Diálogos sobre acessibilidade, inclusão e distanciamento social

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O QUE A UNIVERSIDADE APRENDE E ENSINA COM AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA DURANTE A PANDEMIA Marcia Moraes e Camila Araújo Alves* A chamada para a escrita desse texto nos convidava a dizer algo sobre “O que a universidade aprende e ensina acerca da deficiência com a pandemia”. Aceitamos com entusiasmo o convite para a escrita, dada a relevância do tema. No momento da pandemia as pessoas com deficiência seguem na luta, com pautas acerca da inclusão, da acessibilidade, entre outras – que não são recentes. Tais pautas dizem respeito ao ativismo por uma justiça pela deficiência, expressão que Mia Mingus (2011, 2018) utiliza para sinalizar a centralidade da deficiência na promoção de um mundo acessível, mais justo. Propor uma comunidade mais justa é pautar a acessibilidade como tema central. Percebemos que havia no título da chamada para o artigo algo que precisava ser por nós reposicionado. Esse algo era a locução prepositiva “acerca de”, cujo sentido é “sobre”. Notamos que poderíamos reescrever o título do trabalho lançando mão dessa sinonímia: “o que a universidade aprende e ensina ‘sobre’ a deficiência com a pandemia”. Esta sentença, porém, não cabe em nossos modos de pensar e lutar. Dizer que a universidade aprende e ensina alguma coisa “acerca da” deficiência guarda um sentido que temos questionado por ser uma ação “sobre” a deficiência e não “com” as pessoas com deficiência. O fazer COM e não SOBRE a deficiência é uma direção ética na qual nos engajamos (Moraes, 2010; Alves, 2016). As pessoas com deficiência são experts no que diz respeito ao que lhes cabe como direito. Se, mundo afora, as pessoas com deficiência lutam por acesso e por direitos há tantos anos , não é durante a pandemia que deixarão de fazê-lo. Aliás, o descanso da luta é um privilégio do qual nós, pessoas com deficiência, não temos como desfrutar. Desde o início da pandemia, nós, pessoas com deficiência, temos que adaptar nossos modos de vida para plataformas virtuais nada acessíveis, passando de um mundo fisicamente inacessível para um

mundo virtualmente inacessível. São inúmeras as informações publicadas dia a dia, com imagens sem descrição, áudios sem legendas e sem intérpretes de libras, linguagens de difícil entendimento. Somos violentamente comunicadas de nosso isolamento a cada minuto dos dias. Os apagamentos históricos dos corpos diversos, em prol de uma normalidade opressora – branca e capacitista - seguem insistindo durante a pandemia. O que dizer do “novo normal”? A referida expressão tem sido utilizada para indicar novos comportamentos que precisaremos adotar para nos protegermos da contaminação pelo vírus. Juntar novo e normal é uma contradição, não há nada de novo na ideia de normal. Não, a máscara opaca e branca na boca não é o nosso novo-normal-universal, há pessoas que precisam ver nossas expressões faciais para se comunicarem conosco. Não, o toque não é o sentido a ser escorraçado, porque há pessoas que se orientam na vida pelo tato, como as pessoas cegas ou com baixa visão. Não responsabilizem nossos corpos deficientes e nossas existências por riscos que corremos justo pela ausência de medidas que nos considerem. A direção dada por autoridades civis, científicas e de saúde sobre os procedimentos individuais de cuidados e de higiene não nos atende porque supõe, falsamente, que cada um de nós é capaz de viver fora de uma relação interdependente. As direções sobre um retorno às atividades ou sobre os cuidados em condição de isolamento social não funcionam porque não consideram os corpos deficientes, não consideram nossas formas de vida. A concepção neoliberal de corpo capaz e produtivo é capacitista ao marginalizar os corpos que não alcançam a produtividade esperada, como se fossem eles, por si sós, incapazes. É o cenário social, ordenado por tal concepção de corpo capaz, que marginaliza e exclui outros corpos. Precisamos aprender que tecer comunidades diversas e heterogêneas é a radical afirmação de que somos interdependentes: dependemos uns dos outros, das coisas, dos vírus, das bengalas, das tecnologias. O que nos constitui são vínculos de dependência. Fortalecer tais vínculos,

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