Diálogos sobre acessibilidade, inclusão e distanciamento social

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DE QUE TERRITÓRIOS EXISTENCIAIS ESTAMOS FALANDO? Annibal Coelho de Amorim* Acredito que o momento de distanciamento social que vivemos em virtude da Pandemia da Covid-19 pode nos aproximar uns dos outros – por mais estranho que essa afirmação possa parecer –, motivo pelo qual o estímulo do IdeiaSUS/Fiocruz, em parceria com o Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão, o DIHS – Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – e a Universidade Federal de Goiás, chega quando percorremos nossos próprios territórios vivenciais. Diante dos relatos de quanto sofrimento esse distanciamento social tem causado (aos amigos, familiares, colegas de trabalho), o que me ocorre é interrogar como se sentiram pessoas com deficiência, que em momentos históricos, vivenciaram diferentes formas de distanciamento (físico, psicológico, sociocultural, político e existencial-simbólico) em virtude da normatividade que se fazia acompanhar de preconceitos? No entanto, cabe ressaltar que esse fenômeno ocorria sem que estivessem expostos a qualquer evento como epidemia ou pandemia. Por este motivo, acho apropriado o título da publicação da Fiocruz, com a participação de organizações da sociedade civil, “Diálogos sobre acessibilidade,inclusão e distanciamentosSocial – Territórios existenciais na pandemia”, que, associado à temática que me foi proposta, demarca um enunciado particularmente importante: de que territórios existenciais estamos falando? Segundo Borges1 estamos falando de territórios existenciais ético-estéticos, que na maioria das vezes são percorridos a partir de um olhar exterior, quase um sobrevoo “disciplinar”, que não contém a propriedade de quem fala com o “conhecimento de causa”. Desta forma, cumpre ressaltar que estamos falando sobre territórios existenciais de outrem, que é

distinto do território existencial narrado na primeira pessoa do singular. Assim, ao aceitar esse convite, mesmo vinculado profissionalmente ao tema, julgo necessário destacar que ao escrever esse texto vivencio o que Lukács2 denominou de estranhamento, um sentimento que amplia a visão pr’além do que chamamos percepção “individual”. Feita essa observação, falo de um lugar que observo da exterioridade, sem ter a corporeidade dos que defendem com propriedade o “nada sobre nós, sem nós”. A segunda reflexão que se faz necessária diz respeito a uma autocrítica que a sociedade precisa fazer durante esse processo de distanciamento social, que se inicia ao questionarmos a manutenção do saber-poder biomédico, que de forma disciplinar reduz pessoas a rótulos. Este tipo de prática contribuiu historicamente para o aprisionamento de pessoas com deficiência em territórios não existenciais da invisibilidade3. Pergunta-se: quando serão superadas as normatividades que reduzem os sujeitos de direitos sanitários4 a códigos e/ou critérios de funcionalidades? As proposições contidas nesse questionamento deveriam apontar a construção de pontes3 e de laços existenciais no tecido social da diversidade humana, mas continua a enredar os territórios existenciais de pessoas com deficiência, uma vez que os seus direitos e demandas, quase sempre, são deixados à margem. Imaginem, por um momento sequer, os graus de dificuldades que uma pessoa com deficiência (“cadeirante”, “deficiente auditivo” ou “visual”) enfrenta ao se deslocar em uma favela ou periferia durante a pandemia: frota de ônibus não adaptada; falta de sinalização nas cidades; falta de rampas etc. Ou, ainda pior, ao chegar em unidades de saúde, encontra a maior das barreiras: a de ordem atitudinal no campo assistencial. Na maior parte das vezes, o Sistema Único de Saúde, o nosso SUS, tão importante para garantir o acesso universal, ainda é um “deserto de práticas” da integralidade do cuidado da pessoa com deficiência, porque seus profissionais nem sempre estão atentos às 2|Página


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