indefatigable hoof‐taps. While From the bottom of the pool, fixed stars Govern a life. PALAVRAS Golpes, De machado na madeira, E os ecos! Ecos que partem A galope. A seiva Jorra como pranto, como Água lutando Para repor seu espelho sobre a rocha Que cai e rola, Crânio branco Comido pelas ervas.
57 Anos depois, na estrada, Encontro Essas palavras secas e sem rédeas, Bater de cascos incansável. Enquanto Do fundo do poço, estrelas fixas Decidem uma vida. AS FONTES ESTÃO SECAS... As fontes estão secas e as rosas acabaram. Incenso da morte. O teu dia aproxima‐se. As pêras engordam como pequenos budas. Uma névoa azul prolonga o lago. Moves‐te através da era dos peixes, dos presumidos séculos do porco... A cabeça, os dedos dos pés e das mãos saem nítidos da sombra. A História alimenta estas caneluras quebradas, estas coroas de acantos, e o corvo vem arranjar as suas vestes. Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha. Dois suicidas, os lobos da família, horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas já iluminam os céus. A aranha na sua própria teia atravessa o lago. Os vermes abandonam as suas casas habituais. As pequenas aves convergem, convergem com as suas dádivas para um difícil nascimento. AUGE A mulher está perfeita. Morto, Seu corpo mostra um sorriso de satisfação, A ilusão de uma necessidade grega
58 Flui pelas dobras de sua toga, Nus, seus pés Parecem nos dizer: Fomos tão longe, é o fim. Cada criança morta, uma serpente branca, Em volta de cada Vasilha de leite, agora vazia. Ela abraçou Todas em seu seio como pétalas De uma rosa que se fecha quando o jardim Se espessa e odores sangram Da garganta profunda e doce de uma flor noturna. A lua não tem nada que estar triste, Espiando tudo de seu capuz de osso. Ela já está acostumada a isso. Seu lado negro avança e draga. CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer (Acho que te criei no interior da minha mente) Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, Entra a galope a arbitrária escuridão: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama, Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para a insanidade. (Acho que te criei no interior de minha mente) Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo do inferno: Retiram‐se os serafins e os homens de Satã: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Imaginei que voltarias como prometeste Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome.
59 (Acho que te criei no interior de minha mente) Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente) CONTUSÃO A cor invade o lugar, púrpura baça. O resto do corpo está todo pálido, Cor de pérola. Numa fenda de rocha O mar suga obsessivamente, Uma cavidade o âmago de todo o mar. Do tamanho de uma mosca, A marca do destino Rasteja muro abaixo. O coração se fecha. O mar reflui, Os espelhos são cobertos. LORELEI Não existe nenhuma noite para nos afogarmos: lua cheia, um rio correndo negro sob um suave reflexo de espelho, névoas azuis da água gotejando de malha para malha como redes de pesca embora os pescadores durmam, torres sólidas do castelo multiplicando‐se num espelho todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam em minha direção, perturbando o rosto da quietude. Do nadir erguem os seus membros plenos de opulência, cabelos mais pesados
60 que o mármore esculpido. Cantam um mundo mais cheio e límpido do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção traz uma carga demasiado pesada para ser escutada pelas espirais do ouvido, aqui, num país onde um sensato senhor governa equilibradamente. Ao serem perturbadas pela harmonia que existem além da ordem deste mundo, as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas nos recifes em declive do pesadelo, prometendo um abrigo certo; de dia, estendem‐se para além dos limites da inércia, das saliências que existem também nas altas janelas. Pior ainda que esta canção de enlouquecer é o vosso silêncio. Na origem do apelo do vosso coração gelado ‐ a embriaguez das grandes profundezas. Ó rio, como vejo serem arrastadas lá no fundo do teu curso de prata, aquelas grandes deusas da paz. Pedra, pedra, leva‐me lá para baixo. VENTO QUENTE Lamento cego no vento, dias lunares de inverno, Infância, os passos se perdem discretos em negra sebe, Longo toque noturno. Discreta vem a noite branca, Transforma em sonhos purpúreos tormento e dor Da vida pedregosa, Para que nunca o espinho deixe o corpo em decomposição. Profunda em sono suspira a alma angustiada,
61 Profundo o vento em árvores destruídas, E a figura de lamento da mãe Vagueia pela floresta solitária Desse luto silente; noites Repletas de lágrimas, de anjos de fogo. Prateado, espatifa‐se contra a parede nua um esqueleto de criança.
62 BIBLIOGRAFIA EM PORTUGUÊS SYLVIA PLATH – POEMAS (ILUMINURAS 1991) TRAD. RODRIGO GARCIA LOPES E MAURÍCIO ARRUDA PELA ÁGUA (CROSSING THE WATER) (PAISAGEM, S/D) O TERNO TANTO FAZ QUANTO TANTO FEZ (THE IT DOESN’T MATTER SUIT) (ROCCO) ZÉ SUSTO E A BÍBLIA DOS SONHOS (JOHNNY PANIC AND THE BIBLE OF DREAMS) (PAISAGEM) A REDOMA DE CRISTAL (THE BELL JAR) (ARTENOVA, 1971) - TRAD. MARIA LUÍZA NOGUEIRA A REDOMA DE VIDRO (THE BELL JAR) (GLOBO, 1992) - TRAD. LYA LUFT A CAMPANULA DE VIDRO (THE BELL JAR) (ASSÍRIO E ALVIM) QUINGUMBO - NOVA POESIA NORTE-AMERICANA – ORG. KERRY SHAWN KEYS (ESCRITA, 1980) ANTOLOGIA DA NOVA POESIA NORTE-AMERICANA (SEL. E TRAD. JORGE WANDERLEY) (CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, 1992) NOVOS ESTUDOS CEBRAP 15 POEMAS (CEBRAP, 1990) - TRAD. VINICIUS DANTAS LETRAS EM TRADUZÍO – ANTOLOGIA – (PUC-RIO, 1994) AMARGA FAMA - UMA BIOGRAFIA DE SYLVIA PLATH (ROCCO, 1992) - TRAD. LYA LUFT BIBLIOGRAFIA EM INGLÊS THE COLOSSUS & OTHER POEMS (1960) ARIEL (1965) CROSSING THE WATER (1971) WINTER TREES (1971) THE COLLECTED POEMS OF SYLVIA PLATH (1981) *VENCEDOR DO PRÊMIO PULITZER* SELECTED POEMS (1985) EVERYMAN (1998) ARIEL: THE RESTORED EDITION (2004) THE BELL JAR (1963) *BY VICTORIA LUCAS* THE BELL JAR (1967) *BY SYLVIA PLATH* LETTERS HOME (1975) JOHNNY PANIC AND THE BIBLE OF DREAMS (1977) THE JOURNALS OF SYLVIA PLATH (1982) THE MAGIC MIRROR (1989) *PLATH'S SMITH SENIOR THESIS* THE UNABRIDGED JOURNALS OF SYLVIA PLATH (2000) THE BED BOOK (1976) THE IT-DOESN'T-MATTER-SUIT (1996) COLLECTED CHILDREN'S STORIES (UK, 2001) MRS. CHERRY'S KITCHEN (2001) A WINTER SHIP (1960) THREE WOMEN, A MONOLOGUE FOR THREE VOICES (1968) UNCOLLECTED POEMS (1965) WREATH FOR A BRIDAL (1970) THE SURGEON AT 2 A.M. & OTHER POEMS (1971) CRYSTAL GAZER (1971) FIESTA MELONS (1971) LYONNESSE (1971) MILLION DOLLAR MONTH (1971) CHILD (1971) PURSUIT (1974) TWO POEMS (1980) TWO UNCOLLECTED POEMS (1980) DIALOGUE OVER A OUIJA BOARD (1981) ABOVE THE OXBOW (1985) A DAY IN JUNE: PROSE (1981) THE GREEN ROCK: PROSE (1982) AMONG THE NARCISSI: BROADSIDE (1971) LIVROS SOBRE SYLVIA PLATH. A CLOSER LOOK AT ARIEL BY NANCY HUNTER-STEINER A DISTURBANCE OF MIRRORS BY PAMELA ANNAS A REVOLUTION IN TASTE BY LOUIS SIMPSON ARIEL ASCENDING EDITED BY PAUL ALEXANDER ARIEL'S GIFT BY ERICA WAGNER BITTER FAME BY ANNE STEVENSON CHAPTERS IN A MYTHOLOGY BY JUDITH KROLL CRITICAL ESSAYS ON SYLVIA PLATH EDITED BY LINDA WAGNER MARTIN DOUBLE-CONSCIOUSNESS AND THE PROTEAN SELF IN SP'S ARIEL BY SANDRA LIM GREAT WRITERS: SYLVIA PLATH BY PETER K. STEINBERG
63 HER HUSBAND: HUGHES AND PLATH -- A MARRIAGE BY DIANE MIDDLEBROOK KEEPERS OF THE FLAME BY IAN HAMILTON MY LIFE A LOADED GUN BY PAULA BENNETT NEW VIEWS ON THE POETRY EDITED BY GARY LANE OUT OF THE CRADLE ENDLESSLY ROCKING: MOTHERHOOD IN SYLVIA PLATHS WORKS BY NEPHIE CHRISTODOULIDES PASSIONATE LIVES BY JOHN TYTELL PLATH'S INCARNATIONS BY LYNDA BUNDZTEN PROTEAN POETIC: THE POETRY OF SYLVIA PLATH BY MARY LYNN BROE REFLECTIONS ON THE BELL JAR BY PAT MACHPHERSON REVISING LIFE: THE ARIEL POEMS BY SUSAN VAN DYNE ROUGH MAGIC BY PAUL ALEXANDER SUISONG BY LYNNE SALOP SYLVIA AND TED BY EMMA TENNANT SYLVIA PLATH BY SUSAN BASSNETT SYLVIA PLATH BY ELISABETH BROFEN SYLVIA PLATH BY ROBYN MARSACK SYLVIA PLATH & TED HUGHES BY MARGARET DICKIE-UROFF SYLVIA PLATH AND THE THEATRE OF MOURNING BY CHRISTINA BRITZOLAKIS SYLVIA PLATH, REVISED BY CAROLINE KING BARNARD HALL SYLVIA PLATH: A BIOGRAPHY BY LINDA WAGNER-MARTIN SYLVIA PLATH: A CRITICAL STUDY BY TIM KENDALL SYLVIA PLATH: A LITERARY LIFE BY LINDA WAGNER-MARTIN SYLVIA PLATH: A REFERENCE GUIDE, 1973-1988 BY SHERYL MEYERING SYLVIA PLATH: AN ANALYTICAL BIBLIOGRAPHY BY STEPHAN TABOR SYLVIA PLATH: HER LIFE AND WORK BY EILEEN AIRD SYLVIA PLATH: KILLING THE ANGEL IN THE HOUSE BY ELAINE CONNELL SYLVIA PLATH: METHOD & MADNESS BY EDWARD BUTSCHER SYLVIA PLATH: MODERN CRITICAL VIEWS BY HAL BLOOM SYLVIA PLATH: POETRY AND EXISTENCE BY DAVID HOLBROOK SYLVIA PLATH: THE FEAR & FURY OF HER MUSE BY PASHUPATI JHA SYLVIA PLATH: THE JOURNEY TOWARDS ARIEL BY JANICE MARKEY SYLVIA PLATH: THE POETICS OF BEEKEEPING BY FREDERICKE HABERKAMPE SYLVIA PLATH: THE POETRY OF INITIATION BY JOHN ROSENBLATT SYLVIA PLATH: THE SHAPING OF SHADOWS BY AL STRANGEWAYS SYLVIA PLATH: THE WOMAN & THE WORK BY EDWARD BUTSCHER SYLVIA PLATH: THE WOUND & THE CURE FOR WORDS BY STEVEN AXELROD SYLVIA PLATH: VOICES IN POETRY BY LYNN CAMPBELL THE ART OF SYLVIA PLATH: A SYMPOSIUM EDITED BY CHARLES NEWMAN THE BELL JAR: A NOVEL OF THE FIFTIES BY LINDA WAGNER-MARTIN THE BELL JAR: CLIFFS NOTES BY MR. CLIFF NOTES THE CONFESSIONAL POETS BY ROBERT PHILLIPS THE DEATH AND LIFE OF SYLVIA PLATH BY RONALD HAYMAN THE FADING SMILE BY PETER DAVISON THE HAUNTING OF SYLVIA PLATH BY JACQUELINE ROSE THE OTHER ARIEL BY LYNDA K BUNDTZEN THE OTHER SYLVIA PLATH BY TRACY BRAIN THE POET SPEAKS EDITED BY PETER ORR THE POETRY OF SYLVIA PLATH: ICON CRITICAL GUIDES BY BRENNAN THE POETRY OF SYLVIA PLATH: A STUDY OF THEMES BY INGRID MELANDER THE SAVAGE GOD BY A. ALVAREZ THE SILENT WOMAN BY JANET MALCOLM THEME & VERSION: PLATH AND RONSARD EDITED BY ANTHONY RUDOLF TYS POEMS OF SYLVIA PLATH BY TEACH YOURSELF LITERATURE GUIDES VOICES & VISIONS EDITED BY HELEN VENDLER WINTERING BY KATE MOSES WRITING BACK: SP & COLD WAR POLITICS BY ROBIN PEEL YORK NOTES ON THE SELECTED WORKS BY YORK SYLVIA PLATH: A DRAMATIC PORTRAIT BY BARRY KYLE SLEEPING WITH SYLVIA PLATH BY ROBERT NOVAK
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Voces, blogues, traducións SOÑOS SALVACIÓN @ “Sensación de ser un fraude”. Resultoume familiar esa sensación. Lera nalgures algo semellante ultimamente. Si, claro, Sylvia Plath: “Acúsome de hipócrita, de facerme pasar por mellor do que son e de ser, no fondo, un verdadeiro desastre”. Eu, ás veces, tamén me sinto así, profesionalmente sobre todo. Parece que teño respostas a todas as preguntas e o único que controlo son os medios para atopalas. O PAXARO GASEADO @ O libro de Sylvia Plath, que rescatei o venres dos andeis, está agora enriba da miña almofada. “Ted colocou o tubo de goma do baño no mecheiro de gas da cociña e suxeitou o outro extremo á caixa de cartón. Eu fun incapaz de mirar e choraba e choraba. O sufrimento é tiránico. Eu sentía a urxencia desesperada de quitarmos de enriba o paxariño enfermo, especialmente entristecida polo seu valor e o seu bo carácter. Finalmente mirei. Ted sacárao demasiado pronto da caixa e tíñao boca arriba na man, abrindo e pechando o pico lastimosamente e axitando as patas. Cinco minutos despois tróuxomo, sereno, perfecto e fermoso na morte”. Erguínme, preparei o meu primeiro té do día e, líquida na humidade de detrás das ventás, vin a Sylvia Plath abrir a chave do gas, meter a cabeza no forno da cociña e morrer fermosa ós meus pés. Sentinme enferma. CLUB DE POETAS SUICIDAS @ A poeta Ana Romaní ofrecerá hoxe no clube de jazz Dado Dadá de Compostela un recital baixo o título "Catro poetas suicidas. Intervención poética contra a levidade". O acto, que conta coa producción do Laboratorio de Indagacións Poéticas, achegará ó público os poemas de Marina Tsvietaieva, Florbela Espanca, Sylvia Plath e Anne Sexton, combinadas con narracións sobre os últimos intres das súas vidas. Este espectáculo mestura así a poesía e a técnica de contacontos e naceu dunha proposta do actor e contacontos Carlos Blanco. Seguno Romaní, esta iniciativa pretende facer chegar a palabra "espida completamente" ó público e crear "unha sensación de impacto, de conmoción", ó tempo que fai pensar. NENO O teu ollo claro é a única beleza absoluta. Quero encher de cor e patos, O zoo das novidades Cuxos nomes ti meditas A neve de abril, a pipa india, A pequena Órbita sen enruga, Chea de imaxes Debería ser grande e permanente Non estas problemáticas Mans enchoupadas, este escuro Teito sen estrela Trad. Claudia Castro
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MaTeRiAl
rEcIcLáVeL ReCoRtEs & eTc. rEcOlHiDoS NuM lIxÃo dE CA CH AM BI
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Manuscritos & Rascunhos Sylvia Plath
“S T I N G S” © 1982 The Sylvia Plath Collection do Smith College
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Meu álbum de fotos da musa imortal e inesquecível apaixonada de toda a minha vida sem a qual não poderia sobreviver ao holocausto que foi o seu suicídio naquele dia fatídico de tanto de tanto de mil novecentos e tanto: minha eterna musa sylvia plath eu te amo e declaro de todo o meu coração ser impossível viver sem ti. Adeus mundo ingrato!
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93 O Fã de Sylvia Plath que ajuntou estes dispersos sou eu: Salomão Rovedo (1942), formação cultural em São Luis (MA), residente no Rio de Janeiro. Sou escritor e participei de vários movimentos poéticos nas décadas 60/70/80, tempos do mimeógrafo, das bancas na Cinelândia, das manifestações em teatros, bares e espaços públicos. Tenho textos publicados em: Abertura Poética (Antologia), Walmir Ayala/César de Araújo-CS, Rio de Janeiro, 1975; Tributo (Poesia)-Ed. do Autor, Rio de Janeiro, 1980; 12 Poetas Alternativos (Antologia), Leila Míccolis/Tanussi Cardoso-Trotte, Rio de Janeiro, 1981; Chuva Fina (Antologia), org. Leila Míccolis/Tanussi Cardoso-Trotte, Rio de Janeiro, 1982; Folguedos (Poesia/Folclore), c/Xilogravuras de Marcelo Soares-Ed.dos AA, Rio de Janeiro, 1983; Erótica (Poesia), c/Xilogravuras de Marcelo Soares-Ed. dos AA, Rio de Janeiro, 1984; Livro das Sete Canções (Poesia)-Ed. do Autor, Rio de Janeiro, 1987. Alguns inéditos que estou tentando publicar em e-books: Liriana (Contos), O Breve Reinado das Donzelas (Contos), Estrela Ambulante (Contos), O Pacto dos Meninos da Rua Bela (Contos), Ventre das Águas (Romance), Poesia de Cordel - O Poeta é Sua Essência (Ensaios), O Cometa de Halley e Outros Ensaios (Artigos Publicados em Jornais), (Poesia): Pobres Cantares, 20 Poemas Pornôs e 1 Canção Ejaculada, Glosas Escabrosas (Xilogravura de Marcelo Soares), Blues Azuis & Boleros Imperfeitos, Ventre das Águas, Amaricanto, Viola Baudelaireana e Outras Violas, Templo das Afrodites, Amor a São Luís e Ódio, Anjos Pornôs, Macunaíma (Em Cordel). Outras coisinhas que fiz: publiquei folhetos de cordel com o pseudo de Sá de João Pessoa; editei o jornalzinho de poesia Poe/r/ta; colaborei esparsamente em: Poema Convidado(USA), La Bicicleta(Chile), Poetica(Uruguai), Alén(Espanha), Jaque(Espanha), Ajedrez 2000(Espanha), O Imparcial(MA), Jornal do Dia(MA), Jornal do Povo(MA), A Toca do (Meu) Poeta (PB), Jornal de Debates(RJ), Opinião(RJ), O Galo(RN), Jornal do País(RJ), DO Leitura(SP), Diário de Corumbá(MS) – e outras ovelhas desgarradas, principalmente pela Internet. Tenho também e-books disponíveis gratuitamente no site: www.dominiopublico.gov.br Endereço: Rua Basílio de Brito, 28/605-Cachambi-20785-000-Rio de Janeiro Rio de Janeiro Brasil - Tel: +55 21 2201-2604 Foto: Priscila Rovedo
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