A volta dos rogue states sob as escaramu

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A “volta” dos rogue states: sob as escaramuças de uma nova Guerra Fria

A “volta” dos rogue states Sob as escaramuças de uma nova Guerra Fria

Samuel de Jesus1 O ex-presidente Bush, em 2002, afirmou a existência de Estados que formavam, para ele, um “eixo do mal”, uma tríade composta por Coréia do Norte, Irã e Iraque. Aplica-se também o termo Rogue State ou Estado vilão. Segundo ele, estes países representavam uma séria ameaça ao ocidente, pois supostamente desenvolviam tecnologias que poderiam levar à construção de armas de destruição em massa como ogivas atômicas e armas químicas, sobretudo eram países que estavam à margem do sistema internacional. Afirmou Bush no pronunciamento do Estado da União em 29 de janeiro de 2002: Estados como estes, e seus aliados terroristas, constituem um eixo do mal, armando-se para ameaçar a paz do mundo. Ao buscar armas de destruição em massa, estes regimes representam um grave e crescente perigo. Em cada um destes casos, o preço da indiferença seria catastrófico. (BLINDER, 2006). O prestigiado colunista do New York Times Thomas Friedman afirmava que o mundo pós Guerra Fria seria definido por três componentes, um Extremo Oriente nuclear, devido aos testes atômicos promovidos pela Coréia do Norte. O segundo, um Oriente Médio nuclear relacionado aos testes nucleares iranianos, o que influenciará outros países da região. O terceiro componente é a desintegração do Iraque devido à invasão de 2003, com efeitos desestabilizadores nos preços do petróleo e escalada do terrorismo. (BLINDER, 2006)

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É doutor em Ciências Sociais pela UNESP, professor adjunto de História da América da UFMS. E-mail: samueldj36@yahoo.com.br

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O caso do Iraque nós sabemos como foi resolvido, ou seja, em 2003 tivemos uma incursão armada promovida pelos Estados Unidos, chamada de: A Guerra do Iraque, que derrubou Saddam Hussein, sendo este posteriormente capturado e condenado ao enforcamento. A justificativa para a guerra, ou seja, a utilização de armas químicas pelo ditador iraquiano, não passou de uma mentira construída pelos órgãos de segurança dos Estados Unidos. O caso do enriquecimento de urânio pelo Irã, contou com o Acordo deste país com Brasil e Turquia (à revelia dos EUA). A proposta era que o Irã enriquecesse urânio no território turco em troca de reatores médicos, tendo o retorno de apenas 20% do produto enriquecido de volta. Os EUA não reconheceram o Tratado proposto por Brasil e Turquia e impuseram sanções econômicas ao país comandado pelos aiatolás. (Brasil, Ira e Turquia fecham acordo sobre troca de urânio enriquecido. Estadão Internacional, 17.05.2010). Atualmente observamos uma intensificação dos testes de mísseis pelo Irã, mesmo após ao acordo histórico obtido na administração B. Obama em 2015. Estes testes foram confirmados pelo Irã. O general Hossein Dehghan afirmou: o recente teste está dentro de nossos programas e não permitiremos ingerência do estrangeiro em nossos assuntos de defesa. (Irã confirma testes de míssil e nega a violação de acordo nuclear, UOL, 01.02.2017)

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A “volta” dos rogue states: sob as escaramuças de uma nova Guerra Fria

Fonte: DW.COM

Fonte: DW.COM

Fonte: DW.COM

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Fonte: DW.COM

A oposição militar da Rússia em relação à entrada da Ucrânia na Comunidade Européia e seus desdobramentos deixaram o mundo em alerta, pois tratava-se de dois países com poderio atômico. Muitos afirmaram que era a volta da Guerra Fria. Ao final, o povo da Crimeia promoveu um plebiscito no qual decidiram que seu país faria parte da Federação Russa. A Rússia desde a dissolução da URSS, sobretudo após a ascensão do presidente Putin, fez com que o G-7 se transformasse em G-8, ou seja, o encontro que reunia as sete principais economias do mundo também acabava por incorporar a Rússia que apresentava como cartão de entrada o seu arsenal nuclear, juntamente com a invocação de um passado recente, colocando-se como a herdeira da ex-URSS. Desde então a Rússia tem sido um contraponto ao imperialismo estadunidense. Em passado recente apoiou a Venezuela após o golpe de 2002, dando um sinal claro à frota dos EUA que estava fixada no Atlântico, perto da América do Sul. Foi um dos artífices da formação do grupo das 20 principais economias, o G-20 que foi uma alternativa ao restrito grupo dos 7, o G7. A criação do grupo dos BRICS foi mais um lance da política externa independente da Rússia de Putin em parceria com Brasil, China, índia e África do Sul. Sobretudo a incursão da Rússia na Síria em apoio à Bashar Al-Assad suscitou um novo medo de um confronto direto entre nações com 4


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poder atômico, pois os EUA estavam dando suporte aos grupos militares, opositores ao de Assad. A Rússia então passou a sofrer as primeiras reações, a imagem recente do embaixador russo na Turquia sendo alvejado pelas costas por um atirador, opositor de Assad, deixou o mundo atônito. Nunca a presença da Rússia no Oriente Médio foi contestada desta maneira, o embaixador russo foi alvejado ao vivo e essas imagens foram divulgadas no mundo todo. Sobre uma nova guerra fria o primeiro ministro russo Dmitry Medvedev comentou a 60 ministros de Relações Exteriores e Defesa, na 52ª Conferência de Segurança de Munique, (em fevereiro 2016): “Às vezes me pergunto se estamos em 2016, ou se continuamos em 1962″ Medvedev afirmou também que o presidente Putin dissera àquela mesma conferência de Munique há nove anos, que a obsessão dos EUA com um sistema de mísseis de defesa gerava o risco de reacender a Guerra Fria; agora “o quadro é ainda mais sombrio: os desenvolvimentos a partir de 2007 foram piores do que o previsto.” (ESCOBAR, 2016) Sobre o apoio russo à Síria, Medvedev alertou que a intervenção dos Estados Unidos poderia levar a um confronto com a coalizão comandada pelos EUA, disse: qualquer intervenção por solo, na Síria, pela coalizão que os EUA comandam e que supostamente estaria combatendo contra o ISIS/ISIL/Daech – falava da Turquia – desencadearia nova guerra. (ESCOBAR, 2016). A China é outra potência nuclear que destoa da ordem promovida pelos Estados Unidos, é a segunda maior economia do mundo e já promove a internacionalização de sua moeda a partir de operações monetárias e financeiras com o objetivo de tornar o reinmimbi, uma moeda padrão que suplantaria o dólar. A expansão do seu sistema bancário através do Banco da China e do banco de exportação e importação, o eximbank China, já é notória. A previsão do Primeiro Ministro chinês, Li Keqiang era investir na América Latina o aproximado a 250 bilhões de dólares até 2025. Dentre estes investimentos está a construção da ferrovia transocêanica, ligando o Atlântico ao pacífico e oferecendo uma alternativa ao Canal do Panamá, controlado pelos Estados Unidos. A China certamente agradeceu ao vácuo deixado pelo saída dos Estados Unidos do Tratado TransPacífico na administração Trump. Antes, a 5


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frente estratégica promovida pela administração Obama em relação à Bacia do Pacífico e da qual o TPP fazia parte, representaria um sério obstáculo à projeção chinesa em uma área geograficamente vital à sua estratégia. O banco dos BRICS cuja missão é o financiamento de projetos de infraestrutura é um outro grande tentáculo do gigante chinês para o alcance da acalentada hegemonia global. A Coréia do Norte é uma espécie de protetorado da China, o que dificulta sobremaneira qualquer incursão das forças ocidentais naquela região. No início de 2017, antes mesmo da posse de Trump, como presidente dos Estados Unidos, a imprensa chinesa o advertia para a possibilidade de uma guerra. O possível conflito ocorreria devido à ameaça do indicado ao cargo de Secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, de bloquear o acesso da China às ilhas artificiais do Mar do Sul. O editorial do influente jornal chinês Global Times invocou o uso do poderio nuclear chinês contra este possível bloqueio: É bom que Tillerson foquem em estratégias nucleares se quiser forçar uma grande potência nuclear a se retirar de seus próprios territórios. Estas ilhas artificiais são construídas a partir do bombeamento de areia para as barreiras de corais vivas e posterior concretamento. Foram criados quatro quilômetros quadrados de ilha artificial. Isto ocorre nos corais da ilha de Spratly. Diversos países como Vietnã, Filipinas e Taiwan reclamam direitos sobre esta área. Estas ilhas artificiais incluem pista de pouso e abriga instalações que poderão ter finalidades nucleares. A inserção da Rússia na política do Oriente Médio via Síria, o coloca como um novo ator regional, isto significa que o Irã poderá em um futuro não muito distante dispor do apoio russo contra seus inimigos. (China adverte Trump a se preparar para confronto militar, O GLOBO, 13.01.2017)

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Muitos diriam que se trata da volta da guerra fria. O fato é que estamos, constantemente, invocando o termo Guerra Fria que foi um momento histórico singularmente localizado em um tempo e que pertencente a uma conjuntura histórica passada. Referem-se ao Pós - Segunda Guerra Mundial, sobretudo à emergência de duas superpotências, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS - e os Estados Unidos da América - EUA - que dividiram o mundo em duas áreas de influência ideológicas e econômicas, a capitalista e a socialista. Este período vai do momento posterior a 1945 com o fim da Segunda Guerra Mundial até a queda do Muro de Berlim em 1989 e a dissolução da União Soviética em 1991. Podemos seguramente afirmar que a Era Nuclear se inicia em 06 de agosto de 1945 na cidade japonesa de Nagazaki e não possui prazo de término até o presente momento, pois os materiais radioativos podem manter-se ativos por milênios. A Era Nuclear será de longuíssima duração na História de nossa Civilização Ocidental e estamos apenas em seu estágio histórico inicial. As ameaças representadas pelos rogue states correspondem à Era nuclear. A guerra Fria foi responsável pela ampliação da ameaça nuclear, mas suas origens pertencem à Segunda guerra Mundial, sobretudo à Operação Manhatann (1945) resultante de

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uma corrida nuclear entre EUA e a Alemanha. O primeiro teste nuclear data de 16.07.1945 e foi elaborado em conjunto com EUA, Reino Unido e Canadá. A guerra quente seria um confronto direto entre estas superpotências, o que compreenderia a utilização de um arsenal atômico. Seria uma guerra atômica de proporções inimagináveis. Na atual conjuntura não temos nenhuma nação que poderá ser considerada uma superpotência, capaz de fazer frente aos Estados Unidos. No entanto, uma deflagração nuclear poderia vir de um Estado médio ou pequeno, mas com poder dissuasório proporcionado pela obtenção de um arsenal atômico. Podemos então mencionar o surgimento de novas guerras frias parecidas àquela ocorrida no século XX, ou seja, uma coexistência relativamente pacífica entre as nações nucleares com o objetivo de evitar uma hecatombe atômica. No entanto, é preciso salientar que a formulação de programas nucleares é permitida pelas potências nucleares, apenas aos Estados aliados ou alinhados às suas diretrizes, por exemplo, nos anos 2000, no mesmo momento em que os EUA pressionavam pelo fim das atividades nucleares iranianas, contraditoriamente, a Índia obtinha dos EUA incentivos para o incremento de seu programa nuclear. Sabemos o que representará uma bomba nuclear iraniana em uma região na qual Israel possui uma supremacia militar e política. Certamente as ogivas nucleares iranianas colocariam o regime dos Aiatolás em uma posição de potência regional inquestionável. Um ator regional capaz de fazer frente ao poderio de Israel e Estados Unidos na Península Arábica e no seu entorno. Uma possível truculência da administração Trump poderá levar o mundo ao acirramento de tensões envolvendo os rogue states. O atual mandatário estadunidense que tinha ameaçado reconhecer a independência de Taiwan em relação à China e acabou voltando atrás. O caso de Taiwan nos remete à História. Em 1949 as forças republicanas chinesas lideradas por Chan Kai Chek e derrotadas pelos comunistas (de Mao Tse Tung) rumaram para Taiwan e ali fundaram uma China liberal burguesa em contraposição à China maoísta. O apoio militar e econômico dos Estados Unidos impediu que a ilha fosse tomada pela China comunista. Taiwan sempre foi uma questão não resolvida entre EUA e China. 8


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Estes episódios nos impõem algumas reflexões, dentre elas; a certeza de que a ordem mundial nascida do período posterior à Segunda Guerra Mundial, (ancorada na ONU, sobretudo no seu Conselho de Segurança, assim como outros organismos multilaterais, por exemplo; o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial), necessitam de reformas que ampliem o fórum decisório ao ponto de englobar os países emergentes, novos atores de um mundo cada vez mais multifacetado, revestido por um incrível dinamismo em formas de ações inesperadas de cunho político, militar, econômico, social e cultural e que são capazes de abalar os alicerces da civilização contemporânea. A era atômica requer ampliação das ações diplomáticas que certamente serão norteadas pela estratégia dissuasória. A criação de novos canais de diálogo é necessária, sobretudo a democratização dos espaços decisórios. As nações centrais poderão começar pela ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas e maior inserção dos países que formam o G-20 em organismos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, sobretudo remodelando o Tratado de não-proliferação nuclear e definindo marcos para a redução dos arsenais atômicos, começando pelas potências hegemônicas como EUA e países da Europa.

REFERÊNCIAS

BLINDER, Caio. Discurso do 'eixo do mal' assombra Bush. In: BBC Brasil, 12.10.2006. Disponível em: file:///E:/BBCBrasil.com%20_%20Reporter%20BBC%20_%20Discurso%20do%20 'eixo%20do%20mal'%20assombra%20Bush.html Extraído em 02.03.2017. Brasil, Ira e Turquia fecham acordo sobre troca de urânio enriquecido. Estadão Internacional, 17.05.2010. Disponível em https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2017/02/01/ira-confir ma-teste-de-missil-e-nega-violacao-do-acordo-nuclear.htm Extraído em 06.03.2017

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