Salomão Rovedo (Texto, pesquisa e organização)
Viagem em torno de
Dom Quixote Rio de Janeiro 2008
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SalomĂŁo Rovedo
Viagem em torno de Dom Quixote de La Mancha e de um tal Miguel de Cervantes Saavedra
Rio de Janeiro 2008
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Viagem em torno de Dom Quixote de La Mancha e de um tal Miguel de Cervantes Saavedra Atenção! Este trabalho é de um leitor de Cervantes, são anotações feitas ao longo da segunda leitura do Dom Quixote (de uma edição obsoleta). Escritos de um escritor amador, portanto sujeito a falhas, omissões e com certeza sem nenhuma erudição. Mas foi produzido com amor e prazer, trazidos pela leitura amena, alegre e divertida das aventuras do Ilustre Cavaleiro e seu fiel escudeiro Sancho. Rio de Janeiro, Cachambi, 2002/2004 e-mail: rovedod10@gmail.com Blog: http://ww.salomaorovedo.blogspot.com/
FÓRMULAS, ADAGIÁRIO, FRASES FEITAS, EXPRESSÕES, POESIAS, CURIOSIDADES, REFERÊNCIAS, LIVROS, AUTORES, PERSONAGENS, etc. referentes ao livro O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha, o desfazedor de agravos e sem-razões, o cavaleiro da triste figura, narrados por Cide Hamete Benengeli, flor dos historiadores mouro-hispânicos, a Miguel de Cervantes, no ano da graça de 1605, parte I e também a O engenhoso cavaleiro Dom Quixote de La Mancha 1615, parte II. Tradução Viscondes de Castilho e Azevedo e Fernando Nuno Rodrigues (Editora Nova Cultural, São Paulo 2002) e de El ingenioso hidalgo Don Quijote de La Mancha, Parte I, e El ingenioso caballero Don Quijote de La Mancha, Parte II, edição, introdução, notas, comentários e apêndice por Ángel Basanta (Biblioteca Didáctica Anaya, Madrid 1987).
"Oh Dulcinéia del Toboso, dia da minha noite, glória da minha pena, norte dos meus caminhos, estrela da minha ventura (assim o céu ta depare favorável em tudo que lhe pedireis!), considera, te peço, o lugar e o estado a que a tua ausência me conduziu e corresponde propícia ao que deves à minha fé!" Dom Quixote (no local que o Cavaleiro da Triste Figura escolheu para penitência) Cap. XV, I
"Oh flor da cavalaria! Que só com uma paulada acabaste a carreira dos teus anos, tão bem empregados! Oh honra da tua linhagem, glória e maravilha da Mancha, e até de todo o mundo, que, faltando-lhe tu, ficará cheio de malfeitores, sem receio de serem castigados pelas suas malfeitorias! Oh tu, mais liberal que todos os Alexandres, pois, só por oito meses de serviço me tinhas dado a melhor ilha que o mar cinge e rodeia! Oh humilde com os soberbos e arrogante com os humildes, afrontador de perigos, sofredor de injúrias, namorado sem causa, incitador dos bons, açoite dos maus, inimigo dos ruins, enfim, cavaleiro andante, que é o mais que se pode dizer!" Sancho Pança (lamentando-se sobre o corpo abatido de Dom Quixote) Cap. LII, I **********
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Viagem em torno de Dom Quixote de La Mancha e de um tal Miguel de Cervantes Saavedra (Parte I)
1 - Um tal Miguel de Cervantes Saavedra
2 - A época, os inimigos e os amigos, os póstumos
3 - Os vizinhos, as influências, muitos agregados
4 - O famoso Dom Quixote de La Mancha
5 - Quando o herói é Sancho Pança
6 - Para ler o Dom Quixote
7 - Um leitor entrevista Miguel de Cervantes
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UM TAL MIGUEL DE CERVANTES SAAVEDRA
Miguel de Cervantes e Saavedra (Alcalá de Henares 1547-Madri 1616), famoso escritor espanhol, provável descendente de família nobre. O fundador da estirpe familiar foi o Cavaleiro de Cervantes, originário da região de León, cujo maior feito foi acompanhar Fernando III, o Santo, na reconquista de Sevilha em 1248. Entre os conquistadores da América do Sul, há também referência a Don Juan Ortiz de Cervantes, contemporâneo de Garcilaso de la Vega, el Inca, famoso conquistador e imperador do Peru. Juan Ortiz de Cervantes escreveu “Memoriales”, obra que se tornou célebre porque denunciava os espanhóis que vinham para as colônias com o fim único de fazer riqueza pessoal, rápida, fácil e sempre criminosa, em detrimento dos serviços que poderiam prestar à Espanha. Porém, não se sabe se há parentesco entre eles.
A família de Miguel de Cervantes não era rica, o pai, cirurgião de vida errante, mudava-se constantemente e portanto não pôde oferecer uma educação regular, obrigando-o a tornar-se autodidata. Mesmo assim, Cervantes fez os primeiros estudos na então famosa Universidade de Alcalá de Henares, que competia em reputação com a de Salamanca, numa época em que para os menos afortunados a ascensão social se dava através da arte, do clero ou do ingresso no exército, mas não necessariamente nessa ordem. Sob a égide de tais profissões todos se igualavam, poderiam crescer socialmente: piratas viravam almirante, renegados eram vice-reis, padrecos viravam bispos, um e outro poderia ter a sorte de ser nomeado ministro ou conselheiro. Só para dar um exemplo: os irmãos Francisco, Hernando e Gonzalo Pizarro, tidos como grandes conquistadores, eram pobres e analfabetos. Após participar em várias guerras na Itália, ganharam o direito de viajar à América, chegando ao Peru, trucidaram os imperadores Incas e assassinaram os vice-reis nomeados pela corte espanhola. Para se tornarem ricos, saquearam as riquezas locais, envolveram-se em golpes milionários, ações que resultavam em inúmeros assassinatos e crimes. Ante tamanha virulência os irmãos Pizarro acabaram mortos por mando de um de seus muitos inimigos.
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Na Espanha de Cervantes, a origem social, porém, não garantia acesso à nobreza da época, que não oferecia nenhuma opção de crescimento a quem não pertencesse ao clero e à realeza. As famílias preparavam os varões dando-lhe educação necessária para seguir a vida militar, servindo o exército sob as ordens dos generais nobres. Cervantes deveria ter sido um bom espadachim porque em 1569 foi aconselhado a emigrar para a Itália, em virtude de ter ocasionado ferimentos em duelo no cavaleiro Antônio de Segura. Já em 1570 estava Cervantes trabalhando em Roma, como camareiro e secretário do Cardeal Júlio Acquaviva y Aragón. Nessa ocasião teve a chance de aprimorar os seus conhecimentos. Na cidade havia boas bibliotecas, mestres renomados, poetas e artistas famosos, que viviam em contato cotidiano, oportunidade da qual ele se aproveitou muito bem. Teve os meios favoráveis para alimentar o espírito com obras dos maiores mestres do pensamento ocidental, de ouvir alguns pessoalmente, a tirou bom proveito dessa chance.
Para conquistar seu espaço Cervantes teve de se candidatar a herói, antes de ser escritor. Ligou-se a Dom Diego de Urbina, oficial de Miguel de Moncada, do exército espanhol. Em 1571 estava em plena atividade: combateu em Lepanto, batalha que ficou famosa, porque ali as forças da Santa Liga, formada após a tomada de Chipre pelos turcos, comandadas pelo grande estrategista Juan da Áustria, meio-irmão de Filipe II, destruíram a frota otomana. Cervantes lutou lado a lado com guerreiros, mercenários, piratas, aventureiros, entre os quais El Uchalí e Diego de Urbina, que se sobressaíram e foram aquinhoados com honrarias e reinos. Cervantes feriu a mão, parte do braço esquerdo ficou defeituoso, mas jamais deixou de se referir com orgulho a essa participação, como o mais importante feito da frustrada carreira militar. A ela se referiu mais de uma vez no em suas obras, com grandes esperanças de crescer socialmente, para isso conseguiu de Juán de Áustria recomendação para ser promovido a capitão, pretensão barrada por Filipe II.
Sete meses depois Cervantes, recuperado dos ferimentos que teve em Lepanto, imediatamente voltou às atividades militares. Lutou na Itália e no Norte da África. Em 1575, estando a bordo da galera El Sol junto com seu
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irmão Rodrigo, foi capturado e levado para Argel em poder dos piratas barbarescos que o guardaram durante cinco anos em cativeiro. Foi resgatado junto com 184 outros prisioneiros e levado de volta à Espanha. Cervantes continuou na carreira militar, depois ocupou o cargo comissário de víveres de Filipe II, até o desastre da Invencível Armada, quando foi acusado de exações, encarcerado e excomungado.
Sob o reinado de Filipe III, Cervantes pôde provar sua inocência e se reabilitar. Foi perdoado e nomeado inspetor de impostos, passou a integrar a corte livrando-se de problemas materiais e financeiros. Agora poderia consagrar-se à literatura, mas para sobreviver teria de enfrentar não só a concorrência de uma literatura pujante, mas, principalmente, o poder de Lope de Vega, seu desafeto, autor de peças teatrais famosas, protegido e membro da Inquisição. Após ter escrito “Numancia” e “A vida em Argel”, baseados em suas aventuras, publicou um romance pastoril, “A Galatéia”, cujo relativo sucesso o encorajou a seguir escrevendo. Em 1584 Cervantes casou-se e fixou residência em Esquivias, terra da esposa, mas fazia seguidas viagens à capital onde produzia farsas (entremezes), representadas no teatro de Madri. Sempre inquieto, mudou-se para Sevilha, passou algum tempo em La Mancha, indo depois para Valladolid, aonde o rei Filipe III havia transferido a corte. Nessa cidade ocorreu outro fato pouco claro, que levou Cervantes e toda a família a sofrer prisão domiciliar por vários meses.
Uma noite, ao recolher-se à sua casa, Dom Gaspar de Ezpeleta, Cavaleiro de São Jorge, pessoa muito conhecida, teve de cruzar espada com alguém que surgiu no caminho. Dom Gaspar foi ferido gravemente no duelo e tombou gemendo nas imediações da casa de Cervantes. Acudiu-lhe um vizinho de nome Estéban de Garibay, que chamou Cervantes para ajudá-lo a socorrer o ferido. De pouco serviu o auxílio porque, momentos depois, Dom Gaspar de Ezpeleta morreria nos braços de ambos. Interveio a justiça, ignorando quem seria o culpado, mas as primeiras suspeitas recaíram sobre Cervantes, para cuja habitação havia sido levado o ferido. Ainda que Garibay e outros vizinhos
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testemunhassem favoravelmente, um tal Hernández de Toledo, mais Simão Mendez, se apresentaram para depor contra Cervantes, declarando este como inimigo de Ezpeleta, que tinha o costume de visitar várias famílias onde também habitava o acusado. Portanto, era de se presumir que Cervantes tivesse armado alguma cilada, da qual resultou a desgraça.
Todo o depoimento estava eivado de contradições, carregado de ódio que ambos tinham ao escritor, mas foi suficiente para que as más línguas tornassem suspeita a sua honra, já muito provada e acabou por condená-lo a uma reclusão domiciliar rigorosa. Foi talvez a ferida aberta na sua dignidade, pelo triunfo parcial dos caluniadores, que o levou a escrever no Dom Quixote: "Esteja onde estiver a virtude elevada a alto grau, é certo ser perseguida. Poucos ou nenhuns dos varões ilustres do passado deixaram de ser caluniados por simples maldade."
Nas desventuras, na afinidade com idéias e ideais inabaláveis, encontrou matéria para o “Dom Quixote de la Mancha”. Em 1604 terminou de escrever a primeira parte de Dom Quixote, obtendo permissão para publicá-la. Em 1605 saiu a publicação coincidindo com o nascimento de Filipe IV, ocorrido em Valladolid no mesmo ano. No romance Cervantes dá a palavra a Cide Hamete Benengeli, pseudo historiador mouro-hispânico, alter ego criado para ser o testamenteiro histórico das façanhas de Dom Quixote (Cide = Senhor, Hamete = hispanização de Hamed ou Ahmed (aquele que elogia), Benengeli = deformação cômica de "berinjela"). O sucesso do Quixote lhe valeu a celebridade e, por fim, a necessária proteção de grandes senhores, permitindo consagrar-se unicamente à literatura. Foi a Don Alonso Diego López de Zuñiga y Sotomayor, sétimo duque de Béjar, pouco dado às letras e pouco generoso, que Cervantes dedicou o Dom Quixote. Escreveu “Novelas exemplares”, “Viagem ao Parnaso” e elaborou uma coletânea das melhores peças de teatro, “Oito comédias e oito farsas”. Em 1616 surgiu a parte II de Dom Quixote, em que o humor dá lugar à sátira. O plano de ação privilegia mais o escudeiro Sancho Pança que o próprio Quixote, fato que o autor ressalta no Prólogo. Tendo em vista que algum tempo antes
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havia sido publicada uma II parte do DomQuixote – escrita por um tal de Avellaneda – também esse fato passa a fazer parte do roteiro original. Sua obra se completa com a narrativa enciclopédica “Os trabalhos de Persiles e Sigismunda”. No prólogo ao segundo volume de Dom Quixote, Cervantes oferece este último trabalho ao seu protetor Dom Pedro Fernández de Castro, sétimo conde de Lemos, então vice-rei de Nápoles. Os trabalhos de Persiles e Sigismunda, porém, só foi publicado postumamente.
Aos 68 anos de idade, sofrendo de séria enfermidade, Cervantes continuava escrevendo. Mas a doença foi se agravando e em 18 de abril de 1616, foi-lhe dada a extrema unção. Estava lúcido e escreveu uma bela carta àquele que considerava seu protetor, o conde de Lemos, na qual escreveu:
"Ontem me deram a extrema unção. Hoje escrevo esta carta. O tempo é curto, a angústia aumenta, as esperanças diminuem. E, com tudo isto, mantenho-me vivo pelo desejo que tenho de viver. "
Miguel de Cervantes morreu no dia 23 de abril de 1616, foi sepultado no Convento das Monjas Trinitárias, para o qual dois anos antes sua filha Isabel havia entrado, levado à sepultura nos ombros dos irmãos da Ordem Terceira de São Francisco.
Ao combater os excessos cometidos pelos livros de cavalaria no seu tempo criando o anti-herói Dom Quixote, Cervantes transmitiu a idéia de que erradicara completamente o mal. Ledo engano. Jamais imaginaria que a semente da praga apenas repousara alguns séculos e que viria brotar nas mãos de vários outros autores. Os mais famosos, chegados até hoje, são Sir Walter Scott com Ivanhoé, ambientado no séc. XII, tendo como cenário a Inglaterra conturbada pelos conflitos entre saxões e normandos, gerou como filhotes inúmeros filmes. Mais recentemente saiu As brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, que pretende ser a história da cavalaria sob a ótica feminina, evidente disfarce para mais uma representação da cavalaria.
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Cronologia resumida 1547 - Nasce em Alcalá de Henares, quarto dos sete filhos de Rodrigo de Cervantes e Leonor de Cortinas 1567 - Aluno de Juán López de Hoyos, escreve poesias, póstuma homenagem a Isabel de Valois, esposa de Filipe II. 1569 - Camareiro do Cardeal Júlio de Acquaviva, viaja pela Itália, onde assiste ao crepúsculo do Renascimento. 1570 - Ingressa no exército, sob as ordens de Dom Diego de Moncada, parte para a batalha. 1571 - Combate em Lepanto, Navarino, La Goleta... Parte para novas batalhas, aonde for chamado. 1573 - Aquartelado em Nápoles atua na tomada de Túnis sob comando de Juán de Áustria, que o recomenda a Filipe II. 1575 - No retorno, espera ser capitão, mas piratas raptam o navio com Cervantes, o irmão Rodrigo e os demais. 1575/1580 - Aprisionado em Argel com o irmão e os outros, lá adquire conhecimentos da língua e cultura árabes. 1580 - Resgatado de Argel pela missão de Frei João Gil, após 5 anos cativo e várias tentativas de fuga. 1581 - Em Madri, recomeça a escrever peças teatrais e inicia o romance pastoril A Galatéia. 1582 - Sem medalha, sem promoção, sem dinheiro, Cervantes volta a ser soldado de Filipe II. 1584 - Nasce Isabel, sua filha com Ana Villafranca. Casa-se com Catalina Palacios, 20 anos mais nova. 1585 - O matrimônio dura só um ano. A Galatéia é publicada em Alcalá de Henares. 1586 - Sobrevive escrevendo loucamente. Cerca de trinta peças e farsas para o teatro. 1587 - Em Sevilha, a serviço da Invencível Armada. É preso e no cárcere começa a escrever Dom Quixote. 1589 - A Inglaterra derrota a Invencível Armada. Cervantes, inocentado, muda-se para Valladolid. 1593 - Perde o cargo de comissário, enfrenta problemas com a justiça, mas continua a escrever. 1594 - Além de continuar escrevendo peças para teatro é nomeado coletor de impostos. 1598 - Filipe III, filho de Filipe I e de Ana de Áustria, assume o trono espanhol. 1597 - Continua a escrever Dom Quixote. Prepara os originais para obter licença. 1602 - Preso em Sevilha, por haver sido citado em processo como testemunha. A família também fica detida. 1604 - Obtém licença régia para publicar Dom Quixote. Vende a novela ao editor Juan de la Cuesta. 1605 - Publica Dom Quixote (I), em Madri, torna-se mais conhecido e respeitado fora da Espanha 1606 - Definitivamente em Madri, dedica-se à literatura para sobreviver. Traduções piratas de Dom Quixote. 1613 - Publica Novelas Exemplares. Novas edições de Dom Quixote chegam à França, Itália, Inglaterra. 1614 - Sai Viagem ao Parnaso, ganha o 1º lugar em concurso de poesia. A doença começa a abalá-lo. 1615 - Oito comédias e oito farsas novas nunca representadas, termina Dom Quixote, Parte II. 1616 - Entra na Ordem dos Franciscanos, sai Dom Quixote (II), morre a 22 de abril, é enterrado dia 23. 1617 - Sai Os trabalhos de Persiles e Sigismunda. Milhares de novas edições e traduções de Dom Quixote. Verbetes: Cervantesco. Adj. Próprio do escritor espanhol Miguel de Cervantes; relativo a ele ou ao seu estilo. Cervantista. S. 2g. Grande admirador de Cervantes e/ou profundo conhecedor de sua obra. Estudioso delas. Projeto para bibliografia 1568 - Homenagem à Isabel de Valois, Rainha esposa de Filipe II - Poesia 1581 - Epístola a Mateo Vázquez - Correspondência 1582 - A vida em Argel - Narrativa histórica 1583 - O acordo de Argel - Narrativa histórica 1584 - A destruição de Numancia - Romance 1585 - Os seis livros da Galatéia - Romance pastoril (em verso e prosa) 1605 - O genial fidalgo Dom Quixote de La Mancha - Romance, parte I 1613 - Novelas Exemplares - Contos 1614 - Viagem ao Parnaso - Antologia Poética 1615 - Oito comédias e oito farsas nunca representados - Teatro 1616 - O genial cavaleiro Dom Quixote de la Mancha - Romance, parte II 1617 - Os trabalhos de Persiles e Sigismunda - Romance (póstumo)
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A ÉPOCA, OS INIMIGOS, OS AMIGOS, ALGUNS PÓSTUMOS No tempo de Cervantes a Espanha atravessava o que os historiadores viriam a chamar de "O Século de Ouro". Só que eles não sabiam disso. Mais grave ainda: o poder de vida e morte da Inquisição vivia também se locupletando, ensanduichado nas benesses, conquistas e progresso do reino Espanhol. No seu reinado Filipe II despendeu todas as economias para montar uma poderosa armada (a Invencível Armada), um exército numeroso, bem equipado, capacitando a Espanha a empreender grandes conquistas. Mas enfrentou guerras, dissensões, que foram consumindo todas as reservas da nação e, afinal, aonde arranjar tanto dinheiro para suportar todo esse aparato? Ora, não haviam ocupado o México e o Peru? Não haviam descoberto as riquezas dos astecas e dos incas? As minas do Potosí boliviano não se mostravam inesgotáveis?
Os espanhóis pilhavam os ricos tesouros de ouro e prata da América Central e Andina. O fluxo de metais preciosos foi bastante para salvar Filipe II das várias crises e ameaças de golpe. Os herdeiros estavam de olho. Um dia acabaram-se as riquezas latino-americanas, os impérios Asteca e Inca estavam dizimados, se quisessem ouro que fossem garimpar. Bem mais próximos estavam os inimigos ingleses, estes descobriram que a Invencível Armada não era tão invencível assim e infligiram uma incontestável derrota à força naval espanhola. Dos 130 navios enviados à Inglaterra por Filipe II para vingar a morte de Maria Stuart, destronar Elizabeth e restabelecer o catolicismo, somente 63 retornaram à Espanha, quase totalmente destroçados. Estavam plantadas as primeiras sementes que viriam promover a derrocada do "Século de Ouro". O volume do estoque de ouro e prata era considerado como expressão da verdadeira riqueza nacional. Mas nem mesmo a adoção do bulionismo, sistema monetário apoiado nesse fluxo de riqueza, foi capaz de reduzir o peso da herança que Filipe II deixou...
No entanto, nas artes a trajetória não era a mesma. O Barroco substituiu o Maneirismo dominante dos sécs. XV/ XVI, dominação que só passou a ser aceita a analisada na frieza já distante do séc. XVIII. A palavra Barroco, de
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etimologia incerta, passou a ser aceita sem contestações para explicar esse movimento artístico que dominou toda a Europa e influenciou o resto do mundo. A expressão também se tornou comum nos meios artísticos neoclássicos, a partir da definição dada por Milizia em 1797: "O Barroco é o paroxismo do bizarro, o cúmulo do ridículo." Como todos os movimentos renovadores, o Barroco também foi condenado com essa definição escatológica, mais feérica que precisa, incapaz de designar o movimento renovador do séc. XVII, considerando-o desintegrador da arte renascentista.
Quase toda a Europa conheceu um florescimento de grandes proporções da nova estética literária, principalmente Espanha, Inglaterra e França. O Barroco se tornou um estilo internacional de altíssimo valor estético, sob sua égide surgiram alguns dos maiores nomes da literatura universal: Shakespeare, Cervantes, Góngora, Pascal, Tasso, Corneille, Tirso de Molina, Lope de Vega, John Donne, Quevedo, Pepys, Moliére. Em alguns aspectos da literatura, porém, o Barroco se caracterizou pelo excesso de religiosidade que chegou até a expressão de situações místicas, a extrema sensualidade, a uma mistura de crueldade, heroísmo, melancolia e estoicismo, provavelmente influenciado pelo extremismo inquisitorial.
Com todos os percalços, vencendo a todos, assistiu-se ao mais rico florescimento também da literatura universal. Enquanto o Renascimento se orientou pela a antigüidade clássica, o Barroco buscou raízes na Idade Média. Na Espanha sobrevivia o modelo chamado gótico flamboyant, mas o Barroco passou a ter significação importante, ao opor-se à influência internacional dos humanistas. Por outro lado, ocorreu o fenômeno de que, enquanto a literatura barroca alcançava seu ponto mais alto, era bastante visível a decadência política e social do país, daí o caráter peculiar do Barroco espanhol. Houve quem dissesse que o Barroco constituía uma qualidade permanente do caráter espanhol. É admirável, por exemplo, o heroísmo estóico que Cervantes coloca em Numancia, como se tentando representar a resistência do próprio reinado.
Os místicos espanhóis contaram com a tradição dos sofistas islâmicos, a Espanha foi, sem dúvida, um dos mais importantes centros do movimento, mas
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o Barroco não foi um movimento especificamente espanhol. A profunda influência do Barroco literário espanhol na literatura inglesa do séc. XVII pode ser constatada através das fontes espanholas do teatro elizabetano e jacobeu: na composição do seu Spanish Gipsy, Middleton aproveitou muito da obra de Cervantes:
La gitanilla e os enredos de muitas peças do teatro inglês, como Rule a wife and have a wife, de John Fletcher, tirada do Casamento engañoso, em A very woman, de Massinger, o tema foi extraído do Amante liberal, ambas de Cervantes. Algumas outras fontes de enredo foram o teatro cervantino, as obras de Lope de Vega e de Tirso de Molina. As traduções de obras da literatura espanhola ao inglês se tornaram comuns. Em 1586 David Rowland traduziu Lazarillo de Tormes, entre os anos de 1612 e 1620, traduziu Dom Quixote.
O próprio Shakespeare utilizou na peça The two gentleman of Verona, o enredo de Diana enamorada, de Montemayor. Em alguns representantes do teatro inglês a influência se deu de maneira indireta, mais sutil, através da leitura de Sêneca e de Tácito, cujos estilos foram adotados pelos barrocos espanhóis e ingleses. O estoicismo senequiano serviu para moldar aquela expressão fortemente espanhola de heroísmo, mostrada em Numancia. Houve uma época em que o Barroco literário passou a coincidir com a corrente política e religiosa. O Barroco jesuítico e contra-reformista odiava Maquiavel, através dele se expandiu por toda a Europa o antimaquiavelismo espanhol. Uma das fontes de divulgação foram os jesuítas espanhóis Antonio Possevino e Pedro de Ribadeneyra, autores de terríveis panfletos carregados de ódio contra Maquiavel e sua doutrina política.
Luís de Góngora y Argote é o autor da obra-prima de construção poética, dentro da melhor tradição peninsular, chamada Soledades, com seus náufragos, seus pastores, uma vida quase selvagem numa região idílica de florestas e campos. Góngora exerceu grande influência na literatura da sua época, era inimitável, daí ter surgido um anti-gongorismo que levou alguns de
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seus discípulos a vilipendiar a memória do grande poeta. Juan de Jaurégui, tradutor de Tasso e de Lucano, foi um exemplo de antigongorismo.
Lope de Vega, criador de um teatro único, aristocrático, católico, se distinguiu por possuir um caráter extremamente nacional, escreveu autos, comédias, pastoris, dramas. Tirso de Molina, autor de cinco volumes de comédia e autos de uma comicidade mordaz, que em nada empana seu catolicismo dogmático. Pedro Calderón de la Barca, autor dos famosos Autos sacramentales e do eterno La vida es sueño, escreveu muitas obras de profunda expressão cristã, de grandeza literária até hoje insuperável.
William Shakespeare, morto no mesmo ano que Cervantes, teve como contemporâneos grandes autores e atores: Chapman, Bem Jonson, Marston, Thomas Heywood, Richard Burbage, que além de ator brilhante em Ricardo III, Hamlet, Rei Lear, Otelo, era sócio da companhia de Shakespeare, mas nenhum deles teve as qualidades universais que ele impôs às suas tragédias e comédias. As primeiras obras de Shakespeare ainda estão influenciadas pelo estilo renascentista, mas as escritas posteriores, como por exemplo a tragicomédia de construção dramática Antonio e Cleopatra, já representam o espírito barroco.
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OS VIZINHOS, AS INFLUÊNCIAS, ALGUNS AGREGADOS
ITÁLIA
Sem recusar a herança recebida dos três grandes toscanos, Dante, Petrarca e Boccacio e do contato com obras da antigüidade clássica, nasceu na Itália o humanismo vulgar, reinante no séc. XV, que triunfou com Lourenço de Médici e Angelo Poliziano. Na Toscana renasceu a moda do romance de cavalaria, cresceu em importância o romance pastoral de Sannazzaro, a Arcádia despontou em Nápoles despertando a consciência de unidade cultural, desembocando em discussões lingüísticas e estéticas. A Itália desembocou na Renascença próximo de recuperar também a liberdade política, já que os vizinhos, menos favorecidos culturalmente, invejavam o avanço fantástico dos italianos, que os colocava acima de qualquer povo europeu.
O debate central do séc. XVI recaiu sobre a língua, mas foi no teatro (a diversão mais popular), que a discussão sobre a nacionalidade literária desembocou, pois este, recorrendo ao repertório clássico greco-latino, atiçava os literatos mais ardorosos defensores da língua nacional. Bibbiena, Ariosto, Guicciardini,
Aretino
e
Maquiavel
sobressaíram-se
entre
os
demais,
demonstrando talento original, em literatura, história, política e filosofia, enquanto Castiglione e Della Casa elaboravam códigos de novo ideal humano. Com exceção de Michelangelo, os poetas líricos ainda estavam atrelados aos modelos petrarquianos, devendo-se a Ariosto e a Torquato Tasso as melhores produções, com Orlando furioso e Jerusalém libertada.
Quando o séc. XVII trouxe o Barroco para a Itália, cujas raízes já estavam solidificadas desde o fim do século anterior, a literatura afirmou-se por uma extraordinária reflexão e experimentação sobre Retórica e Estética. Mas foi com Galileu Galilei e seguidores que a língua vulgar começou a se tornar verdadeiramente nacional, destronando o latim clássico, que até então reinava, inclusive nos meios científicos. A poesia se identificou com o marinismo, a história e o ensaio se firmaram como gêneros literários importantes. A chamada língua vulgar retomou a tradição iniciada por São Francisco de Assis,
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que já a empregara no Cântico das criaturas, obra que data de 1224, ganhou forma culta para firmar-se em definitivo como língua nacional da Itália unificada.
INGLATERRA
As línguas vulgares travaram sempre uma batalha com as influências clássicas antes de se firmarem como língua oficial. O mesmo ocorreu na Inglaterra e somente após a "tradução" do Roman de Brut, de autoria do trovador popular Wace, escrito originalmente em francês, a língua inglesa foi tomando pé. O poeta Geoffrey Chaucer (sempre os poetas!), autor dos célebres Contos de Canterbury e William Langland, Pedro, o lavrador, ambos do séc. XIV, solidificaram o inglês, enquanto se desenvolvia uma poesia de cunho popular, feita de baladas e canções para dançar.
O renascimento inglês veio mais tarde e sem o radicalismo do resto da Europa, trazendo a reboque a primeira idade de ouro da literatura inglesa. Seria dominada por John Lyly (Euphues), Philip Sidney, com o romance pastoral Arcádia e Edmund Spenser, o poeta mais puro dos três, autor de Calendário do pastor e A rainha das fadas, que iria estender sua influência até o séc. XVI. Foi no teatro, porém, que o gênio do renascimento inglês se destacou, favorecido pela abertura de várias salas de espetáculo, a atividade cênica se expandiu, culminando no maior gênio e glória da literatura inglesa: William Shakespeare. A fama de Shakespeare deixou obscuros outros autores importantes de seu tempo, entre os quais Bem Johnson, Francis Beaumont, Theodore Dekker.
FRANÇA
As canções de gesta, cuja origem remonta ao início do séc. XII, apresentaram três ciclos os gestas: a Gesta do rei, a Canção de Rolando, a Gesta de Garin de Monglane e a gesta de Doon de Mayence. Os trovadores se expressavam em duas linguagens: a língua-d'oc (Guillaume d'Aquitaine, Bernard de Ventadour, Jaufré Rudel, Arnaut Daniel, Bertrand de Born e
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somente mais tarde entre os trovadores de língua-d'oïl Conon de Béthune, Gui de Coucy, Colin Muset, Adam le Bossu, Rutebeuf e Jean Bodel).
Os romances corteses testemunham o progressivo refinamento da sociedade medieval e dividem-se em vários ciclos. A Matéria de Bretanha deu origem aos mais célebres desses romances em versos, dos quais o ciclo do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda, inspirou os romances bretães do poeta Chrétien de Troyes, entre os quais Tristão e Isolda. O ciclo do Santo Graal surgiu no final do séc. XII, com um longo poema de Robert de Boron, provocando o florescimento dos romances em prosa, ressaltando-se Lancelote do lago e o Romance de Renart, que já apresenta um caráter popular, ao qual estão ligados os fabliaux, poemas maliciosos, satíricos, os ditos cômicos e de conteúdo moral.
A partir do séc. XIV a inspiração lírica cedeu terreno à forma poética, fixada por Eustache Deschamps e Guillaume de Machaut, marcando as obras de Charles d'Orleans e François Villon, que viriam no século seguinte. A prosa alcançou considerável avanço, os tratados didáticos e morais multiplicaram-se. No teatro foram encenadas as peças de caráter cômico e moral, a farsa criou força, as sátiras assumiram papel crítico importante. Mistura de lendas populares e erudição humanista, Gargantua e Pantagruel de Rabelais, difere substancialmente das obras anteriores e assinala o início da idade moderna na prosa francesa. O trabalho Defesa e ilustração da língua francesa, determinou a ruptura definitiva da poesia francesa com a Idade Média. Os poetas da Plêiade, Ronsard, Joachin du Bellay, Jean Dorat, Rémi Belleau, Jean Antoine de Baïf, Pontus de Tyard e Étienne Jodelle, procuraram modelar a poesia francesa dentro do ideal de grandeza e com esse intuito escreveram em conjunto a Sátira menipéia, publicada em 1594.
PORTUGAL
Influenciada inicialmente pela Bretanha em fins do séc. XII, Portugal foi dos primeiros a traduzir a Demanda do Santo Graal e em seguida de José de Arimatéia, mas somente no final do séc. XIV surgiu o primeiro romance escrito
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em português: Amadis de Gaula, atribuído a Vasco de Lobeira. Durante os sécs. XIV e XV os livros de linhagens e compilações de genealogias de famílias nobres, prevaleceram. Com a publicação da Crônica de D. Afonso Henriques, baseada em tradições épicas, demonstra considerável amplitude da literatura portuguesa, destacando-se Fernão Lopes, cujo talento e concepção moderna fizeram dele o maior prosador medieval. Lopes deu autonomia à prosa lusitana, com ele nasceu a historiografia portuguesa que tanto iria se notabilizar depois. Fernão Lopes teve em comum com seus sucessores Gomes Eanes de Zurara e Rui de Pina, a matéria, os métodos, o rigor histórico, porém superou-os por sua arte e lucidez.
A prosa doutrinária e didática, escrita pelos homens cultos da corte, rendeu O livro de montaria, de Dom João I, Livro da ensinança e bem cavalgar toda sela e O leal conselheiro de Dom Duarte, Virtuosa benfeitoria, de Dom Pedro. Até meados do séc. XVI certas formas e temas ligados à cultura medieval persistiram, embora a influência humanista já despontasse. Assim, no Cancioneiro geral de Garcia de Resende, percebe-se a influência de Petrarca e de sua concepção do amor.
Bernardim Ribeiro, autor do romance sentimental Menina e Moça, cultivava a écloga italiana, porém inspirava-se em elementos e temas populares lusitanos. O romance de cavalaria sempre suscitou interesse e assim foi que surgiram Crônica do imperador Clarimundo de João de Barros, Palmerim de Inglaterra de Francisco de Morais, Memorial das proezas da segunda Távola Redonda, de Jorge Ferreira de Vasconcelos.
Mas foi no teatro clássico, inspirado na Renascença italiana, que Portugal se elevou, tendo Antônio Ferreira como seu representante mais legítimo. Esse grande florescimento do teatro deu nomes importantes para a dramaturgia da língua portuguesa, tendo em Gil Vicente seu maior expoente, apesar de escrever regularmente em castelhano e em português. Gil Vicente é considerado o fundador do teatro lusitano, descreveu com todo o seu lirismo e verve popular, as mazelas, fofocas, tipos populares da época. Francisco Sá de Miranda também escreveu peças, mas foi na poesia que se fez marcante:
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introduziu em Portugal o soneto, a écloga, sempre mantendo a tradição satírica da poesia popular do cancioneiros. No entanto, o grande poeta do século foi sem dúvida Luis de Camões, cujas poesias líricas, sonetos, baladas marcaram época. Todo o seu talento, no entanto, refluiu na produção do poema épico Os Lusíadas, no qual exalta o povo português, as conquistas, as lutas navais, sendo, por todo esse conjunto, considerado a obra-prima da literatura lusa, que afinal de firmava sozinha, libertando-se da permanente influência hispânica.
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O FAMOSO DOM QUIXOTE DE LA MANCHA
O fantástico sucesso de Dom Quixote e o conseqüente exacerbado engrandecimento
patriótico
exercitado
pelos
espanhóis,
teve
como
conseqüência o obscurecimento de outras obras de Miguel de Cervantes, algumas tão importantes quanto o próprio Dom Quixote, como Novelas exemplares, Numancia e Trabalhos de Persiles e Sigismunda, só para citar algumas. Em verdade, além de Dom Quixote, quantas obras da vasta produção de Cervantes são populares hoje em dia? Nenhuma.
"Livro imortal que tem sido traduzido em todas as línguas, narra as aventuras do fidalgote castelhano Dom Quixote de la Mancha, cujo cérebro se exaltou até à insensatez com a leitura dos livros de cavalaria, a ponto de descobrir maravilhas, encantamentos, sortilégios e magias nos fatos mais triviais. Seu fiel escudeiro Sancho Pança, encarnação do bom senso trivial e comezinho, passa por tremendas e divertidíssimas privações, a que o expõe a singular mania de seu amo.
Este, a despeito de seus ridículos, não inspira senão simpatia, tão ardente é a fé que o anima, tão nobres e generosos são os sentimentos, tão alto é o ideal de justiça e de poesia, para o que tendem sempre as suas ações, mesmo as mais disparatadas. Fica na memória dos leitores as aventuras principais do Cavaleiro da Triste Figura, principalmente o seu famoso combate com os moinhos de vento, o episódio dos quadrilheiros." Isso é o que dizem as enciclopédias, introduções, comentários, os livros estudantis.
Os espanhóis não deixam por menos. Para eles trata-se da "novela mais importante da literatura universal, uma síntese poética do ser humano, a expressão de um ideal ético e estético de vida, uma galeria de todos os gêneros literários de seu tempo, lição de teoria e práticas literárias, uma panorâmica social da Espanha do Século de Ouro, em suma: uma síntese de realismo e fantasia". Daí para mais! No entanto, a literatura espanhola teve a sua grandeza na história da cavalaria não em prosa, mas nos versos da mais
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famosa obra da época, El cantar de Mio Cid, livro que narra as façanhas guerras de Cid Campeador em favor do reino da Espanha.
Botando os pés no chão, pode-se excluir alguns exagerismos: I) não é "a novela mais importante da literatura universal", no entanto a segunda parte do Dom Quixote marca uma interessante transição da narrativa que veio redundar na
estrutura
do
romance,
cuja
trajetória
elíptico-circular
acabou
se
transformando em didática. Isto só acontece quando uma obra consegue quebrar os patamares, regras e limites antes estabelecidos.
Então, pode-se dizer que a segunda parte do Dom Quixote, ao desobedecer as normas vigentes, acabou por se mostrar estruturalmente moderno, mais ao agrado dos leitores; II) pode ser "a expressão de um ideal ético e estético de vida", no entanto jamais alcançado, que todos os autores literários pregam e buscam desde até sempre;
III) quanto à imortalidade,
comparada à da Bíblia, vamos considerar que a Bíblia se encontra no estágio que entendê-la só pelo lado religioso, espiritual, porque a ótica histórica e literária pouco se consegue entender, quase nada, sem a explicação dos estudiosos.
É o caso que ocorre com Dom Quixote, um romance de pseudocavalaria, por isso mesmo cevado de referências de cunho histórico medieval, qualidade que não lhe falta. Não sendo livro religioso nem histórico, mas literatura em estado puro, Dom Quixote terá de atualizar a leitura para uma versão mais recente, que traga para o linguajar a gramática moderna, porque do jeito que está vai precisar sempre de outro volume para explicar todas as citações religiosas, históricas e referências à linguagem. Em suma, ou traduzse para o séc. XXI ou perecerá. No presente, nem mesmo os estudiosos conseguem identificar tudo no Dom Quixote, imagine nós. [Parece que os editores espanhóis se deram conta disso e lançam edições modernizadas, só que voltadas para o público jovem estudantil. Há que fazer chegar a atualização também à todas as traduções.]
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O mesmo ocorre com outras obras que se tornam universais. Neste caso a apresentação de um anti-herói encaixotado num mundo acachapante de aventuras fantásticas, aventureiros capazes de derrotar qualquer inimigo, exércitos
de
milhões
de
adversários,
obstáculos
à
primeira
vista
intransponíveis, seres fantásticos, dragões, fantasmas, cavaleiros de aço, que se interpõem, todos, entre o herói e seu ideal, entre o aventureiro e sua amada, tudo isso chegou na hora certa. Muito sangue havia corrido pouco tempo antes, uma nova Europa se formava, os principados davam lugar a estados organizados tendo como base os princípios democráticos de direito, a política religiosa afastava-se do centro de poder.
Tudo isso facilitou para a fixação do tipo que fez o sucesso do livro. Ali está o homem natural e simples apesar de fidalgo; interiorano, que deposita muita fé no enunciado ético; religioso, que exacerba no apostolado em defesa dos fracos e oprimidos; aventureiro, sempre disposto a largar tudo e partir em busca do sonho. Essa herança legou-nos um sem número de expressões gramaticais e proverbiais capazes de se identificar com o ideal dos indivíduos de hoje. Os
difíceis tempos modernos transformam-nos em verdadeiros
sobreviventes, irmanando-os com o anti-herói Dom Quixote. Assim é que tornaram-se temas proverbiais, tanto que chegaram até nós não só como esperança, mas como expressão tanto de uso culto quanto popular, verdadeira religião e método de vida.
A literatura espanhola previamente ao Dom Quixote pode ser vista assim resumidamente, não antes de sabermos que o estudo das letras espanholas compreende essencialmente a história das obras escritas em castelhano, o idioma nacional, embora existam literaturas locais independentes dentro do próprio país, sendo as mais importantes e literatura catalã e a literatura gallega.
O castelhano tem seu início literário no séc. XII, com o Poema do Cid (Cantar de mío Cid), poema anônimo de 3750 versos, escritos por volta de 1140. Antes, a literatura de língua castelhana, era informal, limitando-se a cantares de canções e gestas, feitos oralmente pelos trobadores, uma mistura de vários dialetos da região, subordinada à influência maior do castelhano. A
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literatura de Cervantes, como de resto toda dos séc. XV e XVI, para ser entendida, era elaborada com a fala de seu tempo, o que significa a fala da península ibérica, uma sadia mistura dialetal que incluía o galego, o português, o asturiano, o andaluz, o catalão, o leonês. Somente através da letra impressa, poderiam todos esses dialetos se transformar em linguagem culta.
No séc. XIII, o monge Gonzalo de Berceo, autor de biografias de santos, foi o primeiro escritor a assinar suas obras. O verdadeiro fundador da prosa literária, porém, foi o rei Alfonso X, o Sábio, que escreveu sobre vários assuntos (história, ciências, astronomia, jogo de xadrez, música). O Libro de buen amor, do arcipreste Juan Ruiz de Hita, constitui a obra-prima do séc. XIV. Na primeira metade do séc. XV, com a conquista do reino de Nápoles em 1442 e a invenção da imprensa de Gutemberg favoreceram a difusão das obras de Dante, Petrarca, Bocaccio. Os grandes senhores letrados, como Villena, Santillana, Juan de Mena, aderiram ao modelo literário italiano.
O séc. XV também assistiu ao florescimento dos romances de cavalaria (Amadis de Gaula, 1492 de Rodríguez de Montalvo), do conjunto de romances em verso que transformaram o Romancero num dos mais originais monumentos da literatura espanhola. Em 1449 foi publicada a Tragicomédia de Calixto e Melibéa, de Fernando de Rojas, mais conhecida como La Celestina, cuja história se tornou modelo de tipo literário.
O séc. XVI e o séc. XVII (o Século de Ouro), compõem o grande período das letras espanholas. Esse momento se inicia com a poesia pastoral de Garcilaso de la Veja e se prolongou até as derradeiras obras de Calderón de la Barca. A poesia lírica foi ilustrada por Luis de León. Montemayor escreveu A Diana, que Honoré d'Urfé imitaria em Astréia. Vida de Lazarillo de Tormes, anônima, inaugurou o gênero picaresco, romance de cavalaria às avessas, irresponsável, cujo herói, o "pícaro",
é um tratante simpático. Guzmán de
Alfarache (1599) de Mateo Alemán, El Buscón, de Quevedo, seriam os modelos do gênero.
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Luis de Góngora, um dos maiores nomes da poesia barroca, criou um estilo que marcou época. Ainda no "século de ouro" se destaca a poesia mística de São João de la Cruz (Cântico Espiritual), de Santa Teresa de Ávila (El Castelo Interior). O teatro de Lope de Vega, o dramaturgo mais fecundo da época, autor de comédias de capa e espada (El perro del hortelano) e de dramas históricos (Peribáñez, 1614). O teatro de Calderón de la Barca de cunho filosófico (La vida es un sueño, 1633), religiosos (Autos sacramentales). Guillén de Castro, autor de Mocedades del Cid (1600). O monge Tirso de Molina, criador de Don Juan (El Burlador de Sevilla) e finalmente Cervantes, considerado o pai do romance moderno, com Dom Quixote de La Mancha. Estão nos dicionários: Quixotada. S.f. 1. Bravata ridícula, fanfarronada, bazófia; ato de quixote; V. fanfarrice. 2. Ato ou dito de ingênuo ou sonhador. Sin. ger.: quixotice Quixote. S.m. 1. Aquele que procede como Dom Quixote e ingenuamente se mete em questões que não lhe dizem respeito quando por via de regra se dá mal. Que toma as dores alheias e se sai mal; 2. Indivíduo ingênuo, romântico, sonhador. Sin. ger.: dom-quixote. Quixotesco. Adj. 1. Relativo a D. Quixote2. Relativo ou próprio de quixote, ou que envolve quixotada; ridiculamente pretensioso. 3. Ingênuo, romântico, sonhador. 4. Que se envolve em trapalhadas. Sin. ger.: quixótico Quixotice. S.f. Quixotada Quixótico. S.m. Quixotesco Quixotismo. S.m. 1. Modos e hábitos próprios de Dom Quixote; v. cervantesco; 2. Herói romanesco, idealista, sempre em busca de aventuras fantásticas. Abnegação cavalheiresca. 3. Romantismo, aventureirismo ou cavalheirismo exagerado. 4. V. fanfarrice. Sin. ger.: dom-quixotismo.
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QUANDO O HERÓI É SANCHO PANÇA "Uma das coisas que maior contentamento deve dar a um homem virtuoso e eminente é o ver-se andar em vida pelas bocas do mundo, impresso e com estampa com bom nome, é claro, porque, sendo ao contrário, não há morte que se lhe iguale." (Dom Quixote, II, III)
Uma mais das tantas curiosidades do Dom Quixote é o tão discutido segundo volume do romance de Cervantes. Não bastasse o fato de ter sido publicada em vida do autor uma segunda parte apócrifa, Cervantes imprimiu no seu texto tantas novidades que mesmo os mais rigorosos cervantinos vivem às turras, armam discussões sem fim, mas não conseguem sequer acompanhá-lo em sua modernidade.
Entre as edições originais de Dom Quixote, que saíram em vida do autor, menciona-se uma segunda parte, publicada em Tarragona em 1614, supostamente de autor desconhecido, que vem assinada por Alonso Fernández de Avellaneda. No entanto, vários pesquisadores dão como certa a autoria do padre Luís de Aliaga, dominicano confessor de Filipe III, desta continuação, que se achou no direito de escrever, já que o seu autor prometeu e jamais. É provável que, com este incidente, Avellaneda tenha contribuído mais para a literatura publicando o seu Dom Quixote do que possam imaginar todos os seus tietes.
Do relação à identificação de autoria deste Dom Quixote de Avellaneda, é bom referir à introdução de Cervantes ao verdadeiro Quixote. Diz ele no Prólogo ao leitor: "Valha-me Deus, com quanta vontade deves estar esperando agora, leitor ilustre, ou plebeu, este prólogo, julgando achar nele vinganças, pugnas e vitupérios contra o autor do segundo Dom Quixote; quero dizer, contra aquele que dizem que se gerou em Tordesilhas e nasceu em Tarragona! Pois em verdade te digo que te não hei de dar esse contentamento, que, ainda que os agravos despertam a cólera nos mais humildes peitos, no meu há de ter exceção esta regra. Quererias que eu lhe chamasse asno, atrevido e
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mentecapto, mas tal não me passa pelo pensamento: castigue-o o seu pecado e trague-o a seu bel prazer e que não lhe faça engulhos. O que não pude deixar de sentir foi que me apodasse de manco e de velho, como se estivesse na minha mão demorar o tempo, que parasse para mim".
Neste momento Cervantes se ofende e retalia quanto ao apodo de manco, como o faz todas as vezes que alguém tenta depreciar a sua participação na batalha de Lepanto, da qual se orgulhava muito. Continuando, critica o fato de ter sido chamado de velho: " ...e convém advertir que não se escreve com as cãs, mas sim com o entendimento, que costuma aperfeiçoar-se com os anos. Senti também que me chamasse invejoso e me descrevesse, como a um ignorante, que coisa seja a inveja, que, na verdade, verdade, de duas que há, eu só conheço a santa, a nobre e a bem-intencionada; e sendo assim como é não tenho motivo para perseguir nenhum sacerdote que, de mais a mais, seja também familiar do Santo Ofício; e se ele o disse referindo-se a quem parece, de todo em todo se enganou, que desse tal adoro eu o engenho, admiro as obras e a ocupação contínua e virtuosa."
A referência ao sacerdote "familiar do Santo Ofício" remeteu os cervantinos diretamente a Lope de Vega, colaborador da Inquisição, notório desafeto de Cervantes. No entanto, como se pode ver claramente do texto, as diferenças que Cervantes tinha com Lope de Vega eram limitadas às disputas literárias, com o fato deste se aproveitar da amizade e proximidade com membros do Santo Ofício para promover seus trabalhos. Cervantes tinha como importante fonte de renda a representação de seus entremezes e farsas, arte a que Lope de Vega também se dedicava.
Só não vê quem não quer, mas fica bem nítida a identificação que Cervantes dá ao pretenso autor do Quixote de Avellaneda neste Prólogo elucidativo. O próprio Cervantes suspeita que a autoria é do padre Luís de Aliaga, confessor de Filipe III, também familiar do Santo Ofício da Inquisição, não de Lope de Vega.
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A história da literatura tem dessas coisas. Se formos analisar sob o ponto de vista estatístico, justifica-se plenamente a saída do Quixote de Avellaneda, porque em todas as obras que Cervantes prometeu uma continuação – notadamente na Galatéia e no próprio Dom Quixote – jamais havia cumprido a promessa. Apesar de todos os cervantinos anotarem que Cervantes já estava trabalhando na parte II do seu Quixote quando a obra de Avellaneda foi publicada, não existe nenhuma evidência a respeito. Por esse detalhe pode-se afirmar com alguma segurança que Cervantes jamais teria escrito a segunda parte do Quixote se não fosse o episódio da pirataria.
Escrito quase 10 anos após a saída do volume I, por vários motivos esta segunda parte tem deixado os cervantinos de cabelos ralos. Primeiro porque os ensaístas literários têm balizado o advento do romance moderno com a publicação do Dom Quixote. Então é mister apontar e provar que no Quixote já se encontram os parâmetros do romance tal como conhecemos hoje, principalmente quanto à unidade temática.
Aí é que a porca torce o rabo. Qualquer estudante de literatura sabe que é impossível exigir-se unidade plena em dois textos escritos com o intervalo de 10 anos, ainda mais sabendo-se que aquela era uma época de constantes transformações estéticas. Cervantes consegue manter a unidade temática, mas a arte e a estética ficaram para trás: também é impossível a um escritor, atento às transformações do seu universo, manter sua arte estagnada por 10 anos. Na segunda parte Cervantes deu grandes passos em prol de uma escrita muito mais enxuta.
O que mudou? De princípio, o tratamento visual é outro completamente novo, sem aquelas maçantes poesias laudatórias que abriam e encerravam as obras literárias, principalmente os romances. O tratamento seqüencial é outra novidade no Dom Quixote II, acentuando-se o entrelaçamento dos capítulos, fechando círculos temáticos, mesmo quando há inserção de parâmetros, tais como história dentro da história. A escritura do texto avança para o que viriam classificar de barroco, embora esta expressão de primeiro fosse utilizada
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apenas para as artes clássicas, entre as quais a pintura, a escultura, a composição musical.
A transformação maior, porém, foi na dicção dos heróis, quando Cervantes coloca os personagens completamente arrevesados e opositores, comparando-se com a primeira parte. Aqui o truque usado é o do espelho, do revés e trevés, o oposto do oposto, o avesso do avesso, em suma. Desta vez o herói não é o cavaleiro andante, mas seu escudeiro. Dom Quixote passa a ser um coadjuvante, secundário por técnica, não por necessidade temática. A visão dos personagens principais também se distorce: Sancho Pança, que fazia no tomo I o elo de ligação de Dom Quixote com o mundo real, desta vez é atirado sem dó nem piedade ao universo imaginário, fantasmagórico, acuado pelas primeiras visões de seu amo.
Neste momento é Dom Quixote quem está de pés no chão. O castelo é um castelo real, a venda é uma venda, moinhos de vento são moinhos, fala com distinção e discernimento, discursa sobre a ética e a moral, tudo isso sem trair os princípios da cavalaria andante. Na hora de dar conselhos a Sancho Pança, quando este assume o governo da sua ilha é o mais lúcidos dos governantes quem fala pela voz do Quixote, não o tresloucado que atropela o vento.
Mesmo que Sancho Pança alerte para a impossibilidade de existir por ali uma ilha verdadeira, Dom Quixote faz ver que o importante não é a ilha em si e suas delimitações, mas o fato de que Sancho finalmente vai assumir um governo e deve governar bem.
Até diante do amor o fidalgo dobra as pernas: apesar de relembrar sempre a sua Dulcinéia del Toboso e a ela manter-se fiel, não recuas ver na paixão de Altisidora uma coisa factível, ao passo que a Sancho aquilo tudo resulta de uma farsa, uma comédia mal interpretada.
A crítica moderna, libertada das ataduras que amordaçam os cervantistas, considera que Cervantes "pôs em questão toda a literatura de
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ficção, através de uma indagação sobre suas próprias ilusões e princípios estéticos. (...) Cervantes, como Dom Quixote, não pôde impedir-se de ter nas pessoas e coisas uma confiança que resistia às zombarias e aos golpes. Foi por essa via que deu início à busca desesperada dos valores que o herói moderno empreende num mundo degradado. O real é doravante "impossível" para o herói; inacessível diretamente, a não ser pela intervenção de um mediador que lhe designe o objeto a desejar e o caminho para atingi-lo, mas, ao final desse caminho, o real não comparece ao encontro marcado. Dom Quixote inaugurou assim a figura triangular (herói-mediador-objeto do desejo), do desejo mediatizado, expressão da alienação moderna que, até Dostoievski (pelo tema do duplo) e Proust (pelo esnobismo), compôs a estrutura profunda do romance ocidental."
No segundo volume, como se disse, o realce maior é dado ao escudeiro Sancho Pança. Não que Dom Quixote passe a ser considerado figura de segundo plano, mas a figura do escudeiro aqui é mais presente num grande número de capítulos. A sua fala já não é mais a de um prudente chefe de família nem a de um simples camponês, ao contrário, em alguns momentos chega a dialogar de igual para igual com outros personagens e – surpresa! – com o próprio Dom Quixote. Logo no Capítulo II o cura e o barbeiro dialogam sobre as inseparáveis figuras: "... não me maravilho tanto da loucura do cavaleiro como da simplicidade do escudeiro, que tão ferrada tem lá a história da ilha, que me parece que não a tiram dos cascos nem quantos desenganos se possam imaginar".
O cura não deixa por menos: "... veremos em que pára esta máquina de disparates com semelhante cavaleiro e semelhante escudeiro, que parece que os tiraram a ambos da mesma pedra e que as loucuras do amo sem as necedades do criado, não valeriam coisa alguma."
A partir daí cresce a importância de Sancho, segundo o próprio Dom Quixote: "... podes, Sancho, falar livremente e sem rodeios." No capítulo IV, com motivo de explicar ao bacharel Sansão Carrasco "acerca das suas dúvidas e perguntas" Sancho assume o centro das atenções.
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No capítulo seguinte já é o próprio quem de novo aparece, numa "graciosa prática que houve entre Sancho Pança e sua mulher Teresa Pança". No capítulo VII Sancho avança e inicia falar uma linguagem parelha a de seu amo, quando este o observa num dos muitos erros vocábulos que comete: "Já uma ou duas vezes – respondeu Sancho – , se bem me lembro, supliquei a Vossa Mercê que não me emende os vocábulos, logo que entenda o que eu quero dizer e, em não entendendo, diga assim: 'Sancho ou Diabo, não te percebo'. E se eu não me explicar então emende, que eu sou muito fócil (dócil)."
Para combinar a terceira saída Sancho se mostra muito mais esperto que aquele ingênuo camponês que largou tudo e foi aventurar-se com o fidalgo da Mancha. Estipula salário, funções, direitos (inclusive sociais), exige o cumprimento da promessa feita por Dom Quixote acerca da ilha que receberia para governar. No capítulo VIII acompanha o amo que intenta ver sua dama Dulcinéia, missão que se completa no capítulo seguinte.
No capítulo X toma de novo o leme, pois ali se conta a "indústria que Sancho teve para encontrar a senhora Dulcinéia". No capítulo XI dá uma bronca no amo, ao vê-lo desmotivado para a cavalaria: "senhor, as tristezas não se fizeram para os brutos e sim para os homens, mas se os homens sentem demasiadamente, embrutecem. Vossa Mercê tenha conta em, si e colha as rédeas a Rocinante, reviva e desperte e mostre aquela galhardia que costumam ter os cavaleiros andantes. Que diabo é isso? Que descaimento é esse? Estamos aqui ou em França?"
Como se vê, é outra a linguagem do novo herói. Pode-se dizer que o cavaleiro agora é Sancho Pança e Dom Quixote o escudeiro. No capítulo XII Sancho filosofa com o amo: "Pudera, alguma coisa se me há de pegar da discrição de Vossa Mercê – respondeu Sancho –, que as terras de si estéreis e secas, em se estrumando, vêm a dar bons frutos; quero dizer que a conversação de Vossa Mercê tem sido como um estrume deitado na terra estéril do meu seco engenho e a cultura, o tempo em que o tenho servido e tratado; e com isto espero dar frutos de bênção, tais que não desdigam nem
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deslizem da boa lavoura que Vossa Mercê fez no meu acanhado entendimento." Dom Quixote reconhece o crescimento do criado "porque Sancho de quando em quando falava de modo que lhe fazia pasmo"...
No capítulo XIII Sancho trava conhecimento com o escudeiro do "Cavaleiro da Selva" e esse encontro serve para um elaborado diálogo entre ambos. Sancho conhece, enfim, alguém que desempenha a mesma função que lhe coube e pode falar de igual para igual. Nos diálogos a fala de Sancho cresce em volume e importância. Já é dono de um saber que permite longas frases e, de sobra, algumas citações. O linguajar não é mais uma algaravia, é claro, didático, luxuoso: "Por Deus que, segundo diviso, as patenas que devia trazer são ricos corais, o vestido é do mais rico veludo e as guarnições de cetim!. Vejam-me aquelas mãos, todas cheias de anéis de ouro, e de bom ouro, com pérolas brancas como leite, que deve cada uma valer um olho da cara. E que cabelos que, se não são postiços, nunca os vi na minha vida mais compridos, nem mais loiros” (Cap. XXI). E assim por diante, a fala de Sancho torna-se nobre, nem de perto lembra o atrapalhado escudeiro semi-analfabeto do primeiro volume.
No capítulo XXII, a caminho da Cova de Montesinos, Sancho Pança se dá ao luxo de discutir com o guia, primo do licenciado, apesar deste ser "famoso estudante e muito afeiçoado à leitura de livros de cavalaria", enfim, "moço que sabia fazer livros para imprimir e para dedicar a príncipes". A discussão de Sancho com o primo, no entanto, é fortemente criticada por Cervantes, que dali lança a primeira censura aos livros carregados de cultura inútil. Estava Sancho enfim nas boas e crescendo.
A partir do capítulo XXX, Dom Quixote e Sancho Pança são recebidos no castelo, pelo duque e a duquesa e em pouco tempo se encontra nomeado governador de uma ilha nas terras ducais. O escudeiro, estimulado pela duquesa que se diverte muito ao ouvi-lo, está à vontade para narrar seus contos e "todas as donzelas e donas da duquesa rodearam-no atentas em grandíssimo silêncio, para o escutarem."
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Noutra ocasião passa-se um diálogo curioso que Sancho Pança encerra com um modo não usual do criado dirigir-se ao seu amo, até certo ponto considerado por demais atrevido: "– Essa pergunta e essa resposta não são tuas – acudiu Dom Quixote – a alguém as ouviste dizer. – Cale-se, senhor – replicou Sancho – que se eu me meto a fazer perguntas e respostas, não acabo nem amanhã. Para perguntar tolices e responder disparates não preciso de andar a pedir o auxílio dos vizinhos. – Mais disseste do que sabes – tornou Dom Quixote – que há pessoas que se cansam em averiguar coisas que, depois de averiguadas, nada valem, nem para o entendimento nem para a memória." É o próprio Dom Quixote reconhecendo a evolução cultural de seu escudeiro e lá pelas tantas faz o elogio:
"Estás um filósofo, Sancho, falas mui discretamente, não sei quem to ensina. O que posso te dizer é que não há fortuna no mundo, nem as coisas que sucedem, boas ou más, sucedem por acaso, mas sim por especial providência dos céus (...)".
O ápice do crescimento de Sancho Pança se dá justamente ao ser nomeado governador da Ilha Baratária, "uma ilha bem feita e bem direita, redonda e bem proporcionada e muito fértil e abundante, onde, se souberdes ter manha, podeis com as riquezas da terra granjear as do céu." Assim cumprese a promessa feita por Dom Quixote, que aproveita a ocasião para ditar algumas normas gerais para o bom governar: "– Infinitas graças dou ao céu, Sancho amigo, de que antes de eu ter topado alguma boa fortuna, te viesse a receber e encontrar a prosperidade (...), antes do tempo e contra a lei das suposições razoáveis vês os teus desejos premiados."
"Digo pois que, com todo o seu acompanhamento, chegou Sancho a um lugar quase de mil vizinhos, que era dos melhores que o duque possuía. Disseram-lhe que se chamava a ilha Baratária, ou porque o lugar tinha o nome de Baratário ou pela barateza com que se lhe dera o governo. Ao chegar às portas da vila, que era cercada de muros, saíram os alcaides do povo a recebêlo, tocaram os sinos e todos os vizinhos deram mostras de geral alegria e com muita pompa o levaram à igreja matriz a dar graças a Deus e em seguida, com
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algumas ridículas cerimônias, lhe entregaram a chave da vila e o admitiram como governador perpétuo da ilha Baratária."
Sancho é levado para o governo, toma posse, de um suntuoso palácio faz julgamentos e governa a ilha de um modo sapiencial, que daria inveja a muitos prefeitos e governadores de agora. A saga corre até o capítulo XLVII e tempos depois, dados paga bem governar, o duque cria uma situação de emergência que o faz retornar ao ducado, para salvar a própria vida, que certamente perderia já que uns "inimigos meus e inimigos dessa ilha tencionam dar-lhe um assalto furioso, uma noite destas"... Os ataques prosseguem e Sancho, coitado, alertado pelos assessores de que poderia ser envenenado, é submetido a um rigoroso jejum, apesar das mesas fartas que lhe são servidas desde que chegou na ilha.
O governador troca cartas com Dom Quixote e Sancho Pança, para não ter de enfrentar inimigos sanguinários com as poucas armas que tem, resolve ir embora, tendo bem governado a ilha Baratária, "como um anjinho". Os auxiliares do governo ofereceram-lhe "tudo o que quisesse para regalo de sua pessoa e comodidade da sua viagem, mas Sancho retorna ao castelo do duque apenas com "uma pouca cevada para o ruço e meio queijo e meio pão para si".
"Abraçaram-no todos e ele, chorando, a todos abraçou e deixou-os admirados das suas razões e da sua determinação, tão resoluta e discreta."
Como um verdadeiro herói, diga-se...
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PARA LER DOM QUIXOTE
Quem quiser pegar Dom Quixote pelo pé, fazer uma boa e aproveitável leitura, deve se preparar para ler um livro que foi feito para divertir. Nada de encher-se de ares intelectuais, como seria necessário para ler, por exemplo, Ulisses, de James Joyce. Dom Quixote foi escrito para divertir. E não só o leitor, mas principalmente quem o escreveu. Graças a Deus, Cervantes deveria estar chateado com a literatura de sua época, na qual - que nem hoje venciam aqueles mais chegados ao poder ou os que escreviam sobre temas tão fantásticos quanto inverossímeis, os cunhados livros de cavalaria foram ressuscitados, reescritos recheados de estórias fantásticas, muitas tiradas do descobrimento do novo mundo, estavam na moda.
Aquilo que se poderia chamar de literatura séria, ficava restrita aos escritos religiosos, políticos e econômicos (se iniciava esse tipo de literatura, tendo em vista os revezes monetários que a Europa rica sofrera e sofreria ainda, apesar do aporte do ouro e da prata resultante dos saques da América Latina, principalmente México, Peru e Brasil). Ademais, a Inquisição Católica andava querendo salvar os milhões de hereges que teimavam em viver longe de Deus, senão pela fé ao menos pelo fogo das fogueiras.
Era uma época em que a humanidade vivia sedenta de sangue. Não bastavam as calamidades naturais, as doenças, a peste. A indústria da guerra florescia, em nome dos reinos da terra e de Deus. Expulsão, muitas com massacres, total de quase um milhão de mouros, os ataques constantes à Turquia, à Terra Santa (Palestina), ao Norte da África, as violentas batalhas navais entre vizinhos. A partir do momento que Carlos I, o Grande, não conseguiu realizar o sonho de formar o império único, os governos incompetentes de seus sucessores ruíram um a um, gerando o efeito dominó. Somente a guerra salvava a honra.
Resultava então que escrever sobre esses temas diretamente, era procurar a condenação, o
calorzinho
nada
agradável das fogueiras
inquisicionais. Então mister é fazê-lo de modo obscuro, escondido, satirizando,
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por exemplo, os livros de cavalaria, sem buscar para herói algum grego ou romano, mas no próprio interior espanhol, onde a vida rude faz com que as pessoas tudo vejam sob um prisma completamente diverso dos citadinos. Melhor ainda se conseguirmos que o tal personagem se encontre mortalmente atacado com o vírus dos livros de cavalaria!
Assim nasceu Dom Quixote, filho natural de um fidalguinho do interior, devotado para a ética e a estética do cavaleirismo andante. Quem está preso deve ser solto. Quem vai para aonde não quer, de livre e espontânea vontade, deve escolher seu próprio caminho. Quem é cavaleiro deve ser fiel, fidelíssimo, à sua dama de honra, à sua amada (a figura de Dom Quixote é assexuada, afora algumas citações às prostitutas, casas e ruas do ramo, nada mais se fala). O próprio Dom Quixote confessa: "Sou enamorado, só porque é forçoso que o sejam os cavaleiros andantes e, sendo-o, não pertenço ao mundo dos viciosos, mas sim ao dos platônicos e continentes". (Cap. XXXII, II)
Quem se dedica a esse mister deve bater-se em defesa da honra, da religião, da dignidade, tais são outros princípios da cavalaria. Só que em Dom Quixote, ficam de revés, a cavalaria serve mais de cenário porque, a verdade da sociedade feudal é mais crua, há mais interesse em mostrar o retrato da vida humilde dos campesinos, as injustiças cometidas contra a sociedade rural, cujo orgulho maior era ser considerada nobreza, mesmo não sendo.
Entre as edições originais de Dom Quixote que saíram em vida do autor, menciona-se uma segunda parte,
publicada em Tarragona em 1614,
supostamente de autor desconhecido, mas que vem assinada por Alonso Fernández de Avellaneda. No entanto, vários pesquisadores dão como certa a autoria do padre Luís de Aliaga, dominicano confessor de Filipe III, desta continuação, que se achou no direito de escrever, já que o seu autor prometeu e durante nove anos não o fez.
O livro, com um prólogo provocativo, feriu os brios de Cervantes. Era o estímulo que necessitava para escrever, aos 68 anos e doente, a Parte II do seu Dom Quixote. Foi um desafio que o gênio maduro de Cervantes soube
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explorar, dando ao livro apócrifo tratamento de personagem, que passou a integrar a parte II do verdadeiro Dom Quixote. Também a figura do historiador Cide Hamete Benengeli foi consolidada, nomeado como único capacitado a contar a história do cavaleiro andante. A partir do Cap. LIX, mais agressivo, Cervantes aproveita todas as oportunidades para ridicularizar o falso Quixote, ao mesmo tempo faz uma apologia publicitária do verdadeiro Quixote. Para diferençar do falso Quixote, lá pelas tantas muda o destino da viagem que estava prevista no romance, obrigando o cavaleiro desviar de Saragoça e seguir para Barcelona, cidade, povo e cultura muito queridos e elogiados por Cervantes.
Dom Quixote é antes de tudo uma grande gozação, sátira dos livros de cavalaria, como também dos escritores contemporâneos que se jactavam de grande erudição, se gabavam de ler gregos e troianos no original! Não se trata de um livro erudito, como alguns estudiosos querem fazer que seja, à custa de estudos minuciosos das referências que nele estão colocadas às claras. Alguns mais, críticos metidos a besta, tentam achar chifre em cabeça de cobra e plantam mais coisas do ali está. Só que isso é fácil de perceber...
A cultura que Cervantes tinha foi adquirida principalmente em Roma, quando foi secretário-camareiro do Cardeal Júlio Acquaviva y Aragón e nas diversas viagens que a vida militar proporcionou. É o conhecimento amplo de um intelectual voltado para o seu tempo, buscando raízes na cultura clássica dos gregos, romanos e Europa Medieval. Daí a pseudo erudição emprestada a Dom Quixote, que fez com que seus admiradores fanáticos o colocassem bem acima do espaço que ocupa. Convém lembrar que Cervantes mencionou no prólogo de Dom Quixote, a título de gozação, a falsa erudição que cometiam autores da época, inclusive alguns de seus pares. Referia-se, principalmente, a Lope de Vega, que incluiu em livro páginas e mais páginas de citações de "obras e autores consultados e referidos".
Dom Quixote é, sim ,um livro alegre, brincalhão, gozador, ótimo para desopilar o fígado. Ademais tem muita coisa que se pode guardar, cultivar, colher. Assim deve ser lido para ser apreciado. Estamos conversados: sente-
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se, relaxe, leia com vagar, deguste o livro, os ditos sentenciosos, as piadas, os fuxicos, as farsas inventadas com os senhores feudais da época, as gozações com os colegas escritores amigos do poder. Histórias com anti-heróis sempre nos fazem rir. Seguir, enfim, o roteiro que Cervantes deixou no prólogo direcionado ao desocupado leitor, que foi mais ou menos o seguinte: Gostaria que este livro, como filho do saber, fosse o mais bonito, o mais exuberante e mais simples que pudesse imaginar. Porém não pude contradizer ordem da natureza, que cada coisa gera outra que lhe seja semelhante. Por isso, haverão de encontrar neste livro disparates fabulosos, com os quais nada tem que ver a exatidão da verdade nem as observações da astrologia. Não lhe servem de coisa alguma as medidas geométricas, nem a confutação dos argumentos usados pela retórica, nem tive necessidade de fazer sermões aos leitores misturando o humano com o divino. Procurei fazer com que esta história se apresente em público escrita em estilo significativo, com palavras honestas e bem colocadas, sonoras e festivas em grande abastança, pintando em tudo quanto for possível a minha intenção, fazendo entender todos os conceitos sem os tornar intrincados, nem obscuros. Minha única intenção é fazer que, quando ler este livro, o triste imediatamente se alegre e solte uma risada, que o risonho quase endoideça de prazer, o simples não se enfade, que o discreto se admire de minha intenção, o grave não a despreze, nem o sisudo deixe de elogiá-la, quando for o caso. Se tiver conseguido realizar pelo menos a metade do que aqui digo, ficarei feliz. Valeu!
Tirando fora as edições e traduções piratas (sim, elas sempre existiram e existirão!), Cervantes viu publicadas as seguintes edições de Dom Quixote: O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha (El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha), Parte I, Valladolid 1604, Madri 1605 e 1608, Lisboa 1605, Valência 1605, Bruxelas 1607 e 1611, Milão 1610, Barcelona 1617 Ambers 1673, Londres 1612. E, juntado ao volume II, mais e mais edições até os dias de hoje. O engenhoso cavaleiro Dom Quixote de La Mancha (El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha), Parte II, Madri 1615, Barcelona 1617. O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha, Parte II, de Alonso Fernández de Avellaneda (pseudônimo provável do padre Luís de Aliaga), Tarrragona 1614.
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UM LEITOR ENTREVISTA MIGUEL DE CERVANTES Leitor: É possível que todos os romances de cavalaria sejam tão maléficos para a alma, a ponto de merecerem a fogueira, como se fazia aos hereges nos moldes inquisitoriais?
Cervantes: Nunca vi um livro de cavalarias com unidade de ação, mas compõem-se de tantos membros, que mais parece que o autor quis formar uma quimera ou um monstro do que fazer uma figura proporcionada. Apesar de ter dito mal desses livros, achava neles uma coisa boa, que era darem assunto para se poder manifestar um vivo engenho, porque tinham vasto e espaçoso campo, por onde podia correr a pena sem o mínimo obstáculo, descrevendo naufrágios, tormentas, reencontros e batalhas. Tem a História do famoso cavaleiro Tirant lo Blanch, de Johanot Mastorell e Martí Johan de Galba. Este não vai para a fogueira, faço de conta que nele achei um tesouro de contentamento e mina para passatempos. A verdade vos digo que em razão de estilo não há no mundo livro melhor. Aqui comem e dormem os cavaleiros, morrem nas suas camas e antes de morrer fazem testamento, com outras coisas mais que faltam nos livros deste gênero. Bem, pode você mandar queimar como aos outros, porque não admiraria que, depois de curado Dom Quixote da mania dos cavaleiros, lendo agora estes, se lhe metesse em cabeça fazer-se pastor, andar pelos bosques e prados, cantando e tangendo. E pior ainda fora o perigo de fazer-se poeta, que, segundo dizem, é enfermidade incurável e pegadiça.
Leitor: Não acha você, senhor Cervantes, que o Dom Quixote merece um tratamento mais favorável no futuro, com atualização de linguagem e, quem sabe, até com uma continuação da história?
Cervantes: Tinha assentado comigo que Dom Quixote continuaria a jazer sepultado nos arquivos da Mancha até que o céu lhe depare pessoa competente que o adorne de todas as coisas que lhe faltam, porque eu me sinto incapaz de remediá-las em razão das minhas poucas letras e natural insuficiência e ainda de mais a mais porque sou muito preguiçoso e custa-me
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muito a andar procurando autores que me digam aquilo que eu muito bem me sei dizer sem eles. Em resumo, imagino que tudo o que digo é assim, sem que sobre nem falte nada, pinto as coisas em minha imaginação como as desejo.
Leitor: Como o senhor gostaria de ver apresentada a figura de Dom Quixote?
Cervantes: Como uma legenda seca igual as palhas, falta de invenção, minguada de estilo, pobre de conceitos e alheia a toda erudição e doutrina, sem notas às margens nem comentários no fim do livro. Ao contrário do que vejo por, aí muitos livros, ainda que fabulosos e profanos, tão cheios de sentenças de Aristóteles e Platão, de toda a caterva de filósofos, que levam admiração ao ânimo dos leitores e fazem que estes julguem os autores dos tais livros como homens lidos, eruditos e eloqüentes. Quando citam a Divina Escritura, se dirá que são uns Santos Tomases e outros doutores da Igreja, guardando nisto um decoro tão engenhoso, que em uma linha pintam um namorado distraído e em outra fazem um sermãozinho tão cristão, que é mesmo um regalo lê-lo ou ouvi-lo.
Leitor: Não é verdade! Porque é tão clara que não há como dificultá-la. As crianças a manuseiam, os jovens a lêem, os adultos a entendem e com ela os velhos se divertem. Afinal, é tão divulgada, tão lida, tão conhecida de todo tipo de gente, que mal se vê um cavalo fraco, um pangaré, um matungo, logo se diz: Olha lá o Rocinante! Mas não é normal que se cite pelo menos a fonte de inspiração, sem que isso de torne forma de soberba?
Cervantes: Não foi sábio o autor de minha história, mas algum ignorante falador, que de repente, sem nenhum preparo, começou a escrevê-la, saia o que sair. O que eu somente muito desejava era dar-ta mondada e despida, sem os ornatos de prólogo nem do inumerável catálogo dos costumados sonetos, epigramas e elogios que no princípio dos livros por aí é uso pôr-se. Os homens famosos pelo seu engenho, os grandes poetas, os ilustres historiadores sempre, a maior parte das vezes, são invejados por aqueles que têm por gosto e particular entretenimento julgar os escritos alheios sem ter dado um só à luz do mundo.
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Leitor: A mentira é tanto mais saborosa quanto mais verdadeira se afigura e agrada tanto mais quanto mais se aproxima do possível.
Cervantes: Hão de se casar as fábulas mentidas com o entendimento dos que as lerem, escrevendo-se de forma que, facilitando os impossíveis, nivelando as grandezas, suspendendo os ânimos, espantem, suspendam, alvorocem e entretenham de modo que andem juntas a admiração e a alegria e estas coisas todas não as poderá fazer quem fugir da verossimilhança e da imitação, em que consiste a perfeição do que se escreve.
Leitor: Não só por me parecer que me ia metendo em coisas alheias à minha profissão, como por ver que é maior o número que simples de espírito do que dos cordatos e que, ainda que é melhor ser louvado pelos poucos sábios que fustigado pelos muitos néscios, não quero sujeitar-me ao confuso juízo do vulgo, que lê semelhantes livros...
Cervantes: E, sendo isto feito com aprazível estilo e engenhosa invenção, que se aproxime da verdade tanto quanto for possível, há de compor sem dúvida uma fina tela, entretecida de fios formosíssimos que, depois de acabada, se revele tão perfeita e linda, que consiga o fim melhor que se aspira nesses escritos, que é ensinar e deleitar juntamente, como já disse; porque a solta contextura destes livros dá lugar a que o autor possa mostrar-se épico, lírico, trágico, cômico, com todas as partes que encerram em si as dulcíssimas e agradáveis ciências da poesia e da oratória - que a epopéia tanto pode escrever-se em prosa como em verso.
Leitor: Dizem os estudiosos que com Dom Quixote se inaugurou um novo tipo de narrativa, cujo roteiro sugere algo moderno, de linhas definidas, ordenadas dentro de um crescente ritmo, enfim, um estilo novo...
Cervantes: Para alguns, escrever sempre um só assunto e falar pela boca de poucas pessoas é um trabalho insuportável, que não redunda em proveito de seu autor. Mas, uma vez que se contém, se aprisiona nos limites estreitos da
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narrativa, tendo habilidade, suficiência e entendimento para tratar do universo do todo, é mister que não se deprecie o seu trabalho e que se elogie não pelo que escreve, mas pelo que deixou de escrever.
Leitor: Devem os escritores apresentar seus trabalhos, mesmo os mais imaturos, quando carecem de estilo embora sejam dono já de alguma técnica?
Cervantes: Contra isso posso alegar de minha parte a inclinação que, para a poesia, sempre tive, havendo apenas saído dos limites da juventude. Além do que, não se pode negar que os estudos desta faculdade trazem consigo mais que medianos proveitos: o poeta enriquece-se de sua própria língua e se assenhora da arte da eloqüência que nela cabe, para empreendimentos mais elevados e de maior importância, abre caminho para que, à sua imitação, os espíritos estreitos cresçam.
Leitor: Hoje a poesia chamada erudita invade os teatros, os romances pastoris, até os relatos históricos. É possível que a poesia seja o gênero maior até que o romance?
Cervantes: Quero responder que o escritor livre de paixão, com maior fundamento se dispõem a não admitir as diferenças da poesia. Alguns resolvem publicar seus escritos por leviana consideração, mais levados pela força que a paixão das próprias composições costuma exercer sobre os autores. Entretanto, a ninguém cabe satisfazer os espíritos que se encerram em termos tão limitados. O mesmo sucederá a todos quantos quiserem traduzir para os seus idiomas livros de versos, que, por muito cuidado que nisso ponham e por mais habilidade que mostrem, nunca hão de igualar ao que eles valem no original. Sendo assim, para entendê-la, será necessário de comentários.
Leitor: Como você vê o progresso da literatura castelhana, com tantos autores querendo publicar seus trabalhos?
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Cervantes: Disso posso ser testemunha segura, já que conheço alguns que, com justo direito e sem os embaraços que enfrento, puderam seguir com segurança carreira tão perigosa. Mas são tão comuns, tão diferentes as dificuldades humanas e tão vários os fins e as ações, que uns - com desejo de glória - se aventuram; outros, - com temor da infâmia - não se atrevem a publicar aquilo que há de sofrer o julgamento do povo, perigoso e quase sempre enganado. Se as comédias da voga, tanto as de pura imaginação, como as que se fundam na história, são todas, ou a maior parte, verdadeiros disparates e coisas que não têm pé nem cabeça e, com tudo isso, o vulgo as ouve com gosto, as considera e aprova como boas, estando tão longe de o ser. Os autores e os atores dizem que estão muito bem assim, porque assim as quer o vulgo e que as que seguem os preceitos da arte servem só para quatro discretos que as entendem e todos os outros ficam em jejum, sem compreender o seu artifício. E que a eles fica melhor ganhar o pão com muitos do que fama com poucos, acontecerá o mesmo ao meu livro.
Leitor: O que ocorre é que com tal avalanche de livros, difícil será separar o joio do trigo, o que é bom e útil daquilo que representa apenas a vaidade de ser publicado...
Cervantes: Eu, não porque tenha motivos para ser arrojado, dei mostras de atrevimento publicando este livro. Mas porque não saberia determinar qual o maior de dois inconvenientes: o de quem, com pressa, desejando comunicar o talento que do céu recebeu, cedo se aventura a oferecer os frutos de seu engenho ou o de quem, escrupuloso, moroso ou negligente, jamais acabando de contestar o que faz e entende, nunca se decide a comunicar seus escritos. Assim como a ousadia e a coragem de um poderiam condenar-se pela licença demasiada que concede a si mesmo, o receio e a tardança do outro são viciosos: pois tarde ou nunca serve, com o fruto de seu engenho e estudos, aos que esperam e desejam ajudas e exemplos para prosseguir em suas atividades.
Leitor: Então, vale a pena arriscar-se a ser condenado pela crítica, pela opinião dos autores da moda que, afinal, podem influenciar o povo?
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Cervantes: Bem sei como sói condenar-se uma pessoa insignificante que se excede em matéria de estilo, pois até o príncipe da poesia latina (Quem? Cícero?) foi caluniado por se haver levantado em algumas de suas éclogas mais do que em outras. Assim, não temerei muito que alguém condene ter eu mesclado razões de filosofia com algumas da cavalaria, que poucas vezes se ocupam de coisas que não sejam das liças, do amor fiel e dos campos.
Leitor: O seu Dom Quixote, no entanto, parece um tipo universal e será milhões de vezes imitado.
Cervantes: Só para mim nasceu Dom Quixote e eu para ele: ele para praticar as ações e eu para as escrever. Somos um só, a despeito e apesar do escritor que se atreveu ou se há de atrever, a contar com pena de avestruz, grosseira e mal aparada, as façanhas do meu valoroso cavaleiro. Porque não é carga para os seus ombros, nem assunto para o seu frio engenho.
Leitor: O Dom Quixote já corre mundo traduzido para várias línguas, porque também tem a qualidade de ser um livro fácil de traduzir...
Cervantes: Parece-me que traduzir duma língua para outra, não sendo das rainhas das línguas grega e latina, é ver panos de rás pelo avesso que, ainda que se vêem as figuras, Vêem-se cheias de fios que as escurecem e não se vê a lisura e cor do direito. E o traduzir de línguas fáceis não prova engenho nem elocução, como não o prova quem traslada, nem quem copia um papel de outro papel. E daqui não quero inferir que não seja louvável este exercício das traduções, porque em outras coisas piores e que menos proveito lhe trouxessem, se podia ocupar o homem. Estão fora desta conta os nossos dois famosos tradutores Cristóvão de Figueroa, no seu Pastor Fido e Dom Juán de Jáuregui, no seu Aminta, em que facilmente se fica em dúvida sobre qual é a tradução e qual o original."
Leitor: Apesar de todo o sucesso do Dom Quixote, das farsas, das novelas, o efeito financeiro foi bem pouco.
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Cervantes: Eu ficarei satisfeito e ufano de ter sido o primeiro que gozou inteiramente o fruto dos seus escritos, como desejava, pois não foi outro o meu intento senão o de tornar aborrecidas dos homens as fingidas e disparatadas histórias dos livros de cavalarias, que vão já tropeçando com as do meu verdadeiro Dom Quixote e ainda hão de cair de todo, sem dúvida.
Leitor: Então, de qualquer modo, aproveita-se algo para o saber o que contêm as histórias de cavalarias...
Cervantes: No meu entender, este gênero de composição assemelha-se ao que chamam fábulas milésias, que são esses contos disparatados que só tratam de deleitar e não de instruir; ao contrário do que sucede com as fábulas apologais, que justamente deleitam e instruem. O deleite que na alma se gera, deve resultar da formosura e harmonia que vê ou fantasia nas coisas que os olhos ou a imaginação apresentam e tudo quanto é feio ou desconcertado não nos pode causar satisfação alguma.
Leitor: Mas haveria a necessidade de enterrar o pobre Dom Quixote, ao contrário de dar-lhe vida longa como merecem os heróis imortais?
Cervantes: Como as coisas humanas não são eternas e vão sempre em declinação desde o princípio até o fim, especialmente as vidas dos homens, a de Dom Quixote não teria esse privilégio do céu para deixar de seguir o seu termo e acabamento. Depois de recebidos todos os sacramentos e de ter arrenegado, com muitas e eficazes razões, os livros de cavalaria, chegou, afinal, a última hora de Dom Quixote.
Leitor: Nunca li em nenhum livro de cavalarias que algum cavaleiro andante houvesse morrido no seu leito, tão sossegado e cristãmente como Dom Quixote. Cervantes: As minhas intenções sempre as dirijo para bons fins, que são fazer o bem a todos e mal a ninguém. Se quem isto entende, se quem isto pratica, se quem disto trata merece ser chamado de bobo, digam-no as vossas grandezas. O não saber um homem ler indica uma de duas coisas: ou que teve nascimento
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humilde e baixo, ou que foi tão travesso e tão mau, que lhe não pôde entrar na cabeça o bom costume nem a boa doutrina. Como disse Sancho Pança: "Que grandeza é mandar num grão de mostarda ou que dignidade ou que império é governar em meia dúzia de homens do tamanho de avelãs, que me pareceu que em toda ela não havia mais? Se Vossa Senhoria fosse servido de me dar uma pequena parte do céu, ainda que não fosse mais de meia légua, tomá-laia de melhor vontade que a maior ilha do mundo."
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Viagem em torno de Dom Quixote de La Mancha e de um tal Miguel de Cervantes Saavedra
(Parte II)
1 - Fórmulas, adagiário, frases feitas, expressões populares
2 - Poemário, coplas, romanceiro, sonetos, poesias
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Cervantes delegou ao escudeiro Sancho Pança a função de contraponto da história. Os próprios personagens - Cavaleiro vs. Escudeiro - formam o necessário espelho para que suas atuações reflitam entre si. Ao pseudo erudito, o fidalgo Dom Quixote, Sancho Pança contrapõe o popular e através da fala dele Cervantes registra a fala de sua época, um linguajar cuja nacionalidade não estava definida nem lingüística nem gramaticalmente. Embora a linguagem culta castelhana prevaleça (saturada com muitas citações gregas e latinas), todo o dialeto peninsular (português, catalão, galego, etc.), está representado na narrativa e sob a égide do palavrear simples de Sancho Pança. Como se verá, muitas das expressões ainda são corriqueiras hoje em dia, ainda que em forma corrupta.
A A abundância das coisas ainda que sejam boas faz com que se não as estimem A amizade de Deus por nenhuma na terra se há de perder A arte não vence a natureza mas aperfeiçoa-a A barriga de palha de feno se enche A caça é mais saborosa quando é à custa alheia A cada porco chega o seu São Martinho A cada um que o mate a sua má estrela ou Nosso Senhor que o criou A carestia ainda que das más coisas alguma coisa se estima A cavalo dado não se olha o dente A cobiça rompe o saco A Deus darei contas A Deus e a el-rei A Deus nada é impossível A diligência é a mãe da boa ventura e a preguiça sua contrária A diligência é mãe do bom êxito A discrição é a gramática da boa linguagem A dizer tantos disparates que bem mostrava trazer o juízo a monte A epopéia tanto pode escrever-se em prosa como em verso À fé que lhe não arrendava o ganho nem por um maravedi A formosura é a primeira e a principal prenda que enamora A fortuna tudo faz pelo melhor A gente deita-se são e acorda doente A gente lavradora que é de si maliciosa e dando-lhe o ócio lugar é a própria malícia A gente neste mundo está nas mãos de Deus A gente onde está fala dos seus negócios
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A história é como uma coisa sagrada porque tem de ser verdadeira A honra pode-a ter o pobre mas não o vicioso A imitação deve ser o fim principal da comédia A ingratidão é filha da soberba e um dos maiores pecados que se conhecem A ingratidão é filha da soberba e um dos maiores pecados que se conhecem A inveja de duas que há eu só conheço a santa a nobre e bem intencionada A isso é que só Deus pode dar remédio A liberdade é um dos dons mais preciosos que aos homens deram os céus A liberdade é um dos dons mais preciosos que o homem recebeu do céu A maior loucura que pode fazer um homem nesta vida é deixar-se morrer sem mais nem mais, sem ninguém nos matar, nem darem cabo de nós outras mãos que não sejam as da melancolia. A maior loucura que pode fazer um homem nesta vida é deixar-se morrer sem mais nem mais nem ninguém nos matar nem darem cabo de nós outras mãos que não sejam as da melancolia A mais discreta figura da comédia é a do parvo porque precisa de o não ser quem quer fingir de tolo A mão de Deus nos proteja A mentira é tanto mais saborosa quanto mais verdadeira se afigura A mim me há de levar o Diabo daqui donde estou A morte é surda e vem-nos bater à porta quando menos a esperamos e não a detém nem rogos nem súplicas nem mitras e cetros como é fama e como dizem por esses púlpitos A morte que se recebe repentina depressa acaba as penas; mas a que se dilata com tormentos está matando sem acabar a existência A morte vem correndo A mulher boa não alcança boa fama só com o ser boa A mulher e a galinha por andar se perdem cedo A mulher é animal imperfeito A mulher que é boa por medo ou por falta de ocasião não a acho merecedora da estima A música é uma suavizadora dos ânimos alterados e um alívio para os trabalhos do espírito A não ser tão breve que em duas palavras se diga
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A necessidade persuade a fazer o que não se deve A outro cão com esse osso A pata que me pôs A pé enxuto A pena é a língua da alma A pena é ainda mais livre que a fala para bem expressar os mistérios do coração À primavera segue-se o verão ao verão o outono ao outono o inverno e ao inverno a primavera e assim gira e regira o tempo nesta volta contínua A quantidade de néscios é infinita do Eclesiastes A quem busca o impossível justo é que até o possível se lhe negue A quem Deus a deu São Pedro que a benza A quem hás de castigar com obras não trates mal com palavras A quem Nosso Senhor maldiga A quem quero mais que as pestanas dos meus olhos A quem sega e amassa não lhe furtem a fogaça A razão da sem-razão que à minha razão se faz... A roda da fortuna anda mais depressa que a roda de um moinho A sabedoria do Diabo também não se estende a mais A salvo está quem repica os sinos A santidade consiste em caridade e humildade fé obediência e pobreza A saúde de todo corpo se forja na oficina do estômago A senda da virtude é muito estreita e o caminho do vício largo e espaçoso A soldadesca é uma escola na qual o mesquinho se torna liberal e o liberal passa a ser pródigo A solicitude do demandista leva a bom fim o pleito duvidoso À sombra de aleijão fingido ou de chaga falsa andam ladrões os braços e bêbada a saúde A sorte fatal tudo encaminha risca e dispõe a seu talante A um brinde de amigo que coração de mármore haverá que não faça logo a razão? A um tiro de besta A valentia que entra por temeridade é mais loucura que fortaleza A valentia que não se baseia na prudência chama-se temeridade
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A valentia que não se baseia na prudência chama-se temeridade. A verdade é o que eu disse que há de sobrenadar sempre na mentira como o azeite na água A verdade manda Deus que se diga A verdade torce mas não quebra e anda sempre ao de cima da mentira como o azeite ao de cima da água A virtude é tão poderosa que por si só sairá vencedora A virtude há de se honrar onde se encontrar A virtude mais é perseguida pelos maus que amada pelos bons A virtude vale por si só o que o sangue não vale Abaixou a cabeça e meteu pernas ao potro Abrindo-lhe portas por onde saísse a minha honra envolta no seu sangue Ache-se a paz na roda Acudiam a picá-lo os pensamentos como as moscas ao mel Adeus e com Ele ide! E com Ele fiqueis! Aduba-me essa lamparina! Agarrar a ocasião pelos cabelos Aí é que bate o ponto corpo de meu pai! Ainda luz sol no mundo Ainda que a traição agrade o traidor sempre aborrece Ainda que coma o pão com sobressalto ao menos sempre me farto Ainda que eu viva mais anos que Matusalém Ainda que os rifões são sentenças breves muitas vezes os trazes tanto pelos cabelos que mais parecem disparates do que sentenças Ainda que perdi a honra não perdi nem posso perder a virtude de cumprir a minha palavra Ainda que são iguais todos os atributos de Deus mais resplandece e triunfa a nossos olhos o da misericórdia que o da justiça Ainda que se escondesse na barriga da baleia Ainda que sejam hipérboles sobre todas as hipérboles Ainda que vos escondais mais fundo que uma lagartixa Ajude Deus a razão e a verdade Ajude-me Deus com o que é meu Alfaiate de cantinho (cose de graça e dá o fio)
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Alma de esparto e um coração de carvalho que se desses comigo outro galo te cantara Alvos como amêndoa sem casca Amaldiçoou-os com todas as veras da sua alma Andante cavaleiro sem amores era árvore sem folhas nem fruto e corpo sem alma Andar de um lado para outro e ir de mal a pior Andará entre nós a paz e a bênção de Deus Ande eu quente e ria-se a gente Ânimo, ânimo que tudo é nada Antes de sair para a praça dos vossos ouvidos Antes me arrancariam a alma do meio das carnes Antes quero ir Sancho para o céu do que governador para o inferno Antes quero ser mulher legítima de um lacaio do que amiga e escarnecida de um cavaleiro Antes se peca por carta de mais que por carta de menos Antes ser lavrador que rei se o hão de comer os bichos Ao bom pagador não custa dar penhor Ao bom pagador não dói o dar penhores Ao bom pagador não lhe custa dar penhor Ao bom silêncio chamam Sancho Ao deixarmos este mundo e metermo-nos pela terra adentro por tão estreita senda vai o príncipe como o jornaleiro Ao fritar dos ovos Ao inimigo que foge se deve fazer uma ponte de prata! Ao possuidor das riquezas não o faz feliz o possuí-las mas sim despendê-las e não o gastá-las como quiser mas saber empregá-las bem Ao que não vai nem vem passar ao largo é cordura Ao que o governador diz não se deve replicar Aonde se não cuida salta a lebre Aos amigos casados já se não hão de as casas freqüentar Aos mouros não se pode mostrar o erro da sua seita com as citações da Escritura Apesar de andar a estimação sempre anexa à riqueza
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Apesar de seres tonto és homem verídico Aplicarei o pensamento a discursos de mais proveito Aquele que diz injúrias perto está de perdoar Aquele que muito viver muitos trabalhos há de passar Aqui del-rei e da justiça! Aqui e diante de Deus Aquilo que mais custoso é em maior estima deve ser tido Arrancando-se-lhe a alma Arrancava-lhe a alma a estocadas Arrasam-se-me os olhos de água As ações que não mudam nem alteram o fundo verdadeiro da história não há motivo para se escreverem As armas dos que vestem sotainas são como as das mulheres a língua As armas requerem tanta força de espírito como as letras As ave-marias e os padre-nossos são de ouro de martelo As aventuras de Dom Quixote ou se hão de celebrar com admiração ou com riso As avezinhas do campo têm a Deus por seu provedor e despenseiro As canas voltam-se em lanças As cicatrizes que o soldado ostenta no rosto e no peito são estrelas que guiam os outros ao céu da honra As coisas difíceis empreendem-se por Deus ou pelo mundo ou por ambos juntos As coisas humanas não são eternas e vão sempre em declinação desde o princípio até o seu último fim especialmente as vidas dos homens As coisas presentes que os olhos estão mirando assistem na nossa memória muito melhor e com mais veemência que as coisas passadas As esperanças duvidosas devem fazer os homens atrevidos mas não temerários As façanhas do temerário mais se atribuem à boa fortuna que ao seu ânimo. As iras dos amantes costumam desabafar em maldições As leis que atemorizam e se não escutam vêm a ser como o cepo As marafonas que fiem
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As misericórdias de Deus não têm limite e não as abreviam nem as impedem os pecados dos homens. As nossas loucuras procedem de termos estômagos vazios e cérebros de ar As obras de caridade que se praticam tíbia e frouxamente não têm mérito nem valem nada As riquezas podem soldar muitas quebras As terras de si estéreis e secas em se estrumando vêm a dar bons frutos As tolices dos ricos passam por sentenças no mundo As tripas é que levam os pés não são os pés as tripas As tristezas não se fizeram para os brutos e sim para os homens As virtudes adubam o sangue Assim como é teu pai é pai e mãe dos rifões Assim como o fogo não pode estar escondido e encerrado não pode a virtude deixar de ser conhecida Assim costuma Deus ajudar o bom desejo do simples e desfavorecer o mau do discreto Assim Deus me ajude Assim fossem as pulgas da minha cama Assim o Diabo o determinara Até agora tem sido pão com mel Até aí chegava eu e não diria mais o profeta Perogrullo Até o lavar dos cestos é vindima Até que te venham obrigar pela dúvida que a ninguém perdoa
B Barbada e com bigodes tenha eu a minha alma quando me for embora desta vida é o que importa Barcelona arquivo de cortesia albergue dos estrangeiros hospital dos pobres pátria dos valentes vingança dos ofendidos e grata correspondência de firmes amizades única em situação e formosura Basta ao desditoso as penas do suplício sem o acrescentamento das injúrias Basta conheceres que eu digo a verdade e dá um ponto na boca Bêbado como um cacho
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Bebi com o leite a fé católica Bem está cada um usando do ofício para que foi nascido Bem está São Pedro em Roma Bem haja quem inventou o sono Bem se comem as mãos por mostrar que são curiosas Bem sei o que são tentações do Demônio Bendito seja o céu Bendito seja o poderoso Deus que tanto bem me fez Benza-me Deus Benza-o Deus Benzer-nos e levar ferro Biscainho por terra fidalgo por mar fidalgo com os diabos Boa índole tens sem a qual não há ciência que valha Boa ventura vos dê Deus Bom coração quebranta má ventura Bom é viver muito para ver muito Bom inteiro e católico de saúde
C Cada coisa gera outra que lhe seja semelhante Cada dia se vêem coisas novas no mundo: as mentiras se trocam em verdades e os burladores são burlados Cada ovelha com a sua parelha Cada qual é como Deus o fez e muitas vezes ainda pior Cada qual é feito de suas obras Cada qual veja como despede o virote Cada terra com seu uso Cada um é artífice da sua ventura Cada um é filho das suas obras Cair em juízo temerário Calaram-se todos tírios e troianos Canta como uma calhandra dança como o pensamento baila como perdida lê e escreve como um mestre-escola e conta como um sovina Capaz de falar mais do que trinta advogados
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Capazes de alegrar a própria melancolia Casamentos desiguais nem se gozam nem aturam muito no gosto com que principiam Cavam leis onde querem reis Cedo verás quem leva o gato à água Cego é quem não vê por entre os fios de seda! Cerrar as janelas dos olhos Chega-te para boa árvore boa sombra terás Chega-te para os bons serás um deles Coisa que não venha muito a pêlo Colchões lhe serão as penhas / E o dormir sempre velar Com a mais triste e melancólica fisionomia que a própria tristeza podia ter Com a vida muitas coisas se remedeiam Com ânimo de me bater com Satanás em pessoa Com as faces tão chupadas que se beijavam por dentro Com bom cimento se pode levantar um bom edifício e o melhor cimento do mundo é o dinheiro Com ele não tinham que ver as gerais de enamorado nem de desesperado Com esta obrigação nasceram as mulheres de ser obedientes e seus maridos Com mero e misto império Com o que Deus for servido dar-me Com os amigos não se corta as unhas rentes Com tanta energia que nem as forças de Sansão a poderiam romper Com tanta prudência e juízo que lhe tapou a boca Com tantas lágrimas que bastaram para me lavar as mãos Com teu amo não jogues as pêras Coma-os o Diabo Combina a misericórdia com a justiça Comedimento é azul sobre o ouro da formosura Comendo puxarei pela minha vida até chegar ao fim que o céu determinou Comia com garfo as uvas e os bagos de romã Comida feita companhia desfeita Como a morte que devo a Deus
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Como aquele que sai das trevas para a luz da morte para a vida e do inferno para o céu Como brandos espinhos nos atravessam a alma e como raios a ferem Como com as nuvens do ano passado Como lançarmos um milheiro de cãs fora Como no fogo do crisol se apura a pureza do ouro Como o que me dão Como sabem Deus e todo mundo Como se fora asno de cigano com azougue nos ouvidos Como se não fosse maior mal a fraqueza do que a febre Como um ovo se parece com outro Como um pedaço de toucinho entre duas masseiras Conheço o zurrar como se eu o tivesse dado à luz Conheço-a como se a tivesse parido Conselhos melhores que os de Catão Conservando-me intacta como a salamandra no lume ou como a lã nas sarças Contra ajuizados e contra loucos está obrigado qualquer cavaleiro a acudir pela honra das mulheres Contra o uso dos tempos não há que argüir nem que tirar conseqüências Contra todos os golpes da minha aziaga fortuna Corpo de tal! Corpo do mundo Cortar os racimos verdes da mais formosa vide dos vinhedos Cortesias geram cortesias Cosendo-lhe a boca aos sapatos Costuma Deus ajudar o bom desejo do simples e desfavorecer o mau do discreto Cruel Vireno fugitivo Enéias Barrabás te acompanhe lá te avenhas Cuidados alheios matam o asno Custa pouco prometer o que nunca pensaram nem poderiam cumprir Custa-me muito andar procurando autores que me digam aquilo que eu muito bem me sei dizer sem eles
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D Da doença que Deus lhe deu Da dor de cabeça hão de participar os membros Da melhor vontade e seja o que for bom prol me faria Da prolixidade costuma gerar-se o fastio Da saia parda de burel para sedas e veludos Dadas graças a Deus e água às mãos Dadas graças a Deus e águas às mãos Dádivas quebrantam penhas Dando contas a Deus da sua má vida Dar conselhos a este bom homem é dar coices no aguilhão Dar depressa é dar duas vezes Dar fim a um negócio em que lhe iam a existência a honra e a alma Daria três pontos na boca e até morder três vezes a língua Darmos depressa o que temos de dar não tira nem põe nada ao valor da coisa Das coisas obscenas e torpes devem afastar-se os pensamentos quanto mais os olhos Das palavras de um louco ninguém devia fazer caso Das repúblicas bem governadas se devem desterrar os poetas como Platão aconselhava Dava uns suspiros que chegavam ao céu De conhecer-te resultará o não inchares como a rã que se quis igualar ao boi De escrivão Deus nos livre esses amigos fazem letra processada que nem Satanás a decifra De estômago feito para lhe arrancar a vida De forma que disfarce o que é e pareça o que há de ser De grandes senhoras grandes mercês se esperam De hoje até amanhã não me doa a cabeça e numa hora cai a casa De mal-agradecidos está o inferno cheio De membro podre se tornou limpo e são com penitência e arrependimento De não ser notória a tua dor te provirá isenção dela De noite todos os gatos são pardos De palha ou de feno minha pança cheia
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De pouco sal na moleira De qualquer modo que me leveis sem a vida sempre eu irei De todo coração a Deus De tudo o que a mulher do juiz receber há de dar conta o marido na residência universal De tudo tem de haver no mundo De um adormecido a um morto pouca diferença vai De vez em quando dorme o bom Homero de um verso de Horácio Debaixo de ruim capa se esconde bom bebedor Debaixo do meu manto ao rei mato Deitando para trás das costas todas as obrigações Deitarei água às mãos Deixai-me ir buscar a vida passada para que me ressuscite desta morte presente Deixa-me morrer à mão dos meus pensamentos e à força das minhas desgraças Deixando feito xis ao vendeiro Deixem-me gostar a mim de ser da desventura podendo ser da felicidade Demônio manco Dentre bois e arados tiraram o lavrador Wamba para ser rei de Espanha Dentre os brocados passatempos e riquezas tiraram a Rodrigo para ser comido pelas cobras Depois das trevas espero a luz (Jó) Depois de ter roído metade da polpa de um dedo Desde que Apolo foi Apolo e as musas musas e os poetas poetas Desejo não vos arruinar como se fora padrasto Desenterrando-nos os ossos e enterrando-nos a fama Desfazer esse tal agravo e endireitar esse torto Desgraçado é quem às duas horas da tarde ainda não quebrou o jejum Despregarás os lábios com riso de macaco Deste com uma alma de esparto e um coração de carvalho que se desses comigo outro galo te cantara Desterram a melancolia e melhoram a condição se acaso a tiver má Destila âmbar e algália entre algodões
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Detrás da cruz está o Diabo Deu a alma a Deus Deu lugar a aurora ao sol que com o rosto maior que uma rodela surgia a pouco e pouco do fundo do horizonte Deus abençoou a paz e amaldiçoou as rixas Deus ajuda a quem madruga Deus dá asas à formiga para que morram mais depressa Deus lhe dê a mão direita Deus lhe dê remédio Deus lhe dê ventura Deus lhe fale na alma porque já morreu Deus livre a Vossa Mercê de mal intencionados nigromantes Deus madrugará conosco Deus me ajude e a Santíssima Trindade de Gaeta Deus me entende Deus me entende e basta Deus o encaminhe Deus o livre desse tormento Deus o ouça e o pecado seja surdo! Deus olhará pelo seu povo Deus permite muitas vezes que tenhamos verdugos para nos castigarem Deus sabe a verdade de tudo Deus sabe o que amanhã sucederá Deus sabe o que me pesa Deus seja contigo e te faça um santo Deus será servido Deus suporta os maus mas não para sempre Deus te dê saúde e não te esqueças de mim Deus te guarde de quem te queira magoar Deus te guarde mais anos do que a mim Deus te guie e a Penha da França e a Trindade de Gaeta Deus te guie e te traga são Deus vos perdoe o agravo que fizestes a todo o mundo Deve ser delicioso o trabalho de sepultar a sua própria infâmia
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Diabos levem o Diabo Digo bem ou peço para as almas? Discretos dias viva Vossa Santidade Dispensar-me-ei de repreender o que não me é possível remediar Disponha o céu como lhe aprouver Disse a caldeira à sertã tira-te para lá não me enfarrusques Dizem que o Amor é um rapaz ceguinho Dize-me com quem andas dir-te-ei as manhas que tens Dizer graças e escrever donaires é de altíssimo engenho Diz-me com quem andas dir-te-ei as manhas que tens Do coração procedem os maus pensamentos (Mateus XV 19) Do dizer ao fazer vai grande distância Do pé para a mão Dois tiros de besta para diante Donzela honesta ter que fazer é a sua festa Donzela honrada em casa de perna quebrada Dos homens é que se fazem os bispos não é das pedras Dos mouros não se podia esperar verdade alguma Dos socos para os chapins
E E adeus que aí vem o romper da alva É alívio nas desgraças termos quem se nos doa delas E andai com Deus E assim está Deus sobre todos porque é sobre todos doador É bom como o bom pão É bom mandar ainda que seja um rebanho de gado É capaz de me pôr na espinha de Santa Lúcia É de vassalos leais dizer a seus senhores a verdade como ela é E depois assobiem-lhe às botas É desatino sendo de vidro o telhado apanhar pedras na mão para atirar ao vizinho E desde agora para então e desde então para agora... E Deus ma guarde
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É doce o amor da pátria É esta a verdade toda sem lhe faltar um só migalha E eu vos digo: amai aos vossos inimigos (Mateus V 44) É grandíssimo o risco a que se expõe quem imprime um livro sendo completamente impossível compô-lo de tal forma que satisfaça e contente a todos os que o lerem É impossível que nos separe outro sucesso que não seja o que deitar umas pás de terra para cima de qualquer de nós E leve o Diabo tudo É maior o número dos simples de espírito do que dos cordatos É mais fácil vir o pródigo a ser liberal do que o avaro É mais que estudos receber uma pessoa martírios no seu corpo É mais salteador que o próprio Caco e mais somíticos que Andradilla É melhor ser louvado pelos poucos sábios que fustigados pelos muitos néscios E não vem esse estado do mal mensal habitual nas fêmeas É o mesmo que procurar agulha em palheiro ou bacharel em Salamanca E o vencedor é tanto mais honrado / Quanto mais o vencido é reputado E os outros que lá se avenham! E ponho-lhe uma pedra em cima É possível que a ponte de Mantible seja de madeira? Possível é e possível era É próprio e natural dos poetas desdenhados e maltratados pelas suas damas fingidas ou não fingidas vingar-se com sátiras e libelos É raro o poeta que não seja arrogante e que se não suponha o maior do mundo É sempre mais louvado fazer o bem do que fazer o mal É tanto de valentes corações o serem sofridos nas desgraças como alegres nas prosperidades É tão boa coisa a justiça que é necessária até entre os ladrões E tudo vem a propósito É um louco cheio de intervalos lúcidos É um louco de pedras E vós alma de cântaro... Eles foram santos e pelejaram o divino e eu sou pecador e pelejo ao humano Em algumas mulheres a formosura tem dias e estações e diminui ou cresce conforme as circunstâncias
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Em as estrelas nos influindo o infortúnio não há força na terra que os detenha Em boa hora seja Em boca das boas senhoras não há palavra má Em branco de miolos Em Candaia não se enterram as pessoas vivas Em casa cheia depressa se guisa e ceia Em certas ocasiões mais úteis nos podem ser os pés que as mãos Em chegando os tempos marcados Em desgraçada ocasião nascemos em hora minguada nos geraram nossos pais! Em dizendo uma vez nunes, nunes hão de ser ainda que sejam pares, apesar de todo mundo Em eu enchendo o saco pouco importa que represente mais impropriedades do que átomos tem o sol Em Haldudos também pode haver cavaleiros Em idade de poderem escolher estado Em má hora senhor meu amo muito bailastes! Em mais alto valor se há de apreciar a intenção daquele que tem por objeto alcançar um fim mais glorioso e nobre Em mal cuja causa não se sabe é milagre que acerte a medicina Em me fartando pouco me importa que seja com feijões ou que seja com perdizes Em menos de dois credos Em moedinha defumada Em nome de Deus verdadeiro Em sua comparação se pode dizer que é doce o absinto Em tantos pedaços há de cortar que o maior de todos será a orelha Em te dando uma vitela vai logo por ela Em toda parte se come pão Em verdade te digo Enamorado até os fígados Encomendai o caso a Deus Encomendando-se a Deus e à sua dama Encomenda-o tu a Deus que Ele dará o que mais convenha
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Encomendem-me a Deus e os anjos que me favoreçam Encomendemos tudo a Deus Enfiar uma súcia de rifões a trouxe-mouxe torna a conversa descorada e baixa Enquanto o Diabo esfrega um olho Enquanto se dorme todos são iguais Entre o sim e o não da mulher não me atrevia a eu a meter uma ponta de alfinete porque não caberia Entre os mouros não há traslados à parte nem prova e fique Era mais fácil deixar cortar um bigode Era mais fácil fazer-me turco Era o pular dos corações o retocar do riso o desassossego dos corpos e finalmente o azougue de todos os sentidos! Era por fio pouco mais ou menos Era tudo engrandecer eu a minha ventura Eram as suas galas e o seu descanso o pelejar Esconjuro-te por tudo quanto posso esconjurar-te como cristão católico Esfolar que nem um São Bartolomeu Esperança irmã gêmea e sempre companheira do amor Esperando como às águas de maio Esperar hortaliças de sequeiro ou apojadura de cabra velha Espero chegar a porto de salvamento com a minha verdadeira história Espero em Deus e na sua benta mãe Esta ciência é como a de nadar: em se aprendendo nunca mais se esquece Está de pedra e cal Está em boas mãos o pandeiro; verá como o tocam Está inabilitado o pobre de poder mostrar com pessoa alguma a virtude da generosidade Está tão encantada como meu pai Está tão longe de sê-lo como está longe o branco do negro e a verdade da mentira Estar sempre sem crescer nem minguar como figura de paramento Estás falando sem que ninguém te vá à mão Este dia há de ser marcado por mim com pedra branca
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Este foi o fim desditoso para todos que lhes veio de um tão desatinado princípio Esteja aonde estiver a virtude é certo ser perseguida Estou com idéias de me matar à fome a morte mais cruel de todas Estou destinado a vaca de boda (servir de galhofa) Eu falo como Deus é servido Eu o porei nas meninas dos meus olhos Eu quero mais a uma unha da minha alma do que a todo o meu corpo Eu Sancho nasci para viver morrendo tu para morrer comendo
F Façamos bem aos nossos inimigos e amemos a quem nos aborrece Fala mais do que seis e bebe mais do que doze Falar de corda em casa de enforcado Falas hoje como um livro Falas mansas cá para mim não pegam Falou como um abençoado e sentenciou como um cônego Falsos e embusteiros como inventores de nova seita e de novo modo de vida Falta ainda o rabo que é o pior de esfolar! Faze o que manda teu amo e senta-te com ele à mesa Fazendo mais cruzes que se levassem o Diabo atrás de si Fazer bem a todos e mal a ninguém Fazer bem a vilões é deitar água no mar Fazer penitência como se fosse ermitão Fazia mais conta dormir sozinho numa choça do que acompanhado num palácio Fez parar o sol na sua carreira para as ver Ficar a mentira totalmente calva Fique na sua casa trate de sua fazenda confesse-se amiúde favoreça os pobres e caia sobre mim o mal que daí lhe vier Fiquem contigo os demônios Fiz um serviço a Deus matando um mau médico Fizeram tanto caso das suas ameaças como das nuvens de antanho Freira a língua, considera e rumina as palavras antes que te saiam da boca
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Fugiu a sete pés
G Gabo-me de expor meus motivos com palavras claras simples de grande significado Governador cobiçoso faz desgovernada a justiça Graças a Deus tenho a alma nas carnes e todos os dentes e queixais na boca Grande miséria é viver da sopa alheia Grão a grão enche a galinha o papo Gratidão que só consiste no desejo é coisa morta como é morta a fé sem obras Guardai vossas graças para quem vo-las pague que eu só se vos der uma figa Guie-te melhor ventura que a minha
H Há de haver diferença entre as cabras do céu e as da terra Há de lhe chegar o seu São Martinho como aos porcos Há de ter exceção esta regra Há diferentes opiniões como há diversos gostos Há duas coisas que não têm resposta: ide-vos de minha casa e o que quereis de minha mulher? Há duas formosuras: uma da alma outra do corpo Há homem que mais depressa se atreverá a matar um gigante que a dar uma cabriola Há mais frades no céu que cavaleiros andantes Há muitos que pensam encontrar toicinhos e não há nem estacas Há ocasiões para acometer e ocasiões para retirar Há tempo para brincar e tempo em que não caem bem os brinquedos Há toledanos que falam como Deus é servido Habilidades e prendas que não são vendáveis tenha-as o Conde Dirlos Hão de me suar os dentes Haveis de saber para que nascestes Havia de passar desta a melhor vida Havíamos de ter tamanha bulha que até os surdos nos ouviriam
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Hei de pensar tanto em dar chuva à terra como penso em enforcar-me Hei de ter rasca na assadura Herdar algo dissipa ou modera no herdeiro a lembrança do sentido que é razão que deixe o morto Historiadores que de mentiras se valem deviam ser queimados como os que fazem moeda falsa Hoje por mim e amanhã por ti Homem apercebido vale por dois Homem de pouca fé Homero não escreveu em latim porque era grego; nem Virgílio escreveu em grego porque era latino
I Ia crescendo em formosura como a espuma do mar Ide-vos com Deus Ide-vos em má hora e não vos metais onde não sois chamado Igreja ou mar ou casa real Inimigo de Deus e de seus santos Isso parece-me agraço sobre agraço e não mel sobre mel Isso que a ti parece ser uma bacia de barbeiro, a mim parece ser o Elmo de Mambrino e a outro parecerá outra coisa. Isto de morrerem os enamorados é coisa de riso Judas que o acredite Isto não são brincadeiras para duas vezes
J Já eu estarei comendo barro Já me está pulando o pé para me pôr a caminho Já não torno a ser gente em dias de vida Já que não tem remédio nas mãos de Deus me entrego Já que temos sardinhas não andemos à busca de perus Já se usa entre os intonsos poetas do nosso tempo escrever cada qual como quer e furtar a quem lhe parece (...) e não há necedade que escrevam ou cantem que se não atribua a licença poética
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Já te choramos por morto Jóias que em anzol para as mulheres são ainda a melhor isca Judas que o acredite Jura o homem que vai morrer na forca; se morre nela jurou a verdade e pela lei merece ser livre e que atravesse a ponte; se não o enforcam jurou mentira e por isso merece que o enforquem Juro pela salvação da minha alma que é uma moça de truz e que pode passar pelos bancos da Flandres. Juro-lhe pela minha Cruz Benta Justiça de Deus e del-rei contra tal malícia para não dizer velhacaria Justiça! e se a não acho na terra irei buscá-la ao céu
L Lá está Deus nos céus que julga os corações Lá se vão em fumo minhas esperanças Lá vão reis onde querem leis Lágrimas com pão passageiras são Lé com lé e cré com cré Leia livros e verá como lhe desterram a melancolia e lhe melhoram a condição se acaso a tiver má Lembro-me tanto como das nuvens do ano passado Letras sem virtude são pérolas no tremedal Levou a noite de vela Liberdade e soltura não é por ouro comprado Lindo como um alfinete de tocar Livre-me Deus do inimigo! Cruzes! Louvado seja Deus que tanto bem me tem feito Louvor em boca própria é vitupério
M Má peste mate os que estorvam que se casem os que se querem bem Má ventura tem consigo o mando ainda que fingido Mais alcançam de Deus duas dúzias de açoites do que duas mil lançadas
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Mais aquecem quatro varas de pano de Cuenca do que outras quatro de lemiste de Segóvia Mais ardente que um forno de vidraça Mais depressa me tirariam a vida do que a bolsa! Mais direita que um fuso de Guadarrama Mais disseste do que sabes Mais dor sentia eu no meu espírito de que tu no teu corpo Mais escuro que boca-de-lobo Mais faz quem Deus ajuda que quem muito madruga Mais força terá o tempo para mudar as coisas do que a vontade humana Mais livros do que letras têm as coplas de Mingo Revulgo Mais longo em bondade que a barba de Trifaldim Mais parece a barca de Caronte Mais perseguem as desgraças os cavaleiros andantes do que os seus escudeiros Mais que a vida se mais que ela me é possível perder Mais sabe o tolo no seu que o avisado no alheio Mais são isso encarecimentos de poeta que verdades Mais se toma o pulso ao haver que ao saber Mais secas e mais enxutas que um esparto Mais vale boa esperança que ruim posse Mais vale esperança boa que pensão ruim e boa queixa que mal pago Mais vale quem Deus ajuda que quem muito madruga Mais vale salteador que sai à estrada que namorado que ajoelha Mais vale um "toma" que dois "te darei" Mais vale um "toma" que dois "te darei" e um pássaro na mão que dois a voar Mais vale um bom nome do que muitas riquezas Mais vale um pássaro na mão que dois a voar Mais valem migalhas de rei que mercês de senhor Mais verdadeira que os milagres de Mafoma Mal deles leva o Diabo quem os usa Mal haja a tola que na flor da idade não preferir ser monja a ser dona Mal haja a tua condição e a de todas aquelas a quem imitas Maldito sejas por Deus e por todos os santos
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Manifesta os átomos do mais curioso desejo Mansa como uma borrega e mais branda que a manteiga Marcado pela mão de Deus Más ilhas te afoguem Mau ano e mau mês para quantos murmuradores que há no mundo Mau pesar viesse por mim Me dá papinha a mim Me deu o coração uma pancada Me há de levar o Diabo Medis com vossos próprios pés Melhor ainda me saiba o pão Melhor é a vergonha na cara que nódoa no coração Melhor ganhar o pão com muitos do que fama com poucos Melhor não mexer o arroz ainda que cheire a esturro Melhor parece filha malcasada que bem amancebada Melhor parece o soldado morto na batalha do que vivo e salvo na fuga Melhor que quatro cidades e quatro alcaides da corte Menos mal faz o hipócrita do que o público pecador Merenda feita companhia desfeita Metendo nas mãos de mão beijada Minha mãe a castigar-me e eu a desmandar-me Minha mãe a castigar-me e eu com o pião às voltas Minhas desgraças tiveram princípio mas nunca hão de ter fim Minhas esperanças sempre mortas e os seus desdéns sempre vivos Minhas pompas são as armas / Meu descanso o pelejar Mísero do bem-nascido que sacrifica tudo à sua honra Morra Marta morra farta Morra por elo de morte natural Morra Sansão e todos quantos aqui estão Morto eu caia neste instante Muita diferença há entre as obras que se fazem por amor e as que se fazem por agradecimento Muitas graças não se podem dizer com poucas palavras Muitas truchelas somarão uma truta
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Muitas vezes numa banda se põe o ramo e noutra se vende o vinho Muitas vezes onde há estacas não há toicinho Muitas vezes vai abaixo a paciência quando a carregam de insultos Muito grande e muito poderosa é a força do amoroso desdém Muitos médicos há no mundo! Até o são nigromantes! Muitos poucos fazem muito Muitos são os caminhos por onde se vai ao céu Muitos teólogos há que não são bons no púlpito e são ótimos para conhecer os erros ou acertos dos que pregam Muitos vão buscar lã e vêm tosquiados Mulher honrada a perna quebrada e em casa
N Na mão de Deus me entrego Na tardança é que está o perigo Não admira que um Diabo se pareça com outro Não ano a meter a foice em seara alheia Não bole a folha na árvore sem a vontade de Deus Não chegariam nem o tesouro de Veneza nem as minas de Potosi Não comecem a chamar preto ao branco e branco ao preto Não comem pão de balde Não como coisa que bem me saiba enquanto não for informado de tudo Não conhecemos o bem enquanto o não perdemos Não conhecêsseis a mãe que vos deu à luz Não deitaria em saco roto Não é aí que bate o ponto Não é aí que lhe aperta a albarda Não é bom andar uma pessoa com a consciência em ânsias Não é bom o vento que sopra Não é carga para seus ombros nem assunto para seu frio engenho Não é melhor a fama de juiz rigoroso que do compassivo Não é o mel para a boca do asno Não é valentia a temeridade Não era possível ser sempre dia
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Não estou nem para dar migas a um gato (sem forças para nada) Não falará mais do que um mudo sob pena de pagar o julgado e sentenciado Não fales à ventura que está fazendo truz-truz à porta da tua casa Não faltaram olhos ociosos que tudo costumam ver Não ficou ao sábio coisa alguma no tinteiro Não foge quem se retira. Não foi Deus servido Não foram tão vãs as nossas orações que não fossem ouvidas do céu Não guardes para amanhã o que podes fazer hoje Não há amigo para amigo Não há cadeados guardas nem fechaduras que defendam melhor uma donzela que as do próprio recato Não há caminho tão plano que não tenha alguns barrancos Não há coisa que mais depressa arrase as torres da vaidade das formosas que a adulação Não há coisa que saia mais barata que os bons comedimentos Não há desventura tão cansada nem tão posta no cabo enquanto não degenera em morte que deva esquivar-se a um alvitre oferecido com bom ânimo Não há estômago que não seja um palmo maior que outro Não há fortuna no mundo nem as coisas que sucedem boas ou más sucedem por acaso mas sim por especial providência dos céus Não há história humana em todo o mundo que não tenha seus altos e baixos Não há jóia no mundo que em valia se compara à mulher casta e honrada Não há livro por mau que seja que não tenha alguma coisa boa Não há livro tão ruim que não tenha algo bom vem de Plínio o velho Não há melhor mostarda que a fome e como esta não falta aos pobres sempre comem com gosto Não há mulher por mais retirada que esteja e por mais recatada que seja a quem não sobre tempo para pôr em execução e efeito os seus atropelados desejos Não há pai nem mãe a quem pareçam feios os filhos Não há pouco que tosquiar nas donas Não há que fiar na descarnada que tanto come cordeiro como carneiro
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Não há redenção no inferno Não há regra sem exceção Não há sobre a terra contentamento igual ao que se sente quando se alcança a liberdade perdida Não há vilão que desempenhe a palavra dada em não lhe fazendo conta Não há virtude que não se encerre numa dona Não hei de ir jogar as cristas com os inimigos Não lhe vá Deus pedir contas Não me queira impingir gato por lebre Não mentem as trovas dos romances antigos Não o conheceria nem a mãe que o pariu Não ocupa mais pés de terra o papa que o sacristão Não os surdos nos hão de ouvir Não ousem contradizer-me os que pretendem sustentar que as letras levam vantagem às armas que os trabalhos do espírito excedem muito os do corpo e que as armas somente ao corpo pertencem e por ele são exercitadas Não parava nem em três ruas Não pertenço ao número dos viciosos mas sim ao dos platônicos e continentes Não pode haver graça onde não houver discrição Não podem as trevas da maldade e da ignorância encobrir e escurecer a luz do valor e da virtude Não podem as trevas da malícia nem da ignorância encobrir nem escurecer a luz do valor e da virtude Não podem corresponder as dádivas do homem às de Deus Não queria que ela fosse buscar lã e voltasse tosquiada Não quero rabos de palha nem cão com guizo Não se deve acrescentar mais aflições ao aflito Não se deve lembrar baraço em casa de enforcado Não se devem valer da amizade em coisas que sejam ofensa a Deus Não se podem nem se devem chamar enganos os que miram a virtuosos fins Não se vos dê dez-réis de mel coado Não sei de quem sou nem de quem não sou Não sei nada das minhas vinhas venho Não sei o que nem o que não foi
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Não sei que desejos de vingança que têm força de turbar os mais sossegados corações Não sei se a paga fará mal à cura e impedirá o efeito do remédio Não só tem os quatro ss que dizem ser precisos a todos os namorados sábio só solícito e secreto mas até o abc inteiro: agradecido bom cavalheiro dadivoso enamorado firme galante honrado ilustre leal moço nobre ótimo principal quantioso rico os ss que dizem tácito verdadeiro zelador da tua honra Não sou dos que querem voar ao céu sem asas Não tardou muito que não principiasse a descobrir-se pelos balcões do Oriente o rosto da branca aurora alegrando as ervas e as flores em vez de alegrar o ouvido Não te cegue paixão própria em causa alheia Não te deites a perder com o meu alívio Não te fique no tinteiro nem um pontinho Não te metas entre a bigorna e o martelo Não tenho motivo para perseguir nenhum sacerdote Não tenho o estômago afeito a cardos Não ter comido coisa que se lhe metesse nos dentes Não ter nenhum chavo e querer casar nas nuvens! Não tiram dos cascos nem quantos desenganos se possam imaginar Não tiro rei nem ponho rei mas ajudo ao meu senhor Não venhais a coxear do mesmo pé Não vos engane o Diabo Naquele ano tinham as nuvens negado à terra o seu benfazejo orvalho Nas choças dos pegureiros acontece o mesmo que nos palácios dos reis Nas mãos de Deus se entreguem Nasci nu, nu agora estou e não perco nem ganho Nascido sou e não há de viver o homem confiando em outrem senão em Deus Negócio de grande polpa Nem à mão de Deus Padre Nem a nossa presença pode desmentir o vosso nomes nem o vosso nome pode desacreditar a vossa presença Nem a rei nem a roque Nem a Vossa Mercê nem a mim nos deixam costela inteira
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Nem com a idade de Matusalém Nem eu sou de mármore nem vós sois de bronze Nem exército sem general nem castelo sem castelão; coisa pior que essas duas é mulher casada e moça sem o seu marido ao pé Nem os tesouros de Veneza nem as minas de Potosi Nem pelos dois olhos da cara descobriria Nem permita o céu que eu engane a ninguém num cabelo que seja Nem que lho mandasse el-rei Nem que me leve o Diabo Nem que mo dissessem frades descalços Nem que mo peçam frades descalços Nem sempre a fortuna põe a par dos males os remédios Nem sempre se vende o vinho onde se põe o ramo Nem todos os frades descalços Nem todos os que se chamam homens de bem o são completamente Nem todos os tempos são os mesmos Nem tudo que luz é ouro Nem vi o que vi nem se passou comigo o que se passou Nenhum particular pode afrontar um povo inteiro senão arrojando a todos juntos o epíteto de traidores Nenhuma comparação há que tão bem nos represente o que somos e o que havemos de ser como a comédia e os comediantes Nigromantes de que peço a Deus que me livre Ninguém diga: "Desta água não beberei" Ninguém estenda as pernas para fora do lençol Ninguém nasce ensinado Nisto de amores quem perde a ocasião perde a ventura No rico estrado da sua autoridade No tardar costuma estar o perigo No temor de Deus está a sabedoria No tempo do rei Wamba Nos casos de amor não há nenhum que com mais facilidade se cumpra do que aquele que tem pela sua parte o desejo da dama Nos faz crer que tem o Diabo no corpo
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Nos princípios amorosos os desenganos prontos costumam ser remédios excelentes Nosso Senhor dê a Vossa Mercê muita saúde e a nós não nos desampare Nosso Senhor que guarde Vossa Grandeza e que a mim não esqueça Nu nasci e nu me encontro nem ganho nem perco Nu vim ao mundo e nu me vejo; nem perco nem ganho Numa banda se põe o ramo e noutra se vende o vinho Nunca chegou ao termo que pede um bom desejo Nunca lhe ouvi dar um ai Nunca morri nos dias da minha vida Nunca ou raras vezes o bem puro e simples deixa de vir acompanhado ou seguido de algum mal que o perturbe ou sobressalte
O O abade janta do que canta Ó ama de satanás! O amo é tido em conta tão maior quanto melhores e mais bem-nascidos são os criados que tem O amor e a afeição cegam os olhos do entendimento O amor e a guerra são a mesma coisa O Amor é invisível; entra e sai por onde quer sem que ninguém lhe peça conta das suas ações O amor não tem maior contrário que a fome O Amor nem atende a respeitos nem guarda limites de razão O amor olha de tal maneira que o cobre lhe parece ouro; a pobreza riqueza e as remelas pérolas O amor umas vezes voa e outras anda O asno atura a carga mas não a sobrecarga O bem que se deseja degenera em tormento quando inopinadamente se nos afasta O biscainho é fidalgo por terra e por mar O boi solto lambe-se todo O cativeiro é o maior mal que pode acudir aos homens O céu ... poucas vezes deixa de ajudar o que é justo
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O céu favorece sempre os bons desejos O céu por estranhos e nunca vistos rodeios nunca imaginados pelos homens costuma levantar os caídos e enriquecer os pobres O céu que ordene o que mais for servido O céu sabe levantar os pobre do monturo e fazer discretos dos tolos O começar as coisas eqüivale a tê-las meio acabadas O comer e o coçar está no principiar O conhecimento da enfermidade e o querer tomar o enfermo os remédios que o médico receita são o princípio da saúde O conselho da mulher é pouco e quem não o toma é louco O Demônio não dorme O desalento nos infortúnios míngua a saúde e traz consigo a morte O desalinho na roupa é sinal de desmazelo na alma O Diabo é muito fino O Diabo está em Cantilhana e o bispo em Brenes O Diabo os aconselhasse em alguma coisa O discreto cristão não deve andar em pontinhos com que o céu quer fazer O estão moendo como se fosse pimenta O fazer uma coisa por outra o mesmo é que mentir O fim a que as letras se dirigem é estabelecer com clareza a justiça distributiva e dar a cada um o que é seu O fim de uma esperança é princípio de outra maior O final da guerra é a paz e nisto levam as armas vantagem às letras Ó força da adulação aonde te escondes e que dilatados limites tem a tua jurisdição agradável! O homem põe e Deus dispõe O homem sem honra é pior que um morto Ó inveja raiz de infinitos males que não fazes senão carcomer virtudes! Ó lua dos três rostos! O maior gosto para um desalmado é fugir donde o extorquiu O matrimônio há de ir sempre adiante em quaisquer negócios destes que por mim se tratarem O mau (o Diabo) que a todo mal ordena O melhor que tem é que não tem nada de nicas
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O merecimento está em destemperar sem motivo O mesmo que deitar pólvora O montar a cavalo a uns faz cavaleiros e a outros cavalariços O morto à sepultura e o vivo à folgança Ó pão mal cozido! Ó promessas mal empregadas! O piedoso céu vale sempre aos aflitos O pobre deve contentar-se com o que topar e não andar à procura de pérolas nos vinhedos O poeta nasce poeta O poeta pode contar ou cantar as coisas não como foram mas como deviam ser e o historiador há de escrevê-las não como deviam ser mas como o foram sem acrescentar nem tirar à verdade a mínima coisa O principiar as coisas é tê-las meio acabadas O princípio da saúde está em se conhecer a doença O próprio Alexandre se nada tivesse de seu não poderia haver feito os donativos que fez O que a boa árvore se arrima boa sombra o acolhe O que Deus faz é sempre pelo melhor O que é hoje vencido será vencedor amanhã O que está feito, feito está O que existe é o que vemos presente O que foi já não é O que hás de dar ao rato dá-o ao gato e tira-te de cuidados O que me vem à boca não posso deixar de o dizer O que não se faz em dia de Santa Maria far-se-á noutro dia O que pouco custa pouco se estima O rei é meu galo! O rifão que não vem de molde é mais disparate que sentença O rir sem causa grave denuncia sandice O sangue herda-se e a virtude adquire-se O sangue se herda e a virtude adquire-se e a ventura por si só vale o que não vale o sangue O seu brasão é a firmeza e a sua profissão guardá-la com suavidade e sem esforço algum
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O sol brilha para todos O soldado melhor parece morto na batalha do que livre na fuga O sono é alívio das misérias O temor de Deus é o princípio de toda a sabedoria O tempo descobridor de todas as coisas não deixa nenhuma que não tire à luz do sol O tempo descobridor de todas as verdades O tempo é ligeiro e não há barranco que o detenha O tempo tem o cuidado de nos tirar as vidas sem que andemos à cata de apetites O trabalho e peso das armas não se pode levar sem o governo das tripas O vinho em excesso nem guarda segredos nem cumpre promessa Obras aldrabadas à pressa nunca se acabam Ofício que não dá de comer a quem o tem não vale dois caracóis Oleiro que faz um vaso pode fazer dois ou três ou um cento Olhos que não vêem coração que não suspira Onde a virtude estiver em alto grau será perseguida Onde ele põe os pés ponho eu os olhos Onde entrei nu e nu de lá saio e não perco nem ganho Onde está a verdade está Deus enquanto verdade Onde há muito amor não costuma haver muita desenvoltura Onde há música não pode haver coisa má nem onde há luzes e claridade Onde interviessem donas não podia haver coisa boa Onde me aperta o sapato Onde menos se pensa se levanta a lebre Onde não há toucinho não há fumeiro Onde reina a inveja não pode viver a virtude nem onde há escassez a liberdade Onde se fazem aí se pagam Os agravos despertam a cólera nos mais humildes peitos Os coroam com as folhas da árvore que o raio não ofende louro Os descuidos das senhoras tiram a vergonha às criadas Os desejos do traidor só com a vida se podem pagar Os Diabos sabem muito
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Os filhos são pedaços das entranhas de seus pais e sejam bons ou maus sempre se lhes há de querer Os homens famosos pelo seu engenho, os grandes poetas, os ilustres historiadores sempre, a maior parte das vezes, são invejados por aqueles que têm por gosto e particular entretenimento julgar os escritos alheios sem ter dado um só à luz do mundo Os homens nem sempre estão de boa venta Os mal colocados desejos não podem trazer consigo outros resultados Os malvados são sempre desagradecidos Os manjares poucos e delicados avivam o engenho Os mares que nossos olhos têm chovido Os ofícios e grandes cargos não são outra coisa senão um gólfão profundo de confusões Os ofícios mudam os costumes Os pecadores discretos estão mais próximos de emendar-se do que os simples Os poetas antigos escreveram na língua que beberam com o leite Os poetas também se chamam vates, o que quer dizer "adivinhos" Os preceitos da arte servem só para quatro discretos que a entendem Os primeiros movimentos não estão na mão da gente Os que Deus junta não pode o homem separar Os que governam, ainda que sejam uns tolos, às vezes encaminha-os Deus em seus juízos Os que mendigam devem ser comedidos e receber com rosto alegre o que se lhes derem Os que ontem estavam nas grimpas hoje se acham estirados por terra Os rifões são sentenças breves tiradas da experiência e das especulações de nossos antigos sábios Os tesouros dos cavaleiros andantes são como os dos duendes aparentes e falsos Os tesouros dos cavaleiros andantes são como os dos duendes, aparentes e falsos. Os trabalhos contínuos e extraordinários desarranjam a idéia a quem os padece Os trajos devem acomodar-se ao ofício e dignidade que se professa
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Os varões prudentes devem guardar-se para melhor ocasião. Ou bem que somos ou bem que não somos
P Pagar para que me digam o que sei seria uma grande asneira Palavras e penas o vento as leva Para amêndoas de rio não há arma defensiva Para dar e para ter muito rico é mister ser Para dar e para ter muito siso é mister Para lhe desfrutarem a fazenda ($) Para mim são favos de mel Para o pobre todos olham de corrida mas nos ricos demora-se a vista Para o que eu o quero tanta filosofia sabe como Aristóteles e até mais Para que não te percas por carta de mais nem por carta de menos Para que veja que sou pão agradecido Para se tirar uma verdade a limpo não necessárias muitas confrontações e agravos Para ser asno de todo só me falta o rabo. Para três anos e para trezentos que fossem é quanto basta Para tudo há remédio menos para a morte Para ver muito é necessário viver muito Parece que vindes a pé e despeado Parece-me que é pregar no deserto Pecado novo penitência nova Pedindo a Deus que abrisse as mãos da sua misericórdia e lhes desse chuva Pega-se-nos a língua ao céu da boca de tanto falar Pela disposição do céu que assim o ordenava Pela garra se conhece o leão Pela misericórdia de Deus Pelas obras se revela a vontade de quem as pratica Pelejem nossos amos e bebamos e vivamos nós Pelo cantar lhe conheceremos os pensamentos Pelo céu que nos cobre juro Pelo dedo se conhece o gigante
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Pelo Deus que me sustenta Pelo deus vivo Pelo sim pelo não, cuide da salvação da sua alma, que a do corpo corre perigo Pelo sinal da santa cruz juro Pelos ossos de meu pai e honra de minha mãe Pensar que as coisas desta vida hão de sempre durar é escusado Peque ou não pegue não há de me apodrecer no peito Pinto-a na fantasia como a desejo assim nas graças como no respeito Pintor do Demônio em pessoa Platão é amigo porém mais amiga é a verdade Pobreza pode enublar a fidalguia mas não escurecê-la de todo Pode com segurança transladar o que tem no seu peito para o meu e fazer de conta que o arrojou aos abismos do silêncio Pode ser que eu desse no vinte Podem vir buscar lã e voltar tosquiados Poderei marcar este dia com pedra branca ou pedra negra? Podereis com as riquezas da terra granjear as do céu Pode-se ir buscar lã e voltar-se tosquiado Põe os olhos em quem és procurando conhecer-te a ti mesmo, que é o conhecimento mais difícil que se pode imaginar Põe-no em dúvida Santo Agostinho Pois que foi Deus servido Ponha-se Vossa Mercê a caminho, mais a sua grandeza, antes hoje que amanhã Por da cá aquela palha Por Deus e pela minha consciência Por Deus que nos governa Por esses mundos de Cristo Por metade da barba e ainda pela barba inteira Por minha fé que não há aqui parente pobre! Por misericórdia de Deus Por não ter encontrados ninhos onde supôs encontrar pássaros Por onde sua alma se perde e o corpo se lhe não ganha Por seu mal nasceram asas à formiga
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Por seus pecados e por sua má fortuna Por termos tomado no ar a palha Por todos os séculos dos séculos amém Por unha de cavalo Por ver já o seu barquinho na água Porei um selo na boca e uma mordaça nos dentes Pouco dói o mal alheio Pouco dói o mal alheio. Poucos ou nenhum dos homens do passado deixaram de ser caluniados pela maldade Praza a Deus Onipotente onde mais largamente se contém Praza a Deus que assim seja Prega bem quem vive bem Prevaricador de boa linguagem que Deus te confunda! Promessas de namorados pela mor parte são ligeiras de prometer e muito pesadas de cumprir Próprio dos sábios é pouparem-se de hoje para amanhã
Q Quando a cabeça dói todos os outros membros doem Quando a cólera se apodera impetuosamente de um homem não há quem lhe segure a língua Quando a puta fia, o rufião trabalha e o escrivão pergunta qual é o dia do mês, com mal andam todos três Quando a Roma fores faze o que vires Quando assim não seja, paciência, toca a baralhar as cartas Quando Deus for servido Quando és feliz tens muitos amigos; em tempos nublados ficas só (Ovídio) Quando nos dói a cabeça todos os membros nos doem Quando o coração transborda a língua fala Quando o valente foge é que está descoberta a cilada Quando o valente foge é que está descoberta a cilada. Quando te baterem à porta com alguma dádiva recebe-a ou então deita-te a dormir
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Quando te derem a vaca vem logo com a corda Quando um amante louva sua dama de formosa e ao mesmo tempo a censura de cruel nem por sombras a desdoura Quando venta molha a vela Quando vos doer a cabeça fomentai os joelhos Quanto maior é o coração dum homem maior é a sua valentia Quanto toma inteira posse de uma alma a primeira coisa que o Amor faz é tirarlhe o temor e a vergonha Quantos fazem cinco Que a morte amarela vá igualmente à choça do pobre desvalido e ao alcácer do rei potente. (Horácio) Que a um cavaleiro vencido o comam as raposas o piquem as vespas e o pisem aos pés os porcos Que demônios leva no peito que o incitam a ir contra a nossa fé católica? Que Deus maldiga Que Deus prospere mais anos que a mim Que entram rifões no que estamos falando como Pilatos no credo Que esses dias sejam tantos como os de Nestor Que ganhe tanta fama como dinheiro e tanto dinheiro como fama Que má ventura lhe dê Deus Que não queira o que os céus querem o que a fortuna ordena Que nem de letra redonda Que nenhum cego cantasse milagres em coplas Que nos tire o pé do lodo Que o vale neste mundo é estudar e mais estudar Que ponha o sal na moleira Que Roma nem Pavia não se fez num dia Que só o Diabo é capaz de suportar Que sofra calado que a mais se atreve do que as suas forças lhe permitem Que tudo mato no ar Queira Deus que orégano seja e não se transforme em alcaravea Quem bem está e mal escolhe por mal que lhe venha não se anoje Quem bem quer não se vinga tão mal Quem compra e mente na bolsa o sente
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Quem dá o mal dá o remédio Quem deseja ver também deseja ser visto Quem disse que é bom falar de corda em casa de enforcado? Quem é mais doido: quem o é porque se não conhece ou quem é por sua vontade? Quem é pobre coisa nenhuma tem boa Quem erra e se emenda a Deus se encomenda Quem está ausente não há mal que não tenha e que não tema Quem está no inferno nunca mais sai de lá Quem ganha alguma coisa não perde coisa alguma Quem hoje cai amanhã se levanta Quem lê muito e viaja muito, muito vê e muito sabe Quem manda a ti sapateiro tocar rabecão? Quem muito bebe mata e consome o úmido radical que consiste a vida Quem não madruga com o sol não goza o dia Quem não pode ser ofendido, a ninguém pode ofender Quem não sabe gozar a ventura quando a tem, não se deve queixar se ela lhe fugir Quem não tenciona satisfazer, não regateia condições no contratar Quem parte não baralha Quem pode ter em mãos línguas de praguentos, se nem Cristo se livrou delas? Quem procura aventuras nem sempre as encontra boas Quem se faz de mel as moscas o comem Quem se não sabe governar a si, como há de saber governar os outros? Quem te cobre que te descubra Quem te dá um osso não te quer ver morta Quem tem pai alcaide tranqüilo vai a juízo Quem tropeça em falador e gracioso ao primeiro pontapé cai e dá em truão desengraçado Quem vai cozer favas a casa dos outros na sua tem caldeirada Quem vê as coisas por um lado não as vê todas Quem vê um argueiro nos olhos dos outros, veja a trave nos seus Querer amarrar as línguas aos maldizentes é o mesmo que querer pôr portas ao campo
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Quero proveito que sem ele nada vale a boa fama Quero-lhe como às meninas dos meus olhos
R Reinava a paz otaviana Reporta-te e não descubras o fio Retirar-se não é fugir Retrate-me quem quiser mas não me maltrate
S Sabe mais do que o Diabo em tudo que diz e pensa Saco de maldades e costal de malícias Salvo Deus que entende de tudo, abaixo d'Ele não há quem o entenda Sancho ou o Diabo não te percebo! Santiago e cerra Espanha! Santo Agostinho o põe em dúvida São horas mais de dormir que de negociar São más brincadeiras as que doem, nem há passatempos que valham, sendo em prejuízo alheio Satanás e Barrabás levem consigo Satisfazer à minha palavra antes que ao meu gosto Se a intenção for errada nos princípios, irão sempre errados os meios e os fins Se a virtude fora riqueza que se estimasse, não invejara eu ditas alheias nem chorara desditas próprias Se aos ouvidos dos príncipes chegasse a verdade nua sem os vestígios da lisonja, outros séculos correriam Se aprouver ao Altíssimo Se às vezes sucede darem-me a vaca vou logo com a corda Se bem canta o abade não lhe fica atrás o noviço Se costuma dizer que as paredes têm ouvidos Se de duas partes iguais tiramos partes iguais, as restantes serão também iguais Se Deus for servido
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Se Deus lhe der vida Se Deus me guardar os meus sete ou cinco sentidos Se em seco faço tanto em molhado o que não faria? Se esta for errada nos princípios irão sempre errados os meios e os fins Se há de amar a Deus por si só Se há de parecer muito com Deus quem se rejubilar em ser pobre Se ia dando ao Diabo Se lhe dêem louvores não pelo que escreve mas pelo que deixa de escrever Se maus caldos mexerem tais os bebam Se me há de desfazer como sal na água Se me não dizia bem o coração de que pé coxeava meu amo! Se não escreve com as cãs mas sim com o entendimento Se não o é parece-o como um ovo com outro Se não pode salvar quem mete em si o alheio contra a vontade do seu dono Se não possa dizer que teve o mau pago o bom serviço Se no pombal houver milho pombas não faltarão Se o cântaro bate na pedra quem fica de mal é o cântaro Se o cego guia o cego correm ambos perigo de cair no fojo Sê pai das virtudes e padrasto dos vícios Se te benzeram com um cacete, ao menos não te persignaram com um alfanje. Se um livro for bom, fiel e verdadeiro terá séculos de vida, mas se for mau do nascimento à sepultura irá breve espaço Se vem vencido pelos braços alheios vem vencedor de si mesmo Segue com o cantochão e deixa-te de contrapontos Seguir à estrela que o chama Seguir como a seta ao alvo e o marinheiro o norte Sei perfeitamente onde me aperta o sapato Seja assim e Deus te acompanhe! Sem acrescentar nem tirar à história um só átomo da verdade Sem lhe faltar nem uma mealha Sem mais nem mais Sem poder remediar nem rei nem roque Sem proferir chus nem bus nem "guarda de baixo" Sempre me há de levar o Diabo
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Sempre os trapaceiros são tributários dos mirones que os conhecem Sempre se devem temer as maldições dos pais Senão metam-me o dedo na boca e verão se eu mordo Sendo homem posso vir a ser papa Sendo isto assim como é diga lá cada um o que quiser Sentinela a toda hora de mim mesmo Ser abrasados como se fossem os hereges Será querer persuadir que o sol não alumia nem o gelo arrefece nem a terra pode conosco Seria o dano sem remédio Sessenta mil satanases te levem a ti e aos teus rifões! Sinais de ser malicioso de condição e amigo de donaires e de burlas Só a Deus está reservado o conhecer os tempos e os momentos Só a vida humana corre para o seu fim ligeira mais do que o tempo, sem esperar renovar-se, a não ser na outra que não tem termos que a limitem Só há duas linhagens no mundo, como dizia a minha avó, que são ter e não ter e ela ao ter é que se pegava Só me falta dar à alma a sua refeição Só para Deus está reservado conceder essas graças e mercês Só te pode apanhar o Diabo que te leve Só uma coisa má tem o sono: é parecer-se com a morte Sobre o tempo em que se bebe pouca jurisdição têm os cuidados Sobremesa do maior apetite Socarrão de língua viperina Somos do mesmo lugar, comi-lhe o pão, quero-lhe bem Sou rata pelada e comigo não se brinca Soube-se do seu pecado antes e se saber do seu desejo Sua boca é a medida Subiram ao galarim as minhas presunções Sumidas sejam elas nas profundas dos infernos
T Tal se deita sadio à noite e não pode mover-se no dia seguinte
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Também os pobres virtuosos e discretos têm quem os siga honre e ampare como os ricos têm quem os lisonjeie e acompanhe Tanta saúde lhes dê Deus como a verdade que eles dizem Tanto como se estivesse em Flandres Tanto é o de mais como o de menos Tanto há de aproveitar comigo como aproveita o receitado por médico de fama ao enfermo que recuse recebê-lo Tanto mata a súbita alegria como a grande aflição Tanto me vale que me dêem oito reais pegados como em miúdos Tanto monta cortar como desatar Tanto se há de emendar com esta como é verdade ser eu turco Tanto tens tanto vales Tão certo como nasci para morrer Tão certo como ser eu cristão Tão depressa morre o cordeiro como o carneiro Tão disposto a isso como a fazer-me cacique Tão longe de serem verdadeiras como está longe a mentira da verdade Tão mau que se eu de propósito me metesse a fazê-lo pior não o conseguiria Tarde piaste Taverneiro sou mas ainda assim sou também cristão Te comem o siso e descoalham o entendimento Tem mais boa vontade do que alfaias Tem o rosto enrugado como um pergaminho Tem uma alma de cântaro Tempo virá em que sejamos o que agora não somos Tende todas as coisas como se não as tivésseis Tendo el Cid nas armas e Cícero na eloqüência Tendo eu a faca e o queijo na mão é o que basta Tenho visto chover e fazer sol ao mesmo tempo Tentativas em coisa de que antes nos pode vir prejuízo que proveito, são de entendimento roto e ânimo temerário Ter dares e tomares Ter feito pacto expresso ou tácito com o Demônio Ter posto os ossos num feixe
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Terei por glória as penas do meu cárcere Tinha a alma nos dentes Tinha deixado a sua filha, a jóia que em se perdendo não há esperança de que nunca mais se recupere Tinha fumaças de cortês Tirada a causa tira-se o efeito Tirar do borrador (passar a limpo) Tocava guitarra de modo tal que não parecia senão que a fazia falar Toda a afetação é má Todas as coisas de cavaleiros andantes parecem quimeras, tolices e desatinos, ao contrário, são realidades Todas as indigestões são más mas a da perdiz é péssima (parafraseando Hipócrates) Todas as mulheres nos lisonjeamos quando nos ouvimos celebrar de bonitas Todos os contentamentos desta existência passam como sombra e sonho ou murcham como a flor do campo Todos os dias de vida que o céu te outorgar Todos os males vêm juntos sobre nós como as chibatas sobre os cães Todos os vícios têm consigo um não sei quê de deleite, mas a inveja só traz desgostos, rancores e raivas Todos os vícios trazem não sei que deleites consigo, mas o da inveja não traz senão desgostos rancores e raivas Todos somos obrigados a respeitar os anciãos Toma o pulso ao que sabe Toma que te dou eu! Tomar as de Vila-Diogo Tome o meu conselho e viva muitos anos Traduzir duma língua para outra não sendo das rainhas das línguas grega e latina é ver panos de rás pelo avesso Tripas levam o coração e não o coração as tripas Tudo Deus há de remediar Tudo é peregrino e raro Tudo entrego nas mãos de Deus Tudo era clamar no deserto
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Tudo era pregar no deserto e malhar em ferro frio Tudo está no principiar Tudo isto foi pão com mel Tudo mais que leve o Diabo se quiser Tudo quanto é afetado é mau Tudo tem remédio, menos a morte que a todos nos há de levar no fim da vida
U Ufana-te mais em seres humilde virtuoso que pecador soberbo Um abismo chama a outro abismo e um pecado chama outro pecado Um bom coração quebranta a má sorte Um bom coração quebranta a má ventura Um burro carregado de ouro sobe ligeiro um monte Um burro coberto de ouro parece melhor que um cavalo albardado Um diz que é branco e outro que é preto Um homem é um homem e a mulher, mulher Um mal nunca vem só Um pau enfeitado já não parece um pau Um rosário de gente mofina Uma esposa não é mercadoria que depois de comprada ainda se pode trocar ou rejeitar; é um acidente inseparável que dura a vida toda Uma grandeza desmarcada Uma mulher não é melhor nem pior que outra Uma resolução magnânima não carece de estímulos Uma vez promete um cavaleiro procura cumpri-lo ainda que lhe custe a vida Uns seguem o largo campo da ambição soberba, outros o da adulação servil e baixa, outros o da hipocrisia enganosa.
V Vadios e mandriões são na república o mesmo que zangões nas colmeias, que comem o mel que as abelhas trabalhadoras fabricam Vai aqui pancada de três em pipa Vale mais bom nome que grande riqueza
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Valem tanto como dois maravedis Valer um olho da cara Valha-me Deus que pode Valha-me Deus! Valham-te mil satanases Valha-te o Diabo Dom Quixote de la Mancha Valha-te o Diabo! Vamos com a festa em paz Vamos entrar no nosso lugar com o pé direito Vá-se o Diabo para o Diabo e o temor para os mesquinhos Vejamo-nos como dizia um cego a outro Vejo com os meus olhos e o assinalo com o dedo Vêm de golpe todas as fortunas que posso desejar Vem tu com a consciência segura e deixa falar o mundo Venha bater-nos o cravo na ferradura e verá se temos cócegas Venham as quixotadas! Venturoso aquele a quem o céu deu um pedaço de pão sem o obrigar a agradecê-lo a outrem que não seja o mesmo céu! Ver com os olhos e comer com a testa Verá com os olhos o que não acredita com os ouvidos Verás quão rápido levo o gato à água Visto que Deus lha deu São Pedro a abençoe Viu-se o Diabo com botas correu a cidade toda Viva a galinha com a sua pevide Viva ele mil anos e o enviado outro tanto e até dois mil se necessário for Viva o vinte e quatro meu senhor e Cristo com todos Viva para mim o vinte e quatro meu senhor e Cristo para todos Viva Roque! Vivam os altos céus! Vive tu e leve o Diabo Vontade de fazer águas maiores e menores Vos enganais de meio a meio Voto a tal! Vou fugindo do bem e correndo empós o mal
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X XĂ´ que te estrafego burra de meu sogro!
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POEMÁRIO: COPLAS, ROMANCEIRO, SONETOS, POESIAS Cervantes entremeou o Dom Quixote com poesias, obedecendo o costume de antecipar e encerrar a história com oferendas, dedicatórias, lamentos e elegias fúnebres, composições elogiosas de amigos do autor. Seguindo o princípio de "lo que yo me sé decir sin ellos", ele mesmo escreve os poemas, atribuindo-os a personagens imaginários, muitos tirados dos livros de cavalaria. Muito foi retirado de romances, excertos de obras de poetas contemporâneos, reprodução de coplas e canções
populares, traduções,
versões. Os primeiros poemas estão como foram apresentados na edição citada: em espanhol. O "Prólogo" ilustra bem a situação que ficam os tradutores de poesia.
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AO LIVRO DE COM QUIXOTE DE LA MANCHA
URGANDA, A DESCONHECIDA
Si de llegarte a los bue-, libro, fueres com lectuno te dirá el boquirruque no pones bien los de-. Mas si el pan no se te cuepor ir a manos de idioverás de manos a bo-, aún no dar una el cla-, si bien se comen las mapor mostrar que son curio-.
Y pues la experiencia enseque él que a buen árbol se arribuena sombra le cobi-, en Béjar tu buena estre-
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un árbol real te ofreque da príncipes por fruen el cual floreció un duque es nuevo Alejandro Ma-; llega a su sombra; que a osafavorece la fortu-.
De un noble hidalgo manchecontarás las aventu-, a quien ociosas lectutrastornaron la cabe-: damas, armas, caballe-, le provocaron de mo-, que, cual Orlando Furio-, templado a lo enamoraalcanzó a fuerza de braa Dulcinea del Tobo-.
No indiscretos hieroglíestampes en el escu-, que cuando es todo figucom ruines puntos se envi-. Se en la dirección te humí-, no dirá mofante algu-; «¡Qué don Álvaro de Lu-. Qué Aníbal el de Carta-, qué rey Francisco en espase queja de la fortu-!»
Pues al cielo no le pluque salieses tan ladicomo el negro Juan Lati-, hablar latines rehú-. No me despuntes de agu-
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ni mi alegues com filó-; porque, rociendo la bo-, dirá el que entiende la leno un palmo de las ore-: «¿Para qué conmigo flo-?»
No te metas en dibuni en saber vidas ajeque en lo que no va ni viepasar de largo es cordu-. Que suelen en caperudarles a los que grace-; más tú quémate las nesolo en cobrar buena fa-; que el que imprime necedadalas a censo perpe-.
Advierte que es desati-, siendo de vidrio el teja-, tomar piedras en las mapara tirar al veci-. Deja que el hombre de juien las obras que compose vaya com pies de plo-; que el que saca a luz papepara entrener donceescribe a tontas y a lo-. [Essas décimas foram compostas com versos "de rabo curto": a última sílaba é suprimida de propósito, antecipando a rima para a penúltima, sem perder a métrica. Tem-se como inventor de método o poeta Alfonso Álvarez de Soría, mas na verdade é poesia de cunho nitidamente popular, oriundo de canções medievais. O verso “de rabo curto” também veio para o Brasil junto com a literatura de cordel].
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AMADIS DE GAULA
A Dom Quixote de La Mancha
Tú que imitaste la llorosa vida Que tuve ausente y desdeñado sobre El gran ribazo de la Peña Pobre, De alegre a penitencia reducida.
Tú, a quien los ojos dieron la bebida De abundante licor, aunque salobre, Y alzándote de plata, estaño y cobre, Te dió la tierra en tierra la comida.
Vive seguro de que eternamente, En tanto, al menos, que en la cuarta esfera Sus caballos aguije el rubio Apolo,
Tendrás claro renombre de valiente; Tu patria será en todas la primera; Tu sabio autor, al mundo único y solo.
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DOM BELIANIS DE GRÉCIA
A Dom Quixote de La Mancha
Rompí, corté, abollé, y dije y hice Más que en el orbe caballero andante; Fuí diestro, fuí valiente, fuí arrogante; Mil agravios vengué, cien mil deshice.
Hazañas di a la Fama que eternice; Fuí comedido y regalado amante; Fué enano para mí todo gigante Y al duelo en cualquier punto satisfice.
Tuve a mis pies postrada la Fortuna, Y trajo del copete mi cordura A la calva ocasión del estricote.
Mas, aunque sobre el cuerno de la luna Siempre se vió encumbrada mi ventura, Tus proezas envidio, ¡oh gran Quijote!
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A SENHORA ORIANA
A Dulcinéia Del Toboso
¡Oh, quien tuviera, hermosa Dulcinea, Por más comodidad y más reposo, A Miraflores puesto en el Toboso, Y trocara sus Londres com tu aldea!
¡Oh, quien de tus deseos y librea Alma y cuerpo adornada, y del famoso Caballero que hiciste venturoso Mirara alguna desigual pelea!
¡Oh, quien tan castamente se escapara Del señor Amadís como tú hiciste Del comedido hidalgo Don Quijote!
Que así envidiada fuera, y no envidiara, Y fuera alegre el tiempo que fué triste. Y gozara los gustos sin escote.
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GANDALIM,
Escudeiro de Amadis de Gaula, A Sancho Pança, Escudeiro de Dom Quixote
Salve, varón famoso, a quien Fortuna, Cuando en el trato escuderil te puso, Tan blanda y cuerdamente lo dispuso, Que lo pasaste sin desgracia alguna.
Ya la hazada o la hoz poco repugna Al andante ejercicio; ya está en uso La llaneza escudera com que acuso Al soberbio que intenta hollar la luna.
Envidía a tu jumento y a tu nombre, Y a tus alforjas igualmente envidio, Que mostraron tu cuerda providencia.
Salve outra vez, ¡oh Sancho! Tan buen hombre, Que a solo tú nuestro español Ovidio Com buzcorona te hace reverencia.
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ORLANDO FURIOSO
A Dom Quixote de La Mancha
Si no eres par, tampoco le has tenido: Que par pudieras ser entre mil pares, Ni puede haberle donde tú te hallares, Invicto vencedor, jamás vencido.
Orlando soy, Quijote, que perdido Por Angélica, vi remotos mares, Ofreciendo a la Fama en sus altares Aquel valor que respetó el olvido.
No puedo ser tu igual; que este decoro Se debe a tus proezas y a tu fama, Puesto que, como yo, perdiste el seso.
Mas serlo has mío, si al soberbio moro Y cita fiero domas, que hoy nos llama Iguales en amor com mal suceso.
101
O CAVALEIRO DO FEBO
A Dom Quixote de La Mancha
A vuestra espada no igualé la mía, Febo español, curioso cortesano, Ni a la alta gloria de valor mi mano, Que royo fué do nace y muere el día.
Imperios desprecié: la monarquia Que me ofreció el Oriente rojo en vano Dejé, por ver el rostro soberano De Claridiana, aurora hermosa mía.
Améla por milagro único y raro, Y, ausente en su desgracia, el próprio infierno Temió mi brazo, que domó su rabia.
Mas vos, godo Quijote, ilustre y claro, Por Dulcinea sois al mundo eterno, Y ella por vos, famosa, honesta y sabia.
102
DE SOLISDÃO
A Dom Quixote de La Mancha
Magüer, señor Quijote, que sandeces Vos tengan el cerbelo derrumbado, Nunca seréis de alguno reprochado Por home de obras viles y soeces.
Serán vuesas fazañas los jorces, Pues tuertos desfaciendo habéis andado, Siendo vegadas mil apaleado Por follones cautivos y raheces.
Y si la vuesa linda Dulcinea Desaguisado contra vos comete, Ni a vuesas cuitas muestra buen talante.
En tal demán, vueso conorte sea Que Sancho Panza fué mal alcagüete, Necio él, dura ella, y vos no amante.
103
DIÁLOGO ENTRE BABIECA E ROCINANTE
B. ¿Como estais, Rocinante, tan delgado? R. Porque nunca se come, y se trabaja. B. Pues ¿qué es de la cebada e dela paja? R. No me deja mi amo ni un bocado.
B. Anda, señor, que estáis muy mal criado, Pues vuestra lengua de asno al amo ultraja. R. Asno se es de la cuna a la mortaja, ¿Qeuréislo ver? Miraldo enamorado.
B. ¿Es necedad amar? R. No es gran prudencia B. Metafisico estáis. R. Es que no como. B. Quejaos del escudero. R. No es bastante.
¿ Como me he de quejar en mi dolencia Si el amo y escudero o mayordomo Son tan rocines como Rocinante?
104
SONETO
Ou não cabe no amor entendimento, Ou passa de cruel; e a minha pena Não iguala à razão que me condena Ao gênero mais duro de tormento.
Porém, se Amor é deus, conhecimento De tudo tem, e condição amena. Qual pois o poder bárbaro que ordena A dor atroz que adoro, e em vão lamento?
Sê-lo-eis, Filis? Inda desacerto; Um mal tamanho em tanto bem não cabe, Nem de um céu pode vir tanta ruína.
Sinto, e sei que o meu fim já tenho perto, Porque em mal cuja causa se não sabe É milagre que acerte a medicina.
105
SONETO
Santa amizade, que habitar imitas Neste baixo, fingido, e térreo assento, Mas que tens por morada o firmamento Coas essências angélicas benditas.
De lá, por dó das térreas desditas, Sonhos nos dás de alegre fingimento, Imitações do céu por um momento, Fugaz consolo às regiões proscritas.
Volta, volta dos céus, pura amizade, Ou proíbe que a amável aparência Te ursupe a desleal perversidade.
Confundida coa nobre e infame essência, Breve reverte o mundo à prisca idade; Volve o caos, é morta a Providência.
106
SONETO
Da umbrosa noite no silêncio, quando Meigo sono refaz os mais viventes, Só eu vou meus martírios inclementes Aos céus e à minha Clóris numerando.
Quando o dia os seus raios vem mostrando Dentre as rosas d'aurora auriesplentes Com suspiros e lástimas ferventes Vou as teimosas queixas renovando.
Se doura o sol a prumo o térreo assento, Não me dissipa as trevas da agonia; Dobra-me o pranto, aumenta-me os gemidos.
Volve a noite, e eu com ela ao meu lamento. Ai! Que sorte! Implorar de noite e dia, Ao céu piedade, e à minha ingrata ouvidos.
107
SONETO
Bem sei que morro, pois não sendo crido, Forçoso é que me acabe o desconforto; Podes ver-me a teus pés, ingrata, morto, Mas nunca de adorar-te arrependido.
Poderei ver nos páramos do olvido Que a vida, a glória, o bem, for tudo aborto; Só no teu semblante conquistando um porto No ardente coração resta esculpido.
Vem comigo, relíquia, ao transe duro A que me há de levar esta porfia, Que em seu próprio rigor se fortalece.
Ai de quem voga à toa em pego escuro Sem roteiro, sem bússola, sem via! Astro, não vê, nem porto se lhe of'rece.
108
SONETO
Almas ditosas, que a mortal cadeia Rompestes, e que pelo bem que obrastes De um solo obscuro e baixo remontastes À sublime região de luzes cheia;
Que, ardendo na ira duma honrosa idéia, Vossas forças na terra exercitastes; Que o sangue alheio e o próprio derramastes No mar vizinho, e na longínqua areia;
Primeiro que o valor faltou a vida Aos braços fatigados que a vitória Vos deram ao cair já de vencida!
Queda triste, mas bela, onde a história Mostra quanto é justa e a vós devida No mundo a fama, e lá nos céus a glória.
109
SONETO
De aridez desta terra desgraçada, E dos castelos pelo chão lançados, As santas almas de três mil soldados Subiram vivas a melhor morada!
Mui grande valentia exercitada Por aqui por seus braços esforçados, Mas afinal já poucos e cansados, Todos morreram vítimas da espada!
É este o solo onde padeceram Tristes sucessos as hispanas gentes No atual séc'lo, e nos que já correram.
Mas jamais foram dele aos céus luzentes Almas tão santas, nem jamais desceram Ao seio seu uns corpos tão valentes!
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O MONICONGO,
Acadêmico de Argamasilha, à sepultura de Dom Quixote
Epitáfio
O tresloucado que adornou a Mancha De mais despojos que Jasão de Creta; O juízo, que teve a grimpa inquieta Bicuda, quando fora melhor ancha;
O braço que a sua força tanto ensancha, Que chegou do Catai até Gaeta, A Musa mais horrenda e mais discreta Que versos foi gravar em brônzea prancha;
Quem bem longe deixou os Amadises, E em pouco os Galaores avaliou, Estribado no amor, na bizarria:
Quem soube impor silêncio aos Belianises, Quem, montado em Rocinante, vagueou, Jaz morto, enfim, sob esta lousa fria.
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DO APANIGUADO,
Acadêmico de Argamasilha, in laudem Dulcineae del Toboso
Esta que vês de rosto amondongado, Alta de peitos, e ademã brioso, É Dulcinéia, rainha del Toboso, De quem esteve o grão Quixote enamorado.
Pisou por ela um e o outro lado Da grande serra Negra, e o bem famoso Campo de Montiel, e o chão relvoso De Aranjuez, a pé e fatigado.
Culpa de Rocinante! Ó dura estrela! Que esta manchega dama, a este invicto Andante cavaleiro, em tenros anos
Ela deixou, morrendo, de ser bela, Ele, ainda que em mármores inscrito, Não evitou o amor, iras e enganos.
112
DO CAPRICHOSO,
Discretíssimo acadêmico de Argamasilha, em louvor de Rocinante, cavalo de Dom Quixote de La Mancha
No alto e soberbo trono diamantino, Quem com sangrentas plantas pisa Marte, O manchego frenético o estandarte Tremula, com esforço peregrino.
Pendura as armas e o aço fino, Com que assola, destroça, racha e parte! Novas proezas! mas inventa a arte Um novo estilo ao novo paladino.
Se do seu Amadis se orgulha a Gaula, Por cuja prole a Grécia gloriosa Mil vezes triunfou e a fama ensancha;
Cinge a Quixote um diadema a aula A que preside a deusa belicosa, E orgulha-se dele a altiva Mancha.
Nunca as suas glórias o olvido mancha, Pois que até Rocinante em ser galhardo Excede a Brilhadouro, vence a Baiardo.
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DO BURLADOR,
Acadêmico argamasilhesco, a Sancho Pança
Pobre de corpo, de bravura rico, Sancho Pança aqui jaz: é coisa estranha! Escudeiro mais simples, mais sem manha, Não teve o mundo, juro e certifico!
Pra ser conde faltou-lhe só um nico, Se não conspira contra ele a sanha Desta idade mesquinha, vil, tacanha, Que nem sequer perdoa a um burrico.
No burro andou (e com perdão se diga!) Este manso escudeiro, atrás do manso Rocinante e do deu dono bisonho.
Ó vãs esp'ranças! e mais vã fadiga! Nunca deixais de prometer descanso, E tudo acaba em sombra, em fumo, em sonho.
114
SONETO
Dai-me um roteiro que eu, senhora, siga, A vosso bel-prazer feito e cortado, Que por mim há de ser tão respeitado, Que nem num ponto só dele desdiga.
Se vos apraz que eu morra, e que a fadiga Que me punge, a não conte, eis-me finado! Se preferis que em modo desusado Vo-la narre, eu farei que Amor a diga.
De substâncias contrárias eu sou feito, De mole cera e diamante duro; Às leis do amor curvar esta alma posso.
Brando ou rijo, aqui tendes o meu peito, Engastai, imprimi a sabor vosso! Tudo guardar eternamente eu juro.
115
SONETO
Rompe o muro a donzela tão formosa, Que abriu de Píramo o galhardo peito: Parte o Amor de Chipre, e vai direito A ver a quebra estreita e prodigiosa.
Fala o silêncio ali, porque não ousa Entrar a voz em tão estreito estreito; As almas sim, que o amor sói com efeito Facilitar a mais difícil cousa.
Desvairou-se o desejo, e o amor tamanha Da imprudente virgem solicita A morte por seu gosto: olhai que história!
Que a ambos num só ponto, ó caso estranho! Os mata, e os sepulta, e os ressuscita Uma espada, um sepulcro, uma memória.
116
COPLAS
- Onde estás, senhora minha, Que não te dói o meu mal? Ou não nos sabes, senhora, Ou és falsa e desleal.
Nunca fora cavaleiro De damas tão bem servido, Como fora Laçarote De Bretanha arribadiço.
Aqui jaz um amador O pobre corpo gelado; Foi ele um pastor de gado, Perdido por desamor;
Morreu às mãos do rigor De uma esquiva e linda ingrata, Com quem seu reino dilata O tirano deus Amor.
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ROMANCE DO ARRABILEIRO
Sei, Olaia, que me adoras, Sem nunca mo teres dito, Nem coos olhos, línguas mudas, Que entendem os amorios.
Sei-o sim, porque és discreta; Por isso em tal me confirmo: Todo o amor alcança paga, Salvo se é desconhecido.
Verdade é que tenho, Olaia, Em ti descoberto indícios De teres a alma de bronze, E o peito de gelo frio.
Mas, através das repulsas E honestíssimos desvios, Talvez se enxergue da esp'rança Um vislumbre fugitivo.
O meu amor se abalança A esperar, sem ter podido, Nem minguar por enjeitado, Nem crescer por escolhido.
Se amores têm cortesia, Da que tu mostras colijo Que o fim das minhas esp'ranças Há de ser qual imagino.
E, se o bem servir consegue Tornar um peito benigno,
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Já tenho em que funde a crença De obter os bens a que aspiro;
Porque, se nisso reparas, Às vezes me terás visto Vestido à segunda-feira Com as galas de Domingo.
As louçainhas e amores Seguem o mesmo caminho; E eu sempre quis aos teus olhos Apresentar-me polido.
Por teu respeito não bailo; As músicas não te cito, Que a desoras, e acordado Os galos, terás ouvido.
Não te encareço os louvores Com que os teus dotes sublimo, Que, se bem que verdadeiros, Me fazem de outras malquisto.
Teresa do Berrocal Já, louvando-te eu, me há dito: - Há quem pense adorar anjos; Estando a adorar bugiosa;
Milagre dos arrebiques Mais dos cabelos postiços, Hipócritas formosuras, Que enganam até Cupido.
Desmenti-a; ela enfadou-se;
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Pôs-se por ela seu primo; Desafiou-me, e bem sabes Qual saiu do desafio.
Nem por demais te cortejo, Nem para mal de cobiço; A melhor fim se endereçam Minhas atenções contigo.
Na Igreja há prisões de seda Para os casais bem unidos; Mete o pescoço na canga, Que eu sigo o mesmo caminho.
Quando não, desde aqui juro, Pelo santo mais bendito, Não sairei destas serras Senão para capuchinho.
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CANÇÃO DE CRISÓSTOMO
Pois desejas, cruel, que se publique De boca em boca, e vá de gente em gente, Do teu rigor a nunca vista força; Farei que o mesmo inferno comunique A este peito aflito um som veemente, E à minha voz o usual estilo Terça. E a par do meu desejo, que se esforça A contar minha dor e tuas façanhas, Da voz terrível brotará o acento; E nele envoltos por maior tormento Pedaços destas míseras entranhas. Escuta, pois, e presta atento ouvido, Não a aprazível sons, sim ao ruído, Que desde o abismo do meu triste peito, Obrigado de indômito delírio, Sai para meu martírio e teu despeito.
O rugir do leão; do lobo fero O ulular temeroso; o silvo horrendo Da escamosa serpente; o formidável Som de algum negro monstro; o grasno austero Da gralha, ave de agouro; o mar fervendo Em luta co'um tufão incontrastável De já vencido touro o inamansável Bramido; os ais da lúgubre rolinha Na viuvez; o consternado canto Do invejado mocho a par coo pranto Do inferno todo, soem na dor minha, E saia com esta alma exasperada Uma explosão de música aterrada, De confusão para os sentidos todos; Pois a pena cruel que em mim padeço
121
Pede coo seu excesso estranhos modos.
De confusão tamanha ecos sentidos Pelas praias do Tejo não ressoem; Nem do Bétis nos ledos olivedos; Por ali meus queixumes esparzidos Por cavernas e penhas não ecoem Para o mundo os terríveis meus segredos; Vão por escuros vales, por degredos De ermas praias a humano trato alheias, Ou por onde jamais se enxergue dia, Ou pela seca Líbia, onde se cria Venenosa ralé de pragas feias; Que inda que nesses páramos sem termo Ninguém me escute os ais do peito enfermo, Nem ouça o teu rigor tão sem segundo, Por privilégio de meus curtos fados Serão levados aos confins do mundo.
São veneno os desdéns; uma suspeita, Ou verdadeira ou falsa, desespera; E os zelos matam com rigor mais forte. Ausência larga à morte nos sujeita; Contra um temer olvido não se espera Remédio no esperar ditosa sorte. No fundo disso tudo há certa a morte; Mas eu (milagre nunca visto!) vivo Zeloso, ausente, desdenhado, e certo Das suspeitas a que anda o peito aberto, E do olvido em que o fogo em dobro avivo. E entre tanto tormento, ao meu desejo Nem uma luz de alívio vejo, Nem já sequer fingi-la em mim procuro; Antes, para requinte de querela,
122
Estar sem ela eternamente juro.
Pode-se juntamente, porventura, Esperar e temer? E onde os temores Têm mais razão que a esp'rança, há de esperar-se? Debalde os olhos furto à sina escura; Pelas feridas d'alma os seus negrores Não cessam um momento de mostrar-se. Quem pode à desconfiança recusar-se, Quando tão claramente se estão vendo Os desdéns e os motivos de suspeita? Ai verdades em fábulas desfeitas! Ai câmbio infausto, lastimoso horrendo! Ó do reino de amor feros tiranos Zelos! dai-me um punhal; desdéns insanos, Um baraço! um baraço! ai sorte crua, Celebras tua última vitória; Não há memória atroz igual à tua.
Eu enfim morro e, por que nunca espere Que a morte me ressarça o mal da vida, Persistirei na minha fantasia. Direi que anda acertado quem prefere A tudo o bem-querer, que a mais rendida Alma é a que de mais livre se gloria. Direi que a minha algoz não acho ímpia Senão que de alma, qual de corpo, é bela, Que eu tenho a culpa, eu só, de sua fereza; Que os males que nos causa com certeza Não se opõem ao tão justo império dela. Com esta crença e um rigoroso laço, Da morte acelerando o extremo passo, A que me hão seus desprezos condenado. Darei pendente ao vento corpo e alma
123
Sem louro ou palma de outro e melhor fado.
Com tantas sem-razões, puseste clara A causa por que odeio e enjeito a vida E pelas próprias mãos a lanço fora. De tudo hoje razão se te depara: Profunda e peçonhenta era a ferida; De não mais a sofrer me eximo agora, Se por dita conheces nesta hora Que o claro céu dos olhos teus formosos Não é razão que eu turbe, evita o pranto; Tudo que por ti dei não vale tanto Que mo pagues com olhos lacrimosos. Antes a rir na ocasião funesta Mostra que este meu fim é tua festa. Louco é quem aclarar-to assim se atreve Sabendo ser-te a ânsia mais querida Que a negra vida me termine em breve.
Vinde, sedes de Tântalo; penedo De Sísifo; ave atroz que róis a Tício; Vem, roda de Egeu com giro eterno; Vinde a mim, vinde a mim; não é já cedo, Tartáreo horror do mais cruel suplício, Urnas de ímpias irmãs, cansado inferno. Quantos sofrem tormento mais interno, Vejam que igual cá dentro me trabalha; E se a suicida exéquias são devidas, Cantem-nas em voz baixa, e bem sentidas. Ao morto, a quem faltou até mortalha. E o porteiro infernal dos três semblantes Coos outros monstros mil extravagantes, Soltem-me o de profundis, pois entendo Ser esta a pompa única devida
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Do amante suicida ao caso horrendo. Canção desesperada, não te queixes Quando a chorar na solidão me deixes; Se a glória dela no meu mal consiste, E o perdimento meu lhe traz ventura, Já minha sepultura é menos triste.
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EM HONRA E LOUVOR DE DULCINÉIA
Árvores, ervas e plantas, Que neste lugar estais, Tão altas, verdes, e tantas, Se coo meu mal não folgais, Ouvi minhas queixas santas, Tal dor não vos alvorote, Embora de terror cheia, Pois, por pagar-vos o escote, Aqui chorou Dom Quixote Ausências de Dulcinéia Del Toboso.
É aqui o lugar onde O adorador mais leal De sua amada se esconde, Chegou a tamanho mal Sem saber como ou por onde. Trá-lo Amor ao estricote, Pela sua má raléia; E até encher um pipote Aqui chorou Dom Quixote Ausências de Dulcinéia Del Toboso.
Procurando as aventuras Entre as desabridas penhas, Maldizendo entranhas duras, Que entre fragas e entre brenhas Acha o triste desventuras. Deu-lhe Amor com seu chicote Da mais áspera correia;
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Tal lhe foi o esfuziote, Que aqui chorou Dom Quixote Ausências de Dulcinéia Del Toboso.
127
LAMENTAÇÃO DE CARDÊNIO
Quem menoscaba meus bens? Desdéns. Quem mais ceva meus queixumes? Ciúmes. Quem me apura a paciência? A ausência. De meu fado na inclemência, Nenhum remédio se alcança, Pois me dão morte: esperança, Desdéns, ciúmes e ausência.
Quem me causa tanta dor? Amor. Quem me as glórias arruina? Mofina. Quem às dores me há votado? O fado. Receio me é pois fundado Morrer deste mal tirano, Pois conspiram em meu dano O amor, a mofina e o fado.
Quem pode emendar-me a sorte? A morte. O bem de amor quem no alcança? Mudança. E seus males que os cura? Loucura. Então em vão se procura Remédio algum a tais chagas, Sendo-lhe únicas triagas Morte, mudança, loucura.
128
LÁGRIMAS DE SÃO PEDRO
(Luís Tansilo)
Cresce em Pedro o pesar, cresce a vergonha, Quando vê que no oriente o dia é nado; Ninguém o vê, mas tem de si vergonha, Pois em si sente e sabe que há pecado. Não é mister que o mundo se interponha Testemunha de um crime a peito honrado; Ele próprio se acusa, aflige e aterra, Bem que o vejam somente o céu e a terra.
129
COPLAS
É como o vidro a mulher; Mas não é mister provar Se se pode ou não quebrar, Porque tudo pode ser.
E é mais fácil o quebrar-se; Loucura é logo arriscar A que se possa quebrar O que não pode soldar-se.
Fiquem nisto e ficam bem, Pois nisto o conselho fundo: Que se há Dânais neste mundo, Há chuvas de ouro também.
130
O GALHARDO ESPANHOL
Procuro na morte a vida; Saúde na enfermidade; No cárcere, liberdade; No encerramento, saída; No traidor, fidelidade.
Mas minha sorte, de quem Já não posso esperar bem, Ajustou coo céu terrível, Que, pois lhe peço o impossível, Nem o impossível me dêem.
131
COPLAS
Sou marinheiro de amor, E em seu pélago profundo Navego, sem ter esp'rança De encontrar porto no mundo.
E vou seguindo uma estrela, Que brilha no céu escuro, Mais bela e resplandecente Que quantas viu Palinuro.
Eu não sei aonde me guia, E a navegar me costumo, Mirando-a com alma atenta, Cuidoso, mas não do rumo.
Recatos impertinentes, Honestidade no apuro, São as nuvens que ma encobrem, Quando mais vê-la procuro.
Límpida e lúcida estrela, Só teu clarão me conduz! Extingue-se a minha vida, Em se extinguindo a tua luz.
132
CANÇÃO PARA CLARA
Ó minha doce esperança, Que, afrontando impossíveis na verdade, Prossegues sem mudança Na senda que traçou tua vontade, Conserva ânimo forte, Inda que surja a cada passo a morte.
Não ganham preguiçosos Triunfo honrado, ou singular vitória, Nem podem ser ditosos Os que, mostrando uma fraqueza inglória, Entregam desvalidos Ao ócio vil os lânguidos sentidos.
Que amor suas glórias venda Caro, é razão, e é justo o que se contrata; Nem há tão rica prenda Como a que pelo gosto se aquilata. E é caso natural Custar só pouco o que pouco val.
Coisas quase impossíveis sempre alcança Quem emprega porfias amorosas. Com firme confiança Sigo eu do amor as mais dificultosas. E nem sequer me aterra Ter de ganhar o céu, estando na terra.
133
DO CACHIDIABO,
Acadêmico de Argamasilha, na sepultura de Dom Quixote
Epitáfio
Aqui jaz o cavaleiro Bem moído e mal andante, Que, montado em Rocinante, Percorreu senda e carreiro.
Sancho Pança, o malhadeiro, Jaz também neste local, Escudeiro o mais leal, Que houve em trato de escudeiro.
DO TIQUITOC,
Acadêmico de Argamasilha, na sepultura de Dulcinéia del Toboso
Epitáfio
Repousa aqui Dulcinéia, Que, sendo gorda e corada, Em cinza e pó foi mudada Pela morte horrenda e feia.
Foi de castiça raleia, E teve assomos de dama, Do grão Quixote foi chama, E foi glória da sua aldeia.
134
DÉCIMAS
Mote
Se o meu foi tornasse a ser, Sem eu ter que esperar será, Ou viesse o tempo já Do que está pra acontecer...
Glosa
Alfim, como tudo passa, Passou o bem que me deu A fortuna nada escassa, Mas que nunca me volveu, Por mais que eu peça ou que faça. Fortuna, bem podes ver Que já é longo o meu sofrer; Faze-me outra vez ditoso, Que eu seria venturoso Se o meu foi tornasse a ser.
Só quero um gosto, uma glória, Uma palma, um vencimento, Um triunfo, uma vitória, Tornar ao contentamento Que me é pesar na memória. Fortuna, leva-me lá, E temperado estará Todo o rigor do teu fogo, Sobretudo sendo logo, Sem eu ter que esperar será.
135
Sei que sou indeferido, Pois tornar o tempo a ser, Depois de uma vez Ter sido, Não há na terra poder Que a tanto se haja estendido. Corre o tempo; leve dá Seu vôo, e não voltará, E erraria quem pedisse Ou que o tempo partisse, Ou viesse o tempo já.
Viver em perplexa vida, Ora esperando, ora temendo, É morte mui conhecida, E é muito melhor morrendo Buscar para a dor saída. Eu preferia morrer, Mas não o devo querer, Pois com discurso melhor Me dá a vida o temor Do que está pra acontecer.
136
CANÇÃO DO AMOR
De Cupido a uma donzela:
Eu sou o deus poderoso No firmamento e na terra, E no vasto mar undoso E em tudo o que o abismo encerra No seu báratro espantoso. Nunca soube o que era medo; Tenho o mágico segredo De conquistar o impossível, E em tudo quanto é possível Mando, tiro, ponho e vedo.
A fala do Interesse:
Sou quem pode mais que Amor, Mas é o Amor que me guia. Eu sou da estirpe maior, Que o céu cá no mundo cria, Mais conhecida e melhor. Sou o Interesse, com quem Poucos soem obrar bem; É milagre o dispensar-me, E a ti venho consagrar-me Pra sempre jamais, amém!
Disse a Poesia:
Em mil conceitos discretos A dulcíssima Poesia A alma cheia de afetos,
137
Vivos, suaves, te envia, Envolta entre mil sonetos. Se acaso te não enfado Com meu porfiar, teu fado, Que de inveja a muitos dana, Levantarei de Diana Sobre o disco prateado.
Saiu a Liberalidade e disse:
Chamam Liberalidade Ao dar, quando se recusa A ser prodigalidade E ao contrário ser, que acusa Tíbia e tímida vontade. Mas eu, por te engrandecer, Hoje pródiga hei de ser, Que, se é vício, e vício honrado, E de peito enamorado Que no dar se deixa ver.
O BRADO DE DURANDARTE
"Ó meu primo Montesino, Uma coisa vos pedia: Que, em eu dando a Deus minh'alma, E meu corpo à terra fria; Meu coração a Balerma Leveis, sem tardar um dia, Arrancando-me do peito Com a adaga luzidia."
138
A APARIÇÃO DO MAGO MERLIM
Eu sou Merlim, aquele que as histórias Dizem que tem por pai o próprio Diabo (Mentira autorizada pelos tempos), príncipe da arte mágica, monarca e arquivo da ciência zoroástrica, Êmulo das idades, e dos séculos, Que solapar pretendem as façanhas Dos andantes valentes cavaleiros, A quem eu tive e tenho grande afeto. Mas, apesar de ser dos nigromantes, Dos magos e dos mágicos, por uso, Severa a condição, áspera e forte, A minha é terna, e amorosa e branda: Gosto de fazer bem a toda a gente.
Nessas cavernas lôbregas de Dite, Onde em formar os magos caracteres Minha alma se entretinha, ouvi, de súbito, A voz plangente e meiga da formosa E sem-par Dulcinéia del Toboso. Narrou-me então seu infeliz destino, Sua transformação em gentil dama Em rústica aldeã; compadeci-me; Dentro desta figura horripilante Encerrei meu espírito; mil livros Revolvi, manuseei, desta ciência Endiabrada e torpe que professo, E enfim, trago remédio competente Para tamanha dor, desgraça tanta.
Ó tu, que és honra e glória dos que vestem Túnicas de aço e rútilo diamante,
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Luz e fanal e mestre e norte e guia Daqueles que, deixando o torpe sono E os ociosos leitos, só se empregam No rude, intolerável exercício Das sangrentas, fatais, pesadas armas! A ti digo, à varão nunca louvado Como o mereces ser; a ti, valente Cavaleiro e discreto Dom Quixote, Da Mancha resplendor, da Espanha estrela: Para que Dulcinéia del Toboso Possa recuperar o antigo estado, Deve o teu escudeiro Sancho Pança Assentar nas suas largas pousadeiras, Descobertas e ao ar, três mil açoites Com suas próprias mãos, e mais trezentos... Açoites que lhe doam bem deveras. Mandam isto os que foram da desgraça Da bela Dulcinéia causadores, E aqui vim a dizê-lo, meus senhores.
DUAS COPLAS
Da minha doce inimiga Nasce a dor que a alma aflige E por mais tormento exige Que se sinta e não se diga.
Morte, vem tão escondida Que eu não te sinta aparecer. P'ra que o gosto de morrer Me não torne a dar a vida.
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ROMANCE DE ALTISIDORA
Ó tu, que estás no teu leito Com lençóis de holanda fina, Dormindo bem regalado, Sem sentires a espertina,
Cavaleiro o mais valente Que na Mancha se há gerado, Mais honesto e abençoado Que o ouro da Arábia ardente:
Quisera estar nos teus braços Ou prestar-te o bom serviço De te sacudir a caspa, De te coçar o toutiço.
Muito peço, não sou digna De mercê tão levantada; Dá-me os teus pés, isso basta, Nem eu desejo mais nada.
Ouve uma triste donzela, Bem-nascida e mal lograda, Que na luz desses teus olhos A alma sente abrasada.
Achas desditas alheias, Quando buscas aventuras; E de amor cruéis feridas Tu as dás, mas não as curas.
Dize-me, bravo mancebo (que Deus cumpra os teus desejos),
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Se te criaste na Líbia Ou em montes sertanejos.
Deram-te leite as serpentes? Foram tuas armas bravias As aspérrimas florestas E o horror das serranias?
Mui bem pode Dulcinéia, Donzela sã e gorducha, Gabar-se de ter rendido Um tigre, fera machucha.
Por isso será famosa De Jarama até Henares, De Pisuerga até Arlanza E do Tejo ao Manzanares.
Eu trocava-me por ela, E ainda em cima dava a saia Mais vistosa que eu possuo De áureas franjas na cambraia.
Que coifas eu te daria! Escarpins de prata fina, Umas calças de damasco, Uns calções de bombazina;
Muitas pedras preciosas, Finas pérolas orientais, Que, a não terem companheiras, Não contariam iguais!
Não mires dessa Tarpéia
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Este incêndio que me queima, Nero manchego, que o fogo Avivas coa tua teima.
Menina sou, pulcela tenra, Quinze anos não completei; Tenho catorze e três meses, Juro pela santa lei.
Não sou manca, não sou coxa, Não tenho um só aleijão, Meus cabelos cor de lírios, 'Estando em pé, chegam-me ao chão.
A boca tenho aquilina, Tenho a penca abatatada; Os dentes são uns topázios! Vê que beleza afamada.
Sou pequenina, o que importa? A minha voz, fresca e pura, Confessa que (se me escutas) Tem suavíssima doçura.
Conquistou minha alma ingênua Teu rosto que me enamora; Sou donzela desta casa, E chamam-me Altisidora.
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ROMANCE
(de Dom Quixote a Altisidora)
Tiram as almas dos eixos As forças do amor, São os cuidados do ócio Seu instrumento melhor.
As donzelas na costura, E em 'estar sempre atarefadas, Têm antídoto ao veneno Das ânsias enamoradas.
Os cavaleiros andantes E os que vão da corte às festas, Têm com as soltas requebros, Mas só casam coas honestas
Fútil amor de levante Podem-no hóspedes sentir, Chega rápido ao poente Porque acaba coo partir.
Amor que nasce depressa Hoje vem, vai-se amanhã, Nas almas não deixa impressa A sua imagem louçã.
Pintura sobre pintura Não é como em tábua rasa; Onde há primeira beleza A segunda não faz vaza.
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Dulcinéia del Toboso Eu tenho n'alma pintada Com tal viveza, que nunca Poderá ser apagada.
A firmeza nos amantes É dote mui de louvar, Amor que opera milagres Por quem assim sabe amar.
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DESPEDIDA DE ALTISIDORA
Sopeia um pouco essas rédeas, E, escuta, mau cavaleiro; Não fatigues as ilhargas Desse teu nobre sendeiro.
Refalsado, tu não foges De alguma fera serpente, Foges de uma cordeirinha Tenra, cândida, inocente.
Tu escarneceste, ó monstro, A donzela menos feia, Que viu Diana em seus montes, E em seus bosques Citeréia.
Cruel Vireno, fugitivo Enéias, Barrabás te acompanhe, lá te avenhas.
Tu levas, que roubo ímpio! Nas tuas garras grifanhas, De uma terna namorada As humílimas entranhas.
Levas três lenços, e as ligas De umas pernas torneadas, Que são como o puro mármore, Lisas, duras, jaspeadas.
Levas também mil suspiros, Cujo ardor talvez pudesse Abrasar outras mil Tróias, Se outras mil Tróias houvesse.
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Cruel Vireno, fugitivo Enéias, Barrabás te acompanhe, lá te avenhas.
Que do teu Sancho as entranhas Sejam, para teu tormento, Tão duras, que Dulcinéia Não saia do encantamento.
Que a triste leve o castigo Da tua culpa tamanha, Que justos por pecadores Pagam sempre cá na Espanha.
Que as mais finas aventuras Para ti sejam tristezas, Sonhos os teus passatempos, Olvidos tuas firmezas!
Cruel Vireno, fugitivo Enéias, Barrabás te acompanhe, lá te avenhas.
Que sejas tido por falso De Sevilha a Finisterra, Desde Loja até Granada, E de Londres a Inglaterra.
Se tu jogares a bisca, Os centos, ou outro jogo, Que os reis, os azes e os setes Fujam de ti logo e logo.
Quando cortares os calos, Que haja sangue e cicatrizes,
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Quando arrancares os dentes, Que te fiquem as raízes.
Cruel Vireno, fugitivo Enéias, Barrabás te acompanhe, lá te avenhas.
MADRIGAL
(tradução do poeta Pierro Bembo)
Amor, eu quando penso No mal que tu me dás, terrível, forte, Alegre corro à morte, Para assim acabar meu mal imenso;
Mas quando chego ao passo, Que é meu porto no mar desta agonia, Sinto tal alegria Que a vida se revolta e não o passo.
Assim o viver me mata, Pois que a morte me torna a dar a vida! Condição nunca ouvida, A quem comigo vida e morte trata!
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ESTÂNCIAS
Enquanto não ressurge Altisidora, De Dom Quixote a vítima discreta, E as damas na corte encantadora Enverguem cada qual sua roupeta, A duquesa gentil, minha senhora, Manda as donas vestir-se de baeta, Cantarei a beldade que morreu Com melhor plectro do que o próprio Orfeu.
E parece-me até que me não toca Um tal dever unicamente em vida, Mas com a língua morta em fria boca Hei de soltar a voz que te é devida. Livre a minha alma da apertada roca, E pelo estígio lago conduzida, Celebrando-te irá, e ao seu lamento Hão de as águas parar de esquecimento.* * Oitava de Garcilaso de la Vega
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EPITÁFIO DE SANSÃO CARRASCO
(Ante a sepultura de Dom Quixote)
Aqui jaz quem teve a sorte De ser tão valente e forte, Que o seu cantor alegou Que a morte não triunfou Da sua vida coa sua morte. Foi grande a sua bravura, Teve todo o mundo em pouco, E na final conjuntura Morreu: vejam que ventura, Com siso vivendo louco!
COPLA
(Cide Hamete, para que jamais usem a pena com que escreveu esta história)
Alto, alto, vis traidores, por ninguém seja eu tocada, porque, bom rei, esta empresa para mim 'estava guardada.
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Viagem em torno de Dom Quixote de La Mancha e de um tal Miguel de Cervantes Saavedra (Parte III)
1 - Autores, Pósteros
Plagiadores,
Aderentes,
Pré-Históricos,
2 - Obras, Escolas, Influências, Mesmo Não Identificadas e Póstumas
3 - Outras Ocorrências: Gentes, Tipos, Terras, Reinos
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AUTORES, PLAGIADORES, ADERENTES, PRÉ-HISTÓRICOS, PÓSTEROS
Afonso Sanches (1298-1329), poeta e trovador português, filho bastardo de Dom Dinis. Por desavença com o irmão legitimado, foi obrigado a viver na Espanha. Poeta lírico escreveu cantigas de amigo, de maldizer, de amor e uma tenção amorosa com Vasco Martins de Resende, todas incluídas no Cancioneiro da Vaticana [códice do séc. XV ou XVI existente na biblioteca do Vaticano], que compreende trovas e canções de antigos trovadores espanhóis e lusos, que também se encontram no Cancioneiro da Ajuda.
Alain René Lesage (1668-1747), [ou Le Sage], escritor francês, se inspirou em temas cervantinos para escrever seus romances mais famosos e de maior sucesso: O diabo coxo (1707), História de Guzmán de Alfarache (1732), Gil Blás de Santillana (1715-1735), O bacharel de Salamanca (1736). Famoso também como autor dramático, escreveu numerosas peças e farsas, entre as quais Crispin, rival de seu mestre (1707), Turcaret (1709). Não obstante confessar a fonte de sua inspiração, Lesage foi por demais fiel às mesmas e sua obra algumas vezes mais sugere tradução e transcrição que criação própria. René Lesage era tão fanático pela literatura espanhola e pelo Dom Quixote que também traduziu para o francês a parte II apócrifa, assinada por Avellaneda.
Alfonso Tostado Ribera de Madrigal (séc. XV), bispo de Ávila, "escritor de fecundidade proverbial", um dos suspeitos de ser o Avellaneda, autor do Dom Quixote apócrifo.
Alfonso X, El Sabio (1221-1284), rei de Castela e de Leão, imperador germânico, o mais esclarecido príncipe de seu tempo, animador do movimento intelectual e artístico que se desenvolveu na Espanha no séc. XIII. Escreveu cantigas e compôs 420 poemas musicados em honra à Virgem Maria, além de obras relativas à língua castelhana, direito, astronomia, xadrez e dirigiu a publicação Tábuas Alfonsinas.
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Alonso de Ercilla y Zuñiga (1533-1594), poeta épico espanhol, tomou parte de várias expedições à América Latina, entre as quais a do Chile, que inspirou o poema épico sobre a Descoberta da América: La Araucania, escrito entre 1569 e 1589.
Angelo Poliziano (1454-1494), poeta e humanista italiano, um dos maiores intelectuais da Renascença, compôs poemas em grego, latim e italiano. As Estâncias para a justa (1478) celebram a vitória de Júlio de Medici e o seu Orfeu (1480) constitui o primeiro exemplo de teatro com argumento profano. Dedicou ao poeta florentino Micael Verino, morto aos 17 anos o epigrama iniciado com o verso "Morreu na flor de seus anos"
Antoine de Montchrestien (c.1575-1621), escritor e economista francês, autor de tragédias Davi, A escocesa e Heitor, que já anunciavam alguns temas cornelianos.
Antonio de Guevara (1480-1545), escritor espanhol, frei franciscano, bispo de Mondoñedo, foi nomeado confessor e historiógrafo de Carlos V. As suas obras Relógio dos príncipes (1529), Desprezo da Corte (1539) e Epístolas familiares (1539-1541), fizeram grande sucesso na época.
Antônio Ribeiro Chiado (1520-1591), poeta português, após largar o hábito e o convento, foi para Lisboa onde começou a escrever autos semelhantes aos de Gil Vicente (Auto de Gonçalo Chambão, Auto da natural invenção). Entre outros trabalhos destaca-se Letreiros sentenciosos os quais se acharam em certas sepulturas de Espanha feitos em trovas (1602), obra de evidente folclorismo.
Ariosto Ludovico Ariosto (1474-1533), poeta italiano que nas Sátiras (15171525) exprimiu o ideal de vida tranqüila, consagrada aos prazeres do coração e dos estudos. Compôs Poesias Latinas (1494-1503), as comédias La Cassaria (1508), La Lena (1529). Mas a sua obra-prima é o poema épico Orlando Furioso (1516-1532), um
perfeito exemplo da Renascença em plena
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maturidade e a continuação do também célebre Orlando enamorado de Matteo Boiardo.
Ausiàs March (1397-1459), cavaleiro e poeta catalão, sua obra Cants d'amor compreende canções de amor dentro de um espírito cortesão e Canto espiritual, poemas de inspiração filosófica.
Baltasar Teles (1595-1675), historiador, filósofo e teólogo português, educado pelos jesuítas, em 1610 entrou para a Companhia de Jesus, desempenhando o cargo de Cronista. Entre seus trabalhos, altamente documentados, destacamse Crônicas da Companhia de Jesus na província de Portugal, História Geral da Etiópia, a Alta, ou Preste João, e Summa Universae Philosophiae (1642), manual de filosofia muito reeditado e um dos primeiros compêndios filosóficos de sentido didático.
Bartolomeu Carrasco de Figueroa (1580-1610), célebre poeta espanhol, cognominado o Divino, nasceu nas Ilhas Canárias. Poeta da época de Cervantes não mencionados em nenhuma das citações de autores célebres espanhóis.
Benito Arias Montano (1527-1598), erudito espanhol que Filipe II enviou a Antuérpia para dirigir a impressão da Bíblia Poliglota, editada por Platino, primeira edição do texto original, acompanhada de todas as versões antigas.
Bernarda Ferreira de Lacerda (1596-1644), poetisa portuguesa (Oporto), de língua espanhola, autora de As soledades de Bussaco, España libertada.
Bernardim Ribeiro (1500-1550), poeta e prosador português, desempenhou altos cargos na corte e teria morrido num manicômio devido a seus amores infelizes, mas é impossível confirmar qualquer coisa sobre sua biografia. Suas primeiras poesias constam do Cancioneiro geral de Garcia de Resende. Escreveu depois cinco Éclogas, todas de natureza bucólica, que firmaram sua glória como o maior dos poetas portugueses ao lado de Camões. Juntamente com as Éclogas, publicadas em Ferrara, em 1555, saiu o romance pastoril
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Menina e moça, uma das obras mais originais da língua portuguesa. Localizouse uma edição independente quinhentista de suas obras, cuja data é desconhecida.
Bernardo de Balbuena (1568-1627), poeta espanhol, autor do poema El Bernardo.
Brás Garcia de Mascarenhas (1595-1656), poeta português barroco, autor de Ausências brasílicas e Viriato trágico. De vida agitada e aventurosa, irreverente e inquieto, foi preso em Coimbra em 1616, mas fugiu da cadeia. Viajou pela Europa e chegou ao Brasil em 1623.
Catão [Marcus Porcius Cato], o Censor, (234-149 aC), cognominado também o Antigo, cônsul, censor, homem de estado, político e orador romano, lutou contra o luxo, eliminou os senadores que julgava indignos e combateu o helenismo em nome da moral austera. Temendo desforra de Cartago, pregou continuamente sua destruição, daí a sentença Delenda est Carthago (É preciso destruir Cartago). Escreveu Tratado de agricultura.
Chrétien de Troyes (1135-1183), poeta francês, a serviço da condessa Maria de Champagne e do conde de Flandres, foi autor de grandes romances do fim do séc. XII. Erec e Enida, Cliges, Lancelote, Evain ou O Cavaleiro do leão, Percival ou O conto do Graal, sendo também atribuída a ele a autoria de Guilherme de Inglaterra. Em um cenário povoado de fadas, anões, gigantes, a missão dos Cavaleiros é dissipar os malefícios, encantamentos e maus costumes, para restabelecer a ordem cortês num mundo agitado por paixões violentas. A ética heróica é arranjada visando oferecer aos Cavaleiros pobres que rodeiam o príncipe e a senhora, um objetivo, uma esperança na busca da felicidade, já que nenhuma chance de ascender socialmente é reservada pela sociedade dominadora.
Clément Marot (1496-1544), poeta francês autor do primeiro soneto escrito na França, escreveu também epigramas, elegias e epístolas.
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Cristóbal de Virués (1550-1609), poeta espanhol, tornando-se conhecido no teatro por tragédias cheias de horror, chegou a rivalizar com Félix Lope de Vega.
Cristóbal Suárez de Figueroa (1571-1644), escritor espanhol autor de romances pastoris (La constante Amarilis, 1609) e de uma coletânea de diálogos literários, morais e filosóficos (El pasajero, 1617).
Cristóvão da Costa (séc. XVI) sábio, médico e botânico português nascido em Ceuta, autor do Tratado das drogas e medicinas (1578) e Tratado em louvor das mulheres (1592), ambos em castelhano.
Diego Hurtado de Mendoza (1503-1575), poeta, guerreiro e historiador espanhol, encarregado de diversas missões diplomáticas, legou à biblioteca do Escorial uma coleção de manuscritos gregos e árabes. A ele é atribuída a autoria do pioneiro romance picaresco Lazarillo de Tormes. Alguns críticos espanhóis atribuem a Diego Hurtado a autoria do Palmerim de Inglaterra, obra que apenas traduziu do português. Escreveu também Guerra de Granada, publicado somente em 1627.
Diogo de Paiva de Andrade (1574-1660), poeta português, autor do poema épico Chauleida, em que exalta os feitos militares de Francisco de Mascarenhas e outros vultos históricos, acerca do cerco da cidade de Chaul (Índia).
Diogo do Couto (1542-1616), poeta, escritor e historiador português, por ordem de Filipe II deu continuação às Décadas da Ásia, de João de Barros. Depois de ser algum tempo pajem da Real Câmara, foi para a Índia como combatente da armada de 1559. Compôs poemas líricos e pastoris, deixou um volume de elegias, éclogas, canções, sonetos e glosas. Voltou a Portugal em 1570, tendo assistido Camões, que era seu amigo. É autor do diálogo O soldado prático, em cujo prefácio se conta a dramática história da redação das suas décadas. Em vida do autor publicaram-se Década IV (1606), Década V (1612), Década VI (1614) e Década VII (1616). Diogo do Couto escreveu até a Década XII, mas
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a VIII e IX foram-lhe roubadas e a XI e XII não atingiram a revisão final. Nomeado guarda-mor do Arquivo da Índia, morreu em Goa.
Diogo Fernandes (séc.XVI), escritor português, autor da Terceira e da Quarta parte da Crônica de Palmerim de Inglaterra (1604).
Discorides (séc. I), botânico grego e autor de trabalhos sobre ervas medicinais, venenos mortíferos, obras traduzidas, comentadas e ilustradas para o espanhol pelo doutor Andrés Laguna, médico e humanista segoviano (séc. XVI), fonte de pesquisa para as mezinhas do fidalgo manchego.
Dom Manuel de Portugal (1520-1606), poeta português cujas obras, escritas em castelhano, compõem 17 livros de canções, odes, endechas, oitavas, etc., de conteúdo moral e ascético. Deixou o Tratado breve da oração, escrito em português.
Ésquilo (525-456 aC), poeta trágico grego, após lutar contra os persas em Maratona e Salamina, obteve aos 40 anos de idade sua primeira grande vitória num concurso de tragédias. O triunfo de Os persas (472aC) consagrou-o definitivamente e atraiu o interesse de Hiéron, tirano de Siracusa. A partir daí Ésquilo viveu ora em Atenas ora na Sicília fazendo representar quase 90 tragédias que exploravam o universo dos antigos mitos, a teogonia, o ciclo troiano, a história dos Argonautas, as lendas de Tebas, Argos e Micenas. Considerado o verdadeiro fundador da tragédia grega, introduziu o segundo ator, tornou mais vivo o diálogo, embelezou os movimentos do coral, conferiu maior expressividade às máscaras, decorou o palco com cenários. Foi o primeiro a explorar os recursos das trilogias.
Félix Lope de Vega y Carpio (1526-1635), poeta e o primeiro grande dramaturgo espanhol, provavelmente o autor mais prolífico da época, com mais de 2.000 peças, comédias e entremezes. Iniciou o teatro de cunho nacional, com elementos cômicos, trágicos, eruditos e populares. Em conseqüência da ligação excessivamente amigável com a Inquisição, Lope de Vega alimentou inimizades pessoais e adversários literários, entre os quais Cervantes e
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Góngora. De suas peças destacam-se El alcaide de Zalamea (1600), Peribáñez y el comendador de Ocaña (1614), Fuenteovejuna (1618), La Dorotea (1632), El caballero de Olmedo (1606), os dramas de inspiração religiosa La hermosa Ester (1610), El romancero espiritual (1619), mas a crítica considera sua obra-prima o drama La estrella de Sevilla. Deixou extensa obra lírica.
Fernán de Herrera (1534-1597), poeta sevilhano, autor de inúmeras canciones, duas das quais evocam a vitória de Lepanto (1571) e a derrota de Dom Sebastião de Portugal (1578). Foi o líder da escola sevilhana, graças a ele o vocabulário espanhol se enriqueceu e as regras poéticas foram estabelecidas.
Fernán Pérez de Guzmán (1376-1460), senhor de Batres, cronista castelhano, autor da crônica rimada, Loores de los claros varones da España, de biografias históricas, Mar de histórias.
Fernán Pérez de Oliva (1494-1533), humanista espanhol, seu Diálogo sobre a dignidade do homem é dos primeiros modelos da prosa castelhana. Fernando de Rojas (1465-1541), escritor espanhol, presumível autor do romance La Celestina (1499).
Fernão Álvares do Oriente (1540-1595), escritor e poeta português maneirista, muito influenciado por Petrarca, Camões e Sannazzaro, cuja Arcádia inspirou sua coletânea de novelas pastoris Lusitânia transformada (1607).
Fernão Mendes Pinto (1510-1583), escritor, aventureiro e viajante português, por volta de 1537 partiu para a Índia, começando a odisséia que narrou em sua obra. Em 1538 viajou ao mar Vermelho, depois afirma ter entrado na Abissínia (informação recebida com reservas). Numerosas vezes esteve prisioneiro e foi vendido como escravo. Ingressou na Companhia de Jesus, fato provado por cartas e testemunho dos jesuítas São Francisco Xavier, padre Belchior Nunes, irmão Aires Brandão. Fernão Mendes Pinto emprestou a Francisco Xavier 300 cruzados para a edificação de uma igreja no Japão, doou 4 mil cruzados para ajudar a obra dos jesuítas, libertou escravos e distribuiu muitas esmolas. Em
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1554 voltou ao Japão, já noviço da Companhia de Jesus, como embaixador do vice-rei Dom Afonso de Noronha. Desiludido da vida religiosa, abandonou o noviciado e regressou a Portugal. Escreveu Peregrinação e Algumas informações da China (publicadas no número 13 da Revista de História). Logo depois de sua publicação a Peregrinação foi traduzida em vários idiomas. Por considerar sua obra exagerada demais, o nome do autor (Fernão Mendes Pinto) é objeto do trocadilho secular: Fernão, mentes? Minto!
Francisco Agostinho Tárrega (?), cônego, autor de A inimiga favorável
Francisco de Morais (1500-1572), escritor português, autor de Desculpas de uns amores (1524), obra baseada na sua própria infelicidade amorosa. A ele é atribuída a autoria do famoso romance de cavalaria Palmerim de Inglaterra, cuja primeira edição (c.1544), está perdida, existindo a edição castelhana de 1546. Baseados nesta reedição os espanhóis atribuem a obra a Diego Hurtado de Mendoza.
Francisco de Paiva de Andrade (1540-1614), escritor português, cronista-mor do reino, guarda-mor da Torre do Tombo, dos maiores acervos históricos e literários do mundo. Escreveu a Crônica do muito alto e muito poderoso rei destes reinos de
Portugal Dom João III deste nome (1613). Como poeta
compôs uma crônica rimada em 20 cantos, O primeiro cerco de Diu (1589).
Francisco de Sá de Miranda (1481-1558), poeta português, partícipe do Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende. Em 1521 foi à Itália, lá permaneceu cinco anos, introduzido no meio literário pela poetisa Vittoria Colonna, grande paixão de Michelangelo, autora de Rimme della Vittoria Colonna. Retornando a Portugal em 1527, Sá de Miranda iniciou a fase mais fecunda da sua produção, realizada numa linguagem elíptica e cingida ao concreto, sentenciosa, aforística, a meio caminho da sátira e do ensaio.
Francisco Suárez (1545-1617), filósofo e teólogo espanhol, jesuíta, chamado Doctor Eximius, ensinou em Roma, Alcalá, Salamanca e Coimbra, considerado um dos últimos representantes da escolástica e um dos fundadores da filosofia
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do direito. Refutou a teoria do direito divino dos reis e afirmou que o direito internacional fundamenta-se no costume. Suas obras incluem: Disputas metafísicas (1597), Tratado das leis e do Deus legislador (1612), Defesa da fé católica e apostólica (1613), além de extensos comentários sobre a Suma teológica, de Santo Tomás
François Rabelais (1494-1553), escritor e médico francês, uma das maiores expressões do Renascimento. Editou em 1532 obras de direito, de medicina e Horríveis e espantosos feitos e proezas do mui afamado Pantagruel, assim como um divertido almanaque Pantagruéline prognostication. Viajou para Roma e na volta publicou Vida inestimável do grande Gargantua, pai de Pantagruel (1534). Em 1546 dedicou a Margarida de Navarra o Terceiro livro dos fatos e ditos heróicos do nobre Pantagruel, que foi, como as obras anteriores, condenado pela Sorbonne. Refugiado em Roma, publicou os primeiros capítulos do Quarto livro de Pantagruel (1548), cuja edição completa saiu em 1552. Sua obra resume as aspirações da primeira metade do séc. XVI, concilia erudição com tradições populares e lições de um novo humanismo. Através das narrativas cômico-heróicas, do tom grotesco e da farsa, Rabelais convida o leitor a pensar em renovação do ideal filosófico à luz do pensamento antigo e faz uma profissão de fé na ciência e na natureza humana. Seu gênio como escritor sobressai na linguagem truculenta, de invenções verbais, servida de um vocabulário rico, imaginoso, que utiliza sabiamente a diversidade de língua e registros dialetais da época.
Frei Pedro de Padilla (natural de Linares), autor de Romancero, Madri 1580; Grandezas e excelências da Virgem Nossa Senhora (?); Églogas pastoris (?); Jardim espiritual (?).
Frei Tomé de Jesus (1529-1583), escritor português, em 1578 foi para a África, sendo preso em Alcácer-Kibir, é autor dos Trabalhos de Jesus, compostos durante o cativeiro e "dedicados à nação portuguesa na sua tribulação". Compôs também uma Vida do venerável padre Luís de Montoya e A quarta parte da Vida de Jesus que o padre Montoya havia deixado inacabada. Sua obra caracteriza-se pela sinceridade e ausência de ostentação erudita.
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Garci Rodríguez (ou Ordoñez) de Montalvo (séc. XV), escritor espanhol, governador de Medina del Campo, escreveu, entre outros, o romance de cavalaria Amadis de Gaula (1508) e sua continuação Las sergas de Esplandián (1510).
Garcia de Orta (1490-1568), médico e escritor naturalista português, em 1534 foi para a Índia, onde colecionou e estudou produtos naturais da terra. Escreveu Colóquios dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, autêntica enciclopédia de medicina e botânica. Em 1580 teve os ossos exumados e queimados publicamente pela Inquisição e as cinzas jogadas no rio Mandovi, porém mais tarde fizeram-lhe justiça e sua obra foi reconhecida.
Garcia de Resende (1470-1536), poeta, pesquisador e historiógrafo português, músico, cantor, foi sobretudo o compilador do Cancioneiro geral em 1516, também chamado Cancioneiro de Garcia de Resende. Outras obras: Vida e feitos de Dom João II (1545), Miscelânea e variedade de História (1554), Breve memorial sobre a confissão (1521), Sermão dos três Reis Magos.
Garcilaso de la Vega (1540-1615), guerreiro e escritor espanhol, cognominado "El Inca" pela origem peruana (nasceu em Cuzco), historiador e ficcionista, um dos primeiros cronistas da civilização Inca. Pela profunda ligação com a cultura pré-colombiana, seus livros combinam elementos históricos e fantásticos. Escreveu, entre outros: Florida del Inca, o Historia del adelantado Hernando del Soto (1605), Los comentarios reales, que tratan del origen de los Incas (1609), Historia general del Peru (póstumo 1617). É provável filho de Sebastián Garcilaso de la Vega (1495-1559), conquistador espanhol que serviu no exército de Cortés (México) e no de Alvarado (Peru), sendo posteriormente nomeado governador de Cuzco em 1548, onde morreu.
Gaspar de Aguilar (?), valenciano, autor de O mercador amante
Geofrey Chaucer (1340-1400), poeta inglês de grande influência na Europa. Descobriu a literatura francesa quando esteve preso naquele país, traduziu o
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francês Jean de Meung e compôs uma série de Lamentos. Diplomata na Itália, enturmou-se nos meios literários e artísticos, encontrou Petrarca, Bocaccio e escreveu a Lenda das mulheres exemplares (1385). Os Cantos de Canterbury (1400), mescla realismo social e aspirações urbanas, tornou-se a mais importante contribuição para a fixação da língua inglesa, divulgou a literatura britânica em toda a Europa.
Gil Vicente (1465-1537), dramaturgo português, a maior figura da literatura portuguesa anterior a Camões. Em 1502 entrou a serviço de Dona Leonor, viúva do rei Dom João e desde então escreveu inúmeras peças para festas reais. Parou de escrever em 1536 e num documento de 1540 já aparece como morto. A obra teatral de Gil Vicente deu origem à primitiva dramaturgia peninsular, ao lado da espanhola, da qual fazia parte. A maioria de suas obras está escrita em língua castelhana. Escreveu, entre tantas: Auto pastoril castelhano (1502), Auto dos Reis Magos (1503, Auto da história de Deus (1528), Exortação da guerra (1534). Foi autor de várias peças de cavalaria, entre as quais a Tragicomédia de Dom Duardo, Amadis de Gaula e a Farsa do escudeiro. Gil Vicente exercitou todas as temáticas: tragédia, crítica, cavalaria, superstições populares, paródias, polêmica, moral.
Ginés Pérez de Hita (1544-1619), autor de Guerras civis de Granada (1595/1604), que narra a revolta dos mouriscos do reino de Granada, último bastião muçulmano da Espanha. Os rebeldes só foram derrotados após dura guerra comandada por Don Juan de Áustria. A rebelião ficou conhecida como a Revolta dos Mouros, verdadeira guerra civil, redundou em morticínio e expulsão dos mouriscos, consolidada em 1609, gerou irreparáveis perdas econômicas, artísticas, humanas e sociais para a Espanha e Portugal.
Giovanni Batista Guarini (1537-1612), escritor italiano, escreveu poesias, uma comédia (Idropica, 1584), notadamente a tragicomédia pastoril Il pastor fido, anúncio da poesia barroca.
Godofredo de Bouillon (1061-1100) e não Godofredo de Bulhões, como erradamente traduzem os portugueses. Trata-se de Godofredo IV, de Bolonha
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(daí o Bouillon), vendeu o seu ducado para organizar e dirigir a I Cruzada contra Jerusalém (1099). Após a tomada da cidade, governou com o título de Procurador do Santo Sepulcro. Cavaleiro valoroso, inspirou os trovadores que difundiam suas façanhas por toda Europa cantando a gesta
A Canção de
Antioquia.
Gomes Eanes de Azurara ou Zurara (1410-1474), cronista português que em 1454 substituiu Fernão Lopes como guarda-mor da Torre do Tombo. Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo. Principais obras: Crônica da Tomada de Ceuta (1450); Crônica de Dom João I (1455); Crônica do Conde Dom Pedro de Meneses (1458), Crônica de Dom Duarte Meneses (1468); Crônica dos feitos da Guiné (1473).
Gonzalo Fernández de Córdoba (1453-1515), militar espanhol conhecido como "O Grande Capitão". Lutou inicialmente contra os mouros, conquistou a vitória de Lucena, onde capturou o rei Boabdil (1483). Após participar da tomada de Granada (1492), foi enviado por Fernando II para a Itália, venceu as batalhas de Seminara, Atella e Cerignola (1503), apoderando-se do reino de Nápoles, que foi anexado ao de Aragão. Nomeado Vice-rei de Nápoles, depois foi chamado de volta por Fernando II e caiu em desgraça em 1507.
Gregório Silvestre (1520-1569), poeta espanhol, "glosador de fama, muito imitado", segundo citado.
Guillén de Castro y Bellvís (1569-1631), dramaturgo espanhol. Miguel de Cervantes elogiava o caráter patético de seu teatro. Autor de Las mocedades del Cid, uma das fontes de inspiração para o Cid de Corneille. Foi também citado como provável autor da Parte II do Dom Quixote, apócrifo, assinado por Alonso Fernández de Avellaneda.
Hernán de Herrera (1534-1597), "um dos poetas espanhóis mais ilustres de seu tempo", igualmente Bartolomeu Carrasco de Figueroa, Herrera também foi cognominado o Divino e no entanto não é mencionado em nenhuma das citações de autores célebres espanhóis aparecidas no Quixote.
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Hernán Pérez de Pulgar (1451-1531), dito “El de las Hazañas”, guerreiro e escritor espanhol, escreveu a história El Gran Capitán Gonzalo de Córdoba (1527).
Horácio [Quintus Horatius Flaccus], (65aC-8aC), poeta latino, filho de escravo alforriado que lhe proporcionou sólidos estudos literários e filosóficos em Roma e Atenas, serviu como tribuno militar no exército de Brutus, derrotado em Filipos em 42. De volta a Roma, conheceu Virgílio que o apresentou a Mecenas, a quem se ligaria por profunda amizade até a morte. Epicurista elegante e artista refinado, legou às letras latinas uma poesia ao mesmo tempo familiar, nacional e religiosa. Suas obras, Sátiras, Epodos, Odes, Epístolas, fizeram com que fosse considerado um modelo de virtudes clássicas de equilíbrio e medida.
Iñigo López de Mendoza Santillana (1398-1458), guerreiro e escritor espanhol, participou das guerras civis durante o reinado de Juán II de Castela e obteve, após a Batalha de Olmedo (1445), o título de marquês de Santillana. Deixou numerosos poemas de amor, nos quais se harmonizam a tradição castelhana, o gosto pela alegoria à moda francesa e a imitação dos italianos. Foi o introdutor do soneto na poesia espanhola.
Jean Bodel (?-1210), poeta da confraria dos saltimbancos de Arras (jograis), divulgou a canção de gesta, pastoral, teatro dramático e criou o gênero poético da renúncia. Obras: La chanson des Saisnes, Auto de São Nicolau.
Jean de Meung ou Meun (1240-1305), escritor francês, autor da Segunda parte do Romance da rosa e de importantes traduções (A arte da cavalaria, de Vegécio; As cartas de Abelardo e Heloísa). Atribui-se também a ele O testamento de Jean de Meung.
Jean Renart (séc. XII-séc. XIII), poeta francês, autor de rimances e contos, direcionou o romance para visão mais realista, sem abandonar, contudo, a
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influência do lirismo cortês da época. Principais obras: L'Escoufle (1202), Guillaume de Dole (1210), Le lai de l'ombre.
Jerônimo Corte Real (1535-1588), poeta português, serviu nas Índias e na África, é autor de três poemas célebres: Sucesso do segundo cerco de Diu (1574), La Austríada (1578), [em castelhano]; Naufrágio e lastimoso sucesso da perdição de Manuel de Sousa de Sepúlveda (1594).
Joanot Martorell (1410-1468), escritor catalão, compôs, por volta de 1460, as três primeiras partes do romance de cavalaria Tirant lo Blanch (1490), completado pelo seu conterrâneo Martí Johan de Galba.
João de Barros (1496-1570), escritor português, tesoureiro e feitor da Casa da Índia, Casa de Ceuta e Casa da Mina, recebeu junto com Aires da Cunha as capitanias hereditárias do Norte e Maranhão, das quais não conseguiram tomar posse. Destacado cronista, escreveu a novela de cavalaria Crônica do imperador Clarimundo donde os reis de Portugal descendem (1522), Ropicapnefma (segundo o autor, expressão grega que significa "Mercadoria espiritual"), Décadas da Ásia (1522), que teve várias edições seguidas. A Crônica do imperador Clarimundo foi a fonte do famoso Palmerim de Inglaterra. Diogo do Couto escreveu a continuação das Décadas da Ásia.
João de Castro (1500-1548), navegador e escritor português, 4º vice-rei da Índia, em 1535 tomou parte na expedição de Carlos V contra Túnis. Fez estudos sobre a distância do Brasil ao Cabo da Boa Esperança, escreveu Roteiro de Lisboa a Goa, esteve com a armada portuguesa em Diu, que resultou no Primeiro roteiro da costa da Índia, de Goa a Diu. Aproveitou uma expedição a Suez para novos estudos, registrados em Roteiro do mar Roxo (1541).
John Barbour (1316-1395), cronista, poeta e teólogo escocês. O herói de seu poema épico The Bruce (1375) é uma encarnação das virtudes da cavalaria européia.
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John Napier (ou Neper) (1150-1617), escritor, inventor e matemático escocês, publicou em 1593 fortíssimo comentário anticatólico sobre o Apocalipse. Sua crença na astrologia e adivinhação deram-lhe a fama de louco e de praticar bruxaria. Imaginou engenhos e máquinas de guerra, jamais construídas, destinados a conter a invasão de Filipe II.
Jorge de Montemayor (1520-1561), poeta português de língua castelhana, sua obra mais famosa é Los siete libros de Diana, foi o pioneiro em mesclar verso e prosa num só trabalho. Escreveu também um Cancionero.
Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1585), comediógrafo e escritor português. Suas obras não obedecem aos preceitos tradicionais: o diálogo adquire função e importância capitais conforme o próprio autor declara na abertura de Eufrósina (1555). Denuncia as ilusões do idealismo erótico feudal e representa forte nacionalismo lingüístico, incorporando locuções populares, ditados, idiotismos, característicos do tempo, misturando-os com cuidadosas descrições de móveis, vestuários, hábitos e usos. Além das peças, entre as quais estão Ulíssipo e Aleugrafia, escreveu ainda um romance de cavalaria, Memorial da segunda Távola Redonda, de intuitos moralizantes e pedagógicos.
Juan Bautista de Bivar (?-?), poeta elogiado por Cervantes em Canto de Calíope, incluído na Galatéia.
Juan de la Cueva (1550-1610), poeta dramático espanhol, um dos precursores do teatro do século de ouro, com El inflamador (1581), que seria a primeira manifestação dramática do personagem Don Juan e com A comédia da morte do rei Dom Sancho (1600).
Juan de Mena (1411-1456), poeta espanhol, cronista real, autor de El laberinto de Fortuna, alegoria poética de cunho barroco e também de As Trezentas.
Juan Mariana de La Reina (1536-1624), historiador e jesuíta espanhol, escreveu uma História Geral da Espanha em 1592 e um tratado: Do rei e da realiza (l599), no qual faz a apologia do tiranocídio.
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Juan Ponce de León (1527-1591), poeta espanhol, considerado das maiores figuras do Renascimento. Agostiniano, foi preso pela Inquisição por comentários ao Cântico dos Cânticos, que traduziu do hebraico. Suas poesias reunidas por Francisco Quevedo são de inspiração mística e neoplatônica. Deixou em prosa A perfeita casada e Os nomes de Cristo.
Juan Ruiz (1285-1350), escritor espanhol de Alcalá de Henares, conhecido como O Arcipreste, autor de longo poema , O libro de buen amor (1330 e 1343), obra singular e autobiográfica, mesclada de lendas, alegorias e sutilezas satíricas sobre a sociedade de sua época.
Leão Hebreu (1465-1535), escritor e filósofo de vertente hebraico-portuguesa, de expressão italiana, divulgador do neoplatonismo, através do averroísmo. Em Dialoghi d'Amore, que teve várias edições no séc. XVI, Leão Hebreu defende o conceito neoplatônico do amor. Sua obra influenciou Cervantes, Vivés, Giordano Bruno e Spinoza.
Lope de Rueda (1500-1568), célebre autor dramático espanhol, iniciador dos autos e peças satíricas, que iriam tornar famoso a Félix Lope de Vega. Lope de Rueda estranhamente não é diretamente citado no Quixote, apesar de ter sido tomado como exemplo e até imitado por Cervantes.
Luigi Pulci (1432-1484), escritor italiano, cuja obra-prima, Il Morgante (l483), é um poema de cavalaria em 28 cantos, muito superior à canções de gesta do séc. XIV que o autor pretendia, em princípio, parodiar.
Luis de Góngora y Argote (1561-1627), poeta, de família nobre, foi dotado de importantes
privilégios
eclesiásticos
que
permitiram
consagrar-se
exclusivamente à literatura. Foi ordenado padre aos 56 anos para se tornar capelão de Filipe III. Renovou profundamente os gêneros clássicos compondo letrillas e romances de cunho popular, bem aceitos pelos círculos literários. Em 1585 sua glória estava suficientemente estabelecida para que Cervantes o citasse na Galatea e posteriormente no Quixote, como um dos grandes poetas
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espanhóis. Pedro de Espinosa publicou 37 peças de Góngora na sua Antologia dos poetas ilustres da Espanha (1605). Em suas obras A fábula de Polifemo y Galatea (1612) e Soledades (1613), poema semi-hermético sobre a vida camponesa, desenvolveu o culteranismo ou gongorismo, estilo ornamentado e metafórico que foi combatido por Félix Lope de Vega. Antes de morrer Góngora viu seus poemas editados sob o título de Obras em versos del Homero español (1627).
Luís Vaz de Camões (1517-1580), o maior poeta português, dramático, épico, lírico, de vida tecida de aventuras e adversidades, batalhas, duelos, brigas, resultando na perda do olho direito. Participou de várias expedições marítimas. Em 1571 obteve da inquisição licença para publicar Os Lusíadas, saído em 1572. Além dessa epopéia, pouca coisa sua foi publicada em vida: três peças líricas, a ode "Aquele único exemplo", a elegia "Depois que Magalhães teve tecida", o soneto "Vós, ninfas de gantética espessura". Artesão do verso, ordenando imagens em antíteses e paradoxos, antecipou-se à explosão barroca. O primeiro poeta português a publicar uma epopéia, cultivou todos os gêneros poéticos. Toda a obra dramática (Anfitriões, Filodemo, Auto d'el rei Seleuco), a poesia lírica, as cartas são de publicação póstuma. A literatura popular brasileira em verso (cordel), imaginativa e despojada, desprezando os séculos que os separam, uniu Camões a Bogage em diversas aventuras, a maioria picaresca, licenciosa, algumas francamente pornográficas. Uma quadra popular brasileira diz: "Este é o Luís de Camões,/ Grande vate português,/ Via mais com um só olho/ Do que nós com todos três!"
Luiz Vélez de Guevara (1570-1644), romancista e dramaturgo espanhol, seguidor de Cervantes, autor do romance satírico El Diablo Cojuelo, no qual cita-se pela primeira vez a figura de Asmodeu, entidade diabólica que, através dos telhados das casas, descobre os segredos íntimos dos habitantes. Asmodeu, conhecido como o demônio dos prazeres, se tornou figura folclórica e proverbial. O romance foi adaptado para o francês por Alain René Lesage, autor também de Gil Blas.
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Lupercio
Leonardo
de
Argensola
(1559-1613),
autor
de
tragédias
renascentistas, entre as quais A Isabela, A Filis e A Alexandra.
Marco Polo (1254-1324), viajante veneziano, cuja celebridade provém da publicação da narrativa de sua viagem pela Ásia, O livro de Marco Polo, também chamado Livro das maravilhas e O milhão. Seu pai Niccolo e seu tio Matteo, negociantes de Veneza, viajaram antes dele até Pequim e retornaram trazendo uma mensagem de Kublai Khan para o papa. Voltaram a Pequim em 1271 com o jovem Marco seguindo a rota da seda. Ficaram por um ano em Cantão, principal cidade da China, depois continuaram a viagem sob a proteção de uma escolta oficial e chegaram a Shangdu, residência do Cã. Enquanto seu tio e pai faziam negócios, Marco cumpriu diversas missões na China a serviço do Cã. Essas viagens pelo interior do reino os levaram até Caragian, permitindo estabelecer seu extraordinário retrato da China, a organização administrativa, artesanato original, informação sobre o papelmoeda, as riquezas. Em 1292 os mercadores deixaram a China pelo mar até Ormuz, depois por terra até Trebizonda, chegando a Veneza em 1295. Foi numa prisão de Gênova, onde ficou entre 1296 e 1296, que Marco Polo ditou suas recordações de viagem ao escritor Rustichello. Em Marco Polo encontrase referência ao Preste João das Índias, cuja legenda chegou até Cervantes e ao Dom Quixote.
Marie de France (1154-1189), poetisa francesa, autora de uma coletânea de poemas intitulada Lais (publicada durante o reinado de Henrique II), inspirados em lendas bretãs.
Mateo Alemán (1547-1614), célebre escritor espanhol, autor do romance picaresco Vida e aventuras de Gusmán de Alfarache (1599, parte I e 1604, Parte II).
Matteo Maria Boiardo (c.1430-1494), poeta italiano cujas composições eruditas, églogas e poemas (Amorum libre tres 1469-1476), antecipam a atmosfera onírica do Orlando innamorato, sua obra-prima.
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Maurice Sceve (1501-1560), poeta francês, autor de Délia, objeto da mais alta virtude (1544), cancioneiro em 449 estrofes de dez versos que celebra Pernett de Guillet e Microcosmos (1562), poema científico sobre a epopéia do conhecimento.
Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592), escritor e pensador francês, uma das maiores figuras do Renascimento, combinou elementos de Epicuro e do ceticismo antigos, deu expressão ao humanismo, expôs um ideal de felicidade, que consiste na tranqüilidade da alma, na prudência, na eliminação da inquietude, no viver de acordo com a natureza mais íntima do eu. Para ele o homem se define pelo que faz e pelo que projeta no futuro, sendo um ser "ondulante". Toda a obra de Montaigne está contida em seus Ensaios (1580), gênero que criou e que se identifica com seu pensamento. Por tudo isso, tem sido lembrado como um precursor do existencialismo moderno.
Nicolas Rapin (1535-1608), magistrado e poeta francês, um dos autores da Sátira Menipéia.
Ovídio (43aC-17dC), Publius Ovidius Naso, brilhante poeta latino autor de coletâneas de poesias eróticas, além de obras de maior envergaduras: As metamorfoses, Os fastos, Os amores, As heróides, Arte de amar, Os remédios do amor, Os cosméticos, Pônticas. Amigo de Virgilio e Horacio, protegido por Augusto, foi o autor favorito da sociedade mundana de Roma. Por razões misteriosas e motivo jamais esclarecido, foi condenado ao exílio em Tomi em 8 dC, onde morreu.
Paio Gomes Charinho (1225-1295), poeta trovadoresco galego (Pontevedra), marinheiro, homem de confiança de Alfonso X, participou da conquista de Sevilla e Jaén. Distinguiu-se como um dos primeiros poetas a cantar o mar.
Pedro da Fonseca (1528-1599), filósofo português, padre jesuíta, representante da Segunda Escolástica Portuguesa, redigiu Comentários aos Livros de Metafísica de Aristóteles, publicados no Curso Coimbricense, espécie de manual para a divulgação do pensamento aristotélico-tomista, utilizado no
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Colégio das Artes de Coimbra. Inspirou Molina na sua conciliação entre a doutrina do livre-arbítrio e a da predestinação.
Petrarca (1304-1374), poeta e humanista italiano, estudou em Pisa, Bolonha, Montpellier, Avignon, onde conheceu Laura de Noves, inspiradora de um amor platônico que durou até o fim da vida, sobrevivendo às viagens, às pesquisas eruditas, à vida na corte e às honrarias. Refletiu sobre a vida em uma confissão sob forma de diálogo em latim (Segredo). Para seus contemporâneos era sobretudo humanista: descobriu e divulgou manuscritos antigos, publicou estudos históricos e filosóficos, Sobre os homens ilustres (1338), A vida solitária (1356), O repouso dos religiosos (1347), o poema épico África (1338) e Cartas (1366). Deve, porém, a sua glória poética ao Canzoniere, publicado em 1470. Modelo de poeta elegíaco, exprimiu sua divisão entre as aspirações ascéticas e as seduções do mundo por meio de múltiplos jogos de antíteses, que constituem os elementos fundamentais do petrarquismo.
Polidoro Vergilio (1470-1555), historiador e humanista italiano, autor de vários livros de erudição tão abundante quanto inútil, segundo seus críticos.
Robert Wace (1100-1175), poeta anglo-normando, protegido de Henrique II, é o autor de Roman de Brut (1155), primeira obra em língua vulgar que relata as aventuras do rei Artur e do Roman Rou ou Gesta dos normandos (1155-1170), que narra a história da Normandia até 1106.
Ruy de Pina (1440-1520), autor de obras portuguesas de história de cavalaria, escritas em castelhano.
Serafino Aquilano (séc. XV), poeta italiano (ver cap. 38 do livro II).
Suetonio [Caius Suetonius Tranquillus], (69-126), historiador latino, protegido de Plínio, o moço, sua obra mais importante é Vida dos Césares, 12 biografias que abrangem a vida desde César até Domiciano.
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Terencio [Publius Terentius Afer] (185-159aC), poeta cômico, dramaturgo latino, freqüentou círculos cultos de Cipião e Emiliano, escreveu as comédias: O eunuco, Autoflagelador, A sogra, Fórmio, Os irmãos. Em suas peças a análise psicológica, o problema moral, sobrepõem-se às peripécias dramáticas e aos exageros cômicos. Foi modelo para os clássicos franceses, sobretudo Molière.
Thomas Nashe (1567-1601), escritor inglês cujo talento satírico foi reconhecido em panfletos e peças de teatro. É o pioneiro romance picaresco com O desventurado ou A vida de Jack Wilton, de 1594.
Torquato Tasso (1544-1595). Escritor italiano de vida errante, cheia de crise e internações por problemas mentais. Autor do poema épico Jerusalém libertada (1575), de Jerusalém conquistada (1593), escreveu o poema de cavalaria Reinaldo (1562), a fábula pastoril Aminta (1573), a tragédia Torrismondo (1587), Discursos do poema heróico (1594), a comédia Intrigas de amor e Cartas, importante documento sobre o espírito do seu tempo e das crises de consciência que o atormentavam. Um dos maiores sonetistas da língua italiana.
Vasco Mousinho de Quevedo e Castelo Branco (séc. XVI-séc. XVII), poeta português, autor de um Discurso sobre a vida e morte de Santa Isabel, rainha de Portugal, e outras várias rimas (1596) e do poema Triunfo do monarca Filipo terceiro na felicíssima entrada de Lisboa (1619), em seis cantos. Sua obra mais importante é Afonso Africano (1611). Vicente Espinel (1550-1624), escritor, poeta e músico espanhol. Modernizou vários instrumentos de cordas e acrescentou uma quinta ao encordoamento da guitarra. Autor do romance de aventuras Marcos de Obregón (1618), no qual Alain René Lesage se inspirou para escrever Gil Blas.
Sir Walter Raleigh (1554-1618), escritor e navegador inglês, favorito de Elizabeth I, foi o fundador do estado da Virgínia nos EUA, que ganhou este nome em homenagem à Rainha Virgem. Participou da expedição contra Cádiz em 1596. É autor de inúmeras obras, poesias, narrativas de viagem, etc. e de
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uma História do mundo inacabada. Jaime I mandou executá-lo em virtude de ter fracassado numa expedição à Guiana em 1618.
William Shakespeare (1564-1616), poeta e o maior dramaturgo inglês. Muitos contemporâneos e parte notável da posteridade, decepcionados pela pobre biografia em relação à exuberância da obra, tentaram negar-lhe a existência, atribuindo autoria a personagens ilustres e cultos. São poucas as informações sobre sua vida e é difícil separá-la das lendas, mas sabe-se que Shakespeare foi autor, ator e sócio do grupo de lorde Chamberlain e fez do teatro um bom negócio. Em 1598 instalou-se no Globe Theatre, escreveu poemas (Vênus e Adônis, 1593; O rapto de Lucrécia, 1594 e 154 Sonetos, 1609). Seus contemporâneos eram uma plêiade de grandes autores (Chapman, Bem Jonson, Marston, Thomas Heywood), mas poucos tiveram a qualidade universal que Shakespeare impôs às suas tragédias e comédias. As primeiras obras de Shakespeare são influenciadas pelo estilo renascentista, mas as posteriores, como a tragicomédia dramática Antony and Cleopatra,
já
representam o espírito barroco. A obra dramática de Shakespeare funde a visão poética refinada a um forte caráter popular no qual assassinos, violações, incestos, traições, são os ingredientes mais leves para divertir o público. O mestre da dramaturgia concluiu sua obra com peças de caráter romanesco (Cimbelina, 1609; Conto de inverno, 1611), onde Calibã, encarnação do gênio da poesia material e Próspero, mágico sem ilusões ("Nós somos do estofo de que os sonhos são feitos"), dão um balanço do jogo extraordinário de palavras e coisas: toda a feitiçaria do verbo para provar a nulidade da linguagem como instrumento de domínio do mundo, como meio de comunicação. O teatro inglês deu mostras durante mais de três quartos de século, (desde Gorboduc, de Sackville e Norton, em 1562, ao fechamento dos teatros pelo parlamento puritano em 1642), de grande vitalidade. Sucesso comercial e popular, o teatro elisabetano foi fruto de uma multiplicidade de autores: George Peele, Robert Greene, George Chapman, Christopher Marlowe, Thomas Dekker, Francis Beaumont, John Fletcher, John Webster, John Ford e, principalmente, William Shakespeare.
Apesar
da
diversidade
é
possível
delinear
algumas
características do teatro inglês do período: estilização do cenário, interlocução com a platéia, ligação entre o trágico e o cômico, predileção pela violência, o
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tema da vingança da honra, angústia metafísica, apetite arrebatado pelo prazer e conhecimento, misto de truculência verbal e refinamento poético. O teatro inglês acabou por disseminar o gosto pelo palco por todo mundo, influenciando autores, estimulando espectadores a participar da trama, tornando-os autor e personagem.
Wolfram von Eschenbach (1170-1220), poeta alemão, autor de grandes epopéias de caráter cavaleiresco, entre as quais Parsifal, onde aborda a lenda do Graal, Willehalm, que conta a luta de Guilherme de Aquitânia contra os sarracenos e Titurel, do qual restam apenas 170 estrofes, que evoca os amores do cavaleiro Scionatulander e da bela dama Sigune.
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OBRAS, ESCOLAS, INFLUÊNCIAS, MESMO NÃO IDENTIFICADAS OU PÓSTUMAS
A Caroléia, de Jerónimo Sempere, Valência 1560
A Caroléia, de Juan Ochoa (?)
A Celestina (1499), de Fernando de Rojas, A Celestina ou Tragicomédia de Calixto e Melibéia, tem como tema a história de um jovem apaixonado, uma moça ignorante, um criador venal e uma alcoviteira (Celestina), que compõem os personagens da obra, um dos primeiros grandes textos do teatro espanhol. Temas recorrentes e usuais nos vários cuentos inseridos em Dom Quixote por Cervantes...
A demanda do Santo Graal, Lisboa (1515), novela anônima portuguesa de cavalaria, de temática arturiana, cristã e das aventuras dos Cavaleiros da Távola Redonda (o manuscrito encontra-se em Viena). Narra a tentativa de recuperação do vaso no qual, segundo a lenda, José de Arimatéia conservara o sangue de Jesus Cristo. Com exceção de algumas tentativas parcialmente realizadas, só em 1944 foi publicada no Rio de Janeiro a primeira versão em português, editada por Augusto Magne. Esta obra foi a fonte de inspiração na Literatura de Cordel, vários romances, peças teatrais, filmes, adaptações que ambientaram o tema no cenário nordestino.
A destruição de Numancia, de Miguel de Cervantes Saavedra, Numancia, cidade da antiga Espanha, que desafiou durante 14 anos o poder de Roma, tomada e destruída em 133 aC pelo imperador romano Cipião Emiliano (206254aC), que já havia destruído Cartago em 146 aC. Ali Cipião morreu assassinado durante a discussão de leis agrárias propostas pelos Gracchos, das quais discordava. A primeira vítima da reforma agrária... Constam também: Epístola a Mateo Vásquez (?); O acordo de Argel (1602); Os banheiros de Argel (?); Viagem ao Parnaso (?)
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A divina comédia (1306), epopéia cristã de Dante Alighieri (1265-1321), compõe-se de 100 cantos divididos em prólogo e três partes de 33 cantos (Inferno, Purgatório e Paraíso), cada canto compreende 130 a 140 versos, dispostos em terza rima. Contendo grande parte da ciência da Idade Média, Dante a situa durante a Semana Santa de 1300. Conduzido por Virgílio, o poeta chega ao mundo do além e atravessa os nove círculos do Inferno. Depois empreende a escalada da montanha do Purgatório, no alto da qual encontra Beatriz, que o leva ao Paraíso. Poema sublime, grandioso, semeado de episódios graciosos e terríveis, admirável como estilo, como versificação, criador da poesia e da própria linguagem italiana do Século XIV. A obra combina o realismo mais cru com o mais místico lirismo, forma a síntese espiritual e poética da Idade Média.
A história do Imperador Carlos Magno e os doze pares de França, Alcalá de Henares 1589 Novela de cavalaria que narra as façanhas do imperador Carlos Magno (Carlos I, o Grande), muito popular em toda a península ibérica, trasladada para toda a Europa e América, chegou ao Brasil em 1728 em edição portuguesa, traduzida do espanhol por Jerônimo Moreira de Carvalho. Aderente: A peregrinação de Carlos Magno - poema anônimo do início do Século XII, épico à maneira das canções de gesta. O enredo do livro inspirou sobretudo os cantadores nordestinos e são muitos os folhetos de cordel que tratam do tema. O original francês Conquêtes du Gran Charlemagne é de 1485.
A Imperatriz Porcina, romance em versos muito popular de Baltazar Díaz, poeta da escola vicentina, escrito na segunda metade do séc. XVI, vem sendo reeditado até os nossos dias. De larga difusão em Portugal e no Brasil, ainda é representado em forma de auto na região do Douro (Duero) com o nome de A Santa Imperatriz. A origem da história é oriental, sendo divulgada da Europa desde o séc. XI ou XII, quando circulou em redação latina e nos manuscritos dedicados aos milagres da Virgem Maria. Personagem inspiradora e muito cantada nos folhetos de cordel.
A ingratidão vingada, A Arcádia, A Formosura de Angélica, Auto das Cortes da Morte (auto de caráter sacramental), obras teatrais de Félix Lope de Vega,
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escritor prolífico que deixou cerca de 1500 peças. Em virtude de seu envolvimento com a Inquisição, teve muitos adversários literários, entre os quais Miguel de Cervantes e Luís de Góngora. Lançou a comédia de cunho nacional com elementos cômicos, trágicos, eruditos e populares. Deixou também extensa obra lírica.
A inimiga favorável, do Cônego Francisco Agostinho Tárrega (?).
A morte de Artur (1485), obra de Thomas Malory, a primeira escrita em inglês moderno, da lenda do Rei Artur. Inspirada em romances arturianos anteriores, principalmente franceses, conta as aventuras dos cavaleiros da Távola Redonda, desde o nascimento de Artur.
A Vida de Diogo Garcia e Paredes, Diogo Garcia y Paredes (1466-1530), guerreiro espanhol, muito popular e uma das legendas militares da Espanha
Acerca da matéria médica, de Padacius Dioscorides Anazarbeo, por A. Laguna
Amadis de Gaula (1508), célebre romance de cavalaria de Garci Rodríguez de Montalvo, a partir do original português de Vasco de Lobeira (séc. XIII), [foi traduzido para o francês por Nicolas d'Herberay des Essarts, 1540]. Romance iniciador da
série de mais de 24 livros, que montou toda uma família
cavaleiresca: Perión de Gaula, pai de Amadis, Esplandián, filho de Amadis e Lisuarte de Grécia, filho de Esplandián e Amadis de Grécia, neto de Amadis. Montalvo também publicou a continuação do Amadis: Las Sergas de Esplandião (1510). O herói Amadis, cognominado "O Amante Taciturno" é o protótipo do Cavaleiro andante, fiel à amada, aos preceitos da cavalaria e Cervantes considerava-o a obra-prima do gênero, em conseqüência, Dom Quixote pode ser considerado dele sátira, espelho ou caricatura.
Amadis de Grécia (1530), de Feliciano de Silva, autor de romances de cavalaria, que narra as aventuras do presumido filho de Esplandião, (neto de Amadis de Gaula), el de la Muerte, cognominado O Cavaleiro da espada
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flamejante, em oposição à Espada Verde do famoso avô, o Amadis por excelência.
Aminta, novela pastoril de Torquato Tasso (1544-1595). Compôs o poema épico Jerusalém libertada (1575), a cuja publicação se opôs até 1581, o que daria origem à segunda versão da obra Jerusalém conquistada (1593). Escreveu o poema de cavalaria Reinaldo (1562), obteve sucesso com a fábula Aminta (1573), a tragédia Torrismondo (1587), Discursos do poema heróico (1594), a comédia Intrigas de amor, além de Cartas, importante documento sobre o espírito do tempo e as crises de consciência que o atormentavam. Um dos maiores sonetistas da língua italiana.
Arcádia, romance pastoril em prosa e verso (1504), de Iacopo Sannazaro, (1455-1530), escritor e humanista italiano, sua obra-prima. Arcádia, mescla de prosa e verso, teve considerável influência sobre a formação do romance pastoril e da literatura barroca, dando origem ao Arcadismo. Arcádia, região do Peloponeso (Grécia), aonde os clássicos localizaram o mito literário da perfeição da vida pastoril, bucólica. Simboliza a morada da felicidade, mas nem por isso a morte a poupa.
As lágrimas de Angélica, de Luis Barahona de Soto, Granada 1586. Poeta andaluz famoso. Segundo Cervantes, "seu autor foi um dos famosos poetas do mundo, não só de Espanha, e foi felicíssimo na tradução de algumas fábulas de Ovídio".
As lágrimas de São Pedro (1585), poema religioso do poeta napolitano Luigi Tansillo (1510-1568)
As quinze alegrias do casamento (1450), sátira anônima, une aos temas antifeministas tradicionais dos clérigos e das fábulas satíricas (fabliaux), uma observação realista da vida burguesa da época.
Astréia, de Honoré d' Urfé, escritor francês (1567-1625), obtendo a confiança de Henrique IV empreendeu, apesar da vida aventurosa, a composição deste
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romance em que misturou prosa e verso, cuja influência foi considerável. Escreveu também o poema pastoral Sireine de messire, 1604 e Epístolas Morais (?)
Austríada, de Juan Rufo (jurado de Córdoba), Madri 1584. Enquanto nada se sabe sobre Juan Rufo, foi constatado que La Austríada, escrita em espanhol, é de autoria do poeta português Jerônimo Corte Real, autor também de O segundo cerco de Diu, Naufrágio de Sepúlveda, "poemas de apreciável merecimento, descrições vigorosas". Militou na África e na Índia.
Canção de Roland (Chanson de Roland), antiga gesta e epopéia nacional francesa de 4.002 versos decassílabos do fim do séc. XI, atribuída a Théroulde (Turoldus), trovador normando do Século XII, que assina o último verso do poema. É composta de duas partes: a traição de Ganelon, a batalha e a morte de Roland, seguida do confronto de Carlos Magno com o emir Baligant e o castigo do traidor. O poema exalta a fidelidade ao Rei, o sentimento religioso e patriótico, a glória dos heróis. Modelo de Cavaleiro cristão, herói de outras canções de gesta evocando o heroísmo da Batalha de Roncesvalles, imortalizado por Boiardo, Ariosto e Berni, paladino famoso, um dos doze pares de França, Roland era conde das marcas da Bretanha e, segundo a lenda, sobrinho de Carlos Magno. Morreu na Batalha de Roncesvalles, protegendo a retirada do exército carlista, no dia 15 de agosto de 778.
Cancioneiro de López de Maldonado, Madri 1586 - Aderentes: Cancioneiro da Ajuda, com 310 cantigas de amor, compostas por poetas anteriores a Dom Dinis, espólio dos jesuítas, compilado em fins do Séc. XIII e início do Séc. XIV. Cancioneiro de Évora, coleção de poemas escritos em espanhol e português, compilada em fins do Séc. XVI. Cancioneiro de Luís Franco Correia, iniciado na Índia (1557), terminado em Lisboa (1589), com composições de poetas quinhentistas. Cancioneiro Geral, coleção bilingüe, publicada em 1516 por Garcia de Resende, à semelhança da que foi publicada com o mesmo nome em 1511 na Espanha. Cancionero de Upsala, "villancicos de diversos autores, a dos y a tres y a cuatro y a cinco bozes, agora nuevamente corrigidos. Ay más ocho tonos de canto llano, y ocho tonos de canto de órgano para que puedan
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aprovechar los que a cantar comezaren. Venettis, Apud Hieronymum Scotum, MDLVI.", cujo original encontra-se na Real Universidade de Upsala, Suécia. Cancionero de Segóvia, coletânea de cantos litúrgicos. Cancionero, coletânea de poemas do espanhol Juan del Encina.
Cantar de Mio Cid (Poema do Cid), poema longo (3.750 versos), anônimo, escrito cerca do ano de 1140, narra a história de Rodrigo Díaz de Vivar, Cavaleiro célebre, protótipo lendário dos paladinos castelhanos, cuja verdadeira biografia difere muito da que lhe teceu a imaginação do povo e dos poetas. A serviço dos mouros, conquistou Valência, capital do reino árabe (taifa de Valência), onde reinou de 1094 até 1099, quando morreu. De qualquer modo, El Cid foi
guerreiro e sua valentia se tornou proverbial. O lendário
popular conta que, mesmo estando morto, foi colocado empalado sobre um cavalo (para mantê-lo em posição ereta) e assim pôde ajudar seu exército a derrotar o inimigo, que fugiam apavorados ao ver vivo aquele que julgavam morto, criando a fama de imortal. O Poema do Cid é um dos monumentos mais antigos da literatura espanhola, início da literatura castelhana. Aderentes: O Cid, tragicomédia de Pierre Corneille representada em 1637, de temática inspirada em Las mocedades del Cid, de Guillén de Castro.
Carlos Famoso (1566), poema de autoria de Luis Zapata, talvez inspirado na vida do Imperador Germânico Carlos V, príncipe dos Países Baixos, Rei da Espanha, Rei da Sicília, neto do Imperador Maximiliano I e de Maria de Borgonha, do também Rei da Espanha Fernando II e de Isabel I, a Católica. Luís Zapata escreveu também Memorial histórico espanhol
Carlos Magno e os doze pares de França (1485), obra literária, que gerou incontáveis filhotes, sobre os feitos guerreiros e conquistadores do imperador Carlos Magno, muito popular em Portugal e no Brasil, inspirou série de gestas e obras de cavalaria na Europa. No Brasil influenciou os poetas de Literatura de Cordel e cantadores nordestinos, após a divulgação, em 1728, da edição portuguesa de Jerônimo Moreira de Carvalho, traduzida do original francês Conquêtes du Grand Charlemagne, de 1485.
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Comentário da guerra da Alemanha (1548), de Luis de Ávila, obra histórica em prosa, deste que parece ser o historiador e estadista espanhol cuja notícia chegou até nós (séc. XVI).
Coplas de Jorge Manrique (?-1479), famoso poeta espanhol, cujas importantes Endechas foram traduzidas por Camões e mais tarde transpostas ao inglês por Longfellow.
Crônica de Dom Afonso Henrique, de Fernão Lopes? (1380-1458), obra de feição arturiana, baseada nas tradições épicas ibéricas.
Crônica de Lepolemo, Valência 1521. Aderentes: Crônica breve do Arquivo Nacional (Portugal 1429), Crônica da conquista do Algarve, de Paio Correia (1419); Crônica de Portugal de 1419, relato histórico dos sete primeiros reis de Portugal; Crônica do Imperador Clarimundo, romance português de cavalaria escrito por João de Barros (1522), Crônica do príncipe Dom João (1567) e Crônica do Rei Dom Manuel (l566/1567), obras históricas de Damião de Góis; Crônica Geral de Espanha, a mais antiga compilação de natureza histórica em língua portuguesa (1344); Crônicas breves de Santa Cruz de Coimbra (?); Crônicas de Froissart, que relatam os fatos acontecidos na Europa entre 1325 a 1400; Grandes Crônicas de França, história dos reis de França das origens ao sim do Séc. XV; Crônica do Grão-Capitão Gonçalo Hernández de Córdova e Aguilar, de Florismarte de Hircánia, Alcalá de Henares, 1584
Crônicas Diversas: Crônica de Dom Afonso Henrique, de Fernão Lopes (13801458), obra de feição arturiana, baseada nas tradições épicas ibéricas. * Crônica breve do Arquivo Nacional (1429). * Crônica da conquista do Algarve, de Paio Correia (1419). * Crônica de Lepolemo, Valência (1521). * Crônica de Portugal de 1419, relato histórico dos sete primeiros reis de Portugal. * Crônica do Grão-Capitão Gonçalo Hernández de Córdova e Aguilar, de Florismarte de Hircánia (1584). * Crônica do Imperador Clarimundo, romance português de cavalaria escrito por João de Barros, (1522). * Crônica do mui valente e esforçado Cavaleiro Platir filho do Imperador Primaleão, anônimo, Valladolid (1533). * Crônica do príncipe Dom João (1567), de Damião de Góis. * Crônica
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do Rei Dom Manuel (l566/1567), obra histórica de Damião de Góis. * Crônica dos nobres Cavaleiros Tablante de Ricamonte e Jofre (1513), livro de cavalarias traduzido da novela provençal intitulada Jaufré (séc. XII). * Crônica Geral de Espanha, a mais antiga compilação de natureza histórica em língua portuguesa (1344). * Crônicas breves de Santa Cruz de Coimbra (?). * Crônicas de Froissart, que relatam os fatos acontecidos na Europa entre 1325 e 1400. * Grandes Crônicas de França, história dos reis de França das origens ao sim do Séc. XV.
Decamerão, de Giovanni Boccaccio (1313-1375), escritor italiano, a maior figura do Renascimento (A caça de Diana (1334), Os trabalhos de amor (1336), O filóstrato (1338), Teseida (1339), poema épico em linguagem vulgar. Sua obra principal é Decamerão (1348), contos no qual exalta a beleza e o amor, tornando-se o primeiro grande realista da literatura. Amigo de Petrarca, foi o primeiro escritor italiano a ler Platão e Homero no original, escreveu ainda: Fiammeta (1343), A visão amorosa (1342), A ninfa de Fiésole (1344), Vida de Dante e comentário sobre A divina comédia, Sobre a vida e os hábitos de Francesco Petrarca, Mulheres célebres (1362).
Desengano de zelos, de Bartolomeu López de Enciso, Madri 1586.
Diálogos de amor, de Leão Hebreu, escritor judeu de língua italiana, escreveu Dialoghi d'Amore, editado várias vezes no séc. XVI, onde defende o conceito neoplatônico do amor. Suas obras tiveram grande repercussão entre os intelectuais da época e influenciaram não só Cervantes, como também Vivés, Giordano Bruno e Spinoza.
Diana enamorada (1564), novela pastoril, de Gaspar Gil Polo. Mit. Nome latino de Ártemis, uma das 12 divindades do Olimpo, filha de Júpiter e Latona, irmã gêmea de Apolo, nasceu na ilha de Delos, vivia na Arcádia e dedicava-se à caça, acompanhada pelas ninfas. Sempre casta e virgem, Diana exigia o mesmo de suas acompanhantes.
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Diana A segunda (Alcalá de Henares 1564), assim chamada por ser do médico salmantino Alonso Pérez. Uma tentativa pouco considerada de continuação de A Diana, obra de Jorge de Montemayor.
Ditischa Catonis (Livro de Aforismos), de Dionísio Catão (?)
El monserrate (Madri 1588), de Cristóbal de Virués tornou-se conhecido no teatro pelas tragédias cheias de horror. Porém, sua obra maior é mesmo a epopéia religiosa El Monserrate, escrita em 1587.
Eneida (29aC), de Virgílio (79aC-19aC), tradução espanhola de Gregório Hernández de Velasco 1559. Publius Vergilius Maro, poeta latino de família modesta, estudou em Cremona, Milão e Roma, freqüentou o círculo literário de Asínio Pólio. Escreveu Bucólicas, Geórgicas e a vasta epopéia nacional Eneida, considerada a mais importante obra da latinidade. A celebridade do poeta não parou de crescer, originando o ciclo de lendas em torno de sua memória.
Epístola aos pisões, de Horácio (65aC-8aC), poeta latino, filho de escravo, conheceu Virgílio que o apresentou a Mecenas, a quem se ligaria por profunda amizade até a morte. Epicurista elegante e artista refinado, legou às letras latinas uma poesia ao mesmo tempo familiar, nacional e religiosa (Sátiras, Epodos, Odes, Epístolas), que fizeram com que fosse considerado pelos humanistas como modelo de virtude clássica, de equilíbrio e medida.
Epístolas familiares (1539-1541), de frei Antonio de Guevara. Cervantes faz alusão irônica a esta obra, cheia de falsa erudição, baseando-se na autoridade que o bispo teria em matéria de rameiras, pois numa das cartas ele fala de Lamia, Laida e Flora, três célebres prostitutas da antigüidade. Guevara escreveu também Relógio dos príncipes (1529), Desprezo da Corte (1539).
Espelho de Cavalarias (1586), coletânea de traduções de Orlando enamorado por Pedro de Reynosa, em três partes: a primeira trata de Dom Roldão e Dom Reinaldo (Sevilha 1533), a segunda dos amores de Roldão com Angélica, a
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Formosa (Sevilha 1536), a terceira trata dos feitos do infante Dom Roserim e o fim que teve com a princesa Florimena (Sevilha 1550). Toda a obra é adaptada e inspirada na obra de Matteo Boiardo, pois o paladino Reinaldos de Montalbán é, depois de Roland, o mais famoso personagem dos poemas cavaleirescos de Boiardo e de Ludovico Ariosto. Parte I: Dom Roland e Dom Reinaldo; Parte II: Os amores de Roland com Angélica, a Formosa; Parte III: O Infante Dom Roserim e o fim que teve com a Princesa Florimena.
Felixmarte de Hircanía (1556), de Melchor de Ortega, cavaleiro de Ubeda, também protagonista, nasceu numa montanha, ajudado por uma mulher selvagem. Entre suas sonhadas aventuras, conta haver posto em fuga um exército de 1,6 milhões de combatentes. Trata-se de mais uma saga heróica de cavalaria, de caráter disparatado, das muitas que inundaram a Europa medieval. Hircânia é o nome antigo da região do Irã, a sudeste do mar Cáspio, entre a Margiana e a Média. O romance também é citado como Florismarte de Hircânia.
Fierabrás, canção de gesta do séc. XII, celebra a reconquista das relíquias que o gigante sarraceno Fierabrás havia se apoderado por ocasião da conquista de Roma. Personagem das lendas carolíngias, dono de um bálsamo milagroso, "originado da essência usada para embalsamar Jesus Cristo", que tornava invencível (portanto imortal), quem o possuía. Chegou até nós como Ferrabrás, sinônimo de valentão, fanfarrão, indivíduo violento, abrutalhado e correu o nordeste na cabeça de cantadores, autores de poesia de cordel, originando inúmeros romances e folhetos.
Floresta geral, de Melchior de Santa Cruz (?)
Florisel de Niqueia, de Feliciano de Silva, conta a história de Florarlán de Tracia, denominado "O Cavaleiro das Donzelas", o autor escreveu também as novelas de cavalaria Lisuarte de Grécia e Dom Rogel de Grécia, segunda e terceira partes de Florisel de Niqueia.
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Guerras civis de Granada (1595/1604), de Ginés Pérez de Hita (1544-1619). O reino de Granada, último bastião muçulmano da Espanha, foi tomado pelos reis católicos em 1492, final da Reconquista. Os habitantes muçulmanos (mouriscos) rebelaram-se e só foram derrotados após dura guerra comandada por Don Juan da Áustria (1568-1571). A Revolta dos Mouros, verdadeira guerra civil, redundou em morticínio e expulsão de todos os mouros do país, consolidada em 1609, gerou irreparáveis perdas econômicas, artísticas, humanas e sociais para a Espanha e Portugal.
História da linda Magalona, filha do Rei de Nápoles, e de Pierres, filho do Conde de Provença, Burgos 1519 Princesa Magalona, novela (em provençal e latim) medieval
de cavalaria, de autoria do cônego Bernardo de Treviez
(primeiro quartel do Século XIV), com versões em francês, italiano, alemão, flamengo, dinamarquês, polonês, grego, espanhol, português, etc.
História das façanhas e feitos do invencível Cavaleiro Bernardo del Carpio, de Agustín Alonso, Toledo 1585. Bernardo del Carpio é o lendário herói basco, personagem central do ciclo do Romanceiro e de epopéias de Cristóbal Suárez de Figueroa e de Bernardo de Balbuena, inspirou também Félix Lope de Vega. Ao vasconço Bernardo del Carpio se atribui a vitória na batalha de Roncesvalles, região do país Basco no vale dos Pirineus, onde em 778 a retaguarda do exército de Carlos Magno foi dizimada, mortos os doze pares de França, entre eles o paladino Roland.
História de Clamades e Clarmonde, livro de cavalaria de 1562
História de Henrique Fi de Oliva, outro romance de cavalaria, editado em Sevilha, 1498
História do famoso Cavaleiro Tirante o Branco, de Johanot Mastorell e Martí Johan de Galba, Valência 1490, Barcelona 1497, Valladolid 1511. Tirant lo Blanch, romance de cavalaria de autores catalãos, em que aventuras fantásticas se alternam com cenas cruas, realistas e obscenas. "faço de conta
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que nele achei um tesouro de contentamento e mina para passatempos", diz Cervantes no Quixote, "em razão de estilo não há no mundo livro melhor".
História dos amores de Clareo e Floriséia (1552), romance pastoril, de J. de Contreras
História Natural, de Plínio, o velho, recolhidas e divulgadas por Pedro Mexía e Silva, de vária lección (1540).
Índice Expurgatório, do Cardeal Zapata (1632), censor espanhol que mandou expurgar algumas palavras do Dom Quixote (Capítulo XXXVI (Parte II): "y advierta Sancho, las obras de caridad que se hacen tibia y flojamente, no tienen mérito ni valen nada". A censura só acabou na edição de 1863, quando o aforismo voltou a aparecer.
Jardim de flores (1570), de Antônio de Torquemada (Salamanca 1570), autor também do livro de cavalarias Dom Olivante de Laura (Barcelona 1564). (Aderente: Tomás de Torquemada (1420-1498), inquisidor-geral para toda a península ibérica, perseguidor fanático dos proclamados hereges e dos judeus que foram expulsos da Espanha. Famoso por sua crueldade, que ainda hoje deve estar no Inferno pagando seus crimes).
Jerusalém libertada (1581), poema épico de Torquato Tasso, em 20 cantos, com 15.000 versos distribuídos em oitavas, conta a tomada de Jerusalém pelos Cavaleiros cristãos da I Cruzada (1099). Ao relato da I Cruzada mesclam-se episódios romanescos como a paixão de Hermínia por Tancredo e a morte de Clorinda. Tasso realizou nessa obra a fusão de uma epopéia nos moldes de Virgílio com a matéria típica das canções de gesta e da poesia cortês da Idade Média.
La Aracaunia, poema épico de Alonso de Ercilla y Zúñiga, em 32 cantos, sobre a descoberta da América (Madri 1569-1589). O tema versa também sobre a expedição ordenada por Filipe II para combater e dizimar os araucanos. A Araucânia é uma região central chilena entre os Andes e o Pacífico (capital
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Temuco), terra dos araucanos, genérico dado pelos espanhóis no séc. XVI aos índios do planalto central, que vivem nas reservas entre Copiapó e Chiloé, a cuja família lingüística compreende dialetos mapuches e influenciaram muito o castelhano falado no Chile.
Labirinto da sorte, de Juan de Mena, poema alegórico do "grande poeta cordobês e notável poeta hispânico", autor também de As Trezentas.
Lazarillo de Tormes (1554), a primeira novela picaresca espanhola. A ela seguiram-se Guzmán de Alfarache (1599), de Mateo Alemán, Buscón (?), de Francisco Quevedo e muitas outras. Por longo tempo Lazarillo foi considerada anônima, porém hoje sabe-se que a autoria é do literato, guerreiro e diplomata Diego Hurtado de Mendoza. Os intelectuais espanhóis tiveram interesse em mantê-la anônima, por ser picaresca, escrita por quem... e em plena Inquisição! Do mesmo modo procedem com a Parte II apócrifa do Quixote.
Livro de Cavalarias, (?), Toledo 1513
Livro do famoso Cavaleiro Palmerim de Oliva, Salamanca 1511, novela espanhola de cavalaria, de autor anônimo, que inspirou, a partir de 1586, romances análogos na literatura européia, com reflexos em todo o mundo.
Livro do mui esforçado Cavaleiro Palmerim de Inglaterra, Toledo 1547. Romance de cavalaria de autoria do português Francisco de Morais (1544?). No entanto, diz Cervantes no Quixote: "Este livro, senhor compadre, tem autoridade por duas coisas: primeiro, porque é de si muito bom; segundo, por ter sido seu autor um discreto Rei de Portugal". O livro é da época em que reinou Dom João III (1521-1557). Inspirado na tradição do Amadis de Gaula, tem
antecedente espanhol no Palmerim de Oliva (1511). Ao Palmerim de
Inglaterra (1547), em duas partes, seguiram-se a terceira e quarta partes, em 1587, nas quais "se tratam as grandes cavalarias de seu filho, o príncipe Dom Duardos II", de autoria de Diogo Fernandes. A quinta e a sexta partes, publicadas em 1602, dizem respeito ao "príncipe Dom Clarisol de Bretanha,
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filho de Dom Duardos". Seu autor é Baltasar Gonçalves Lobato, que utiliza amplamente elementos de cultura clássica e de mitologia.
Livro primeiro do valoroso e invencível Príncipe Dom Belianis de Grécia, Primeira, segunda, terceira e quarta partes (1547-1579), de Jerónimo Fernández. Nesta série de livros de cavalaria os exageros são o destaque: já no dois primeiros volumes o herói recebe 101 feridas graves! Em seguida aparece um luxuoso castelo, tão grande que nele cabem dois mil Cavaleiros com montaria e tudo. O castelo é um veículo que se move sobre rodas de prata, puxado por elefantes! Outras maravilhas são ali descritas.
Loa das cortes da morte, de Mira de Amescua (?).
Luz da alma cristã contra a ceguidade e ignorância no que pertence à fé e lei de Deus e da Igreja, de Frei Felipe de Menezes, Valladolid 1544, dominicano, obra de tendência erasmista.
Lusitânia transformada (1607), de Fernão Álvares do Oriente, escritor e poeta português, maneirista, muito influenciado por Petrarca, Camões e Sannazzaro, cuja Arcádia inspirou esta coletânea de novelas pastoris.
Memorial das proezas da segunda Távola Redonda, de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1585), português, autor de obras em que o diálogo tem função e importância capitais, conforme declarou em Eufrósina (1555). Além das peças Ulíssipo, Aleugrafia e outras, escreveu o romance de cavalaria Memorial da segunda távola redonda.
Metamorfoses ou O Ovídio Espanhol, provável citação a As Metamorfoses, poema mitológico de Ovídio (43aC-16), em 15 livros. Esta obra, dos momentos mais brilhantes da poesia latina, encerra todas as lendas da mitologia e dos tempos fabulosos
Mort Arthur (1230), romance de cavalaria anônimo francês, o último do ciclo Lancelot-Graal. O Rei Artur é mortalmente ferido por Mordred, raptor de
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Crunevere e filho incestuoso do Rei. Sua espada, jogada num lago, é agarrada por uma mão misteriosamente saída da água.
Naufrágio e lastimoso sucesso da perdição de Manuel de Souza Sepúlveda (1594), poema de Jerônimo Corte Real, cuja concepção obedece a um sentimento de tragédia coletiva, que abrange de modo muito específico a aristocracia nobiliária.
Ninfas de Henares, de B. González de Bobadilla (1587).
Novelas exemplares, de Miguel de Cervantes, Novela de Riconete e Cortadillo (1604), uma das Novelas Exemplares do próprio Cervantes, que faz autopromoção dentro do Quixote.
O Cavaleiro da carreta (séc. XII), de Chrétien de Troyes, novela medieval, uma das muitas lendas artúricas, na qual Lancelote é transportado numa carroça conduzida por um anão, estratagema que Cervantes usou em Dom Quixote, II.
O Cavaleiro da Cruz, Toledo 1526, romance de cavalaria, consta de duas partes: a primeira é Crônica de Lepolemo, chamado Cavaleiro da Cruz, filho do imperador de Alemanha, "composta em árabe por Xarton e trasladada ao castelhano por Alonso de Salazar" (Valência, 1521). A segunda foi editada em Toledo, 1526.
O Cavaleiro do Febo (1555), de Ortúñez de Calahorra
O Cavaleiro do Febo, Lirgandeu (?)* (Mit.) Febo ou Apolo, deus grego e romano dos oráculos, da medicina, da poesia, das artes, dos rebanhos, do dia e do sol. Nesta última qualidade também chamado Febo. Era filho de Júpiter e de Latona, irmão gêmeo de Diana. Nascera na ilha de Delos. Celebravam-se em sua honra os Jogos Apolinares)
O livro dos trajos (?), pseudo livro citado por Cervantes como obra que para nada serve, literatura inútil.
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O mercador amante, novela picaresca de Gaspar de Aguiar, Valência (?)
O passageiro, de Cristóvão Suárez de Figueroa (1571-1644)
O pastor da Ibéria, de Bernardo de la Vega, Sevilha 1591
O pastor de Fílida, de Luís Galvez de Montalvo, Madri 1582
O pastor fido (Il pastor fido) (1590), de Giovanni Batista Guarini, escritor italiano, escreveu poesias, comédias e a célebre tragicomédia pastoril Il pastor fido, prenúncio da literatura barroca.
O que realmente ocorreu na famosa batalha de Roncesvalles, com a morte dos doze pares de França, de Francisco Garrido de Villena, Valência 1555. Roncesvalles é a vila da Espanha na Navarra, vale dos Pirineus, onde em 15 de agosto de 778, na passagem do desfiladeiro, a retaguarda de Carlos Magno foi surpreendida e destruída pelos Vasconços (guerreiros montanheses bascos). Entre as vítimas encontrava-se o paladino Roland, cuja história se transformou em lenda na Canção de Roland.
Obras de Garcilaso com anotações (1580), de Fernando de Herrera. Livro do qual Cervantes retirou algumas frases feitas para montar a dedicatória "Ao Duque de Béjar", em Quixote Tomo I.
Odisséia, poema épico grego de 24 cantos atribuído a Homero. Ligando-se, como a Ilíada, ao ciclo da guerra de Tróia, a Odisséia é consagrada ao retorno de Ulisses, que durante dez anos afrontou perigos em terra e mar, antes de voltar ao seu reino de Ítaca. O poema compõe-se de três partes: 1) "Telemaquia" (cantos I-IV), em que Telêmaco parte à procura do pai; 2) "Volta de Ulisses" (cantos V-XIII), em que Ulisses, recolhido após um naufrágio por Alcino, rei dos feácios, relata suas peregrinações que o levaram até os Lotofagos, os Ciclopes, a feiticeira Circe, os Infernos, o mar das Sereias e, por fim, à ninfa Calipso; 3) "Vingança de Ulisses" (cantos XIV-XXIV), em que
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Ulisses chega a Ítaca disfarçado de mendigo, entra no seu palácio, invadido pelos pretendentes à mão de sua esposa Penélope; ela porém declara que só se casará com aquele que conseguir manejar o arco de Ulisses; então, ele se dá a conhecer e massacra os pretendentes. A obra exalta o espírito de aventura dos gregos e a vitória da inteligência sobre a força bruta. Segundo Heródoto, Homero viveu no Século IX aC, de origem jônica, que era cego e percorria o mundo mediterrâneo recitando poemas. A poesia homérica ficou popular e constituiu exemplo para todos os épicos. A poesia épica ocidental é fortemente influenciada pela Ilíada e Odisséia: desde a Eneida, de Virgílio e Os Lusíadas, de Camões até encontrar ressonância nos contemporâneos Ezra Pound e James Joyce.
Orlando Enamorado, de Matteo Maria Boiardo, poema em três livros e 69 cantos. Os dois primeiros livros foram publicados em 1487, a edição completa dos 69 cantos é de 1495. A obra, inacabada, inspirou-se na epopéia carolíngea e nos romances bretões, mas combina à narrativa dos combates contra os infiéis episódios maravilhosos, encantamentos, anéis mágicos, castelos encantados e o relato da paixão de Orlando por Angélica. O nome Orlando é constantemente alternado com Rolando.
Orlando Furioso, de Ariosto Ludovico Ariosto, poema publicado em 40 cantos em 1516 e, em 1532, sob a forma definitiva em 46 cantos. Ariosto retoma o Orlando enamorado onde Boiardo o havia interrompido. Narra sobretudo a loucura de Orlando, desdenhado por Angélica, a viagem de Astolfo à lua montado num hipogrifo, para trazer a poção que deveria curar Orlando, os amores de Roger e de Bradamante, que originariam a família de Este. Cada canto se inicia por uma digressão sobre a sociedade da época. Orlando é às vezes Rolando.
Os amores de Lancelote e Ginevra (12..?), O Livro de Lancelote do Lago, Cavaleiro da Távola Redonda. Título dado a um dos grandes romances em prosa do Século XIII, que tem como tema o rapto da rainha Guinevere, mulher do Rei Artur, amada por Lancelote. Chegou até o nordeste brasileiro, em versões portuguesas, onde inspirou vários folhetos de cordel.
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Os dez livros de fortuna de amor (1573), de Antônio de Lofraso, poeta sardo. Cervantes cita elogiosamente este livro em Quixote em nota que os críticos consideram irônica, já que em outra obra Viagem ao Parnaso, o havia criticado com piadas.
Os quatro livros do valoroso Cavaleiro Dom Cirolíngio de Trácia, Sevilha 1545?
Os seis livros da Galatéia, de Miguel de Cervantes, Alcalá de Henares 1585. Galatéia, nereida mitológica, amada por Ácis, pastor da Sicília, atirou-se ao mar para escapar do ciclope Polifemo, que havia esmagado Ácis. Cervantes ficou na carreira das armas até fins do ano de 1583. Quando publicou Os Seis Livros da Galatéia, renunciou à profissão militar, onde não ganhou nada, para dedicar-se à literatura. A Galatéia foi razoavelmente bem recebido pelo público e animou o autor de tal maneira que encerrou o livro com o seguinte parágrafo: "O fim desta história amorosa, com todo o acontecido a Galércio, Lênio e Gelasia, Arsindo e Maurisa, Grisaldo, Artandro e Rosaura, Marcílio e Belisa e com outras coisas sucedidas aos pastores citados até aqui, ficam prometidos para a segunda parte desta história, a qual, se esta primeira parte for bem recebida, terá o atrevimento de sair brevemente para ser vista e julgada pelos olhos e pelo entendimento dos leitores". Como muitas das promessas não cumpridas, esta segunda parte jamais foi escrita.
Os sete contra Tebas (467aC), de Ésquilo, poeta grego, tragédia de força poética inigualável. Das numerosas tragédias que escreveu, ficaram sete, entre elas As Suplicantes (490aC), Prometeu Acorrentado (467aC), Os sete contra Tebas (467aC). Esta última baseada na lenda tebana da Guerra dos Sete Chefes contra Tebas, que opôs os dois filhos de Édipo, Etéocles e Polinices, pela posse do reino de Tebas. Dele participaram sete chefes gregos, que deixaram a seus filhos, os Epígonos, a missão de vingá-los de sua derrota. Ao final dessa guerra, em que os dois irmãos inimigos se mataram, um ao outro, Creonte retomou o trono de Tebas. Esse tema inspirou não só Ésquilo, mas também Eurípedes (As fenícias), Estácio (A Tebaida) e Racine (A Tebaida), entre outros.
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Os sete livros de Diana (1559), romance pastoril escrito em castelhano, em prosa e verso, de Jorge de Montemayor, poeta português (escreveu quase toda sua obra em espanhol). O êxito retumbante alcançado por essa série de queixas amorosas de pastores foi devido principalmente à beleza da forma. Também autor de um Cancioneiro, com o romance A Diana, traduzido em várias línguas, Jorge de Montemayor introduziu o gênero bucólico na península.
Pantagruel ou Horríveis e espantosos fatos e proezas do muito renomado Pantagruel (1532), romance de Rabelais, é uma paródia cômica dos romances de cavalaria e da historiografia da época, publicada sob o pseudônimo de "Alcofribas Nasier", relata as aventuras de Pantagruel e precede as proezas de seu pai Gargântua (1534), destacando a importante figura do personagem Panurgo, cujo nome transcrito do grego panourgos significa "industrioso", "capaz de tudo". Panurgo faz o tipo debochado, poltrão, cínico, mas dotado de espírito fértil e alegre, brincalhão, é o fiel companheiro de Pantagruel. Está aí a provável razão do intraduzível ingenioso, com que Cervantes batiza o fidalgo Dom Quixote, que até mesmo os mais famosos cervantinos não conseguem (ou não querem) decifrar...
Patrañuelo (1565), de J. de Timoneda, escreveu também Sobremesa e alívio dos caminhantes (1569).
Peregrinação que dá conta de muitas e mui estranhas cousas que viu e ouviu no reino da China, no de Tartária, no de Surnau, que vulgarmente se chama Sião, no de Pegu, no de Martavão e em outros muitos reinos e senhorios das partes orientais, de que nestas nossas do Ocidente há muito pouca ou nenhuma notícia. E também dá conta de muitos casos particulares que aconteceram assi a ele como a outras muitas pessoas. E no fim dela trata brevemente de algumas cousas e da morte do santo padre mestre Francisco Xavier, única luz e resplendor daquelas partes do Oriente e reitor nelas universal da companhia de Jesus (1614), narrativas escritas por Fernão Mendes Pinto, aventureiro, escritor e viajante português, publicada após a
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morte do autor. Por volta de 1537 ele tomou lugar numa caravela e partiu para a Índia, começando a odisséia que resultou na obra. O autor narra muitos exageros, mas sua obra constitui um dos mais ricos repositórios de dados sobre a época e costumes das regiões que percorreu. Em 1582 os jesuítas Maffei, Rebelo e Gonçalves dele obtiveram Algumas informações da China, publicadas no número 13 da Revista de História. A Peregrinação foi traduzida para vários idiomas.
Poema trágico do espanhol Gerardo e desengano do amor lascivo (1615), de Gonzalo de Céspedes y Menezes (1585-1638), escritor espanhol autor também do romance picaresco Fortuna vária do soldado Píndaro (1624).
Primeira parte de ninfas e pastores de Henares, de Bernardo de Bobadilla, Alcalá de Henares, 1587.
Refrães e provérbios, de Fernão Nuñez de Guzmán, Salamanca 1555.
Romance da Rosa, obra-prima da poesia alegórica, dividido em duas partes, a primeira datada de 1230-1235, composta de 4.058, versos é atribuída a Guillaume de Lorris. Constitui a arte de amar resumindo os grandes princípios de fine amor dos trovadores. O objeto do desejo, representado pela Rosa, é vedado por obstáculos que se multiplicam em personificações como Perigo, Medo, etc. A segunda parte, com 17.723 versos, foi escrita entre 1270 e 1275 por Jean de Meung, dando aos amantes os mesmos interlocutores ele lhes presta os mais longos discursos inspirados pela Arte de amar, de Ovídio e pela filosofia de Alain de Lille.
Romance de Alexandre, o Grande, história romanceada de Alexandre Magno. Entre os séc. XII e XIII, vários poetas, Lambert le Tort, Alexandre de Bernay, Pierre de Saint-Cloud, retomaram a versão em pointevin (dialeto da língua d'oil) do relato da vida de Alexandre, optando pelo verso de 12 sílabas, dando origem ao nome "alexandrino". Esse conjunto de romances, que introduziu na Europa o pendor oriental pelo maravilhoso, remonta à narrativa fabulosa do
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romancista grego do séc. II dC, o pseudo Calístenes. Tem evidente conotação cavaleiresca.
Ropicapnefma, curiosíssima obra de João de Barros, por muitos considerada a "manifestação mais complexa e mais explícita do erasmismo português", conforme José Saraiva. De difícil classificação, pode ser comparada a um colóquio humanista e, analisando-se do ponto de vista de estruturação alegórica, a alguns autos de Gil Vicente e contemporâneos. A obra retrata o encontro de três personagens (Tempo, Vontade e Entendimento), que, à beira do Rio de Morte, pretendem atravessar sua mercadoria (vícios) pela Alfândega da Vida Eterna. A Razão impede a trama, iniciando-se uma discussão em que o autor passa em revista toda a sociedade portuguesa da época, criticando-a com ironia e abordando, analiticamente, os fundamentos do direito, da política de guerra, da paz, da reforma do cristianismo, etc. Ropicapnefma, segundo o autor, é uma expressão grega que significa "Mercadoria espiritual".
Sátira contra as damas de Sevilla, de Vicente Espinel, escritor, poeta e músico espanhol de técnica primorosa, autor também do romance de aventuras Marcos de Obregón (1618), no qual Lesage se inspirou para escrever Gil Blas.
Selva de aventuras (1565), de ?
Sete partidas, livro de Alfonso X, El Sabio (1221-1284), Rei de Castela e de Leão, imperador germânico, príncipes dos mais esclarecidos de seu tempo, animador do movimento intelectual que se desenvolveu na Espanha no séc. XIII. Escreveu cantigas e compôs 420 poemas musicados em honra à Virgem Maria (Cantigas de Santa Maria), além de obras relativas à língua castelhana, direito, astronomia, xadrez. Dirigiu a publicação Tábuas Alfonsinas.
Summa summalarum (1557), Súmulas, conjunto de escritos que formam o Tratado de Dialética da Universidade de Alcalá de Henares, escrito pelo segoviano Gaspar Cardillo de Villalpando, catedrático da Universidade de Alcalá de Henares.
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Suplemento a Virgílio Polidoro, (1550), [De inventoribus rerum, de Virgilio Polidoro], tradução espanhola de Francisco Támara.
Tratado do amor de Deus (1592), obra de frei Cristóvão de Fonseca, pregador augustino.
Vergel de consolação ou Virgeu de consolaçon, tradução em português medieval do Vergel de Consolación, do frei Jacobo de Benavente, dominicano espanhol de meados do séc. XIV. A obra trata dos pecados capitais e dos vícios a que dão origem, das virtudes cardeais, das virtudes teologais e de "outras virtudes honestas". O estilo é sentencioso, com abundância de citações críticas, às vezes duras, à sociedade medieval.
Vida dos Césares, Suetônio Caius Suetonius Tranquillus, (69-126), historiador latino, protegido de Plínio, o moço, sua obra mais importante é Vida dos Césares, 12 biografias que abrangiam de César a Domiciano. Influenciou A vida de Carlos Magno, de Einhardt, além de ter fornecido dados valiosos sobre a personalidade dos imperadores romanos.
Vida e aventuras de Gusmán de Alfarache (1599, parte I e 1604, Parte II), célebre romance picaresco espanhol de Mateo Alemán, adaptado em francês muito habilmente por Lesage.
Viriato Trágico (1699), poema heróico de Brás Garcia de Mascarenhas, guerreiro e poeta português de vida agitada e aventurosa, foi preso injustamente acusado de traição à pátria. Mascarenhas escreveu também o inédito e desaparecido Ausências brasílicas, no qual narra o seu exílio no Brasil, para onde fugiu em 1623.
Yvain ou O Cavaleiro do leão, romance cortesão de Chrétien de Troyes, composto em c. 1177. Esse poema, onde o maravilhoso céltico se mistura à reflexão psicológica, é o modelo perfeito do romance do ciclo do Rei Artur.
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OUTRAS OCORRÊNCIAS: GENTES, TIPOS, TERRAS, REINOS...
A judia de Saragoça que cegou chorando lutos alheios (Até parece título de folheto de literatura de cordel!) Chorar luto alheio é hábito árabe-judeu. Homens e mulheres são contratados para gritar lamentos, se derramar em choro, durante os ritos funerais. No Brasil ganhou o nome de carpideiras e sobrevivem no interior nordestino, dando plantão nos velórios, quando convocadas. Lá pelas tantas se interrompe a lamentação. Às carpideiras e demais participantes do velório, é servida farta mesa de comida, bolos, biscoitos, acompanhados de bebidas, refrigerantes, sucos.
Alcácer-Quibir, batalha travada entre portugueses e mouros em 1578 no Marrocos. Uma das maiores mobilizações de tropas até então verificadas: os portugueses contavam com 16 mil soldados sob o comando do rei Dom Sebastião. Os árabes, dirigidos pelo sultão Abd al-Malik (Abde Almélique), tinham 40 mil Cavaleiros e cerca de 9 mil infantes. A vantagem numérica foi decisiva para o resultado, considerado o maior desastre das armas lusitanas. A batalha durou apenas quatro horas e nela morreram cerca de 6 mil mouros e mais de 8 mil portugueses. O rei Dom Sebastião morreu na batalha, levando consigo grande parte da nobreza dirigente da Coroa, que perfilava a seu lado. Do lado árabe, morreram o sultão de Marrocos e o mulei Mohamed Almotauaquil, por isso a batalha ficou conhecida também como a "Batalha dos Três Reis". Não deixando descendentes, o trono português passou para o tioavô de Dom Sebastião, Dom Henrique e dois anos depois para Filipe II da Espanha, dando início à união das duas coroas.
Alexandre III, o Grande (356-323aC), rei da Macedônia, filho de Filipe II e de Olímpia, exemplo tradicional de prodigalidade, aprendeu arte militar em campanhas contra os trácios e os ilírios, participou da Batalha de Queronéia. Educado por Aristóteles, em 336 sucedeu a seu pai. Derrotou o exército persa, recusando-se a qualquer negociação com os vencidos. tornou-se senhor da Ásia Menor, prosseguiu em seu plano de envolvimento do Mediterrâneo oriental submetendo a Síria, penetrou no Egito, que estava sob o jugo dos
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persas, lá foi recebido como Libertador. Fundou Alexandria e atravessou o Tigre e o Eufrates. Venceu Dario III, marcando o fim da dinastia dos aquemênidas, empreendeu a fabulosa escalada que o conduziu para além do Indo. Em 323aC Alexandre III morreu na Babilônia, como senhor absoluto do mundo oriental, deixando um império que em poucos tempos seria dividido entre seus generais. Sua vida, batalhas e guerras serviram de enredo a diversos romances e gestas de cavalaria.
Álvaro de Bazan (1510-1588), marquês de Santa Cruz, almirante espanhol que conduziu a esquadra espanhola contra os turcos na batalha de Lepanto, na qual Cervantes lutou e foi ferido.
Aparicio de Zubia (séc. XVI), farmacêutico, inventor de óleo medicinal para aplicação em feridas, bálsamo capaz de curar todas as chagas, que seria utilizado por todos os Cavaleiros andantes (talvez aquele mesmo, cujos milagres são citados em Fierabrás e no Quixote).
Artur (ou Artús) (séc. V-VI), legendário rei de Gales, patrono das histórias de cavalaria do romanceiro medieval, que deu origem à Ordem dos Cavaleiros da Távola Redonda. A figura de Artur como herói nacional deve-se muito aos livros Historia Britonum (826) de Nennius e Historia Regum Britanniae (1136) de Godofredo de Monmouth, cuja tradução francesa foi divulgada na Europa, dando origem à chamada "matéria céltica", inspirando todo um conjunto de poemas e narrativas conhecidas como "ciclo da Távola Redonda". Chrétien de Troyes, Béroul, Maria de França, Thomas Mallory, entre outros, foram os autores a partir dos quais se criou a mística em torno de Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, em muito alimentada pelas lendas do Santo Graal. Fonte de muitos seguidores, tanta inspiração veio refletir no Renascimento, com sobras consideráveis para alimentar vários folhetos de cordel em pleno séc. XIX.
Barba-Roxa (I) (1122-1190), Frederico I, imperador germânico, retomou Roma de Arnaldo de Brescia e foi coroado imperador em 1155, mas recusou-se a comportar-se como vassalo, iniciando um demorado conflito com o papado.
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Após derrotar e arrasar Milão em 1162, Frederico I reforçou a autoridade imperial na Itália, mas a inimizade religiosa o levou a ser derrotado em 1176 pela Liga Lombarda, aliada do Papa Alexandre III. Morto durante a III Cruzada em 1190, o Barba-Roxa tornou-se, a partir do séc. XVI, a figura mítica do imperador adormecido sob o monte Kyffhäuser, destinado a reaparecer com seu exército para concretizar as esperanças populares nacionais.
Barba-Roxa (II), nome dado pelos historiadores ocidentais aos irmãos Baba Arudj e Khair al-Din, piratas turcos fundadores do Estado de Argel no séc. XVI. Khair al-Din ganhou do sultão Selim o título de paxá, invadiu e apoderou-se da ilha de Peñon em 1529 e fundou a cidade de Argel. Posteriormente uniu-se à frota francesa contra Carlos V em 1544, morreu em Constantinopla em 1546.
Barroco. Durante muito tempo o Barroco definiu apenas as artes plásticas. O conceito aplicado à literatura surgiu no fim do séc. XIX com os trabalhos de Jakob Burkardt e Heinrich Wöfflin. O termo "barroco" abrange em literatura uma série de denominações. Em Portugal, Espanha e Itália, seiscentismo; na França, preciosismo; na Inglaterra, enfuísmo e na Alemanha, silesianismo. São características do barroco: linguagem pomposa, imagens sutis e obscuras, musicalidade, descritivismo, exploração das possibilidades fonéticas da língua, utilização do paradoxo, estilo rebuscado, jogo de palavras, oposições e idéias abstratas, imagens e sugestões fora da realidade, virtuosismo, amplo uso de alegorias,
hibérboles,
exacerbação
paralelismo,
dos sentimentos,
repetições,
gosto
do
anáforas
requinte,
estilo
e
antíteses,
sentencioso,
preocupação moralista, ritmo sincopado e metáforas sinuosas ligando imagens complexas. Principais representantes: Góngora, Quevedo, Cervantes, Félix Lope de Vega, Calderón de la Barca, Tirso de Molina (Espanha); Tasso, Marino, Guarini, Della Porta (Itália); Montaigne, Pascal, Corneille, Racine, Boileau (França); Lily, Donne, Bacon (Inglaterra); Silesius, Gryphius, Opitz (Alemanha); Sóror Mariana de la Cruz, Hoje, Balbuena, Caviedas (América espanhola); Rodrigues Lobo, Manuel de Melo, Tomás de Noronha, Frei Luís de Sousa (Portugal); Gregório de Mattos, Manuel Botelho, Rocha Pita, padre Antônio Vieira (Brasil). Em Portugal, o Barroco desenvolveu-se entre 1580 e
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1680, cobrindo todo o período em que o país esteve sob domínio espanhol (1580-1640).
Belerofonte, filho de Possêidon, quis subir à morada de Zeus, este o precipitou à terra. Cervantes faz apologia de cavalos célebres: Pégaso, cavalo alado de Belerofonte e Bucéfalo, de Alexandre III, cavalos da mitologia e história clássicas. Brilhadouro, Baiardo e Frontino, respectivamente, os cavalos de Roland, Reinaldos de Montalbán e Bradamante (também de Ruggiero), personagens de Orlando Furioso, de Ariosto. Bootes e Peritoa parecem deformação dos nomes dos quatro cavalos de Apolo, chamados Eoo e Pireis. Orelia é o cavalo de Dom Rodrigo, no romanceiro novo, que perdeu a vida e o reino na batalha de Guadalete (711).
Benito Arias Montano (1527-1598), erudito espanhol que Filipe II enviou a Antuérpia para dirigir a impressão da Bíblia Poliglota, editada por Platino, primeira edição do texto original, acompanhada de todas as versões antigas.
Bernardino de Velasco, conde de Salazar, foi o encarregado de levar a cabo a ordem de expulsão dos mouros em Castilla, La Mancha e Estremadura.
Carlos Magno ou Carlos I, o Grande, em latim Carolus Magnus (747-814), rei dos francos e dos lombardos, imperador do Ocidente, filho mais velho de Pepino, o Breve e de Berta, recebeu a unção real em 754. Carlos era um homem alto 1,92m, de ombros largos, rosto imberbe, de vitalidade prodigiosa. Cristão, inteligente, culto e simples, era porém autoritário, às vezes violento e cruel, essa personalidade marcante explica a amplitude de seus feitos. Durante 46 anos de reinado realizou 53 expedições militares para expandir os domínios da cristandade, proteger o estado franco e impor sua hegemonia. Considerando-se efetivo chefe do povo cristão, a quem deveria guiar rumo à salvação eterna por determinação de Deus, Carlos Magno, leitor de Cidade de Deus, de Santo Agostinho, quis estabelecer uma espécie de estado teocrático para fazer reinar a paz e a concórdia. "Rei em seu poder" e "padre em seus sermões", exerceu o poder absoluto sobre seus súditos, leigos e eclesiásticos, protegendo e dirigindo a Igreja. Promotor do primeiro florescimento da cultura
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européia, lançou também os fundamentos da cristandade, fazendo do cristianismo o elo essencial dos povos de seu império. Carlos realizou a primeira reunião territorial da Europa, esboço da formação atual.
Cavalaria. Instituição feudal, militar e religiosa da Idade Média. Os nobres que pretendiam fazer parte dela deviam submeter-se às formalidades de cerimônia solene, na qual prestavam juramento de combater os infiéis, proteger os fracos e oprimidos. Eram então armados Cavaleiros. A Cavalaria era originalmente encarregada de defender os lugares santos. O caráter sagrado da Cavalaria, o ideal de perfeição cristã na vida guerreira que ela propunha, encontraram o seu ápice por ocasião das Cruzadas, com a criação das ordens militares. As principais ordens de cavalaria foram a dos Templários, a do Hospital ou de São João de Jerusalém, a de Avis e a de Santiago da Espada. A ética cavaleiresca, a influência dos romances de cavalaria, deram lugar ao ideal refinado do Cavaleiro, de acordo com um código complexo de honra e ideais, sonho de realizar façanhas, mesmo extravagantes, pelo amor de sua dama. Assim completou-se o declínio da cavalaria, que se tornou, ao fim da Idade Média, apenas um grau de nobreza.
Cid Campeador (1043-1099), Rodríguez Díaz de Vivar, El Cid, herói nacional espanhol, filho de Diego Láinez, fidalgo castelhano, capitão de Sancho II, rei de Castela e Leão, ao lado de quem se distinguiu contra os navarreses, adquirindo o nome de Campeador (vencedor de batalhas). Passou ao serviço de Alfonso VI, que lhe deu por esposa uma parente. Banido de Castela pelo rei, que temia sua ambição, pôs-se a serviço do emir de Saragoça e lutou ao lado dos muçulmanos, que lhe deram o título de sidi (senhor), antes que ele se apoderasse de Valência em 1095, onde reinou até a morte. O personagem do Cid inspirou o Cantar de mio Cid (1140), que relata os últimos anos de vida do herói, um dos mais belos monumentos da literatura espanhola da Idade Média. A Crônica Rimada (séc. XV), evoca a juventude do Cid. Essas duas obras são a origem de todo um ciclo chamado Romanceiro do Cid.
Cipião Emiliano (206-254aC), O Africano, general e imperador romano, encarregado da destruição de Cartago (África) e Numancia, cidade da antiga
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Espanha, que desafiou durante catorze anos o poder de Roma e que foi tomada e destruída em 133aC.
Cruzadas. Nome dado às expedições militares empreendidas no séc. XI ao XIII pelos cristãos do Ocidente, por instigação do papado, que lhes fixava por alvo a libertação dos lugares santos ocupados pelos muçulmanos, ditos infiéis. Favorecidos pelas condições sociais e econômicas da Europa Ocidental, as cruzadas encontraram sua origem longe das prescrições eclesiásticas do séc. IX. Estas santificavam a luta contra os infiéis pela defesa dos cristãos oprimidos e tinham como causa imediata a invasão da Ásia Menor e da Síria pelos turcos seljúcidas, que ocuparam Jerusalém em 1077. Em 1095 no Concílio de Clermont, o Papa Urbano II apelou para a cristandade ocidental dirigir-se em socorro dos cristãos do Oriente oprimidos pelos turcos e libertar os lugares santos, desencadeando assim a I Cruzada. Por trás do fator religioso sobressaíam os interesses militares, econômicos e de conquista. I Cruzada (1096-1099). Após o apelo de Urbano II, bandos de peregrinos lançaram-se na estrada liderados por Pedro o Eremita e Gautier Sem Nada, chegando pelo Vale do Danúbio até a Ásia Menor, sendo ali massacrados pelos turcos em Civitot. Logo em seguida seguia a Cruzada dos Barões, mais organizada, com cerca de quatro exércitos, dirigidos pelo legado Adhemar de Monteil e outros grandes senhores do Ocidente. Após terem vencidos os turcos em Doriléia (1097), as cuzadas apoderaram-se de Edessa, Antioquia e Jerusalém, que somadas a Trípoli se tornaram as capitais dos quatro estados latinos que foram fundados para defender a Terra Santa. II Cruzada (11471149). Provocada pela retomada de Edessa em 1144 pelo atabegue Mossul, foi pregada por São Bernardo, por iniciativa do Papa Eugênio II. Conduzidos por Luís VII e pelo imperador Conrado III, os dois exércitos dessa expedição desceram o Danúbio e alcançaram a Antioquia e Acre por mar. Após terem sitiado em vão Damasco, os dois monarcas retornaram ao Ocidente em 1148, sem haver tentado livrar Edessa. III Cruzada (1189-1192). Foi decidida pelo Papa Gregório VIII em seguida à tomada de Jerusalém por Saladino em 1187. Ao apelo do papa, Frederico I Barba Ruiva deixou Ratisbonne em 1189, tomando o itinerário danubiano. Foi bem sucedido na travessia da Ásia Menor, mas afogou-se na Cilicia atravessando Sélef (Goksu). Partindo de Vézelay,
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Filipe II, Augusto e Ricardo Coração de Leão tomaram o caminho do mar e fizeram capitular Acre, após a conquista de Chipre pelo rei da Inglaterra. Não conseguindo, porém, recuperar Jerusalém, este último concluiu com Saladino uma trégua em 1192, que deixou aos francos a costa de Tyr-a-Jafa e assegurou aos cristãos o livre acesso aos lugares santos. IV Cruzada (12021204). Reunida por iniciativa do papa Inocêncio III, foi conduzida contra o Egito em 1202, para obrigar o sultão a restituir Jerusalém, foi desviada pelos venezianos que, para estender seu domínio comercial, levaram as Cruzadas a se apoderarem de Constantinopla e a substituírem o Império Bizantino por um Império Latino. V Cruzada (1217-1219). A construção da fortaleza do monte Tabor, compeliu o papa Inocêncio III a pregar esta Cruzada, organizada pelo Concílio de Latrão IV e empreendida por André II da Hungria, depois por Jean de Brienne, rei de Jerusalém. Não conseguindo apoderar-se de Tabor, as cruzadas atacaram e tomaram Damieta em 1219. Vencidos, porém, ao avançar para o Cairo, foram obrigados a deixar esta cidade e evacuar o Egito. VI Cruzada (1228-1229). Lançada pelo papa Honório III, foi conduzida pelo imperador Frederico II, que chegou a Acre por mar em 1228 e concluiu o Tratado de Jafa com o sultão al-Malik al-Kamil, obrigado a restituir Jerusalém, Belém e Nazaré. VII Cruzada (1248-1250) Sua pregação pelo papa Inocêncio IV no Concílio de Lyon foi suscitada com a conquista de Jerusalém pelos kharezmianos. Conduzidos por Luís IX, os cruzados embarcaram para o Egito, tomaram Damieta, mas foram derrotados em Mansurá, onde Luís IX foi feito prisioneiro em 1250. Libertado mediante a entrega de Damieta, o rei teve que deixar o Egito com os cruzados. VIII Cruzada (1270-1291). Tendo o sultão Baybars I se apoderado da Antioquia em 1268, Luís IX organizou esta Cruzada que, sob a influência de Carlos I de Anjou, se dirigiu para Túnis em 1270, onde Luís IX morreu. Após haver concluído um tratado vantajoso para seu reino da Sicília, Carlos de Anjou reconduziu os cruzados para a França sem ter levado socorro aos francos do Levante. Privados da ajuda do Ocidente, estes tiveram que abandonar a Terra Santa, deixando-a inteiramente em poder dos muçulmanos.
Degolação de São João, festa religiosa popular, celebrada no dia 29 de agosto na Espanha.
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Diego de Espinosa (1502-1572), prelado e estadista espanhol, nascido Martín Muñoz de las Posadas, foi Inquisidor-geral em 1566, Cardeal em 1568, chefe do Conselho de Estado durante o reinado de Filipe II, inspirou o malfadado decreto que provocou as guerras civis e o morticínio, originados da insurreição dos mouriscos em 1568.
Diego García de Paredes, celebrizou-se como coronel do exército do Grande Capitão Gonzalo Hernández de Córdoba, foi cognominado "o Sansão de Estremadura".
Diego Ordoñez de Lara, Cavaleiro castelão, primo do rei Sancho II de Castilla, lançou à toda cidade de Zamora o conhecido desafio para vingar a seu rei, ao qual o zamorano Vellido Dolfos assassinou à traição. O desafio depois se tornou proverbial e parte do romanceiro popular.
Diego Pérez Vargas y Machuca, Cavaleiro toledano que nos tempos de Fernando III, o Santo, se tornou famoso por suas façanhas no cerco de Jerez contra os mouros.
Dom Galaor, irmão de Amadis de Gaula, cujo escudeiro, Gasabal e a "excelência de su maravilloso silencio" é citado em Dom Quixote, em contraposição à loquacidade de Sancho Pança.
Don Fernando Álvarez de Toledo, terceiro duque de Alba, chegou em Bruxelas em 1567 à frente de um exército de 10.000 homens.
Don Juan, personagem lendário cujas aventuras parecem se originar de um fato real narrado pela Crônica de Sevilha. Don Juan Tenório, assassino do comandante Ulloa, após ter raptado sua filha, foi atraído ao convento dos franciscanos onde fora enterrada sua vítima, sendo ali assassinado. Os monges fizeram então correr o rumor de que a estátua do comandante arrastara Don Juan, que viera insultá-lo em seu túmulo, para o Inferno. Esse castigo inspirou, além da comédia edificante de Tirso de Molina (O embusteiro
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de Sevilha e O convidado de pedra), numerosas obras literárias, especialmente as comédias italianas de Gilberto e Cicognini. Sob o título de Festim de pedra, as peças de Villiers (1659), Dorimond (1661), Rosimon (1669), Thomas Corneille (1677), o Don Juan de Molière, o poema Don Juan de Byron, a tragédia de Puchkin O conviva de pedra (1830), a novela de Mérimée As almas do purgatório (1834), o poema dramático de Lenau Don Juan (1844), o drama de Zorilla Don Juan Tenório (1844). Através das obras Don Juan passou de embusteiro e sedutor brutal a personagem angustiado em busca do infinito e da pureza. Mas ele é também um ser de ruptura, que rompe o ciclo da troca e da circulação das mulheres (deseja-as todas) e do dinheiro (se recusa a pagar as dívidas). Mito do desejo e da morte, da infinita possibilidade dos amores que tornam a vida inesgotável, se apoia sobre uma base arcaica trazida à luz pela psicanálise, o deflorador sagrado, o duplo e sua culpabilidade, a relação entre Eros e Tânatos, o mito de Don Juan traduziria a mais profunda obsessão do homem, a de unidade e da união, ante a realidade da divisão dos sexos e a ruptura entre o tempo vivido e a eternidade postulada.
Doon de Mogúncia (gesta de), um dos três grandes ciclos épicos da Idade Média. As principais canções (Raoul de Cambrai, Doon de Mogúncia, O cavaleiro Ogier, Renaud de Montauban, Girart de Roussillon) descrevem senhores feudais que se revoltam contra o suserano para vingar injúrias recebidas.
El Uchalí, renegado atrevido, aventureiro e corsário calabrês que combateu em Lepanto, chegou a vice-rei de Argel, submeteu a capitania de Malta, ilha do Mediterrâneo cuja soberania Carlos I de Espanha e V do Sacro Império Romano, concedeu em 1530 à Ordem militar e religiosa dos Cavaleiros de Malta, também chamada de Ordem de São João de Jerusalém. Consta que El Uchalí morreu em 1587.
Entremez. Composição teatral curta de um só ato, jocosa ou burlesca, farsa intercalada nas representações demoradas, funcionando como repouso aos intérpretes quanto e para a platéia. Os entremezes terminavam geralmente com uma canção popular, cantada em coral por todos os espectadores. A
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origem do gênero remonta à Idade Média, às breves apresentações de jograis nas refeições e banquetes. Cervantes, um dos maiores cultores do gênero, a eles se dedicou por longo tempo como meio de sobrevivência, chegando a produzir cerca de trinta numa temporada. Publicou Oito entremezes jamais representados. Apesar da grande aceitação popular, os entremezes tinham veia crítica, realista e profana, afetando a aristocracia espanhola. O entremez foi representação de muito sucesso na Espanha do séc. XVI em diante e chegou até o Brasil na virada do séc. XVIII, sendo vendido em folhetos de cordel.
Escoto (séc. XVI), aventureiro, mago e nigromante italiano, de fama obscura.
Eugénio de Torralba, doutor e médico dedicado à quiromancia, confessou ao Tribunal do Santo Ofício que, com ajuda do demônio, havia ido a Roma, aonde presenciou o saque da cidade pelas tropas de Carlos I em 1527, no qual morreu o condestado Carlos de Bourbon, comandante das tropas espanholas e depois regressou a Valladolid, isso tudo em só uma hora e meia!
Filesbião de Candaria, um dos muitos heróis da enxurrada de romances de cavalaria da época, cognominado "O Cavaleiro da Ave Fênix".
Fillipe de Villiers de L'Isle Adam (1464-1534), grão mestre da Ordem de São João de Jerusalém, sustentou o cerco famoso em Rodes, em 1522, contra o sultão turco Solimão. Em 1530 Carlos V concedeu à Ordem de São João de Jerusalém "as ilhas de Malta e Gozzo".
Goliardo, estudante ou clérigo de vida erradia, dado à prática da literatura, que trabalhava como jogral para se sustentar. Constitui a manifestação final do tipo jogralesco, gênero peculiar surgido no fim da Idade Média. A expressão passou a significar "aquele que leva a vida desregrada e/ou devassa".
Hassan Bajá, renegado veneziano, chegou a ser rei de Argel entre 1577 e 1580. Casou-se com Zahara (ou Zoraida), filha de Hadji Murad, outro renegado que, por sua vez, foi governador da fortaleza de Al Batha, próxima a Orã.
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Helena de Tróia, uma das principais heroínas da Ilíada, filha de Zeus e de Leda, célebre por sua beleza, formosa esposa de Menelau rei de Esparta, foi raptada por Páris, príncipe troiano, seus antigos pretendentes uniram-se para vingar a afronta, desencadeando a famosa Guerra de Tróia, narrada por Homero. Tróia resistiu por dez anos ao cerco dos gregos, até cair no truque do Cavalo de Tróia, verdadeiro presente de grego.
Heráclio I (575-647), imperador bizantino, depôs o usurpador Focas, empreendeu o soerguimento do império, a reorganização do exército e depois concluiu a paz com o cã dos ávaros.
Isabel de Valois (1545-1568), filha do rei de França Henrique II e de Catarina de Médici, também conhecida como Isabel de França. Desposou Filipe II em virtude do tratado de Cateau-Cambrésis, sendo rainha da Espanha de 1559 a 1568. Quando faleceu, recebeu diversas homenagens da nobreza espanhola, inclusive os versos que constituem a primeira obra publicada de Cervantes.
Juan da Áustria, (1545-1578), príncipe espanhol, filho natural de Carlos V e Bárbara Blomberg, reprimiu a revolta dos mouriscos da Andaluzia (1568-1570), comandou as tropas aliadas que venceram os turcos em Lepanto (1571), batalha da qual Cervantes muito se orgulhava de ter participado. Ocupou Túnis e Bizerta (1574), tenente-general em Nápoles, foi nomeado governador-geral dos Países Baixos com a morte de Roquesens (1576). Foi obrigado pelo Édito Perpétuo (1577) a evacuar as províncias do sul, mas após a chegada de Alexandre Farnese, retomou a ofensiva. Vencedor em Gembloux (1578), morreu pouco depois, provavelmente envenenado. Seus feitos inspiraram várias obras, entre as quais La Austríada, de Jerônimo Corte Real.
La Goleta, fortaleza que defendia o porto de Túnis, havia sido tomada por Carlos I em 1535, que desalojou dali o pirata Barba Roxa e depois foi retomada pelos turcos em 1574.
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La Herradura, porto próximo a Véles Málaga onde em 1562 houve o naufrágio em que morreram mais de quatro mil pessoas.
Lancelote do Lago, um dos mais valentes e famosos Cavaleiros da Távola Redonda, que, segundo a lenda, era amante da rainha Guinevere, esposa do rei Artur.
Leão de Espanha (1586), de Pero de la Vecilla Castellanos. Assim era cognominado o rei Carlos V (1500-1558), herói da historiografia espanhola, lutou contra a França, contra a Turquia, contra os otomanos, contra Túnis, conquistando inúmeros reinos para a Espanha. Após uma série de conquistas e alianças, Carlos V estava à frente de imenso império, no qual "o sol jamais se punha". Pareceu encarnar, pela última vez no Ocidente, o ideal de monarquia universal. Em 1556, desiludido, prematuramente envelhecido, reconhecendo o fracasso de sua política imperial, abdicou e retirou-se ao Convento de Yuste, Estremadura, onde morreu.
Lepanto, porto e cidade marítima da Grécia, junto ao estreito do mesmo nome, que comunica os golfos de Patras e de Corinto. Ali foi o palco da batalha durante a qual as forças da Santa Liga, formada logo após a tomada de Chipre pelos turcos, comandadas por Juan de Áustria (irmão bastardo de Filipe II), destruíram a frota otomana em Lepanto. Entre tantos heróis, além de Cervantes, se distinguiu também o almirante espanhol Álvaro de Bazan (15101588), marquês de Santa Cruz, comandante supremo da armada espanhola.
Lirgandeu, sábio encantador e cronista do livro de cavalarias do Cavaleiro do Febo.
Lope de Aguirre, conquistador espanhol que foi ao Peru em busca da cidade do ouro, El Dorado. Renegou sua fidelidade a Filipe II, sentindo-se assim livre para praticar inúmeros crimes e assassinatos aos povos indígenas. Ajuntou contra si tanto ódio e ambição, que nem os comandados suportaram: Aguirre foi justiçado por seus próprios soldados.
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Luiz de Requesens y Zuniga (1528-1576), político e guerreiro espanhol, contribuiu em muito para a vitória de Lepanto, na batalha que Cervantes participou. Sucessor do Duque de Alba nos Países Baixos (1573), concedeu ampla anistia e tentou negociar com Guilherme I, mas não conseguiu por fim à insurreição.
Madrid, capital da Espanha e da comunidade autônoma de Madrid, em Castela, centro da península ibérica, ao pé da serra de Guadarrama. Antiga fortaleza árabe (Madjrit), a cidade foi ocupada por Alfonso VI em 1083. Sua posição central favoreceu a instalação da corte e Filipe II transformou-a em capital do reino em 1561.
Mambrino, rei mouro, célebre nos romances de cavalaria, cujo elmo encantado tornava invulnerável quem o possuía. Em episódio de Orlando Furioso, de Ariosto, o famoso paladino Reinaldos de Montalbán, protegido pelo elmo, matou o sarraceno Dardinel de Almonte. Dom Quixote encontra uma velha bacia de barbear, toma-a pelo elmo de Mambrino e usa-a a partir de então como capacete, julgando-se, assim, invencível.
Maneirismo. Forma de arte que se desenvolveu no séc. XVI na Itália e outros países, demonstra atitude sistemática de afetação na maneira de se expressar, falta de naturalidade, de simplicidade em matéria artística e literária. Surgida tardiamente na história da arte, a noção de "maneirismo" designa estilo original e completo que exacerba a "maneira" de artistas da grande geração do Renascimento. Surgido na Itália em torno de 1520, em tempos de dúvida e inquietação, espalhou-se pela Europa, sobrevivendo até o séc. XVII, assumindo formas diversas conforme os locais. Irrealismo, sofisticação, refinamento, traços dominantes: os temas se confinam com o fantástico e até mesmo esotérico.
Maravedi, pequena moeda de cobre corrente na Espanha e em Portugal, onde correspondia a 27 réis. O maravedi ou marabitino (pelo árabe marabiti), era a moeda legal desde o séc. XI, com a qual se solviam as obrigações com a coroa.
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Marco Tulio Cicero, político, orador e escritor romano (séc. I aC), célebre por sua eloqüência.
Matamoros, expressão espanhola (matamoros = matador de mouros), que redundou em vários personagens de comédias do séc. XVI, inspirado em Ferrabras, da comédia italiana (em francês Fiér-a-bras), por sua vez originado do Miles gloriosus da comédia latina, soldado fanfarrão, falastrão, tipo do falso herói contador de bravatas. Chegou até nós, herói popular e pilantra, como Ferrabrás.
Medéia (Mit.) filha do Rei da Colchida, fugiu com Jasão, chefe dos Argonautas que graças aos artifícios dela conseguira apossar-se do velocino de ouro. Abandonada por seu esposo, vingou-se matando os filhos que dele tivera. Uma das principais tragédias de Eurípedes (480-405aC), o tema foi tratado por outros poetas, mas nenhum conseguiu igualar o poeta grego (431 aC). Uma das melhores tragédias de Sêneca, conquanto muito declamatória. Inspirou também a tragédia de Corneille.
Merlin, dito O Encantador, mágico, profeta, adivinhador, personagem da tradição céltica (Myrrdin) e do ciclo do rei Artur, amante da fada Viviana.
Mingo Revulgo, pseudônimo do autor de um livro de coplas e refrães muito popular nos séc. XV e XVI. Cervantinos dizem que se trata de "anónima sátira política y social del reinado de Enrique IV de Castilla (siglo XV)". Provavelmente se tornou expressão proverbial. Encontrei a publicação de uma carta datada de 1492 de Hernando del Pulgar dirigida a um amigo doutor [em Ajedrez 2000]. Pulgar, Cavaleiro que tomou parte no sítio de Granada contra os mouros, falando sobre as teorias e pretensões de Cristóvão Colombo, na época em busca desesperada de patrocinador, escreve a seu amigo: "tienes que haber oído hablar de él [Colombo], ya que su nombre ha llegado a ser ultimamente tan familiar como los relatos (refranes) de Martín Revulgo".
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Morgana, fada dos romances de cavalaria medievais, do ciclo bretão, chamada também de A dama do lago. A lenda da Fada Morgana, resiste até hoje, seja em episódios cavaleirescos, seja através da literatura infantil.
Novelas de Cavalaria, narrativas originárias da prosificação das canções de gesta, das poesias de temas guerreiros e avenureitros, que abordam aventuras tipicamente medievais. Introduzidas na Península Ibérica no séc. XIII através de traduções do francês, sofreram alterações e adaptações à realidade sóciocultural da terra adotiva. As novelas de cavalaria classificam-se segundo o herói da narrativa: 1) ciclo bretão ou arturiano, em que o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda são os protagonistas; 2) carolíngio, no qual Carlos Magno e os dozes pares de França são os personagens centrais; 3) o clássico, com temas greco-latinos, mitológicos e fantástico. Dentre as novelas de cavalaria mais célebres destacam-se A demanda do Santo Graal, do ciclo arturiano, tendo Galaaz como o herói que vai em busca do cálice sagrado que guarda o sangue de Jesus Cristo, colhido durante o seu martírio; Amadis de Gaula, de origem controvertida mas produzida na península ibérica, em que se destacam o herói Amadis e sua amada Oriana; As avenuras de Carlos Magno e os doze pares de França, que narra as conquistas carolíngeas e a morte dos doze pares na famosa batalha de Roncesvalles. Afrânio Coutinho ensina: "Na literatura medieval, floresceu esse gênero de literatura narrativa, com fundo heróico, que teve grande voga, resultado da redução a prosa das 'canções de gesta'. A origem é obscura, uns defendendo a tese da origem francesa, outros a da inglesa, outros a da combinação de ambas. Difundiu-se também na Espanha e Portugal. A sua produção foi dividida em três ciclos: bretão ou arturiano (Rei Artur como centro), carolíngio (Carlos Magno como figura principal), clássico (figuras da Antigüidade). Durou até o Século XVI. Algumas das principais foram: A demanda do Santo Graal, José de Arimatéia, O Amadis de Gaula, Merlim, Palmerim da Inglaterra, etc. O gênero encerrou o sonho dos Cavaleiros, mas no Século XVI estava em franca decadência, acompanhando o declínio da sociedade feudal. Cervantes, no D. Quixote, satirizando a moda das novelas de cavalaria, pôs termo às suas possibilidades." (Enciclopédia de Literatura Brasileira) Pôs termo mesmo? Não esquecer Ivanhoé de Sir Walter
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Scott, As brumas de Avalon de Marion Bradley, O senhor dos anéis de Tolkien, além de inúmeros livros infanto-juvenis.
O Gigante Morgante, companheiro de Roland em várias aventuras, protagonista do poema épico burlesco Morgante maggiori, de L. Pulci (séc. XV).
O Santo Graal, vaso do qual se teria servido Jesus Cristo na Ceia e que José de Arimatéia teria recolhido o sangue que lhe corria do flanco trespassado pelo centurião. Nos séculos XII e XIII muitos romances de cavalaria narravam a busca do Graal pelos Cavaleiros da Távola Redonda, companheiros do rei Artur. As obras mais conhecidas são as de Chrétien de Troyes, Robert de Boron e Wolfram von Eschenbach. Esta inspirou Richard Wagner a compor a ópera Parsifal.
Odet de Foix, monsenhor de Lautrec, que ainda muito jovem combateu com os franceses contra O Grande Capitão e herói espanhol Gonzalo Hernández de Córdoba, na batalha de Cerinola (1503), no reino de Nápoles.
Palmerins, ciclo de novelas de cavalaria iniciado na Espanha com o Palmerim de Oliva, de autor anônimo e que inspirou, a partir de 1586, uma série de romances análogos na literatura portuguesa, hispânica e francesa, com reflexos em toda Europa. Ao Palmerim de Inglaterra (1547), em duas partes, de Francisco de Morais, seguiram-se a terceira e quarta parte, em 1587, nas quais "se tratam as grandes cavalarias de seu filho, o príncipe Dom Duardos II", de autoria de Diogo Fernandes. A quinta e a sexta partes, publicadas em 1602, dizem respeito ao "príncipe Dom Clarisol de Bretanha, filho de Dom Duardos", de autoria de Baltasar Gonçalves Lobato, que utiliza amplamente elementos de cultura clássica e de mitologia.
Pedro Malasartes, herói de histórias populares da Península Ibérica do séc.XVI. Aventureiro cínico, astucioso, pilantra, em geral aplicava seus golpes nos ricos, avarentos, orgulhosos, fazendo-os de tolos perdedores. Transladado
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para o Brasil, aqui também fez das suas, ganhou notoriedade e simpatia popular, garantindo o seu lugar no folclore.
Pero da Covilhã (séc. XV-1545), viajante português, ficou célebre pela missão que lhe foi confiada, de ir por terra ao Oriente colher informações acerca do caminho marítimo para as Índias e do reino do Preste João das Índias, de quem os portugueses esperavam auxílio. Partiu em 1487 acompanhado do escudeiro Afonso de Paiva que falava árabe, com mapas, instruídos por cosmógrafos da corte, seguiram pela Espanha até Valência, depois Florença, daí para a ilha de Rodes. Disfarçados de mercadores mouros seguiram até Cairo, chegaram a Áden, onde se separaram: Pero da Covilhã partiu para a Índia e Afonso de Paiva, em demanda do Preste João das Índias. Esteve em Cananor, Calicute, Goa, Sofala e Ormuz, regressando ambos ao Cairo quase dois anos depois. Aí encontraram emissários de Dom João II, com cartas e Covilhã detalhou ao rei se poderia navegar do mar da Guiné para a Índia, em demanda da costa da Sofala ou da Ilha da Lua (Madagascar). Foi ainda à Meca e à Abissínia, tendo sido aí retido prisioneiro por cinco anos, embora bem tratado pelo rei. Em 1514 estava em Lisboa, voltou à Abissínia com uma embaixada de Dom Manuel. Pero da Covilhã e Afonso de Paiva jamais encontraram o Preste João das Índias, mas descobriram novas rotas de interesse de Portugal.
Pero Grullo, figura tradicional do folclore ibérico, proverbial autor de verdades tão evidentes que sua afirmação se torna desnecessária.
Pierre Terrail (1476-1524), Senhor de Bayard, guerreiro francês, cognominado "Cavaleiro sem medo e sem mácula", celebrizou-se na batalha de Fornovo (1495), campanha da Itália. Em 1515 foi nomeado lugar-tenente-geral do Delfinado por Francisco I que, na noite da batalha de Marignan, quis ser armado cavaleiro por suas mãos. O "Cavaleiro sem medo e sem mácula", foi inspiração de inúmeras gestas e romances de cavalaria.
Preste João das Índias, soberano cristão lendário que teria reinado num poderoso país situado na Ásia ou África, para além dos territórios conhecidos
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da Europa medieval. Seu reino foi, a partir do séc. XV, identificado com a Etiópia. Foi confundido com o chefe nestoriano da povoação turca da Mongólia, depois com o Cã mongol Hulagu, com soberanos da Etiópia. O desejo de chegar a esse aliado da cristandade foi uma das motivações ideológicas das grandes descobertas. O infante Dom Henrique de Portugal esperava encontrálo e obter o seu apoio como aliado na luta contra o Islã. Vários embaixadores do Preste João das Índias teriam estado na península ibérica em 1427, 1450 e 1452. A expedição para encontrá-lo foi dirigida por Pero de Covilhã, chegou à Abissínia em 1493 e acabou por ajudar na descoberta de novas rotas para o Oriente. Baltasar Teles, historiador português, escreveu História Geral da Etiópia, a Alta, ou Preste João. Marco Polo, em suas aventuras narrou: “Originalmente, os tártaros viviam ao norte, na Ciorcia [Manchúria]. Naquelas regiões, vêem-se grandes ribeiras, mas não há habitações, nem castelos nem cidades; já os pastos são bons e há muita água. De fato, eles não tinham senhorio embora pagassem renda a um homem muito importante, conhecido no mundo todo como Padre João. [Durante toda a idade media, corria a legenda deste temível Petre Gianni ou Preste Giovanni, de quem nos fala Marco Polo. Identificado como Togril, príncipe e sacerdote cristão nestoriano, ele foi derrotado em 1203 por Gêngis Khan (1155-1277), que o teria posto em fuga, na qual acabou morto.] Aconteceu que, em 1187, os tártaros proclamaram um rei, que se chamou Gêngis Khan, homem de muita valentia, bom senso e força. Quando foi aclamado, todos os tártaros que existiam no mundo, espalhado por aquelas regiões, foram ter com ele, reconhecendo-o como seu senhor. Gêngis Khan exerceu o poder com benevolência e as pessoas seguiam-no, espontaneamente, por causa de sua bondade. Com tantos a seu lado, Gêngis decidiu que queria conquistar o mundo. Mandou emissários ao Padre João com a mensagem de que lhe pretendia desposar a filha. Isto aconteceu no ano de 1200. Mas o Padre João, quando soube do pedido, respondeu com grande desprezo: “Não terá Gêngis vergonha de pedir minha filha para esposa? Não saberá ele que sou seu senhor? Voltai, portanto, e dizei-lhe que eu a queimaria, antes de concordar com tal casamento e também dizei ainda que eu o devo matar, como traidor. Parti imediatamente e não torneis mais a voltar.” Os mensageiros voltaram à presença do grande senhor e contaram em detalhes tudo o que Padre João tinha dito. Depois disso
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[Gêngis Khan], reuniu seus homens e mandou avisar ao padre que se defendesse. Este ficou muito contente e igualmente preparou seus guerreiros. Após aquele dia, tanto um lado como o outro terminaram os preparativos e, depois, combateram duramente: foi a maior batalha que alguma vez já se viu. Para os dois lados, foi uma carnificina, mas no final venceu Gêngis Khan. O Padre João morreu e, a partir de então, toda a sua terra passou para os tártaros. Tenduc [região ao norte da Muralha Chinesa] é uma província na direção do levante, onde há muitos castelos e cidades, todos pertencentes ao Grã-Cã, mas a sua gente é descendente do Padre João. A principal cidade tem também o nome de Tenduc e o rei Jorge é da linhagem do padre. [Há por aqui duas igrejas de cristãos nestorianos, construídas de 1278 para cá, conforme vou explicar: durante três anos, a partir desta data, foi senhor ali, em nome do Grã-Cã, um cristão nestoriano, que se chamava Masarchis (Dom Jorge): foi ele quem as fez construir e desde então ali se encontram.] Ficai sabendo que esta província era a capital quando o Padre João dominava os tártaros e, por isso, ainda há na região descendentes seus. (...) Tenho de dizer que, apesar de tudo, o Grã-Cã deu a este rei, descendente de Padre João, algumas de suas filhas e parentes, como esposas.”
Ptolomeu (Cláudio) (100-170), matemático, astrônomo, geógrafo grego que viveu na Alexandria, foi o mais célebre astrônomo da Antigüidade. A Grande sintaxe matemática, chamada de Almagesto pelos árabes, é a síntese dos conhecimentos astronômicos de seus antecessores, mas nela Ptolomeu desenvolveu o sistema geocêntrico, que dominou a astronomia até o aparecimento de Das revoluções dos mundos celestes, de Nicolau Copérnico, em 1543.
Reconquista, expressão que se refere à reconquista pelos cristãos da Espanha e Portugal, contra os invasores muçulmanos, durante a Idade Média. A fase de reconquista iniciou-se em 750 nas Astúrias e regiões montanhosas, prosseguindo lentamente: Navarra (840), Astúrias (910), Leão (910), Castela (951), Catalunha (985) e Aragão (1035), consolidaram a região geopolítica e no séc. XI os cristãos chegaram às margens do Tejo. A fragmentação dos muçulmanos em pequenos reinos (taifas), facilitou as vitórias decisivas em
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Tolosa (1212) e em Granada (1492). Os territórios recuperados foram colonizados por homens livres dotados de direitos reconhecidos (fueros) e não servos, como ocorria na Europa feudal. O contato com o mundo muçulmano revelou-se fecundo, trazendo conhecimentos, técnicas e usos que marcaram para sempre a península ibérica.
Romance, ficção romanesca, um legado da Antigüidade. O séc. XVII fazia remontar a arte do romance a Aristides de Mileto e a Antônio Diógenes. Podese considerar Dafnes e Cloé, de Longo, como o protótipo do romance de amor; a História verídica, de Luciano, como o modelo do romance filosófico; Asno de ouro, de Apuleio, como o primeiro romance picaresco. Na literatura da Europa Medieval o romance definiu-se de início, como um fenômeno lingüístico. Considerava-se romance tudo que não era escrito em latim. O romance de cavalaria apareceu sobretudo como sucedâneo do poema épico, colocado ao alcance do público mais popular. No fabulário há de se achar a pintura de caracteres, costumes e condições sociais que formam os traços fundamentais da literatura romanesca. Paródia nostálgica do romance de cavalaria, Dom Quixote de la Mancha, consagrando espaços anteriormente conquistados, solidifica a era do romance moderno: o herói negativo, anti-herói de uma antiepopéia, espelho e avesso, verso e inverso, consagra o desaparecimento dos limites da ética e o nascimento de uma estética nova e liberalizante. A partir de então, o romance passa a basear-se no relacionamento entre o homem e o universo. Escrever um romance é revelar a distância entre o ser e o seu objeto de desejo. Como em todas as artes, as regras rígidas, as teorias fixas, deram vez à liberdade criadora, fazendo com que o romance passasse a respeitar a ausência da harmonia entre componentes de uma mesma estrutura. Ao abordarem a falsidade dos romances, os escritores clássicos não os reprovam por contarem histórias fabulosas, inverossímeis, ao contrário, reconhecem que a razão de ser do gênero reside na constatação do afastamento entre a imaginação e a realidade. A dimensão do romance cresceu tanto que não é mais um mero fotógrafo da infelicidade, do fracasso, do ódio, da miséria. A escrita romanesca não só se recoloca no espaço da arte, mas resolve problemas técnicos, revelando fórmulas de extrema maleabilidade, a ponto de permitir modernamente aos escritores duvidarem da própria escrita. O
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desgaste da expressão literária levou ao culto do anti-romance, à recusa do herói tradicional, da psicologia flagrada diante de um universo plano, impenetrável, retilíneo, diante do qual o homem fica reduzido a um olhar. No entanto, o que parece o fim é apenas um começo: quanto mais estranha é a realidade mais ela estará presente. Mesmo diante do fantástico, do improvável, somente a linguagem romanesca pode reconstituir a realidade fragmentada pela História. O escritor é montador dos quebra-cabeças que a crônica cotidiana registra e despedaça a cada segundo.
Romanceiro ou Rimanceiro, coleção de chácaras ou solaus, isto é, de antigas narrativas de fatos imaginários, reais ou legendários, de caráter melancólico, em versos geralmente acompanhados de música, baseados em temas capazes de comover o ouvinte, próprios para serem cantados. Os romanceiros portugueses, galegos, franceses e espanhóis, representam inestimável tradição de literatura lírica, tesouro das poesias medievais. Por ter origem em literatura oral, o romanceiro se constituía na primeira forma literária transplantada para as terras conquistadas, estimulando o desenvolvimento da literatura local.
Saga é o nome genérico do conjunto de narrativas em prosa. Existem diversos tipos de saga: as sagas reais, as que são dedicadas a uma região, as sagas relativas a acontecimentos e ao povo, as sagas contemporâneas, referentes à história e fatos políticos, as sagas dos tempos antigos, romances de aventuras fantasiosas ou não, finalmente as sagas fantásticas, que escapam a qualquer classificação normal. As sagas são o elo da raiz dos romances de cavalaria e se afiguram inspiradoras de muitos romances de ficção científica, fantásticos, supra-realistas... afetando, também, a literatura de cordel nordestina.
San Diego Matamoros, o apóstolo Santiago el Mayor, patrono da Espanha. Segundo a lenda, apareceu montado sobre um cavalo branco lutando na batalha contra os mouros, sendo assim considerado o Libertador da Espanha.
San Martín (séc. IV), soldado e bispo de Tours (França), foi bem conhecido pela prática da caridade, como comprovado no célebre episódio da capa compartilhada com o pobre.
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São Francisco de Assis, fundador da Ordem dos franciscanos (1209), conhecido por sua humildade e amor aos animais. Diz a superstição popular que é mau agouro encontrar-se com algum frade logo pela manhã. Nos tempos modernos, também é mau agouro viajar em aviões com algum religioso a bordo (provavelmente devido à afinidade que o mesmo tem com o Pai Eterno).
Selim II, sultão da Turquia de 1566 até a sua morte em 1574.
Sierra Morena, região montanhosa do sul da Espanha que se estende da fronteira portuguesa, até o Alcaraz, nas proximidades de Albacete. A Serra Morena faz parte da Meseta Ibérica, constituída por planaltos suavemente ondulados, que vão de Castela Nova a Castela Velha, separados pelas serras de Guadarrama e Gredos, é limitada em sua periferia pelos Montes Cantábricos. Rebordo sul da planície de Guadalquivir, constitui uma vasta região, pouco habitada, recoberta por vegetação de maquis, um bonito cenário e itinerário para as aventuras de Dom Quixote.
Trebizonda, Império grego fundado em 1204 por netos do Imperador Andrônico I, a cidade de Trebizonda foi centro cultural e comercial de importância na Antigüidade. Capital do Império no séc. XIII, após a queda de Constantinopla em 1453, transformou-se em abrigo de refugiados. Caiu sob o domínio dos otomanos em 1461, tornando-se um império decadente, distante e sem valor algum. Por isso, proverbial.
Tribunal do Santo Ofício. Tribunal da Inquisição espanhola, instituído em 1478 pelos reis católicos Fernando e Isabel, para "salvaguardar a unidade da fé católica", especialmente contra judeus, mouros, hereges e simpatizantes. Foi estabelecido em todos os territórios da Coroa, suprimido somente em 1808 e por fim abolido em 1834. Funcionou também em Portugal de 1557 a 1826, com reflexos de sua atividade respingando no Brasil colonial.
Trovador, poeta da Idade Média, que não deve ser confundido com o troveiro. Os trovadores falavam a língua de Oc e corriam de castelo em castelo o sul da
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França para cantar seus poemas, recados, sonetos, canções, notícias, pois constituíam o correio da época. Narravam histórias e estórias, declarações de amor e de guerra, desafios e desistências, ascensões e quedas, batalhas e rendições, cantadas a esposas e donzelas, recadinhos e torpedos. Os troveiros eram os poetas do norte da França e particularmente da Picardia, falavam a língua de Oil, cultivavam a poesia épica ou lírica.
Zaratustra ou Zoroastro (628-551aC), rei da Pérsia, fundador do zoroastrismo ou masdeísmo reformado, cujos discípulos na Índia são chamados de parses. Dizia ter tido a visão de Ahura-Mazde, senhor da Sabedoria, o maior dos deuses e único digno de adoração e recebido a missão de pregar a verdade. Essa doutrina penetrou profundamente a religião da Pérsia aquemênida. O dualismo de Zaratustra também influenciou os judeus na época da diáspora, produzindo depois as diversas formas do maniqueísmo. Vulgarmente se atribui a Zaratustra a invenção da magia negra.
FIM
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O Autor: Salomão Rovedo [Sá de João Pessoa em Literatura de Cordel], n. 22/03/1942 em João Pessoa (PB), de família maranhense. Estudos iniciais e formação intelectual em São Luis (MA), desde 1963 reside no Rio de Janeiro. Éditos e inéditos: Abertura Poética (Antologia), Walmir Ayala/César de Araújo-CS, Rio de Janeiro, 1975; Tributo (Poesia)Ed. do Autor, Rio de Janeiro, 1980; 12 Poetas Alternativos (Antologia), Leila Míccolis/Tanussi CardosoTrotte, Rio de Janeiro, 1981; Chuva Fina (Part. Antologia), org. Leila Míccolis/Tanussi Cardoso-Trotte, Rio de Janeiro, 1982; Folguedos (Poesia/Folclore), c/Xilogravuras de Marcelo Soares-Ed.dos AA, Rio de Janeiro, 1983; Erótica (Poesia), c/Xilogravuras de Marcelo Soares-Ed. dos AA, Rio de Janeiro, 1984; Livro das Sete Canções (Poesia)-Ed. do Autor, Rio de Janeiro, 1987; Liriana (Contos); O Breve Reinado das Donzelas (Contos); Estrela Ambulante (Contos); O Pacto dos Meninos da Rua Bela (Contos); Ventre das Águas (Romance); Poesia de Cordel - O Poeta é Sua Essência (Ensaio Desaparecido); O Cometa de Halley e Outros Ensaios (Artigos Publicados em Jornais); Poesia: Pobres Cantares, 20 Poemas Pornôs e 1 Canção Ejaculada, Glosas Escabrosas (Xilogravura de Marcelo Soares), Suíte Picasso; Blues Azuis & Boleros Imperfeitos, Ventre das Águas, Amaricanto, Viola Baudelaireana e Outras Violas, Templo das Afrodites, Amor a São Luís e Ódio, Anjos Pornôs, Macunaíma (Em Cordel) Outros Publicou folhetos de cordel com o nome “Sá de João Pessoa”; Publicou o jornalzinho de poesia Poe/r/ta; Colaborações: Poema Convidado(USA), La Bicicleta(Chile), Poetica(Uruguai), Alén(Espanha), Jaque(Espanha), Ajedrez 2000(Espanha), O Imparcial(MA), Jornal do Dia(MA), Jornal do Povo(MA), A Toca do (Meu) Poeta (PB), Jornal de Debates(RJ), Opinião(RJ), O Pasquim(RJ), O Galo(RN), Jornal do País(RJ), DO Leitura(SP), Diário de Corumbá(MS) Endereço: Rua Basílio de Brito, 28/605-Cachambi 20785-000-Rio de Janeiro Rio de Janeiro Brasil Tel: 21 2201-2604 eBooks para baixa gratuita em: www.dominiopublico.gov.br/ http://www.4shared.com/dir/ http://www.logospoetry.org/ http://personales.ya.com/alkionehoxe/ http://www.revista.agulha.nom.br/ http://andar21.fiestras.com/ http://recantodasletras.uol.com.br/ http://www.logoslibrary.eu/ http://www.dominiopublico.gov.br/ http://www.belaspalavras.com/ Blog: www.salomaorovedo.blogspot.com