COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO EM SAÚDE. ESTRATÉGIAS, AÇÕES E DESAFIOS DURANTE O ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19 Grupo de Trabalho sobre Acessibilidade do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz* Desde que a COVID-19 foi caracterizada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) tornou-se evidente a importância de ações de comunicação e informação, como questões centrais na estratégia de prevenção da doença (OPAS, 2020). Fatores como o ineditismo da doença, a rapidez de sua propagação e os crescentes números de hospitalizações e mortes geram uma enxurrada de informações sobre pesquisas clínicas e epidemiológicas (HESSEN, 2020). Ainda são muitas as perguntas sem respostas, não obstante, a informação é matéria prima básica na construção dos pilares para uma gestão eficiente da pandemia: ciência, tecnologia e inovação, integração e análise de dados, testagem em massa, capacidade de tratamento intensivo e distanciamento e isolamento social. Desta forma, torna-se imperativo o foco na captação de dados que propiciem a geração de informação e conhecimento de forma íntegra, transparente e acessível, tendo em vista o enfrentamento da pandemia (TRINDADE, 2020). Em todo o mundo, os principais editores científicos comerciais liberaram acesso gratuito aos seus conteúdos, além de criarem páginas com informações atualizadas e específicas sobre SARS-CoV-2 (o novo coronavirus) e COVID-19 (a doença) tendo como objetivo apoiar as autoridades de saúde pública, pesquisadores e clínicos a conter a propagação e minimizar os impactos da doença (CCS/CAPES, 2020). No Brasil, diversas revistas científicas de acesso aberto modificaram seus processos de revisão por pares visando acelerar a disseminação dos resultados de pesquisas para a comunidade (FLAESCHEN; DIAS, 2020). No entanto, todas essas iniciativas que buscam acelerar a produção de informações apresentam inúmeros desafios a serem superados. Questões como: transparência das informações, notícias falsas, acessibilidade comunicacional e acessibilidade web são
obstáculos que influem diretamente na confiabilidade das informações apresentadas. Em todo o mundo, pesquisadores e instituições se depararam com a retratação de um artigo publicado pela revista científica The Lancet, treze dias após sua publicação em 22 de maio de 2020. O artigo afirmava ter realizado um estudo multinacional sobre o uso da Hidroxicloroquina ou cloroquina para tratamento de 96.032 pacientes com COVID-19 em seis continentes. Porém, em 5 de junho o artigo foi cancelado devido a falta de acesso as fontes primárias que sustentam a validade do estudo (THE LANCET EDITORS, 2020, MEHRA et. al., , 2020). Fatos como esses disparam um sinal de alerta na comunidade cientifica sobre a necessidade em se garantir a integridade e transparência das informações sobre a pandemia. A OMS, juntamente com outras instituições parceiras, vem desenvolvendo, desde março de 2020, o ensaio clínico internacional denominado Estudo Solidariedade, que utiliza a cloroquina ou hidroxicloroquina como uma das opções de tratamento da COVID-19. Entretanto, em 23 de maio de 2020 este mesmo grupo decidiu implementar uma pausa temporária no estudo com a hidroxicloroquina devido a preocupações levantadas sobre a segurança do medicamento. Mas logo em seguida, em 3 de junho, a OMS informou que revisou seus dados de mortalidade disponíveis e não encontrou motivos plausíveis para modificar o protocolo do estudo (OPAS2, 2020). O Brasil até a primeira quinzena de junho de 2020 contabilizava cerca de 44.000 óbitos acumulados. No dia 05 de junho o Ministério da Saúde (MS) alterou a forma de divulgação dos números de casos confirmados e de mortes em decorrência da COVID-19, passando a disponibilizar somente o total de casos confirmados e obtidos diários (BRASIL, 2020, SBI, 2020). A mudança na forma de apresentação dos dados motivou a publicação de uma nota de repúdio por parte da Sociedade Brasileira de Infectologia. Essa mudança na metodologia de contagem e apresentação dos números levou o Ministério Público Federal a instaurar um procedimento para apurar os motivos que levaram a exclusão dos números acumulados de casos confirmados e mortes e do Painel de Informações da COVID-19 (MPF, 2020). Após decisão liminar do Supremo Tribunal Federal, o MS retomou a divulgação diária dos dados, conforme realizado até o último dia 04 de junho (STF, 2020).
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