Kandinsky: Tudo começa num ponto. CCBB SP Programa Educativo - Ações mediadas, 2015

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CCBB Educativo 2015 Ações

Mediadas



Ministério da Cultura apresenta Banco do Brasil apresenta e patrocina

Daniela Chindler Ilustrações

Lula Palomanes


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asci bem longe do Brasil, na Rússia, em 1866, há quase dois séculos! Sou moscovita, como mamãe. Moscovita pode até ser uma palavra engraçada, mas quem nasce em Moscou é chamado assim. Minha bisavó era princesa (acredita?) de um país vizinho, a Mongólia, e dizem que ela era muito linda. Papai nasceu em um vilarejo na Sibéria, perto da fronteira entre o Império Russo e o Império Chinês, e talvez por isso ele tenha se tornado um bem-sucedido mercador de chá. Dizem que na cidade de Xian, o imperador Shen-nong estava repousando sob uma árvore quando algumas folhas caíram em seu copo com água quente e coloriram o líquido com um tom castanho. Ao experimentar a bebida e descobrir que possuía um sabor aprazível, o imperador ensinou a receita aos seus súditos. Foi assim, há quase três mil anos, que esse soberano chinês inventou o chá que papai hoje vende.


Eu ainda era bem pequeno quando nos mudamos para a cidade de Odessa, na Ucrânia, um grande porto às margens do Mar Negro. Só tinha cinco anos quando meus pais se separaram e fui morar com a querida tia Elizaveta. Ela me ensinava música, alemão e contava muitas histórias. Tremia de medo com o conto da linda menina Vassilissa, pois sua madrasta malvada a mandou para a casa da bruxa Baba Yagá. Mas também morria de rir com o caso da panqueca fujona que saiu por aí rolando para que ninguém a comesse. E achava curiosa a lenda de como surgiu a Matrioska, vocês já devem ter visto, é aquela boneca que tem uma boneca dentro dela, que tem outra boneca dentro e mais outra... cada uma menor do que a anterior!

Em Odessa, tive aulas de piano e violoncelo. Papai e mamãe, assim como eu, adoravam música. Também estudei desenho e me aventurei com tintas, pincéis e telas na adolescência. Sonhava em me tornar pintor, amava a pintura acima de tudo, mas achava que a arte era um luxo, não uma profissão. Por isso, fui estudar Economia e Direito na universidade. E minha vida seguiu em frente...

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Aos 23 anos, participei de uma expedição à província Vólogda, no norte da Rússia. Não podia saber que essa viagem me marcaria tanto. A quantidade de cores nas roupas e nos móveis dos camponeses me deu a sensação de caminhar dentro de uma pintura viva. Para não esquecer de nada, fiz um diário da viagem e nele fui desenhando detalhes decorativos das casas, além de objetos como colheres, cestas e baús. Também escrevi as canções e histórias que ouvi nas aldeias. Os contos de fadas que contavam lá me trouxeram lembranças da titia. Foi nessa época que comecei a colecionar brinquedos de madeira, rocas de fiar e os luboks – estampas com desenhos de camponeses, cenas religiosas e animais como serpentes e corujas. Acreditei que meu futuro estava decidido: seria professor de Direito. Mas, certa manhã, quando visitei a exposição de pintores impressionistas franceses em Moscou, tudo mudou... 4

Os críticos de arte faziam pouco caso, diziam que os quadros impressionistas eram “meros borrões de tinta sobre a tela”. Imagina! Eles não entendiam que a pincelada precisava ser cada vez mais rápida para registrar a luz daquele momento; por isso a forma ia se perdendo aos poucos, restando apenas a cor. Não, claro que não era um borrão. Ao longo das estações do ano, Monet, por exemplo, que gostava de pintar ao ar livre, passava os dias no campo, da aurora até o cair da noite, pintando montes de feno. Para ele, a luz era algo mágico que tinha o poder de transformar as coisas. Um monte de feno sob a luz fria de uma madrugada de inverno definitivamente não era o mesmo monte de feno de uma tarde quente de verão. Monet, assim como outros impressionistas, estudava e percebia a variação da luz na cor. Naquela manhã, na exposição, ao ver um monte de feno pintado por Monet, entendi que a obra de arte não precisava se resumir a imitar a natureza.


Dias depois, assisti a uma ópera de Wagner, no Teatro Real de Moscou. A música me fez pensar no pôr do sol de Moscou, quando as cores se inflamam uma atrás da outra, antes de transformar a cidade numa mancha vermelha que soa como o acorde final de uma enorme orquestra. Foi aí que me dei conta de que a pintura é capaz de revelar sentimentos, assim como a música. Minha vida, então, tomaria outro rumo: eu seria pintor!

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Aos 30 anos, arrumei minhas coisas e me mudei para a Alemanha, pois queria me dedicar ao estudo da pintura. O rei alemão Ludwig I havia inaugurado os primeiros museus públicos do Estado. Muitos artistas russos iam para Munique, que fica entre Moscou e Paris. Existiam muitas galerias na cidade, o que era ótimo para quem precisava de paredes para expor suas telas. Ainda bem que eu não tinha que me preocupar com o dinheiro para pagar as contas. Herdei um palácio em Moscou (muita sorte, não?) e recebia o aluguel de vários apartamentos. Na primeira escola que frequentei, tinha que desenhar modelos vivos, pessoas posando imóveis, ali na nossa frente. Mas eu não queria uma pintura que fosse a reprodução do real, queria que ela “falasse” dos sentimentos do pintor e que quem olhasse a pintura também pudesse encontrar sentimentos escondidos dentro de si. Então, fugia das aulas e ia estudar pintura a óleo ao ar livre. Continuava pensando na música. Ela é imaterial, quer dizer, não conseguimos tocá-la, nem vê-la, apenas perceber suas vibrações e o que ela nos faz sentir. É como se eu estivesse à procura do som colorido. Por isso escrevi no livro Do Espiritual na Arte: a cor é um meio para exercer uma influência direta sobre a alma. A cor é a tecla; o olho, o martelo. A alma, o instrumento das mil cordas. E o que o artista faz? Ele é a mão que, ao escolher as cores, ao tocar nesta ou naquela tecla, como nas de um piano, consegue fazer vibrar a alma. A alma humana, quando tocada no seu ponto mais sensível, responde.

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Foi em Munique que assisti ao concerto do compositor Arnold Schönberg. Complicado esse sobrenome alemão para quem é brasileiro, não é? A música desse concerto me marcou. Era isso! No dia seguinte, já comecei a desenhar. Primeiro, esbocei a sala do concerto em perspectiva. Dava para identificar o pianista, o piano de cauda, a plateia e o lustre do salão. No segundo esboço, mantive a referência a objetos reais, como o músico ao piano, o público e as luminárias, mas algumas figuras já estavam diluídas. Anotei em alemão as orientações de cor; aquela palavra gelb, no canto, é “amarelo”. Também indiquei o branco e o preto.

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Depois dos estudos, fiz a pintura a óleo que chamei de Impressão III (Concerto). Não buscava pintar o que vi, nem traduzir para uma imagem a música que ouvi. O que pintei foi a impressão do que o concerto me fez sentir. A cor, para mim, é um meio para atingir a alma. Infelizmente, Schönberg não estava na apresentação, mas enviei um presente pelo correio: uma pasta de gravuras. Schönberg também pintava, e assim começamos uma longa amizade. Depois do nosso primeiro encontro, fiz uma série de xilogravuras com poemas que chamei de Sons – nelas estavam cavaleiros, dragões, anjos e cidades nas colinas.

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As figuras não sumiram da minha pintura de uma hora para outra, foi devagarinho que as formas geométricas e as cores ocuparam todo o espaço das minhas telas. Um dia, já faz algum tempo, São Jorge entrou montado em seu cavalo nos meus desenhos, onde talvez ele fique para sempre. Muitas vezes é fácil ver o cavaleiro, outras vezes ele está escondido.

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Desde os tempos do czar Yaroslav – o Sábio, o povo russo venera São Jorge. Ele é o santo padroeiro dos príncipes, e sua imagem aparece no brasão e na moeda de Moscou. Vemos nele um guerreiro valente, defensor das nossas terras, protetor dos camponeses. Muitas casas têm imagens do cavaleiro Jorge matando um dragão com sua lança; é a vitória do bem e da fé sobre as forças do mal.


Na tela São Jorge (1), conto a história do santo em ritmo e cor. São Jorge, o dragão, o cavalo e a batalha estão na energia do movimento do pincel, expressa por manchas de cor, e em um triângulo comprido, que toca na parte inferior da composição. Nas manchas, ainda se distinguem as figuras da princesa e do cavaleiro derrotando o dragão. Mas, como os sons da música, o que eu queria era que as combinações e os contrastes de cor fizessem o espectador mergulhar no seu próprio mundo de paixões e medos.


Havia outros artistas que, como eu, achavam que a pintura não deveria se preocupar mais em reproduzir a forma perfeita do que existia. Desde os gregos, lá na Antiguidade Clássica, os artistas procuram reproduzir a natureza. Nós, não! Não queríamos olhar para o que é material, queríamos e precisávamos falar do mundo espiritual. Foi assim que surgiu o grupo Cavaleiro Azul. O pintor alemão Franz Marc fundou comigo o grupo. Marc adorava pintar cavalos, e eu, a cor azul. Sinto que quanto mais profundo o azul se torna, mais intensamente ele chama o homem para o infinito. O azul é perfeito para nos levar ao mundo espiritual.

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No Cavaleiro Azul, estavam também o pintor suíço Paul Klee e meu grande amigo, o compositor e pintor Schönberg. Klee, aliás, viria a se tornar outro amigo da vida inteira, pois pensávamos de forma muito parecida. Ele dizia que a cor o possuía; por isso ele não precisava mais persegui-la, pois sabia que ela estava presa nele para sempre… A cor e ele eram um só. Organizamos duas exposições e publicamos um almanaque, misturando, ou melhor, juntando às nossas pinturas peças de grupos tribais, como esculturas da Ilha de Páscoa e bordados do Alasca. Não buscávamos o desenho perfeito, nem a cópia fiel. Acreditávamos que as respostas para esse mundo espiritual que procurávamos alcançar podiam estar também no desenho intuitivo de uma criança ou em uma máscara do demônio do Sri Lanka. O Cavaleiro Azul era nosso guerreiro e curador que vinha nos libertar. Foi então, em 1914, que a Primeira Guerra Mundial teve início. Marc, o pintor de cavalos, morreu em um campo de batalha nada azul. E eu voltei para a Rússia, mas meu cavaleiro continuou dentro de mim.



Na Rússia, era um tempo de grandes mudanças. Quem reinava era um imperador, que nós chamamos de czar. A grande maioria da população do império era formada por camponeses que precisavam pagar impostos altos aos cofres imperiais. Muitos camponeses foram para as cidades trabalhar nas fábricas como operários, mas continuavam ganhando quase nada. Quando a Rússia entrou na Primeira Guerra Mundial, faltou comida nas cidades e a situação piorou. Em 1917, a revolução começou. O czar, que havia tomado decisões ruins para a maioria das pessoas, foi deposto e, mais tarde, executado. Sua esposa, suas quatro filhas e seu filho ficaram presos em casa, mas depois também foram mortos. Há quem diga, porém, que uma das filhas, a princesa Anastácia, fugiu e nunca mais ninguém soube dela. 14

Com a Revolução Russa, perdi a fortuna que minha família havia deixado de herança, e o palácio em Moscou foi confiscado. Fui morar em um apartamento no quinto andar. Mas não me faltava trabalho, era um governo do povo, e os artistas, no início, foram convidados a ajudar na reconstrução da Rússia. Tornei-me diretor do sistema de museus, responsável por criar novos espaços, reformar os antigos museus e cuidar da compra de obras de pintores modernos. Recebi também muitas encomendas, desenhei até a decoração de um jogo de pires, xícaras, pratos e bule de chá para a fábrica de cerâmica do Estado. Como antes os pratos de porcelana tinham desenhos de flores, animais e pessoas vestindo roupas elegantes, todos acharam uma novidade o meu desenho abstrato nas xicrinhas.


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Ah! Esqueci de contar, mas até aqui já havia me casado duas vezes: primeiro, com uma prima russa chamada Anja e, depois, com a pintora alemã Gabriele Münter. Meu terceiro casamento, que durou o resto da minha vida, começou de um jeito bem diferente: me apaixonei por uma voz ao telefone e pintei Para uma voz desconhecida. A dona da voz se chamava Nina. Insisti até convencê-la a me encontrar, e aí foi “Era uma vez” e “Viveram felizes para sempre”. Os anos que vivi na Rússia junto com outros artistas que estavam pensando uma nova forma de pintar fizeram com que meu estilo mudasse. Fui gostando cada vez mais das formas geométricas. Se antes as paisagens e as referências da minha Rússia querida, como as cúpulas das igrejas, os santos, os cavaleiros e as árvores, apareciam se dissolvendo em manchas, agora as figuras haviam desaparecido, e as formas geométricas sem nenhuma ligação com o mundo, os triângulos, os círculos, os quadrados e as linhas tomavam conta de todo o espaço na tela.



Dizem que eu sou o inventor da arte abstrata. Sou mesmo, não sou? Abstrato vem do latim abstraho e quer dizer “se separar de”. Uma pintura abstrata não representa nada da realidade que nos cerca, não mostra paisagens, cenas ou personagens. Na Rússia, fui um dos fundadores do Instituto de Cultura Artística de Moscou – o Inkhuk –, a nova academia de artes russa, e desenvolvi um projeto para ensinar aos alunos os efeitos emotivos das obras. Mas os meus colegas não entenderam a proposta, o que me deixou bastante chateado. Então, em 1921, surgiu a oportunidade de voltar para a Alemanha e organizar uma nova escola de arte chamada Bauhaus. E eu fui. O nome Bauhaus vem do verbo bauen (construir) e do substantivo haus (casa). A ideia da escola era do arquiteto Walter Gropius e juntava as figuras do artista e do artesão. Nas aulas, eram ensinadas coisas importantes para o escultor, para o pintor e para o arquiteto e, nos laboratórios, os estudantes experimentavam o que tinham aprendido. Fui escolhido para dar aula de teoria e pintura mural. Estava bem contente porque queria criar obras grandes onde seria possível caminhar dentro. Já tinha pintado quatro telas grandes para a entrada do apartamento do fundador da Chevrolet, em Nova York. Eram quatro para que o visitante fosse cercado por elas e se sentisse mergulhado nas cores. Recebi a tarefa de fazer um projeto de hall de entrada para um museu de arte. O projeto seria apresentado em uma exposição em Berlim. Meus alunos me ajudaram e pintamos telas imensas, com linhas e formas coloridas sobre um fundo preto. Parecia uma sinfonia alegre... assim como a vida até 1933. Foi nesse ano que Adolf Hitler chegou ao poder e mandou fechar a escola.

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Infelizmente, a Alemanha havia se tornado uma ditadura, não era mais um lugar para mim. O título da minha última obra alemã foi Desenvolvimento em marrom, por causa dos soldados das tropas nazistas de Hitler que vestiam camisas beges. Os nazistas não gostavam da minha obra, achavam-me maluco e perigoso. Eu, um homem de 67 anos que pintava formas coloridas e geométricas era perigoso... Dizer o quê? Novamente arrumei minhas malas, mas desta vez fui para Paris e lá fiquei.


Nasci na Rússia, quando ainda era um império, e morei em mais dois países. Ia ser professor de Direito, mas virei pintor. Fui chamado de louco e hoje sou reconhecido como o mestre que inaugurou o abstracionismo, uma das maiores revoluções de todos os tempos na história da arte. Acho que valeu a pena! Este é o ponto final desta história escrita. Na linguagem, o ponto é um símbolo de interrupção. O ponto separa duas frases, é a união da palavra com o silêncio. Eu pego esse ponto e o transporto para a pintura. Aqui ele é o começo.

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Patrocínio

Exposição CCBB Brasília

Legendas:

Banco do Brasil

Kandinsky: Tudo Começa Num Ponto

Pág. 08 - Esboço para Impressão III (Concerto)

Produção

12/11/2014 - 12/01/2015

Sapoti Projetos Culturais

Exposição CCBB Rio de Janeiro

Coordenação Geral

Daniela Chindler Coordenação de Produção

Fernanda Saul Flavia Rocha Gabriela da Fonseca Administrativo

Cristiane Leal dos Santos

Kandinsky: Tudo Começa Num Ponto 28/01/2015 - 30/03/2015 Exposição CCBB Belo Horizonte

Kandinsky: Tudo Começa Num Ponto

Janeiro, 1911 Pág. 08 - Esboço para Impressão III (Concerto)

3 de janeiro, 1911 Pág. 09 - Impressão III (Concerto), Pág. 11 - São Jorge (1),

1911 Óleo sobre tela 107 x 95,2 cm

15/04/2015 - 22/06/2015 Exposição CCBB São Paulo

Museu Estatal Russo

Kandinsky: Tudo Começa Num Ponto 09/07/2015 - 28/09/2015

Pág. 19 - No branco, 1920

Óleo sobre tela 138 x 95 cm Museu Estatal Russo

Curadoria

Texto

Evgenia Petrova Joseph Kiblitsky

Daniela Chindler

Produção

Ilustrações baseados nas obras:

Pesquisa

Arte A Produções

Capa -

Arte A Produções Adriana Xerez Daniela Chindler

Direção Geral

Caderno

Rodolfo de Athayde Coordenação Geral

Colaboração

Ania Rodríguez

Alexandre Diniz Gabriela da Fonseca Luciana Chen

Gerenciamento de Projeto Assistente de Produção

Revisão de Texto

Monique Santos

Flavia Rocha Marcela Lima Ilustrações

Lula Palomanes Projeto Gráfico

André Ferreira Lima

Jennifer McLaughlin

1911

Linha Transversal, 1926

Óleo sobre tela Pág. 13 - Máscara Ritual do Demônio da Doença

(Mahacola-sanni-yaksaya)

Sri Lanka, madeira pintada, 120 x 79,8 cm Pág. 13 - Cavaleiro Azul,

Óleo sobre tela

1903



CCBB São Paulo Rua Álvares Penteado, 112 Centro SP – Próximo às estações do Metrô Sé e São Bento Informações

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(11) 3113-3649 Recomendação etária a partir de 05 anos. SAC

0800 729 0722 Ouvidoria BB

0800 729 5678 Deficiente auditivo ou de fala

Material elaborado para distribuição gratuita.

0800 729 0088 Alvará de Funcionamento nº 2015/12479-00 Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros nº 104180

Produção

Coordenação

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