COZINHEIROS DEMAIS (Too Many Cooks - 1938)
Rex Stout
CAPÍTULO 1
Andando de um lado para outro, ao longo da plataforma ao lado do trem, na estação Pensilvânia, limpei o suor da testa e acendi um cigarro. Depois de ter passado pelo que passei, sentia que estaria pronto, assim que acalmasse um pouco os nervos, a entrar na concorrência para mudar a pirâmide de Quéops do Egito para o alto do Empire State Building usando só as mãos, e de short. Mas enquanto dava a terceira tragada fui interrompido pelas batidas em uma das janelas por que passava. Virei para espiar pelo vidro e dei de cara com a expressão desesperada de Nero Wolfe, sentado na poltrona da cabine que havíamos reservado em um dos pullmans último tipo, local onde eu finalmente conseguira depositá-lo intacto havia pouco. Ele gritou para mim através da janela fechada: — Archie! Seu infeliz! Venha já pra dentro! O trem vai partir. As passagens estão com você! Gritei de volta: — Você disse que aí dentro era abafado demais para fumar! São 9h32. Resolvi não ir mais! Divirta-se! Caminhei bem devagar. Passagens uma ova. Não eram as passagens que o incomodavam. Ele morria de medo de ficar sozinho no trem, pois este era bem capaz de se mexer. Odiava coisas que se moviam, e gostava de dizer que nove entre dez lugares para onde as pessoas iam não eram nem um pouco melhores do que aqueles de onde vinham. Mas, graças à minha iniciativa, ele chegou à estação vinte minutos antes da partida, apesar de empecilhos como três valises, duas malas e dois sobretudos para uma viagem de quatro dias no mês de abril, Fritz Brenner parado nos degraus com os olhos cheios de lágrimas enquanto deixávamos a casa, Theodore Horstmann correndo para fora, após termos enfiado Wolfe no sedã, para fazer outras tantas dúzias de perguntas sobre as orquídeas, ou até mesmo os soluços do pequeno Saul Panzer, ao
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