Você recebeu um exemplar do livro “Causos de Bichos e de Gentes – Histórias do Norte de Mato Grosso”, e, com ele, este caderno de sugestões e estratégias para que a leitura dos contos seja compartilhada em sala de aula. A troca do entendimento de vários leitores sobre um mesmo texto pode ser uma experiência muito rica. Bons leitores de livros serão bons leitores de mundo, pessoas mais aptas a encontrar soluções criativas. Com este caderno propomos que você, professor(a), aventure-se com seus alunos, construindo coletivamente o prazer de ler.
H i s t ó r i a s e Pe r t e n c i m e n t o
1ª EDIÇÃO • SINOP - MT • 2017
Faça a seguinte pergunta para seus estudantes: se eles tivessem uma máquina capaz de levá-los para qualquer lugar do mundo, algum canto do universo, ou até para outro tempo, para onde iriam? Infelizmente, essa máquina ainda não foi inventada, mas temos algo que cumpre bem essa função, de nos transportar no tempo e no espaço: o livro! Ao ler as primeiras linhas… pronto: já fomos! Sem carimbo no passaporte, somos transportados por meio de uma combinação de palavras que criam um cenário na nossa imaginação. Em uma mesma história, múltiplas sensações são despertadas, nos emocionamos, torcemos e vivenciamos os acontecimentos com os personagens, mas tudo isso só é possível se abrimos o livro. Será que seus alunos já sabem disso? “Causos de Bichos e de Gentes – Histórias do Norte de Mato Grosso” reúne contos que trazem a “cor local”: a paisagem, os animais e as pessoas dessa terra são o cenário e os personagens do livro. Ao lê-lo, você vai notar a proposta de firmar um projeto de identidade, um registro do patrimônio imaterial, que segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – são “aquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas)”.
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O registro dos contos ouvidos permite que o leitor se sinta pertencente a um grupo e a um lugar, valorizando suas particularidades, garantindo que as histórias continuem atravessando gerações. O chamado “conto tradicional” é aquele que passa de boca em boca, de avô para neto, de mãe para filha. Sem dúvida você já ouviu falar da “Branca de Neve” ou da “Bela Adormecida”, mas já imaginou que, lá pelos idos de 1800, os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm tiveram a tarefa de ouvir, recolher e organizar uma compilação com contos de várias partes do território germânico, retratos da própria nação que se desenhava e que representariam a Alemanha para o restante do mundo? Vamos contar as histórias dos primeiros moradores da região para nossos estudantes e para as futuras gerações: as pessoas que vieram morar nas cidades de Sinop, Claudia, Ipiranga e Sorriso. Quais costumes trouxeram de suas cidades natais? O que continua igual e o que mudou nessas terras ocupadas na década de 1970 por migrantes que vieram principalmente do Sul e, alguns, do interior de São Paulo?
Muitas vezes a história começa antes mesmo de lermos a primeira frase. Vamos intensificar o primeiro contato dos nossos estudantes com essa história de uma forma diferente. Peça para que fechem seus olhos e sintam este livro como objeto: as texturas da capa e do miolo são iguais? A capa tem um verniz que dá um brilho e um toque diferente do experimentado nas folhas de dentro. Qual é o cheiro? Parece com o quê? Peça que abram devagar, manuseando as folhas, tentando perceber se existe algum som produzido pelo toque. Depois é hora de abrir os olhos e ler as imagens. Sim! As ilustrações não foram escolhidas por acaso. Como foram compostos os desenhos? Qual técnica o artista usou? Quais as cores que mais chamam atenção? É parecido com algo que os alunos conhecem? Vá fazendo essas perguntas com calma, criando uma conversa que deve ser recuperada à medida que a leitura avança, investigando junto com a turma os cenários e personagens. Proponha uma atividade para guardar essas impressões pessoais: anote ou faça cartazes com palavras, colagens e desenhos para criar um ambiente de preparação para a leitura dos contos recolhidos nesta obra. Continue “lendo” esse objeto livro: note qual foi a letra utilizada, ela parece com o quê? É a mesma no título e no corpo do texto? Como são organizados os capítulos? Após cada sequência de contos, há um glossário, mas você imagina o porquê?
As palavras podem criar um estranhamento no leitor por diversos motivos, como uma gíria, um termo regional, ou ainda algo que caiu em desuso e não faz mais parte do vocabulário atual. Muitas vezes, esse “tropeço” pode desmotivar o leitor, deixando aquela sensação de que ele não entendeu o texto por completo, ou até fazê-lo desistir de uma boa história. Além do glossário, mostre para seus alunos que relacionar o trecho que temos dificuldade de entender com o restante da história pode nos ajudar na compreensão do todo. Incentive os estudantes para que continuem a pesquisar as palavras do glossário em casa. Será que existem outros significados além dos apresentados? Ah! Há uma parte importante que está lá no finzinho: quem foram os entrevistados. Para escrever esses contos, a autora conheceu cada uma dessas pessoas e ouviu suas histórias, ou seja, como chegaram e construíram suas vidas no Mato Grosso. Também há dois contos populares brasileiros que são contados aqui e acolá e trazem personagens e animais típicos da região mato-grossense. Agora que exploramos o objeto livro e seu conteúdo, vamos colocar a mão na massa? Dividimos as atividades em três assuntos principais: Meio Ambiente; O Narrador e Quem Eu Sou.
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Sinop foi construída na década de 1970, quando não se falava muito em sustentabilidade e preservação da natureza. Hoje, esse é um assunto discutido e fonte de grande preocupação global. Que tal refletir sobre a importância da preservação enquanto os estudantes descobrem pigmentos, texturas e uma forma divertida de espiar a paisagem no entorno? AtividAde 1
vestindo A nAtuReZA O que existe da natureza ao nosso redor? Que elementos naturais nos cercam? E se esses elementos estiverem nas nossas roupas? Peça para que os estudantes tragam para esse encontro uma foto em que apareçam de corpo inteiro, preferencialmente de frente, de forma que esteja bem visível uma peça de roupa. Pode ser uma foto em papel fotográfico, mas se eles não quiserem estragar o retrato, podem trazer uma impressão ou cópia colorida em papel-ofício. A primeira parte da atividade será recortar a foto com cuidado, retirando uma parte dela para criar um vazado apenas no lugar da roupa: calça, blusa ou vestido. Professor(a), você deve auxiliar o recorte das imagens; o uso de estiletes ajuda a obter um resultado melhor, mas deve ser feito apenas por estudantes mais velhos e com supervisão.
Assim que as fotos estiverem recortadas, vamos para fora da sala observar a natureza. Como seria um vestido de nuvens? Ou uma calça de tronco de árvore? Ou uma blusa de gramado? Dê um tempo livre para a exploração das combinações com a temática “minha imagem e o que me cerca”. Vamos recolher elementos para seguir com a atividade em sala. Peça para os estudantes procurarem algo que tenha textura, como uma folha, casca de árvore, semente, pedra, flor etc. Usando a frotagem, vamos capturar e transportar a textura do ambiente em que estamos para o papel. Textura é o aspecto de uma superfície, ou seja, a "pele" de um determinado elemento, que permite identificá-lo e distingui-lo de outros elementos. Quando tocamos ou olhamos para um objeto ou uma superfície, sentimos se sua “pele” é lisa, rugosa, macia, áspera ou ondulada. A textura é, por isso, uma sensação visual ou táctil. Já o termo frotagem vem do francês frotage, que quer dizer friccionar. Um artista, observando a textura irregular do piso de madeira de sua casa, teve a ideia de colocar sobre ele uma folha de papel e “copiá-la”. A técnica é bem simples: coloque o papel sobre o elemento recolhido e depois friccione sobre o papel um giz de cera ou lápis de carvão na horizontal. A textura do que está embaixo do papel ficará marcada no desenho. Para terminar, vamos colar a foto em cima do papel, deixando a área em que ficou gravada a textura do elemento recolhido embaixo do espaço vazado. Com cartolinas e outros papéis coloridos, faça molduras como quadros ou porta-retratos, assim, guardamos um pouquinho da sensação experimentada de “vestir” a natureza. 5
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tintA cAseiRA
nAtuReZA de cABeÇA PARA BAiXo
Hoje, quando precisamos de tinta, temos uma enorme variedade à nossa disposição nas lojas. Mas, antigamente, os pintores precisavam produzir o material em ateliês. As tintas de tons amarelados e marrons eram obtidas com terra. Já azuis, vermelhos e amarelos intensos vinham dos minerais, que eram mais difíceis de serem encontrados e coletados, por isso eram pigmentos muito caros. Na Idade Média, o mais valorizado era o azul ultramarino produzido a partir de uma rocha rara chamada lápis-lazúli. O vermelho era produzido com uma mistura de chumbo e clara de ovo. Mas as roupas vermelhas da família real portuguesa saíram mais baratas: foram tingidas com corante extraído do tronco do pau-brasil, árvore que era muito abundante por aqui naquela época. Aliás, vermelho é o que não faltava nestas terras. A tinta vermelha usada pelos indígenas para se pintarem vem da semente de urucum.
Vários artistas plásticos e fotógrafos se inspiram em paisagens naturais para criar suas obras, muitas vezes chamando atenção para questões ambientais ou sociais. É na observação do real que surgem várias ideias subjetivas e únicas; mas e se o mundo estivesse de cabeça para baixo? Vamos propor a montagem de uma câmara escura!
Que tal produzir tintas naturais? A receita é bem fácil: misture, em 5 recipientes plásticos, 100 ml de água e 100 ml de cola branca para criar a base das tintas. A coloração será dada pelo último ingrediente:
• Caixa de papelão grande, do tamanho que dê para encaixar a cabeça; • Folha de papel branca; • Fita adesiva escura; • Prego ou tachinha; • Tecido preto. Passo a passo: • De um lado da caixa, faça um furo bem pequeno com o prego; quanto menor, melhor o resultado.
• Marrom: 2 colheres de pó de café;
• Do lado oposto ao furo, cole, por dentro, a folha branca.
• Vermelha/laranja: 2 colheres de colorau ou de sementes de urucum (nesse caso, basta amassar um pouquinho as sementes);
• Faça um buraco na parte superior da caixa, por onde passe a cabeça.
• Amarela: 2 colheres de açafrão; • Preta: 2 colheres de pó de carvão. Com as tintas prontas, podemos pintar uns aos outros ou em folhas de papel.
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Materiais necessários:
• Encaixe o tecido preto em volta do buraco e cole com a fita. Ele vai servir como uma gola e deixar o interior da caixa ainda mais escuro. • Feche a caixa e vede as aberturas com a fita adesiva. • Ponha a caixa na cabeça com o furo para trás. Teste apontando para um objeto luminoso.
A câmara escura funciona melhor em lugares externos, com luz do sol. O ideal é explorar a paisagem. Como será que fica uma árvore? Ou um amigo? As imagens vão surpreender por aparecerem no interior da caixa de forma real, mas invertidas. O olho humano funciona da mesma maneira, só que a mensagem captada é transmitida ao nosso cérebro, que “desvira” a imagem e a reinterpreta, deixando tudo e todos em seus devidos lugares! Alguns artistas brasileiros se inspiram na natureza para realizar seus trabalhos. Siron Franco, por exemplo, tem forte influência do Cerrado; Frans Krajcberg, da Mata Atlântica; Sebastião Salgado, das grandes paisagens do planeta. Que tal selecionar algumas obras desses artistas para inspirar os alunos?
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cARne de LÍnguA Há muito, muito tempo, existiu no Quênia um rei que se apaixonou perdidamente por uma rainha. Depois do casamento, ela foi morar no castelo do rei, mas, assim que pisou lá, misteriosamente ficou doente. Ninguém sabia por que a rainha havia adoecido. O dono da coroa, que era muito rico e poderoso, mandou chamar os melhores médicos e curandeiros do mundo, mas de nada adiantou. O rei decidiu: — Eu mesmo vou procurar a cura para minha rainha. Andando pelo campo, avistou um casal de camponeses. O camponês mexia os lábios e, na frente dele, a camponesa, gordinha e rosadinha, não parava de gargalhar. Os olhos daquela mulher transbordavam felicidade. O rei respirou fundo e bateu à porta da cabana. — Majestade! O que nosso rei deseja? – perguntou o súdito, um pouco assustado diante da presença real. — Quero saber, camponês: o que você faz para sua mulher ser tão feliz e saudável? — Muito simples, Majestade: alimento minha mulher todos os dias com carne de língua. A situação era de vida ou morte. O rei, mesmo achando aquilo meio estranho, mandou imediatamente o cozinheiro real preparar um imenso sopão com carne de língua de tudo o que é animal vivente na Terra.
— Fiz exatamente o que você mandou. Dei para minha rainha carne de língua de cachorro, gato, sapo, coelho, girafa… mas, caro súdito, nada adiantou. — Vossa Majestade não compreendeu o que eu disse – riu-se o homem do campo. – Eu alimento minha esposa com carne de língua: as histórias contadas pela minha língua. O rei entendeu rapidamente o problema, lembrando dos lábios do camponês que mexiam, e prometeu que daria todas as noites carne de língua para sua amada rainha. A partir daquele dia, revelam os quenianos, o rei contava uma história diferente todas as noites. Esse povo africano nos revelou que nunca mais a rainha ficou doente, e nos ensinou um segredo: as histórias fazem muito bem para mulheres, homens, crianças, jovens, velhos – e até mesmo para os reis.
Escutamos histórias desde que nascemos; as cantigas de ninar já nos contam do Boi da Cara Preta e do Tutu Marambá, por exemplo. Depois vêm as cantigas de roda, os contos de fadas, as anedotas, os casos de família. Também nos tornamos contadores muito cedo. A oralidade é a forma de passar adiante valores e tradições. O livro “Causos de Bichos e de Gentes” só foi possível graças a pessoas que abriram a porta de suas casas para contar suas histórias.
O próprio rei foi alimentar a rainha com a sopa. Com muito esforço, ela engoliu algumas colheradas daquela comida exótica, mas não melhorou. O rei foi, então, procurar o camponês novamente para entender por que a receita não havia dado certo.
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histÓRiA eM MoviMento
Ponto de vistA
“Causos de Bichos e de Gentes” traz uma série de relatos que foram recontados em alguns parágrafos, mas seria possível contar uma história apenas com imagens? Ou dar movimento a essas imagens em um livro?
Repare que a autora escolheu como estilo o narrador em terceira pessoa, que se comporta como uma testemunha dos fatos relatados, mas não faz parte de nenhum deles, é apenas observador.
Você sabe o que é flip book? Também conhecido como folioscópio, é um livreto com uma série de imagens organizadas em sequência para ser folheado dando a impressão de movimento. Podemos dizer que é um cinema que cabe no bolso. Vamos fazer um?
Exemplo, página 11: “Acontece que, após o mato, onde o homem trabalhava, tinha um rio e depois uma floresta virgem. Lá da floresta veio, sorrateira, uma onça.”
Cada aluno vai escrever uma cena, em poucas linhas. Antes de escrever, é importante que eles pensem que vão contar essa história apenas com imagens desenhadas. Exemplo: um homem foi pescar e, no lugar de um peixe, pegou uma bota. Mesmo sendo só um pé, o pescador calçou a bota e foi para casa com um pé de bota e outro de chinelo.
Depois de criar o enredo, é só montar os bloquinhos e desenhar. Na internet é possível encontrar várias referências para mostrar aos estudantes. Vocês também podem animar os contos mais curtinhos do livro, como “Dorminhoco ficou esperto”, “Fedido ficou vivo”, “Zequinha e José Guilherme”, “Jararacão-do-brejo” ou apenas trechos dos contos.
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Mas esses contos poderiam ser narrados de outra forma. Quando o personagem conta sua história, dizemos que a narrativa está em primeira pessoa. O relato do narrador-personagem é marcado por características subjetivas, suas impressões compõem a descrição do texto. Dê exemplos mostrando os contos do livro: • No conto “O morto que se mexia”, página 43, se o narrador fosse a menina, como seria o texto? • No conto “Dorminhoco ficou esperto”, páginas 6 e 7, imagine se o narrador fosse um animal, o cavalo preguiçoso. • Como seria se a onça contasse a história em “Zequinha e José Guilherme”, páginas 8 e 9, e se fosse o medroso do Zé Guilherme? Toda narrativa é apresentada a partir de um ângulo de visão. Um mesmo fato pode ser contado de diversas formas. Há uma expressão que diz que toda história tem dois lados, só que, na verdade, pode ter muito mais.
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eXeRcitAndo PARA contAR histÓRiAs... E é isto que vamos exercitar: distintos pontos de vista. Escolha um ou dois contos do livro “Causos de Bichos e de Gentes” e enumere junto com os alunos todos os personagens que existem nas histórias. Exemplo: fazem parte do conto “Cabeças Trocadas” quatro pessoas (as duas irmãs, a mãe e o pai), mas imagine se os objetos também fossem animados e ganhassem vida e voz. Se as imagens de São João e São José fossem escolhidas como narradoras, como seria essa desventura?
Ao reescreverem as histórias a partir de outro ponto de vista, os estudantes vão treinar a fabulação. Sempre se diz que “quem lê escreve bem”, o que nos parece verdade. E esse olhar mais atento, a carpintaria literária, vai auxiliar os estudantes quando eles tiverem que escrever seus próprios textos.
O que faz de uma pessoa ser boa contadora de causos? Toda família, por exemplo, tem uma tia, um primo, um irmão que conta as aventuras e prende a atenção de todos. Além de escolher um bom enredo, que posturas o narrador deve adotar para ter um bom desempenho? O tom de voz claro, o ritmo com que conta o que se passou, as interrupções na hora certa, os gestos, a escolha de palavras, os sons como onomatopeias? Instigue seus alunos a pensar quais são as características dos oradores que deixam os ouvintes atentos. Após a conversa, vamos treinar a leitura. Peça para todos os estudantes levantarem das carteiras e andarem pela sala, depois organize-os em roda e faça uma brincadeira simples. O primeiro da roda (a ser escolhido pelo professor(a) ou quem se propuser a começar) deve falar uma palavra qualquer, por exemplo, trovão. O estudante ao lado deve fazer uma relação rápida com a palavra dita, por exemplo, “chuva”, e o seguinte pode falar “água”, e assim por diante, até completar a roda. Em seguida, proponha o mesmo exercício, usando, no lugar das palavras, gestos. Essa dinâmica serve para “quebrar o gelo”, aumentar a interação entre os alunos e soltar o corpo. Com a turma “aquecida”, separe-a em pequenos grupos e peça que os estudantes façam uma leitura dramatizada das histórias recontadas na atividade “Ponto de vista”.
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Que significado eu tenho? No livro “Causos de Bichos e de Gentes” há, no fim de cada capítulo, um glossário. As palavras foram selecionadas porque elas podem ser difíceis para a faixa etária do público leitor; algumas são expressões; outras, palavras que caíram em desuso e são típicas de uma época, regionalismos, marcas de produtos e nomes de espécies de animais e plantas. Vamos explorar as palavras do vocabulário? Traga um dicionário para a sala e mostre como são organizados os verbetes. Escolha algumas palavras que causem estranhamento, como “deslinde”, e pergunte aos alunos qual o significado. Peça para que pensem nas partes que formam a palavra; será que podem nos dar uma pista? Depois, apresente o verbete do dicionário: Deslinde – s.m. (substantivo masculino) Esclarecimento; ação de tornar algo compreensível; ato de explicitar, de explicar alguma coisa: o deslinde.
Será que eles vão se surpreender? Pois é, a palavra deslinde não tem nada a ver com lindeza, como alguns podiam supor. Professor(a), prepare para esse encontro cartões com palavras escritas em uma fonte grande ou caixa-alta e, abaixo de cada uma, o significado correspondente. Use os termos do glossário e seus respectivos significados sugeridos no livro. Exemplos: Cangalha (página 14). Possante (página 31). Cincerro (página 30). Bulido (página 39). Hirto (página 48). Boroca (página 57). Furna (página 67). Ressabiado (página 67).
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Inclua também verbetes de dicionário. Abaixo, algumas sugestões. Você, professor(a), poderá adicionar outras palavras e seus descritivos. • Rebalsado – adj. (adjetivo) Que se rebalsou, atascado na lama, ou em charco, acumulado em grande monte, amontoado, apinhado. • Eclipsar – v.pr. (verbo pronominal) Esconder-se (um astro). Desaparecer repentinamente, afastar-se, tirar o brilho ou a visibilidade de, ofuscar, ocultar-se. • Paleografia – s.f. (substantivo feminino) 1. Qualquer forma antiga de escrita, tanto em documentos como em inscrições. 2. Estudo das antigas formas de escrita, incluindo sua datação, decifração, origem, interpretação. • Bazófia – s.f. (substantivo feminino) 1. Vaidade excessiva e sem fundamento; comportamento afetado; o que chama atenção pela presunção exagerada. 2. Comportamento da pessoa que se finge de valente e corajosa; fanfarrice. 3. Culinária. Ensopado composto de sobras, restos de comida. • Ráfia – s.f. (substantivo feminino) Palmeira nativa de regiões da África e Madagascar de onde se extraem fibras.
Vamos jogar! Em roda, cada estudante vai ter caderno e lápis. A cada rodada, o(a) professor(a) escolhe um cartão e lê apenas a palavra. Propor o significado é a tarefa do jogo. Dê um tempo para que os estudantes pensem e escrevam significados para a palavra em questão. Indique que deverão elaborar um descritivo, como no modelo do dicionário, colocar seu nome no papel e entregar ao professor. O professor lerá as respostas, mas apenas a descrição, sem revelar o nome do jogador. Entre as opções, lerá o cartão com o significado certo.
Por que cada um escolheu aquela resposta? A cada rodada, os estudantes vão perceber que as descrições escritas de forma mais parecida com as do dicionário são as mais votadas e aquelas mais genéricas são sempre as descartadas. Nesse jogo, trabalhamos o vocabulário de uma forma inusitada, fazendo os alunos criarem descrições complexas (muitas vezes sem sentido, o que torna a atividade também muito divertida) para defender o significado escolhido e convencer os demais colegas de que seu descritivo é o correto. Assim, apresentamos o dicionário, quase em desuso devido à facilidade da internet, e mostramos sua utilidade para a produção textual.
Os alunos vão levantar a mão e votar na descrição que acreditam ser a correta. A cada voto, o professor anota um ponto no papel. Depois que todos votarem, o professor deverá revelar para a turma qual a resposta certa. Qual estudante acertou? Que estudante conseguiu enganar os colegas com sua descrição? O professor deve dizer quais estudantes acertaram o significado e, dentre os inventados, qual aluno obteve mais votos.
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uMA ÁRvoRe coM RAÍZes Professor(a), você nasceu em Mato Grosso ou veio de outro lugar? Cidades nos arredores de Sinop são ainda muito jovens, provavelmente estamos na segunda geração de crianças que nasceram nessas bandas. Pergunte aos estudantes sobre suas origens, onde nasceram seus pais, seus avós e se eles também nasceram nessas terras. Depois da conversa, vamos pesquisar as árvores que colorem a região: cajueiro, pequizeiro, figueira, peroba-d'água, pente-de-macaco, jambo, ingá-cipó. Separe imagens, mostre aos estudantes, peça que lembrem quais árvores existem em seus quintais ou suas ruas.
Curiosidades e peculiaridades de cada pessoa também podem ser incluídas na árvore – podem ser os frutos ou as flores. Peça para que os estudantes pesquisem sobre a personalidade de seus familiares, como profissões e lembranças mais marcantes: um avô que fazia uma receita deliciosa, uma tia que era bailarina ou um primo que adorava contar piadas, por exemplo. O objetivo é tornar nossa árvore mais afetiva, aproximando-nos de nossos familiares pela memória dos que ainda estão conosco.
Logo após, vamos propor a criação de uma árvore genealógica: cada estudante deverá desenhar uma árvore, inspirada nas espécies nativas, com todas as partes: raiz, caule, galhos, folhas, flores e frutos. Em cada parte, irá adicionar um círculo, escrever o nome de um familiar e seu respectivo local de nascimento. A atividade pode começar em sala, com as ilustrações em uma cartolina grande, e terminar em casa com ajuda da família. Quanto mais longe chegarmos, mais interessantes as árvores vão ficar: quem foram nossos avós? Bisavós? De onde vieram? Os estudantes vão trazer as informações e completar seus desenhos com nomes, datas e locais.
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uM Museu nA escoLA Os objetos também contam histórias. Alguma roupa, um presente dado por alguém especial ou um brinquedo da infância: tudo isso pode contar muito sobre nós ou sobre um período da nossa vida. Vamos recontar as histórias dos alunos a partir dos objetos trazidos por eles. Peça para a turma trazer para a escola um objeto que ajude a contar um caso ou um momento marcante. Peça para cada aluno dividir com o resto da turma a memória que o objeto traz. Depois das histórias compartilhadas, converse com o grupo e pergunte se alguém já esteve em um museu ou viu museus em filmes. Que tipos de museus existem? O que costumamos encontrar em um museu de arte? E o de Ciência e o de História? E se criássemos um museu da turma? Como seria a curadoria? Como os objetos poderiam ser organizados? Por temas? Por formas? Por cores? Pelas histórias que cada um conta?
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Faça a curadoria da exposição junto com seus alunos, isso irá ajudá-los a exercitar a criatividade, desenvolver o senso crítico e adquirir noções estéticas. Depois de definida a organização, distribua os objetos pela sala, incluindo um cartão ao lado de cada objeto, assim como uma legenda de obra em exposição, contendo o nome da obra e do artista, bem como os materiais que a compõem; no nosso caso, o nome do aluno, do objeto (da obra) e do que ele é feito. O nome do objeto pode ser inventado se seu aluno preferir. Que tal propor uma visita mediada a essa exposição? Um estudante guiará o grupo, apresentando (como em um museu) aquela peça e a história do artista. A cada objeto, um aluno diferente será o responsável por ser o mediador. As informações para essa visita vão ser recebidas no primeiro momento da atividade, mas você, professor(a), não deve revelar logo de início; vamos ver quem consegue relembrar melhor os detalhes contados, captando a atenção do “grupo visitante” do nosso museu.
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esPeLho, esPeLho Meu Em geral, na contracapa de um livro, são incluídos fotos e um pequeno descritivo dos responsáveis por aquele trabalho, comumente autor e ilustrador. O livro “Causos de Bichos e de Gentes – Histórias do Norte de Mato Grosso” é um caso especial, pois foi feito por muitas mãos, a partir da memória de moradores que nos proporcionaram uma viagem diferente pela região. Professor(a), vá até o fim do livro e apresente os entrevistados, seus retratos e os textos que são pequenas biografias de cada um. Numa conversa, explique aos alunos que através de nossas vivências, experiências e características criamos nossa biografia, que também é um retrato de quem nós somos. O retrato é um dos tipos clássicos de pintura, junto com a paisagem e a pintura histórica. O retrato era muito requisitado, principalmente entres monarcas e nobres, e também uma maneira de o artista demonstrar técnica na pintura. Com o advento da fotografia, o retrato pintado foi perdendo espaço para o registro técnico. Apesar disso, muitos retratos, depois da máquina fotográfica, ganharam novas cores e formas; era possível brincar e ousar mais na pintura, visto que o registro fiel à realidade já podia ser feito com uma máquina, não mais com a habilidade do artista. Dentro do universo do retrato, há o autorretrato, por meio do qual os artistas se autorrepresentam. Pesquise na internet os autorretratos de Picasso, Rembrandt, Tarsila do Amaral, Andy Warhol, Van Gogh, Frida Kahlo, Salvador Dalí e Escher. Hoje o autorretrato pode ser chamado de self.
Como eu me vejo? Que características quero evidenciar e quais quero esconder? O que da minha personalidade posso trazer para o autorretrato? E como eu vejo o outro? Instigue o grupo com esses questionamentos. Agora separe a turma em duplas e peça para os alunos retratarem os colegas e vice-versa. Faça um grande varal na sala com um barbante e pendure folhas de acetato mais ou menos na altura dos alunos. Peça para as duplas se posicionarem na frente do acetato e tentarem encaixar o rosto nos limites da folha. Um aluno deverá tentar desenhar a face do colega no acetato, com seus contornos e detalhes. Feito isso, hora de trocar. Quem desenhava vira modelo. Quem era modelo vira desenhista. Coloque uma nova folha de acetato para que o novo retrato seja feito. Para finalizar, converse com a turma sobre como foi essa experiência. Pergunte o que os alunos perceberam ou se descobriram algo novo sobre sua aparência ou sobre sua personalidade.
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E assim, professor(a), terminamos a nossa viagem, mas a sua está só começando! Este caderno trouxe ideias para que sua prática diária explore diversas linguagens da arte, propondo novas conexões, experimentações e pensamentos para seus estudantes. Incentive a turma a continuar o trabalho: no resgate à memória e ao patrimônio, observando o que nos cerca de forma ativa, bem como recolhendo e contando nossas histórias hoje, deixamos nossas impressões e colaboramos com a sociedade em que vivemos, valorizando nossa cultura para as próximas gerações.
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CADERNO DO PROFESSOR Redação Daniela Chindler Flávia Rocha Colaboração Adriana Xerez Revisão Marcela Lima Projeto Gráfico Gabriel Victal Ilustração Bruna Assis
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