Santa Causa nº 38 (Mar/2014)

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Ano 2014 - Nº 38 - Publicação Quadrimestral Distribuição Gratuita Director: Dr. Humberto Carneiro Coordenação: Mesa Administrativa Impressão: Grafipóvoa Tiragem: 8000 Design Editorial: Bsolus - Business Solutions Propriedade: Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, Rua da Misericórdia, 141 - Apart. 143 4830 Póvoa de Lanhoso Tel.: (+351) 253 639 030 Fax: (+351) 253 639 036 Depósito Legal: 296364/09

Medalha de Honra - Grau Ouro CMPVL - 19/03/1985

Abril de 2014 Jornal da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

Geral

Os hospitais e as Misericórdias: situação actual e perspectivas futuras

Pág. 05

Santa Casa em revista pelo Diretor Clínico Pág.

03

Santa Casa aprova relatório anual de atividades e contas do ano de 2013

Pág. 14

Farmácia

Com a chegada do calor, saiba como prevenir o cancro de pele. Pág.

15

Hospital

História: A construção do Hospital António Lopes Pág. 04 Consulta externa: O HAL promove novas consultas em imunoalergologia e antitabagica

Pág. 10

Unidade de Convalescença: A perspetiva de um enfermeiro de reabilitação

Pág. 11

Infância

Jardim de infância: Projeto “heróis da fruta” Pág.

12

CATL: Avós e netos: uma relação de afetos Pág.

12

Saúde

Plano individual de intervenção (PII) – Inovação interdisciplinar Pág.

09

Santa Casa em Festa

Desfile de Carnaval das valências da Santa Casa Pág.

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Unidade de Longa Duração e Manutenção O desafio da vida: Cuidar do fim

Pág. 11

Santa Casa

Comemora o Carnaval Os utentes, funcionários, familiares e convidados da Santa Casa da Misericórdia juntaram-se no passado dia 9 de Março para um desfile de Carnaval que contou com cerca de 1000 participantes. A população e os participantes encheram as ruas da vila, para grande satisfação de todos.


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Santa casa da misericórdia da póvoa de lanhoso

Áreas de Intervenção

Abril de 2014 Santa Causa


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Abril de 2014 Santa Causa

Hospital António Lopes

Santa Casa da Misericórdia em revista pela Direção Clínica

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oi há 15 anos que renasceu o Hospital António Lopes. Durante este período foram muitas as mudanças sofridas na filosofia do seu funcionamento, nos equipamentos disponibilizados, nas pessoas que com ele colaboraram. Mas sempre com a mesma ideia fundamental: Fornecer serviços de saúde de qualidade à Póvoa de Lanhoso. Na perseguição deste objetivo, foi cumprindo o desígnio da Misericórdia em atender os necessitados e acabou por tão bem o fazer que se tornou a valência que permite financiar as necessidades das restantes valências, mais deficitárias, por força dos respetivos objetivos e modelos de funcionamento. Mas, a meu ver, não foi esse o maior contributo do Hospital António Lopes para a Misericórdia e os Povoenses. De facto, desde sempre, assumindo-se como uma unidade prestadora de saúde de modelo hospitalar, por contraponto e em complementaridade à prestação de serviços de saúde primária, deixada na Póvoa a cargo do Centro de Saúde, serviu de impulso para as mudanças que foram ocorrendo na Santa Casa, sempre com a área da saúde como pano de fundo e a qualidade como bandeira. Assim, numa estratégia de expansão da contratualização com o Estado na área dos Cuidados Continuados, complementou-se o respeitado serviço de Convalescença do HAL com a construção da Unidade de Longa Duração Dona Elvira Câmara Lopes que, logo desde a nascença, quando se tornou evidente a qualidade da obra e do serviço prestado, conquistou o respeito e admiração de todos os intervenientes, quer no processo de contratualização, quer na própria utilização como centro de cuidados continuados de excelência. Também o Lar de S. José evoluiu nos cuidados de saúde que foi disponibilizando aos seus utentes, numa ótica de dar qualidade à vida de quem já a leva longa e necessita de apoio nesta área para poder usufruir condignamente do avolumar dos anos que passam. As próprias valências infantis foram percorridas por este impulso de qualidade de serviços nascido das elevadas necessidades exigidas por serviços hospitalares, que tornaram a certificação de qualidade uma realidade transversal a todas as valências. Assim, assumindo a inevitabilidade e importância fundamental de todas as valências da Santa Casa, foi a partir das necessidade criadas nas valências de saúde que começou a crescer a qualidade do serviço, os hábitos de trabalho rigoroso, o maior número de postos de trabalho, o bom nome da Misericórdia fora de portas. A entrada do país em crise económico-financeira brindou-nos com dificuldades acrescidas de sustentabilidade dos serviços de saúde, ameaçando a sobrevivência do atual modelo de funcionamento da Misericórdia. Foi necessário cerrar fileiras e colocar os olhos no futuro, mantendo os pés firmemente assentes na terra. A estratégia é, por absoluta necessidade, atrevida, porque manter a mesma velocidade de cruzeiro préviamente atingida signicaria sermos ultrapassados pela concorrência e vermos os nossos serviços ficarem insustentáveis. Novas dificuldades de financiamento, nova concorrência na forma de novos hospitais publicos de modelo empresarial, novos hospitais privados, aumento do numero de camas de cuidados continuados na nossa área geográfica, poderiam tornar-nos redundantes na região e a ter de fechar serviços e postos de trabalho. Nunca foi esse o entendimento do caminho a seguir, ao mais alto nível da Misericórdia. Foi nessa ótica de investimento em mais e melhores cuidados de saúde que me foi proposta a reformulação do meu contrato de Diretor clinico, permitindo dispor de mais horas de serviço clinico por um médico especialista hospitalar, que passou a ser médico residente, em dedicação a tempo completo à Misericórdia da Póvoa de Lanhoso. A mesma crise que prejudicou a Misericórdia, também tornou menos atrativo o serviço em hospital público, aumentando muito a carga de trabalho, diminuindo a qualidade possível de disponibilizar aos utentes dos hospitais, diminuindo significativamente as compensações financeiras devidas pela dureza e diferenciação desse trabalho. Assim, também eu optei por apostar nas Misericórdias que, acredito, serão intervenientes essenciais na área da saúde, em Portugal, nos próximos anos. De facto, o interior do país está a ser abandonado por um Estado que perdeu, por força da crise, a capacidade financeira que possa permitir manter em funcionamento uma rede alargada de cuidados diferenciados de saúde, tendo-se visto na necessidade de os concentrar e racionalizar em menos centros, de maior capacidade, cobrindo áreas de influência sempre maiores. O que, necessariamente, deixa vastas áreas do interior sem cobertura de cuidados de saúde de proximidade, apresentando populações cada vez mais idosas e com menos mobilidade para procurarem os cuidados de saúde nos grandes centros. São os investidores privados e, especialmente, as Misericórdias, que ficam com a tarefa de cobrir essas “zonas sem serviço” de cuidados hospitalares. E a Misericórdia da Póvoa de Lanhoso não recusou a responsabilidade. A contratação de um Diretor Clínico a tempo inteiro permite uma melhor planificação estratégica e uma melhor monitorização e acompanhamento dos nossos serviços clínicos. Tinha já sido decidido construir uma nova Unidade Médico Cirúrgica, anexa ao Hospital António Lopes, que irá disponibilizar instalações modernas e confortáveis, boas condições de hotelaria, tecnologia médica contemporânea. Serão celebrados novos contratos com parceiros como seguradoras, que nos permitam disponibilizar os nossos

serviços a cada vez mais beneficiários, dos mais diversos subsistemas de saúde. Lutaremos pela ampliação dos acordos de cooperação com o Serviço Nacional de Saúde, permitindo levar o nosso serviço ao maior número de Povoenses e de doentes de fora da Póvoa. Teremos 2 novos blocos cirúrgicos modernos, cumprindo as mais exigentes normas de segurança para os doentes. Ampliaremos as especialidades disponíveis no Hospital, desde já se perspetivando a colaboração de médicos nas áreas de Neurocirurgia, Neurologia, Imunoalergologia, Gastrenterologia, Pediatria, Consultas de cessação tabágica, Consultas de Diabetes e muitos outros que chegarão, para além das melhores condições de serviço que iremos disponibilizar aos que já connosco colaboram. Elevaremos a qualidade real e percebida das consultas abertas à população (consultas de urgência), com abandono do modelo das “consultas rápidas a despachar muitos doentes”, colocando um foco decisivo na qualidade dos serviços prestados e no bem estar dos doentes que nos procuram e seus acompanhantes. Quem vier à procura de cuidados de saúde na Misericórdia da Póvoa de Lanhoso não sentirá defraudado, terá de se sentir bem vindo, acarinhado, bem cuidado e com os seus problemas resolvidos ou orientados, quando não for possível resolvê-los nas nossas unidades. Os Lares atuais não têm qualquer ponto de contacto com os antigos lares em que os doentes ficavam residentes de longa duração, sem significativo controle de qualidade nos serviços prestados. O envelhecimento progressivo da população provocou uma mudança do utente típico de lar, que atualmente é, em média, mais doente, exigindo mais cuidados clínicos e de enfermagem. Os desafios são agora mais exigentes, e a Misericórdia da Póvoa de Lanhoso pretende ser também exemplar nesta área. O apoio médico e de enfermagem ao Lar de S. José já se encontra em reformulação: Maior disponibilidade dos médicos a atender problemas inesperados ao longo das 24h, uma visita semanal alargada de Medicina Interna, estando programada a melhoria das instalações da equipa de saúde, de forma a receber os utentes em condições mais dignas e confortáveis, aposta na formação e treino do pessoal de enfermagem, que permita uma atuação mais especifica e eficaz desses elementos nos cuidados diários de saúde no lar, dotação de material médico e de apoio a serviços de saúde mais contemporâneo e eficaz, racionalização do fornecimento de medicamentos em sinergia com os serviços de farmácia interna já existentes e que se pretendem transversais a todas as unidades. O trabalho, como se vê, é muito, mas uma leitura atenta revela que não se estão a construir castelos no ar, mas sim a investir onde é essencial, a reestruturar em nome da eficiência e qualidade, a intervir suavemente mas inexorávelmente em todas as áreas onde fôr possível melhorar sem perder a sustentabilidade. Como médico, é uma segurança e um orgulho poder dar o meu melhor contributo para o crescimento e o sucesso da nossa Misericórdia. Como Diretor Clínico, o trabalho é avassalador e absorvente mas apaixonante, e sou guiado pela vontade de homenagear os gigantes que tornaram tudo isto possível: Os provedores visionários e corajosos, mas também os administradores eficazes, os mesários presentes, os enfermeiros que nunca vacilam quando é necessário trocar o conforto pessoal pelo serviço que é preciso prestar aos doentes, os administrativos que nunca param, os assistentes operacionais que nunca desistem de se superar, todos os outros funcionários que se dedicam, mais que a ganhar o seu salário no fim do mês, a prestar o serviço que justifica a existência da Misericórdia. E sou guiado pela vontade de prestar o melhor serviço possível aos que são a razão da nossa existência: os utentes. Os doentes do hospital e da ULDM, os velhinhos do lar, as crianças das valências infantis. É por eles que trabalhamos e para eles que vão todos os nossos esforços, e não pode existir melhor incentivo ao trabalho que esse.

Mário Almeida (Diretor Clínico da SCMPL)

Editorial Dr. Humberto Carneiro

Amigas e amigos povoenses, No pretérito mês de março, realizou-se a Assembleia Geral onde foram aprovados por unanimidade, o relatório de actividades e contas referentes ao ano de 2013. Momento solene para a partilha de informação entre a Mesa Administrativa e os Irmãos da nossa Misericórdia. Estou certo, pela pertinência dos assuntos tratados, que os presentes deram por bem empregues os breves momentos que dispuseram em prol da nossa Instituição. Para todos os outros, aproveito este espaço de comunicação, para partilhar algumas notas que entendo relevantes. Na última década, a nossa Misericórdia investiu em imóveis e equipamentos, dos quais se destacam a construção do edifício da Farmácia e do Centro de Formação, da Cozinha Central, da Lavandaria, da ULDM – D. Elvira Câmara Lopes, e obras de conservação, adaptação e manutenção, do Lar de S. José, dos Serviços Administrativos Centrais, das Creches e Jardins de N.S. da Misericórdia e de S. Gonçalo e do HAL (nomeadamente na Unidade de Convalescença), cerca de 7 milhões de euros. Hoje, são bem visíveis, as benfeitorias introduzidas em todas as valências, as quais contribuem para darmos corpo à nossa missão de satisfação das carências sociais, para a promoção da saúde, bem-estar e aumento das qualificações pessoais dos nossos utentes. A par da valorização do nosso património edificado, valorizamos os nossos recursos humanos, com contínuas acções de formação, com a implementação de uma política de ética onde imperam os princípios da dignidade humana, da corresponsabilidade, da entreajuda e participação, da solidariedade, da diferenciação positiva, da tolerância e da informação. Abrimo-nos à comunidade. Somos, pelos exemplos que damos de uma gestão aberta e transparente, a instituição povoense que mais partilha com a comunidade as suas actividades, as suas contas e os seus projectos. Como povoense, formulo o desejo para que outras instituições e organismos, do terceiro sector ou não, possam e assim o queiram, no futuro partilhar com todos os nossos concidadãos a informação das actividades e a forma como as levam a efeito, à semelhança do procedimento da nossa Instituição. Os povoenses iriam, seguramente, apreciar essa postura. Aqui fica o desafio. O tempo dirá se alguém segue o nosso exemplo. O Hospital António Lopes vai finalmente, por força do concurso público que está a decorrer para adjudicação da respectiva empreitada, beneficiar das obras de remodelação e ampliação, cumprindo, em tempo, um desejo do seu fundador. O historiador José Abílio Coelho, nosso conterrâneo, profundo estudioso da nossa Misericórdia, e em particular de António Ferreira Lopes, refere no artigo publicado nesta edição o seguinte “...o próprio António Lopes previu, ao deixar escrito no seu testamento que se um dia o hospital tivesse disponibilidade financeira, deveria esse dinheiro servir “para ampliar, a fim de que a hospitalização dos desprotegidos da sorte seja ampliada...”. Está a nossa Misericórdia, fruto de uma gestão rigorosa, de contas consolidadas e de uma visão estratégica, em condições financeiras de poder concretizar esse desejo e comemorar condignamente, o seu centenário em 2017.

Assim Deus nos ajude. O provedor, Humberto Carneiro


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Abril de 2014 Santa Causa

Hospital António Lopes

A construção do Hospital António Lopes Por José Abílio Coelho

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Hospital António Lopes, que em 2017 completará 100 anos de existência ininterrupta na prestação de cuidados de saúde aos povoenses, é uma das mais importantes obras desde sempre feitas na Póvoa de Lanhoso. Não apenas pela sua dimensão e beleza arquitetónica mas, sobretudo, pelo que representou, à época, para a comunidade povoense. Não podemos esquecer que o concelho não possuía, que jamais possuíra até então, qualquer tipo de serviço organizado no campo da saúde. Durante séculos, manteve-se a velha fórmula, consignada nas leis, de apoio municipal aos órfãos e aos desvalidos, apoios que, no século XIX, levavam parte significativa do orçamento da câmara, tal o número de “expostos” que havia no concelho. Sabe-se, para além disso, que nos inícios do século XIX havia um cirurgião dos órfãos que prestava serviço na terra, o qual, pago pela câmara, atendia as crianças abandonadas à Roda. Para finais da segunda metade da décima nona centúria, é também sabido que existia um médico de partido da câmara que atendia os doentes, comprovadamente pobres, mas, é hoje fácil entendermos que esse apoio devia ser bastante deficiente, porque prestado por um único facultativo, dado ter este que atender os pobres de todas as freguesias, tendo diversas vezes de se deslocar às suas casas, a cavalo, por montes e vales, fosse tempo de rigoroso inverno ou de abrasadora canícula. Em resumo, pode-se dizer que os cuidados prestados aos pobres doentes eram os mínimos ou, na maioria dos casos, nenhuns. Os acidentados tinham ainda pior sorte. À época, havia muitos desastres: era o pedreiro que tinha uma perna ou um pé esmagados por um pedaço de granito, era o rapaz a quem a vaca dava uma marrada ou a azémola um coice, era o agricultor que caía de uma escada ou de uma ramada quando podava ou vindimava, e quebrava um ou vários ossos. Havia ainda a questão dos partos que corriam mal, e muitos eram os partos difíceis, e que colocavam em risco, anualmente, centenas de mães e outros tantos recém-nascidos. Quando o mal era menor, os acidentados podiam ser “pensados” nas farmácias, que, no último quartel do século XIX, existiam na vila (pelo menos duas). Os outros, os que efetivamente ficavam muito feridos, ou morriam na cama cheios de febres e dores ou eram carregados em carro-de-bois ou carroça, e levados para Braga, onde eram recebidos no Hospital de São Marcos, daquela cidade. Agora, imaginemos as dores que essas pessoas sofriam, carregados num desconfortável veículo de tração animal, fazendo caminho por carreiros cheios de regos e pedregulhos, até à cidade de Braga. Rezam os jornais do fim do século que, às vezes, atravessavam a vila, deitados sobre palha, nesses carros-de-bois ou carroças, em altos gritos. No dealbar do século XX, apesar dos progressos que se faziam sentir no campo da medicina e da assistência, a Póvoa de Lanhoso continuava sem condições para prestar apoio eficiente aos seus doentes. E, apesar de, a muito custo, a câmara ter já, não um mas dois facultativos de partido para atendimento dos pobres, a verdade é que se tornava impossível a dois médicos prestar apoio às mais de vinte mil almas que já então habitavam nas 28 freguesias do concelho, pois esses médicos tinham também os seus clientes privados. Acresce a isto ter sido o primeiro quartel do século XX um tempo difícil para todos, mas muito especialmente para os menos dotados de bens. As décadas finais da Monarquia Constitucional trouxeram muita instabilidade ao país, o mesmo acontecendo na I República. Em todo o lado, Póvoa de Lanhoso incluída, a miséria era tanta que roubava-se tudo quanto estivesse à mão, fosse roupa que ficasse a secar no estendal, fosse hortaliça e fruta dos quintais, fosse uma ou outra libra que alguém tivesse escondida em casa, fosse, ainda, como os jornais da altura se fartaram de noticiar, o porco ou o bezerro que andava no campo ou no montado sem ter em cima o olho atento do dono.

Foto 1 - A vila da Póvoa na primeira década do século XX. Encontrava-se já concluída a construção das duas alas do palacete das Casas Novas. Foto 2 - Dezenas de crianças, a maioria descalças, recebidas no átrio do palacete de D. Elvira e António Lopes, que se vêm na fotografia, ao fundo.

Como se sabe, tudo isto piorou com a 1ª grande guerra (1914-1918). A Europa empobreceu radicalmente e morreram milhões de pessoas. Portugal, apesar de só ter entrado na guerra em 1916, dois anos depois de esta se ter iniciado, ainda perdeu que chegasse. Para além dos que foram morrer aos campos de batalha, a pobreza cresceu desmesuradamente, transformandose, para grande parte dos cidadãos, em miséria absoluta. E a doença, que acontece sempre mais quando as sociedades empobrecem, minou casas, famílias, freguesias inteiras. Citemos apenas o exemplo da tristemente célebre «febre espanhola», ou pneumónica, que no ano de 1918 matou milhões em todo o mundo e cerca de cem mil pessoas em Portugal. Na Póvoa de Lanhoso ceifou também muitas vidas, sendo certo que, entre outubro e dezembro desse mesmo ano, provocou uma razia, matando a eito desde Sobradelo da Goma, Travassos, Oliveira, Taíde, passando pela vila e freguesias circunvizinhas, e terminando o ano a matar nas aldeias margiais do Cávado depois de descer, lentamente, o vale de Gerás. Na Póvoa de Lanhoso, como se disse, os doentes pobres tinham direito a ser atendidos por um médico pago pela câmara. Mas o que eram dois médicos para um universo de cerca de vinte mil almas? Vivia-se um cenário de pobreza, diria mesmo de quase miséria absoluta, com crianças a deambular descalças e rotas pelas ruas, pais e mães mirrados pela fome, pois, para além da agricultura, que ocupava quase 85% da população concelhia - e tirando umas duas ou três dezenas de pessoas que se viviam do comércio, dos serviços ou como funcionários do Estado quase não havia outros ofícios para desempenhar. Os velhos, ou tinham no empenho dos filhos um fim de vida mais ou menos digno ou, em grande parte dos casos, porque os filhos também os não podiam ajudar, calcorreavam caminhos e carreiros a pedir esmola, quantas vezes um pedaço de côdea de pão ou uma simples malda de sopa. Era este o cenário, que me atrevo a apelidar de amarga e alargada miséria, que a Póvoa se encontrava quando António Ferreira Lopes e sua esposa, D. Elvira Câmara Lopes, regressaram do Brasil, nos finais da década de 1880. E assim continuou por muitos anos ainda, com o palacete destes “brasileiros” de torna-viagem a ser muito visitado por pobres, especialmente por crianças famintas e descalças à procura de uma ajuda, sempre que estes vinham à Póvoa de Lanhoso, em geral entre agosto e novembro, em gozo de férias. Feita esta introdução, de modo a que melhor se entenda o que significou a construção do hospital, a partir de 1912, para o concelho da Póvoa de Lanhoso, desenvolveremos, em próximos números do jornal “Santa Causa”, uma breve história do Hospital António Lopes, dando a conhecer, com razoável pormenor, o evoluir de uma ideia que partiu de D. Elvira de Pontes Câmara Lopes, antes de morrer em 1910, e que veio a concretizar-se em 5 de setembro de 1917, com a inauguração da unidade de saúde. O hospital, cujo funcionamento, como mais tarde se verá, foi exclusivamente custeado por António Ferreira Lopes até à sua morte, em 1927, viria a ser a causa única da fundação da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, em 1928, já que esta se constituiu apenas para dar seguimento à obra encetada pelo grande benemérito. Obra ímpar para o concelho, que, por via de testamento, António Lopes legou à sua terra, fosse entregando-o à câmara municipal “ou qualquer outra corporação ou instituição pública ou particular que já exista ou venha a criar-se”, fosse dotando-o de bens necessários à sua sobrevivência, está o hospital em vias de ser intervencionado e aumentado na sua capacidade física e técnica para responder às necessidades de um tempo diferente daquele em que viveu o seu fundador. Coisa, aliás, que o próprio António Lopes previu, ao deixar escrito no seu testamento que se um dia o hospital tivesse essa disponibilidade financeira, deveria esse dinheiro servir “para o ampliar, a fim de que a hospitalização dos desprotegidos da sorte também seja ampliada…”.

José Abílio Coelho **Historiador. Bolseiro de doutoramento da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia.


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Abril de 2014 Santa Causa

Santa casa da misericórdia da póvoa de lanhoso

Os Hospitais das Misericórdias Situação actual e perspectivas futuras

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ma das 14 Obras de Misericórdia que as Santas Casas são chamadas a praticar, é a de assistir aos enfermos. Esta vocação das Misericórdias, bem patente nos seus compromissos, liga-as, naturalmente, à prestação de cuidados de saúde e aos hospitais locais. Esta ligação, inicialmente, não se traduziu num padrão de anexação desses hospitais às Misericórdias ou na entrega a estas instituições da respectiva administração. Com excepção das Misericórdias de Barcelos, Porto, Viana do Castelo e Vila da Praia, onde, por mandados régios de D. Manuel I, se registaram anexações de hospitais às Misericórdias, e da de Tomar, que é referida, desde 1517, como tendo um hospital anexo, as demais Misericórdias, criadas entre 1498 e meados do século seguinte, não desenvolviam acção hospitalar: limitavam-se a fazer ingressar os doentes pobres nos hospitais locais. A partir de 1580, e sobretudo nas primeiras décadas do século XVII, as Misericórdias passaram a deter o monopólio da rede hospitalar, através de uma política sistemática de anexação dos hospitais às Misericórdias.

lação entre estas e o Estado, nomeadamente, através da celebração de acordos de cooperação. É assim que a Base XXXVIII da Lei de Bases de Saúde, aprovada pela Lei 48/90, de 24 de Agosto, reconhece que as Instituições Particulares de Solidariedade Social, com objectivos específicos de saúde, intervêm na acção comum a favor da saúde colectiva e dos indivíduos, de acordo com a legislação que lhes é própria. Mais recentemente, o Estado reconheceu competências às Misericórdias, numa participação crescente no Serviço Nacional de Saúde, consubstanciada em protocolos com a União das Misericórdias Portuguesas, com particular destaque, para o protocolo de cooperação celebrado em 27 de Março de 2010, com o Ministério da Saúde e a União das Misericórdias Portuguesas que reintegra, no Serviço Nacional de Saúde, um conjunto de Hospitais de Agudos propriedade das Misericórdias e acordos de cooperação celebrados com as Misericórdias, quer na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, quer na Rede de Agudos, sempre ao abrigo dos princípios da complementaridade e da cooperação consagrados na Lei de Bases da Economia Social.

As Misericórdias que administravam os hospitais distinguiam-se das demais pela visibilidade social que tinham: gerir um hospital significava gerir os seus bens, potenciar o aumento patrimonial e deter meios para a prática de assistência numa área exígua e com recursos limitados. Nesta primeira fase, que vai desde a fundação das primeiras Misericórdias até meados do século XIX, os hospitais estavam mal apetrechados, funcionavam em condições sanitárias muito precárias e tinham práticas médicas arcaicas. O corpo médico era reduzido e não privativo, sendo constituído pelos médicos e cirurgiões do “partido” municipal. O mesmo acontecendo com o corpo de enfermagem, geralmente constituído pelo hospitaleiro e a sua mulher... O capelão assegurava a assistência espiritual e cultural aos enfermos.

Pode-se, pois, no seguimento do referido, afirmar que a vontade de devolução dos hospitais às Misericórdias não é de hoje…

Com a especialização nos serviços de saúde, muitas Santas Casas deixaram de praticar outras obras de misericórdia, passando a ideia de que hospital e misericórdia eram uma só realidade. Na viragem do século XIX para o século XX e em boa parte deste, apesar de os hospitais continuarem a ser, essencialmente, locais de assistência para os doentes pobres, operaram-se importantes mudanças e transformações ao nível da organização e funcionamento dos hospitais das Misericórdias: diferenciação, especialização e aumento de enfermarias, com divisão dos diversos serviços clínicos com secções médicas e cirúrgicas, elaboração de regulamentos hospitalares, criação de novos espaços (sala de operações, sala de autópsias, serviço de urgência, farmácia privativa, etc.), constituição de um corpo clínico próprio e permanente.

Estou certo que essa intenção manifestada vem na sequência da secular tradição das Misericórdias no sector da saúde, do reconhecimento do importante papel desempenhado na prestação de cuidados de saúde à população, constituindo-se como um importante elemento do sistema de saúde e um parceiro natural do Estado, e tendo em vista a urgente necessidade de diminuir a despesa pública e, nessa medida, contribuir activamente para o combate à crise que Portugal atravessa.

A segunda metade do século XX trouxe um tempo novo no quadro da actividade assistencial das Misericórdias. Registaram-se enormes progressos a nível científico e tecnológico da medicina e cirurgia que acompanharam o movimento da especialização, com a consequente reclassificação de serviços. A par disso, deu-se a integração dos hospitais das Misericórdias nas categorias ou redes oficiais de “distritais” ou “concelhios” e os maiores hospitais foram integrados nas carreiras médicas, com o consequente aumento da dependência desses hospitais em relação aos diversos organismos oficiais (governamentais). Como seria de esperar, tudo isso provocou um aumento exponencial dos custos operacionais que, na maioria dos casos, o Estado não assumiu ou não subsidiou. Não obstante, as Misericórdias, de um modo geral, continuaram a assegurar a sustentabilidade dos seus hospitais, com mais ou menos sacrifícios e, em muitos casos, com o contributo de benfeitores e voluntários e, também, com as receitas provenientes dos serviços prestados aos beneficiários da Caixa de Previdência dos Trabalhadores e das Seguradoras. Era este o panorama dos hospitais das Misericórdias até à Revolução de Abril de 74. Todos nos recordamos que nesse período, a maior parte das Misericórdias foram espoliadas do seu património hospitalar deixando, de uma só vez, de desempenhar o seu secular papel no sector da saúde, fruto da intervenção do Estado na respectiva gestão, por força do Decreto-Lei n.º 704/74, de 7 de Dezembro e do Decreto-Lei n.º 618/75, de 11 de Novembro. Apesar da nacionalização da gestão de 95 hospitais das Misericórdias, três houve que escaparam à oficialização (Fão e Riba d’Ave, por serem de freguesias e Marco de Canavezes, por omissão da impressão do nome no Diário da República!) e que, em pouco tempo, e apesar da sua pequena dimensão, afirmaram a sua credibilidade no quadro nacional, pela qualidade e humanização dos cuidados de saúde prestados. A aplicação dos dois diplomas, não fosse a capacidade de resiliência demonstrada pelas Misericórdias ao longo dos seus mais de cinco séculos de história, poderia pôr em causa, por via administrativa, a existência de muitas delas. A maioria reorientou a sua actividade para a área social, mostrando-se inovadoras e, em muitos casos, substituindo o próprio Estado nas suas obrigações sociais, tanto no sector da Terceira Idade, com o aumento do número de lares e incremento do serviço de apoio domiciliário (SAD), como no sector da Infância, onde se assistiu à criação de creches, jardins-de-infância e centros de actividades de tempos livres (CATL). Nos anos 80, o Estado veio a reconhecer que o regime instituído, resultante da aplicação dos Decretos-Lei n.os 704/74 e 618/75, não se mostrou o mais adequado a uma melhor e mais humanizada prestação de serviços de saúde às populações. Considerou que os estabelecimentos com actividade hospitalar poderiam ser, novamente, geridos pelas instituições suas proprietárias, devolvendo-lhes a administração, mediante acordos a celebrar caso a caso. Reconheceu, através do Decreto-Lei n.º 489/82 de 28 de Dezembro, a necessidade de reequacionar o papel das Misericórdias no sistema de saúde e a forma de articu-

É neste enquadramento, que em Novembro de 2011, o Governo anuncia, pela voz do Senhor Primeiro Ministro, a intenção de devolver à gestão das Misericórdias mais de 15 Hospitais, cuja propriedade do edifício lhes pertence e que foram nacionalizados após o 25 de Abril.

As Misericórdias portuguesas, por via da sua União, responderam afirmativamente ao repto lançado, disponibilizando-se para cooperar nesse desígnio nacional. Com a publicação do Despacho n.º 10016/2012, de 25 de Julho, do Secretário de Estado da Saúde, deu-se formalmente início e execução ao processo de devolução dos hospitais das Misericórdias que foram “oficializados” após o 25 de Abril. Ouvida a União das Misericórdias Portuguesas, procedeu-se à criação do Grupo de Trabalho, que passou a funcionar junto da Administração Central do Sistema de Saúde, I.P., sendo constituído por elementos do Ministério da Saúde e representantes da União das Misericórdias Portuguesas, com a incumbência de analisar o universo das unidades de saúde arrendadas, identificar as prioridades para a possível devolução das unidades de saúde às Misericórdias, tendo em atenção as necessidades de prestação de cuidados aos cidadãos, as que são satisfeitas pelas referidas unidades e as demais parcerias existentes com as Misericórdias e propor os procedimentos jurídicos, metodologia e calendarização necessários à concretização do processo de devolução. O Grupo de Trabalho começou por identificar uma primeira lista das unidades hospitalares arrendadas, num total de 29, distribuídas pelas diferentes Administrações Regionais de Saúde, da seguinte forma: Norte, 15 unidades; Centro, 10 unidades; Lisboa e Vale do Tejo, 3 unidades; Alentejo, 1 unidade. As Administrações Regionais de Saúde foram consultadas sobre as necessidades de cuidados de saúde em cada uma das regiões de saúde, sobre o perfil assistencial, económico-financeiro e jurídico das unidades hospitalares identificadas. Da lista inicial de 29 unidades hospitalares arrendadas e potencialmente a devolver, passou-se para 28 unidades hospitalares, em virtude do encerramento de uma delas. Estabeleceu que o processo de negociação deverá decorrer de forma faseada, devendo ser dada prioridade a um conjunto de unidades hospitalares para uma primeira fase de acordo, com critérios que se mostrem facilitadores do processo de devolução, nomeadamente, as unidades hospitalares que, independentemente da sua natureza jurídica, funcionam autonomamente ou estão integradas em centros hospitalares e que funcionam em edifícios autónomos; a experiência da respectiva Misericórdia na gestão de serviços prestadores de cuidados de saúde; as unidades hospitalares com perfil assistencial básico ou pouco especializado; a não existência de serviço de urgência especializado e a existência de contratos de arrendamento com as Misericórdias. Foram consensualizados os documentos relativos aos procedimentos jurídicos necessários à concretização do processo de devolução, nomeadamente o Projecto de diploma enquadrador das formas de articulação do Ministério da Saúde e estabelecimentos e serviços do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e a devolução dos hospitais às Misericórdias; projecto de Protocolo de Cooperação entre o Ministério da Saúde e a União das Misericórdias Portuguesas e o projecto de Acordo de Cooperação para cada unidade hospitalar a devolver. Quanto ao processo de faseamento, assente na devolução progressiva e sustentada dos hospitais às respectivas Misericórdias, para ali prosseguirem a prestação de cuidados de saúde no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, com base nos critérios definidos, estabeleceu-se um cronograma que assegure a prestação de cuidados de saúde e a defesa dos interesses das populações, a redução dos encargos do Estado, a sustentabilidade das unidades hospitalares e das respectivas Misericórdias.


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Santa casa da misericórdia da póvoa de lanhoso Neste contexto, o Grupo de Trabalho, num primeiro momento, consultadas as Administrações Regionais de Saúde, as respectivas Misericórdias e a União das Misericórdias Portuguesas, priorizou na primeira fase de devolução, três ou quatro, unidades hospitalares pertencentes a três ARS’s, não estando, neste momento, acertada a data da possível devolução. No dia 9 de Outubro, foi publicado o Decreto-Lei n.º 138/2013 que, para além de definir as formas de articulação do Ministério da Saúde e dos estabelecimentos e serviços do Serviço Nacional de Saúde com as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), enquadrado no regime da Lei de Bases da Economia Social, estabelece, ainda, o regime de devolução dos hospitais das Misericórdias que por força dos Decretos-lei n.º 704/74, e n.º 618/75, foram integrados no sector público e são actualmente geridos por estabelecimentos ou serviços do Serviço Nacional de Saúde. Com a publicação deste diploma, estabeleceu-se o quadro legal que permite a efectivação da devolução dos hospitais das Misericórdias que foram “oficializados” após o 25 de Abril.

Assim, os hospitais podem ser devolvidos às Misericórdias mediante a celebração de acordos de cooperação entre as Misericórdias e as respectivas ARS’s. Acordos de cooperação que estão, neste momento, a ser trabalhados, caso a caso, em sede de reuniões do Grupo de Trabalho, junto da Administração Central do Sistema de Saúde, I.P.

Quanto às devoluções, importa relevar os principais aspectos, a consagrar nos acordos de cooperação a celebrar: › Os acordos de cooperação são celebrados entre as Administrações Regionais de Saúde e as Misericórdias, podendo a União das Misericórdias Portuguesas celebrar os acordos de cooperação em representação das Misericórdias suas associadas. › Com a celebração dos acordos de cooperação previstos nos números anteriores o estabelecimento de saúde pertencente à Misericórdia continua a integrar o Serviço Nacional de Saúde. › Tem de ficar demonstrada a garantia da economia, eficácia e eficiência da contratação e bem assim a suportabilidade financeira das unidades a devolver. › Garantir a satisfação das necessidades das populações. › A celebração de cada acordo de cooperação deve diminuir os respectivos encargos globais do Serviço Nacional de Saúde em, pelo menos, 25% relativamente à alternativa de prestação de serviços pelo sector público. › Os acordos estabelecem o regime para os investimentos realizados e não amortizados. › Os acordos de cooperação a estabelecer têm um prazo de duração de 10 anos renováveis, podendo ser automaticamente renovados, salvo se, com uma antecedência mínima em relação ao termo de vigência, qualquer das partes os denunciar. › Devem ter em conta o aproveitamento racional e equilibrado das capacidades instaladas nos sectores público e social, a efectiva resposta, avaliada e devidamente fundamentada, em sede das administrações regionais de saúde e o histórico da actividade desenvolvida nas unidades hospitalares a devolver. › Os acordos prevêem a manutenção, por parte das Misericórdias, ao seu serviço do pessoal afecto à unidade hospitalar, nos termos da lei e de acordo com a actividade assistencial contratualizada. › Os acordos têm como objectivo, combater as ineficiências e gorduras do sector público, a preços controlados; orçamentar, com rigor, a despesa máxima potencial resultante do financiamento, da actividade assistencial contratualizada; aplicar o princípio da liberdade de escolha que dê ao cidadão a possibilidade de optar pela unidade hospitalar onde prefere ser atendido; e dar cumprimento à medida do Memorando de Entendimento em que se enquadra a reorganização e racionalização da rede hospitalar. Assim: › Estabelecido o enquadramento legal que permite e potencia a retoma, por parte das Misericórdias, das unidades hospitalares cuja propriedade do edifício lhes pertence e que estão actualmente sob gestão pública. › Estando praticamente definidos e balizados os critérios que devem presidir à celebração dos respectivos acordos de cooperação. › Continuando o Grupo de Trabalho, junto da Administração Central do Sistema de Saúde, IP, e em particular os representantes da União das Misericórdias Portuguesas, envolvidos nas negociações, a estudar, caso a caso, os acordos de cooperação a celebrar com as ARS´s, tendo em linha de conta: a actual actividade assistencial dos hospitais; as propostas de funcionamento futuro de acordo com as necessidades das populações; a capacidade instalada e a capacidade de resposta; a tabela de preços a praticar; os investimentos realizados e não amortizados e a manutenção dos recursos humanos de acordo com a actividade contratualizada. › Tendo em conta que no processo de devolução dos hospitais, a retoma se pode constituir como uma oportunidade, tanto para o Estado como para as Misericórdias, é desejável que as Misericórdias se assumam, e sejam aceites, como organizações que contribuam para o

necessário equilíbrio entre funções que são próprias do Estado. Pretende-se que este seja cada vez mais regulador e menos prestador, e as reais necessidades das populações, estabelecendo, por via dos acordos de cooperação e outros instrumentos, nomeadamente, os acordos de gestão, um novo quadro de relacionamento institucional potenciador de parcerias estratégicas de longo prazo, nomeadamente na gestão, de outros estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde. › E, considerando como desígnio nacional a devolução às Misericórdias, dos “seus” hospitais, importa, agora, equacionar a sua relevância para o presente e futuro das respectivas Misericórdias e o papel a desempenhar, neste quadro, pela União das Misericórdias Portuguesas.

Com a reorganização da rede pública de cuidados de saúde que está a ser levada a efeito pelo Ministério da Saúde, as unidades hospitalares que não forem objecto dos acordos de cooperação a celebrar por 10 anos, poderão ser devolvidas, às respectivas Misericórdias, sem actividade. Veja-se o exemplo do edifício do hospital da Misericórdia de Amarante, devolvido no final do ano transacto. Outros há, que poderão ser objecto do mesmo procedimento, transformando o que hoje é uma fonte de rendimento das Misericórdias, embora muito parco, por força dos contratos de arrendamento impostos pelo Estado nos anos 80, numa fonte de encargos decorrente da devolução dos edifícios, normalmente em mau estado de conservação, agravados pelo facto do Estado se escusar, regra geral, a pagar as indemnizações devidas. O Estado, debilitado pela grave crise que vivemos, arrecada cada vez menos receitas – vejase a contracção do PIB, o aumento da dívida pública e os elevados níveis de desemprego – e tem, por via disso, mais encargos na área social. Acresce, o facto, de Portugal estar sob intervenção externa e necessitar de reduzir o deficit, combatendo-o, nomeadamente pelo lado da despesa, o que dificulta a sua capacidade em responder às, cada vez maiores, necessidades e solicitações da sociedade civil empobrecida. Por estas razões, entre outras, o Estado tem necessidade de partilhar as suas obrigações e responsabilidades, na resolução dos graves problemas dos portugueses, com as organizações imanadas da sociedade civil e, em particular, com as Misericórdias. É assim, com os protocolos celebrados com o Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social no âmbito das Cantinas Sociais e do PCAAC – Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados, cujo objecto primário é combater a fome e a exclusão social, minorar o sofrimento e a precariedade dos nossos concidadãos de baixos rendimentos, desempregados, idosos e pensionistas de baixos recursos. Assim poderá ser, também, com os acordos de cooperação a celebrar no âmbito da devolução dos hospitais às Misericórdias. Actualmente, as Misericórdias gerem e prestam cuidados de saúde em cerca de duas dezenas de estabelecimentos com actividade hospitalar, plasmados territorialmente por quatro Administrações Regionais de Saúde. A intenção do Estado de devolver à gestão das Misericórdias, através dos acordos de cooperação a celebrar com elas ou com a sua União, os hospitais cuja propriedade lhes pertence e que foram “oficializados” após o 25 de Abril, a ser concretizada, contribuirá para o aumento do universo das unidades hospitalares, integradas no Serviço Nacional de Saúde, sob gestão das Misericórdias.

Tendo como referência o conjunto das unidades hospitalares arrendadas e identificadas como potencialmente a devolver, as Misericórdias portuguesas passarão a ter um peso acrescido e significativo no Serviço Nacional de Saúde. Este facto deve, por si, levar-nos a uma reflexão sobre as formas de gestão a adoptar e o modelo organizacional das Misericórdias portuguesas com valências de saúde. É sabido que a maior parte, se não a totalidade, das Misericórdias que foram objecto de “oficialização” dos seus hospitais deixaram, desde então, de ter qualquer experiência gestionária, na área da saúde. Com a devolução das unidades hospitalares serão confrontadas com novos e complexos desafios. Estes desafios, com que as Misericórdias se debatem, fruto dos novos tempos, têm de ser transformados em oportunidades de mudança do seu paradigma organizacional. É chegado o tempo, da União das Misericórdias Portuguesas assumir, para além do extraordinário e insubstituível papel que vem desempenhando, uma posição ainda mais activa, de maior proximidade e de maior interligação entre as Misericórdias com valências na área da saúde, suscitando-lhes a construção solidária e participativa numa REDE de gestão global, com princípios comuns, mas com respeito e garantia da individualidade, autonomia e idiossincrasia de cada uma.


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Santa casa da misericórdia da póvoa de lanhoso Permito-me lançar um desafio, à União das Misericórdias Portuguesas e, particularmente, às Misericórdias com valências de saúde, que todas, em comunhão de objectivos se empenhem em implementar um novo modelo organizacional assente nessa rede de gestão global.

É minha convicção, que a construção de uma Rede dos Hospitais das Misericórdias (RHM), com a MARCA MISERICÓRDIAS, integrando as actuais unidades de saúde das Misericórdias, hospitais e unidades de Cuidados Continuados Integrados, acrescida das unidades hospitalares a retomar, pelo activo que constitui é, simultaneamente, um novo mas importante desafio e uma oportunidade de ganhos de escala, racionalidade e eficiência, potenciadoras de sinergias na área da saúde.

A sua implementação, na minha opinião, só se tornará exequível se for redefinido o papel da União das Misericórdias Portuguesas, com atribuição de novas competências e funções, só compagináveis com uma revisão dos actuais estatutos, em vigor desde 1997, adequando-os aos novos tempos e desafios, permitindo-lhe gerir a REDE e unidades de saúde, mas sobretudo, funcionar como entidade gestora e reguladora do sistema. Criada a Rede dos Hospitais das Misericórdias, deve ser garantida que a missão a atribuir a cada unidade hospitalar possa permanecer estável por períodos razoáveis de tempo, permitir a definição de objectivos e o desenvolvimento de projectos de forma consistente, ter em consideração a evolução previsível das necessidades das populações e a própria sustentabilidade de cada uma, mantendo a autonomia funcional, organizacional e de gestão. A Rede dos Hospitais das Misericórdias, deve dar enfâse à funcionalidade de base territorial, estabelecendo complementaridade entre os hospitais, através de formas orgânicas de relacionamento, ultrapassando rivalidades e um equivocado espírito de concorrência, devendo favorecer e incentivar a partilha de recursos humanos e equipamentos e o surgimento de novas actividades clínicas.

A Rede dos Hospitais das Misericórdias deve potenciar a uniformidade na área geodemográfica de influência da actividade assistencial de cada unidade hospitalar. A Marca MISERICÓRDIAS, integrada na Rede dos Hospitais das Misericórdias, permitirá promover a imagem do sector de saúde junto das comunidades; influenciar processos de decisão política relevantes para o sector; promover internacionalmente Portugal como player competitivo na área da saúde – Turismo de saúde; atrair talentos e investimentos. A Rede dos Hospitais das Misericórdias deve ser capaz de responder aos desafios que se nos vão colocando, através dum modelo organizacional que assegure aos cidadãos os cuidados de saúde de que necessitam, com a máxima qualidade possível, em tempo útil a ao mais baixo custo. Estes são, sucintamente, entre outros, os desafios mais importantes que se nos colocam nos tempos que aí virão. Saibamos, todos, aproveitar esta oportunidade de mudança, para em conjunto, ultrapassar as muitas e variadas dificuldades com que, permanentemente, somos confrontados. Assim seja!

Tudo em nome e respeito pelas condições socioeconómicas das populações, evitando deslocações dos utentes que possam significar um afastamento excessivo da sua comunidade, com consequências para a sua estabilidade emocional, a sua vida familiar ou a sua capacidade económica. As unidades hospitalares não devem dispensar cuidados para os quais não têm competência material nem profissional, mas no âmbito da existência da REDE, que se deseja complementar entre hospitais, através de formas orgânicas de relacionamento, deverão equipar-se dessas competências as unidades hospitalares, cujas regiões a que pertencem evidenciam necessidades da prestação desses cuidados de saúde, orientados pela procura e não pela oferta. Deve promover uma nova cultura de gestão que vise a qualidade dos cuidados de saúde, a segurança do doente, a gestão de todos os riscos, a viabilidade económico-financeira, a sua responsabilidade social e ambiental. Deve estabelecer standards de actuação e respectivos objectivos de forma transparente e rigorosa para todas as unidades.

Humberto Carneiro Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

A Rede dos Hospitais das Misericórdias, pretendendo-se de abrangência nacional, deve promover a implementação de PLANOS de SAÚDE, nomeadamente, com a criação do Cartão Saúde que permite o acesso a qualquer unidade e saúde pertencente à REDE e, preferencialmente, em parceria com uma ou mais seguradoras do ramo.

Nota: Texto escrito conforme antigo acordo ortográfico, por opção do autor.


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Em destaque Santa Casa em Festa

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Desfile de Carnaval

o passado dia 9 de março a Santa Casa presenteou a população com mais um desfile de Carnaval. Este é um momento muito esperado por todos os utentes e funcionários/colaboradores da instituição, bem como por todos os familiares dos nossos utentes. O desfile de Carnaval da Misericórdia, que contou com cerca de 1000 participantes, é já uma tradição no concelho. A assistência já não se limita aos familiares dos nossos utentes. Já são muitos os que propositadamente se deslocam para nos ver. É positivo perceber este reconhecimento crescente desta atividade por parte da população e de quem nela participa.


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Plano Individual de Intervenção (PII) – Inovação interdisciplinar Na atual definição de um plano de recapacitação funcional do utente, encontram-se em discussão vários tipos de metodologias. A abordagem interdisciplinar centrada nas necessidades/desejos do utente implica a fundamentação científica de uma planificação que suporte de forma mensurável a avaliação do utente. Neste contexto, em Portugal, a implementação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), iniciada em 2006, permitiu aos prestadores definirem as suas próprias metodologias e ferramentas de trabalho, de modo a alcançar a eficiência na prestação de cuidados de saúde. A interdisciplinaridade que caracteriza a equipa de acompanhamento ao utente durante a sua estadia, pode constituir-se como um obstáculo à concretização dos objetivos definidos inicialmente, dadas as diferentes vertentes de formação de base de cada uma das

áreas envolvidas. O desafio é, portanto, encontrar um modelo de trabalho que agregue todas estas variáveis e condicionantes para que se consiga planear, intervir, medir e avaliar todo este processo. O Plano Individual de Intervenção (PII) (Figura 1) desenvolvido pela Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, assume-se como uma resposta inovadora já implementada e com resultados reconhecidamente vantajosos quer para o utente quer para as equipas envolvidas. Assenta essencialmente no cruzamento de duas Escalas de Avaliação Internacionais – Área da Saúde, nomeadamente o Mini Mental State (MMS) e a Escala de Barthel. Desse cruzamento são definidos níveis (5) com caracterização específica a nível de condicionamentos, associação de objectivos e intervenções delineadas especificamente para cada um dos mesmos.

A Reabilitação psicofuncional é um conjunto de técnicas de reabilitação funcional e estimulação cognitiva, relacionados e apoiados uns nos outros, desenvolvidos de forma interdisciplinar, personalizado e integrado, que está envolvido na manutenção preventiva, terapêutica e sobre as alterações que podem ocorrer em pessoas dependentes. A obtenção da Independência psicofuncional foi o primeiro alvo de atenção de um grupo de peritos (Ariño Jordan C, Lopez Bueno L, López García e Salomé Terradez A JR) durante os anos noventa, denominado projecto de intervenção de reabilitação em pessoas dependentes. Eles propõem a implementação de actividades integradas socialmente através do aproveitamento existente de vários recursos, tais como centros de dia, centros residenciais, etc., Através de um programa psicofuncional onde as actividades são integradas em Reabilitação Física e Neuro estimulação Cognitiva. Desta forma, os diferentes grupos sócio-profissionais escolhidos devem coordenar-se entre si através de um programa de intervenção interdisciplinar, fornecendo às famílias o apoio e aconselhamento necessários. Neste caso, o modelo de intervenção proposto começa na admissão dos utentes, seguindo-se a aplicação de um protocolo de avaliação que definirá psicofuncionalmente os cinco níveis de intervenção em termos de deterioração física e / ou cognitiva apresentada. Importante, é o que a implementação desses programas vai ajudar a manter, nomeadamente a qualidade de vida dos utentes e dos seus cuidadores, convidando-os a melhorar o design das nossas

instalações, com base numa abordagem terapêutica para os utentes e para as suas famílias. Esta abordagem moderna deve usar os conceitos de atendimento integral e continuidade dos cuidados, para os vários recursos utilizados existentes, com o objectivo de alcançar um nível mensurável de resposta compatível com a necessidades e valores dos participantes, cuidadores e comunidade, que requer um conjunto especial de conhecimentos, habilidades clínicas e uma actividade positiva. Metodologia NÍVEIS DE CLASSIFICAÇÃO PSICOFUNCIONAL O objectivo do PII é o de estabelecer numa base individual um conjunto de programas de intervenção a ser desenvolvido por diferentes técnicos atendendo às necessidades de cuidados clínicos e de reabilitação para permitir a realização dos objectivos de manutenção, prevenção e tratamento conjunto. AVALIAÇÃO PSICOFUNCIONAL Avaliação psicofuncional é um histórico completo do utente, com toda a sua história médica e cirúrgica, etc. Resulta da aplicação de 2 escalas validadas. Inclui as seguintes seções: - Exame clínico - Exploração Neurológica e Psicológica. A avaliação psicológica identifica distúrbios de comportamento, por meio de aplicação do MMS. - Exploração Funcional A medição faz-se através da aplicação do Índice de Barthel. Identifica-se o Diagnóstico funcional e desenvolve-se um plano de cuidados de manutenção preventiva e / ou terapêutico.

Figura 1: Frente do modelo de preenchimento do Plano de Intervenção Individual (PII)

- Avaliação de Enfermagem e Equipa de Reabilitação A avaliação estabelece-se em colaboração com a Equipa Médica para definição de orientações e identificação de síndromes geriátricos. Controlam-se os factores de risco, medidas antropométricas, medicação e os tratamentos. A aplicação da terapêutica prescrita pelo médico e intervenções de enfermagem. Aplicar a escala validada, Barthel – para actividades da vida diária. Níveis Psicofuncionais de Cuidados Com todos estes dados, e, dependendo do nível de deficiências físicas e cognitivas do utente, associam-se cinco níveis de cuidados à estrutura dos programas de intervenção e planos de actividades. Geralmente a duração de cada programa de intervenção varia e termina quando os resultados são avaliados. No entanto, dependendo dos objectivos e características dos pacientes, são estabelecidos períodos de avaliação adequada intercalares, que podem ser inferiores ou superiores, consoante o plano definido e sempre antes de mudanças significativas na evolução. Após a avaliação, se os objectivos foram atingidos continuar-se-ia a manter o mesmo nível de tratamento, cuidados, caso contrário ele passa a repensar o seu nível de cuidado que envolve um novo PII. Do ponto de vista cognitivo: • Programas de treino de memória. • Programas de actividades artísticas, uma vez que aumentam o desempenho psicomotor, a actividade da equipe e socialização • Estimular o pensamento abstracto, imaginação e criatividade.

NÍVEL I: Manutenção da capacidade residual funcional. NÍVEL II: Programa de reabilitação psicofuncional - predominância de estimulação cognitiva, com reabilitação funcional de natureza preventiva. Em certos casos pode ser necessário estabelecer um plano de acção para distúrbios de comportamento, procurando uma possível causa e efeito, para tentar identificar a origem do distúrbio e intervir. NÍVEL III: Programas de estimulação cognitiva e actividades artísticas. Plano de acção para alterações comportamentais se necessário. Ponto de vista funcional - programas de reabilitação preventiva e ou terapêutico revitalizando o grau de deficiência física do paciente. NÍVEL IV: Cuidados de enfermagem e acompanhamento contínuo. Programas de reabilitação psicofuncional em grupo com estimulação cognitiva – com o objectivo de diminuir a perda de habilidades cognitivas e recuperar a capacidade residual. Do ponto de vista físico - manter as capacidades funcionais - treino de marcha e evitar as complicações da imobilização. NÍVEL V: Cuidados de enfermagem significativos e acompanhamento contínuo. O tipo de intervenção a este nível é, basicamente, para preservar a deambulação - treino da marcha e dos movimentos passivos - manter as habilidades preservadas. Em alguns casos também é necessário estabelecer um plano de acção para alterações comportamentais.

Figura 2: Níveis psicofuncionais de cuidados

Programa de Reabilitação psicofuncional Uma vez desenvolvido o Plano de Intervenção Individual (PII), é automaticamente fornecida a composição qualitativa e quantitativa de cada um dos programas para cada paciente. Portanto, poderíamos dizer que o programa de reabilitação psicofuncional é um conjunto de técnicas de reabilitação e / ou treinamento cognitivo e funcional, relacionados e apoiados uns aos outros, desenvolvidos de forma interdisciplinar, personalizado e integrado, que está envolvido na preventivas, terapêuticas e manutenção sobre as alterações que podem ocorrer em pessoas com dependência psicofuncional pelo processo da doença ou evolução. Os seus objectivos são caracterizados por: Adaptar-se às necessidades específicas de cada paciente; Reaquisição de maior funcionalidade e cognição melhorada; Maior autonomia e independência; Melhoria da qualidade de vida, saúde e bemestar; Incentivar a permanência social e familiar no ambiente habitual.

Figura 3: Verso do modelo de preenchimento do Plano de Intervenção Individual (PII)

Verde – Nível 1

A utilização das cores apresentadas na figura 1, permite que qualquer pessoa envolvida, desde a equipa interdisciplinar, à família ou ao utente, tenha a imediata e nítida perceção do “estado”, “grau” ou “gravidade” da situação em que se encontra o processo de recapacitação funcional. Assim, visualmente se consegue ter o enquadramento com o estado inicial em que se encontrou a situação de saúde do utente. No centro (dividido em 4) caracteriza-se a área corporal, a área social, área funcional/motora e a área cognitiva/sensorial – com as cores e os níveis correspondentes ao momento da admissão. Na periferia (também dividida em 4), colocam-se os “objectivos estruturais” ou áreas de intervenção prioritárias – com as cores e os níveis correspondentes ao momento atual de evolução, de modo a ter-se a correta leitura da evolução temporal:

| Amarelo – Nível 2 e 3 | Laranja – Nível 4

| Vermelho – Nível 5

Procura-se deste modo “uma linguagem interdisciplinar universal e de visualização simples”. É fundamental que todos os envolvidos se sintam incluídos e com capacidade de intervir activamente no tão importante processo de recapacitação funcional e que no PII estejam definidos os objectivos terapêuticos e respectivas metas de capacitação do utente e do cuidador informal/familiar, bem como a periodicidade da avaliação multidisciplinar regular, conforme preconizado para a tipologia da Unidade. A avaliação regular do PII visa a sua adaptação e melhoria para a autonomia e qualidade de vida do utente, face aos resultados que forem sendo atingidos ao longo do internamento. Estes resultados (por exemplo, avaliação regular da dor e peso) deverão implicar as alterações respectivas no PII de modo a que o mesmo se mantenha actualizado. O Plano Individual de Intervenção deverá servir de base à elaboração posterior dos Planos Individuais de Cuidados por cada área profissional de intervenção. O PII deverá ser parte integrante do Processo Clínico do utente. Esta é uma metodologia que pode ser utilizada por qualquer interessado e deverá ser adaptada

consoante as necessidades, quer do utente/família quer da equipa interdisciplinar. Que a todos possa ser útil! Bom trabalho!

Nelson Manuel de Lima Ferreira (Diretor Técnico da Unidade de Longa Duração e Manutenção) Bibliografia

http://es.wikipedia.org/wiki/Rehabilitaci%C3%B3n_Psicofuncional Rede Nacional Cuidados Continuados Integrados - Manual do Prestador – Recomendações para a Melhoria Contínua - http://www.umcci.min-saude.pt/SiteCollectionDocuments/UMCCI-RNCCI_Manual_do_Prestador.pdf Escala de Barthel http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/2503/5/%C3%8Dndice%20 de%20Barthel.pdf http://www.cdi.ensp.unl.pt/docbweb/multimedia/rpsp2007-2/05.pdf Escala Mini Mental State (MMS) https://ubithesis.ubi.pt/bitstream/10400.6/1515/2/Anexo%201-%20Teste%20do%20Mini%20Mental%20State. pdf http://pt.wikipedia.org/wiki/Mini_exame_do_estado_mental


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Novas consultas no Hospital António Lopes

Alergias A

s doenças alérgicas são cada vez mais frequentes em todo o mundo. Portugal não é exceção, estimando-se que mais de 2 milhões de residentes no nosso país apresentem alguma forma de doença alérgica, variando de formas agudas a crónicas e de quadros clínicos ligeiros a muito graves. A doença alérgica pode ocorrer em pessoas de qualquer idade.

• O que é a alergia?

É uma resposta desadequada do sistema imunológico contra agentes geralmente inofensivos, que leva a lesões de tecidos ou orgãos, originando assim, doença alérgica. Os agentes que mais frequentemente causam alergias são os ácaros do pó da casa, os pólenes, o pelo de cão e de gato, os fungos, os alimentos e os medicamentos.

• Como se manifestam as alergias? As alergias podem manifestar-se de várias formas, as mais frequentes são:

ASMA BRÔNQUICA RINITE

Sinais e Sintomas: falta de ar; pieira (“gatinhos” no peito ou “chiadeira”); tosse seca; sensação de aperto no peito. Sinais e Sintomas: espirros e secreções nasais frequentes; nariz “entupido”; comichão no nariz.

DERMATITE ATÓPICA (OU ECZEMA )

Sinais e Sintomas: comichão na pele; lesões de eczema na pele, sobretudo na face e nas flexuras dos joelhos e cotovelos; pele avermelhada e/ou seca e com descamação.

DERMATITE DE CONTACTO

É causada por contacto da pele com determinada substância que vai causar lesão no local de contacto. Um exemplo frequente é a dermatite de contacto nas orelhas causada por brincos de “fantasia”.e/ou seca e com descamação.

URTICÁRIA e ANGIOEDEMA

Sinais e Sintomas: “borbulhas” ou vergões vermelhos elevados e comichão na pele ocasionalmente acompanhados de “inchaço” a que chamamos edema.

ALERGIA ALIMENTAR

As alergias alimentares são mais frequentes nas crianças e os alimentos que mais frequentemente causam alergias são o leite e o ovo. Nos adultos é frequente a alergia a marisco, frutos secos e peixe.

ALERGIA MEDICAMENTOSA ALERGIA A VENENO DE INSETOS (ABELHAS, VESPAS)

A alergia medicamentosa é mais frequente nos adultos e geralmente é causada por antibióticos, como a penicilina. Alguns doentes tem uma reação mais grave à picada de insetos, podendo manifestar-se com urticária, falta de ar, sensação de aperto na garganta, vómitos, desmaio, entre outros sintomas. Estes doentes correm risco de vida e devem ser orientados para a especialidade de Alergologia.

EU+: Uma vida sem fumo

A

nicotina é uma das substâncias que mais dependência causa no nosso organismo. Por isso, apesar das múltiplas e graves consequências do tabaco sobre a saúde e das inúmeras campanhas de sensibilização, a maior parte dos fumadores sente enormes dificuldades em deixar de fumar e mantém este vício. Mais de 95% dos fumadores gostaria de deixar de fumar mas apenas alguns destes efetivamente o tentam. Isto acontece pelo receio dos sintomas de abstinência, pelo stress quotidiano que não permite a criação de um espaço propício à mudança deste hábito e por uma miríade de outras justificações que mantêm o fumador nessa situação durante anos e anos. Deixar de fumar torna-se assim um desejo para amanhã, um amanhã que nunca chega e a procura de uma vida plena sem tabaco é consecutivamente adiada. Por outro lado, dos indivíduos que fazem uma tentativa para deixar de fumar sem qualquer tipo de apoio, apenas 5% alcançam a abstinência de forma sustentada no tempo. Na verdade, são vários os métodos promovidos para ajudar a pessoa a deixar de fumar mas apenas alguns demonstram eficácia em

estudos científicos de qualidade. É o caso dos atuais medicamentos antitabágicos, por exemplo, cuja taxa de sucesso ronda os 20%, uma taxa ainda assim bastante aquém do desejado. Se de alguma forma se revê nesta situação, o programa EU+: Uma vida sem fumo é a ferramenta especificamente criada para o ajudar. Desenhado cuidadosamente, integra o melhor conhecimento científico num programa médico, centrado na aplicação de abordagens combinadas com recurso a medicamentos e psicoterapias específicas que, desta forma, possibilitam atingir taxas de sucesso efetivamente mais elevadas. O programa EU+: Uma vida sem fumo dispõe adicionalmente de alternativas terapêuticas pensadas para pessoas que por múltiplas vezes tentaram deixar de fumar mas que infelizmente recaíram. Por considerarmos que o vício de fumar compreende uma componente biológica e uma componente psicológica, o programa EU+: Uma vida sem fumo utiliza uma abordagem personalizada que procura perceber as especificidades de cada

fumador e implementar estratégias terapêuticas eficazes tanto numa perspetiva biológica como psicológica. O objetivo principal é claro e apenas um: uma vida a 100%, sem tabaco. No EU+: Uma vida sem fumo, o que lhe propomos é um programa médico sério, eficaz e inovador que leva até si o melhor que a ciência tem para oferecer. Se está motivado para deixar de fumar escolha o Eu+ e desfrute de Uma vida sem Fumo!


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Unidade de Convalescença

Emoções e afetos em cuidados de saúde C omo enfermeira na unidade de Convalescença da Póvoa de Lanhoso, senti necessidade de transmitir à população o ambiente que aqui se vive, assim como relatar momentos prazerosos e de enorme satisfação pessoal e profissional. Nesta unidade, na qual exerço funções há 7 anos e seis meses reflito e analiso o trabalho desenvolvido pela equipa interdisciplinar, que se traduz na recuperação funcional e cognitiva do utente e glorifica o profissionalismo da equipa. Quando o utente chega à unidade são-lhes dadas as boas vindas pela equipa. Inicia-se assim todo o processo de recuperação, com humanização dos cuidados e respeitando cada individualidade, tendo como meta a aquisição de máxima autonomia nas suas atividades de vida diárias e a sua reinserção social após a alta. Durante a sua “mini estadia” com a duração de 30 dias, é desenvolvido um trabalho conjunto não só para vencer as dificuldades, mas também para elogiar e aplaudir os ganhos obtidos. Durante este percurso, todo o ambiente desta unidade é propício à criação de laços de afeto, empatia e de boa disposição. Como devem entender, neste período há momentos de riso, de ânimo e brincadeira, mas também existem outros de saudosismo e impaciência. Cabe-nos discernir qual o estado de espirito dos utentes no momento, e em função disso adequar a nossa atuação. Como enfermeira da unidade, orgulho-me em dizer que lutamos todos os dias pela autonomia do utente, para que este seja capaz de retomar a sua vida com qualidade, sem que se sinta excluído ou desvalorizado pela sociedade por alguma limitação física ou cognitiva causada pela doença. O convívio social tem especial enfase na Convalescença da Póvoa de Lanhoso, porque para além de se tratar de uma necessidade constante para o bem-estar físico e psíquico, também é agente promotor de novas amizades não só com outros utentes, mas também com os elementos da equipa interdisciplinar. Convenhamos, que a relação humana ideal é aquela que se cimenta na empatia e afasta as pessoas do isolamento do contato social. Na minha perspetiva o isolamento tende a adoecer-nos e isto é tudo o que os nossos utentes não precisam… Pela minha experiência concluo, que um utente que procure o convívio ou que pelo menos não se afaste dele, tem melhorias mais rápidas e a sua boa disposição prevalece, quando comparado com outros utentes que se remetam ao seu quarto. A filosofia desta unidade tende a promover o convívio e camaradagem, propiciando a criação de novas amizades, que frequentemente perduram para além do internamento. Os utentes para além de manterem contacto após a alta, também nos visitam especialmente nas épocas festivas, mimando-nos frequentemente com um docinho ou com um simples “Olá”. Estes gestos de afeto e carinho para além de nos comover, dão-nos força, coragem e faz-nos crer que os nossos esforços não são esquecidos e têm reconhecimento vitalício. Poderia dizer que nesta unidade só há risadas, mas estaria a mentir. Há sempre alguém mais triste, um ou outro dia, a quem devemos dar especial apoio. Seria ilusório camuflar estes momentos, até porque ninguém iria crer que se ria de dia e de noite, todos os dias…. Confesso que um “comprimido de ânimo” faria “milagres” porque observamos esporadicamente, utentes avassalados pelo desânimo até na realização de atividades simples, pequenas e pouco morosas. Estes utentes assumem-se inúteis e não acreditam nas suas capacidades e potencialidades. Cabe-nos a nós, equipa interdisciplinar, usar de força anímica e de boa disposição capaz de despertar o interesse da pessoa para as atividades simples do dia a dia, levando-a a participar connosco na realização das atividades lúdico-recreativas, nomeadamente no atelier de música, na elaboração/observação de trabalhos artesanais, nas festas alusivas á época

do ano, promovendo assim o convívio entre utentes. Como refere Alfred Montapert: “ A boa disposição é o grande lubrificante da roda da vida. Torna o trabalho mais leve, reduz as dificuldades e mitiga os infortúnios. A boa disposição dá um poder criador que os pessimistas não conseguem ter. Uma disposição alegre, esperançosa e otimista tornam a vida mais suave, alivia a sua inevitável monotonia e amortece os solavancos da estrada da vida”. Não obstante destas dificuldades, tentamos conservar e promover a força de vontade e o estado anímico da pessoa com base em emoções e afetos, uma vez que esta adere de forma mais efetiva às atividades de reabilitação e tende a recuperar mais rapidamente quanto mais motivada e acarinhada se sentir. Os resultados positivos que obtemos devem-se ao bem-estar e conforto que os utentes têm nesta unidade, fazendo dela a sua própria casa. Há um caso particular que faço referência, relativa ao fácies de admiração de um utente que não sabia o que era ser acarinhado e apoiado por alguém que o respeitasse como pessoa, independentemente das dificuldades económicas, pelas quais se sentia inferiorizado. É igualmente comovente, o momento da alta, ao observar o utente a deambular pelo próprio pé, com um sorriso desmedido ao lado do seu ente querido, com as lágrimas nos olhos e com agradecimentos infinitos, dizendo “Nunca vos esquecerei e se me trouxerem, volto cá! ”. Estas atitudes e comportamentos retratam o ambiente familiar aqui vivido. Satisfaz-me e realiza-me como enfermeira obter o reconhecimento do utente e familiares, que louvam o nosso trabalho vinte e quatro horas por dia, admiram os sacrifícios, a paciência e dedicação em prol do bem-estar físico, mental e espiritual da pessoa que cuidamos. Recordo-me e ainda me comovo, quando relembro o Sr. António (nome fictício), que ao entregar-lhe a carta de alta questionou-se: “ Menina enfermeira, tenho mesmo de me ir embora desta família que me ajudou mais num mês que a minha outra família ao longo da minha vida?” Naquele momento fiquei sem resposta e tentei contornar a situação e dar-lhe a resposta sem que esta fosse fria e o magoasse. A nível pessoal e profissional sinto-me realizada ao saber que fiz o melhor que sabia e podia para ajudar o outro, tal como desejo ser ajudada no futuro, quando precisar de alguém dedicado com uma boa “dose de perseverança e de bom humor” e de preferência que me deixe com a lágrima no olho na despedida. Poderia continuar a escrever e a relatar muitos outros acontecimentos que me comoveram e me continuam a surpreender, mas alguns são de difícil descrição, que só os vivenciando é- lhes dado o apreço que lhes é dedicado e merecido.

Cláudia Sofia Costa (Enfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilitação)

ULDM D. Elvira da Câmara Lopes

O DESAFIO DA VIDA: CUIDAR DO FIM V

ivemos numa sociedade que nega a morte (Barchifontaine, 2002), a qual se encontra envolvida na procura do conhecimento e do ir mais além, do aumento da esperança de vida, do envelhecer de um modo mais saudável e do prolongar da vida. Todos os dias vamos adiando o pensar da nossa própria finitude, o que não deixa de ser adaptativo e funcional, no entanto, a morte tal como a vida é coisa que mais certa temos que um dia vai chegar e é por ser finita e única que a vida é especial. Tal como a vida a morte tem de ser encarada com naturalidade, pois é ela que orienta a nossa vida e lhe confere o seu sentido. O modo como encaramos e lidamos com a morte depende de vários fatores (culturais, sociais, religiosos, políticos, pessoais, etc.), no entanto, de um modo geral, hoje cada vez mais partimos sós e junto daqueles que cruzaram o nosso caminho já no fim. Nascemos rodeados de pessoas, familiares, felicidade e união, e partimos junto daqueles que se dispõem a estar junto de nós. Com o avançar da medicina, novos desafios se avizinham: o envelhecer, as doenças degenerativas; a sobrevivência nas doenças crónicas, o que leva ao surgimento de novas

insfraestruturas em resposta a estes avanços e o definir de novas políticas e medidas de apoio. Hoje o doente, por forma a controlar o seu fim, pode em consciência tomar algumas decisões sobre procedimentos (diretivas antecipadas de vontade- testamento vital)*, isto significa uma mudança e uma transição de paradigma, ainda que muito no seu iniciar. Tal como a vida a morte é um momento de grandeza, ainda que imbuída de sofrimento, perda e dor. Cuidar daqueles que se encontram em fim de vida implica estar à sua altura, proporcionar qualidade de vida, controlar a dor e seu sofrimento, partilhar a vida e o seu fim, partilhar silêncios, revoltas, frustrações e limites, encontrar sentidos, vitórias, crescimentos e caminhos. A pessoa que se encontra em fim de vida “…pode experimentar medos e angústias variados: medo do processo envolvente da morte, medo da dor, do isolamento, da solidão, do desconhecido, angústia pela perda do controlo da situação e pelo futuro dos seus. Nesses momentos, quando tantas coisas perdem valor, as necessidades afetivas assumem um relevo especial. Sentir-se então apreciado, respeitado, seguro, ter pessoas próximas em quem confiar e a quem comunicar as emoções, temores e desejos é extrema-

NOTA: * Lei N.º25/2012, de 16 de julho, publicada em Diário de Republica n.º 136- I Série

mente importante.”. (Elizari, 1996, p.181) O momento da partida, leva ao surgimento do sentimento de urgência sentido, em que a pessoa sente a morte a aproximar-se e, por tal, não tem tempo a perder, ou seja a necessidade de se “expor completamente ao mundo, antes de desaparecer” (Michel de Múzan, 1977), pelo que necessita de recipricidade. (Hennezel, 1997) O aproximar da morte de uma pessoa querida causa sofrimento aos familiares, agravado por uma série de medos e sentimentos, que vão vivenciando ao longo de todo o processo: o avançar da doença, a degradação física do doente, o sentimentos de impotência, o sofrimento físico e moral e o medo de não conseguir controlar as suas emoções junto dele. A família pode não ser considerada fonte de doença, mas influencia a sua evolução, agravando ou melhorando o estado de saúde do doente, (Hanson, 2005). Tal como refere Kubler- Ross (1998) “aqueles que tiverem a força e o amor para ficar ao lado de um paciente moribundo, com o silêncio que vai além das palavras saberão que tal momento não é assustador nem doloroso, mas um cessar em paz do funcionamento do corpo. Observar a morte em paz de um ser

humano faz-nos lembrar uma estrela cadente. É uma entre milhões de luzes do céu imenso, que cintila ainda por um breve momento para desaparecer para sempre na noite sem fim.” A prestação de cuidados ao doente em fim de vida, é uma missão e um desafio, tal como refere Freud, é “entregando-nos que nos obtemos completamente”. Esgotamo-nos menos se nos entregar-mos, do que protegendo-nos por trás de uma atitude defensiva (Hennezel, 1997).

Cristiana Lopes (Psicologa da ULDM D. Elvira da Câmara Lopes)


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Valências sociais

Projeto “Herois da fruta”

N

ão comer fruta em quantidade suficiente tem efeitos negativos para a saúde das crianças: dificulta o bom funcionamento dos intestinos, provoca alterações nos níveis de energia e de concentração, bem como diminui as defesas do organismo, tornando-as mais sujeitas às doenças. É urgente educar as crianças do presente para um futuro cada vez mais saudável. A OMS recomenda que se consumam diariamente pelo menos três porções de fruta e, desta forma, podemos ajudar a prevenir a obesidade infantil. São vários os estudos que indicam que Portugal ocupa um dos primeiros lugares da obesidade e excesso de peso infantil na Europa. Os resultados do estudo COSI (Sistema

Europeu de Vigilância Nutricional Infantil) de 2008, realizado em Portugal pelo INSA (Instituto Nacional de Saúde) mostram que “apenas 2% das crianças portuguesas até aos 10 anos ingere fruta fresca diariamente e mais de 90% consome fast-food, snacks e bebidas açucaradas pelo menos 4 vezes por semana”. A fruta deve ser uma peça fundamental numa alimentação saudável e deve ser consumida diariamente mas muitas vezes ouvimos frases “Não gosto!” ou “Não quero!” por isso decidimos abraçar este projeto “Heróis da Fruta”. Este projeto tem como objetivos principais motivar as crianças para a importância do consumo de fruta diário, conhecer a importância da fruta na alimentação e na manutenção da saúde, encorajar as crianças a orgulharem-se de praticar uma alimentação saudável e variada e sensibilizar os pais e a comunidade local para os benefícios de praticar hábitos mais saudáveis. A prevenção é um dos melhores remédios e educar é, sem dúvida, uma forma de prevenir. A Lei-Quadro da educação pré-escolar estabelece como principio geral que “a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da ação educativa da família”. Nos dias de hoje é fundamental ensinar às crianças importantes lições sobre alimentação saudável. Esses ensinamentos/motivações podem e devem começar no Jardim de Infância e ter uma continuidade em casa e desta forma envolver e partilhar com os pais todo o processo educativo. Realizamos algumas atividades para conhecermos a diversidade de frutas que existem, os diferentes sabores que têm,

as suas cores, os cheiros, as texturas entre outras questões que possam surgir. Numa primeira fase tentamos motivar as crianças para comerem mais fruta, criamos um quadro “Hoje Comi Fruta” e sempre que cada criança come fruta pinta uma estrela. Fizemos espetadas de fruta, com frutas que as crianças trouxeram de casa e desta forma conhecemos e saboreamos diferentes frutas. Fizemos um gráfico onde ficou registado as frutas que as crianças mais gostam. Criamos um “Hino da Fruta”, com uma letra da nossa autoria que fala sobre a importância das frutas. Exploramos a história “A lagartinha Muito Comilona”. Uma história que fala sobre frutas, a sua importância e o que acontece quando comemos muitas guloseimas. Exploramos e construímos uma roda dos alimentos com alimentos que as crianças encontraram nos panfletos dos supermercados e posteriormente picotaram. Estas são apenas algumas atividades que realizamos e que envolveram, de uma forma muito positiva e gratificante, as crianças e os seus familiares. Os resultados que obtivemos são muito positivos, as crianças começaram a comer mais fruta em casa.

Sónia Barros (Educadora de Infância)

Avós e netos: Uma relação de afetos “

Sou um avô. Infinito em sua paternidade. Indivíduo anárquico, ao ponto de mostrar às crianças o augusto armário onde se guardam os doces. Na alma, um astro imenso e, na minha mão pacífica, uma pequenina mão (...)

A

s famílias têm passado por mudanças importantes na sua estrutura e função como efeito das recentes transformações socioculturais e históricas nas sociedades ocidentais. A esperança média de vida tem vindo a aumentar ao longo do tempo. Esse aumento deve-se a determinados fatores nomeadamente: a melhoria da assistência médica, medicamentos e hospitalar; a melhoria na alimentação; a ampliação de conhecimentos sobre a importância da higiene e das condições sanitárias; a melhoria das condições de trabalho; o alargamento dos sistemas de proteção social assim como a igualdade de direitos. Deste modo, o fenómeno do aumento da longevidade é um dos aspetos que colaboram para as modificações na família, influenciando os relacionamentos entre as gerações e diversificando as funções do idoso na dinâmica familiar. Essa nova realidade pode levar as pessoas a experimentarem por um período mais longo o papel de avós e a terem um convívio mais íntimo com os seus netos. O estatuto dos avós na família e na sociedade, e a relação destes com os netos, sofreu alterações ao longo do tempo, motivo pelo qual apresentar uma pequena reflexão sobre o papel dos avós na sociedade atual tem grande importância. Quem são os avós do nosso tempo? Os avós, no século XXI, são-no cada vez mais jovens, têm mais cedo a experiência de serem avós, quando ainda são bastante ativos, possuem mais tempo livre, grande experiência e uma boa capacidade de dar e de aprender.

fletem numa alteração dos papeis sociais e familiares dos avós. Efetivamente, nos nossos dias os avós são frequentemente os substitutos dos pais: a tempo inteiro ou não, em situação de desestruturação familiar, na sequência de divórcio, acidente, emigração, uso de drogas ou problemas emocionais das mães e, algumas vezes, em situação de maternidade na adolescência. Existem ainda aqueles que se encontram geograficamente afastados da residência dos netos, os que, por motivos de doença se encontram impossibilitados de contacto regular com os netos ou aqueles cujos netos frequentam, desde muito cedo, equipamentos de apoio à infância (creches, jardins de infância ou CATL’s). Com alguma frequência encontramos avós que constituem ainda uma ajuda importante ao orçamento familiar, contribuindo para suportar as despesas mais diversas.

No que diz respeito às vantagens do contacto intergeracional entre avós e netos, é importante reconhecer que o bem-estar psicológico, a qualidade de vida, o nível de satisfação com a vida e a saúde alcançada pelos avós, são positivamente afetados pela relação com os netos. As duas gerações influenciamse e educam-se mutuamente. No contacto com os netos, os avós encontram um sentimento de continuidade e de esperança, um sentido para a própria existência, uma felicidade indescritível, uma troca de afetos, de saberes e de experiências. Os netos podem ser agentes muito importantes no “combate” à solidão, sentimento que frequentemente ameaça e assusta os nossos idosos. O papel dos avós na família vai muito além dos mimos dados aos netos, e muitas vezes eles são o suporte afetivo e financeiro de pais e filhos. Por isso, se diz que os avós são pais duas vezes. Contudo, o papel dos avós altera muito conforme olhemos o meio rural ou o meio urbano, a família trad icional ou as modalidades resultantes dos novos tipos de família, esse papel é ainda influenciado pela configuração demográfica da população e pelos valores sociais. Tradicionalmente, associamos o avô à figura brincalhona, disponível e permissiva. A avó, à mulher que respeita e cuida com sentimento maternal. As últimas décadas ficam marcadas por profundas alterações sociais e familiares, as quais, inevitavelmente, se re-

No que se refere aos netos, estes beneficiam da disponibilidade dos avós, que valorizam a alimentação saudável e as refeições tomadas a horas certas, impulsionam a autonomia nas rotinas do quotidiano, estimulam a atividade física ao não delimitarem zonas de interdição na casa, permitem e favorecem as brincadeiras no exterior, no quintal e na natureza, desenvolvem a relação no dia a dia com muita comunicação e afetividade. Esta disponibilidade dos avós, traduz-se num tempo de qualidade para ensinar, brincar e amar num contexto favorável à socialização para o envelhecimento, na aprendizagem de valores como a amizade, a tolerância, o respeito pelo outro, no contributo inestimável para a formação e para a estruturação da personalidade da criança. Esta aproximação entre avós e netos é uma oportunidade única de cumplicidade entre gerações e de aprendizagens de novos saberes e de novas competências num encontro de tempos e de experiências diferentes unidos pelo mais verdadeiro dos sentimentos – o amor dos avós, duas vezes pais, pelos seus netos! A tarefa dos avós baseia-se em brincar, divertir-se, dar e consentir de vez em quando, embora também sejam responsáveis por transmitir a história da família e suas memórias. Eles são impercindíveis na partilhar de histórias, anedotas, fotos e recordações que vão passando de geração em geração. E isso é muito importante para a criança, porque através disso ela saberá tudo o que aconteceu antes do seu nascimento e do dos seus pais. O vínculo entre avós e netos deve ser protegido, cuidado e alimentado, já que sua presença é fundamental na vida das crianças.

Isabel Sousa (Assistente Social/ Diretora Técnica do CATL S. Nicolau) Bibliografia consultada:

- GONZAGA, A. & CRUZ, O. (2000). A perceção dos avós acerca das suas relações intergeracionais. Infância e Educação: investigação e práticas. Porto: GEDEI - SOUSA, L., FIGUEIREDO, D. & CERQUEIRA, M. (2004). Envelhecer em família. Porto: Ambar - SEGALEN, MARTINE (1999). Sociologia da Família. Lisboa: Terramar


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Press Release

Comissão de utentes das Valências seniores O

s idosos são membros capazes e vitais da nossa sociedade, transmitem conhecimento, competências e experiência para as próximas gerações. Contribuem, individualmente e em conjunto, para a nossa economia, para as nossas comunidades e para a transmissão da nossa história. No âmbito de uma melhoria contínua da qualidade dos serviços que prestamos aos nossos utentes, está a ser implementada nesta Santa Casa uma Certificação da Qualidade dos Serviços Sociais (EQUASS Assurance). Esta certificação é um sistema de reconhecimento, garantia e controlo da qualidade nos serviços sociais. Permitindo às organizações que prestam serviços no setor social envolverem-se num processo de certificação externo, de reconhecimento a nível Europeu, através do qual asseguram a qualidade dos seus serviços junto dos clientes (utentes/pessoas servidas/utilizadores). No sentido de as Valências Séniores envolverem os seus clientes (utentes/pessoas servidas/utilizadores) como participantes ativos no planeamento, avaliação e processo de diálogo estruturado e contínuo da gestão dos serviços, incluindo a definição das necessidades, a definição dos serviços e a avaliação da qualidade, está a ser implementada uma Comissão de Utentes das Valência Séniores, desta Santa Casa. Esta Comissão será constituída por elementos das Valências Seniores: Lar S. José, Serviço de Apoio ao Domicílio e Centro Dia. Estes elementos são eleitos por votação, anualmente, e que se proponham para integrar esta comissão. Esta comissão tem por objetivo conceder aos utentes das Valências Séniores uma estrutura formal que lhes permita verbalizar as suas necessidades, vontades e expectativas, criar a oportunidade de apresentarem sugestões e/ou reclamações, desenvolver um espaço de partilha de todos os assuntos relevantes. Pretende-se através desta comissão obter Indicadores sobre: avaliação e planeamento das necessidades/serviços, bem como sugestões sobre atividades implicando sempre a participação ativa dos seus utentes/utilizadores na construção dos seus objetivos, ideias e sonhos.

A nossa vida em grande parte compõe-se de sonhos. É preciso liga-los à ação.

Anaïs Nin

Martine Ferreira (Diretora Técnica do Lar de S. José) | Salomé Alves (Diretora Técnica do Serviço de Apoio)


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santa casa

Santa Casa aprova, por unanimidade,

Relatório de Atividades e Contas de 2013

O

s Irmãos da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso aprovaram por unanimidade o Relatório de Atividades e Contas referente a 2013. De acordo com os documentos apresentados pela Mesa Administrativa liderada pelo Provedor Humberto Carneiro, a Instituição terminou o exercício do ano em análise com um resultado líquido positivo superior a 148 mil euros fruto, essencialmente, dos resultados obtidos no Hospital António Lopes que, progressivamente, se tem vindo a impor como a principal valência de rendimento.

A Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso contou, em 2013, com um conjunto de condicionantes estruturais externas que determinaram e potenciaram a sua ação nos seus diferentes domínios de intervenção, das quais se relevam: a) Os elevados níveis de desemprego e as consequentes dificuldades financeiras originaram comparticipações mais baixas das famílias e uma consequente diminuição da receita. b) O aumento significativo das situações de pobreza e exclusão social determinou um maior número de solicitações de apoio por parte da comunidade. c) O aumento da esperança média de vida e um crescendo significativo dos números da população idosa resultou no aumento da procura das diferentes respostas para a terceira idade, numa fase em que as famílias deixam de ter condições para cuidar deles. d) O aumento do número de povoenses que procura na Misericórdia respostas sociais. Seja através da cantina solidária, seja do programa de apoio alimentar. Isto é o resultado das fragilidades que muitas famílias povoenses atravessam, resultantes, em grande medida, da falta de emprego.

No entanto, muitos foram os que continuaram a honrar com a sua solidariedade e a sua cidadania canalizada para a nossa instituição, demonstrando, dessa forma, a sua confiança no nosso trabalho. E essa confiança, aliada à implementação de uma gestão de rigor, permite-nos apresentar, hoje, resultados muito positivos. Apesar dos diferentes condicionalismos, a instituição deu continuidade à prestação do seu serviço proporcionando aos utentes todos os cuidados com a mesma qualidade e rigor. Para além disso foram proporcionadas as habituais atividades de lazer e carácter lúdico/criativo, que potenciam o bem estar físico, mental e criativo dos nossos utentes. Em termos de atividades de destaque, podemos afirmar que 2013 se destaca por:

1. Em 2013 deu-se continuidade na missão de manutenção de uma política de qualidade da gestão, visando a melhoria contínua do desempenho da instituição. A certificação de qualidade obtida através da ISO 9001 desde 2005, está agora a ser complementada com uma certificação EQUASS. A marca EQUASS está direcionada para a realidade dos serviços sociais, visando reorganizar e modernizar a prestação dos serviços, adequando-os às mudanças profundas verificadas no setor dos serviços sociais na Europa. Assim, e no momento atual de contenção, rigor e austeridade económica em que os apoios financeiros escasseiam, torna-se imperioso aperfeiçoar os sistemas e práticas de gestão e promover a atualização dos serviços prestados, reforçando em todos os serviços da Misericórdia práticas sistemáticas de autoavaliação dos resultados alcançados e de ações de melhoria de forma a reforçar o desempenho organizacional. O grande desafio foi este mesmo. Um maior enfoque na orientação para os resultados e para a melhoria contínua, o que nos permite aperfeiçoar permanentemente a nossa intervenção e saber exatamente em que ponto estamos, o que queremos alcançar e o que precisamos fazer para alcançar o nosso objetivo de acordo com a nossa Missão.

2. Em termos de obras, o ano de 2013 caracterizou-se, ainda, pelo elevado investimento na manutenção dos edifícios e equipamentos da Misericórdia. São visíveis as benfeitorias introduzidas em algumas valências, onde destacamos o Lar de S. José. Relativamente à remodelação e ampliação do Hospital António Lopes está a agora decorrer concurso público para adjudicação da referida empreitada. Quanto ao projeto de remodelação do Lar de S. José, encontra-se aprovada a arquitetura pela Câmara Municipal estando agora em fase de elaboração de projetos de especialidade.

Em suma, pode-se afirmar, que com o espírito de missão que norteia a gestão desta instituição quase secular, vamos conseguindo levar a bom porto o nosso barco cumprindo com a nossa missão e dando resposta aquilo que são as debilidades da comunidade que nos envolve e para a qual existimos. Nesta Assembleia Geral foi também aprovada a proposta de alienação de alguns bens imóveis bem como de conferir à Mesa Administrativa todos os poderes necessários para outorgar, nos termos das condições que entender, as respetivas escrituras públicas de compra e venda. Esta Assembleia Geral realizou-se no dia 21 de março, pelas 20h45 horas, no Salão Nobre do Lar de São José.


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farmácia

Cancro Da Pele e Sua Prevenção O

cancro é a proliferação anormal de células. O cancro tem início nas células; um conjunto de células forma um tecido e, por sua vez, os tecidos formam os órgãos do nosso corpo. Normalmente, as células crescem e dividem-se para formar novas células. No seu ciclo de vida, as células envelhecem, morrem e são substituídas por novas células. Algumas vezes, este processo ordeiro e controlado corre mal: formam-se células novas, sem que o organismo necessite e, ao mesmo tempo, as células velhas não morrem. Este conjunto de células extra forma um tumor. Nem todos os tumores correspondem a cancro. Os tumores podem ser benignos ou malignos. Os tumores benignos não são cancro. Os tumores malignos são cancro.

Tipos de cancro da pele não-melanoma Os cancros de pele são designados de acordo com o tipo de células que se tornam cancerígenas. Os dois tipos de cancro de pele não-melanoma mais comuns são o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular ou pavimentoso ou epidermoide. Este tipo de carcinomas tende a aparecer na cabeça, na face, no pescoço, nas mãos e nos braços, as áreas mais expostas ao sol. Porém, o cancro de pele pode surgir em qualquer parte do corpo.

O melanoma O melanoma é o tipo de cancro da pele mais grave. Em Portugal surgem, anualmente, cerca de 700 novos casos de melanoma maligno.Tem início nas células da pele, os melanócitos. Para perceber o melanoma, é útil conhecer a pele e os melanócitos: qual a sua função, como crescem e o que acontece, quando se tornam cancerígenos.

Melanócitos e sinais Os melanócitos produzem melanina, o pigmento que dá à pele a sua cor natural. Quando a pele é exposta ao sol, os melanócitos produzem mais pigmento, fazendo com que a pele bronzeie, ou seja, escureça. Por vezes, surgem umas proeminências de grupos de melanócitos e de tecido circundante, chamados sinais. Os sinais são muito comuns. A maioria das pessoas tem 10 a 40 sinais. Os sinais podem ser rosados, castanhos claros ou escuros, ou de uma cor muito parecida com o tom normal da pele. As pessoas de pele escura tendem a ter sinais escuros. Os sinais podem ser achatados ou volumosos. São, geralmente, redondos ou ovais e mais pequenos do que a borracha de um lápis; podem estar presentes desde o nascimento ou aparecer mais tarde – geralmente antes dos 40 anos. Tendem a desaparecer nas pessoas mais velhas. Quando os sinais são removidos cirurgicamente, normalmente não voltam a aparecer. O melanoma surge quando os melanócitos (células pigmentares) se tornam malignos. A maioria das células pigmentares encontra-se na pele; quando o melanoma tem início na pele, a doença chama-se melanoma cutâneo. O melanoma pode, também, ocorrer nos olhos (melanoma ocular ou melanoma intraocular). O melanoma raramente surge nas meninges, no aparelho digestivo, nos gânglios linfáticos ou noutras áreas onde há melanócitos. Os melanomas com origem noutras zonas, que não a pele, não serão aqui abordados. O melanoma é um dos tipos de cancro mais comum. A probabilidade de desenvolver melanoma aumenta com a idade, embora a doença afete pessoas de todas as idades. Pode ocorrer em qualquer superfície da pele. Nos homens, o melanoma encontra-se, muitas vezes, no tronco (zona entre os ombros e as ancas), ou na cabeça e pescoço. Nas mulheres, desenvolvese muitas vezes na zona inferior das pernas. A ocorrência de melanoma, na raça negra e noutras raças com pele escura, é rara; quando se desenvolve em pessoas de pele escura, tende a ocorrer sob as unhas dos pés e mãos, na palma das mãos ou planta dos pés.

Prevenção Proteger-se do sol. Esse é o segredo. De acordo com os dados disponíveis, na população branca , um em cada três cancros é um cancro da pele e uma em cada seis pessoas desenvolverá esta doença ao longo da vida. O excesso de exposição solar o responsável por cerca de 90% dos casos. A situação, embora não seja dramática, é preocupante, uma vez que em Portugal temos sol durante muitos dias no ano, a nossa população tem uma pele mais clara do que aparenta e mantém hábitos de exposição solar no verão de duração curta mas intensa. Qual a atitude que pode inverter este cenário? O conhecimento dos fatores de risco e a prevenção.

Esteja atento aos sinais Observe a evolução da forma e a cor dos seus sinais. A maioria das pessoas tem alguns e quase todos são inofensivos, mas é importante estar atenta às mudanças. Com frequência, o melanoma desenvolve-se a partir de um sinal já existente. Examine a sua pele ao espelho de forma regular (incluindo costas, plantas dos pés e couro cabeludo), sem medos nem alarmismos, apenas para verificar se os sinais continuam iguais e vigiar o desenvolvimento de novos.

Ana Rita Oliveira (Diretora da Farmácia da Misericórdia)



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