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JUNHO 2011 - REVISTA Nยบ 3
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Esta revista é o resultado combinado do esforço de concurseiros e autores voltados para concursos públicos e tem como objetivo ajudar o máximo possível de concurseiros a encontrar novos e melhores métodos e técnicas de estudo, motivação para continuar estudando com seriedade e determinação a fim de conquistar a tão sonhada posse na administração pública.
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Coordenador e Editor
CHARLES DIAS concurseirosolitario@gmail.com
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Trabalhar e estudar em época de suspensão dos concursos federais
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A realidade da maioria dos candidatos é precisar conciliar trabalho e estudo
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Entrevista: Lia Salgado, concurseira vencedora, Fiscal de Rendas e palestrante
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Yes, we can!
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Como quem trabalha pode estudar melhor e memorizar as matérias para concursos públicos?
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Entrevista: Alexandre Mazza doutor, advogado, palestrante, conferencista e autor
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É possível trabalhar e estudar sério para concursos públicos?
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Fragmentação do plano de estudos e preparação de alto rendimento
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Entrevista: Rogério Neiva, Juiz do Trabalho, psicopedagogo e criador do Tuctor
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7 passos para se tornar um concurseiro eficaz
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Limite de idade para concurso de ingresso nas forças armadas: parâmetros e consequências práticas
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Ensaio sobre a cegueira: como você anda julgando sua própria organização?
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E os vencedores do 2º Concurso de Artigos do Blog são...
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É possível aliar estudo para concursos e trabalho?
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Inveja, preconceito e outras drogas
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Um planejamento para o concurseiro trabalhador
Revisão
BIA NUNES DE SOUSA bianunesdesousa@gmail.com cascodatartaruga.blogspot.com
Editorial
Editoração
CARLOS RELVA carlosrelva@gmail.com carlosrelva.blogspot.com
Articulistas
William Douglas Lia Salgado Charles Dias Alexandre Mazza Alexandre Meirelles Rogério Neiva Enaldo Fontenele Raquel Monteiro Cleber Olympio Ana Paula de Oliveira Mazoni Luiza Ricotta Flavia Crespo Jerry Lima
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Para entrar em contato com os autores, envie Lançamentos de livros WWW.CONCURSEIROSOLITARIO.COM.BR JUNHO 2011 - REVISTA Nº 3 e-mail para concurseirosolitario@gmail.com
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As imagens usadas nesta revista são “copyright free” e disponibilizadas no site www.sxc.hu
EDITORIAL
Em abril de 2010 lançamos aquela que seria a primeira edição desta revista. Uma “aventura” muito bem planejada e executada que faz tempo ultrapassou a marca dos 20 mil downloads e se aproxima da marca dos 30 mil. Um feito marcante que se repetiu em dezembro de 2010 com o lançamento da segunda edição da revista, que também já superou a marca dos 20 mil downloads. E agora, mais experientes, mais motivados e, principalmente, com ainda mais vontade de nos superarmos, lançamos esta que é a terceira edição da Revista do Concurseiro Solitário. Da primeira edição até esta que você lê agora, passou-se pouco mais de um ano. Pouco tempo, mas, como diz o velho ditado popular, foi o suficiente para “muita água passar por debaixo da ponte”. O blog cresceu, ficou mais famoso, alguns já passaram em concursos e foram empossados, outros estão prestes a isso, nossos parceiros confiam mais em nosso potencial; enfim, esta edição foi feita em condições muito diferentes (melhores, claro) que as edições anteriores. E para a terceira edição da revista não poderíamos deixar de ter três convidados muito especiais. Falando de sua extraordinária trajetória concurseira, Lia Salgado é a prova viva de que tornar-se servidor público pode mesmo promover uma mudança enorme na vida de quem precisa disso. Rogério Neiva, criador do famoso website de planejamento de estudos Tuctor, fala de estudo de alto rendimento, algo almejado por qualquer concurseiro sério. E temos também o famoso professor twitteiro Alexandre Mazza, autor de um dos melhores livros de Direito Administrativo para concurseiros, que fala sobre como memorizar mais fácil tudo o que se tem de estudar para concursos públicos, o que não é pouca coisa. E temos também artigos de duas grandes celebridades do cenário concurseiro, William Douglas, o guru dos concurseiros, e Luiza Ricotta, psicóloga e coach de desenvolvimento profissional e pessoal de candidatos à carreira pública, que falam sobre o assunto tema desta edição. Claro, temos também artigos exclusivos da equipe do blog. Para quem esperava o resultado do 2º Concurso de Artigos do blog, trazemos nessa edição não apenas o nome dos ganhadores, mas também seus textos! Enfim, esta edição está mais do que vitaminada e, para torná-la ainda mais interessante, você verá em primeira mão como será a capa do primeiro livro escrito por toda equipe do blog e que será lançado pela editora Campus Elsevier no final de maio. Boa leitura e bons estudos! Charles Dias é servidor público federal, editor do blog Concurseiro Solitário e concurseiro.
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ARTIGO
TRABALHAR E ESTUDAR EM ÉPOCA DE SUSPENSÃO DOS CONCURSOS FEDERAIS
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Por WILLIAM DOUGLAS, Juiz Federal e guru dos concurseiros
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uito se tem falado nos últimos meses sobre a suspensão dos concursos públicos na esfera federal durante o ano de 2011; isso porque, em 28 de fevereiro, foi divulgada pelo Ministério do Planejamento a notícia da suspensão de novos concursos, complementada pela informação de que aqueles que já estão em andamento e os que foram finalizados, mas cujos cursos de formação ainda não foram concluídos, também serão suspensos/cancelados. Tais notícias têm deixado muitos concurseiros sem dormir, especialmente aqueles que, aprovados dentro do número de vagas ofertadas, segundo a decisão (arbitrária) do governo, correm o risco de perder suas colocações. Além do desrespeito ao cidadão, que depende de um serviço público federal de qualidade prestado por servidores dedicados e comprometidos como são os concursados, a suspensão é um desrespeito a quem vem se preparando para as provas que foram muito incentivadas durante os oito anos do governo anterior. E maior desrespeito ainda àqueles que conquistaram o seu direito (conforme entendimento do STF e STJ) à colocação e que serão prejudicados pelo cancelamento das posses, assunto que relatei e desenvolvi em alguns artigos publicados anteriormente. É importante lembrar, contudo, que os editais de concursos que não são federais continuam em aberto e sendo lançados a cada dia. Os governos estaduais, a justiça estadual (Ministério Público, Procuradoria etc.), as prefeituras e as universidades, só para citar alguns exemplos, não desaceleraram o ritmo e continuam com vagas abertas a serem preenchidas por quem está na fila e não deixou de estudar por conta da suspensão. Portanto, falarei sobre a conciliação entre o estudo e o trabalho, situação que muitos dos que se preparam para concursos enfrentam, em meio, ainda, à tensão causada pela suspensão dos concursos. Administrar o tempo a ser dedicado para cada uma das atividades é uma tarefa central na vida de quem se prepara para concursos, principalmente daqueles que já estão no mercado de trabalho, e pode ser um diferencial na hora da aprovação. No livro Como passar em provas e concursos, estabeleço dois pontos determinantes para uma boa administração do tempo de estudo. O primeiro é a responsabilidade e o segundo, a flexibilidade flexibilidade. A responsabilidade é, fundamentalmente, com os objetivos a serem alcançados. Quem se prepara para concursos e já trabalha na iniciativa privada, como profissional liberal ou em uma área do serviço público
diferente da que almeja o faz para, em geral, ao conseguir a aprovação, ter uma situação financeira mais confortável, poder auxiliar a família e ter mais tempo para realizar as atividades de que gosta. Desse modo, o estudo é o caminho para se alcançar o objetivo e, para trilhá-lo, é preciso dedicação, compromisso, esforço e flexibilidade. A flexibilidade é a capacidade do concurseiro de lidar com contratempos e adversidades que podem surgir e atrapalhar seus estudos, como carga de trabalho elevada, patrão muito exigente, excesso de atividades, falta de tempo etc. Para contornar esses problemas, o primeiro passo é planejar bem seus horários, separando tempo para o estudo, tempo para a família, tempo para o trabalho e tempo para o descanso. Como muitos sabem e muitos livros ensinam, existe um sem-fim de técnicas de estudo, das quais ao menos uma vai se encaixar em seu perfil e ser ideal para a distribuição de sua carga horária. Mas, mais importante que ter uma boa técnica, é saber aproveitar as oportunidades e o tempo livre para ler e rever a matéria. Seja o tempo de deslocamento casa-trabalhocasa, da fila do banco ou das atividades diárias (lavar louça, passar roupa) é sempre possível estudar nos intervalos das atividades, mesmo que apenas mentalmente. Um ponto importante na preparação é distinguir a qualidade da quantidade de estudo. Muitas vezes a quantidade de estudo é tomada como o elemento mais importante. Já ouvi relatos de concurseiros que acham que não estão se preparando de forma adequada porque não estudam oito horas por dia. Não adianta estudar muitas horas por dia sem o foco e a atenção que dão qualidade ao estudo. Às vezes, uma hora de leitura atenta é mais produtiva que seis horas de estudo disperso. A qualidade do seu estudo está diretamente relacionada à otimização de suas atividades e, para isso, é preciso se focar na utilidade do trabalho que está desempenhando. Quando no trabalho, esqueça o estudo e os outros problemas e produza o melhor possível, ao acabar o expediente, não leve o trabalho para casa. Se o seu trabalho permite que você fique algum tempo livre, sem realizar atividades, utilize esse tempo para estudar. Se você trabalha com leitura, procure ler com foco, para que compreenda e consiga resolver os problemas na primeira leitura. Quando em casa, dê atenção aos filhos e ao cônjuge, ou aos seus pais, tire algum tempo para saber como foi o dia deles – o que pode ser durante o jantar – e parta para o estudo. Seus familiares devem participar ativamente do seu objetivo; sem a ajuda deles, pode ser muito difícil se preparar.
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ARTIGO
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ARTIGO
A REALIDADE DA MAIORIA DOS CANDIDATOS É PRECISAR CONCILIAR TRABALHO E ESTUDO Por LIA SALGADO, concurseira vencedora, Fiscal de Rendas do município do Rio de Janeiro, autora e palestrante de concursos públicos
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uando a gente inicia um projeto sério, gostaria de ter todo o tempo do mundo para se dedicar a ele mas, na verdade, isso nem sempre é a melhor estratégia. A preparação para concurso público assemelha-se a uma preparação física e requer condicionamento gradativo. Assim, mesmo que a pessoa tenha todo o dia livre, não poderá dedicá-lo inteiramente ao estudo no início, porque seria insuportável e, na melhor das hipóteses, improdutivo. O projeto “Concurso Público” requer um tempo relativamente longo para oferecer resultados. Alguns meses ou até anos, conforme o cargo almejado.
Por isso mesmo, é um pouco temerário deixar o emprego para ficar somente estudando. A pressão por resultados aumenta e isso pode comprometer o bom andamento da preparação. Então, se você trabalha, ótimo! Se não está satisfeito com o tipo de atividade que realiza, ou com o salário, ou com as perspectivas de futuro, e decidiu fazer concurso público, ótimo também! As duas coisas não são incompatíveis. É só uma questão de organizar o tempo para fazer cada coisa na sua hora e conciliar as tarefas. Vamos supor que uma pessoa trabalhe todos os dias das 8h às 17h ou das 9h às 18h. Em primeiro lugar, é interessante buscar o apoio de um curso preparatório. Essa providência não é obrigatória, mas é bastante útil e tende a
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ARTIGO acelerar a aprovação. Isso porque os professores funcionam como “treinadores”, facilitando o entendimento de conteúdos muitas vezes absolutamente novos para o aluno. Além disso, eles orientam o foco do estudo, com base no conhecimento que têm de concursos anteriores e de como as matérias vêm sendo cobradas. Existe a opção de fazer o curso presencial, e aí temos a vantagem do convívio com colegas que estão na mesma batalha, também enfrentando dificuldades; a troca de informações pode suavizar a jornada e melhorar a motivação de todos. Há, ainda, a opção dos cursos via internet, que costumam ser mais baratos e têm a vantagem de eliminar o tempo e a despesa de deslocamento. Além disso, levam conhecimento de qualidade a todos os cantos do País, a locais que podem não dispor de uma unidade de curso presencial. Mas é preciso que o aluno tenha acesso à internet de boa qualidade. E também que seja capaz de criar uma rotina para assistir às aulas. Às vezes, o fato de saber que o material estará ali disponível por algum tempo pode fazer com que o aluno adie quase indefinidamente o momento de começar a estudar. Em alguns locais do País, existe a opção intermediária, que são as aulas via satélite. Cursos que oferecem salas com telão e recebem transmissão de aulas que estão sendo ministradas em grandes centros. O início do processo, então, seria separar algumas horas da semana para assistir às aulas e algum tempo para estudar as informações recebidas. As duas coisas precisam acontecer de forma paralela, para que se consiga o melhor resultado. De nada adianta acumular horas de aulas assistidas sem trabalhar as informações a partir do estudo e da resolução de questões didáticas. Por exemplo, o aluno pode assistir a aulas às segundas, quartas e sextas e estudar às terças, quintas e aos sábados. Ou, se o tempo for mais escasso, assistir a aulas duas vezes por semana e estudar somente no sábado, por mais tempo. Assim, o mais seguro é criar uma rotina que inclua o estudo na vida da pessoa, otimizando o tempo dedicado a outras tarefas. É muito importante manter o equilíbrio das atividades, de maneira a garantir uma boa saúde – fundamental para o bom rendimento nos estudos e para a continuidade do projeto. Dessa forma, é essencial preservar as horas de sono (são utilizadas pelo cérebro para
o processo de memorização), cuidar da alimentação saudável e regular, praticar atividade física – pelo menos uma caminhada de 40 minutos, 3 vezes por semana (melhora a atividade cerebral e reduz o estresse). O lazer também deve ser incluído na programação, claro que de forma mais restrita – um dia na semana – e sem excessos que possam prejudicar o estudo no dia seguinte. Quem decide iniciar um projeto como esse mostra que tem coragem de lutar pela vida. Mas como a caminhada é um pouco longa, é preciso ter sempre em mente o objetivo que se busca: segurança, bom salário, qualidade de vida. Essa clareza funciona como suporte nos momentos difíceis. Podem acontecer imprevistos diversos, como adiamento de concursos, algum impedimento no período da prova, reprovações. O candidato deve estar preparado para enfrentar essas frustrações sem perder o foco. É respirar fundo e seguir em frente sempre, até a vaga. Problemas acontecem com todo mundo, inclusive com quem venceu. A fim de minimizar a questão de falta de tempo, o que algumas pessoas fazem, e parece razoável, é deixar para tirar férias ou licença antes de um concurso importante, a fim de intensificar o ritmo. Entretanto, há candidatos que, quando percebem que estão muito perto da aprovação, optam por fazer um investimento total para o concurso seguinte. Traduzindo, deixam o emprego. É preciso avaliar com muita cautela antes de tomar essa decisão. A partir do momento em que alguém investe todos os seus recursos em algo, começa uma contagem regressiva de tempo que intensifica a cobrança e o estresse. Além disso, a reserva financeira pode escassear antes da aprovação. É preciso levar também isso em conta. Mas se a pessoa tem situação financeira garantida e, analisando os resultados obtidos em concursos anteriores, observa que está mesmo a um passo da aprovação, pode ser uma possibilidade a ser considerada. Em qualquer caso, o mais importante é criar um ritmo continuado de estudo, de acordo com o tempo possível. Na verdade, a grande maioria dos concurseiros padece dos mesmos males: falta tempo, falta dinheiro, sobra cansaço e estresse. Tudo bem! Só não pode faltar determinação e perseverança. Com isso, mais cedo ou mais tarde se alcança a vaga. E aí, não importará quanto tempo foi necessário até chegar lá, todo dia será dia de comemorar...
Concurseiros tendem a achar que estão sozinhos na guerra dos concursos públicos, que enfrentam dificuldades que lhe são exclusivas, que lutam sozinhos contra tudo e todos. Se por um lado isso tem um forte poder de motivação, por outro lado é potentíssimo quando o assunto é desmotivar, desanimar, fazer querer desistir. O livro de Lia Salgado, um verdadeiro diário de bordo de sua trajetória vitoriosa como concurseira, é ao mesmo tempo um desmitificador de que somente você enfrenta problemas em maratona concurseira e uma injeção de ânimo. Vale a leitura, com toda certeza. Com Vencer a Maratona dos Concursos Públicos - Por: Lia Salgado - Editora Litera, 108 págs
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ENTREVISTA trazer surpresas e eu gosto de aproveitá-las. Para isso, trabalho duro todos os dias para ser uma pessoa mais inteira, tranquila e feliz. O futuro? Só o tempo dirá... Como foi para você escrever Como vencer a maratona dos concursos públicos? Qual era sua intenção com o livro? No início eu nem imaginava que seria um livro, era simplesmente uma forma de desabafar durante a fase final da minha maratona. Quando eu me deitava pra dormir, lá pelas 11h30 da noite, pegava umas folhas de papel e escrevia, de qualquer jeito, e jogava ao lado da cama. Somente depois de ter sido aprovada e reler tudo aquilo, percebi que poderia ser desenvolvido para se tornar um livro. Achei importante contar pra todo mundo a parte obscura da trajetória. Até então eu sempre via pessoas aprovadas, felizes, e ficava com a sensação de que as dificuldades que eu vivia eram erradas e significavam que eu não tinha chances de passar. Por isso, quis quebrar esse mito e mostrar que mesmo uma pessoa com tantos obstáculos era capaz de vencer.
Quem é Lia Salgado? De onde ela veio, onde ela está e para onde ela vai? Bem, o texto padrão é: Lia Salgado, fiscal de rendas do município do Rio de Janeiro, autora do livro Como vencer a maratona dos concursos públicos, consultora em concursos públicos. Ou: Lia Salgado, quatro filhos, divorciada, estudou durante três anos até ser aprovada no concurso... Lia era uma menina cheia de sonhos e de vontade de transformar o mundo. Em algum momento, as coisas não deram muito certo e foi preciso encontrar uma solução. Hoje sou fiscal de rendas do município do Rio de Janeiro. E tenho muito orgulho de ser servidora, posição que conquistei com o meu esforço. Quase oito anos depois de aprovada no concurso, ainda sou uma pessoa em mutação. Tornar-me servidora abriu portas que não poderia imaginar quando estava estudando. Escrevi um livro, passei a fazer palestras, sou colunista do G1 (site da Globo). E o mais bacana é saber que posso, de alguma forma, ajudar as pessoas com tudo isso. Para onde vou é a parte mais difícil (risos). Tenho muitos projetos. O mais imediato é escrever um complemento do livro Como vencer..., detalhando os aspectos objetivos da preparação. Mas a vida gosta de me
Que tipo de feedback você recebeu dos leitores? O que aprendeu com eles nesse processo? O que ensinou? Foi uma delícia receber o retorno dos leitores. Foram tantos relatos emocionados, agradecidos, dizendo que eu mostrava pra eles que é possível vencer... Foi gostoso saber que eles buscavam forças no livro quando estavam fraquejando. Eu chorava junto, me emocionava também. Sei bem o quanto dói cada passo dessa estrada. Por outro lado, quando eu conto que fui reprovada três vezes, que tinha muita dificuldade em algumas matérias, eles percebem que somos iguais. O que ensinei? Somente que quem vence é gente comum, com dificuldades, medos e erros, mas que segue adiante até conquistar o objetivo. Você acha que atualmente a luta por um cargo público é mais acirrada e difícil que quando você batalhava por seu “lugar ao sol”? Por quê? Infelizmente, acho. Quando eu comecei a estudar, em 2000, o mercado de concurso público era mais restrito, pouca gente conhecia esse tipo de possibilidade. Atualmente, quase todo mundo pensa nessa opção. A garotada que está concluindo o nível médio já põe na balança: faculdade ou concurso? Bem, pelo menos é o que acontece aqui no Rio de Janeiro, que sempre teve tradição de serviço público, por ter sido capital federal. Além disso, parece que a própria administração pública percebeu que pode receber servidores já prontos, com conhecimento profundo dos assuntos que envolvem sua futura atividade. Assim, os conteúdos programáticos cobrados nos concursos foram se tornando mais profundos e abrangentes.
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ENTREVISTA A boa notícia é que também as oportunidades de estudo são hoje mais diversificadas e a qualidade dos livros e cursos também acompanhou a necessidade do mercado. Estou falando de aulas pela internet, que democratizam efetivamente o acesso ao conhecimento em todos os pontos do País, de editoras especializadas, livros específicos para as principais bancas examinadoras etc. E que ninguém se assuste: concurso público sempre foi e será uma fila. É somente uma questão de seguir estudando, corrigindo as falhas da preparação, até chegar à vaga. Muita gente deseja, mas só quem der os passos vai vencer. Os outros são apenas números. O que sua luta para ingressar no serviço público lhe ensinou e ainda hoje é útil tanto no trabalho quanto na vida? A maior lição foi descobrir que a gente é responsável pela própria vida. Isso assusta, mas, ao mesmo tempo, dá uma sensação de poder muito grande, de que a gente pode transformar a própria vida. Vejo meus filhos, que tanto foram sacrificados durante os três anos do meu estudo, falarem da mãe com orgulho e brilho nos olhos. Ficou o registro de que somos capazes de vencer: é uma questão de decidir e dar os passos necessários, apesar das pedras do caminho. Essa é a melhor herança que deixo para eles. Hoje, além de ser servidora pública, você é uma celebridade concurseira, autora, colunista, palestrante. Qual o peso dessa fama e de ser exemplo e referência para milhares de concurseiros por todo o Brasil? É bastante responsabilidade! Mas encaro isso com tranquilidade, porque a minha história é real e vivo o que falo. Por outro lado, fico feliz por saber que compartilhar a minha experiência pode motivar outras pessoas a também transformarem sua vida. Em seu livro você não “açucarou” os momentos mais difíceis de sua luta na guerra dos concursos, como muitos concurseiros fazem a fim de dar a entender que a luta foi mais leve do que na realidade foi, que passar não exigiu tantos sacrifícios assim. Por quê? Sempre preferi a pior verdade a uma doce mentira. É assim que conduzo a minha vida e educo os meus filhos. Não poderia fazer de outra forma no livro. Além disso, acho que iniciar um projeto com ilusões quanto ao que terá de enfrentar pode fazer com que a pessoa desista quando se deparar com a primeira pedra do caminho. Então eu exponho, sim, as dificuldades, mas mostro que é possível superá-las. Essa é a minha história. Muita gente não gosta que se diga explicitamente que é difícil passar em concursos públicos, a fim de não desmotivar quem ainda não passou. O que você pensa disso?
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Pois é. Concurso público requer coragem como qualquer projeto de mudança. Eu entendo a preocupação das pessoas com não desmotivar quem está começando, mas acredito que alertar para o que vem pela frente, de forma sincera, é mais útil do que deixar o candidato desprevenido. É claro que é preciso “temperar” as informações mais duras com recursos de motivação e confiança. Mas, se a gente, que já passou por isso, não avisa, o candidato pode achar que o problema é só com ele, que por isso não será capaz de vencer. Prefiro desfazer os mitos e mostrar que todos – com raríssimas exceções – passam pelas mesmas dificuldades. E vencem! Com você vê a questão dos sacrifícios para estudar para concursos públicos? Valem mesmo a pena? São mesmo necessários ou podem ser evitados? Quais foram os sacrifícios que você teve de fazer? Alguns sacrifícios são necessários, outros não. Muita gente constrói uma rotina de sacrifícios, na ilusão de que ajudarão a passar, e o efeito tende a ser o inverso. O que faz a gente ser aprovado é o equilíbrio e a continuidade, não o sofrimento. Fosse assim, eu teria sido rapidamente aprovada e não teria levado três anos! Abrir mão de algumas coisas é necessário sempre que se pretende conquistar algo. O lazer fica restrito, mas deve existir, para garantir a estabilidade emocional. O tempo com amigos e família fica reduzido, mas deve ser encaixado na programação semanal, caso contrário o projeto começa a se tornar muito pesado. É preciso fazer algumas concessões para preservar a estabilidade emocional e suavizar as inevitáveis cobranças em razão da ausência. Finalmente, quais conselhos você dá para quem ainda está estudando e lutando pela aprovação em concursos públicos? Como não desanimar diante das dificuldades? Como ter força para fazer os sacrifícios necessários? Como passar em concursos públicos? Acho que o mais importante é saber o que buscar. Ok, bom salário, qualidade de vida; mas em que isso vai transformar a sua vida? É sempre bom ter clareza do que, concretamente, se vai conquistar: uma casa nova, viagens, melhor escola para os filhos? Às vezes é bom viajar mesmo e pensar o que poderá ser realizado com aquele salário e imaginar como ficará a vida. Tudo isso ajuda a enxergar um pouco além do momento de dificuldades, cansaço e privações. Vale lembrar que, apesar da estrada um pouco longa, o prêmio de uma vida melhor está logo depois da faixa de chegada. E há uma vida inteira para usufruí-lo! Como passar? Resumindo o que comentamos aqui: equilíbrio e continuidade. Mais detalhes? Há um livro no mercado: Como vencer a maratona dos concursos públicos, de uma certa Lia Salgado (risos)... Pode ajudar! Grande beijo e sucesso!
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ARTIGO
YES, WE CAN!
Por CHARLES DIAS, Servidor público federal, editor do blog Concurseiro Solitário e concurseiro
“
Yes we can” foi o tema da propaganda política do candidato a presidência dos Estados Unidos Barack Obama na eleição de 2009, que teve origem com seu discurso após a vitória nas primárias de New Hampshire e que significa um simples, porém poderoso, “Sim, nós podemos”, que é também a resposta para a pergunta de capa desta edição da Revista do Concurseiro Solitário. Não há dúvidas de que os estudos para concursos públicos são perfeitamente compatíveis com o trabalho na iniciativa privada, em que pese não ser algo fácil ou simples de ser feito, visto o pouco tempo livre disponível para dividir entre os compromissos cotidianos, necessidade de descanso e a exigência de estudos sérios e rigorosos para concursos públicos. Infelizmente, grande parte das pessoas interessadas em estudar para concursos públicos não pode se dar ao luxo de abandonar o trabalho para estudar em tempo integral as matérias previstas nos editais. É preciso trabalhar para pagar as contas, ajudar a sustentar a família, até pagar pelos livros e taxas de inscrições dos certames que se quer prestar. Em vista disso, essas pessoas deparam com uma difícil situação, a de ter de encontrar tempo e, principalmente, motivação para estudar um pouco que seja diariamente e assim se preparar pouco a pouco, a contagotas, para um dia passarem no concurso, serem nomeados e empossados servidores públicos.
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OS PRINCIPAIS OBSTÁCULOS São vários os obstáculos encontrados por quem tem de conciliar trabalho e estudos para concursos públicos, alguns mais complicados e difíceis de serem superados que outros, porém todos igualmente possuidores do potencial de minar os esforços e a motivação dos concurseiros trabalhadores. Vejamos quais são os principais, como as pessoas costumeiramente lidam com eles e como devem ser lidados de forma ideal. “Não tenho tempo para estudar” Sim, você tem tempo para estudar. São raras as pessoas que absolutamente não podem dedicar algumas horas diárias aos estudos para concursos públicos, geralmente aquelas que trabalham em dois empregos. O que você não tem é seu tempo livre organizado de forma cuidadosa a fim de encaixar blocos diários de estudo para concursos públicos em sua rotina cotidiana. “Tenho de planejar melhor meus estudos” A falta de planejamento de estudos é fatal para qualquer concurseiro que se propõe a estudar seriamente para concursos públicos, e o planejamento deficiente ou que não é seguido tem também um grande potencial de minar os esforços da pessoa no sentido de se preparar para os cada vez mais difíceis e concorridos certames. É preciso planejar os estudos, planejar bem, de forma realista e realizável e, claro, seguir o planejamento desenhado.
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para estudar sério para concursos públicos que os casados com filhos, que, além de terem de dedicar grande parte do seu tempo ao trabalho, também não pode deixar de lado os filhos para se dedicar aos estudos. Temos também a diferenciação no, digamos, espaço residencial. De um lado temos quem mora sozinho e, portanto, dispõe de espaço e tranquilidade para poder estudar. Temos também aqueles que apesar de não morarem sozinhos, moram com poucas pessoas que acabam não atrapalhando em sua rotina de estudos. Finalmente temos aqueles que moram com muita gente e, por isso, não têm paz nem lugar para estudar em casa, tendo de recorrer a locais públicos para isso. Claro que há muito mais realidades tão prementes quanto as apresentadas e que com toda certeza podem afetar tanto positiva quanto negativamente os esforços de quem quer estudar a sério para concursos públicos. Só para citar temos a realidade econômica, que muitas vezes impede o acesso aos melhores livros e cursinhos, a realidade de base de conhecimentos, tornando necessário que o concurseiro estude muito mais para poder aprender, e assim por diante. O que importa mesmo é que dificuldades existem, mas que podem e devem ser superadas. TUDO É UMA QUESTÃO DE BOA VONTADE E PLANEJAMENTO Aprender com exemplos é muito mais fácil que aprender com base na pura teoria. Por isso mesmo que tal conhecer dois concurseiros e suas realidades, para então aprender de forma prática como com boa vontade e planejamento é possível, sim, encontrar tempo para estudar com seriedade para concursos públicos? Ótima ideia, não? Então mãos a obra. Paulo FF.. tem 23 anos, é solteiro e não tem namorada. Filho único, ainda mora com os pais, trabalha como técnico de informática em uma empresa de médio porte. Como não pode ainda fazer faculdade por questões financeiras, resolveu estudar para concursos públicos a fim de ganhar melhor. Vejamos agora como é sua rotina semanal. Segunda a sexta-feira ○
“Estou desmotivado para continuar estudando” Motivação é o que o leva a realizar determinada ação (motivo + ação = motivação). Quem estuda para concursos públicos faz isso a fim de conquistar alguma coisa; para alguns é uma renda maior, carro novo, casa própria, para outros é não depender da boa vontade de chefes chatos para continuar empregado, é a independência financeira. Quando falta motivação é porque nos esquecemos do porquê estudamos para concursos públicos. Se sempre nos lembrarmos disso, nunca nos faltará motivação. “Também tenho de descansar e me divertir” Sacrifício é abrir mão do bem-estar presente em nome de um bem-estar maior futuro. Muita gente, simplesmente, não quer sacrificar algumas horas diárias livres hoje para estudar seriamente para concursos públicos, porém querem tudo de bom que a posse em um bom cargo público traz. Incoerência, para dizer o mínimo. Como diz o bom e velho ditado popular, “Não há bônus sem ônus”, ou seja, você somente se tornará servidor público se abrir mão hoje de uma boa parte do seu pouco tempo livre para descanso e diversão, isso é fato. “Será que vale a pena tanto sacrifício?” Se há algo certo para quem estuda a sério para concursos públicos é que em algum momento a pessoa terá dúvidas se tanto sacrifício e esforço realmente valem a pena. Se de um lado a dúvida é positiva, uma vez que impede que a pessoa fique confortável demais e repense o que está fazendo em busca de pontos fracos e erros, de outro lado tem o grande potencial de desanimar mortalmente. Notem que esses são apenas os mais comuns dos diversos obstáculos enfrentados por quem trabalha e estuda para concursos públicos. Há muitos outros, alguns bastante particulares, que igualmente devem ser enfrentados e superados pelos concurseiros, alguns várias vezes, para que a intenção de estudar a sério não fique somente nisso, na intenção.
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7h30 Acordar 9h Chegar ao trabalho 12h-13h Almoçar 18h Ir para casa 22h30 Dormir Nos fins de semana, Paulo não tem compromissos a não ser o futebol com os amigos na manhã de domingo. De cara é possível verificar que: • Paulo dispõe de bastante tempo que pode ser utilizado para estudar para concursos públicos. • Por morar apenas com os pais, Paulo dispõe de relativa tranquilidade para estudar. • Por trabalhar, Paulo dispõe de recursos próprios, limitados que sejam, para investir nos estudos. ○
DIFERENTES REALIDADE, DIFICULDADES DIVERSAS É fato que todos têm problemas para conciliar estudo sério para concursos públicos com a necessidade de trabalhar, porém antes de propor algumas possíveis soluções para esses problemas, é necessário ter em mente que a realidade enfrentada é diferente de pessoa para pessoa e, por isso, as dificuldades a serem vencidas são diversas. A diferenciação começa no, digamos, status conjugal. De um lado temos os solteiros sem relacionamento que não precisam se preocupar em como lidar com a questão “tempo para o relacionamento x necessidade de estudar”. Temos também os solteiros com relacionamento estável que estão em um meio-termo entre o primeiro tipo e quem é casado, que não têm liberdade total, mas também há bem mais tolerância por parte da outra pessoa... geralmente. De outro lado temos os casados sem filhos que têm uma situação bem mais confortável em termos de se sacrificar
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ARTIGO para que possa se dedicar seriamente aos estudos.
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• Em virtude das dificuldades, Cristiane terá de fazer um esforço extra para se manter motivada e animada para estudar dia após dia apesar de ter jornada de trabalho dupla, na empresa em que trabalha e em casa. Vejamos agora como Cristiane poderá reorganizar seu horário a fim de estudar seriamente para concursos públicos. Consideremos que ela, ao contrário de Paulo, prefere estudar cedo ao invés de estudar à noite: 5h Acordar 5h15-7h15 Estudar 7h15 Arrumar os filhos para a escola 9h Chegar ao trabalho 12h-13h Almoçar 18h Voltar para casa 18h30-20h Cuidar dos filhos, fazer o jantar etc. 20h-20h45 Estudar 20h45-21h Intervalo 21h-21h45 Estudar 22h Dormir
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6h30 Acordar 9h Chegar ao trabalho 12h-13h Almoçar 18h Voltar para casa 22h30 Dormir Cristiane aproveita os fins de semana para cuidar de algumas coisas em casa, fazer compras e ficar um pouco mais com os filhos e o marido. De cara é possível verificar que: • Apesar de Cristiane ter os horários muito parecidos com os de Paulo, por ter filhos e marido para cuidar, terá de ajustar de forma mais radical seu tempo livre a fim de se dedicar aos estudos para concursos públicos. • Cristiane terá adicionalmente de lidar com o problema do local de estudo, uma vez que filhos na idade dos dela costumam fazer bastante bagunça nos horários que têm livres. • Cristiane terá de contar com muita compreensão e ajuda do marido
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Note que com esse arranjo simples, Paulo poderá estudar quatro horas líquidas diárias, ou seja, tempo em que efetivamente está estudando, visto que os intervalos necessários para jantar, descansar um pouco, ir ao banheiro e por aí vai estão apartados do tempo de estudo. Nos fins de semana, então, a dedicação tem de ser muito maior, principalmente no sábado quando poderá (e deverá) estudar oito horas líquidas. As tardes de domingo poderão ser dedicadas ao estudo mais leve, como de resumos. Cristiane B. tem 38 anos, é casada. Mora com o marido e os filhos, um de 14 anos e uma de 10 anos. Trabalha durante o dia como secretária em um consultório médico. Formada em Pedagogia, nunca exerceu a profissão e decidiu estudar para concursos públicos em busca de melhor remuneração para fazer frente às crescentes despesas domésticas. Vejamos como é sua rotina semanal. Segunda a sexta-feira
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Vejamos agora como Paulo poderá reorganizar seu horário a fim de poder estudar para concursos públicos como decidiu fazer. Consideremos que, como a maior parte das pessoas, ele prefira acordar mais tarde e também dormir mais tarde. 7h45 Acordar 9h Chegar ao trabalho 12h-13h Almoçar 18h Voltar para casa 18h30-20h Estudar 20h-20h30 Jantar 20h30-21h30 Estudar 21h45-22h Intervalo 22h-23h30 Estudar 23h45 Dormir
Note que com esse arranjo de horários, Cristiane poderá estudar 3,5 horas diariamente, em que pese ter de acordar bem mais cedo e também de apressar um pouco algumas de suas atividades cotidianas. Aqui também consideramos apenas horas líquidas de estudo. Em relação aos fins de semana, ela poderá estudar nas tardes e noites de sábado e domingo, reservando as manhãs e até um intervalo mais longo à tarde para se dedicar ao convívio com os filhos e o marido. NÃO É FÁCIL, MAS É POSSÍVEL Não é nada fácil para quem trabalha reorganizar todos os seus horários e abrir mão de grande parte do pouco tempo livre para descanso para poder estudar a sério para concursos públicos, porém se a pessoa quiser mesmo mudar de vida se tornando servidor público, esse é o único caminho. Claro que serão muitas as dificuldades a serem enfrentadas, tanto intrínsecas (motivação, disposição para o sacrifício) quanto extrínsecas (cobranças e falta de compreensão de pais, amigos, marido, esposa, filhos, chefes, colegas de trabalho). No entanto diante dessas dificuldades, como diante de qualquer dificuldade que encontramos em nossa vida, podemos apenas superá-las fazendo tudo o que está ao nosso alcance (e até um pouco do que está além do nosso alcance) ou nos deixar abater por elas. Como vocês puderam ver, uma mistura de simples reajustamento da rotina diária com uma boa dose de disposição ao sacrifício resulta em várias horas líquidas diárias que podem ser dedicadas aos estudos para concursos públicos. Para colocar isso em prática, basta querer, afinal de contas, “Sim, nós podemos!”.
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ARTIGO
COMO QUEM TRABALHA PODE ESTUDAR MELHOR E MEMORIZAR AS MATÉRIAS PARA CONCURSOS PÚBLICOS? Por ALEXANDRE MAZZA
A
aprovação em concurso público é um sonho acalentado por uma quantidade cada vez maior de brasileiros. Remuneração garantida, estabilidade, possibilidade de ver o Direito funcionando na prática, tempo livre para estudar: a lista de vantagens é enorme. Mas você, meu querido leitor, pode estar se perguntando agora: Mazza, como eu conseguirei competir por uma cobiçada vaga em concurso público se tenho pouco ou às vezes nenhum tempo para estudar? Bem, quem não pode simplesmente parar de trabalhar para se dedicar integralmente aos estudos tem que traçar algumas estratégias especiais para concorrer em pé de igualdade com os “estudantes profissionais”. Ter de conciliar estudo e trabalho não é necessariamente uma desvantagem competitiva para o concurseiro. O sucesso em provas e concursos
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está muito mais ligado à qualidade do estudo do que ao número de horas disponíveis para se dedicar às matérias do edital. Vão aqui algumas dicas que, após 12 anos de dedicação exclusiva à preparação de candidatos em provas e concursos, eu posso dar: 1) Evite estudar nas madrugadas reduzindo as horas de sono. É preferível fazer uma programação para estudar 20 horas no fim de semana do que dormir duas horas a menos todos os dias para “tentar” pegar nos livros no meio da noite. É mais importante você descansar o quanto o seu corpo pede durante a semana do que se matar num estudo pouco eficiente. 2) Encurte o horário do almoço. As vantagens de ter um cargo público exigem algum sacrifício. Almoce na metade do tempo normal e use o período restante para ler alguns pontos da matéria. Esses 30 minutos diários vão fazer grande diferença. 3) Habitue-se a estudar ouvindo audiolivros jurídicos. Essa prática é uma das maneiras mais eficientes de estudo do Direito na atualidade. Especialmente para quem trabalha o dia todo, ouvir audiolivros, legislação falada e paródias jurídicas é um segredo valioso. Use todo o tempo gasto com percursos de carro, ônibus, trem e metrô para ouvir esses materiais. Pode ser até com a ajuda de um MP3 player ou um iPod,se você não estiver no seu carro. O uso da memória auditiva para fixação de conteúdos é uma das ferramentas mais modernas e eficazes para se preparar para provas e concursos. Sou o pioneiro no uso dessas técnicas no Brasil. Tenho mais de 230 músicas e 55 audiolivros gravados. Posso garantir: funciona e funciona muito! 4) Siga professores de direito no Twitter. Essa é outra dica fundamental. As redes sociais são um modo revolucionário de estudar. Criei há cerca de um ano um sistema de revisões jurídicas pelo Twitter. Basicamente, o concurseiro se cadastra grátis (www.twitter.com) e pode acompanhar vários perfis de tribunais superiores, casas legislativas e jornais jurídicos até pelo celular. Além disso, já existem dezenas de professores de cursos preparatórios fazendo revisões semanais via Twitter. Na hora combinada, o professor começa
a postar comentários sobre temas cruciais da matéria. É como se você estivesse em uma sala de aula, só que estudando gratuitamente e pelo celular. Para quem ainda não conhece essa verdadeira revolução, seguem aqui alguns perfis de professores que fazem revisões assim: @profaguirre, @renatomontans, @madeiradez, @elisabetevido, @profandrepaes, @fabiomenna e @patvanzolini. E, claro, eu também tenho o meu perfil: @professormazza. 5) Estude por livros específicos de preparação para concursos. Atualmente, não é mais recomendado estudar para provas e concursos pelos livros tradicionais de doutrina utilizados na graduação. A quantidade excessiva de páginas e a falta de preocupação com a exposição das diversas opiniões sobre um mesmo tema são algumas das desvantagens de um livro convencional de doutrina quando usado para concursos. Um estudo eficiente depende também de material adequado, que descreva as diversas opiniões sobre um mesmo tema, mas que não deixe de orientar como deve ser respondida eventual questão em concurso abordando o assunto controvertido. Preferencialmente convém também usar livros que indiquem o posicionamento sobre determinado tema adotado pelas diversas instituições que aplicam provas. Estudar Direito Administrativo para uma prova Cespe é diferente de estudar a mesma matéria para uma prova da Esaf. Foram essas orientações que eu inseri no meu Manual de Direito Administrativo e que foram responsáveis pelo impressionante sucesso do livro no mercado. Essas são as dicas mais importantes, meu querido leitor. Precisando de alguma outra orientação, peço que entre em contato comigo pelo meu site, www.sitedomazza.com.br, ou pelo Twitter, @professormazza. Fica a dica também para que você baixe gratuitamente no meu site as mais de 230 paródias jurídicas que eu coloquei à disposição dos interessados. É necessário apenas um cadastro gratuito. Bons estudos e conte comigo. Alexandre Mazza, é doutor em Direito pela PUC/SP, advogado, palestrante e conferencista, professor na Rede de Ensino LFG, autor de diversas obras e considerado pelo jornal Carta Forense a personalidade do mundo jurídico mais influente nas redes sociais (edição de novembro/2010). twitter.com/@professormazza
Quase todo concurseiro sabe a dificuldade de estudar tópicos de Direito Administrativo apenas lendo a legislação pura e seca ou assistindo a aulas de teoria maçantes e sem a metodologia voltada para o que é realmente exigido nas provas de concursos públicos. Pensando nisso, o professor Alexandre Mazza reuniu sua experiência adquirida em mais de dez anos em cursos preparatórios para concursos públicos e elaborou a obra Manual de Direito Administrativo Administrativo. O livro retrata os artifícios didáticos que o autor usa em sala de aula, a forma simples, objetiva e bem-humorada de falar para seus alunos sobre temas complexos do Direito Administrativo. Manual de Direito Administrativo - Por: Alexandre Mazza - Editora Saraiva, 752 págs
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ENTREVISTA COMO VOCÊ OBSERVA A REAÇÃO DOS ALUNOS QUANDO DESCOBREM QUE USAR MÚSICA TORNA O ESTUDO DO DIREITO MAIS PRAZEROSO E ESTIMULANTE PARA O APRENDIZADO? É incrível. As pessoas aprendem eficazmente e de um modo descontraído. Minha experiência mostra que milhares de alunos se descobrem auditivos nas minhas aulas e passam a estudar de modo mais eficiente usando essa habilidade. Se você, querido leitor, tem dificuldade para assimilar conteúdos por meio de leitura, mas guarda sem querer a melodia de músicas da TV ou canções infantis e às vezes se pega cantarolando musiquinhas que nem sabe onde ouviu, seja bemvindo ao time: você é um auditivo. Minhas músicas vão revolucionar seus estudos. Procure também ler os assuntos do caderno em voz alta, você vai guardar bem mais.
COMO SURGIU A IDEIA DE USAR A MÚSICA COMO MÉTODO MNEMÔNICO NAS SUAS AULAS? Comecei a utilizar a música para fins didáticos há cerca de cinco anos. Eu tive professores sensacionais em cursinhos pré-vestibulares em São Paulo, e alguns deles usavam musiquinhas para fixação de certos conteúdos. Eu guardava na hora e nunca mais esquecia. Já faz quase 20 anos (estou ficando velho...!) e ainda me lembro de todas. Pessoalmente sempre tive muita facilidade para decorar melodias e letras de música. Mais tarde descobri que faço parte de cerca de 30% da população brasileira composta por pessoas que têm memória auditiva mais forte do que memória visual. Nós, que somos assim, guardamos com mais facilidade o que ouvimos do que aquilo que lemos. Um dia alguém me sugeriu usar a música para ensinar temas complicados do Direito. Como leciono duas das matérias mais difíceis do Direito, Tributário e Administrativo, resolvi experimentar e deu supercerto. Hoje já tenho mais de 230 músicas gravadas, dezenas de charges e cerca de 55 audiolivros musicados. Esse material está no meu site www.sitedomazza.com.br. Posso dizer que o uso da memória auditiva faz milagre pelo concurseiro e pelo estudante em geral.
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EM SUA OPINIÃO, POR QUE OS CANDIDATOS A CONCURSOS PÚBLICOS TÊM TANTA DIFICULDADE DE MEMORIZAR OS CONTEÚDOS DE MATÉRIAS DE DIREITO? O Direito é ensinado de maneira muito monótona e cansativa em nossas faculdades. Quem não se lembra de algum professor chatérrimo na faculdade falando sem nenhuma empolgação e sempre no mesmo tom? Muitas vezes, isso causa um trauma no concurseiro, que acaba se bloqueando naquela matéria. Outro fator, sem dúvida, é desconhecer esse potencial fantástico da memória auditiva como instrumento revolucionário de fixação da matéria. As músicas, repito, são um milagre A maioria dos estudantes reclama bastante da falta de motivação para o estudo da disciplina de Direito Administrativo. Em sua opinião, quais os motivos responsáveis por isso e quais seriam as melhores atitudes que eles deveriam tomar para ter um ótimo desempenho nas provas? O Direito Administrativo, área do meu mestrado e doutorado, é o ramo mais difícil do Direito. Não tenho dúvida disso. Com raras exceções, os professores da matéria, até pouco tempo atrás, não se esforçavam muito para tornar a matéria interessante. Os livros eram poucos e nem sempre com linguagem acessível. A chave para entender o Direito Administrativo é se acostumar a estudar lendo sempre a legislação. Além disso, vale a pena procurar livros voltados para provas e concursos. Eles tendem a ter uma linguagem mais moderna e arejada.
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Como escritor de obras específicas, tanto para o estudo do
da área de concursos públicos cobra para fazer o mesmo e
Direito (OAB e graduação) quanto para concursos públicos,
às vezes com material de péssima qualidade?
como você avalia o mercado editorial voltado para essas
A gratuidade no acesso ao meu site foi fundamental para tornar meu
publicações? A atenção dos autores dessas obras com a
trabalho tão conhecido. Nenhum site de professor no Brasil chega perto
parte didática está melhorando?
do número de acessos que tenho. Não cobrar também foi um jeito que
A preocupação com a parte didática vem crescendo visivelmente. Hoje,
encontrei de tentar ajudar aqueles que não têm disponibilidade financei-
os livros de grande sucesso no mercado das provas e concursos são
ra para comprar muitos materiais. A vida de estudante de Direito no
aqueles em que o conteúdo profundo é tratado de forma leve,
Brasil, especialmente dos concurseiros, não é nada barata. Sempre quis
descontraída. As editoras vêm apostando em autores que conseguem
atender também a esse público de menor poder aquisitivo. E hoje todo
desmistificar os institutos administrativos. Há muito espaço no merca-
mundo retribui ajudando a divulgar o meu trabalho.
do para esses trabalhos. Quais as vantagens para professores, autores de livros e O seu livro Manual de Direito Administrativo é repleto de
palestrantes da área de concursos públicos de utilizar re-
quadros sinóticos, além de doutrinas, jurisprudência, ques-
des sociais, como Twitter, Facebook e Orkut, para divul-
tões de concursos, fluxogramas, quadros de atenção etc.,
gar suas aulas, palestras, livros e cursos? Os estudantes
o que na prática torna a memorização de tópicos maçantes
usuários dessas comunidades ganham muito com essa di-
bem mais rápida e fácil de aprender. Quais os benefícios
vulgação?
para o estudante de concursos públicos que decide adotar
As redes sociais são o sonho de qualquer professor, pois permitem que
esse método de estudo?
tenhamos acesso a um auditório sem limites. Costumo dizer que o
Desde que chegou ao mercado editorial brasileiro, há cerca de quatro
Twitter e o Facebook são a maior sala de aula do mundo. Podemos
meses, meu livro acumula números impressionantes. É um sucesso re-
manter contato com os alunos em tempo real, divulgar materiais, colher
tumbante. Além de um conteúdo bastante profundo (meu livro tem, por
opiniões e medir o impacto de nossas ações. Só para dar um exemplo:
exemplo, um capítulo inédito sobre relações jurídico-administrativas, que
há cerca de um ano eu inventei um sistema de revisões pelo meu perfil
extraí da minha tese de doutorado), fiz um esforço enorme para que a
no Twitter (@professormazza) e no Facebook (Alexandre Mazza) na vés-
linguagem fosse a mais clara possível. Quanto aos quadros, eles ajudam
pera de provas. Criei isso sozinho e na pura intuição. Hoje minhas
muito na compreensão da matéria, pois permitem ao leitor realizar uma
revisões de Tributário e Administrativo são acompanhadas por mais de
análise comparativa entre institutos afins. E outra grande novidade: o livro
100 mil pessoas. É uma revolução. Agora já tenho vários amigos pro-
tem milhares de questões de provas inseridas no corpo do texto, permitin-
fessores que também revisam as demais matérias. Na véspera da última
do que o leitor constate, sem interromper a leitura, como aquele ponto
prova da Magistratura/SP organizamos uma revisão feita por dez pro-
exato é cobrado pelas diferentes bancas examinadoras.
fessores e mais de 20 matérias. Falamos várias questões que caíram na prova. E o incrível é que os seguidores podiam ler os posts até pelo
O livro foi elaborado especificamente para estudantes de
celular. Foi um sucesso enorme.
concursos públicos ou para candidatos ao exame da OAB, ou pode ser usado por ambos?
Com a sua extensa experiência de professor em cursos pre-
O segredo do sucesso é que o livro atende perfeitamente aos concurseiros
paratórios e a convivência diária com estudantes, o que
e aos candidatos à prova da OAB. Tem a profundidade exigida pelas
você aconselharia para aqueles que estão iniciando nos
bancas de concurso e a objetividade própria para livros voltados ao
estudos para concursos públicos?
Exame da OAB. Esses dois públicos adotaram-no com entusiasmo.
A vida não se resume ao Direito. Além de ler jornais e revistas, ver noticiários, manter-se bem informado sobre o que acontece no mundo
Além dos audiolivros vendidos a preços módicos, você ain-
e em nosso país, é muito importante ter horários definidos para estudar,
da oferece no seu site músicas, charges, simulados e vári-
mas também para passear, fazer exercícios, ler livros não jurídicos,
os outros materiais de apoio aos estudantes, tudo isso grá-
viver. Quem só estuda tem uma vida muito chata e se torna uma pessoa
tis. O que lhe motivou a fazer isso, já que a maioria dos sites
monotemática, indesejável. Não exagere.
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ARTIGO
É POSSÍVEL TRABALHAR E ESTUDAR SÉRIO PARA CONCURSOS PÚBLICOS? Por ALEXANDRE MEIRELLES, Fiscal De Rendas Da Secretaria Da Fazenda do Estado De São Paulo
F
oram incontáveis as vezes que escutei essa pergunta. E para não deixá-lo curioso, vou logo respondê-la: é claro que sim. Contudo, não é só por que eu já respondi à pergunta que não precisarei escrever mais sobre o assunto, então vou aprofundar um pouco mais. Obviamente, este artigo é mais direcionado para os concurseiros que
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ARTIGO trabalham, mas possui alguns toques interessantes para quem não trabalha também. Quando resolvi voltar a estudar, no já longínquo ano de 2005, eu também me fazia esse questionamento. Afinal, já tinha sido aprovado em concursos na primeira metade da década de 1990, mas quando não trabalhava, era somente, por assim dizer, um “filhinho do papai”, com tudo bancado e todo o tempo do mundo disponível. Bem, resumindo o meu ano de 2005, não só foi possível ser aprovado, como consegui obter um desempenho muito superior ao de antigamente. A essa altura você deve estar se perguntando: “Que se dane esse cara,
eu quero saber o resto do pessoal, será que muita gente também consegue? Será que eu consigo?”. Prefiro responder analisando as coisas do jeito que mais gosto, em cima de números, e para meu deleite, logo no primeiro dia do curso de formação para o Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB) em 2006, foi apresentado um estudo do perfil dos mil aprovados naquele certame, sabidamente um dos mais difíceis do País. Nele havia várias informações interessantes, das quais me arrependo amargamente não ter tomado nota. Entre elas, uma mostrava que dos 1.000 aprovados, 700 estavam trabalhando no período imediatamente anterior ao da prova. Destes, aproximadamente metade na iniciativa privada e a outra metade na pública (esses números são aproximados, ok?). Resumindo e arredondando, um terço não trabalhava, um terço trabalhava no setor público e um terço no privado. E ainda faço uma ressalva: não quer dizer que esses que não trabalhavam tinha vida mansa, pois conheci vários aprovados desse tipo que foram muito mais guerreiros que os que trabalhavam, pois cuidavam de filhos ou dos pais, sem emprego, fazendo bicos etc. Bem, basta ler o livro Como vencer a maratona dos concursos públicos, de Lia Salgado, para você perceber que muitas vezes alguém que não trabalha e que teoricamente tem todo o tempo disponível para estudar está em piores condições do que quem trabalha e possui menos tempo. Confesso que fiquei encucado quando vi esses números. Era diferente do que imaginava, pois sempre vi os cursinhos lotados de pessoas que não trabalham e achei que eram no mínimo uns 75% dos aprovados nos concursos mais concorridos. Como dos “meus” 75% eles passaram a ser só 33%? Então comecei a buscar explicações para isso. A primeira que encontrei foi a do “concurso escada”, como o William Douglas o apelidou. São aqueles concursos que fazemos não como nosso objetivo final, mas sim para garantir uma relativa paz financeira e emocional para prosseguirmos nos estudos para os concursos mais concorridos. Isso explicava a grande maioria dos um terço de aprovados que trabalhavam no setor público. A outra é saber otimizar o tempo disponível para estudar. Generalizando, quem tem muito tempo para estudar costuma utilizar mais livros para
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cada disciplina, fazer mais cursos e “enrolar” um pouco mais. Já quem trabalha e sabe se organizar devora o melhor livro de cada disciplina e seleciona melhor os cursos que fará. Sei que há outras explicações, mas considero essas duas como as principais. E como gosto de estatísticas, lá vai mais uma: quase todos os primeiros colocados que conheci trabalhavam enquanto estudavam. O concurseiro que trabalha tem de aprender a conseguir pedaços de tempo durante seu dia para estudar. Hora de almoço não é para enrolar, é para almoçar o mais perto possível do trabalho e conseguir pelo menos uns 30 minutos de estudo. O horário dedicado ao lazer deve ser reduzido, mas nunca extinto por completo, porque assim ninguém suporta o estresse por meses. Outra dica interessante é tentar perder menos tempo de estudo por causa do trânsito. Exemplificando, se você trabalha até 17h ou 18h e depois perde uma hora ou mais voltando para casa, devido ao rush, seria legal arrumar um lugar para estudar perto do seu trabalho, para evitar pegar um baita trânsito, ônibus ou metrô lotado. Tente arrumar uma sala vazia, uma biblioteca ou algo parecido e estude até o trânsito diminuir consideravelmente. Assim você estudará com cabeça menos cansada e poderá estudar por mais tempo. É só fazer a seguinte análise: se você sai do trabalho às 18h e só chega em casa umas 19h30, cansado do trânsito, só vai conseguir estudar no mínimo lá pelas 21h e ainda por cima com o cérebro e o corpo cansados, não é? Até que horas vai conseguir estudar para acordar cedo no dia seguinte? Esse estudo será de boa qualidade? Será que não é mais fácil sair do trabalho às 18h, fazer um lanche e/ou tomar um café, lavar o rosto e começar a estudar por volta das 19h, com a cabeça mais leve, e depois, por volta de umas 21h30 ou 22h30 voltar para casa sem pegar trânsito? Eu fiz isso e achei importantíssimo para o meu resultado. O ganho é duplo, uma vez que você perderá menos horas de estudo por dia no trânsito, evitando os horários de rush, e estudará com a cabeça menos cansada. Ganhar uma hora de estudo por dia representará 30 horas em um mês, 360 horas em um ano. Caramba, em 360 horas dá para estudar algumas disciplinas por completo. E estas 360 horas farão MUITA falta no futuro, eu garanto. Um inglês chamado Charles Buxton disse: “Você nunca encontrará tempo para nada. Se quiser mais tempo, terá de criá-lo”. Se ele já dizia isso há uns 150 anos, imagine nos dias de hoje. Agora vou entrar em outro tópico, e desculpe-me desde já por pegar mais pesado e escrever palavras mais duras, mas eu não seria sincero se não escrevesse isso, ok? Se você trabalha, e desculpe-me pela sinceridade, considero muito difícil ser aprovado em um concurso concorrido estudando menos que duas ou
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três horas por dia, e isso vale tanto para os gênios quanto para os que não são. E mais: estudando somente duas ou três horas diárias durante a semana, no fim de semana terão que ser no mínimo umas seis a oito horas por dia. Simplesmente afirmo que não acredito no seu sucesso de outra forma porque a quantidade de assuntos é imensa e, se estudar menos do que isso, não chegará ao fim deles nunca. Conheço pessoas que conseguiram agindo assim, mas são a exceção da exceção, mais difíceis de encontrar que um torcedor do Vasco no meio da torcida do Flamengo. “Puxa, mas eu só tenho uma hora por dia e o domingo para estudar um pouco mais, então será que não conseguirei passar?” Bem, você pode até calar minha boca depois, mas será muito difícil você ser aprovado em um concurso muito concorrido. Eu acredito nos números, e foram raríssimos os casos de aprovados que conheci tendo feito assim. Pense seriamente em tentar primeiro um concurso menos concorrido (“concurso escada”) ou então remaneje sua vida para obter mais horas de estudo, mas estudar somente uma hora por dia para concorrer a um concurso bem pesado e passar vai ser como acertar na loteria. Talvez seja mesmo o caso de pensar em estudar para um cargo menos concorrido e obter mais tranquilidade para estudar para um concurso mais difícil após ter entrado nesse cargo “intermediário”. Foi isso que a maior parte daquele um terço dos aprovados no AFRFB de 2005 que já trabalhavam no setor público fez. Desculpe-me, mas não concordo com a ideia de que se estudarmos uma hora por dia, no futuro acumularemos conhecimento suficiente para passar, só levaremos mais tempo que os demais concurseiros. Eu não acredito nisso porque o esquecimento será imenso, afinal, o conhecimento não se acumula sem que esqueçamos o que já estudamos. As pessoas acham que acumulamos conhecimento como construímos uma casa, tijolo em cima de tijolo, mesmo que aos pouquinhos, e assim um dia a casa ficará pronta. Ou então que é um quebra-cabeças de 500 peças que montamos aos poucos. Não é assim. É o mesmo que construir uma casa em um local muito chuvoso e cheio de ladrões roubando tijolos, cimento, janelas e ferramentas, ou então montar o quebra-cabeças aos poucos no meio de uma creche. Eles não vão ficar prontos nunca, e esses exemplos se aplicam ao seu conhecimento também.
Outra pergunta que os concurseiros sempre me fazem é se deveriam deixar o trabalho para se dedicar inteiramente aos estudos. Isso eu não respondo nunca, pois não interfiro em decisões pessoais, e não adianta insistir, porque nisso eu não opino nem para os meus melhores amigos. Só deixo umas perguntas no ar. Se você não for aprovado em dois ou três anos, você tem condições de voltar ao mercado de trabalho, caso desista do estudo em tempo integral? Você tem grana para se sustentar nesse período? É muito fácil largar o trabalho hoje e se dedicar mais para o concurso que acontecerá dentro de poucos meses, mas e se você não passar? O mundo desabará para você ou dará para continuar vivo e na vida de concurseiro? Reflita, converse com seus familiares e, por favor, “me inclua fora dessa”! Se você não trabalha, considere-se em melhores condições de ser aprovado. Porém, cuidado com o excesso de cursos e livros e seja mais direcionado, organizado e compromissado. Não basta estudar mais horas do que os outros, tem de estudar horas realmente proveitosas, que acumulem conhecimento útil e crescente para você. Está cheio de gente querendo furar sua fila. Resumindo este artigo, é claro que um concurseiro que trabalha pode ser aprovado, pois em todos os concursos vemos que a maioria dos aprovados trabalhava, e os números dificilmente mentem. Porém, terá de ser compromissado e muito objetivo. E se seu trabalho for daqueles de estresse total e com mais de 10 ou 12 horas de trabalho diárias, deixando somente uma hora de estudo livre para estudar por dia, e sempre de cabeça muito cansada, pense seriamente em prestar um concurso escada antes. Bem, após ter lido estas palavras, você acredita que é possível trabalhar e ser aprovado? Se sim, então o que está esperando para acumular mais horas de estudo? Alguns trechos deste artigo foram retirados do meu livro lançado em maio de 2011 pela Editora Método/Gen, no qual abordo mais profundamente este assunto, entre diversos outros. Abraços e bons estudos. Alexandre Meirelles alexmeirelles@gmail.com
Depois do sucesso do best-seller Manual do concurseiro concurseiro, Alexandre Meirelles lança o livro Como estudar para concursos concursos, abordando temas clássicos e recorrentes do “mundo dos concursos”, assuntos já tratados no seu manual e velhos conhecidos dos concurseiros como "A temida relação candidato por vaga: um grande engodo", "Concurso é só para gênios?", "Como organizar o estudo? Utilizando os ciclos". Além desses e de outros interessantes temas, o autor traz várias dúvidas como: "Passei! O que eu faço além de comemorar muito?", "Não passei! E agora, é o fim do mundo?" e "Quadro de controle de estudo: que bodega é essa?". Como estudar para concursos - Por: Alexandre Meirelles - Editora Método, 352 págs
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FRAGMENTAÇÃO DO PLANO DE ESTUDOS E PREPARAÇÃO DE ALTO RENDIMENTO Por ROGÉRIO NEIVA, Juiz do Trabalho, professor universitário e de cursos preparatórios para concursos públicos e exame da OAB, psicopedagogo e criador do Tuctor. Apaixonado pelo Direito, métodos, números e pelo fenômeno espetacular da aprendizagem humana!
O
presente texto tem por objeto o tema da fragmentação do plano de estudos voltado à preparação para concursos. Trata-se de tema importante por dois motivos: (1) busca de precisão gerencial na execução do planejamento da preparação; (2) repercussões positivamente relevantes no campo da gestão das condições emocionais do concurseiro. Precisamos começar partindo da premissa de que para passar no concurso público é necessário que se tenha disponíveis na hora da prova, em termos intelectuais e cognitivos, conceitos e informações solicitadas pelo examinador. Na realidade, em tese, as questões colocadas na prova podem ser conteudistas, envolvendo apenas a solicitação de conceitos, ou operatórias, as quais exigem que o candidato apresente a solução de
um problema. Independentemente do modelo de questão ou de prova, sempre haverá um objeto de conhecimento solicitado, o qual deve estar disponível ao candidato. Essa primeira premissa nos leva a duas conclusões. A primeira no sentido de que é preciso definir um objeto de conhecimento a ser apropriado intelectualmente, obviamente de modo a tê-lo disponível na hora da prova, o que, concretamente, significa matérias e os conteúdos correspondentes. Uma segunda conclusão consiste na necessidade de definição das fontes de estudo e dos processos cognitivos a serem adotados. Por exemplo, se vamos estudar por um livro, elaborando mapas mentais como técnica agregada à leitura, a fonte de estudo será o livro, ao passo que o processo cognitivo será a leitura com a elaboração de mapas mentais. A partir daí é preciso levantar o tempo a ser dedicado aos estudos e promover a alocação das fontes de estudo nas janelas disponíveis. Superadas as referidas premissas, impõe-se a seguinte pergunta: mas afinal, o que significa e qual a importância da fragmentação do plano de estudos?
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ARTIGO A fragmentação do plano de estudos consiste na estruturação do planejamento da preparação para o concurso público a partir da compreensão das Unidades de Estudos e das Unidades de Conteúdo. Conforme o glossário do Sistema Tuctor, as Unidades de Estudos (UE) consistem na “menor unidade gerencial do planejamento da preparação e decorre da natureza da Fonte de Estudo”. Ou seja, correspondem às células gerenciais elementares do planejamento da preparação, sendo estabelecidas a partir das Fontes de Estudo, de modo que sendo a fonte de estudo um livro, a unidade de estudo será uma página. Já a Unidades de Conteúdo (UC), também segundo o glossário do Sistema Tuctor, “consiste na menor unidade do conjunto de conteúdos de uma Matéria que faz parte de determinado Programa. Trata-se dos itens temáticos que podem ser fracionados, ou seja, temas ou microtemas”. Isto é, corresponde aos menores fragmentos possíveis do conjunto de conteúdos que compõem cada matéria do programa do concurseiro. Naturalmente que tais conceitos fazem parte da proposta metodológica que compõe a base de fundamentação teórica do Sistema Tuctor. Mas quanto ao primeiro conjunto de motivos que torna relevante a ideia da fragmentação, envolvendo a gestão do plano de estudos, essa tem o sentido de viabilizar o levantamento de estimativas e permitir o monitoramento e controle da execução do planejamento. A título de reflexão, imagine construir uma casa e tentar estimar ou mensurar o tempo e custo para levantar uma parede? O mesmo vale para o monitoramento e controle da construção da parede. Qual metodologia adotar? O caminho mais adequado seria avaliar o tempo e custo de uma fração da parede, por exemplo, o correspondente a 1 metro, para, a partir daí, estimar o todo. Dessa forma, a identificação e compreensão das Unidades de Estudos e Unidades de Conteúdo permite a fragmentação do planejamento da preparação para o concurso público, o que é fundamental para o devido gerenciamento da sua execução. Outro aspecto relevante consiste na mensuração de prazos para a conclusão dos estudos, inclusive considerando a provável data da prova. Já no campo da gestão emocional, um primeiro aspecto relevante consiste na definição de metas de curto prazo, fundamental em termos
motivacionais. As teorias da motivação por processo têm como base exatamente o estabelecimento de metas. Esta compreensão guarda uma íntima relação com a ideia do foco no processo, a qual não se confunde com a lógica do foco no resultado, o que acaba por gerar angústias e frustrações nos candidatos. Trabalhando com a noção de foco no processo, o candidato tem como objetivo principal a execução do seu plano de estudos, aliviando a angústia das preocupações decorrentes do desesperador foco no resultado. Além disso, a fragmentação do planejamento também proporciona feedbacks, o que é importante para que o concurseiro saiba que a execução de seus esforços está levando-o na direção de seus objetivos. Outra repercussão da fragmentação do plano de estudos na gestão das condições emocionais envolve a relação entre o tempo e o processo de apropriação do conhecimento, conforme as construções da andragogia. O referido campo do conhecimento (andragogia) tem como objeto o estudo da educação de adultos, diferentemente da pedagogia, centrada na educação de crianças. Assim, teoricamente, na educação de adultos há uma mudança na perspectiva da dimensão do tempo na aprendizagem. A título de exemplo, quando a criança indaga ao professor o motivo do aprendizado da raiz quadrada de 16 na base de 2, terá a resposta de que um dia precisará desse conhecimento. Mas no caso do adulto, essa resposta não serve, pois o dia já chegou. Ou seja, é natural que tenhamos aí uma lógica de imediatismo. E é assim que funciona com o concurseiro. Portanto, a fragmentação do plano de estudos tende a neutralizar a angústia imediatista. Se ao estudar Direito Constitucional fragmentamos o tema “Competências legislativas” em “Competência privativa da União”, “Competência concorrente” e “Competência comum”, há uma tendência a contar com maior sensação de avanço, principalmente se a cada semana esgota-se um dos temas objeto da fragmentação. Considerando os fundamentos apresentados, a fragmentação do plano de estudos tende a provocar relevantes repercussões não apenas no âmbito gerencial, da estruturação e execução do planejamento de estudos, mas também na gestão emocional da preparação. E trata-se de um pequeno detalhe, que pode fazer toda a diferença.
Como se preparar para concursos públicos com alto rendimento traduz o processo de preparação pelo qual o candidato precisará passar. Seu conteúdo é dividido em três fases: planejamento (os fundamentos da importância do planejamento, definição de objetivo, definição de fontes de estudo etc.), aprendizagem (como trabalhar a aprendizagem e a memória na preparação para o concurso; resumos, mapas mentais etc.) e gestão emocional (motivação, crença na aprovação, disciplina etc.). Além desses e de outros temas, o autor põe à mesa sua experiência como ex-candidato, professor de cursos para concursos públicos e entusiasta das técnicas de estudo. Como se preparar para concursos públicos com alto rendimento - Por: Rogério Neiva - Editora Método, 224 págs
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ENTREVISTA que não fazem diferença na vida de ninguém. Sou movido pela transdisciplinariedade. Minha graduação foi no curso de Direito, pelo qual também sou um apaixonado, depois fiz especialização em Administração Financeira, por causa do meu interesse em números, métricas, padrões e planificações. Recentemente, concluí uma especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional, ou seja, a ciência da aprendizagem. O trabalho que desenvolvo, voltado aos concurseiros, conta exatamente com a articulação da minha experiência de candidato e professor, com conceitos voltados à gestão de processos e projetos, bem como com construções científicas voltadas à compreensão do espetacular e complexo fenômeno da aprendizagem humana. Neste sentido, criei o conceito da metapreparação, inspirado na metacognição. A metacognição, que tem origem na Psicologia Cognitiva, consiste em “como se aprende”, ao passo que a metapreparação consiste em “como se prepara”. MUITOS CANDIDATOS PECAM PELO EXAGERO NO USO DE MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDO. O QUE É REALMENTE IMPORTANTE NA PREPARAÇÃO PARA AS PROVAS DOS CONCURSOS E QUAIS OS CUIDADOS QUE O CANDIDATO DEVE TER NESSE PROCESSO? QUEM É O PROFESSOR E ESCRITOR ROGERIO NEIVA, E COMO
Considero que o desenvolvimento adequado e eficaz da preparação
O SEU TRABALHO, VOLTADO PRINCIPALMENTE PARA A PRE-
para o concurso público exige a preocupação do concurseiro com
PARAÇÃO E O USO DE MÉTODOS RACIONAIS DE ESTUDO, PODE
aquilo que chamo de dimensões fundamentais, as quais
AJUDAR OS CONCURSEIROS?
correspondem ao planejamento, à aprendizagem e à gestão das con-
Primeiramente sou um apaixonado pelo que faço e tenho grande dificul-
dições emocionais. É preciso, nesse sentido, adotar uma compreen-
dade em fazer algo pelo que não tenha paixão. Tenho no pragmatismo
são sistêmica do processo de preparação, de modo a atender todas
utilitário um valor fundamental e por isso me dedico ao trabalho de
as mencionadas dimensões.
orientação voltada à preparação para concursos. Ou seja, sei que estou
Mas quanto ao planejamento, entendo que vai muito além da monta-
trabalhando com algo que pode mudar a vida das pessoas, trazendo
gem de grade, ao contrário do que imaginam muitos candidatos. A
resultados reais. Não estou tratando de teorias e academicismos inúteis,
planificação dos estudos deve envolver o planejamento estratégico e
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ENTREVISTA tático da preparação, o que corresponde à definição de objetivo
MENTE DA FALTA DE MOTIVAÇÃO NO MOMENTO DE CONCILI-
(cargo ou cargos pretendidos), programa (matérias e conteúdos),
AR. EM SUA EXPERIÊNCIA COMO ESTUDANTE E EX-
fontes de estudo e processos cognitivos, levantamento do tempo e
CONCURSEIRO, ISSO É MOTIVO SUFICIENTE PARA IMPEDIR A
alocação de matérias e fontes no tempo disponível. Porém, reconhe-
APROVAÇÃO NO CONCURSO?
ço que cada candidato precisa adaptar à sua realidade as
Um dos conceitos que trabalho vem das construções do
metodologias e técnicas propostas, construindo a sua própria
gerenciamento de projetos, chamado teoria da tripla restrição. A
metapreparação. Não podemos universalizar tudo. O ser humano na
ideia é a de que todo projeto tem três restrições: qualidade, duração
sua dimensão de ser cognitivo é complexo e suas particularidades
e custo. Custo ou investimento significa capacidade de horas de
devem ser respeitadas.
estudo por semana. Assim, se a variável capacidade de investimento é limitada, o candidato não precisa comprometer a qualidade, mas
PARA QUE TIPO DE CANDIDATO O SISTEMA TUCTOR FOI CRIA-
sim a duração demandada para execução do seu plano de estudos. A
DO E COMO ELE PODE AJUDAR NA PREPARAÇÃO PARA AS MAIS
diferença entre um candidato que trabalha para outro que está exclu-
DIFERENTES ÁREAS DOS CONCURSOS PÚBLICOS?
sivamente estudando, com base nesse raciocínio, é que um pode
O Tuctor consiste em uma solução tecnológica voltada à estruturação
concluir o plano de estudo antes do outro. Mas ambos podem pas-
e execução do planejamento da preparação para o concurso público.
sar e executar o plano com a mesma qualidade.
No sistema o concurseiro insere uma série de variáveis para a montagem do seu plano, respeitadas as suas particularidades. O sistema
DE ACORDO COM SUA VISÃO TÉCNICA E OS TRABALHOS DE-
monta automaticamente a grade de matérias, de maneira lógica,
SENVOLVIDOS NESSA ÁREA, QUE CONSELHO VOCÊ DARIA PARA
racional e eficiente, considerando a situação e as peculiaridades de
O CONCURSEIRO TRABALHAR O LADO MOTIVACIONAL?
cada candidato. Montado o plano de estudos, passe-se à sua execu-
Procuro tratar desse tema, que faz parte da gestão das condições
ção. Para permitir o monitoramento e controle, o sistema conta com
emocionais, tentando fugir das abordagens intuitivas-autoajuda, o
uma série de indicadores de metas, metas de desempenho e desem-
que entendo insuficientes. Dessa forma, me empenho para a com-
penho. Tudo isso também ajuda a ter disciplina. Fiquei muito feliz
preensão desse fenômeno a partir de construções técnicas e funda-
com os resultados de alguns usuários do sistema no último concur-
mentadas. Nesse sentido, um conceito que venho trabalhando, por
so do MPU. Por isso digo que se trata da ferramenta do candidato de
exemplo, consiste nas teorias da motivação por conteúdo e por
alto rendimento.
processo. A idéia da motivação por conteúdo, inspirada na Teoria das Necessidades de Maslow, exige que o candidato compreenda a
30
DE ONDE SURGIU A IDEIA DO CONCURSEIRO DE ALTO RENDI-
que necessidades busca atender ao passar no concurso, estando
MENTO E COMO UM CANDIDATO QUE ESTÁ INICIANDO NOS
clara, a todo momento, a resposta às seguintes perguntas: “Por que
CONCURSOS, OU ATÉ MESMO AQUELE QUE JÁ É VETERANO,
quero me titularizar neste cargo? A que necessidades busco aten-
PODE SE TORNAR UM?
der?”. A compreensão da resposta é uma importante fonte de moti-
A proposta do concurseiro de alto rendimento foi construída com
vação. Já a motivação por processo tem como base o estabelecimen-
base na ideia do esporte de alto rendimento, do qual um dos pilares
to de metas. Principalmente metas de curto e curtíssimo prazo. Tam-
é a importância e centralidade do planejamento. Assim, o concurseiro
bém é importante o feedback, para que o candidato saiba que o seu
de alto rendimento é aquele que se prepara para o concurso com
esforço está o levando ao objetivo almejado. Exatamente por isto, o
planejamento, monitoramento e controle da sua execução. Outro
Sistema Tuctor, ao estabelecer metas de curto e curtíssimo prazo,
elemento importante para esse candidato é a noção do foco no pro-
por meio de indicadores de metas e metas de desempenho, pode
cesso, e não no resultado.
proporcionar grande colaboração.
MUITOS CANDIDATOS QUE TRABALHAM E ESTUDAM AO MES-
AINDA DENTRO DESSA SUA VISÃO, O QUE DE FATO VIABILIZA
MO TEMPO RECLAMAM DA FALTA DE TEMPO E PRINCIPAL-
A APROVAÇÃO DO CONCURSEIRO NO CONCURSO PÚBLICO?
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A aprovação exige duas condições. A condição formal consiste no
risco de fraude quase zero. A pessoa daria uma risada e acharia
alcance da pontuação necessária, considerando os parâmetros do
uma piada! Acho que a mesma lógica se aplica ao concurso. Nesse
edital. Já a condição material consiste na disponibilidade intelectual
caso temos uma particularidade: a jurisprudência, por vias oblí-
e cognitiva das informações objeto das questões apresentadas pelo
quas, já está ajudando a construir marco normativo. Eu me lembro
examinador. Dessa forma, raciocinando na preparação para o con-
de quando passei no concurso para Procurador de Estado, em
curso, o seu objetivo mediato corresponde à aprovação, sendo que
1998, e havia um receio quanto a sair a nomeação de todos, mes-
o objetivo imediato, e mais direto, consiste na apropriação intelec-
mo que a quantidade de vagas disponíveis e previstas no edital
tual e cognitiva das informações passíveis de solicitação pelo exa-
fosse muito maior do que o número de aprovados. Porém, na
minador no momento da prova. E nesse objetivo imediato que de-
época, prevalecia a tese de que o direito à nomeação era mera
vem se centrar os esforços do concurseiro, ao longo do processo de
expectativa. Hoje, conforme a jurisprudência de todos os Tribunais
preparação.
Superiores, a começar pelo STF, a tese do direito adquirido à nomeação virou um verdadeiro dogma, uma verdade absoluta e
A PARTIR DE UM ÓTIMO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E COM
incontestável. Acho que quem entra no mundo dos concursos hoje
UM FOCO TOTALMENTE VOLTADO PARA O PROCESSO DE
tem até dificuldade em aceitar que um dia o tema era tratado da
APRENDIZAGEM, QUANTAS HORAS O CANDIDATO DEVE SE DE-
forma como era. Essa mesma lógica se aplica a vários temas sen-
DICAR POR SEMANA E COMO AVALIAR OS RESULTADOS DE-
síveis, como exames psicotécnicos, tatuagens, exame médico, nada
CORRENTES DESSE PERÍODO?
consta e outros. Portanto, a jurisprudência vem dando a sua con-
Sempre que ouço essa pergunta afirmo que se trata de uma indaga-
tribuição. Mas é chegada a hora de a sociedade e os legisladores
ção simples que exige uma resposta complexa, pois não há como
tomarem atitudes.
apresentar uma solução universal. Partindo dessa premissa, construí uma metodologia própria para mensurar e estimar o tempo
QUAL SUA MENSAGEM E SEUS CONSELHOS PARA OS
destinado à execução do planejamento de estudos, inclusive com
CONCURSEIROS QUE AINDA NÃO PASSARAM E, APESAR DIS-
estimativas de prazos e tempo de estudo por matérias a cada sema-
SO, CONTINUAM FIRME NESSE PROPÓSITO?
na. Essa metodologia é executada por meio do Sistema Tuctor. Cada
Primeiramente registro que a interação com os leitores do Blog do
candidato e cada planejamento contarão com duração e estimativas
Concurseiro Solitário tem sido de grande valia para o meu trabalho
distintas, respeitando particularidades, capacidades cognitivas, o
de pesquisador. Atualmente, o que me move é a identificação de
tempo disponível, o objeto de conhecimento a ser estudado e as
dificuldades dos concurseiros, voltada à realização da pesquisa teó-
fontes de estudo.
rica, associada à reflexão empírica, para a busca da solução. Esse intercâmbio tem sido muito importante. Mas a ideia fundamental
COMO PROFESSOR E MAGISTRADO, QUAIS SÃO AS SUAS PRE-
que deixo aos leitores concurseiros é a de que a aprovação no con-
VISÕES PARA A REGULAMENTAÇÃO DOS CONCURSOS PÚBLI-
curso público pode e deve ser compreendida como uma certeza. Não
COS? SERÁ QUE PODEMOS SER OTIMISTAS QUANTO À CRIA-
é uma mera construção de autoajuda para concursos. Trata-se de
ÇÃO DE LEIS QUE EFETIVAMENTE DEFENDAM OS INTERES-
uma convicção, fundamentada em bases lógicas e racionais. O con-
SES DOS CANDIDATOS A CARGOS PÚBLICOS?
curso público é um dos mecanismos mais democráticos, republica-
Tenho sustentado que precisamos e vamos fazer no campo da
nos e isonômicos atualmente, não comportando favorecimentos ou
normatização do concurso público o mesmo caminho que fizemos
privilégios. E para passar no concurso é preciso apenas contar com
no campo das eleições. Imagine o que era o processo eleitoral 30
a disponibilidade cognitiva e intelectual das informações solicitadas
anos atrás, em termos de marco normativo e mecanismos de exe-
pelo examinador no momento da prova. Todos nós somos seres
cução. Imagine voltar no tempo 30 anos atrás e dizer para uma
humanos dotados de um equipamento biológico, com uma série de
pessoa que um dia o Brasil terá uma lei chamada “Lei da Ficha
estruturas e funções cognitivas para nos apropriar e reter as mesmas
Limpa” e que o resultado das eleições sairá no mesmo dia, com
informações. Basta saber se preparar!
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ARTIGO
7 PASSOS PARA SE TORNAR UM CONCURSEIRO EFICAZ Por ENALDO FONTENELE, colunista do Blog do Concurseiro Solitário
epois de pesquisar a história de vários ex-concurseiros, agora aprova-
D
O grande segredo para se destacar na fileira da aprovação, portan-
dos em concursos públicos, cheguei às seguintes conclusões: 1) Ne-
to, não é saber nem todo o conteúdo exigido pelos editais e nem
nhum aprovado estava totalmente preparado para a prova, mesmo porque é
dominar as regras básicas desse jogo, mas tentar ser o mais eficaz
humanamente impossível acumular tanta informação; 2) A grande maioria
possível durante todas as etapas do circuito que levará o candidato
demorou bastante até chegar a um planejamento adequado, com um pouco
ao pódio.
de disciplina e organização; 3) A questão emocional foi o grande diferencial
Para isso, são muitos os passos que, se forem executados de
desses candidatos no sprint final, advinda, principalmente, da segurança e
forma correta, podem ajudar bastante nessa empreitada.
tranquilidade durante todo o processo de preparação.
Siga alguns desses passos para tentar encurtar sua caminhada:
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ARTIGO 1º PASSO – SEJA FIRME NA SUA ESCOLHA
Portanto, não importa o seu nível de conhecimento das matérias exigidas,
Algumas decisões importantes como casar, ter filhos, a escolha de um curso
preocupe-se somente em antecipar o inevitável, pois é certo que pelo
universitário, morar em outro lugar, por exemplo, podem trazer consequências
menos as matérias básicas como Português, Informática, Matemática e
que se estenderão por toda a vida. Estudar para concursos públicos não é uma
Raciocínio Lógico, Direito Constitucional e Direito Administrativo serão
decisão nada fácil, pois envolve, além do próprio candidato, o(a)
cobradas na maioria ou mesmo em todos os concursos.
companheiro(a), a família e mais uma série de outros fatores imprescindíveis
Então, por que nadar contra a correnteza ou nadar, nadar e morrer na praia?
para o sucesso da empreitada como concurseiro. Por isso, é muito importante
Por que os candidatos só estudam, ou pelo menos tentam, quando o edital é
ter certeza da escolha, se é isso mesmo que você quer, pois de outra maneira
publicado? Alguns dizem que não querem perder tempo estudando as maté-
não será tão fácil conviver com a frustração de inúmeras reprovações e as
rias erradas, outros apontam a falta de motivação ou inspiração para essa
duras críticas.
preparação antecipada. O certo é que ninguém quer ter trabalho e, estudar um
A grande maioria das pessoas opta pela carreira pública por vários motivos:
ano ou até dois para um concurso demanda muito trabalho e planejamento.
estabilidade, segurança, melhor remuneração, status, curiosidade, aventura,
Duas atitudes bem simples são suficientes para mudar isso:
uma grande desilusão na atividade privada etc. Mesmo tendo alguns desses motivos, é necessário ser honesto consigo mesmo e admitir, depois de várias
1. Escolha uma área e foque nela. No concurso público, existem áreas
tentativas ou até mesmo depois de empossado, que poderia ser mais feliz
bem distintas como a fiscal (Receita Federal, Sefaz, Fiscal de ISS
exercendo qualquer outra atividade. Daí a importância de uma boa pesquisa e
etc.) e a jurídica (tribunais, magistratura, procuradorias, defensorias
reflexão acerca de cada escolha que fazemos ao longo de nossa vida.
públicas etc.). Existem ainda áreas muito correlatas como agências
Para uma boa pesquisa e avaliação antes da opção pelo concurso público, faça
reguladoras (Aneel, Anatel, Anac etc.), poder executivo (Abin,
o seguinte:
Inmetro, ministérios etc.) e legislativo (Senado e Câmara dos Deputados). Logo, mais importante do que escolher qualquer uma des-
•Escreva suas principais dúvidas e o que você realmente gosta de fazer (quem não sabe para onde quer ir nunca vai chegar a lugar nenhum).
2. TTorne-se orne-se um especialista na sua área. Depois de escolhida a área de
•Tente conversar com alguém que já trabalha na área de sua escolha
estudo, ponha a mão na massa e pesquise o máximo que puder
(um choque de realidade vai fazer muito bem). •Procure conhecer todas as atividades que o cargo exige (imagine o policial que não gosta de usar armas, por exemplo).
sobre as principais organizadoras responsáveis pelos concursos dessas áreas, além de, é claro, transformar-se em um exímio colecionador de provas e questões das referidas bancas.
É necessário ter em mente que o dinheiro e o cargo são importantes,
Assim, use o edital somente para conhecer as regras do concurso, e não
mas ser feliz fazendo aquilo de que se gosta é mais importante ainda.
como guia ou ponto de partida para começar a estudar.
“Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.” (Pablo Neruda)
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sas áreas, é permanecer dentro dela, custe o que custar.
“Em todas as coisas o sucesso depende de uma preparação prévia e sem tal preparação o fracasso é certo.” (Confúcio)
2º PASSO – ESTUDE PARA A PROVA E NÃO PARA O EDITAL
3º PASSO – TENHA DISCIPLINA DE ATLETA
Na internet e em livros específicos para concursos públicos, é possível
No estudo para concurso público, não é suficiente ser organizado e
encontrar inúmeros textos alertando os candidatos para uma prepara-
comprometido com o objetivo de ser aprovado, tem que ter muita disci-
ção sem edital publicado (parece até uma melodia de tanto que se ouve).
plina para enfrentar a maratona puxada de treinamentos. Além disso, é
Muitos, porém, não conseguem enxergar essa sinalização e insistem no
necessário estabelecer metas de curto e longo prazo para alcançar os
terrível erro de esperar a divulgação desse documento para só então
resultados pretendidos.
começar a difícil (impossível) missão de preparação ou de sofrimento
Para isso, nada melhor do que se espelhar na árdua rotina dos atletas,
mesmo, pois nenhuma motivação resiste a tanta pressão. Algo parecido
ou seja: hora de dormir, acordar, comer, estudar, treinar e hora, também,
com a sensação de quem está atrasado para um compromisso ou uma
de saber o momento de parar e curtir o lazer. Ninguém é de ferro, mas
viagem e sabe que não conseguirá chegar a tempo.
vida de atleta é assim mesmo! Tem que ter garra e determinação para não
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desistir no momento da derrota e, principalmente, muita cabeça para controlar a emoção da vitória. Outra grande vantagem em ser disciplinado é a tendência a acumular mais conhecimento em um tempo bem menor e, consequentemente, controlar a ansiedade e aumentar a concentração nos estudos. Algumas dicas importantes para se autodisciplinar: • Tente fazer todas as suas atividades sempre no mesmo horário (acordar, autodidata e lo-
alimentar-se, estudar, praticar ativida-
grar êxito nas pro-
de física, dormir etc.).
vas, simplesmente es-
• Escreva em uma folha de papel todas as
tudando sozinho, sem
suas tarefas e vá riscando-as conforme for
auxílio de professores ou
executando cada uma delas. Isso cria um senti-
cursos específicos para sua área.
mento de tarefa cumprida e aumenta a autoestima.
O único problema é que o processo de
• Lembre-se da sua rotina na escola, faculdade, cursinho pré-
aprendizagem, em alguns casos, tende a ser mais
vestibular e incorpore-a na sua rotina de estudos para concursos. Se você já fez e conseguiu antes, pode fazer novamente.
lento e confuso no início, mas nada que alguém com muita determinação não consiga transpor. É sabido, porém, que fatores como motiva-
Independentemente de ser um atleta dos concursos, é indispensável ser
ção, planejamento, disciplina e determinação são grandes obstáculos
disciplinado em todas as áreas (financeira, profissional, emocional), já
para a maioria dos concurseiros que estudam apenas em casa. Nesse
que absolutamente tudo o que fazemos e de que precisamos depende
caso, a presença do professor com dicas, exercícios, resumos, traba-
exclusivamente disso.
lhos com métodos e técnicas de memorização, a convivência com os colegas no preparatório, a troca de experiências, tudo isso é vital para o
“Para ser grande é preciso ter 99% de talento, 99% de disciplina e 99% de trabalho.” (William Faulkner)
sucesso do candidato. Portanto, a decisão de se tornar um concurseiro autodidata deve ser
4º PASSO – TORNE-SE UM CONCURSEIRO AUTODIDATA
feita com muito cuidado, analisando todos os prós e contras, pois às
Entre as muitas dúvidas que surgem quando alguém resolve estudar
vezes o que parece perfeito para alguns nunca vai funcionar para você.
para concursos públicos, uma é sempre recorrente: “Onde eu vou aprender
Dois hábitos básicos que você deve ter para se tornar um concurseiro
a estudar?”. A maioria sempre começa por um curso preparatório, de
autodidata:
preferência presencial e com edital publicado. Outros, no entanto, por questão de economia ou facilidade em aprender, preferem adotar o estilo autodidata, ou seja, estudar somente usando livros ou pesquisas
• Seja curioso. Estimule seu interesse, pesquisando sobre as matérias, as bancas e as provas dos concursos na sua área. • Faça você mesmo. Elabore seu próprio material de estudo através
na internet. Segundo a Wikipedia, “autodidata é a pessoa que tem a capacidade de
de resumos de livros e simulados de questões com gabarito co-
aprender algo sem ter um professor ou mestre lhe ensinando ou minis-
mentado.
trando aulas. O próprio indivíduo, com seu esforço particular, intui, busca e pesquisa o material necessário para sua aprendizagem”. Assim, partindo desse conceito, é perfeitamente possível ser um concurseiro
“Pensar é o trabalho mais difícil que existe. TTalvez alvez por isso tão poucos se dediquem a ele.” (Henry Ford, fundador da Ford e autodidata)
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ARTIGO 5º PASSO – TRANSFORME SUA PREPARAÇÃO EM UM HÁBITO
“Ambiente limpo não é o que mais se limpa, e sim o que menos se suja.”
SAUDÁVEL E NÃO EM UM SOFRIMENTO
(Chico Xavier)
Da mesma forma como acontece em mudança de hábitos alimentares, a prática de estudo deve ser encarada com alegria, prazer e
7º PASSO – ADOTE UM MÉTODO DE ESTUDO
entusiasmo, pois de outra forma não haverá nenhum ganho real
Todo profissional que se preze tem que ter ótimas e eficientes ferramen-
para o concurseiro, além de uma grande frustração nos resultados
tas de trabalho. O concurseiro profissional precisa de métodos e técni-
das provas.
cas eficientes e racionais de estudo, pois do contrário será impossível
É comum ver concurseiros reclamando de como é penoso trocar o
absorver e guardar toneladas de informações necessárias e exigidas nas
feriado, a viagem, o happy hour com os amigos pela mesa de estu-
provas dos concursos. Resumindo: ninguém passa sem metodologia
dos. O que acontece realmente é que muitos querem conquistar um
de estudos.
cargo público e poucos estão verdadeiramente comprometidos com
A medologia é a palavra-chave no estudo para concurso público. Quem
esse objetivo.
estuda há muito tempo sabe que existe muita diferença entre estudar e
Em algumas coisas na vida não é possível um meio-termo, ou você
simplesmente ler. Para estudar com máxima eficiência e guardar o con-
é ou você não é. Conhecem aquela expressão popular, “Não se pode
teúdo, é necessário seguir três regrinhas básicas:
assoviar e chupar cana ao mesmo tempo”? Pois é, no estudo para concurso público ou você veste a camisa e estuda sério com organização e disciplina ou você simplesmente pede para sair.
1. Ler grifando, anotando as palavras-chave, resumindo os tópicos mais importantes. 2. Entender Entender, questionar o texto, através de perguntas e respostas, dar
“Concurso público: a dor é temporária, o cargo é para sempre.”
aulas sobre o assunto para outras pessoas, resolver questões de
(William Douglas)
provas de concursos anteriores e comentar o gabarito. 3. Memorizar usando os métodos e as técnicas apropriadas para ar-
6º PASSO – CUIDE DO SEU AMBIENTE DE ESTUDO
quivar o que foi lido e consequentemente entendido, com repetição
Tão importante quanto a qualidade do material de estudo, como livros,
sistemática e diária. Algumas das ferramentas mais usadas no estu-
cursos e ótimos professores, um ambiente de estudo pode fazer toda a
do para concursos públicos são mapas mentais, memorex, flash
diferença no rendimento de um concurseiro.
cards, resumos esquemáticos.
Para quem estuda em casa: uma mesa grande e principalmente uma boa cadeira são elementos básicos na sua rotina. Além dos móveis, o seu
Portanto, não importa qual método ou técnica de estudo você vai usar
material deve estar organizado e de fácil acesso. Livre-se de livros,
para aprender, o que realmente importa é saber se você está conseguin-
apostilas e outros materiais desatualizados, fazendo mensalmente ou a
do ter os resultados que as provas de concursos exigem, pois do contrá-
cada ano uma verdadeira faxina no seu quarto de estudos. Você não
rio você passará bastante tempo patinando no mesmo lugar.
sabe o bem que isso faz. Para quem estuda em bibliotecas: é possível encontrar quase tudo o que
RESUMO DA ÓPERA
um estudante procura, como silêncio, boa temperatura ambiente, ilumi-
Para ser um concurseiro eficaz, não é necessário seguir todos esses
nação, banheiro, água, sossego, motivação etc. Alguns itens, porém,
passos, mas alguns pontos como atitude, determinação, planejamen-
como uma cadeira confortável por exemplo, podem ser um grande
to, disciplina, responsabilidade, entre outros, devem ser sempre se-
problema. Nesse caso, uma boa solução é usar almofadas gel com
guidos com total firmeza e foco no objetivo principal, que é passar no
encosto inflável (encontradas em lojas de materiais hospitales). Uma
concurso público.
maravilha, e seu corpo agradece!
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Finalmente, cuide também do seu ambiente interior, praticando ativida-
“Conheça a diferença entre ser eficiente e ser eficaz. Eficiência é fazer
de física, técnicas de relaxamento e fazendo visitas periódicas ao médico
as coisas da maneira certa, e eficácia é fazer as coisas certas. Ambas
para prevenir possíveis problemas de saúde; afinal, além das provas
são importantes; não sacrifique a eficácia por causa da eficiência.”
objetivas, o exame médico também reprova.
(Livro Terapia do trabalho, de Daniel Grippo)
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ARTIGO
LIMITE DE IDADE PARA CONCURSO DE INGRESSO NAS FORÇAS ARMADAS: PARÂMETROS E CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS
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Por RAQUEL MONTEIRO e CLEBER OLYMPIO, colunistas do blog do Concurseiro Solitário
tação de idade para ingresso nas carreiras militares. A palavra final foi dada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
1. HISTÓRICO No início de fevereiro deste ano, tanto a mídia impressa quanto a que é especializada para concurseiros noticiou que não haveria mais limi-
Recurso Extraordinário nº 600.885/RS, cuja relatora foi a ministra Cármen Lúcia. Antes que a decisão desse processo se tornasse uma referência, outros posicionamentos da Justiça seguiram a mesma linha. Exemplo disso foi a notícia de que o concurso de oficiais combatentes da Aeronáutica não
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deveria sofrer mais limitação de idade. O concurso para a Academia da Força Aérea (AFA), por causa da ação proposta pelo Ministério Público Federal de Goiás, teve de se adequar a esse posicionamento. Outro exemplo ocorreu no Exame de Admissão para Sargentos – de carreira – da Aeronáutica, em que foram oferecidas 160 vagas, na especialidade básica para controle de tráfego aéreo. Apesar dessas decisões, já houve alguma resistência por parte dos magistrados em adotar esse posicionamento. De maneira evidente, a Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região foi um desses exemplos: ao julgar o pedido de candidatos que tentavam matrícula no curso de formação do Corpo de Fuzileiros Navais, o tribunal endossou a limitação à idade de ingresso nas Forças Armadas. Os candidatos em questão tinham idade além da autorizada no edital, o que lhes impossibilitava participar do processo seletivo. A decisão da 1ª Região se baseava na exigência de diferenciação no tratamento dispensado entre os militares. Esses agentes públicos, segundo o julgado, necessitam de “higidez física compatível com o exercício do cargo”, e isso só se aferiria de forma objetiva por meio da limitação de idade. Apesar de fazer essa advertência, o Tribunal manteve a liminar concedida pela Justiça Federal em que foi proposta a ação. O fato, entretanto, estava consumado: já havia decorrido mais de cinco anos desde a matrícula dos candidatos no respectivo curso de formação. Os exemplos são muitos, como se pode observar. O STF manteve essa tendência, que inclusive foi publicada em seu Informativo nº 615, decidindo que a Constituição Federal de 1988 exige o estabelecimento de lei para regular o ingresso nas fileiras das Forças Armadas (art. 142, §3º, X). Declarou, também, que um ato administrativo – da mesma forma que os editais de concurso – não pode estabelecer restrições a direitos, como o de impossibilitar o ingresso por causa de restrição de idade. Na mesma oportunidade, a decisão do Supremo declarou inconstitucional a expressão “e nos regulamentos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica”, contida no art. 10 da lei nº 6.880 de 1980, o Estatuto dos Militares. Ademais, utilizou-se da técnica de modulação dos efeitos da decisão para que as Forças Armadas se adaptem a esse entendimento até 31 de dezembro do ano de 2011: isso quer dizer que os efeitos dessa decisão ficam suspensos até o ano que vem, não valendo de imediato. 2. IMPLICAÇÕES MAIS COMPLEXAS a) O problema relacionado à atividade militar O posicionamento do Supremo, do ponto de vista constitucional, realmente compatibilizou a situação das Forças Armadas com o novo parâmetro estabelecido pela Constituição de 1988. Formou-se, todavia, um problema de cunho infralegal. A atividade militar, como fazemos questão de ressaltar, é pautada por
critérios próprios, que não são os mesmos adotados pela administração pública para a contratação de servidores, seja de forma estatutária ou não. Tanto isso é verdade que os militares, nos dizeres da própria Constituição, compõem uma classe especial de servidores. Deles se exige o compromisso que se estende até ao sacrifício da própria vida, além de cientificar os candidatos de que o vínculo com a instituição militar é de natureza permanente: afinal, militar não se aposenta, e sim assume uma posição de reserva, assim como no futebol, convocado conforme a necessidade, seja na guerra ou em tempos de paz. Para uma atividade especial, há que se ter critérios especiais. Como já foi citada, a questão da “higidez física” é importante, uma vez que o militar, periodicamente, é avaliado segundo parâmetros de resistência muscular e aeróbica, necessária para manter o desejado condicionamento físico. Tudo é medido conforme parâmetros que ajudam a instituição a atestar se o militar tem condições de, no momento em que for convocado, apresentar-se para quaisquer atividades comandadas, inclusive para combate. Caso não tenha como atingir os índices exigidos, há grandes chances de ser excluído do serviço ativo, se assim o decidir a respectiva Junta de Saúde. Certo, mas o que o parâmetro “idade” tem a ver com tudo isso? A atividade, ao exigir o necessário vigor físico, determina que o militar possa responder, de acordo com seu posto ou graduação, pelas incumbências que lhe são conferidas, desde o começo da sua carreira, ainda no curso de formação. Não há tempo para pensar em ou avaliar possíveis exceções: tudo precisa estar pronto, caso o Congresso Nacional autorize a declaração de guerra. Naturalmente pode-se ter a situação de um combatente que, hipoteticamente, tivesse, aos 28 anos, vigor físico mais apurado do que outro de mesma condição militar, mas dez anos mais jovem. Isso é uma exceção, não a regra; e critérios de seleção, até mesmo por questão de equidade, não podem considerar todas as exceções, com perigo de inviabilizar o processo seletivo. Trabalha-se com um nivelamento de candidatos, escolhendo-se os mais aptos para o desempenho de atividades, especialmente aquelas diretamente relacionadas à Segurança Nacional. Daí que o administrador público pode usar o critério da razoabilidade ao estabelecer limites para ingresso, ainda que, por hipótese, a regra da “lei” não fosse reconhecida constitucionalmente como necessária. Idade, com certeza, é um deles: afinal, ano após ano, a capacidade do ser humano de responder a estímulos sofre pequenas alterações, seja por reflexos menos apurados, seja pelo natural processo de envelhecimento de composição e estrutura orgânica. b) O problema não está em “lei reguladora” A grande questão não está no fato de a “lei fixar o parâmetro”, conforme acabamos de demonstrar, muito embora o administrador esteja pauta-
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ARTIGO do, também, pelo princípio da legalidade para exarar suas determinações em âmbito administrativo. Acontece que muita gente fica inconformada, especialmente após duras e numerosas tentativas, e acaba se vendo definitivamente fora das fileiras militares por causa de um ou dois anos a mais em relação ao que estabelece o edital. Pautados que estão pelo indesejável sentimento de “incapacidade”, que supostamente se traduz no critério etário, passam então a protestar e até a mover ação judicial contra as bancas examinadoras, a fim de verem respeitado seu direito de continuar disputando uma vaga para ingresso na Força. Embora não seja o melhor para atender às necessidades de todos, o critério etário – que diz respeito à idade – é justo para a seleção. Não se trata de um parâmetro discriminatório, posto que não levanta juízo de valor sobre a situação do candidato como ser humano, capaz de uma série de habilidades que não dependem intrinsecamente do vigor físico exigido em edital; o administrador, até por medida de viabilidade do processo seletivo, precisa também de respeito para fixar diretrizes do processo seletivo, segundo o que é requerido de determinado candidato para o desempenho de atividades de cunho bélico. Embora seja discutível, até as empresas da iniciativa privada buscam perfis para o funcionário que desejam contratar; da mesma forma, as Forças têm razão em buscar, entre um universo de candidatos, os que melhor se enquadram no perfil necessário ao preparo e emprego. A falta de critério quanto à idade traz situações indesejáveis para as Forças Armadas. Ao se quebrar o limite de idade, as implicações são as mais diversas. Um concurso que admita idade-limite de 21 anos, atualmente, poderia ter de aceitar candidato com 30 anos, por exemplo: assim, para realizar a mesma atividade, com o mesmo critério físico exigido, seria preciso duas pessoas diferentes, e haveria diferenças, até consideráveis, de desempenho de uma para a outra. E quem sai perdendo, em eficiência, se não a própria Força? Para atender a uma particularidade, cuja responsabilidade é relativa ao próprio candidato por inúmeras razões diferentes, a eficiência de operações bélicas pode ser comprometida e trazer implicações muito sérias, inclusive em se tratando de operações de guerra. Se o critério “idade” não fosse útil, por que então estabelecer a maioridade civil ou penal? Afinal pode-se alegar, da mesma forma, que um adolescente de 12 anos, com pai comerciante, seja plenamente capaz de fechar um contrato tal qual um jovem de 18. Será que estamos falando de condições semelhantes nesse caso? A lei é para todos e por todos deve ser acatada, para que não haja prejuízo à própria sociedade. c) O problema da idade-limite para a inatividade e para a permanência em posto ou graduação
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Outra questão está diretamente relacionada com a limitação por idade: trata-se do sistema de promoções, que produz reflexos no sistema da inatividade do militar. As Forças Armadas são organizadas com base na hierarquia e disciplina, de acordo com o já mencionado texto do art. 142 da Constituição da República. O art. 14 do Estatuto dos Militares dispõe que “hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação”. Nota-se, portanto, que a carreira militar é constituída de forma escalonada, da autoridade detentora de maior esfera de poder para a de menor número de atribuições.
Art. 59. O acesso na hierarquia militar, fundamentado principalmente no valor moral e profissional, é seletivo, gradual e sucessivo e será feito mediante promoções, de conformidade com a legislação e regulamentação de promoções de oficiais e de praças, de modo a obter-se um fluxo regular e equilibrado de carreira para os militares. Observe-se também que o acesso a cada nível da hierarquia das Forças Armadas se dá pela conjunção dos fatores interstício em cada uma dessas posições e idade. É o que informa o art. 17 do mesmo Estatuto:
Art. 17. A precedência entre militares da ativa do mesmo grau hierárquico, ou correspondente, é assegurada pela antiguidade no posto ou graduação, salvo nos casos de precedência funcional estabelecida em lei. Para que alguém seja promovido e, assim, progrida na carreira, outra pessoa deve ser promovida também e, ao final das sucessivas promoções, o militar deve ir para a inatividade. Entre essas possibilidades, no militarismo, não existe aposentadoria, mas reforma e transferência para a reserva. No caso presente, interessa examinar o caso da reserva remunerada, para o que citamos, a título de exemplo, o caso dos oficiais combatentes:
Art. 98. A transferência para a reserva remunerada, ex officio, verificar-se-á sempre que o militar incidir em um dos seguintes casos: I - atingir as seguintes idades-limite: a) na Marinha, no Exército e na Aeronáutica, para os Oficiais dos Corpos, Quadros, Armas e Serviços (…);
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○
○
to deve ser usado, no nosso entendimento, para que os critérios de
IDADES
seleção sejam estabelecidos.
○
○
POSTOS
Agora, uma vez estabelecido o critério “idade” para a seleção nas
○
○
Capitão de Mar e Guerra e Coronel
○
Contra-almirante, General de Brigada e Brigadeiro
○
Vice-almirante, General de Divisão e Major-brigadeiro
○
○
○
Almirante de Esquadra, General de Exército e Tenente-brigadeiro 66 anos
Forças, não há que se contestar sua constitucionalidade, tampouco
62 anos
oferecer ação de modo a contestar os limites dados pelo legisla-
59 anos
dor. Afinal, como o próprio STF já sumulou, não cabe mandado de
56 anos
segurança contra lei em tese.
52 anos
Dessa maneira, o critério pode ser discutido no âmbito do Minis-
48 anos
tério da Defesa, relacionando diretamente o Estado-Maior Conjun-
○
○
Capitão de Fragata e Tenente-coronel
64 anos
○
○
Capitão-tenente ou Capitão e Oficiais Subalternos
○
○
○
Capitão de Corveta e Major
Dados esses exemplos, podemos notar que, agora, a problemática está no fato de, se não existir mais limitação de idade, a Força Armada não terá mais como fixar um prazo inicial para progressão na carreira. Afinal, se alguém adquire a qualidade de militar com a idade em que deveria ser transferido para a reserva remunerada, como ficará regulamentado o tempo de permanência em cada posto ou graduação? Como poderá ser fixado o tempo mínimo para que cada pessoa seja transferida para a reserva remunerada? Como a decisão do Supremo não contemplou esse artigo, a regulamentação da matéria por meio de lei é fundamental. Outro aspecto, pouco comentado: a Força investe, e pesadamente, no preparo do militar, esperando que ele produza frutos com o seu trabalho perante a nação brasileira. Supondo que houvesse a invalidação do limite de idade para ingresso na instituição, o agora militar poderia passar um período mínimo no posto ou na graduação, ou até “queimar etapas”, por conta do critério da idade-limite de permanência na condição militar em que se encontra. E quanto ao preparo, que não se atém apenas ao curso de formação? Quais os perigos de alguém alçar um posto ou graduação para o qual não esteja preparado? Toda uma cadeia de investimentos feitos no aluno fica severamente prejudicada, por falta de respeito ao critério idade, e isso, mais uma vez, compromete a eficiência da Força.
to das Forças Armadas, para que sejam propostas, mediante lei, de acordo com a iniciativa permitida ao ministério pela lei nº 10.683/ 03, medidas uniformes de regulamentação para as três Forças, relevantes para a elaboração de editais futuros. Aliado a essa sugestão, também opinamos pela elaboração de estudos aperfeiçoados e atualizados, nas Forças, que indiquem condições para a fixação de critérios de idade máxima para ingresso nas instituições preparatórias de ensino, tanto para formação de militares combatentes ou não combatentes, de carreira ou temporários. Tudo, naturalmente, continua a ser pautado na razoabilidade e também no respeito ao seu poder discricionário que, sim, precisa relevar a condição de candidato mais favorável ao desempenho das atividades a que a Força se destina. Nossa sugestão, agora, é para o candidato a concursos na área militar. Muitos podem se sentir injustiçados por esse critério, até mesmo por circunstâncias adversas da vida, falta de oportunidades no momento em que elas poderiam ter surgido, entre outras razões. O que, a nosso ver, torna-se indesculpável é o fato de o candidato se escorar apenas nesse critério para “ir tentando novamente”, e não aproveitar hoje a chance de ingressar na instituição, fazendo o seu melhor nos estudos e preparando-se adequadamente, por mais difícil que possa ser essa tarefa. É preciso atitude e determinação agora, como se fosse a última oportunidade da vida. O candidato que lê esta matéria está se adequando com o que é
3. PROPOSTAS E CONCLUSÃO Pensamos, ao elaborar este artigo, em trazer, de modo bem simples e direto, os critérios estabelecidos para a seleção na Força, especialmente
proposto, ou espera que decisões legais ou jurisprudenciais o beneficiem? Pense nisso, e boa sorte.
o que diz respeito ao tão discutido limite de idade. Trabalhamos as hipóteses advindas da quebra desse paradigma e suas implicações de ordem prática, que podem comprometer a eficiência da Força tanto no preparo quanto no emprego de meios, num assunto tão extremado quanto a hipótese de o Brasil se envolver numa guerra. Temos, contudo, sugestões a levantar. A regulamentação em lei, por ser exigência constitucional, deve ser mantida; além do mais, lei regula o
SOBRE OS AUTORES Raquel Monteiro é advogada militante registrada na OAB/RJ, bacharel em Ciências Jurídicas pela Unesa (Niterói-RJ), especialista em Direito Público pela Universidade Gama Filho. Concurseira por ideal e por necessidade, especialmente da área militar. Cleber Olympio é advogado militante registrado na OAB/SP, bacharel em Ciências Jurídicas pela PUC Campinas e radialista (setor locução) pelo Senac/SP. Concurseiro por vocação e por necessidade, especialmente da área militar.
militar como classe especial de servidor público, e o mesmo instrumen-
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ARTIGO
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA: COMO VOCÊ ANDA JULGANDO SUA PRÓPRIA ORGANIZAÇÃO?
Por ANA PAULA DE OLIVEIRA MAZONI, colunista do blog do Concurseiro Solitário
Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem. Ensaio sobre a cegueira, José Saramago
A
frase acima é emblemática e faz parte da obra Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago. Ao ler esse livro nos últimos tempos, me pus a pensar em nossa vida de concurseiros e como julgamos nossas próprias atitudes em relação a nossa organização e técnicas de estudo. Muitos concurseiros, de forma inconsciente ou não, se deixam dominar pela cegueira que é acreditar que as próprias limitações e obstáculos realmente inviabilizam seu projeto de estudos, justificando as próprias posturas e se autoafirmando na ausência de consecução dos objetivos traçados. E a pergunta que me ocorre, talvez a mesma dos personagens cegos de Saramago é: cegamos ou sempre estivemos cegos? Cegos que veem, Cegos que, vendo, não vêem. A justiça é cega, assim como a deusa grega que a representa (Têmis). Com esse chavão simbólico – vendas sobre os olhos (utilizado pela primeira vez por
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ARTIGO Sebastian Brant em A nave dos loucos, de 1494, em ato irônico à deusa Têmis da Justiça e das leis) – crescemos no universo jurídico e no aprendizado dessa ciência que parte do pressuposto, constitucional inclusive, de que todos são iguais perante a lei (cf. artigo 5º, caput, da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”). Mas se a Justiça é e deve ser cega, como simbolismo da própria imparcialidade dos agentes estatais (que tratam a todos de forma igualitária – formal e materialmente, conforme os ditames do Estado democrático de Direito), nós, concurseiros, não devemos ser. Por isso é imprescindível que averiguemos, com seriedade e criticidade, os sistemas de organização e horários que estamos levando a efeito em nosso projeto de estudo, evitando nos perder em excessos, ora de pura organização sem prática efetiva (que é procrastinação), ora de ausência de compromisso e consciência sobre a importância de se construir um método de estudo. Julgar as próprias atitudes é um viés necessário, mas complicadíssimo. Sobretudo porque, nesse ínterim, precisamos ser objetivos e, ao mesmo tempo, evitar excessos de cobranças quanto a nós mesmos. Se já estamos cegos, como supõe José Saramago ao criticar as estruturas morais e valorativas da sociedade, no universo dos concursos públicos, o que te cega ou poderia cegar? • Sua dificuldade em encontrar tempo para se dedicar aos estudos? • A ausência de companheirismo e compreensão por parte de seus familiares? • A pressão, sobretudo interna, por resultados imediatos? • A quantidade de matéria a ser estudada, bem como sua profundidade? • O medo? • A culpa? • Ou seria apenas a procrastinação?
Por que focar nos fracassos, quando se pode analisá-los sob a égide do aprendizado e do crescimento pessoal? Obviamente cada um de nós passa, e passará, por uma série de contratempos até a aprovação, consubstanciados em colocações ruins ou mesmo ótimas, mas fora do número de vagas ou sem boas chances de nomeação. É preciso entender, até do ponto de vista do amadurecimento pessoal, que focar no fracasso não resolve seu problema e só o deixa (ainda mais) cego diante das adversidades, que devem ser solucionadas e enfrentadas com propostas de solução práticas.
Procrastinar significa adiar o cumprimento de determinada tarefa ou ação e pode causar estresse, sensação de culpa, queda dos níveis de produtividade, além de vergonha pela ausência de consecução de seus objetivos. Obviamente cada um de nós carrega pequenas (ou grandes) cruzes diárias, e nem sempre é fácil estudar com elas. Mas não podemos deixar que certas nuances de nossa história pessoal continuem nos impedindo de enxergar as oportunidades à nossa frente, que podem se materializar através de nosso estudo dedicado e disciplinado. E se algo tem te impedido de enxergar seu futuro promissor, baseado na meritocracia de estudar com persistência e qualidade para concursos públicos (e sim, você pode!), o que tem feito, objetivamente, para deixar de ser cego? Como todos nós passamos por cegueiras provisórias em algum momento de nossa caminhada, seguem algumas dicas para nos curar desse mal:
4. O MELHOR MOMENTO PARA COMEÇAR (E RECOMEÇAR) É SEMPRE AGORA Se você leu esse texto e também se perguntou se andava cego em alguns pontos de seu projeto de estudos, o objetivo por mim pretendido foi alcançado. A melhor ocasião para buscar a otimização de seu aprendizado é agora, independentemente do momento de vida e de história pessoal pelo qual você está passando. Como disse acima, as diversas cruzes pessoais que carregamos, nossas dificuldades de aprendizado, nossos “supostos” fracassos (supostos porque se bem entendidos, nunca chegarão a ser fracassos de fato), medos, dificuldades financeiras, enfim, tudo aquilo que carregamos dentro de nós não pode ter o condão de nos cegar perante a gloriosa verdade de que preparação e disciplina, quando somadas, implicam sempre aprovação. A verdade está na sua frente. Nada é capaz de impedir você. Consegue enxergar a beleza disso?
1. FOQUE NO QUE REALMENTE IMPORTA: A QUALIDADE E CONSTÂNCIA DO SEU ESTUDO E NÃO OS FRACASSOS
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2. JULGUE-SE DE MANEIRA OBJETIVA – EXPERIMENTE TÉCNICAS DE ESTUDO E AVALIE OS RESULTADOS Se a técnica de estudo, de memorização ou de aprendizado não funciona para você, a par de ser reverenciada por estudiosos do assunto, não insista! Procure, conscientemente, outros métodos e os vá experimentando até encontrar o que se adapte às suas funcionalidades pessoais. O que você não deve, sob hipótese alguma, fazer é desistir. 3. NÃO SE CULPE POR SUAS FALHAS; APRENDA COM ELAS E SIGA EM FRENTE Um dos fatores que aumenta os níveis de estresse e compromete nossa capacidade de aprendizagem é a culpa pela velocidade diminuta de nossos avanços e (ou) as pedras no caminho não superadas à contento. Pois eu repito: a culpa não te levará a lugar algum. Perdoe-se pelas falhas e aprenda – sempre e em todas as ocasiões. Passar em provas e concursos públicos inclui treino e muito trabalho. Errou? Repita e faça treinamentos exaustivos, revisões e simulados. Só se fixa a matéria a partir de formatos corretos de aprendizado. E todos nós podemos empreendê-lo em nossa vida.
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REDAÇÕES
E OS VENCEDORES DO 2º CONCURSO DE ARTIGOS DO BLOG SÃO... N
o fim de 2010 lançamos a segunda edição do Concurso de Artigos voltado para os leitores do Blog Concurseiro Solitário, cuja primeira edição foi um grande sucesso. Mas de cara enfrentamos uma dificuldade que, apesar de prevista,
não esperávamos que fosse tão grande: a falta de entendimento dos leitores do que afinal de contas seria um artigo. Baixamente um artigo é muito parecido com uma redação: ambos são textos em que o autor expressa suas opiniões sobre determinado assunto. A maior diferença está no uso dos termos. Enquanto o primeiro é mais utilizado em ambientes jornalísticos, o segundo é mais usado entre estudantes. A fim de lidar com essa dificuldade, passamos a usar o termo “redação” em vez de artigo na divulgação do concurso. Mesmo assim, recebemos muitas inscrições e uma grande quantidade de ótimos textos, o que tornou o julgamento de todos um tanto demorado por envolver as notas dos vários membros da equipe do Blog para diversos quesitos. Finalmente tabulamos os resultados e chegamos aos textos ganhadores, que vocês conhecem agora.
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1O DISCIPLINA É LIBERDADE O cantor e compositor Renato Russo, líder da banda Legião Urbana,
mos, é porque somos mais azarados ou mais burros. Aliás, muitos candi-
confessou em uma entrevista ter ficado bastante espantado com certos
datos contribuem para o surgimento desse tipo de crença, uma vez que,
questionamentos a respeito do verso “Disciplina é liberdade”, que faz
depois da aprovação, tendem a esquecer os momentos de árdua dedica-
parte de uma de suas músicas mais famosas, “Há tempos”. Segundo ele,
ção, preferindo destacar somente sua “grande inteligência”. Quem nunca
alguns críticos interpretaram o verso como sendo de cunho fascista e o
sentiu um pouco de inveja de um colega empossado que diz “Eu nem
acusaram de incentivar a obediência inquestionável e a submissão cega
estudei tanto assim, é que tenho uma cabeça boa, basta ler uma vez e já
às autoridades. Renato, entretanto, falava sobre a autodisciplina, uma
decoro a matéria” que atire a primeira pedra.
das conquistas mais penosas e mais gratificantes na vida de qualquer
Escolher ser disciplinado é uma missão que exige, sobretudo, coragem.
ser humano.
Coragem para olhar para dentro de você mesmo, aceitar suas más deci-
Essa confusão não é incomum. Nós temos a tendência de relacionar o
sões e perdoar seus erros do passado. Sem aceitação, não há supera-
termo “disciplina” a uma rigidez excessiva, imposta por superiores hie-
ção. E coragem, também, para mudar. Não é fácil, mas é possível. Em
rárquicos. Na minha escola, por exemplo, havia vários disciplinários
primeiro lugar, devemos nos libertar da falsa ideia de que ser disciplina-
encarregados de manter a ordem nos corredores, fiscalizando unifor-
do é carregar um pesado fardo nos ombros. Disciplina não é dor: é
mes e controlando a entrada e a saída dos alunos. Eles eram uns estra-
liberdade. Não há satisfação maior do que cumprir nossas próprias
ga-prazeres. Hoje em dia, felizmente, não somos mais aquelas crianças
promessas. Mesmo que a aprovação demore, a certeza de que estamos
que precisavam ser cobradas pela professora para manter a lição de casa
fazendo a nossa parte em busca dos objetivos que nós mesmos estabe-
em dia. Não precisamos mais que os inspetores nos lembrem que o
lecemos nos dá uma sensação indescritível de paz e autoconfiança.
recreio acabou e que temos que voltar para a sala de aula. Escolhemos estudar seriamente para concursos públicos porque acreditamos que
RESUMO DA ÓPERA
esse é o melhor caminho para o nosso sucesso profissional. Somos,
Concurseiro, comece agora mesmo a desenvolver a autodisciplina na sua
pois, os disciplinários de nós mesmos.
rotina. Mas não se precipite: vá devagar. As verdadeiras mudanças são
Temos, contudo, que lidar diariamente com a preguiça, o desânimo, o
lentas, pois exigem determinação, foco e muita paciência. Estabeleça me-
medo da concorrência, a ansiedade, a impaciência, a demora dos resul-
tas modestas e, gradativamente, vá exigindo mais de si mesmo. Ninguém
tados e muitos outros inimigos da nossa aprovação. Não é fácil. Mas o
consegue, por exemplo, estudar oito horas seguidas no primeiro dia.
remédio, no fundo, todos conhecemos: é a autodisciplina. Sem ela, não
Comece estudando uma hora e vá aumentando o ritmo devagar, mas de
conseguimos nos organizar, não reconhecemos nossos pontos fracos,
modo constante. No início, você terá muita vontade de desistir. O compu-
não encaramos as matérias mais complexas e nos tornamos eternos
tador, a TV, o telefone e as pequenas distrações chamarão por você o
escravos da procrastinação.
tempo todo. Mas, se você tiver força de vontade suficiente para persistir, se
Na teoria, é tudo muito lindo e até um pouco óbvio, afinal todo concurseiro
conseguir resistir ao “canto da sereia” e às dificuldades das primeiras
está cansado de saber que precisa ser disciplinado para alcançar seus
semanas, logo descobrirá o prazer de ser honesto com você mesmo e,
objetivos. Por que, entretanto, na prática é tão difícil desenvolver e manter
com certeza, não demorará a colher os frutos de todo o seu esforço.
uma postura disciplinada? Penso que, secretamente, a gente cultiva o “pensamento mágico” de que a sorte ou o QI alto são os verdadeiros segredos do sucesso de nossos concorrentes. E que, se ainda não passa-
Marcela Zaidan é concurseira há três anos e luta todos os dias contra a preguiça e a procrastinação a fim de realizar o sonho de ser aprovada em um concurso público. Acredita realmente que “disciplina é liberdade”.
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REDAÇÕES
2O VOCÊ É O CARA! Ano passado participei da promoção e enviei um texto que tratava do
mos ao certo que hora é essa. Dentro de nós reside a certeza de que o dia
universo do concurseiro. Coloquei em pauta uma espécie de doença
da aprovação e da nomeação chegará.
que acomete todos nós, que optamos por conquistar uma vaga no
Dentro de nosso projeto só há espaço para quem compartilha nos-
serviço público: a concurseirite concurseirite.
sos sonhos: para a esposa que sai com as crianças para o marido
Este ano resolvi falar de outra questão de que temos que tratar constan-
estudar, para a mãe que se desfaz das economias para comprar livros
temente. Afastar os descrentes, pessimistas, mais conhecidos como
para o filho, para o marido que limpa a casa e faz supermercado para
“desmancha-prazeres”.
que sua esposa não perca um minuto do tempo dispensado aos
Você, que é concurseiro, com certeza já ouviu algum discurso do tipo:
estudos, para o pai que vê a televisão sem som para não atrapalhar
“Concurso é tudo carta marcada”, “Fulaninho só passou porque é filho
a concentração da filha.
de Fulano”, “Você não tem mais idade para aprender”, “Fiscal da Receita
Nós somos os responsáveis por nossa aprovação, mas não podemos
é mosca branca, só as pessoas superinteligentes conseguem passar”.
negar que com a ajuda dos nossos é mais fácil. Ou seria, menos difícil?
Amigo, não se engane, sempre vai aparecer alguém querendo jogar
Sejamos cruéis com qualquer pessoa que se aproxime de nós com o
água fria em você, com os mais variados argumentos para enfiar na sua
intuito de nos desmotivar ou sugerir o fracasso.
cabeça que concurso público é uma furada. Essas pessoas, em sua
Afinal, somos portadores de concurseirite aguda, respiramos concurso,
grande maioria, jamais teriam coragem para encarar uma empreitada
sonhamos aprovações, bebemos súmulas, comemos códigos, vivemos
dessas; não basta querer passar, é necessário conquistar sua vaga.
para esse projeto.
Nós sabemos que raros são os casos de quem se dispõe a fazer concur-
Concurseiro é uma raça da espécie ser humano, temos características
so público e é aprovado na primeira tentativa. Em regra, muitas derrotas
tão marcantes que identificamos um semelhante de longe. Concurseiro
antecedem a vitória. Após uma prova malsucedida, ficamos muito vul-
adora falar de prova, adora brincar de resolver provas online, adora
neráveis ao veneno desses seres, que adivinham o momento em que
assistir TV Justiça, adora ler o jornal com corretivo em punho em busca
estamos fragilizados e vêm destilar suas teorias a fim de plantar a
de um deslize do redator.
sementinha da dúvida em nossa cabeça: “Será que vale a pena tanto
Enfim, vivemos em um mundo paralelo, normalmente só os concurseiros
sacrifício? Será que tenho mesmo capacidade de passar?”. Mil dúvidas
se compreendem, existe um amparo mútuo, apoiamo-nos e alimentamo-
passam pela cabeça.
nos das histórias dos que já são funcionários públicos. Em cada depo-
Mas concurseiro que tem concurseirite na veia, não emprenha pelo ouvido,
imento lido, há uma leitura íntima que diz “amanhã é o meu depoimento
tem anticorpos suficientes para não se deixar contaminar por qualquer
que todos estarão lendo”.
pessoa que ouse duvidar de sua capacidade ou da seriedade de sua escolha.
Não importa quantos duvidem de seu projeto, a sua certeza é que faz a
Todos os dias, temos que afirmar que nosso projeto é viável, que nossa
aprovação. Acredite em você! Isso pode definir a sua aprovação.
hora vai chegar, que a fila anda e que a colheita virá, embora não saibaGiovanna Garcia é uma concurseira que depois de uma fase de desânimo voltou a estudar sério para concursos públicos e agora para valer.
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3O VIDAS SECAS DE UM CONCURSEIRO A vida de concurseiro para alguns seria retratada como a paisagem
cial para minha carreira na área de Direito, o privilégio de apreen-
árida do nosso querido sertão nordestino, entre outras particulari-
der a viver com os desafios e as experiências proporcionadas por
dades semelhantes ao quanto narrado em Vidas secas, fazendo um
esses caminhos.
paralelo com o título da famosa obra literária do memorável escritor
Os desafios não alcançados não podem servir de prêmio de conso-
Graciliano Ramos.
lação ou motivo de desistência dos nossos sonhos; pelo contrário,
Na realidade, porém, apesar de árdua, desigual e às vezes injusta e
devem servir e serem encarados como metas de superação a serem
subumana, a vida de concurseiro é repleta de emoções e aprendiza-
atingidas.
do, por isso merece um olhar diferenciado nessa óptica.
Ainda não atingi meus objetivos profissionais, mas aprendi durante
É bem verdade que há muitos obstáculos durante a jornada (ponto
os caminhos de vidas secas que o segredo do sucesso está na dedi-
em comum), contudo as glórias e os caminhos por que passamos
cação e no comprometimento com os nossos projetos, na maneira
compensam as duras batalhas e guerras travadas – mesmo que o
com que nos doamos ao próximo e em nossa conduta. De maneira
objetivo de aprovação em concurso não seja alcançado.
simplificada, é uma maturidade que a cada dia de estudo e de vivência
A afirmação contida na parte final do parágrafo anterior pode até
nos aproxima mais e mais da aprovação em concurso público.
parecer impensada e infeliz, mas não é. Conheço várias pessoas
O interessante nessa abordagem é a valorização dos caminhos em
que não foram aprovadas em concursos, todavia essas pessoas
vidas secas, definidos como um período necessário de aprendizado
cresceram profissionalmente por causa da intensificação dos estu-
e maturidade para o concurseiro.
dos, ganhando grande maturidade no caminho de vidas secas.
E é particularmente nesses caminhos que me apego acima de tudo a
Quanto a isso se pode ter absoluta certeza (pedindo escusas quan-
Deus (independentemente do credo ou das religiões professadas
to à redundância necessária): os estudos para concursos deram a
por cada um) como centro da minha motivação; depois à minha
bagagem em matéria de conhecimento a essas pessoas para atua-
família e à vontade incessante de realizar meu sonho, que é a apro-
ção na vida profissional.
vação em concurso público.
Apesar da observação, registro que o nosso foco aqui é o de vencermos a batalha e a guerra, assim devemos nos manter firmes em nossos propósitos.
RESUMO DA ÓPERA Vivam os caminhos de vidas secas de um concurseiro como um
Durante os caminhos até o momento, conheci inúmeros amigos
processo de evolução humana necessário para nossa maturidade em
em viagens para a realização de provas em concursos públicos,
diversos aspectos, porque a nossa hora de aprovação em concurso
bem como conheci belos lugares e culturas diversificadas, levan-
público mais cedo ou mais tarde chegará.
do na minha bagagem profissional, além de conhecimento essenJoaquim Leitão Júnior é graduado pelo Centro do Ensino Superior de Jataí (Cesut). Pós-graduado em Ciências Penais pela Rede Luiz Flávio Gomes (LFG) com a Unisul. Atualmente assessor de magistrado em Mato Grosso e concurseiro.
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ARTIGO
É POSSÍVEL ALIAR ESTUDO PARA CONCURSOS E TRABALHO? Por LUIZA RICOTTA
S
im, é possível, tanto que perto de 50% ou mais desse público interessado na carreira pública está nas escolas preparatórias e simultaneamente trabalhando na esfera privada. Está aí uma questão que paira na mente daqueles que buscam o seu caminho profissional e observam o que de melhor pode ser feito para conseguir a aprovação na carreira pública. Os candidatos buscam definir para si mesmos qual a medida certa para o seu investimento, de que modo precisam estruturar a sua vida para que consigam êxito. E aqueles que estão envolvidos em trabalhos autônomos e setor privado ressentem-se de não ter todo o tempo direcionado para a sua preparação. Procuram ir se organizando de forma a buscar cursos, materiais de estudo concomitantes ao trabalho. Esse público de candidatos está bem dividido entre aqueles que dedicam exclusividade aos estudos e aqueles que têm uma vida profissional e vislumbram a carreira pública. Certamente este último grupo faz comparações no sentido de que aqueles que têm dedicação exclusiva aos estudos estariam levando vantagem, ou seja, seriam “candidatos mais bem preparados”. Mas as comparações não param por aí. Há aqueles que vão comparar horas de estudo, o período de tempo para obter aprovação... QUEM FAZ PARTE DESSE GRUPO Estamos falando de profissionais que estão no mercado de trabalho privado em razão de uma necessidade. Pensar simplesmente em abrir mão da atividade que proporciona subsistência financeira e experiência na área é trazer-lhe mais um aspecto de pressão. No entanto aqueles que aliam trabalho e concurso acabam encontrando uma combinação também que exigirá equilíbrio e excelência igualmente como no outro grupo. Porém a forma de vivenciar será diferente, e ambos podem conquistar a vitória. Para o universo desses candidatos, todo tipo de situação que possa melindrar o seu projeto é relevante para que ele passe a buscar meios de se desdobrar para que os seus intentos sejam contemplados. Acabam encontrando um modo eficiente de operar a própria vida. Fazendo dar certo ainda que se esforcem demasiado. E podem perguntar: por que equilíbrio? É o que você precisará para constituir uma vida organizada e bem distribuída no que tange
ao uso do tempo, considerando o tempo interno e o externo. Entenda por tempo interno aquele que é vivido, dimensionado pela pessoa como elaboração de tudo o que vivencia. E tempo externo, aquele que se distribui entre as horas e os minutos, fazendo de você eficiente por tornar possível realizar as tantas atividades, uma a cada vez. No entanto só é possível realizar várias atividades desde que se tenha a tal dimensão interna, a serenidade, concentração e atenção dirigida. COMO SE DIVIDIR ENTRE UM TRABALHO E PREPARAR-SE PARA CONCURSOS? EIS A QUESTÃO! A medida está no equilíbrio das expectativas, numa proveitosa distribuição do tempo e na excelência de cada um quanto à aplicação de habilidades e competências, um misto de disciplina, organização, determinação, persistência, aprimoramento constante, aceitação dos limites de tempo, do próprio corpo em razão do cansaço, desgaste, condições psicológicas e emocionais para levar adiante o processo de superação. Este grupo de profissionais está em busca de uma colocação que lhes dê segurança e regularidade salarial bem como um plano de carreira que envolve promoções, bônus, adicional por tempo de serviço e benefícios que a área pública oferece e que se tornaram atrativos no mercado de trabalho. Para citar como exemplo, para um funcionário público obter financiamento na compra de apartamento ou carro, as condições de aprovação e as taxas são mais atrativas. Tal grupo, o dos que trabalham e buscam a colocação na esfera pública, são os que não encontram essas garantias e benefícios na iniciativa privada. Analisam as dificuldades de crescimento profissional somado ao desnível salarial. Saem, portanto em busca de um recurso que os fará galgar uma posição em que não fique submetido à boa vontade de seus chefes, de pessoas que compartilhem a definição da sua vida profissional. Passam, portanto a buscar cursos em escolas preparatórias como forma de se preparar aos poucos, sem que precisem sair do local de trabalho, passando a investir no futuro mais próximo, tendo como estímulo o alcance do que representa sucesso. Alguns profissionais realmente se destacam na esfera privada, se encontram. Seu perfil é apropriado para isso, enfrentando os desafios inerentes a essa
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ARTIGO escolha. E aqueles que lidam melhor com planejamento da vida, com a ação do tempo no decorrer desse seu processo de uma melhor colocação, são os que vão buscar o concurso público. Pois compreendem que esse desafio se dará no decorrer de um tempo, portanto sua expectativa de aprovação em tempo recorde é adaptada para as condições reais de sua vida. Sabe considerar o valor do tempo e adaptar-se à espera. Sob esse aspecto, aquele que está inteiramente investido em estudos já possui mais dificuldade, pois se cobra resultados, o que em suma significa aprovação e ingresso no cargo, num menor tempo possível em razão de sua dedicação exclusiva. Um dos pontos fundamentais do desafio para esse público é uma menor ansiedade associada ao prazo de colocação, pois já estão em atividade profissional, possuem compromissos com outros interesses da vida e deles não podem abrir mão; tem mais facilidade em aceitar as limitações e ao mesmo tempo buscam forças para se manter em alta! Na verdade não querem perder nada, apostando nas duas iniciativas, não se arriscando inteiramente a abrir mão de uma dessas atividades; no entanto é o concurso, a representação do seu projeto profissional maior. Pensa que dessa forma não correrá muitos riscos, pois se vê impossibilitado de esperar em razão de interesses outros que existem em sua vida, como filhos, família, trabalho em empresa familiar, investimentos pessoais. E o que poderia ser uma dificuldade acaba sendo um valor agregado no que tange ao aperfeiçoamento de suas habilidades que darão corpo à sua estrutura emocional – sustentação necessária para levar adiante o seu projeto de colocação profissional na esfera pública. Poderá incidir em falhas, ver-se desordenado e sem orientação em razão dessa multiplicidade de interesses e dedicação, mas se persistir nessa intenção, aprenderá muito sobre como explorar o seu melhor com eficiência. O DESAFIO PESSOAL O candidato está sendo testado de todas as maneiras numa dimensão global e exatamente por isso precisará contar com os seus recursos pessoais, valores e competências. Muito contribui para este grupo a percepção de que estão em constante aperfeiçoamento. E que tudo o que puderem corrigir não representa o erro, e sim ajustes que se tornaram necessários. AS COMPARAÇÕES Pessoas não são comparáveis. São únicas e possuem um traçado diferente em razão da própria história de vida e do modo como atuam nas suas superações, como é o caso de quem presta concursos. O grau de maturidade da pessoa envolvida no processo de preparação e aprovação se dá na medida em que vai vivenciando tais etapas, de onde é possível avançar de um patamar a outro. Supera, portanto, resolve a partir da compreensão de um novo alcance. Incorpora o desafio com base em novo patamar. As comparações são usuais em amadores e inseguros e naqueles que
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expiam o percurso de outro, como que desenvolvendo uma dinâmica baseada em atalhos, os quais dependendo do modo como são usados revertem a resultados diferentes do seu propósito. ATALHOS DO PERCURSO Os atalhos são mecanismos facilitadores, estratégias já pensadas e que funcionam. Mas, se utilizados como forma de igualar todos a eles mesmos, promovem num curto espaço de tempo efeitos contrários ao que se pretendia: você passa a ser igual a todos, sem diferenciações, ou seja, sem estabelecer parâmetros próprios. Atalhos que são utilizados para igualar você a outros estabelecem comparações prejudiciais aos candidatos, proporcionando aceitação no grupo, fazendo-os agir dentro do esperado daquele grupo. No entanto, os atalhos utilizados como estratégias de reforço para o seu percurso, pelo candidato diferenciado, ou seja, aquele com personalidade, que é ele mesmo, fazem com que as superações proporcionem consistência na execução da sua preparação. Ele se transforma a cada obstáculo vencido e superado. Passa por desafios de toda ordem e se diferencia, pois a sua referência tem por base ele mesmo. Não faz comparações com outros. Estabelece uma conexão direta consigo próprio, pois em se tratando de performance voltada para a obtenção de resultados, toda preparação faz parte de uma evolução pessoal, resultado de seus esforços no decorrer das superações. A SUPERAÇÃO COMO APRIMORAMENTO Fazer a gestão e manter o foco em formas que você mesmo desenvolve são os reais meios facilitadores dessa superação. E possibilitam-lhe centralizar suas forças e proporcionar segurança e confiança. Saber avaliar suas condições envolve maturidade. Sendo assim não precisará da aflição e nem da ansiedade, fruto do perder-se de si mesmo e de não identificar a necessidade de fazer novos planos diante da realidade. Quando você supera os desafios, os obstáculos naturais existentes, e pauta-se pelo seu próprio aperfeiçoamento, acaba por desenvolver recursos que diminuem o seu grau de dificuldade, aprende a enxergar a sua evolução e aquieta-se sem precisar de referências outras, externas, das comparações com outros candidatos, como se precisasse igualar-se a outros. A superação propicia originalidade, portanto o diferencial do candidato, em que o resultado acontece de forma completa e global, como tem que ser.
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Luiza Ricotta é psicóloga, professora universitária e escritora. Coach de Desenvolvimento Profissional e Pessoal de candidatos à carreira pública. Autora dos livros Preparação emocional em concursos públicos e Motivação como parte do seu processo de aprovação, entre outros. Colunista do Jornal dos Concursos. Psicóloga e professora do Curso FMB de Carreira Jurídica. Twitter: @luizaricotta
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OPINIÃO
INVEJA, PRECONCEITO E OUTRAS DROGAS Por FLAVIA CRESPO, técnica em regulação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e colaboradora especial do blog do Concurseiro Solitário
S
er servidor público é algo que vai além de uma mera atividade profissional com finalidade de obter renda. A função do servidor extrapola o horário e as paredes de sua repartição. Por que estou dizendo isso? Porque a vida já me deu provas mais do que suficientes do quão longe vai essa história de vestir a camisa. Várias vezes e em diferentes situações, vi pessoas fazendo críticas contundentes e até mesmo covardes contra os servidores públicos. Você pode encontrá-las em redes socais e rodas de amigos. Tente acessar qualquer notícia na internet sobre problemas de prestação de serviços públicos e voilà: no espaço dos comentários, os detratores raivosos estarão “deitando os cabelos“. Como é da minha natureza, lido com essas críticas de forma leve, tentando explicar ao interlocutor da vez que não se pode tomar o todo por um elemento. Só que a vida tem seus sortilégios... E eis que, um belo dia, no ambiente familiar, vejo uma pessoa insultando os servidores públicos de modo covarde e tendencioso. As ofensas foram crescentes a ponto de praticamente me tirarem do sério. Não reproduzo aqui as tolices que ouvi porque, creio eu, um concurseiro sério sabe exatamente de que tipo são, a mesma cantilena de sempre. Foi desagradável, deselegante e muito, muito constrangedor. Refletindo sobre essa situação e algumas outras que já vivi, vejo que a inveja e o preconceito guiam os críticos contumazes e irracionais do serviço público. Os invejosos – e tenho muita parcimônia ao dar esse
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adjetivo a alguém – são aqueles que sentem raiva do nosso salário e da nossa estabilidade. Sua inveja profunda, claro, surge do reconhecimento de que são incapazes de conquistar um cargo público, seja porque são intelectualmente limitados, seja porque não são suficientemente fortes para suportar a carga emocional de encarar um concurso. Acreditam que o serviço público é um lugar para gente como eles (beócios, pouco ambiciosos, toscos), sem se dar conta de que, para pessoas com esse perfil, não há lugar nem na administração pública, nem na iniciativa privada. Estão fadados à mediocridade e ao marasmo. Ainda, os preconceituosos nunca tiveram nenhum contato mais íntimo com o serviço público, contudo acreditam poder criar extensas teses sobre ele – com sua brevíssima experiência de procurar atendimento em balcões de repartição. Têm a ideia formada de que servidores ganham muito, trabalham pouco e tem uma tendência natural à leniência e ao ostracismo. Se não forem do tipo extremamente cético, podem entender que não é bem assim que a banda toca; se forem, é melhor deixar pra lá e seguir andando. RESUMO DA ÓPERA A imagem do serviço público perante a sociedade ainda é, infelizmente, bem ruim e não corresponde à realidade. Cabe ao servidor, dia após dia, realizar seu trabalho da melhor forma possível, contribuindo com o lento e necessário processo de mudança dessa imagem negativa.
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ARTIGO
Por JERRY LIMA, advogado concursado do CREA-SP e colaborador especial do blog do Concurseiro Solitรกrio
UM PLANEJAMENTO PARA O CONCURSEIRO TRABALHADOR 56
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A
ndo me debruçando e refletindo sobre este assunto há muito tempo. Aliás, desde que entreguei minha monografia, no nono semestre da faculdade, quando deixei de estudar minhas oito horas líquidas (isso mesmo!) e passei a trabalhar ferrenhamente no escritório como estagiário, observei que minhas horas disponíveis para estudo haviam passado de oito para duas por dia. Isso foi no segundo semestre de 2007. Por muito tempo, como qualquer concurseiro sério, passei por dúvidas, medo e insegurança, temendo que a resposta para a pergunta do assunto desta terceira edição da revista, isto é, “É possível trabalhar e estudar sério para concursos públicos?”, seria negativa. Mas a vida, esta insubstituível professora, me ensinou que mesmo aqueles que são trabalhadores com rotinas diárias de serviços (me refiro àqueles empregados com jornada de trabalho de oito ou mais horas diárias) possuem condições de ser aprovados em certames públicos. Vejam bem: não trabalho aqui com a hipótese de somente estudar de forma séria para os concursos. Contudo, afirmo, com a absoluta certeza, que é totalmente possível ser aprovado nesta situação híbrida de concurseiro e trabalhador. Mas a finalidade deste artigo não é trazer a minha experiência pessoal de vitória nos concursos públicos, muito menos de escrever sobre isso. O meu objetivo neste texto é tentar trazer um planejamento o mais adequado possível à realidade do concurseiro trabalhador, que é, atualmente, o meu caso. Para que isso seja possível, tomei a liberdade de trazer o meu próprio planejamento, aquele que tenho utilizado neste momento para os futuros concursos que enfrentarei. Uma observação: não fique achando que será “O” super-hiper-mega-ultra-
blaster-sônico-master planejamento. Na verdade, o que ofereço a vocês, leitores, nada mais é do que a simples e pura realidade, contendo uma previsão das horas disponíveis que um trabalhador atualmente terá na semana, sem se descuidar de uma ou duas horas livres para espairecer a cachola. Assim, sem mais delongas, vamos às técnicas aplicáveis para que o planejamento e seu rendimento no estudo sério para concursos deem certo. Primeiro, digo de pronto uma coisa lógica: são pouquíssimas as horas que nós, concurseiros sérios e trabalhadores, temos à disposição para estudar. Todavia odavia, isso não é motivo para arranjarmos briga COM QUEM QUER QUE SEJA que deseje a nossa ajuda nessas horas preciosas. Acredite: ajude hoje e será beneficiado de alguma forma amanhã. Sim! Pode parecer utópico, irreal, inconsequente. Mas quem está falando é uma pessoa para quem, assim que se comprometeu a simplesmente auxiliar e ajudar no escritório, DE BOA VONTADE, ou seja, sem esperar algo em troca, as coisas aconteceram. Coincidência? Eu creio que não. Mas faça o teste: tente forçar o estudo com alguém precisando (mas precisando mesmo!) de sua ajuda, ou, ao contrário, ajude a pessoa e depois vá estudar. Segundo, como nós não temos muito tempo para estudar, precisamos MAXIMIZAR o estudo. Não sei se tal técnica foi criada por mim ou se alguém mais antigo já a usava e eu a reinventei. A questão é que como nós não temos poucas horas, precisamos aproveitá-las AO MÁXIMO! E como fazer isso? De duas formas: 1) Tenha sempre a seu alcance um material de estudo. Seja uma pequena lei impressa, que caiba no seu bolso, seja um livro leve e fácil de carregar. Pode acreditar: meia hora que seja que você consiga estudar já é um ganho extraordinário. Ganho, quase todo dia, de uma hora e meia a duas horas de estudo no trajeto do trabalho para casa. Quando chega o ônibus fretado, sento-me na poltrona, abro o meu código e começo a ler lei seca. Em vista disto, consegui aumentar em três a quatro horas o tempo de estudo todos os dias. Convenhamos, é muito tempo para quem trabalha durante a semana. 2) Durante o seu estudo no lugar próprio para isso (em seu cantinho de estudo em casa, ficando até mais tarde no trabalho etc.), tente revisar aquilo que você já leu (doutrina, lei seca, jurisprudência). Gosto de trabalhar com exemplos, e o que posso passar é a minha experiência: toda vez que leio alguma jurisprudência que me remete a um artigo de lei, vou até o código e leio novamente a norma. Repito o mesmo procedimento quando estou lendo a doutrina. Assim, ao mesmo tempo em que estou lendo a doutrina, estou revisando as normas que dizem respeito ao assunto. E como faço para revisar a doutrina, a jurisprudência e a lei de uma vez só? Resolvendo questões!
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ARTIGO
O próximo passo é recolher todo o material disponível: cadernos de cursinhos, sinopses, Vademecum, aulas em áudio, em vídeo, livros etc. Reunido todo o material, o concurseiro escreverá em uma folha de papel ou um arquivo de computador todas as atividades desenvolvidas por ele durante a semana, de segunda a domingo. Vamos ao meu exemplo:
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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
: : : : : : : :
○
○
SEGUNDA-FEIRA A SEXTA-FEIRA Despertar 4h45 Viagem até o trabalho das 5h45 às 7h15 Trabalho das 8h às 17h Chegada no fretado 17h20 Viagem até em casa 17h25 às 19h15 Banho 19h20 às 19h35 Jantar 19h35 às 19h55 Estudo 20h às 23h
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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Despertar Café da manhã Estudo Almoço Estudo Horas de espairecimento Descansar
○
: : : : : : :
○
○
SÁBADO E DOMINGO
○
a) DIREITO CIVIL b) DIREITO PROCESSUAL CIVIL c) DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE d) DIREITO PENAL e) DIREITO PROCESSUAL PENAL f) DIREITO CONSTITUCIONAL g) DIREITO ELEITORAL h) DIREITO EMPRESARIAL i) DIREITO ADMINISTRATIVO j) DIREITO TRIBUTÁRIO k) DIREITO AMBIENTAL l) NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA
Notem que de manhã eu coloquei que viajo de casa até o trabalho das 5h45 até as 7h15. Mas por que não estudo nesse período? Porque como acordo muito cedo e vou dormir relativamente tarde, necessito desse tempo para descansar mais um pouco. Assim, consigo completar um período razoável de descanso, essencial para conseguir enfrentar essa rotina. Passada a semana de trabalho, vamos ao sábado e domingo. O Charles cansou de escrever no blog que, para quem trabalha, o fim de semana é ESSENCIAL PARA ESTUDAR. Mas calma! Dá pra estudar muito e descansar numa boa também. Geralmente, o meu fim de semana se resume ao seguinte:
○
Pois bem. Dito isso, vou demonstrar a aplicação do meu planejamento para o concurso que prestei recentemente: o 183º concurso para ingresso na magistratura do Estado de São Paulo. Antes de tudo, a primeira coisa que o concurseiro deve fazer é ESTUDAR O EDITAL DO CERTAME. Já escrevi sobre isto na primeira edição da nossa revista (“Sua Majestade, o Edital”). É lá que estão as regras do jogo, ou seja, quais matérias serão cobradas, quantas fases haverá, quantas questões existirão de cada disciplina na prova, os pesos, entre tantas outras informações importantíssimas que o concurseiro deve saber. Lido o edital, examinadas as normas que regulamentarão o concurso, passa-se a primeiramente separar todas as matérias que serão cobradas na prova. Utilizando o exemplo acima, chega-se à quantidade de 12 matérias:
7h30 7h30 às 8h das 8h às 12h das 12h às 13h das 13h às 19h das 19h às 22h 22h
Vocês notaram que, sem precisar eliminar o meu lazer (horas de espairecimento), consegui estudar aproximadamente dez horas em cada dia? Pois é. Aí você fecha a semana com um total de praticamente 40 HORAS! Isso é o equivalente a estudar OITO HORAS DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA! E tudo o que fiz foi simplesmente colocar no papel as atividades da semana e os horários vagos sem, FRISE-SE, sacrificar os horários de lazer. Bom, feito isso, vamos ao passo seguinte: a montagem das matérias nessas horas. Aqui confesso que por muito tempo tentei colocar o horário em que eu iria estudar a matéria X ou a matéria Y. Só que isso começou a me causar uma série de problemas. O maior deles ocorria quando eu descumpria aquele horário determinado e a minha consciência pesava muito, mas muito forte. E isso acaba, de um jeito ou de outro, sendo negativo. Assim, o que eu fiz? Simplesmente elenquei as matérias em uma ordem e assim que eu tenho um horário livre eu posso estudar a matéria que está na ordem ou outra qualquer. Assim, quando, por exemplo, eu não puder estudar naquele dia as minhas três horas, é claro que eu saberei que descumpri o meu horário, mas a dor na consciência será menor, porque eu poderei compensar aquela perda com quaisquer das matérias que ainda tenho que estudar. Resumindo: eu não determino na minha semana as matérias que devo
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estudar, deixando o meu horário totalmente flexível para que eu possa cumpri-lo de acordo com as minhas possibilidades. Para que fique mais fácil de entender eu vou colocar aqui exatamente a disposição do meu planejamento. Quem olha o meu planejamento vê a seguinte disposição: Lei Seca: Direito Civil Doutrina: Direito Civil Jurisprudência Lei Seca: Direito Processual Civil Doutrina: Direito Processual Civil Jurisprudência Lei Seca: ECA Doutrina: ECA Jurisprudência Lei Seca: Direito Penal Doutrina: Direito Penal Jurisprudência Lei Seca: Direito Processual Penal Doutrina: Direito Processual Penal Lei Seca: Direito Constitucional Doutrina: Direito Constitucional Lei Seca: Direito Eleitoral Doutrina: Direito Eleitoral Lei Seca: Direito Empresarial Doutrina: Direito Empresarial Lei Seca: Direito Administrativo Doutrina: Direito Administrativo Lei Seca: Direito Tributário Doutrina: Direito Tributário Lei Seca: Direito Ambiental Doutrina: Direito Ambiental Noções Gerais de Direito e Formação Humanística Seguindo o meu planejamento, logo após vem uma relação das matérias anteriores, só que com uma diferença: eu marco duas horas de exercícios para cada, pois como não consigo estudar doutrina, lei, jurisprudência e os exercícios em uma única semana, simplesmente em uma semana eu estudo doutrina, lei e jurisprudência. Na outra seguinte eu deixo para REVISAR a matéria através de exercícios: Exercícios: Direito Civil Exercícios: Direito Processual Civil (...)
E assim por diante. Desta forma, eu MAXIMIZO o meu tempo estudando e revendo ao mesmo tempo todas as matérias do meu concurso. Com relação aos exercícios, gostaria de colocar aqui um exercício resolvido por mim para que vocês entendam que não é simplesmente resolver o exercício e depois passar para o próximo. Não. A resolução que eu faço é uma menção é totalmente profunda. Exemplo: trata-se da questão 41, de Processo Penal, do concurso para magistrado do Tribunal de Justiça do Pará ocorrido em 2009.
Manoela de Jesus foi presa em flagrante, quando estava em casa assistindo à televisão, porque supostamente teria jogado um bebê recém-nascido no rio. Os responsáveis pela prisão foram dois policiais civis que realizavam diligências no local a partir de uma denúncia anônima. Ao realizar a prisão, os policiais identificaram Manoela a partir da descrição fornecida pela denúncia anônima. A esse respeito, assinale a alternativa correta. (A) Trata-se de flagrante próprio, previsto no art. 302, I, do Código de Processo Penal. (B) Trata-se de flagrante próprio, previsto no art. 302, II, do Código de Processo Penal. (C) A prisão é ilegal, pois não está presente nenhuma das situações autorizadoras da prisão em flagrante. (D) Trata-se de flagrante presumido, previsto no art. 302, IV, do Código de Processo Penal. (E) Trata-se de flagrante impróprio, previsto no art. 302, III, do Código de Processo Penal. Você analisa a questão e em um primeiro momento resolve-a como se estivesse em um concurso público. Feito isto, você olha o gabarito e verifica se acertou ou errou. Nessa hora é muito importante, em caso de acerto, ser muito honesto consigo, pois deverá refletir se acertou porque sabia ou se foi por puro chute. Na nossa questão em avento, a resolução é a letra C. Observe: a questão tratou ao mesmo tempo de duas formas de materiais que você estudou anteriormente: lei e doutrina. E como será uma resolução completa? Quando você, além de fundamentar a alternativa correta, encontrar onde está o erro das outras. No meu exemplo, posto a resolução que havia feito anteriormente:
De acordo com o artigo 302, do CPP, considera-se em flagrante delito quem: I – está cometendo a infração penal; II – acaba de cometê-la; III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
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ARTIGO ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir
imediata e ininterrupta, não restando ao indigitado autor do delito
ser autor da infração; IV – é encontrado, logo depois, com instru-
qualquer momento de tranquilidade” (As modalidades de prisão
mentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele
provisória e seu prazo de duração, p. 101). Eis porque é ilegal a
autor da infração. Nas infrações permanentes, entende-se o agente
prisão de alguém que consegue ficar escondido, sem que sua
em flagrante delito enquanto não cessar a permanência. O inciso I
identidade seja conhecida, por horas seguidas até que a polícia,
do artigo 302 trata do flagrante próprio ou perfeito perfeito: ocorre quan-
investigando, consegue chegar a ele. Utiliza-se, como norma de
do o agente está em pleno desenvolvimento dos atos executórios
apoio para a interpretação desta, o disposto no artigo 290, §1º, a
da infração penal. Nessa situação, normalmente havendo a inter-
e b, do CPP (ser o agente avistado e perseguido em seguida à
venção de alguém, impedindo, pois, o prosseguimento da execu-
prática do delito, sem interrupção, ainda que se possa perdê-lo de
ção, pode resultar em tentativa. Mas não é raro que, no caso de
vista por momentos, bem como ficar-se sabendo, por indícios ou
crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo, a
informações confiáveis, que o autor passou, há pouco tempo, por
efetivação da prisão ocorra para impedir, apenas, o prossegui-
determinado local, dirigindo-se a outro, sendo, então, persegui-
mento do delito já consumado (NUCCI). Já no inciso II, configu-
do). No mais, cabe ao bom senso de cada magistrado, ao tomar
ra-se outro tipo de flagrante próprio ou perfeito perfeito: ocorre quando o
conhecimento da prisão em flagrante impróprio, no caso concre-
agente terminou de concluir a prática da infração penal, em situa-
to, avaliar se, realmente, seguiu-se o contido na expressão “logo
ção de ficar evidente a prática do crime e da autoria. Embora
após” (NUCCI). Por fim, no inciso IV encontra-se o flagrante pre-
consumado o delito, não se desligou o agente da cena do crime,
sumido ou ficto ficto: não deixa de ser igualmente impróprio ou imper-
podendo, por isso, ser preso. A essa hipótese não se subsume o
feito. Constitui-se na situação do agente que, logo depois da prá-
autor que consegue afastar-se da vítima e do lugar do delito, sem
tica do crime, embora não tenha sido perseguido, é encontrado
que tenha sido detido (NUCCI). Já no inciso III encontra-se a figura do flagrante impróprio ou imperfeito imperfeito: ocorre quando o
portando instrumentos, armas, objetos ou papéis que demons-
agente conclui a infração penal – ou é interrompido pela chegada
comumente ocorre nos crimes patrimoniais, quando a vítima co-
de terceiros – mas sem ser preso no local do delito, pois conse-
munica à polícia a ocorrência de um roubo e a viatura sai pelas
gue fugir, fazendo com que haja perseguição por parte da polícia,
ruas do bairro à procura do carro subtraído, por exemplo, visualiza
da vítima ou de qualquer pessoa do povo. Note-se que a lei faz uso
o autor do crime algumas horas depois, em poder do veículo,
da expressão “em situação que faça presumir ser autor da infra-
dando-lhe voz de prisão (NUCCI).
trem, por presunção, ser ele o autor da infração penal. É o que
ção”, demonstrando, com isso, a impropriedade do flagrante, já que não foi surpreendido em plena cena do crime. Mas é razoável
Vale lembrar, por fim, que após você resolver as questões terá uma
a autorização legal para a realização da prisão, pois a evidência da
apostila completa de exercícios resolvidos, cheio de conteúdo doutriná-
autoria e da materialidade mantém-se, fazendo com que não se
rio, jurisprudencial e legal.
tenha dúvida a seu respeito. Exemplo disso é o do agente que,
E qual seria a última revisão do conteúdo? Ler, de vez em quando, suas
dando vários tiros na vítima, sai da casa desta com a arma na mão,
resoluções. Assim, no meu caso, eu teria uma revisão muito boa sobre
sendo perseguido por vizinhos do ofendido. Não foi detido no
prisão em flagrante que, como é verificável, cai muito em prova de
exato instante em que terminou de dar os disparos, mas a situação
concurso público.
é tão clara que autoriza a perseguição e prisão do autor. A hipótese
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é denominada pela doutrina de “quase flagrante” (NUCCI). Evitan-
RESUMO DA ÓPERA
do-se conferir larga extensão à situação imprópria de flagrante,
Espero que eu tenha conseguido passar para você, querido leitor e
para que não se autorize a perseguição de pessoas simplesmente
concurseiro, algumas técnicas que utilizo no meu dia a dia para poder
suspeitas, mas contra as quais não há certeza alguma da autoria,
estudar enquanto enfrento a labuta diária de oito horas de serviço públi-
utilizou a lei a expressão logo após, querendo demonstrar que a
co. Desejo sinceramente que você consiga adaptar o meu planejamento
perseguição deve iniciar-se em ato contínuo à execução do delito,
à sua situação pessoal, a fim de que tenha progresso, aprovação e
sem intervalos longos, demonstrativos da falta de pistas. Nas pa-
sucesso em sua futura carreira pública!
lavras de Roberto Delmanto Júnior, “a perseguição há que ser
Bons estudos!
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L ANÇAMENTOS
EU VOU PASSAR EM CONCURSOS COM BASE EM SEUS MAIS DE 40 ANOS DE EXPERIÊNCIA CONJUNTA NA PREPARAÇÃO BEM-SUCEDIDA DE CANDIDATOS A CARGOS PÚBLICOS, JOÃO ANTONIO E SYLVIO MOTTA OFERECEM PARA CONCURSEIROS DE TODAS AS ÁREAS ESTE PRESENTE.
Preocupada em orientar e mostrar a realidade dos concursos, Campus/
candidatos a cargos públicos, os autores oferecem aos leitores de
Elsevier, através do selo Campus Concursos, lança o livro Eu Vou Pas-
todas as áreas uma obra que vão deixá-los mais confiantes para
sar em Concursos, de João Antônio e Sylvio Motta. O título é uma
enfrentar este desafio.
espécie de “antimanual” feito para quem quer levar a sério a preparação
A obra está dividida em sete capítulos e reúne vários temas, como A
para provas, exames e concursos, não devendo ser interpretado como
decisão; O que significa fazer concurso; Definindo o alvo; Quando não
uma obra de auto-ajuda e muito menos um guia com técnicas de estudo.
dá mais para adiar; Motivação não se vende em farmácia; O candidato
Os autores utilizam uma linguagem bem-humorada mas, ao mesmo
ideal; Pokémon para concursos. Os autores também apontam As falhas
tempo, são francos para desmistificar esta grande maratona que é pas-
das técnicas infalíveis; A saga do professor; Quem reclama não passa; É
sar em um concurso público.
possível estudar em casa; Os dez mandamentos do concursando, Para
Eu Vou Passar em Concursos apresenta leveza e objetividade, além
usar em casa de emergência e muito mais.
de conselhos essenciais e orientações estratégicas. Ele mostra ainda
Além do texto, a Campus/Elsevier oferece vídeos, artigos e outros
o que fazer e, principalmente, o que não fazer para enfrentar os
conteúdos exclusivos na página do livro em www.elsevier.com.br/
vários desafios da vida de um concurseiro. Com base em seus mais
euvoupassaremconcursos. Para acessá-los, os estudantes têm que
de 40 anos de experiência conjunta na preparação bem-sucedida de
utilizar os seus códigos individuais contidos em cada exemplar.
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L ANÇAMENTOS
PORTUGUÊS FCC PROVAS COMENTADAS 4ª EDIÇÃO
A Editora Impetus lança a 4ª edição de mais um sucesso editorial do renomado autor Décio Sena:
Português FCC – Provas Comentadas. A obra foi totalmente reformulada, com a inserção de uma coletânea de provas comentadas que ajudarão o concurseiro a preparar-se para os certames dessa banca específica. Reúne dezoito provas aplicadas pela Fundação Carlos Chagas no período de 2010 e 2006. Para esta 4ª edição, o autor realizou uma seleção rigorosa procurando provas que instigarão o estudo aprofundado da
Português FCC – Provas Comentadas é um excelente material para
língua portuguesa. Ao todo, o concurseiro encontrará doze pro-
quem sonha com a aprovação em concursos, mas ainda tropeça na
vas, inéditas, comentadas de 2010, quatro provas de 2009, uma de
língua portuguesa, e imprescindível para os que têm de encarar as
2007 e uma de 2006, as duas últimas permanecendo na coletânea
provas da Fundação Carlos Chagas.
dada a relevância de que se revestem. O autor propõe revisões teóricas nas análises das questões, crian-
PONTOS DE DESTAQUE DA OBRA
do, com isso, a possibilidade de o leitor relembrar conceitos que são apresentados em compêndios gramaticais, à medida que avan-
• Contém dezoito provas de grandes concursos promovidos pela banca
ça no estudo das provas. A obra ainda traz um índice por assuntos
• Fundação Carlos Chagas.
que permite ao leitor uma simples e rápida consulta de temas
• Para esta edição foram incluídas doze provas inéditas de 2010.
gramaticais importantes ou que geram maior dificuldade. Além
• Inclui índice por assunto
disso, está totalmente atualizada com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
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• Atualizada segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
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DIREITO TRIBUTÁRIO ESQUEMATIZADO • possibilidade de utilização da valorização presumida para a fixação da base de cálculo de contribuição de melhoria; • utilização do instituto da “penhora on-line” independentemente do exaurimento das iligências administrativas e impossibilidade de utilização na execução fiscal da dívida ativa não tributária; • existência de situações em que pode ser concedido benefício fiscal do ICMS sem necessidade de prévia celebração de convênio no âmbito do CONFAZ; • nova situação em que o Judiciário entende como possível a manutenção do crédito de ICMS mesmo com a operação subsequente não tendo sido onerada; • possibilidade de recusa de emissão de CND em virtude de descumprimento de obrigação acessória; • inconstitucionalidade da estipulação dos índices de repartição dos recursos do FPE nos termos previstos O autor, professor com larga experiência em concursos públicos, após
pela LC 62/1989;
profunda análise das provas aplicadas e avaliação da evolução e das tendên-
• prioridade absoluta (até sobre os créditos trabalhistas), no processo
cias das bancas examinadoras apresenta ao candidato, nesta obra, uma
de falência, do recolhimento de valores de contribuição previdenciária
abordagem completa das matérias que compõem os programas de direito
retidos e não pagos;
tributário dos principais concursos públicos realizados no Brasil, sempre
• parcelamento como causa impeditiva do encaminhamento de repre-
destacando o entendimento prevalente nas Cortes Maiores do País.
sentação fiscal para fins penais;
As atualizações que justificaram esta quinta edição do nosso
• vacilância do entendimento do STF acerca da constitucionalidade da
Esquematizado foram, em sua maioria, decorrentes da constante produ-
requisição direta pela Fazenda Pública (sem intervenção judicial) de
ção jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tri-
informações protegidas por sigilo bancário.
bunal Federal. Somente no âmbito das Súmulas do STJ, foram editados
Além dessas alterações, o caderno de questões foi inteiramente reformulado.
mais 18 Enunciados versando sobre matéria tributária, todos devida-
Agora, além da inclusão de questões de novas bancas (FGV, FUNIVERSA,
mente listados e, quando necessário, detalhados no corpo desta obra.
VUNESP, entre outras), há uma ordenação cronológica nos itens (dos mais
Na prática, dentre outras, as principais alterações no texto foram relati-
modernos para os mais antigos), possibilitando ao potencial candidato aferir
vas aos seguintes temas:
a tendência de evolução de cada examinadora nos últimos cinco anos.
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L ANร AMENTOS
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