Revista de Gestão Pessoal • Ano 1 • número 2 • maio de 2019
Viagem interior
Muito a explorar Página 02
Uma região interminável
Expandir para conquistar
Interessado? Ou interesseiro?
Silêncio - Quase um artigo de luxo
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Editorial • Revista de Gestão Pessoal
EXPEDIENTE Saber-se é uma publicação
EDITORIAL
Viagem interior: muito a explorar Simplesmente porque ainda não fomos testados em todas as situações possíveis de uma existência, é bem provável que nos conheçamos infimamente. Como você reagiria diante de um assalto? Se você nunca foi assaltado, apenas imagina, mas não sabe. Como você reagiria descobrindo-se com alguma doença grave? Se você nunca passou por isso, apenas imagina, mas não sabe. Como você se sentiria se ganhasse na loteria? Se você ainda não passou por isso, apenas imagina, mas não sabe de fato. No que toca nossa existência, é bem verdade que muito sabemos (quem mais além de nós mesmos para saber de nós mesmos?), mas é bem provável que o que temos a aprender, a explorar, seja muito maior do que tudo que já sabemos. Com uma particularidade: sabemos agora. Somos tantos ao longo de uma vida que provavelmente em algumas semanas, ou meses, alguns entendimentos que temos hoje sobre viver sofram modificações profundas. Ou você nunca mudou de opinião?
da Editora Pragmatha. Todos os direitos reservados. Editora: Sandra Veroneze MTB 10.210 Colaboradores: Paula Pastore Hélio Strassburger Edgar e Melissa Kamimura Angela Victorino Gregor Matsuda Tavares Priscila Zart Rodrigo Bernardino Leonardo Duncan Michele Maria Pacheco Puel Luciano Seade Robson Santarém Dirce Becker Delwing
Por isso, dispor-se ao autoconhecimento é, além de um exercício constante, um ato de inteligência existencial. Alguns dizem que a ignorância é uma bênção, e em alguma medida até pode ser verdade, mas o autoconhecimento, neste contexto, são múltiplas bênçãos, porque possibilita que você se pertença – e se dirija. Sandra Veroneze | Editora
Endereço Rua Cravinhos, 88 Jardim Paulista, São Paulo / SP 01408-020 Maio de 2019 www.pragmatha.com
Revista de Gestão Pessoal • Sumário
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5 verdades cruas sobre a felicidade
Sandra Veroneze................................................................................... 05
SUMÁRIO
Quando a alma dança
Paula Pastore......................................................................................... 07
Uma região interminável
Hélio Strassburger................................................................................. 09
Dinheiro, uma maneira de realizar sonhos
Edgar e Melissa Kamimura................................................................... 13
Quem é você nos estudos?
Angela Victorino.................................................................................... 15
O equilíbrio por uma perspectiva oriental
Gregor Matsuda Tavares....................................................................... 17
Expandir para conquistar
Priscila Zart............................................................................................ 19
Interessado? Ou interesseiro?
Rodrigo Bernardino............................................................................... 21
Bem-estar - teoria e prática
Leonardo Duncan.................................................................................. 23
Autossabotagem nos relacionamentos
Michele Maria Pacheco Foggiatto Puel................................................ 25
Sobre o tempo e momentos
Luciano Seade....................................................................................... 29
O que faz a diferença é o caráter
Robson Santarém.................................................................................. 29
Silêncio - Quase um artigo de luxo
Dirce Becker Delwing............................................................................ 31
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5 verdades cruas sobre a felicidade Sandra Veroneze
Todos temos uma ideia do que é a felicidade e do que precisamos para torná-la completa em nossas vidas. Muito sobre ela tem se falado, ao longo dos séculos, não raras vezes criando mitos. Para além da idealização, porém, existem algumas verdades que são incontestáveis. Veja: Aquela felicidade da propaganda de margarina existe Nos últimos tempos os comerciais de margarina, na tevê, tornaram-se sinônimo de ilusão, de meta impossível de ser alcançada. Não é verdade. Momentos de puro êxtase, na companhia de quem se ama, repletos de sorrisos, podem acontecer todos os dias. Provavelmente não se mantenham as 24 horas de um mesmo dia, mas o que é a vida senão a soma de momentos? Cobrar-se ser feliz é uma fonte inesgotável de estafa e stress Verbos no imperativo não costumam acompanhar uma vida tranquila. Faça isso / seja aquele outro / aja desta forma são passaportes para esgotamento físico, emocional, mental. Pode existir ordem mais cruel do que “Seja feliz”, considerando a natureza leve e espontânea da felicidade? Nem todos os dias serão extraordinários Todos gostamos de momentos felizes e realizados, porém poderá acontecer deles não serem a maioria na ampla gama de sentimentos possí-
veis ao longo de um dia. Talvez não sejam nem frequentes. Os momentos tristes, melancólicos, de apatia, ou simplesmente neutros, também fazem parte e há de se lidar com eles. Porém, se permanecerem por mais de uma semana, de maneira muito profunda e desanimadora, busque ajuda. Você nunca será feliz até definir o que é, para você, felicidade Felicidade é um conceito subjetivo. É diferente para cada um. Observar como as outras pessoas são felizes serve como pesquisa de campo, estudo antropológico, mas costuma ser bem ineficaz quando se trata de realização pessoal. Saber o que faz você feliz e conectar-se com essa essência é o caminho. A felicidade é uma construção Ser feliz exige disciplina. Uma atitude simples que ajuda a construí-la, como atentar sempre para os fatores positivos de cada situação, nem sempre é fácil. Felicidade não cai do céu, não dá em planta e seu florescer depende de regá-la, todos os dias. Dá trabalho, mas vale o esforço. Vários teóricos garantem, inclusive, que ela reside na própria jornada. * Sandra Veroneze é Jornalista e Filósofa Clínica
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Quando a alma dança Paula Pastore Era dia de espetáculo, no antigo Cine São Miguel em Garça, minha cidade natal, quando senti pela primeira vez dores fortes nos joelhos. Depois disso, um diagnóstico nada animador: um problema crônico na distribuição de carga nos joelhos. Minhas opções? Uma cirurgia – não recomendada pelo médico ortopedista - ou o velho e bom fortalecimento, aliado à diminuição da…dança. No entanto, continuei alternando períodos mais longos e curtos praticando a dança, mas sempre preocupada em não piorar minha condição física e pensando que jamais conseguiria voltar ao palco. Nunca dancei profissionalmente, sou tradutora e estudiosa da linguagem, porém dançar sempre foi minha paixão, meu modo de expressão, uma forma de me comunicar comigo mesma, deixando o corpo “falar” para que eu pudesse ouvi-lo. Gosto muito de ler algumas pesquisadoras de teorias do corpo (Helena Katz e Christine Greigner/PUCSP) que, como eu, acreditam que não é apenas pela linguagem verbal que as pessoas demonstram sua forma de pensar e agir, mas também observando suas experiências com o corpo – simples, como caminhar ou complexas, como dançar. As autoras apresentam o conceito de “corpomídia”, trazendo a compreensão de corpo não como um todo acabado, mas como o resultado de anos de evolução, uma vez que este corpo estará sempre em processo interativo com o meio que o cerca, “sendo a dança o que o impede de morrer de ‘clichê’” (KATZ, 2003: 273). Observando vários estudos, podemos verificar que a dança tem um papel importantíssimo como forma de motivação e melhora da saúde. A dança terapia, por exemplo, consegue promover melhora comportamental e de interação em pacientes com diversas dificuldades, sejam elas auditivas, motoras ou psicológicas, além de transformar a postura de impotência do “eu não consigo” para uma postura do corpo que diz: “sim, eu posso. (Fux, 1988) Eis que depois de muitos anos “flertando” com a dança, resolvi abraçá-la novamente, não apenas como uma forma de atividade física, mas sim como antigamente, como uma forma de me expressar, de me ale-
grar, de superar limites impostos por mim mesma e pensando novamente em – porque não? – voltar aos palcos. Afinal, o primeiro obstáculo diante de nós somos nós mesmos. Voltei a dançar, dessa vez em uma modalidade diferente, a dança contemporânea, pois até então sempre fiz ballet e jazz. Seria algo diferente, novo, desafiador, mas ao mesmo tempo, apaixonante, “saboroso”, estimulante. Procurei um lugar para dançar que possui o slogan “Dançar para ser feliz” e encontrei não um lugar, mas uma casa, a Casa da Dança Tati Sanchis. Dessa forma, após um tempo de muito aprendizado, chegou o dia do espetáculo. Porém, dez dias antes... novamente uma dor insuportável, desta vez na lombar e o diagnóstico: uma lesão muscular e a dúvida de, depois de tantos anos, poder subir ao palco novamente. Contudo, quando contei à minha filha de nove anos, que também dança nesta maravilhosa Casa e ouvi dela: “mãe, você é forte, não tem jeito, você tem que dançar”, pensei em uma outra frase, que nada mais é do que uma expressão de força que eu mesma tenho com minha mãe – “tudo vai sempre dar certo”. Assim, recordei todo o meu percurso, desde quando era a criança que inventava as coreografias para as primas dançarem, até a mulher de hoje que só quer dançar para ser feliz e encarei com muito comprometimento o que precisaria ser feito para estar melhor em dez dias. Dançar tem esse poder, o de empoderamento do “eu”, de fortalecimento da alta estima, de promover a superação de crenças limitantes. Com isso em mente, apesar das dores físicas, consegui me recuperar e subir ao palco do Teatro Gazeta! Um dia memorável, inesquecível. Felizmente, como no filme “De volta para o futuro” quando o Martin McFly reage a um estereótipo limitante que lhe impuseram com a frase “ninguém... me chama... de covarde”, consegui dizer para mim mesma “ninguém... diz... que eu não posso”. Acreditem, quem dança seus males espanta, mesmo! * Paula Pastore é Tradutora e Doutora em Estudos Linguísticos
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Uma região interminável Hélio Strassburger
Em cada pessoa, de tempos em tempos, lhe acena uma possibilidade de ser superlativo. Tendo como viés de ruptura uma inquietude singular continuada, se faz contradição com seu cotidiano, embora este sirva de base para sua transgressão. Pode ser algo, até então clandestino, embora atuante, em sua estrutura de pensamento. A concepção dessa região considera as margens e lacunas discursivas na brevidade de um instante. Por essas trilhas, até então desconhecidas ou inacessíveis, a nova geografia se insinua, desajustando a ótica do tempo linear. Com as palavras desencontradas se rascunha uma realidade ainda sem tradução. Requer a interseção aprendiz com essa novidade diante do espelho. Compreendendo um fenômeno singular, é impreciso reconhecer esse lugar algum de todo lugar. Assim esse espaço se mostra em lógicas de caleidoscópio. Nalgumas vezes se movimenta aquém de seu melhor, noutras como se não houvesse amanhã. A trama discursiva presente nessa propedêutica possui um não-saber como princípio, de onde se faz possível compreender em que medida sua desmedida lhe cabe. Ao recordar que na vida há sempre algo por nascer, um novo constructo tópico reivindica uma
definição provisória, acolhendo algo por chegar. Essa voz presente nas palavras permanece inacessível por inteiro, dela nos chegam rumores pelas brechas da retórica inicial. O Filósofo Clínico, ao acolher essa estrutura em vias de transformação, investiga a natureza das anterioridades, qualifica uma escuta compreensiva, dialoga com o extraordinário nessa fonte de originais. Uma dialética assim se apresenta não como patologia ou alguma forma de loucura, mas como um momento de emancipação, por onde se insinuam múltiplas perspectivas existenciais. Nesse sentido, visitar o mundo do outro significa reconhecer a transposição de suas fronteiras, num ir e vir compartilhado, de onde nenhum dos participantes sai o mesmo. Entre o dito e o não-dito é possível sentir a eternidade fugaz de um agora, se articulando com a matéria-prima para reencontrar suas nascentes. Essa condição nem sempre possível de acessar diretamente, descreve-se no sujeito interminável, onde as poéticas da singularidade esboçam seu caráter de anúncio. * Hélio Strassburger é Filósofo Clínico
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Dinheiro: uma maneira de realizar sonhos Edegar Iwao Kamimura Melissa Fenner Silveira Kamimura
Vários são os fatores que podem estimular as pes-
negócio, outros sonham com uma festa de formatura
soas a algum tipo de movimento. Normalmente fato-
ou casamento e há aqueles que amam viajar. Perten-
res associados ao lazer e ao bem-estar são mais praze-
cemos ao último grupo. Amamos viajar e acreditamos
rosos e tendemos a realizá-los com maior facilidade.
ser a maior riqueza que podemos adquirir.
Porém, ser um profissional bem-sucedido também gera um estímulo positivo, principalmente se estiver dedicando-se ao que se gosta.
Seja para comprar um imóvel, abrir um negócio, realizar uma festa ou embarcar em uma viagem, é preciso planejar, principalmente quando os recursos
Em algumas culturas o fato de ter ou acumular ri-
financeiros são escassos. Neste caso, será necessário
quezas não é visto com maus olhos, mas sim como a
tempo de pesquisa, definição de prioridades, negocia-
recompensa pelo trabalho e esforço dedicado a uma
ção e muita força de vontade. A soma destes aspectos
função ou tarefa, da mesma maneira que em outras
pode tornar o caminho menos árduo e a realização do
culturas o fato de se ter dinheiro gera certo desconfor-
sonho mais possível.
to e constrangimento.
Vamos imaginar que os recursos, tempo, métodos
Diz um ditado popular que “de grão em grão a ga-
e dinheiro são os pontos de um triângulo, e que ele
linha enche o papo”, pois o bolso também se enche
sempre se manterá com a mesma área, de forma que
assim, de várias pequenas quantias e a cada economia
quando um ponto é deslocado os demais também são,
realizada, a não ser, é claro, que se ganhe na loteria.
porém inevitavelmente os três aspectos não poderão
Um professor contou uma história sobre o encontro dele com um amigo, que fez uma observação sobre o carro que ele estava dirigindo. O amigo disse o seguinte: – Que carrão, tu estás rico? O professor disse ao amigo: - Rico não estou, mas tenho trabalhado muito e consegui juntar dinheiro para comprar o carro dos meus sonhos. Algumas pessoas diriam “que nada, esse carro é usado, comprei de segunda mão, nem vale tanto”, diminuindo o produto de seu esforço, demonstrando constrangimento por ter alcançado, com seus méritos, um bem de valor.
ser aumentados ao mesmo tempo. Sendo assim, quando aumentamos o tempo, podemos despender menos recursos financeiros e os métodos podem ser mais flexíveis. Vendo de outro modo, se for necessário diminuirmos o tempo, precisaremos aportar mais recursos financeiros e ter em mente métodos mais eficientes. Por exemplo, quando temos tempo para planejar uma viagem longa, conseguimos negociar hospedagem, passagens aéreas e passeios. E com esta antecedência, normalmente, tendemos a despender menos recursos financeiros, gerando economia, e provavelmente teremos aplicado um método mais eficiente para o resultado final. De outra forma, quando dispo-
Os sonhos são muito pessoais. Muitas pessoas
mos de pouco tempo para organizar uma viagem pos-
sonham em comprar a casa própria ou abrir o próprio
sivelmente pagaremos mais caro pela passagem aérea
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e a diária do hotel. Neste exemplo a variável tempo
tipular um valor mensal, proporcional ao tamanho das
é diretamente proporcional à variável dinheiro, sendo
receitas, para esses eventos.
influenciada pelo método. Quanto mais tempo dispomos, melhores serão os métodos utilizados e possivelmente menor será a quantia financeira empregada. Atualmente tem se tornado corriqueiro culpar a falta de recursos financeiros pelo insucesso na busca dos desejos. Para melhor administração dos recursos financeiros, é preciso ter em mente que se deve sempre gastar menos do que se recebe. Esta tarefa não é fácil, mas é possível. E em uma visão mais positivista, vendo o copo meio cheio, o ideal seria conseguir receber mais do que se gasta. É importante possuir ferramentas de controle das finanças, seja um simples caderninho com as anotações financeiras, ou uma planilha de cálculos, ou até mesmo algum aplicativo próprio para estes controles. Independente da ferramenta utilizada, este controle pode ser dividido em três passos básicos: 1. Receita: São todos os valores recebidos. Vale
Quando todos os valores de entradas e saídas forem colocados no papel ou em uma planilha, será possível analisar onde os recursos estão sendo alocados e onde será possível apertar os gastos, para que seja viável sobrarem recursos para a realização dos sonhos. Muitas pessoas acham que nunca conseguirão juntar um valor para fazer uma viagem ou para comemorar sua formatura, mas também nunca pararam para analisar o quanto ganham e quanto gastam. Sem este olhar profundo qualquer passo ou decisão pode ser arriscado. Através do acompanhamento e análise da rotina financeira será possível determinar metas, traçar objetivos, e dar o primeiro passo para conquistar o que se quer. É olhando quanto se gasta em aluguel, condomínio, IPTU e transporte que se cogita trocar estas despesas pela prestação de um apartamento mais próximo do trabalho.
anotar o salário do mês, a venda de uma roupa ou sa-
Sabendo quanto se gasta em restaurantes e su-
pato em um brechó, de artesanato, de produtos de be-
permercado, pode-se mudar os hábitos de consumo,
leza vendidos por catálogo, a renda de uma aplicação
e, quando possível, fazer mais refeições em casa. Ou-
bancária, o saldo da troca de um carro ou da venda de
tra alternativa é programar uma sessão de cinema em
outro bem. Enfim, tudo que representar uma entrada
casa, assistindo a algum filme do aplicativo de filmes e
de recursos financeiros.
séries ou dos canais de televisão por assinatura.
2. Despesas fixas: Todos os valores que ocorrem
Pequenas economias fazem uma grande diferen-
em períodos frequentes. Nas despesas fixas pode-se
ça. Não dá para esquecer da história da galinha, que
considerar aluguel de imóvel e de vaga de garagem,
de grão em grão enche o papo. Quando voltamos de
luz, água, condomínio, internet, canais de televisão
uma viagem, desfazemos as malas, curtimos as fotos e
por assinatura, aplicativos de filmes, séries e música
as lembranças, e logo já pensamos em fazer as malas
por assinatura, prestação de carro, seguro, combustí-
mais uma vez. Uma vez por ano irmos para um lugar
vel, diarista, manicure, supermercado, escola, facul-
que nunca estivemos nos faz descobrir coisas novas,
dade, curso de idiomas, plano de saúde, IPTU, IPVA e
enriquece a alma pela troca de experiências com ou-
outras contas que fazem parte da rotina de pagamen-
tras culturas.
tos. Aqui não dá pra deixar de fora uma reserva para emergências e as aplicações financeiras.
Mas economizar não pode se tornar um sofrimento, uma luta impossível ou um fardo difícil de carre-
3. Despesas variáveis: São valores pagos eventu-
gar. Deve ser feita com atenção e sempre com atitude
almente. Este ponto é o mais difícil de prever, mas vale
positiva em prol de algo bom. Também é importante
considerar restaurantes, farmácia, cabeleireiro, lavan-
saber usar o crédito disponibilizado pelo banco, seja
deria, cinema, compra e reparos de roupas e calçados,
o cheque especial, o talão de cheques ou o cartão de
manutenção de carro, compra de artigos para casa e
crédito. E até mesmo o crédito de lojas de departa-
até algum presente para alguém especial. O ideal é es-
mento e supermercados. Vivemos a realidade de juros
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altos e impiedosos. Qualquer atraso de pagamentos
A forma de acumular riqueza é muito pessoal, pois
acarreta em juros, onde o pagamento parcial ou prote-
as necessidades e prioridades são individuais. Mas é
lado pode se tornar uma dívida impagável.
muito importante ter consciência de como se aplica
O crédito, se bem utilizado, pode ser vantajoso, principalmente pelos programas de milhagem, oferecidos em vários cartões. Claro que com um rígido controle de gastos, pois o fato de utilizar o cartão crédito ao invés do dinheiro pode gerar a falsa sensação de
o dinheiro. Para isso o controle é a melhor forma de adquirir uma leitura correta de como e onde se está gastando, para que seja possível entender onde se pode ajustar os gastos e onde é necessário aplicar mais valores.
que não se está gastando. Mas não se engane, o gasto
Nossa vida é cercada de incertezas, assim como o
é o mesmo, o que muda é a forma e o prazo para pa-
meio em que estamos inseridos. É importante gerar
gamento.
reserva para que seja possível administrar melhor es-
É sempre importante ponderar o que se compra e avaliar a real necessidade das aquisições deixando o impulso de lado. As empresas costumam utilizar um ciclo de trabalho que envolve planejamento, realização, avaliação e correção, que pode perfeitamente ser aplicado na vida pessoal de cada um. Pois gerir os recursos tempo, métodos e dinheiro envolve estes passos. Em qualquer esforço empregado na busca ou conquista de algo será preciso lidar com estes quatro fatores: 1. Planejamento. Ele vai proporcionar uma diretriz de como, onde e quando fazer. Ele será o norte, a linha guia de todo o caminho.
sas incertezas, e navegar com maior tranquilidade em um possível mar revolto. Por outro lado, não podemos deixar de lado as coisas que nos fazem felizes, que nos ajudam a gerar uma boa qualidade de vida e a enfrentar o dia a dia com maior disposição. Nossa grande tarefa é encontrar o ponto de equilíbrio entre poupar e ser feliz. Parecem caminhos opostos, mas são paralelos que podem se atrair em um determinado porto do percurso, dependendo da forma como será aplicado o resultado da economia. A vida é um desafio constante, e este é apenas mais um dos leões diários, ou não, dependendo da leveza que se aplica nessa tarefa, o leão pode se tornar um gato manso. É importante desmistificar a palavra poupar, se uti-
2. Realização. Toma como base o planejamento e
lizando de ferramentas e da possibilidade de crédito
tudo o que nele foi pensado. Neste passo é possível
consciente. Entendendo que é necessário um esforço
ver o que foi planejado saindo do papel e tomando
para atingir as metas, sempre observando os métodos,
forma.
que caso não estejam trazendo os melhores resulta-
3. Avaliação. Quando as devidas ações já foram tomadas é possível avaliá-las. A avalição deve ser realista e levar em conta o que está dando certo e o que
dos, devem ser revistos com agilidade. O segredo é não deixar de sonhar, e saber que sempre há uma maneira de alcançar o que se quer.
pode ser melhorado. 4. Correção. Aqui é o momento de redirecionar os esforços e concentrar as energias. Nesta etapa surge a oportunidade de se fazer um novo planejamento e
* Melissa Kamimura é Administradora Especialista em Orçamento Empresarial
de começar o ciclo mais uma vez, e por tantas vezes quanto forem necessárias. Este ciclo amplamente utilizado por empresas se assemelha em muitos aspectos ao ciclo SPR (sonhar, planejar e realizar). E pode contribuir para a realização dos mais diversos sonhos e projetos.
* Edegar Kamimura é Eletrotécnico e Administrador
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Quem é você nos estudos? Angela Victorino O trabalho do estudante é o estudo. Uma grande
O resultado do estudo só será positivo se o estu-
maioria, porém, acha que enquanto estuda está per-
dante se autoconhecer, descobrir como ele experi-
dendo um tempo valioso. Por que isso acontece? Por-
menta o mundo, quais os sentidos que mais facilitam
que geralmente estuda e não aprende. E se aprender
a aprendizagem.
é o objetivo principal do estudo, aqui se instala um paradigma! O trabalho do estudante é o estudo (e ele
Conheça algumas ferramentas que podem te ajudar para descobrir sua forma de estudo compatível:
não gosta de estudar; por conseguinte, não gosta do
- Análise de Perfil Comportamental: alguns relató-
que faz); o objetivo do estudo é aprender (se ele não
rios conseguem mapear o comportamento. Essa pode
aprende, o objetivo não está sendo alcançado).
ser uma boa forma de começar, mas não pode ser a
Como podemos amar o nosso trabalho de estudan-
única. O relatório não fala por si. É muito importante
tes, encaixando as nossas habilidades para cumpri-lo?
um bom profissional que consiga interpretá-lo junto
Afinal, não é isso que exigem de nós quando se trata
a você.
de trabalho? A outra exigência de um trabalho é che-
- Canais Representacionais: conhecer o seu siste-
gar a seu objetivo. Se o objetivo do estudo é aprender,
ma representacional dominante, aquele que domina
temos que conseguir concretizá-lo! Chegou a hora de
a forma como você percebe a realidade que o cerca. É
saber como resolver essa questão.
importante para otimizar seus resultados nos estudos,
Aprender é coisa que se aprende. Essa é uma afirmativa totalmente verdadeira. Infelizmente, pegamos
já que aprender requer que trabalhemos com todos os sentidos.
receitas prontas, que geralmente nos são passadas
- Múltiplas Inteligências: Todos nós, seres huma-
pela escola desde a mais tenra idade. A receita que
nos, somos detentores de talentos, não há pessoa que
nos passam segue, em sua maioria, os seguintes pas-
não os possua. Existem vários tipos de aptidões, e não
sos:
apenas uma. Geralmente, as pessoas possuem mais de
1. Preste atenção à aula;
uma aptidão, além de algumas mais proeminentes que
2. Copie tudo o que o professor passa na lousa;
outras; mas esta teoria descarta a crença de que “Eu
3. Faça a lição de casa;
não sirvo para nada”.
4. Leia os textos e grife;
- Eneagrama: avaliação que determina nove tipos
5. Você fará uma prova: então estude!
de personalidade. Ajuda no desenvolvimento pessoal
Poderia ser muito fácil. E essa receita pode funcio-
a partir do autoconhecimento de seus pontos fortes e
nar, com algumas exceções. Essas exceções existem
fraquezas.
porque somos seres diferentes, com habilidades, com-
Essas são somente algumas ferramentas que po-
portamentos, temperamento, diferentes! Percebemos
dem lhe ajudar a estabelecer uma forma de estudo
o mundo através de experiências que passam por nos-
mais personalizada e que consiga, realmente, lhe pro-
sos sentidos; nossa inteligência já não é medida so-
porcionar prazer e atingir a aprendizagem.
mente por um teste de QI; há muito descobriu-se que temos múltiplas inteligências. Então, por que ainda se segue a mesma receita?
Aprenda! * Angela Victorino é Neuropsicopedagoga e Coach
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O equilíbrio por uma perspectiva oriental Gregor Matsuda Tavares Você acredita que poderia trabalhar até morrer, literal-
biente ao nosso redor:
mente? No Japão, existe até uma palavra para descrever
Interações leves: como o bambu, quando se movimenta
essa situação extrema: karoshi. De acordo com uma recente
diante da mais sensível brisa, também podemos responder
pesquisa do governo japonês, 20% da força de trabalho en-
suavemente às leves interações externas e quando os outros
frenta o risco de morte por excesso de trabalho, ou seja, um
conhecem sua sensibilidade e capacidade de resposta, você
quinto dos trabalhadores no Japão.
pode aumentar as possibilidades das pessoas ao seu redor
Embora esta situação ameaçadora à vida ainda possa pa-
cooperarem com você de uma maneira mais gentil.
recer distante para a maioria, sintomas comuns, como dores
Interações médias: quando enfrentamos uma interação
de cabeça, aperto no peito, distúrbios digestivos, dores nas
mais desafiadora com outras pessoas, pode ser uma difícil
costas e estresse diário no local de trabalho são um lembrete
negociação, uma reclamação inesperada ou um mal-enten-
constante de nossos desequilíbrios para grande parte de nós.
dido mais significativo, o bambu nos ensina a não “bater de
Mais cedo ou mais tarde, podemos escolher conscientemen-
frente”, a não reagir impulsivamente ou chocar-se contra os
te fazer mudanças em nosso equilíbrio entre a vida pessoal
outros - isso resultaria em um considerável desperdício de
e profissional ou ter nossas próprias limitações físicas nos
energia. À medida que a pressão externa se acumula, a árvore
obrigando a parar para refletirmos a respeito. Então, por onde
de bambu usa sua elasticidade, dobra e envia a energia de
começar antes de ser afetado pela próxima doença relacio-
volta à sua origem. Esta é a essência da maioria das artes mar-
nada ao trabalho?
ciais: utilizar inteligentemente a força do próprio oponente.
Antes das pesquisas empíricas da ciência ocidental,
Interações pesadas: quando enfrentamos uma grande
as tradições orientais há muito tempo vêm nos mostrando
crise externa e uma tempestade de mudanças, é fácil ver a
maneiras mais harmoniosas de lidar com essa questão. Por
maioria de nós se enrijecendo internamente para um modo
exemplo, o bagua chinês pode ser uma ferramenta poderosa
de sobrevivência e ficando na defensiva. Como a maior par-
de coaching para abordar nossa vida moderna, mesmo que
te das árvores inflexíveis na floresta, muitas poderão acabar
suas origens tenham mais de cinco mil anos.
quebradas ao meio ou até mesmo desenraizadas. No entanto,
O equilíbrio no nosso trabalho só pode ser alcançado
o bambu suporta não apenas os invernos frios e os verões
quando nos permitimos ser flexíveis. Essa flexibilidade co-
quentes ao extremo, mas também podem ser as únicas árvo-
meça a partir de dentro, a capacidade de não ser muito rígido
res remanescentes após a passagem de um tufão, mostran-
nem muito “mole” consigo mesmo. A partir daí, expande-se
do-nos novamente a importância da flexibilidade e estando
aos outros à nossa volta e às estruturas das quais fazemos
firmemente aterradas e enraizadas.
parte. Você se curva passando pelas diferentes áreas de sua
Enquanto muitos acreditam que um equilíbrio entre tra-
vida sem o medo de se quebrar diante da sua própria rigidez
balho e vida - e, mais recentemente, integração entre vida
e, por outro lado, não se apresenta tão leve a ponto de ser
profissional e profissional - é uma utopia distante de sua
levado pelas expectativas dos outros. Como podemos então
realidade de trabalho, pequenas mudanças baseadas na
ter a coragem de sermos flexíveis? A resposta está em co-
flexibilidade, escolhas conscientes e práticas diárias podem
nhecer suas raízes, confiar em seus valores e então se permi-
gradualmente levar à significativas transformações pessoais
tir fluir com os outros. Uma vez profundamente enraizados,
e profissionais.
existem diferentes maneiras de responder às pressões externas de vida, dependendo de sua intensidade. A antiga metáfora do bambu simboliza como podemos ser flexíveis nas interações com outras pessoas e com o am-
* Gregor Matsuda Tavares é Coach e Terapeuta Integrativo
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Expandir para conquistar Priscila Zart Fico impressionada com a quantidade de ideias,
Esse conjunto de crenças se refere ao mundo à sua
sonhos e planos que são abortados todos os dias. De-
volta, às pessoas e, especialmente, a si mesmo. Cada
veriam existir campanhas antiaborto para eles. Eu se-
indivíduo cria uma concepção a respeito de quem é,
ria a primeira da fila a protestar a respeito de quantas
quais são suas capacidades, suas possibilidades na
possibilidades são extinguidas no “útero das ideias”
vida, o que é esperado dele e o que ele pode esperar
- a mente -, antes mesmo de saírem pela boca, sim-
dos outros e da sociedade. Isso é tão forte que direcio-
plesmente pelo fato de as pessoas não acreditarem
na todos os seus comportamentos e ações.
que são possíveis.
Sendo assim, o senso de identidade é o que, se-
Tudo começa na mente. Desde uma simples cadei-
gundo Tony, é necessário expandir. Não necessaria-
ra até um negócio bilionário, todas as coisas iniciam
mente modificar, mas expandir. Torná-la maior do que
como uma ideia. Alguém acredita que aquilo é possí-
é. Ampliar aquilo que cada um acredita sobre si mes-
vel, toma uma decisão e começa a agir: planeja, obtém
mo, sobre o que pode ou não fazer, sobre o que mere-
recursos, executa, erra, corrige e faz o necessário para
ce ou não alcançar.
transformar a ideia em realidade.
Ao expandir essa identidade, o ser humano conse-
Esse alguém não nasce pronto para o desafio. Ele
gue se superar e alcançar coisas que antes não conse-
não tem sucesso nos seus planos por já ter tudo o
guia. Consegue entender, vislumbrar, imaginar, proje-
que precisa dentro de si. Não. Ele tem sucesso porque
tar o que antes acreditava ser impossível.
acredita que é possível. O desafio tem seu próprio pa-
Do contrário, a pessoa começa a sabotar os pró-
pel na história: vem preparar essa pessoa e permitir
prios esforços, a abortar suas ideias, sonhos e planos,
que ela cresça, se desenvolva, aperfeiçoe suas habili-
pois não acredita na possibilidade de vencer, ser al-
dades, aprenda no caminho e consiga, por fim, vencer.
guém melhor e ter uma vida melhor. Ao compreender
A ação de vencer, de conseguir a vitória, é a pura
quais limitações está impondo em si mesma, ela pode
definição da superação. E quando falamos em superar
mudar esse pensamento e, com isso, mudar seu rumo,
a si mesmo, o que significa? Vencer a si mesmo. Acres-
suas ações e seus resultados.
cento ainda: vencer suas próprias crenças sobre o que é possível ou não de se realizar.
Pode-se dizer então que a expansão precede a superação. Antes de se ter mais - a vitória pessoal, a
Certa vez vi no perfil do Tony Robbins a seguin-
felicidade, o sucesso, o reconhecimento, o ganho fi-
te frase: “A maior força da personalidade humana é a
nanceiro, tudo aquilo que acompanha a superação -,
necessidade de ser consistente com aquilo que defi-
é necessário acreditar e ser mais. Depois, fazer mais.
nimos que somos”. O significado disso é tão profun-
É sempre tempo de expandir para conquistar. Às
do que remete ao senso de identidade de cada um. O
vezes, um olhar de fora e o apoio correto fazem a dife-
ser humano cresce e aprende, através de suas expe-
rença e um processo de coaching, por exemplo, pode
riências e educação, qual a melhor maneira de viver
ser o ponto de virada para isso. Permita-se!
nesse mundo. Aprende o que “funciona” e o que “não funciona” para ser amado, não sofrer e, por fim, sobreviver.
* Priscila Zart é Coach e Publicitária
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Interessado? Ou interesseiro? Rodrigo Bernardino
A vida vem passando por inúmeras mudanças, e quando digo a vida estou falando de tudo que a envolve, desde as relações pessoais até as profissionais. Não precisa ser nenhum guru para entender que isso faz parte do nosso ciclo. Conversando com uma amiga, escritora e jornalista, comentamos sobre a importância do nosso processo pessoal para a manutenção das mais diversas atividades, principalmente a de trabalho. Ao longo dos anos, vivemos uma constante oportunidade de crescer, isso com certeza pelo trabalho duro e incansável de muitos. Costumo dizer que, para que qualquer trabalho tenha sucesso, precisamos sempre usar a sigla MTD – Muito Trabalho Todo Dia. Isso faz com que nossos objetivos em algum momento sejam alcançados e reconhecidos, reconhecimento este, é claro, na maioria das vezes financeiro. O que mais me preocupa é o nosso olhar para o pessoal. Como estão nossas relações? Quanto tempo falamos com nossa família, amigos, colegas e até mesmo com nossos futuros clientes e parceiros de negócios? Por mais que a importância do networking seja constantemente realçada, será que estamos construindo uma relação sólida e que garanta um olhar diverso para o nosso futuro? Essas perguntas nos fazem refletir (se não fizer, pelo menos deveria), porque precisamos cuidar do nosso pessoal. Como disse acima, ele refletirá consequentemente no profissional. Independente da sua posição, o que passamos e o que vivemos fazem com que causemos admiração ou espanto nas pessoas que nos acompanham, e você pode até achar que ninguém liga para o que você faz, mas isso não é verdade. Observar nossos costumes é ir além, é encontrar neles um objetivo, e para isso o cuidado se faz necessário. Para simplificar o que digo: precisamos mostrar a força do nosso trabalho ou habilidades. Usando as redes sociais você consegue causar impacto positivo e transformar sua rede em um espaço relevante para as pessoas, seja elas quais forem. Obviamente é importante estabelecer um conteúdo de acordo com uma análise de quem lhe acompanha: se na minha rede houver mais empreendedores, é importante desta-
car conteúdos de contribuição para eles, e isso vai desde uma indicação de livros até mesmo a sugestão de cursos e treinamentos que você já tenha feito. A experiência pessoal conta muito. Outro ponto importante é dar foco no trabalho e esquecer do lado pessoal, ou seja, vez ou outra comente o que te faz feliz, hobbies, atividades, pessoas, família. A partir deste processo, você começa a ser admirado e constrói uma relação duradoura com quem lhe acompanha. As nossas atividades de trabalho não podem ser esquecidas nesta construção, mas é importante ser sutil ao passar informações sobre as quais as pessoas não tenham conhecimento. Curiosidades sobre suas atividades e até mesmo histórias que relatam como sua profissão ou habilidades podem mudar a vida das pessoas ou de uma organização fazem toda a diferença neste processo. Claro que só as redes sociais não garantem muitas coisas, até porque a vida não pode se resumir a elas. Sempre digo e oriento que ela seja um meio de aproximar as pessoas. Mesmo que ao longo dos anos vamos incluindo pessoas de diferentes lugares, é importante fazer o possível para se envolver além da web. Se a maioria dos amigos for de uma mesma cidade, nada mais interessante que convidar para um café, almoço, jantar ou até mesmo happy hour. Não precisa se limitar aos encontros nos quais a alimentação se faça presente: há exposições, eventos e palestras que podem interessar. Outra coisa que sempre digo: não se demonstre interesseiro. Em vez disso, deixe claro que você é uma pessoa interessada. Isso eleva o nível de relação com as pessoas, visando não só ao presente, mas também à construção de um futuro de grandes benefícios. Este é o processo da sua construção de imagem: utilizar o que você tem de mais importante para desenvolver parcerias que valorizem o seu pessoal e o dos envolvidos. Essa é a tendência no mundo corporativo, sem grandes investimentos, mas com certeza com incontáveis resultados. * Rodrigo Bernardino é Especialista em Marketing
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Bem-estar Teoria e Prática Leonardo Duncan A Psicologia Positiva surgiu em 1998 com o psi-
redes sociais é que elas podem espalhar felicidade,
cólogo americano Martin Seligman. Ele desenvolveu
alegria e riso como fogo selvagem. Incentive as crian-
com seus pacientes um trabalho de conscientização
ças a formar amizades e mostrar vontade de ser um
e reforço de pontos positivos, gerando melhorias clí-
amigo em quem se possa confiar e confiar.
nicas e de bem-estar na vida. Sua experiência o levou
• M – Meaning (Sentido): A verdadeira felicida-
à conclusão de que nossa existência é sustentada por
de, segundo o psicólogo Rollo May, vem da criação e
cinco pilares: o Modelo PERMA, que ficou conhecido
da significação da vida, e não da busca do prazer e
também como Teoria do Bem-Estar. São eles:
da riqueza material. Amar alguém e ser amado é um
• P – Positive Emotions (Emoções Positivas): As
fenômeno significativo, porque tais atos inspiram as
emoções positivas estão entre os muitos componen-
pessoas a viver e cuidar de alguém que não seja o eu.
tes da felicidade e do bem-estar e é uma das cama-
Viver uma vida significativa é, em essência, relaciona-
das mais óbvias de felicidade. É diferente de prazer.
do a se ligar a algo maior do que a si mesmo. Incentiva
Embora o prazer esteja relacionado à satisfação de
a sensação de que existe um propósito maior para a
necessidades corporais, como fome, sede ou um lon-
vida, e uma parte disso confere significado. Ter tais co-
go sono após um dia difícil, ele vem da estimulação
nexões com algo maior também é uma barreira eficaz
intelectual e da criatividade.
contra a depressão. Pesquisas mostram, por exemplo,
• E – Engagement (Engajamento): Todos tivemos a
que pessoas religiosas ou espirituais geralmente têm
experiência de se tornar tão absorvidos no trabalho ou
vidas mais significativas porque acreditam e adoram
na leitura de um livro que perdemos completamente a
algo maior do que elas mesmas.
noção do tempo ou esquecemos de um compromisso.
• A – Accomplishment (Realização): Ter objetivos
Também vimos crianças se tornando tão envolvidas
explícitos na vida, mesmo pequenos, como ler por
em algum jogo que não foi fácil chamar a atenção de-
uma hora todos os dias, e fazer esforços para alcançá-
las ou fazê-las parar. Alcançar esse estado de fluxo ou
-los, são importantes para o bem-estar e a felicidade.
engajamento total é natural, especialmente quando as
A conquista ajuda a construir a auto-estima e propor-
pessoas estão envolvidas em atividades que amam e
ciona uma sensação de realização. Também fortalece
são boas, como dançar, praticar esportes ou realizar
a autoconfiança. Os pais que ativamente estabelecem
atividades e hobbies criativos. Embora o engajamento
e tentam atingir objetivos, como o exercício diário, por
em atividades prazerosas seja relativamente fácil para
exemplo, tendem a ter filhos que desenvolvem atitu-
a maioria das crianças, ainda é importante oferecer
des semelhantes. O mero esforço que se coloca para
oportunidades para que as crianças participem de ati-
alcançar um objetivo específico em si abriga a satis-
vidades que lhes ofereçam experiências de envolvi-
fação.
mento ou fluxo.
Mesmo sabendo que a felicidade não seja eterna,
• R – Relationships (Relacionamentos): A quanti-
temos que aproveitar cada momento que temos dela,
dade e a qualidade das relações positivas que estabe-
pois são estes momentos que fazem a vida valer a
lecemos com os outros é a chave para gerar bem-estar.
pena.
Felicidade e saúde psicológica estão intrinsicamente ligadas a relacionamentos íntimos, significativos e íntimos. Segundo pesquisas, uma função importante das
* Leonardo Duncan é Coach Positivo
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Autossabotagem nos relacionamentos Michele Maria Pacheco Foggiatto Puel
Nada dá certo na minha vida amorosa, será o que
ou irreais?
tenho de errado? Será que eu nunca vou ser feliz? Eu
Porque o inconsciente acaba agindo como uma
não consigo encontrar alguém! Eu sei que ele me faz
mãe que não quer que nada aconteça de mal em sua
mal, mas continuo com meu marido. Eu só acho de-
vida. Acaba sabotando para não correr riscos.
feito neles... Nossa! É muito bom para mim, tem algo errado! Vamos falar sobre sabotagem, ou melhor, autossabotagem, no relacionamento!
Nesta situação, acabamos agindo, sem perceber, como pessoas que nos cuidaram, optaram em apresentar o medo como cuidado. Outra situação muito recorrente é aquela que em
Autossabotagem é um mecanismo de defesa pelo
algum momento em sua vida aconteceram experiên-
qual, de alguma forma, você está impedindo, de for-
cias que traumatizaram, ou até crenças, informações
ma inconsciente, o progresso, a felicidade, ou algo que
introjetadas no inconsciente, que recorre a estas infor-
deseja muito.
mações e lembranças e vive aquela situação passada
Por que as pessoas não conseguem se realizar no relacionamento amoroso? Ou permanecem num relacionamento destrutivo...? São muito comum as falas e queixas em consultório, por exemplo:
como se fosse atual. O sujeito não consegue fazer, não consegue libertar-se da pessoa. A impressão que nos causa e escutamos é: “Para não sofrer não seja feliz, é arriscado!” Pesquisas apontam que temos a Mente Conscien-
- Eu quero um namorado, um relacionamento, mas
te e a mente inconsciente. A mente consciente é ra-
tenho medo de não conseguir continuar a dar atenção
cional e 5% do que somos. A mente inconsciente é
a minha filha;
95%, sendo mais poderosa. A forma de processar é
- Eu tenho medo de não continuar sendo competente ao meu trabalho; - Eu tenho que viajar e não conseguirei dar atenção ao meu namorado. Você conhece pessoas que sempre estão justificando por meio de medos, inseguranças e experiên-
diferente, não é lógica. Todos nós, em algum nível, em algum momento, nos sabotamos, pelo fato de ter razões inconscientes que não permitem avançar. Criou-se um bloqueio. Inconscientemente, não existe uma permissão para que a razão, o consciente, se liberte e execute.
cias passadas. Mas por que isso acontece? Por que, mesmo antes de iniciar um encontro, já fazemos expectativas ruins
* Michele Pacheco Foggiatto Puel é Psicóloga
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Sobre o tempo e momentos Luciano Seade
Me diga: você tem pressa? Me diga mais: você acha
levar para casa cantando uma canção infantil ou já
que o tempo passa rápido demais? Tirando as relati-
apresentando algum rock; persegui-lo pela casa para,
vidades que o assunto envolve, me deixe responder
enfim, adentrar ao banho; brincar com a imaginação
a você: eu não, não mais. Desde que me tornei pai,
ou com um palito, fingindo ser um personagem; dor-
meu aprendizado começou na minha relação tempo
mir abraçado, sentindo sua respiração constante e sua
/ proveito. Sempre quis ser pai – e de duas crianças,
mão a segurar meu peito. Momentos de colecionar, de
como sou agora. Mas também sempre trabalhei muito
arquivar na memória sem a preocupação de ter espa-
– como funcionário de empresa e, ao mesmo tempo,
ço – sempre tem. Quando meu segundo filho nasceu,
com a minha própria. Noites eram seguidamente uti-
exponenciei toda essa relação, com mais oportunida-
lizadas para fechar alguma revista, finais de semana
des para me dedicar a eles. Eu tinha, então, a possibi-
eram usados, muitas vezes, para criar uma nova marca
lidade (o tempo!) de fazer tudo de novo, com o bônus
para um cliente. Eu gostava, claro, mas era para mim
de continuar acompanhando o que veio primeiro. Mais
como uma espera para uma ocupação bem mais satis-
ajustes: brincar com dois de diferentes idades, a tarefa
fatória. E chamar de “ocupação” seria injusto, já que
difícil mais prazerosa que já cumpri. E continuo.
muitas vezes sou mais aluno do que professor. Mas do
Expandi essa concepção para o restante das minhas
tempo – quanto a este tive que me reeducar sozinho.
relações de amigos e família, e vi minha vida ganhar
Quando meu primeiro filho nasceu, comecei a
mais sentidos. O tempo não era, enfim, um inimigo,
reavaliar os clientes que aceitaria dali para frente.
mas algo que deve ser aproveitado mesmo quando for
Nada de prazos apertados, nada de projetos que não
para fazer nada. Aprendi (e repasso essa ideia sempre)
valeriam o tempo utilizado. Se perdi algum dinheiro?
que a vida é feita de momentos, e que esses, veja só,
Provavelmente, mas ganhei o tempo de estar presen-
estão amarrados ao tempo de uma forma eterna. La-
te e ver meu filho se desenvolver, e não perdi vários
mentar o passar do tempo é ter a ideia errada de que
dos seus “primeiros”: sorrisos, choros, palavras, ações.
não se aproveitou. Já a saudade do minuto que passou
Quando ele começou a ir para a escola, me identifiquei
é saudável, por garantir a importância que aquele mo-
com a rotina que eu tanto precisava. Meus horários de
mento significou. Então, numa coleção de momentos
trabalho seriam definidos pelos momentos que não
eternos, a satisfação é ver que há uma vida cheia de
estivéssemos juntos. Trabalhando em projetos pontu-
significados, e que o tempo, de vilão, passa a ser um
ais, poderia adaptar todos os ganhos à realidade que
companheiro; que a pressa só apressa o que deve ser
me convinha, e que eu buscava sem saber: ter tempo.
curtido no tempo certo; e que o tempo, esse senhor, é
Veja que é diferente de “ganhar” tempo: é “ter” mes-
um menino lhe esperando para brincar. Sem pressa.
mo, possuir, não se desfazer e não desperdiçar. Ao término de um dia de trabalho, no momento em que o buscava na escola, uma chave virava. Começava mais um momento com ele. Mesmo que fossem vários:
* Luciano Seade é Jornalista e Designer Gráfico
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O que faz a diferença é o caráter Robson Santarém
Estou cada vez mais convicto de que se não trabalharmos arduamente na formação do caráter de nada valerão as melhores habilidades e conhecimentos que alguém possa ter. Ainda vivemos muito preocupados – nas famílias, nas instituições de ensino e nas empresas -, em proporcionar acesso e condições de desenvolvimento de habilidades e conhecimentos que possibilitem ao futuro profissional e mesmo àqueles que já atuam o instrumental necessário para que sejam bem-sucedidos em suas carreiras, seja em qualquer área ou profissão escolhida. Assim tem sido a preocupação de muitos pais, o currículo e projeto pedagógico de muitas escolas e universidades e os programas de treinamento e desenvolvimento das empresas. Decerto temos profissionais extremamente competentes em várias áreas, estrategistas, com alto nível de conhecimento e tantas habilidades que são capazes de elevar suas equipes e organizações para altos patamares de rentabilidade e lucratividade. No entanto, esses mesmos profissionais, por desvio de caráter, são capazes de manchar a reputação das empresas, além da própria, gerando grande prejuízo para toda a cadeia e para a sociedade. Eis por quê defendo com ardor que precisamos investir em todos os tempos e lugares, no desenvolvimento das virtudes, dos valores humanos essenciais. Como disse Aristóteles, na Ética a Nicômaco, “a virtude do homem será a
disposição do caráter que o torna bom e que o faz desempenhar bem a sua função” e “as coisas nobres e boas da vida só são alcançadas pelos que agem retamente”. Possuir competências e não ter as virtudes como alicerce de vida e das decisões que precisam ser tomadas no dia-a-dia é o que temos testemunhado em nosso tempo. Como lembra o mestre Stephen Covey: “Precisamos trabalhar o caráter e a competência para solucionar os problemas estruturais e sistêmicos. Lembre-se: trabalhe primeiro o programador se quiser aperfeiçoar o programa”. A começar em nossas casas na educação dos filhos, nas instituições de ensino que têm uma responsabilidade muito maior que apenas transmitir conhecimento e, por que não, nas organizações empresariais, urge que se desperte para a importância de se investir na formação em valores humanos, sem os quais tudo pode se perder. Se quisermos um mundo melhor, o que significa melhores empresas, melhores famílias, melhores relações humanas etc, antes de tudo precisamos despertar e expandir a nossa consciência para a importância dos valores em nossa vida. O que fez, faz e a fará sempre a diferença é o caráter, a começar pelas lideranças. Aliás, é exatamente isso que, para mim, define um líder: o seu caráter. * Robson Santarém é Consultor, Escritor, Palestrante e Coach Executivo
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Silêncio Quase um artigo de luxo Dirce Becker Delwing
Vivemos num mundo de muitos estímulos, com excesso de informações e onde o silêncio é quase um artigo de luxo. E ele é verdadeiramente valioso. Isso porque o silêncio externo é quem pode alcançar a escuta dos barulhos internos. Quando a pessoa consegue ouvir o que está fora do tom no seu mundo interior, tem a possibilidade de repensar mudanças, alternativas, caminhos para a calmaria e a serenidade. Se isso é o que deseja alcançar. Não posso acreditar que o excesso de ruídos promova a tranquilidade interior. Por outro lado, não é possível assegurar que o silêncio seja terapêutico para todos. Uma pessoa que não possui o mínimo de resiliência para lidar com as suas inquietudes, pode, de fato, não sentir efeitos benéficos diante do silêncio. No nosso cotidiano, podemos encontrar a quietude fazendo pequenos movimentos como não ligar a televisão, o rádio ou outros dispositivos eletrônicos, até para ouvirmos o ruído da rua e, assim, sermos capazes de sentir o mundo do lado de fora sem sair de casa. É desafiador
calar e conviver com o silêncio do outro. Há um entendimento no ar de que tudo precisa ser ágil. Temos dificuldades para lidar com o silêncio entre o envio de uma mensagem e o recebimento da resposta. De certa forma, controlamos o silêncio alheio. Quando enviamos uma correspondência para alguém, conseguimos conferir se o outro visualizou o texto. Cobramos urgência na resposta. Nietzsche dizia que é melhor expressar nossos sentimentos, mesmo sem encontrar as palavras adequadas, do que ofender com o silêncio. Ao que parece, o filósofo queria mostrar que o silêncio deixa um vazio, um espaço para que o outro reflita, o que pode ser inquietante e promover o entendimento. * Dirce Becker Delwing é Psicóloga e Psicanalista
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