CCBB Educativo - Lugares de Culturas | Primeiro de Março, 66 - Um prédio que conta histórias

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PRIMEIRO DE MARçO,66

Um prédio que conta histórias

Capa:

Projeto de ampliação, c.1933

Estudo para acréscimo de um pavimento ao prédio original. Projeto de Gusmão, Dourado & Baldassini Ltda.

Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil

BR RJANRIO Z9.0.MAP. 152 [1913]

O documento Z9.0.MAP. 152 mostra a localização e o perímetro do imóvel nos primeiros anos do século passado. Arquivo Nacional

Associação Comercial

Casa França-Brasil

Boulevard Olímpico

Largo da Candelária

Igreja da Candelária

Paço Imperial

Convento de São Bento

BEM-VINDOS!

O PRÉDIO QUE FICA NO NÚMERO 66 DA

RUA PRIMEIRO DE MARÇO ABRIGA O

CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL

RIO DE JANEIRO, INAUGURADO EM 1989.

A HISTÓRIA DESSA CONSTRUÇÃO

REMONTA CERCA DE 120 ANOS.

“VOU

DE TáXI” E DE BONDE, CARRO DE APLICATIVO, A Pé…

SE HOJE TEMOS A POSSIBILIDADE DE NOS LOCOMOVER PELA CIDADE E ARREDORES DE ÔNIBUS, METRÔ, TREM, VLT, BRT, TÁXI, CARRO DE APLICATIVO OU PARTICULAR, BARCA E BICICLETA, ESSA REALIDADE ERA MUITO DIFERENTE ALGUNS ANOS ATRÁS.

Os modos de transitar pelas ruas do entorno de onde estamos variaram muito desde que esse prédio recebeu seus primeiros frequentadores. No início do século passado, em cada esquina da cidade, via-se um cavalo. Viam puxando carroças abertas ou fechadas (cabriolés),ou ainda gôndolas (uma espécie de ônibus pequeno, de dois andares, movido à tração animal). Também não faltavam os tílburis (táxi para apenas um passageiro, movido pela força de um cavalo comandado por um condutor) e bondes puxados a burro.

Pouco a pouco os animais foram sumindo do bairro; e passaram a circular os bondes elétricos. No começo do século XX, chegaram os automóveis movidos a vapor ou eletricidade, que davam a partida girando uma manivela. O jornal Gazeta de notícias publicou o primeiro acidente de trânsito ocorrido na cidade, que tinha por proprietário do veículo o escritor e jornalista José do Patrocínio, e, como condutor, o também homem de letras, Olavo Bilac. O automóvel chegara à espetacular velocidade de 3km/h, quando bateu em uma árvore. A resenha é de João do Rio: “O primeiro (carro), de Patrocínio, foi motivo de escandalosa atenção. Gente de guarda-chuva debaixo do braço parava estarrecida, como se tivesse visto um bicho de Marte ou um aparelho de morte imediata.”

A RUA DIREITA

Aberta no século XVI, a rua Direita foi considerada a primeira via do Rio de Janeiro e fazia uma ligação direta, em linha reta, entre o morro de São Bento e o morro do Castelo, que delimitavam a povoação da cidade àquela altura.

Com a transferência da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, a paisagem do Centro e de bairros vizinhos viria a ser bastante alterada. As portas das melhores casas da cidade ganharam as iniciais PR, indicando que ali passaria a ser propriedade do príncipe regente d. João VI. No vocábulo popular, a sigla se transformou em PR: "ponha-se na rua" ou "prédio roubado", uma vez que os proprietários deveriam deixar suas casas — com tudo dentro — para que a nobreza que chegava de Portugal fugindo de Napoleão as ocupasse. Foi assim que no início do século XIX a rua Direita ganhou pompas de realeza.

Rua Direita, litografia de G. Endelmann, segundo desenho de autor anônimo. Ao centro, com a guarita da sentinela, a Casa dos Contos, que era, então, a sede do Banco do Brasil. Ao fundo, o Mosteiro de São Bento, por volta de 1820. Acervo Arquivo

Banco

Brasil

O Paço, que foi construído para ser residência dos governadores, se transformou em Paço dos vice-reis quando o Rio se tornou capital. Em 1808, com a chegada da Família Real, o prédio, na Praça XV, passou a ser a residência oficial e o centro de poder do reinado, o Paço Real, e do Império, o Paço Imperial, dando nova importância à região junto com a Capela Imperial (atual Igreja de Nossa Senhora do Carmo da antiga Sé) e a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, que foram erguidas no período.

Surgidas com a instalação da Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia, em 1808, foram estabelecidas boticas (farmácias) na rua Direita. Foi em uma dessas boticas, que Machado de Assis, no romance Quincas Borba, socorre a avó do personagem que havia sido atropelada por uma mula ao tropeçar na rua. A botica Granado Pharmácias foi inaugurada na segunda metade do século XIX (1870), mas sobrevive até os dias de hoje, vizinha ao CCBB Rio de Janeiro. Em 1824, a rua Direita ganha outra novidade: a numeração de seus imóveis, como já acontecia em Paris; os prédios deixam de ser conhecidos pelo nome de seus proprietários mais famosos ou abastados. Nessa época, a rua presenciou os primeiros congestionamentos de carruagens, tílburis e carroças, o que obrigou a aplicação de um sistema de mão e contramão.

Em 1835 foi inaugurado o comércio de gelo e sorvetes. A confeitaria Carceller teve seu auge na segunda metade do século. Quem vinha pela rua Direita ficava com água na boca com seus pastéis, bolinhos e os famosos sorvetes. Na calçada, quando os ônibus e carros não passavam rente aos pedestres, como nos dias de hoje, davam-se conversas animadas nas mesas e cadeiras colocadas do lado de fora, costume dos bulevares parisienses. Segundo Heitor Lyra, biógrafo de d. Pedro II, o imperador “tinha o costume, depois de visitar as igrejas na quinta-feira santa, de ir à Carceller para tomar sorvetes, ali afamados. Estes eram servidos em forma de pirâmide, nuns pequenos cálices, e custava, cada um, 320 réis”. Em 1875, a rua Direita foi rebatizada com o nome de Primeiro de Março, em lembrança ao dia da vitória na Guerra do Paraguai.

VIZINHOS

IGREJA DA CANDELÁRIA

A tempestade em alto-mar não foi capaz de diminuir a fé do casal espanhol

Antônio Martins de Palma e sua esposa, Leonor Gonçalves. Pediram a intervenção de Nossa Senhora da Candelária para que pudessem ultrapassar todos os perigos e chegar em terra firme sãos e salvos. Prometeram construir uma capela em homenagem a Nossa Senhora, assim que aportassem em local seguro. E foi o que aconteceu.

A capela recebeu o nome de Igreja da Várzea. Um dos maiores templos da cidade nasceu como ex-voto, que é um presente ou uma retribuição dada pelo fiel ao seu santo de devoção por uma graça alcançada, por superar uma doença ou perigo. O termo é a abreviação latina de ex-voto suscepto ("o voto realizado"). O fato milagroso está representado no interior da igreja, na pintura executada por João Zeferino da Costa. Em 1775, foi autorizada a construção de um grandioso templo em estilo barroco: a atual Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no mesmo lugar onde a capela da promessa foi erguida.

CASA FRANÇA-BRASIL

Sua construção foi encomendada em 1819 por D. João VI para ser a Praça do Comércio do Rio de Janeiro. A obra foi inaugurada em 13 de maio do ano seguinte, no dia do aniversário do monarca. Projetada pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny, apresentou o primeiro prédio com estilo neoclássico da cidade, aproximando a capital da colônia das tendências estéticas das construções europeias. Quatro anos depois, quando o Brasil já era um país independente de Portugal, o imperador d. Pedro I transformou o edifício na primeira sede da Alfândega e manteve esse uso até 1944, quando as funções comerciais do porto do Rio já haviam se deslocado para a região do Caju. Depois, passou a ser utilizado como II Tribunal do Júri. Em 1990 tornou-se um espaço cultural: a Casa França-Brasil.

PONTO DE PARTIDA:

A FACHADA

ERGUIDO PARA SER A TERCEIRA SEDE

DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO RIO DE JANEIRO, ESSE PRÉDIO FOI

PROJETADO PELO ARQUITETO DA CASA

IMPERIAL FRANCISCO JOAQUIM

BETHENCOURT DA SILVA E TEVE SUA

PEDRA FUNDAMENTAL LANÇADA EM

1880 E FOI CONCLUÍDO EM 1906.

O arquiteto buscou inspirações em prédios da Renascença, para obter a aparência monumental. Seu estilo é eclético, combinando diversos estilos históricos em uma mesma construção. Se olharmos para a fachada, vamos encontrar muitas referências ao neoclássico, um movimento que se inspirava no modelo de equilíbrio, ordem e clareza da arte greco-romana: características ideais para a sede de uma associação comercial e, depois, de um banco, instituições que precisavam passar a sensação de seriedade, austeridade e organização aos seus colaboradores e clientes. Fachadas com composições simétricas, embasamento de granito liso, cores sóbrias. Colunas que remetiam à grandiosidade de civilizações da Antiguidade Clássica e imagens de divindades eram referências perfeitas para esse objetivo.

Além da Associação Comercial do Rio de Janeiro, funcionavam também no local escritórios comerciais e aduaneiros e, na rotunda, os pregões da Bolsa de Fundos Públicos.

AS REFORMAS

Só em 1926, após as reformas, o prédio se torna a 4ª sede do Banco do Brasil e, para isso, teve de ser adaptado para atender as necessidades desse novo uso. Em 1934, passou por outra reforma, desta vez para acrescentar três andares. Além disso, teve a fachada térrea revestida com mármore escuro e a retirada das colunas e esculturas da parte externa. Por fim, em 1939, foi construído um restaurante no terraço, espaço que, mais tarde, se transformaria no sexto andar.

A sede do Banco do Brasil permaneceu nesse endereço até 1960, quando foi transferida para Brasília, a nova capital do país. O prédio seguiu como agência bancária até o final da década de 1980, quando em 12 de outubro de 1989 foi transformado em centro cultural. Nascia, então, o primeiro CCBB: o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro.

CARIáTIDES

Na fachada original do prédio, estavam quatro cariátides, colunas em forma de mulheres, representadas da cintura para cima. Na Grécia Antiga, essas colunas eram usadas em templos, como o templo consagrado a Atena e Poseidon. Infelizmente, as cariátides que ficavam acima da porta da rua Primeiro de Março não podem mais ser vistas porque foram removidas nas reformas pelas quais o prédio passou no início do século XX.

O nome “cariátides” teria sido originário das jovens da região de Cária (onde hoje é Anatólia, na Turquia). Existem diversas versões do mito; uma delas conta que o rei Cário, para proteger a cidade, sacrificou suas filhas em nome da deusa Atena. Em gratidão pelo sacrifício, as jovens foram transformadas em cariátides, passando a sustentar os templos que honravam a deusa. As cariátides, na arquitetura, são a versão feminina de Atlas, também chamado Atlante, um dos titãs condenados por Zeus a sustentar os céus por toda eternidade. O castigo foi dado, pois o titã havia participado da guerra contra os deuses do Olimpo. Um divertido exercício é buscar em outros prédios do Centro cariátides e atlantes. Já damos aqui as dicas: eles podem ser vistos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no Museu Nacional de Belas Artes e no Edifício Docas de Santos (atual sede da superintendência do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

A cúpula original, em 1926, ficava na altura do segundo andar. Era revestida por placas de vidro e possuía, no centro, uma grande luminária em bronze Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil

A ART NOUVEAU

Nas janelas externas do prédio, vemos curvas e desenhos florais típicos da art nouveau (ou arte nova), um estilo decorativo urbano, para o qual artistas e arquitetos buscavam na natureza o seu repertório de formas. As criações em art nouveau estão ligadas à chamada “arquitetura de ferro e vidro”, que explode a partir da metade do século XIX, quando a industrialização se torna uma nova ordem mundial e esses materiais passam a ser produzidos em larga escala. A possibilidade de fundir o ferro vai aliar a sua durabilidade a uma leveza de formas –diferente da “arquitetura de pedra”.

A ART DECó

ART NOUVEAU ART DéCO

Art Déco é abreviação de artes decorativas. Deriva do art nouveau, mesclando influências de movimentos artísticos como o cubismo, a abstração geométrica, o construtivismo e o futurismo. Busca elegância a partir do uso de formas e ornamentos geométricos. O lustre do foyer próximo à bilheteria, a porta de entrada da rua e os elevadores representam o estilo.

O CCBB RJ possui uma área construída de 19.243 metros quadrados. Isso significa que, se colocássemos todos os andares um ao lado do outro, a construção ocuparia mais ou menos dois campos de futebol e meio dedicados à cultura. São três teatros; dois cinemas; dois auditórios; duas galerias de exposições; a Biblioteca, o Arquivo Histórico e o Museu Banco do Brasil, o CCBB Educativo, além do Espaço Conceito e serviços de alimentação e livraria. Os números de visitação também impressionam: o CCBB RJ está na lista dos 100 museus com maior público do mundo, sendo o único brasileiro, segundo a publicação The Art Newspaper, que realiza pesquisas sobre o assunto.

O TAMANHO

URâNIA E A COLUNA DE AR

Conta o mito que as nove musas são filhas de Mnemósine (a memória) e Zeus (o poder). Cada uma das musas tem um nome e um atributo: Calíope é atribuída à Poesia Heróica; Érato, à Poesia lírica; Clio, à História; Euterpe, à Música; Terpsicore, à Dança; Melpomene, à Tragédia; Talia, à Comédia; Polymnia, à Retórica e, por fim, Urânia, à Astronomia. A lenda diz ainda que as musas habitam um templo chamado Mouseión. O Templo das Musas é a origem da palavra museu espaço onde habita o conhecimento, a arte, as culturas as palavras cantadas. Mas como as nove musas estariam representadas na rotunda? Uma leitura possível seria: feita nas colunas. A rotunda é o lugar de encontro do CCBB, e em seu perímetro há oito colunas dispostas em círculo. Mas, ao observar o chão, bem no centro, há uma marcação circular em mármore avermelhado. Ali está o espectro da nona coluna: uma coluna de ar que se forma desde o topo da cúpula até o chão. Quando nos posicionamos neste ponto e falamos algo, sentimos o som de nossa voz retornar até nossos ouvidos. E, deste mesmo ponto, quando olhamos para cima e encaramos o céu através da cúpula, percebemos o atributo de Urânia, a Astronomia.

HERMES

As cariátides já não podem mais ser vistas na fachada, mas um deus grego está representado em outros espaços no interior do prédio. Essa divindade é Hermes, e seu nome significa intérprete ou mensageiro. O nome latino utilizado na cultura romana, Mercúrio, vem da palavra Merces, mercadoria. É o deus da eloquência e da arte de bem falar. Ele é também o deus dos negociantes, do comércio, da riqueza e da diplomacia. Hermes participava de todos os negócios, como ministro ou servidor. Ocupava-se da paz e da guerra, das encrencas e dos amores dos deuses, dos interesses gerais do mundo, no céu, na terra e no mundo inferior. Mercúrio é geralmente representado com uma bolsa na mão. Em alguns monumentos, traz também um ramo de oliveira e uma clava, símbolos de paz, da força e da virtude, atributos úteis ao comércio. O deus, muitas vezes, aparece com asas no seu elmo, em seus pés ou sandálias, para mostrar a ligeireza de seu andar e a rapidez com que executa as ordens. Além da sua ligação com o comércio e as negociações, Hermes também é o deus das viagens – depois de longas jornadas, os viajantes costumavam homenageá-lo com sandálias ou esculturas de pés alados.

HERMES E O CADUCEU

Na entrada do CCBB RJ, há o caduceu de Hermes (Mercúrio), uma espécie de bastão ou cajado de ouro, com duas asas na parte superior e envolvido por duas serpentes – que foi presente de seu tio Apolo. Conta o mito que no caduceu estão enroladas duas cobras que brigavam e, ao notar a briga, Hermes, como deus da diplomacia, se pôs como mediador, apaziguou o conflito; e, assim, as serpentes permaneceram entrelaçadas. Quantos caduceus podem ser vistos na rotunda?

JOGO DO OLHAR

O PRÉDIO DO CCBB TEM SEIS ELEVADORES,

SENDO QUATRO

DELES

DESTINADOS AO USO DOS VISITANTES, E DOIS VOLTADOS PARA O TRANSPORTE DE FUNCIONÁRIOS

E CARGAS. MAS NEM SEMPRE FOI ASSIM.

Os elevadores foram instalados na reforma de adaptação do prédio da Associação Comercial para o Banco do Brasil, obras que tiveram início em 1923 e foram finalizadas em 1926. Os dois elevadores sociais, que vão até o 5º andar, e os dois destinados ao uso interno, foram instalados pela empresa F. R. Moreira e Cia., conforme correspondência de 1926 e nota de serviço das portas pantográficas, que estão documentadas no Arquivo Histórico do CCBB. Já os dois elevadores sociais, que vão até o 6º andar, foram instalados nas obras de acréscimo do 3º, 4º e 5º andares, que tiveram início em 1934, para atender ao crescimento do banco.

Por serem elevadores pantográficos –com portas de grades diagonais, que se abrem e fecham totalmente, e oferecem mais segurança –, necessitam do auxílio manual dos ascensoristas.

Os elevadores passaram por reformas nas portas externas, mas mantiveram o charme dos tempos passados com seus espelhos de cristal e luminárias.

Elevadores sociais, 1926

Elevadores da marca Stigler, instalados pela empresa F.R. Moreira & Cia, responsável pelas obras de adaptação do prédio.

Portas pantográficas elaboradas pela empresa Middletown Car Company

Brasil.

A ROTUNDA

Rotunda é o nome que se dá a uma construção circular coberta por uma cúpula. Em outros tempos, a área da rotunda serviu como espaço de negociações dos pregões da Bolsa de Fundos Públicos, quando aqui era a sede da Associação Comercial. Podemos fechar os olhos e imaginar este lugar nas primeiras décadas de 1900, onde homens, muitos de chapéu e todos de terno, disputavam aos gritos valores e títulos. O balcão e as salas onde hoje estão as galerias do segundo andar ficavam sobre o salão da Bolsa de Valores e o espaço era ocupado por pequenas lojas e escritórios. No período em que o prédio abrigou a Agência Centro Rio de Janeiro, a rotunda era ocupada pelos balcões de atendimento. E, nos últimos 35 anos, recebeu espetáculos, shows e instalações.

As colunas, que eram comuns em templos, prédios públicos e residências greco-romanas, são características do Neoclássico e foram mantidas mesmo depois das reformas pelas quais o prédio passou. As colunas desse estilo são divididas em capitel, do latim capitellum (diminutivo de caput - cabeça, extremidade), fuste (corpo) e a base. Pela opção da austeridade, os capitéis são compostos por volutas (do latim, volutos, que significa "encurvado”) e folhas de acanto (plantas utilizadas em capitéis, tumbas e roupas).

Como sinônimo de riqueza e status, o mármore também é muito presente em toda a extensão do prédio, tendo sido encomendado do exterior. A altura do pé direito do edifício denota todo o poder de uma instituição, que influi na circulação de ar e na iluminação. Uma curiosidade é que a cúpula da rotunda não pode ser vista pelo lado de fora do prédio. A claraboia da rotunda está no centro da edificação na altura do teto do quarto andar. A luz do dia entra pela claraboia, e, da rotunda, avistamos o céu.

Balcões de Atendimento na Rotunda - 1926
Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil

MUSEU BB

O Museu Banco do Brasil foi criado em 1955 e incorporado ao Centro Cultural em 1989. A maior coleção do Museu BB é a de numismática, do grego nomisma, que significa moeda. A coleção de numismática do Museu BB teve suas primeiras aquisições ainda em 1936 e é formada por cerca de 38 mil peças, incluindo exemplares da Antiguidade Clássica, a primeira moeda cunhada no Brasil, mas também outros impressos de valores, como notas promissórias e títulos públicos. Essa coleção é uma das mais importantes do país e uma referência entre estudiosos e colecionadores. Hoje, o Museu BB fica no 4º andar e oferece duas exposições.

ONDE ESTá O COFRE?

Ainda na exposição O Banco do Brasil e sua história, do Museu BB, está montada a Sala do Secretário. Esse espaço reúne mobiliário da década de 1920 forrado com tecido com temas botânicos. Na parede do fundo há um longo cortinado de veludo verde: de um lado há um gaveteiro e do outro um pequeno armário em estilo neomanuelino. Aos nossos olhos eles parecem peças de madeira, mas são móveis feitos em metal. A pintura imitando madeira é uma artimanha para proteger o conteúdo que guardavam: ali estão dois cofres!

O BANCO DO BRASIL E SUA HISTóRIA

A exposição de longa permanência é composta por objetos museológicos e itens arquivísticos. São sete salas que, por meio de arte, mobiliários, tapeçarias, maquinários contábeis e outros itens, contam a história do banco, mas também dos valores, da estética e dos comportamentos de outros tempos. Neste espaço, estão preservados e remontados, por exemplo, os balcões de atendimento aos clientes – que ocupavam a rotunda, quando o uso do prédio do CCBB RJ ainda era para fins bancários – , o gabinete ocupado pelos dirigentes da instituição e uma sala de reuniões que conserva o mobiliário original, com uma grande mesa de madeira cercada por 18 cadeiras, onde aconteciam as reuniões com os investidores. Atrás da cabeceira da mesa e sob um denso cortinado, há uma janela com vista para a baía da Guanabara.

E AO LADO DIREITO DA JANELA, HÁ UMA

PASSAGEM SECRETA QUE, EM OUTROS TEMPOS, ERA USADA PELO PRESIDENTE DO BANCO. QUE TAL PROCURAR?

DO SAL AO DIGITAL

Do sal ao digital: o dinheiro na coleção Banco do Brasil apresenta mais de 800 moedas e cédulas do acervo numismático do Banco do Brasil. Através de objetos, mapas e da arte contemporânea, conta a história dos valores e da relação social e simbólica com o dinheiro. O próprio nome da exposição dá a dica: antes do dinheiro, a troca de bens e serviços se dava por itens de valor, como o sal, de onde veio a palavra "salário". Neste caminhar pelos tempos, chegamos ao dias atuais, com uma relação virtual com o dinheiro. Se antes – e há poucos anos – usávamos moedas e cédulas para comprar e negociar, hoje temos conosco cartões ou nossos smartphones, meio pelo qual transferimos, investimos e realizamos compras por PIX. A expografia foi pensada para uma maior interação dos públicos com a coleção, que, além de alto valor histórico, é impossível de precificar.

Criada em 1931, no prédio da rua Primeiro de Março, onde hoje é o CCBB RJ, a biblioteca do Banco do Brasil era composta, em sua maior parte, por livros técnicos relacionados à área bancária.

COM A ABERTURA DO CCBB RIO DE JANEIRO, A BIBLIOTECA MUDOU SEU FOCO: PASSOU

A SER REFERÊNCIA NAS CONSULTAS EM ARTE, LITERATURA E CIÊNCIAS SOCIAIS, DISPONDO, AINDA, DE UMA COLORIDA SALA DE LEITURA INFANTOJUVENIL.

ARQUIVO

HISTóRICO DO BANCO DO BRASIL

É nos arquivos que documentos textuais, certidões, fotografias, plantas arquitetônicas, mapas, cartazes e outras tipologias de suportes de informações são conservados e preservados, visando manter os materiais íntegros para que todos possam acessá-los. O Arquivo Histórico do Banco do Brasil foi criado em 1955, com o objetivo de preservar os documentos que contam sua trajetória; e guarda, por exemplo, o exemplar mais antigo desse acervo: o Alvará de Criação do Banco, publicado pela Imprensa Régia em 1808 e assinado pelo príncipe regente, D. João VI. Já a Memória CCBB é voltada à documentação do Centro Cultural Banco do Brasil, desde a sua inauguração.

EXPOSIçõES

No ano em que o CCBB Rio de Janeiro foi inaugurado, comemorava-se o 150º aniversário de Machado de Assis (1839-1908). Por essa razão, as primeiras exposições que as galerias receberam foram: Machado de Assis - Tempo e Memória e Pintores estrangeiros no Rio de Janeiro no século XIX Nestes 35 anos de atuação, o CCBB RJ acolheu mais de uma centena de exposições em suas galerias no 1º e 2º andares, com os mais variados temas: Artistas brasileiros e internacionais, contemporâneos e de outros tempos, assuntos históricos, fotografias, música e cinema: a cada três meses, os espaços expositivos trazem uma nova surpresa. Curiosidade: Dois cofres remanescentes dos tempos de banco são utilizados na galeria como pequenas salas anexas em que se pode experimentar obras em foco e projeções.

CCBB EDUCATIVO

O CCBB Educativo é um programa continuado de arte e cultura criado para aproximar os públicos das exposições em cartaz. Em 2024, o Lugares de Culturas apresenta um programa democrático, estabelecendo, no encontro entre arte-educador e público, uma experiência de reflexão e emoção através da mediação cultural. Nas salas do primeiro andar, no térreo ou nas galerias de exposições, o projeto apresenta uma programação totalmente gratuita, que conta com visitas mediadas, contação de histórias, mediação de leitura, atividades práticas e muito mais, sendo todas elas acessíveis e desempenhadas por mediadores capacitados a acolher as diversidades dos públicos.

CCBB Educativo Lugares de Culturas

Coordenação Geral: Daniela Chindler

Coordenação Pedagógica: Alexandre Diniz

Coordenação de Projetos: Mariana Rigoli

Coordenadora de Produção: Nathalia Pereira

Assistentes de Produção: Aleph Archanjo e Jade Bastos

Assistente de Mídias Sociais: Amanda Mello

Estagiário de Produção: Gabriel Rodrigues

Educadores: Ana Catharina Braga, Carlos Eduardo Cassiano, Davi Vasconcelos, Ruana Carla Andrade, Rodrigo Lauriano e Valentina Ramos

Estagiários: Amanda Nolasco, Barbara Barbosa, Caroline Costa, Emiliano Fischer, Ericka Devillart, Gabriela Schiavo, Gabriele Silva, Gabriel Floriano, Itamar Goldwaser, João Victor Sacramento, Manuella Villas, Maria Antônia Ibraim, Marianna Bilotta, Melissa Anselmo, Natan Vitor de Souza, Paulo Martins, Philipe Baldissara, Raphael Rodrigues e Tupana Oliveira

Coordenação de Prestação de Contas: Isabella Moulin

Apoio Administrativo: Analice Teixeira

Recursos Humanos: Débora Pires

Financeiro: Hugo Nascimento

Contracapa: Fachada CCBB RJ - 2006

Acer vo Arquivo Histórico do Banco do Brasil

Foto: Amanda Mello

CCBB Rio de Janeiro

Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro - RJ Informações: (21) 3808 2020 | ccbbrio@bb.com.br

Horário de funcionamento: Quarta a segunda: 9h às 20h

Terça: Fechado

Entrada gratuita

Agendamento de grupos: agendamento.rj@programaccbbeducativo.com.br

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Central de Atendimento BB: 4004-0001 ou 0800-729-0001

SAC: 0800-729-0722

Deficiente Auditivo ou de Fala: 0800-729-0088

www.bb.com.br/cultura

Primeiro de Março,66

Um prédio que conta histórias

Pesquisa e Redação: Daniela Chindler e Mariana Rigoli

Colaboração: Alexandre Diniz

Revisão: Sol Mendonça

Design: Giovanna Cima

Realização

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