Santa Causa Ed.nº 26 (Fev. 2009)

Page 1

Ano X - Nº 26 - Publicação Quadrimestral Distribuição Gratuita

Medalha de Honra - Grau Ouro CMPVL - 19/03/1985

Director: Dr. Humberto Carneiro Coordenação: Mesa Administrativa Impressão: Gráfica Amares Tiragem: 8000 Design Editorial: www.tamanhoreal.com Propriedade: Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, Rua da Misericórdia, 141 - Apart. 143 4830 Póvoa de Lanhoso Pessoa Colectiva de Utilidade Pública n.º 501409084 Tel.: (+351) 253 639 030 Fax: (+351) 253 639 036

Fevereiro de 2009 Hospital António Lopes Tem nova Direcção Clínica: Dr. Vitor Coutinho explica ao Santa Causa por onde passa a estratégia referente ao hospital. Pág. 04

Avaliação de desempenho Misericórdia da Póvoa de Lanhoso avalia as competências dos seus funcionários/colaboradores Pág. 08

Jornal da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

Unidade de Longa Duração aprovada A Misericórdia da Póvoa de Lanhoso conseguiu financiamento para mais uma resposta a nível de Cuidados Continuados Integrados. O final da construção da Unidade de Long Duração está previsto ainda para este ano. O arquitecto do projecto deu conta ao “Santa Causa” de alguns pormenores da construção

Centro de Formação Já estão em curso diversas propostas que visam aumentar a qualificação da comunidade e também dos recursos internos da Santa Casa. Curso de Alfabetização arrancou, em regime de voluntariado, para ensinar adultos a ler e a escrever. Pág. 09

Av. do Forte, Nº3 Edifício Suécia I, 3º Piso, Fracção 3.35 2790-073 Carnaxide Tel: 21 424 14 25 Fax: 21 424 25 18

Pág. 03


2

Fevereiro de 2009 Santa Causa

Em destaque Hospital António Lopes

Santa Casa com Unidade de Longa Duração aprovada A Unidade de Longa Duração da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso terá 29 camas e deverá estar concluída em Outubro deste ano

A

Misericórdia da Póvoa de Lanhoso viu aprovada a sua candidatura ao Programa Modelar, destinado à atribuição de apoios financeiros por parte das Administrações Regionais de Saúde a Pessoas Colectivas Privadas e Sem Fins Lucrativos no âmbito da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), com vista à criação de uma Unidade de Longa Duração. O protocolo com a RNCCI foi assinado no dia 15 de Janeiro, numa cerimónia pública com a presença do Senhor Primeiro-Ministro, José Sócrates, em Lisboa. Em perspectiva está um investimento total na ordem de um milhão e 500 mil euros. Em termos nacionais, a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso foi a única a obter o financiamento máximo (750 mil euros). A Unidade de Longa Duração da Misericórdia terá 29 camas e deverá estar concluída em Outubro deste ano, prevendo-se com isto a criação de cerca de 33 postos de trabalho directos. As Unidades de Longa Duração prestam apoio social e cuidados de manutenção a pessoas com doença crónica, em diferentes níveis de dependência e que não reúnam condições para serem cuidadas no domicílio. Estão concebidas para períodos de internamento superior a 90 dias. A Unidade de Cuidados Continuados de Lon-

ga Duração da Misericórdia será integrada com as valências já existentes e irá responder às grandes necessidades da população da região naquele tipo de cuidados de saúde. Face à escassez de outros equipamentos similares na região e ao envelhecimento continuado da população, a Santa Casa prevê atingir uma taxa de utilização de 100 por cento da capacidade instalada no espaço de um ano, que deverá manter-se nos anos seguintes. Para a criação desta Unidade, a Misericórdia pretende remodelar e ampliar um edifício de sua propriedade, o edifício “Casa do Feitor”, mantendo a sua imagem original. A organização espacial foi estudada e definida de acordo com a legislação e regulamentos do Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais e recomendações do Ministério da Saúde sobre instalações de Cuidados Continuados. O projecto da Unidade resultou de uma candidatura ao Programa Modelar ao abrigo da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Com esta Unidade, a Santa Casa aumenta para duas as Unidades que integram a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, uma vez que tem em funcionamento uma Unidade de Convalescença, com mérito reconhecido e tendo sido apontada pela Rede como uma “unidade de referência”.

Características A Unidade de Longa Duração terá dois pisos acima da cota de soleira à semelhança da construção existente e um meio piso abaixo da cota de soleira, como aproveitamento do espaço sobrante, devido à topografia do terreno. As áreas funcionais encontram-se divididas pelos dois pisos e cave, sendo constituídas principalmente por: 19 quartos; sala de observações/tratamentos; instalações de banho assistido; gabinete médico; gabinete de enfermagem/preparação de medicamentos; ginásio/fisioterapia/terapia ocupacional; gabinete de electroterapia/reabilitação, gabinete de terapia da fala, gabinete de trabalho multidisciplinar; farmácia; depósito de cadáveres; recepção; sala de espera; gabinete de direcção; gabinete de serviços administrativos; sala de reuniões; refeitório com copa e zona de apoio; sala de convívio; instalações sanitárias diferenciadas; zonas técnicas e de apoio, como oficina e lavandaria; entrada de serviço para funcionários; vestiários diferenciados por sexos, com duche e sanitários; sala de actividades intergeracional (onde se prevê uma mais-valia e inovação, pela junção dos segmentos etários da 1ª e 3ª geração, para conviverem e partilharem experiências); cabeleireiro/podólogo; rouparia; arrumos; arrumos para materiais de limpeza; armazém de alimentos; compartimento para sujos; copas. Todos estes espaços serão equipados

com todos os equipamentos necessários ao seu funcionamento adequado, incluindo mobiliário, equipamento técnico e médico indispensável, equipamento informático, programas informáticos específicos da actividade e equipamento de telecomunicações. Para a confecção das refeições será utilizada a Cozinha Central da Santa Casa. As refeições serão transportadas em carros isotérmicos, estanques e em sistema unidose, permitindo assim um maior controlo de higiene e qualidade na alimentação. O tipo de construção que se pretende é sustentável, tanto nos aspectos de autonomia energética, como manutenção. Toda a construção terá um rigoroso sistema de segurança, a nível de incêndios, eléctrica, gases e passiva. Com um quadro de pessoal composto por 33 pessoas, das quais 17 técnicos, e com toda a experiência acumulada pela Santa Casa na gestão de unidades de saúde e de apoio social, este Projecto garante viabilidade técnica, económica, financeira e de gestão, e será um marco na região, que muito ultrapassará as fronteiras do concelho de Póvoa de Lanhoso. Com esta Unidade de 29 camas estarão desde logo supridas as necessidades identificadas pela RNCCI de 21 camas na Póvoa de Lanhoso, dando ainda resposta às necessidades de concelhos e enorme procura dos concelhos limítrofes.


3

Fevereiro de 2009 Santa Causa

O arquitecto José Tavares é o autor do projecto da Unidade de Longa Duração e deu conta ao “Santa Causa” de alguns pormenores da construção, em termos de premissas e de preocupações Como descreve o projecto? Tem duas vertentes que são importantíssimas: uma é o Programa, que tenho de cumprir, é a parte funcional; e a outra refere-se ao ter em atenção a quem se dirige e onde se insere. Para quem se dirige, neste caso, são as pessoas, até ao limite, porque são as pessoas com necessidades especiais; e o sítio onde se insere, neste caso, o “Polígono da Santa Casa”, porque ocupa o quarteirão todo e onde estão as valências, que estão interligadas, mas que, ao mesmo tempo, são distintas. Há que perceber o local e foi importante verificar o aonde e quais eram as hipóteses que tínhamos. Logo de princípio, existiu um namoro muito grande, tanto da minha parte como da parte do Provedor, em relação à “Casa do Feitor”, que é muito bonita, tem uma traça arquitectónica cuidada, equilibrada, com proporções. Em tempos, alguém ali fez um aumento, escandaloso, e eu aproveitei para demolir a parte que foi acrescentada, que não tinha qualquer cabimento. Foi uma necessidade, mas não houve cuidados urbanísticos, arquitectónicos e mesmo de qualidade construtiva…E vamos limpar essa parte. A “Casa do Feitor” serve como ponto de memória, daquilo que nos agarra à história, porque isso também é muito importante, já que, para sabermos quem somos, temos de saber de onde viemos e sabermos um pouco de história dá-nos um suporte mais fidedigno para aquilo que vamos fazer. E a “Casa do Feitor” serviu um pouco de âncora. Depois, a ligação dessa parte com a parte nova é uma zona envidraçada, neutra, que é a charneira de toda a composição e é uma parte nova, uma ala nova, que vai sustentar todo o Programa que se pretende para lá. Da “Casa do Feitor” só vamos preservar o exterior, de resto, vamos fazer uma estrutura nova que tem obrigatoriamente de estar a condizer com as necessidades contemporâneas, estamos a falar de sistemas energéticos, de isolamentos térmicos, todas as necessidades de ar comprimido, etc., da parte técnica. Para além de existir um trabalho de busca na parte estética existe também uma parte funcional e, muitas vezes, estamos delimitados por questões técnicas e não podemos crescer e temos de conseguir cumprir a legislação actual dentro de um invólucro que é a parte antiga. Mas foi um desafio? Sim, sim. Logo de início fiz uma maqueta virtual em três dimensões e fiz um pequeno filme para as pessoas começarem a habituar-se à ideia e, para mim, é importante sentir alguma cumplicidade dos utentes ao saberem que se vai construir e ao saber a reacção delas. Isso ajuda-me porque estamos constantemente a aprender. Isto foi interessante porque mais do que tudo, neste polígono da

... é importante sentir alguma cumplicidade dos utentes ao saberem que se vai construir e ao saber a reacção delas. Isso ajuda-me porque estamos constantemente a aprender.

Autor do projecto: Arquitecto José Tavares Valor total do projecto (obra + equipamentos + projectos): 1.500.000,00 euros Valor do financiamento: 750.000,00 euros Número de quartos: 19 (10 duplos e 9 individuais) Número de camas: 29 Postos de trabalho directos a criar: 33 Início: Março de 2009 Conclusão: Outubro de 2009

Santa Casa, existe uma história forte e é importantíssimo preservar algumas regras de equilíbrio, que são coisas que não se vêem, mas que se sentem, e fazer uma coisa nova qualquer arquitecto está habituado a fazer, agora fazer respeitando os outros e respeitando a envolvente já é preciso um bocadinho mais, daí a ideia de desafio.

Tentou mergulhar no espírito que envolve aquele edifício? Exactamente. Existem linhas condutoras e para mim é importante alguém olhar para o edifício e perceber que existe ali um edifício com uma história, antigo, que está acompanhado, mas que fica enquadrado. Existe o Lar de São José que tem

uma linguagem muito forte, não é prepotente, mas está a gerir aquele espaço e depois existe uma hierarquia e a “Casa do Feitor” vai um pouco nessa linha dessa hierarquia. Para além dessa harmonia externa entre os vários elementos que já existem e onde vai surgir mais um, outro dos aspectos que também me parece interessante é a noção de que estamos a trabalhar para pessoas, que vão ter características e necessidades específicas.

É um dos aspectos que teve em consideração na concepção do espaço que vai surgir? Sem dúvida, além de ser obrigado a seguir as linhas condutoras da legislação em vigor para estes equipa-

mentos, há também a preocupação de saber o que é que as pessoas lá estarão a fazer e ter um papel pedagógico. Se é uma Unidade de Longa Duração eu tenho todo o interesse em que as pessoas que lá estão, desde o momento em que já se possam levantar, sejam incentivadas a fazer pequenas deslocações, a irem ali tomar o chá, a ir ali ter com a senhora enfermeira, a andar um bocadinho… Vamos também ter cumplicidade com as outras valências, de intercâmbio cultural, já que criamos no piso 1 dois salões amplos que podem funcionar como zona polivalente para tentar conjugar a primeira idade com a terceira idade, juntar os juniores com os seniores, porque os seniores, desde que estejam minimamente activos, se tiverem alguém novo a quem contar histórias, com quem brincar, tomar conta, sentemse úteis. E o problema da nossa velhice é ser útil, é sentir que a sociedade ainda precisa um bocadinho de nós. E a primeira infância, que é uma autêntica esponja, está ávida de receber infirmação, de saber como se modela o barro, de saber como se faz uma coisinha de carpintaria, como se monta um teatrinho…E todos nós adoramos os nossos avós, porque têm predisposição para nos contar uma história…Tentar conjugar estas duas gerações é importantíssimo. Foi pensado, este papel pedagógico faz parte do papel do arquitecto.

Que outras preocupações houve? Tivemos algumas preocupações também em termos de sustentabilidade e manutenção e eu admiro bastante este Provedor por isso, ele que é uma pessoa com bastante dinamismo e visão. Pensamos principalmente no campo energético e de isolamento estar à frente daquilo que, neste momento, já é quase de vanguarda. É evidente que até onde podemos ir. Queremos ter um belíssimo isolamento, dos tectos, do chão, das paredes, dos caixilhos… Nós já estamos a prever tudo para optimizar e sermos independentes, no sentido de produzirmos aquilo que gastamos e vamos gastar pouco. Quem diz em relação a isto, diz em relação aos lixos, em relação à central eléctrica de tratamento de águas. Felizmente, temos água em abundância, mas por termos em abundância não é necessário desperdiçarmos. Neste caso, são 19 quartos, dão para 29 camas, e seriam muitos litros que se perderiam e neste momento estamos a ver se podemos utilizar uma nova metodologia, que é mais cara mas que nos permitirá poupar. Vamos ter aqui um ganho e em relativamente pouco tempo recuperar o que investimos a mais. É um conjunto de preocupações que fazem parte do papel do arquitecto e que dão sustentabilidade ao conceito de manutenção, sustentabilidade.

Editorial Dr. Humberto Carneiro

A Póvoa de Lanhoso tem vindo a sofrer grandes mutações nos últimos anos. Apesar de integrarmos uma das regiões mais jovens do país e até da Europa, a taxa de envelhecimento da população do nosso concelho tem-se vindo a agravar consideravelmente. Só na última década registou-se um aumento de 13,1% de povoenses com mais de 65 anos. O aumento da esperança média de vida das pessoas arrasta, por si só, maiores necessidades sociais e maiores dependências. Essas necessidades são constatadas diariamente pelos nossos técnicos nas diversas áreas de actuação, seja ao nível da prestação de cuidados de saúde, seja ao nível do apoio social. Foi com o objectivo de minorar esse problema das famílias povoenses que, tantas vezes, não têm condições para tratar os seus doentes dependentes, que decidimos apresentar uma candidatura ao Programa Modelar destinado à atribuição de apoios financeiros para a criação de uma Unidade de Longa Duração. Esta nova valência da nossa Misericórdia, que terá um custo global superior a um milhão e meio de euros, irá integrar a Rede Nacional de Cuidados Continuados. Trata-se de um projecto completamente novo, que propõe a recuperação e ampliação da antiga “Casa do Feitor” numa filosofia de integração harmoniosa no espaço contíguo ao Lar de S. José. A partir de Outubro próximo o “quarteirão” das valências da terceira idade ficará mais rico. A beleza do projecto e, fundamentalmente, a sua funcionalidade e utilidade, foram os condimentos necessários para que lutássemos pela sua aprovação junto do Ministério da Saúde. Este empreendimento irá exigir da Misericórdia um esforço financeiro muito grande. Mas a nossa missão filantrópica não se compadece com esse tipo de dificuldades. Temos de ter a coragem suficiente para avançar porque este equipamento irá proporcionar melhor qualidade de vida a muitos povoenses. Podem contar connosco na prossecução dos princípios que norteiam a causa misericordiana. Assim Deus nos ajude.

Misericórdia online em:

www.scmpl.pt


4

Fevereiro de 2009 Santa Causa

Em destaque Hospital António Lopes

Aceitando o convite formulado pela anterior Directora, Dra. Adília Rebelo, e pela Provedoria, por representar “uma aposta pessoal e um desafio profissional”, Dr. Vítor Coutinho assumiu essas funções por um ano, confessando que, findo esse período, será tempo de avaliar o trabalho desenvolvido e de colocar o seu lugar à disposição da Mesa Administrativa (MA) que se seguir. Para já, sublinha a necessidade de que tenha continuidade o projecto “mobilizador e motivador” que, desde há alguns anos, tem vindo a ser implementado pela MA, liderada por Humberto Carneiro. Dr. Vitor Coutinho, que é, desde Dezembro, o novo Director Clíncio do HAL, sucedendo no cargo à Dr.ª Adília Rebelo, enaltece o trabalho desenvolvido pela anterior Direcção Clínica. “As Instituições vivem de lideranças e esta liderança tem marcado estes últimos anos da Misericórdia. Isto funciona como uma motivação pessoal, por isso, considero importante que o projecto iniciado por este Provedor possa ter continuidade, criando bases sustentadas de trabalho. Isto é um apelo a que o Provedor possa continuar com estes desafios e, da parte da Instituição, sei que ele tem tido muitos apelos para continuar, no entanto, julgo que a comunidade povoense deveria sentir-se mais honrada e grata pelo trabalho brilhante desenvolvido por este Provedor em prol desta mui nobre Instituição”, refere. Para Vítor Coutinho importante é também reforçar a notoriedade do HAL, a nível externo. “Tem faltado este reconhecimento da comunidade. É importante que a sociedade se reveja na postura desta Misericórdia, despertando assim um novo olhar”.

Nova Cultura de Organização O Director Clínico está empenhado em implementar novas dinâmicas. “O Hospital tem tido um crescimento exponencial nos últimos cinco anos e exige-se uma Cultura de Organização para poder responder às solicitações”. preconiza. Esta “nova Cultura” que defende estende-se pelas vertentes assistencial, de investigação, de docência e de gestão clínica, em equilíbrio financeiro do HAL. “Pretendese olhar para o HAL como serviço empresarial sem esquecer a sua missão de dádiva ao próximo. Isso tem sido feito por este Provedor, criando lógicas e mecanismos de gestão mais actualizados e modernos que confiram uma outra solidez a este projecto”, refere. Para o responsável, a mudança de práticas e a introdução de uma nova visão estratégica do ponto de vista de Saúde, nas várias vertentes, serão desafios.

Dr. Vítor Coutinho, Director Clínico do HAL

Hospital António Lopes com nova Direcção Clínica e nova estratégia “É preciso manter uma actividade assistencial de urgência máxima e de base. As pessoas necessitam e cada vez mais de apoio efectivo numa medicina de proximidade… Mas há que esclarecer a população sobre o que se pretende em relação ao serviço de Urgência e que cada um assuma as suas responsabilidades: Centro de Saúde, HAL, Bombeiros, Câmara e as instituições que têm essa responsabilidade”

Objectivos no âmbito da Saúde. São diversificados. A vertente Assistencial diz respeito a aspectos como a promoção do Bloco Operatório, com nove camas e que tem assistido a um aumento exponencial do número de cirurgias. Haverá ainda a definição de um novo director. “Queremos estabilizar e consolidar o Bloco e introduzir uma dinâmica nova, novas áreas de intervenção, algum ajuste do ponto de vista do modelo, alguma regulamentação interna com a criação de algumas comissões”, informa Dr. Vítor Coutinho. Outro objectivo diz respeito às Consultas Externas, sendo o objectivo “estabilizar e aumentar o número de consultas, ter novas tipologias de consultas e novas áreas de intervenção médica e cirúrgica”. Estabilizar a Unidade de Convalescença (UC) também se enquadra na vertente assistencial. “A UC atingiu um patamar de excelência. O desafio vai ser permanecer neste nível elevado de cuidados e de práticas, o que exige uma reorganização dos recursos humanos, dos equipamentos e uma nova definição dos serviços estratégicos. Os próximos anos serão de consolidação deste

nível de crescimento”, garante o Director Clínico. No âmbito assistencial, há ainda os desafios próprios da Unidade de Longa Duração, com 29 camas, com o objectivo de criar uma dinâmica e um patamar de excelência à semelhança da UC; e a Clínica Social, para os doentes de Parkinson e de Alzheimer. Ambas começarão a ser construídas em 2009. Mas uma das preocupações principais do novo Director Clínico, em termos assistenciais, prende-se com o Serviço de Atendimento Permanente, as “Urgências”. “Para estas populações, é preciso manter uma actividade assistencial de urgência mínima e de base. As pessoas necessitam e cada vez mais de apoio efectivo numa medicina de proximidade. Nós temos em média 30 doentes por noite, temos também uma actividade elevada ao fim-de-semana. Damos apoio assistencial à população em situações de urgência e queremos manter e respeitar este compromisso”, sublinha. Segundo o Clínico, a Misericórdia tem apostado em introduzir melhorias no campo mé-

dico, de enfermagem e administrativo do SAP. “A nível do HAL, a Urgência tem funcionado bem e estamos receptivos a que possa estender-se também a um acompanhamento diurno, já que, entre as 08h00 e as 20h00, em dias de semana, a Urgência não é da responsabilidade da Santa Casa”, salienta o Dr. Vítor Coutinho. De acordo com o que está protocolado, o SAP funciona no HAL no período nocturno, fins-de-semana e feriados. Durante a semana, durante o período diurno, essa responsabilidade é do Centro de Saúde (CS). “No entanto tem havido algumas situações em que o CS não tem dado uma resposta efectiva, por diversas causas, e muitas dessas situações podem ser resolvidas ao nível do HAL, aliás, o relacionamento da Misericórdia com o CS, em particular com o seu Director, Dr. Ricardo Armada, tem sido saudavel e proficuo em determinadas áreas, numa altura em que se fala nalgumas reorganizações do serviço público”, refere. O Dr. Vítor Coutinho reafirma que “é importante que cada um assuma as suas responsabilidades e nós assumimos as nossas em relação ao período nocturno, de fins de semana e de feriados e estamos disponíveis para negociar com a ARS, se assim for entendido, um alargamento deste período até em situações diurnas, de dias da semana, para dar apoio efectivo às populações: temos recursos humanos e temos os meios e a população pode estar tranquila de que a Misericórdia continuará a cumprir com as suas responsabilidades. Tem é de ser exigido às entidades competentes a responsabilidade na mesma dimensão que se exige à Misericórdia”. A perspectiva de encerramento dos SAP, no quadro de uma reorganização, preocupa o Director Clínico do HAL. “Sou contra o encerramento e a perda efectiva deste apoio assistencial e desta tipologia de serviços, porque ainda não existem infra-estrutras (Ex: USF) que permitam reoganizar o modelo. E neste momento e neste contexto, penso que o encerramento seria prematuro. Aliás, o proprio governo tem esta sensibilidade ao renovar o protocolo do SAP até Dezembro de 2009”. Para o responsável, “é importante que as pessoas façam uma reflexão tendo presente o bem-estar das populações e nunca uma perda efectiva de actividade assistencial nas suas diversas tipologias. “Estou contra este encerramento a médio prazo e a Misericórdia saberá assumir, como sempre soube no passado, as suas responsabilidades”, diz. A “nova Cultura de Organização” também passa pela Investigação, nas várias valências do HAL. Perspectiva-se a criação de um Centro de Investigação e de uma Bolsa de Investigadores e já foram mesmo produzidos artigos científicos por técnicos da Unidade de Convalescença e no âmbito das Primeiras Jornadas das Misericórdias Portuguesas. Estas comunicações serão publicadas em próximas edições do “Santa Causa”. “Havia uma lacuna a nível da investigação científica própria no HAL e o que se fez foi criar algumas bases, estimular os profissionais para criar alguma reflexão e desenvolver este espírito crítico e científico em rela-


5

Fevereiro de 2009 Santa Causa

Em destaque Hospital António Lopes

Administrador-Delegado do Hospital António Lopes, Agostinho Vieira

“A integração no Projecto SINAS honra o nosso Hospital” ção ao serviço assistencial prestado”. A nível da docência, a intenção é que o HAL possa receber estagiários e docentes, numa parceria com entidades como a Universidade do Minho, o CESPU, o ISAVE, a EPAVE e outras, em áreas diversificadas. “Falamos também de actualização de conhecimentos e o Centro de Formação da Misericórdia pode ser potenciado nesse sentido”, adianta. A prestação de cuidados de saúde também poderá passar pela criação de um cluster de Gestão Clínica, aproveitando o “know how” da UC. “Esta nova Cultura pressupõe também novos desafios transversais aos vários serviços, uma nova imagem, a informatização dos serviços, uma maior responsabilidade de todos, dos recursos humanos e não esquecer que o bem mais precioso das organização são as pessoas e que as pessoas têm que ter direitos e deveres, o que é a base para o sucesso do trabalho de uma organização A motivação para este desiderato tem a ver com o esforço colectivo em prol da Instituição. Parafraseando Einstein, “Deus não joga aos dados”, realça o Clínico.

Unidade de Convalescença

“O bem mais precioso da Unidade de Convalescença - a Unidade dos Afectos - são os recursos humanos. Houve o rasgar de um modelo tradicional de áreas de intervenção para um novo modelo em que aparece o alargar de uma equipa que já era multidisciplinar, com novas áreas de intervenção e novos métodos de trabalho. Criámos dinâmicas para projectar esta Unidade a um patamar de excelência e é de sublinhar o esforço e empenho da Enfermeira Rosa Silva como figura aglutinadora da UC. Também foram criadas infra-estrutruras, áreas de intervenção, como o gabinete de auto-estima, e potenciados serviços como a terapia da fala e a terapia ocupacional. Também a nível do internamento têm sido feitos ajustes para uma melhoria contínua, a nível da qualidade. A nível da consolidação, falamos da informatização dos serviços, do reajuste de metodologias de trabalho e dos equipamentos, da consolidação dos recursos humanos, com quadros próprios mínimos, a nível médico e de enfermagem, em exclusividade, e áreas de inovação, com a investigação científica que possa ser uma mais-valia e que esse trabalho possa resultar em parcerias com Unidades de Excelência, que permita a esta continuar na senda da excelência, caminhando para a “busca do UAU”.

Quais os mais recentes investimentos que têm sido realizados no Hospital António Lopes? Para a prestação de cuidados de saúde e das demais actividades complementares, o HAL tem recorrido a constantes investimentos quer em remodelação das instalações, quer na aquisição de equipamentos, como foi o caso recente do alargamento do internamento na área cirúrgica e da aquisição de novo software, possibilitando a informatização do registo de toda a actividade clínica. Relativamente ao alargamento do internamento em cirurgia, quando foi feita esta alteração? As obras de remodelação que possibilitaram o alargamento do internamento em cirurgia, foram realizadas durante a primeira quinzena de Agosto de 2008 tendo sido efectuado um investimento na ordem dos 17.000 euros. Com que objectivos se procedeu ao alargamento do internamento em cirurgia? O alargamento teve por objecto a aumento do número de cirurgias, permitindo maior capacidade de resposta às várias solicitações, em especial aos utentes inscritos no Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia, criado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 79/2004, de 24 de Junho e que no caso do HAL abrange as intervenções nas especialidades de Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular, Cirurgia Plástica, Ginecologia, Urologia, Otorrinolaringologia, Ortopedia e Oftalmologia. Em que é que consistiu esse alargamento? O alargamento consistiu na junção de dois quartos particulares e da área do corredor que lhes dava acesso, resultando num aumento da capacidade de internamento em cirurgia, de 7 para 9 camas

Outra das intervenções foi a colocação de ar condicionado em todas as alas. Qual foi o investimento? O investimento de colocação do ar condicionado foi de 64.000 euros. Ficou concluída em Maio de 2008.

Os ciclos de implementação darão continuidade ao projecto através da introdução, em cada novo ciclo, de novas áreas médicas e indicadores de avaliação associados.

Quais os seus objectivos? O SINAS avaliará de forma objectiva e consistente a qualidade dos cuidados de saúde prestados em Portugal, com base nos indicadores de avaliação que permitirão obter um rating dos prestadores de cuidados. A sua publicação garantirá o acesso dos utentes a informação adequada e inteligível acerca da qualidaA convite da Entidade Reguladora de dos cuidados de saúde nos diversos da Saúde (ERS), o HAL aderiu ao prestadores, permitindo assim a tomada projecto SINAS. De que trata este de decisões mais informadas e promoprojecto? vendo a melhoria contínua dos cuidados O Projecto SINAS (Sistema Nacional de prestados Avaliação em Saúde) é promovido pela ERS, a quem cabe a regulação e supervisão do sector da prestação de cuidados de saúde na defesa dos direitos dos utentes. Nas suas atribuições incluem-se a observância dos níveis de qualidade dos cuidados e a garantia de segurança. Para esse efeito foi criado um sistema de avaliação da qualidade em saúde designado por SINAS. Para a execução deste projecto foram seleccionados alguns hospitais a nível nacional - 23 do Sector Público, 7 do Sector Privado e 6 do Sector Social, nos quais se integra o HAL, cuja selecção muito nos honrou, por numa selecção muito restrita poder contribuir num projecto-piloto de Avaliação Nacional em cuidados de saúde. Que objectivos ditaram esta melhoria? Teve por objectivo o conforto dos utilizadores, possibilitando maior motivação e consequente aumento da qualidade dos serviços prestados e bem-estar aos doentes

Quando vai ser implementado? O Projecto SINAS está em implementação e está escalonado em duas fases: um projecto-piloto, seguido de quatro ciclos de implementação. O projecto-piloto consiste na implementação, análise e definição de indicadores de avaliação para uma área de saber médico, que será Ortopedia.


6

Fevereiro de 2009 Santa Causa

Em destaque Valências Projecto “Bem Envelhecer” O projecto “Bem Envelhecer” encontra a sua fundamentação: 1. Nas necessidades de intervenção identificadas pelas entidades que intervêm directamente com este público, em particular as que constituem o grupo de trabalho, procurando-se dinamizar as parcerias de nível interconcelhio com vista a participação dos destinatários; 2. Nas problemáticas específicas: o isolamento e solidão dos idosos e a sua baixa participação social e cívica desta população no distrito . 3. E no facto do envelhecimento activo afigurar-se como uma das estratégias de governação. Promover o Envelhecimento activo representa uma das estratégias de intervenção definidas no Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas, que constitui um complemento às acções desenvolvidas por outros programas nacionais de saúde em vigor, no âmbito do Plano Nacional de Saúde 2004-2010. O termo “Envelhecimento Activo” surge no final dos anos 90, definido pela OMS – Organização Mundial de Saúde - como o processo de optimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, no sentido de aumentar a qualidade de vida durante o envelhecimento. O envelhecimento activo permite que as pessoas percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do seu percurso de vida, e que essas pessoas ou grupos populacionais participem na sociedade de acordo com as suas necessidades, desejos e capacidades; ao mesmo tempo propicia protecção, segurança e cuidados adequados, quando necessários. Implica a participação contínua nas questões sociais, económicas, culturais, espirituais e civis e não somente a capacidade de estar fisicamente activo ou de fazer parte da força de trabalho. Programas e projectos de envelhecimento activo são necessários para permitir que as pessoas continuem a

trabalhar de acordo com as suas capacidades e preferências, à medida que envelhecem e para prevenir e retardar incapacidades e doenças crónicas que são caras para os indivíduos, para as famílias e para o sistema de Saúde. A abordagem do envelhecimento activo baseia-se no reconhecimento dos direitos humanos das pessoas mais velhas e nos princípios da independência, participação, dignidade, assistência e auto-realização estabelecidos pela ONU. Assim o planeamento estratégico deixa de ter um enfoque baseado nas necessidades (que considera as pessoas mais velhas como alvos passivos) e passa a ter uma abordagem baseada em direitos, o que permite o reconhecimento dos direitos dos mais velhos à igualdade de oportunidades e tratamento em todos os aspectos da vida à medida que envelhecem. Os projectos de envelhecimento activo que promovem a saúde mental e as relações sociais são tão importantes quanto aqueles que melhoram as condições físicas de saúde. A saúde deve ser vista a partir de uma perspectiva ampla, resultado de um trabalho intersectorial e transdisciplinar de promoção dos modos de vida saudável em todas as idades. Cabe aos profissionais liderarem os desafios do envelhecimento saudável e activo para que os idosos sejam um recurso cada vez mais valioso para as suas famílias, comunidades e para o país. Em suma, o envelhecimento activo é determinado por vários aspectos: por questões relacionadas com os sistemas de saúde e os serviços sociais; pelas relações interpessoais; pelos estilos de vida; pelo ambiente físico; pela situação económica e pelo ambiente social. Os destinatários deste projecto são pessoas com 50 ou mais anos autónomos, independentes e beneficiários/clientes da Rede Solidária de respostas sociais promovidas pelas entidades parceiras. Cada entidade dinamizará um grupo de participantes – grupo experimental - constituído sempre pelos mesmos elementos (no total 65 idosos). Conforme indica o quadro abaixo, a maioria dos destinatários são clientes/utentes do SAD.

Entidades parceiras

N.º de Destinatários

Valência/ Resposta

ADCL (Guimarães)

5

SAD/Grupo de convívio

Centro Social da Paróquia de Chorense

3

SAD

Centro Social da Paróquia de Souto

3

SAD

Centro Social e Paroquial de Cervães (Vila Verde)

6

SAD

Centro Social e Paroquial de Cibões

3

SAD

Centro Social e Paroquial de Covide

3

SAD

Centro Social e Paroquial de Moimenta

3

SAD

Centro Social e Paroquial de Rio Caldo

3

SAD

Centro Social e Paroquial de Vilar

3

SAD

Centro Social e Paroquial de Vilar da Veiga

3

SAD

Centro de Solidariedade Social de Valdosende

3

SAD

Deleg. de Braga da Cruz Vermelha Portuguesa (Braga)

6+3

SAD/Lar de idosos

Fundação Bomfim (Braga)

6

SAD/ Centro de Dia

Município/ Rede Social de Terras de Bouro

-

-

Núcleo Distrital de Braga da REAPN

-

-

Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

6

SAD/ Lar para Idosos

Santa Casa da Misericórdia de Vieira do Minho

6

SAD/ Lar para Idosos

Total

65

As metodologias, acções e respectivos objectivos podem se consultadas no Portal Santa Casa da Misericórdia ao longo da calendarização deste projecto que terá o seu termino em 2010. Bibliografia INE, Destaque, Projecções de População Residente, Portugal e NUTS II 2000-2025, 31 de Março de 2004. Ministério da Saúde, Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas 2004-2010. MTSS, PNAI 2008-2010 OMS, Envelhecimento Ativo: uma Política de Saúde, 2005, Brasil. Salomé Alves Directora-Técnica do serviço de Apoio Domiciliário

Problemáticas identificadas nos concelhos abrangidos pelo Projecto (Braga, Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira do Minho e Vila Verde). Cfr Plano Estratégico Grupo de Trabalho Terceira Idade 2007-2009. 2 O envelhecimento activo depende de uma diversidade de factores “determinantes” que envolvem indivíduos, famílias e países. Estes determinantes (económicos, sociais, pessoais, comportamentais, ambiente físico, serviços sociais e da saúde, género e cultura) aplicam-se a saúde de todas as pessoas de todas as idades. As evidências substanciais sobre o que determina a saúde sugerem que todos os factores e a interacção entre eles são bons indícios de como os indivíduos e populações envelhecem. 1


7

Fevereiro de 2009 Santa Causa

Valências Valências

Violência/práticas parentais A violência doméstica goza normalmente de invisibilidade porque ocorre dentro de quatro paredes, mas não nos podemos esquecer que nos lares violentos existem outras personagens, que assistem efectivamente à violência: os filhos. Estes, por vezes assistem à violência dos pais podendo também ser alvo dessa violência. A violência parental e segundo Costa e Duarte (2000: 19), “é dirigida às crianças e compreende todo o acto dos pais, (ou outras que desempenham esse papel e funções) que lesem os seus direitos e necessidades relativamente ao seu desenvolvimento psicomotor, intelectual, moral, afectivo ou relacional. Referem ainda (Ibidem, 2000: 22), que as “condutas dos pais ou educadores, tais como rejeitar, isolar, ignorar ou aterrorizar uma criança, (…), assim como a privação de sentimentos de amor, afecto e segurança” se repercute no seu desenvolvimento emocional, social e intelectual. Exemplo destes comportamentos são as agressões verbais (ameaças, insultos, sarcasmos, depreciações contínuas, gritos…) e disputas familiares constantes. Ou seja, todo o tipo de comportamentos que desenvolvam na criança uma baixa auto-estima, medo ou ansiedade, que perturbem o seu bem-estar emocional. Acrescenta-se ain-

da que os maus-tratos às crianças incluem neste mesmo grupo diferentes níveis de violência, ou seja a negligência, abuso sexual, e mesmo o impedimento ou negação de experiências de vida que produzam sentimentos de ser amado e querido, de segurança e que proporcionem condições facilitadoras de desenvolvimento. A violência parental, torna-se desta forma num ambiente perigoso criando na criança um mundo intimidante e inseguro, dada a proximidade que ela tem com aqueles intervenientes e a importância que aquele contexto familiar tem para o seu desenvolvimento, assim, compreende-se as razões do seu sofrimento ao testemunhar os conflitos entre os pais. Apesar da situação das crianças que estão expostas a este tipo de violência não ser um problema social novo, é no entanto de estudos recentes. Segundo Machado e Gonçalves (2003: 97), “O interesse por esta problemática é, de certa forma, contingente à construção relativamente recente da violência conjugal como um problema social, e é estimulado pela existência de uma maior consciência pública e profissional do problema do abuso das crianças em geral …”. O facto das crianças estarem expostas à

violência interparental tem sido um desafio para os serviços sociais e de saúde uma vez que existe um problema que se duplica, por um lado a criança que testemunha os actos de violência, por outro ser ela própria vitima de maus-tratos. É exemplo desta situação algumas crianças que foram vítimas de maus-tratos físicos e sexuais por parte do pai relatarem que viveram aterrorizadas durante muito tempo por terem testemunhado a mãe a ser agredida e maltratada. Para alguns autores existem diferentes teorias sobre o modo como decorre o impacto negativo da criança exposta à violência interparental (Ibidem:98), “Não existe, de facto, um estereótipo reactivo à violência no espaço doméstico, detectando-se, inclusive, reacções bastantes díspares”, vários factores como a idade, o género, a frequência, a intensidade ou o suporte social podem contribuir para a explicação e compreensão desse impacto. Quando reflectimos acerca da protecção das crianças e jovens surge como ponto consensual a necessidade destas se desenvolverem e crescerem dentro de uma família que fomente o ambiente mais natural e propício ao seu crescimento, assim como desempenhe funções de suporte afectivo estável e regular. Porém, nem sempre o

desejável é realizável, verificando-se que existem famílias com problemas variados que não encontraram formas de resolução dos obstáculos inerentes às mudanças que favorecem o desenvolvimento do ciclo vital, famílias que não criam laços de proximidade com os filhos, ausentes ou inexistentes relativamente aos afectos, levando a que estas crianças acarretem problemas ao nível físico, psico-afectivo e moral. A promoção dos direitos e protecção da criança atendendo aos seus interesses, assim como a participação e responsabilização dos pais para os seus deveres, promovendo a ideia da necessidade de um ambiente familiar saudável para o desenvolvimento infantil, torna-se crucial para a cessação dos maus-tratos e do possível ciclo de vida que atormenta as várias gerações assim como, pela promoção do bem-estar das crianças e jovens, accionando acções de prevenção, sensibilização e formação junto das famílias de modo a prevenirmos problemas sociais futuros. Bibliografia: COSTA, Maria Emília, DUARTE, Cidália (2000), Violência Familiar, Porto, Âmbar. MACHADO, Carla e GONÇALVES, Rui Abrunhosa (2003), Violência e Vítimas de Crimes, Vol.2 – Crianças, Coimbra, Quarteto Trabalho elaborado por: Isabel Sousa, Coordenadora do CATL S. Nicolau

Actividades Extracurriculares A integração de actividades extracurriculares no sistema educativo foi implementada através do Despacho n.º 16795/2005, que determina que uma vez que este tipo de actividades não interfere na duração semanal e nas actividades curriculares, elas são vistas como actividades de animação e de apoio às famílias, bem como de enriquecimento curricular pois várias crianças frequentavam-nas a particular. As actividades extracurriculares permitem à criança a aquisição de novas competências a nível do desporto, da música, da informática, de línguas estrangeiras, entre outras e consequentemente promovem um sucesso escolar futuro, maior desempenho e um nível de autoestima mais elevado. Embora este tipo de actividades ainda não esteja a funcionar a 100%, na minha opinião, como de várias colegas, são importantíssimas, pois contribuem positivamente para o desenvolvimento global da criança e também estimulam a criança para ir para o jardim-deinfância, porque são as novidades que ajudam a quebrar a rotina do dia-a-dia. Segundo uma análise de 50 inquéritos por questionários, preenchidos por educadores de infância, podemos verificar os seguintes resultados: Contributo

Percentagem

Fundamentais na realização das actividades pedagógicas

2%

Fundamentais para o desenvolvi- 72% mento global da criança Úteis, mas não totalmente necessárias

26%

É notável a importância das actividades

extracurriculares para o desenvolvimento global da criança, 72% dos inquiridos concordam com esta afirmação. 26% dos educadores dizem que estas actividades são úteis, mas não totalmente necessárias e só 2% acham que são fundamentais na realização das actividades pedagógicas. Apesar da implementação das actividades extracurriculares ser recente, notamos que grande parte dos educadores de infância concorda com a sua realização e que estas contribuem positivamente para o desenvolvimento global da criança. Antes desta implementação, já existiam este tipo de actividades, mas eram particulares e nem todas as crianças tinham possibilidade de as frequentar, ou seja, estas actividades também vêm para igualar um pouco o nível de ensino entre as crianças e dar oportunidades e diminuir as discrepâncias que por vezes nós nos apercebemos que existem. O facto das actividades extracurriculares serem leccionadas por outros professores leva a que, por vezes, os educadores de infância, ao elaborarem o seu projecto curricular de sala, não as incluam e quando o fazem é apenas como uma actividade onde ele irá cooperar com os docentes que as leccionam. O mesmo acontece na nossa Instituição, pois as actividades extracurriculares (inglês e TIC), são leccionadas por outros docentes e apoiadas por nós educadoras de infância e auxiliares de acção educativa. Compete aos agrupamentos a que pertence o jardim-de-infância, ou ao próprio jardimde-infância, caso pertença à rede privada ou IPSS, organizar as suas próprias actividades extra-curriculares. Esta situação leva à necessidade de “afectar mais educadores, professores, técnicos e auxilia-

res de acção educativa para acompanhamento dos alunos e das famílias. A disponibilidade dos recursos humanos será fundamental para se alcançarem os objectivos fixados, no sentido da promoção de uma escola mais próxima da realidade e das necessidades dos pais e alunos” (Carta Educativa do Porto).

É importante que, nesta etapa, a criança desenvolva as suas potencialidades a nível cognitivo e a nível socio-afectivo e sem dúvida que as actividades extracurriculares contribuem e muito para este desenvolvimento. Eduarda Carvalho Educadora Infância da Creche/JI de S. Gonçalo


8

Fevereiro de 2009 Santa Causa

Misericórdia Avaliação de Desempenho

Avaliação de desempenho é alicerce das organizações Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso avalia as competências dos seus funcionários/colaboradores “As práticas da Avaliação do Desempenho não são novas, desde que um homem deu emprego ao outro, o seu trabalho passou a ser avaliado” (Idalberto Chiavenato) As pessoas com as suas atitudes, conhecimentos e habilidades são o principal alicerce das organizações/instituições. Neste sentido, a Misericórdia da Póvoa de Lanhoso espera resultados das pessoas que nela trabalham. Estas, por sua vez, sentem necessidade de, por um lado, saberem exactamente o que a Misericórdia espera delas e, por outro, de terem informação sobre a correspondência do seu trabalho às expectativas da Instituição. É neste sentido que a avaliação de desempenho surge como um sistema formal e sistemático que permite apreciar o trabalho desenvolvido pelos colaboradores da Misericórdia bem como o seu potencial de desenvolvimento futuro. A avaliação do desempenho tem, assim, por objectivo central constituir-se como um instrumento de gestão de pessoas que auxilie as decisões relacionadas com a gestão da actividade profissional, identificação de necessidades de

formação, acções de melhoria, de entre outras. Para todas as funções recorrentes do organograma Institucional e das várias valências da Santa Casa foi definido um perfil de competências considerado necessário para o bom desempenho da função. Esse perfil reúne um conjunto de competências que têm especial enfoque no domínio técnico-profissional, no campo comportamental e, quando aplicável, na área da liderança e gestão. A definição das competências da função não tem em conta o perfil do funcionário/colaborador que presentemente a desempenha, mas sim as competências consideradas necessárias para o bom desempenho do conteúdo funcional decorrente dos objectivos da Misericórdia. O perfil é constituído por 13 competências, sendo oito funcionais (derivam da especificidade de cada função) e cinco transversais (aplicáveis a todos os colaboradores da Instituição, independentemente da função que desempenham). O processo de avaliação iniciase com a auto-avaliação que tem carácter preparatório da avaliação e não constitui componente vinculativa da avaliação a atribuir pelo avaliador. Tem como objectivo principal preparar o avaliado

para a entrevista com o avaliador, envolvendo-o no processo de avaliação e fomentar o relacionamento com o superior hierárquico, de modo a identificar oportunidades de desenvolvimento profissional. Segue-se a hetero-avaliação que consiste na avaliação por parte do avaliador do desempenho de cada um dos seus funcionários. Nesta avaliação, o avaliador vai posicionar o desempenho de cada um dos seus funcionários relativamente a cada factor de avaliação, de acordo com o mesmo perfil de competências da ficha de auto-avaliação. Por fim, a entrevista de avaliação consiste numa reunião entre o avaliador e o avaliado, na qual será analisado o trabalho desenvolvido pelo avaliado no ano anterior, bem como negociar o plano de acção para o ano seguinte. Na entrevista, a função de quem avalia não se pode limitar, no entanto, à formulação de juízos sobre o desempenho do trabalhador, devendo também identificar, com a colaboração deste, situações de trabalho passíveis de correcção, transformação e ajustamentos, localizar as suas causas e estabelecer perspectivas de melhoria. Em resumo, uma correcta aplicação da avaliação do desempenho, permitindo um melhor conhecimento de todo o contexto de

Na avaliação do desempenho não se trata de punir infracções disciplinares e violação de deveres, mas sim de saber se o desempenho satisfaz ou não as necessidades do serviço e se atinge os objectivos e resultados esperados e de tentar melhorá-los.

trabalho e as motivações dos trabalhadores, poderá levar a uma maior produtividade dos mesmos, auxiliar nas decisões de organização e gestão de pessoal e identificar potenciais candidatos a funções de maior responsabilidade. É também necessário ter em consideração que a avaliação do desempenho é um processo distinto do regime disciplinar e não deve ser confundido com este. Na avaliação do desempenho não se trata de punir infracções disciplinares e violação de deveres, mas sim de saber se o desempenho satisfaz ou não as necessidades do serviço e se atinge os objectivos e resultados esperados e de tentar melhorá-los. Dr.ª Eduarda Oliveira A Responsável pelo processo de Avaliação de Desempenho


9

Fevereiro de 2009 Santa Causa

Centro de Formação Propostas

Centro de Formação da Misericórdia com propostas para a comunidade e para os recursos humanos da Santa Casa O Centro de Formação da Misericórdia (CFM) abriu as portas no dia 5 de Setembro de 2008. Actualmente, tem a decorrer diferentes propostas de formação, quer para a comunidade em geral, quer para os próprios recursos humanos da Instituição. “Nós estamos acreditados como entidade formadora nas áreas da Saúde, Serviços Sociais e Apoio Domiciliário, que vai de encontro com as áreas de intervenção da Santa Casa. Neste sentido, toda a formação que venhamos a desenvolver e propor para a comunidade, será sempre no âmbito das três áreas anteriormente referidas”, refere a Directora do CFM, Sónia Fernandes.

Formação externa. A nível da formação externa, o CFM tem a decorrer um curso EFA (Educação e Formação de Adultos) de “Apoio Familiar à Comunidade”, que iniciou no dia 15 de Dezembro de 2008, com 15 pessoas, com idades entre os 30 e os 40 anos, na sua maioria. Trata-se de uma acção destinada a maiores de 23 anos, desempregados, com escolaridade superior ao sexto e inferior ao nono ano. No final do curso, em Março de 2010, os formandos terão a competência de Ajudante Familiar e de Apoio à Comunidade e uma qualificação de nono ano de escolaridade, visto que este curso é de dupla certificação, pois confere uma certificação profissional e escolar. Esta formação decorre de segunda a sexta-feira em horário laboral (das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00), no CFM (Avenida 25 de Abril, por cima da Farmácia da Misericórdia). Os formandos recebem

uma Bolsa mensal de formação, durante todo o período de duração do curso. “Esta é uma formação bastante abrangente. Tem uma componente de formação de base, de cidadania e empregabilidade, de linguagem e comunicação, língua estrangeira, matemática para a vida e tecnologias de informação e comunicação; e tem também a formação tecnológica, que é uma formação numa vertente mais específica, que vai conferir competências para a função de Ajudante Familiar e de Apoio à Comunidade. A parte tecnológica, além de dar um enquadramento geral sobre o que são as instituições de apoio familiar, aprofunda conhecimentos sobre relacionamentos interpessoais, animação, noções de atendimento, prestação de cuidados de saúde, noções de dietética, bem como confecção de alimentos e de tudo, ou quase tudo, o que está subjacente ao processo alimentar, entre outras. “No final das 1815 horas em sala, os formandos terão uma componente de formação em contexto de trabalho, com uma duração de 120 horas, que decorrerá nas valências da Santa Casa ou noutras instituições que estejam interessadas em acolher as nossas formandas”, explica a directora do Centro. “Esta é a formação que temos aprovada pelo POPH a nível externo, mas faremos outras candidaturas pois é nosso interesse contribuir para a requalificação dos cidadãos povoenses. A restante formação que vimos aprovada, neste âmbito, é para os nossos funcionários”, sublinha Sónia Fernandes.

Formação interna. Ao nível da formação interna, o CFM viu aprovada formação dentro de duas tipologias. Uma visa o aperfeiçoamento profissional e a outra está enquadrada nas Formações Modulares Certificadas, que, além de valorizarem o profissional ao nível de conhecimentos, têm como objectivo “incentivar” o profissional a se dirigir ao Centro de Novas Oportunidades (CNO), para iniciar o processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) e serem qualificadas com o sexto, o nono ou o 12º ano. “O objectivo é, além de motivar os funcionários para a formação e requalificação através do RVCC, dar novas competências aos funcionários ou rever conhecimentos, pois, como sabemos, as técnicas vão evoluindo e nós temos que as acompanhar. O que temos procurado nas reuniões internas com alguns grupos de trabalho é esclarecer dúvidas que vão surgindo neste âmbito e incentivar os funcionários a procurarem o CNO para que aumentem a sua qualificação, quer para a sua valorização pessoal, quer para a própria valorização da instituição e enriquecimento do seu capital humano”, explica aquela responsável.

entre os 15 e os 23 anos, que por motivos de abandono escolar não completaram o nono ano. São cursos de dupla certificação, pois além de qualificarem com o nono ano, conferem competências de Acompanhante de Crianças e de Operador de Informática. São ainda cursos que funcionam em regime normal (horário laboral), gratuitos, em que o formando aufere de um subsídio de alimentação diário de 4,11€. “Dada a exigência dos dias de hoje em termos de qualificação e competências, estes cursos são uma mais-valia e uma aposta que deve ser feita pelos jovens que, pelo seu percurso na vida, deixaram de estudar”, explica Sónia Fernandes.

Voluntariado No CFM encontra-se ainda a decorrer um Curso de Alfabetização destinado a adultos que não tiveram a oportunidade de, em tempo, frequentar ou completar o ensino básico escolar. Este curso surge

como um desafio lançado pela Dr.ª Rosa Carneiro Peixoto que desde sempre teve vontade de fazer algo semelhante. Esta Santa Casa aceitou o desafio e abriu portas à turma que agora frequenta o curso. Funciona em regime de voluntariado quer por parte da Dr.ª Rosa Carneiro, no tempo que disponibiliza para acompanhar os formandos, quer por parte da Santa Casa na disponibilização de todos os recursos associados à Formação.

Infra-estruturas. Em termos de infra-estruturas, o CFM dispõe de três salas com capacidade para 15 a 20 formandos, sala de reuniões que também pode ser adaptada para sala de formação para oito pessoas, sala para os formadores e uma sala multimédia com 12 postos de trabalho, com acesso à Internet e impressora, sendo que os interessados podem inscrever-se para utilizar a sala multimédia, beneficiando do apoio de um formador.

Outras formações. Presentemente, o CFM tem ainda abertas as inscrições para os cursos de Instalação e Operação de Sistemas Informáticos e de Práticas de Acção Educativa. São Cursos de Educação e Formação de Jovens destinados a jovens desempregados com idades compreendidas

Turma do curso EFA de Apoio Familiar e à Comunidade

Curso de Alfabetização para Adultos O entusiasmo já tomou conta da professora e dos alunos do Curso de Alfabetização que está a decorrer no Centro de Formação da Misericórdia. A vontade de ensinar alia-se à vontade de aprender, de uma forma ávida, que a ninguém deixa indiferente. Facilmente se percebe em Rosa Madalena Carneiro Peixoto, a professora, a entrega apaixonada a esta missão que abraçou, pouco depois de se retirar do Ensino Público. De resto, este Curso surgiu por sua iniciativa, após proposta à Provedoria da Santa Casa. “A Alfabetização era uma área que ainda não tinha experimentado com alunos desta idade e disse ao Provedor que gostava de dar alfabetização, de forma voluntária, sem receber qualquer remuneração”, explica a tutora de nove adultos (sete senhoras e dois senhores) em idade de aprender a ler e a escrever. A mais nova tem 44 anos; a mais velha, 77. São todos reformados, com excepção de uma

pessoa. Este Curso terá a duração do ano lectivo. Realiza-se às segundas, terças e quintas-feiras, entre as 14h00 e as 17h30, no CFM. Tendo iniciado com poucas pessoas, a pouco e pouco, o grupo foi aumentando. “Algumas pessoas tinham vergonha de admitir que não sabiam ler nem escrever e outras acham que já não lhes faz falta aprender. Entretanto, começámos com as pessoas que tínhamos e depois outras foram aderindo. Chega uma pessoa nova todos os dias”, explica a professora. Aqueles que também desejem a alfabetização podem inscrever-se. Este curso é gratuito para os alunos. “Não vamos fechar as portas a ninguém. Já temos oito pessoas, não apenas da Vila, mas de outras freguesias do concelho”, refere Rosa Madalena Peixoto, para quem leccionar a esta faixa etária exigiu uma preparação. A turma tem níveis diferentes; idênticos

são o empenho e o entusiasmo de todos: “São óptimos alunos. São muito interessados, muito atentos, muito divertidos e estamos aqui como numa família. Eles estão a aderir muito bem e estou a gostar imenso”, refere Rosa Peixoto. Diferentes são as motivações de cada um: a par de aprender, por questões de auto-estima ou profissionais, combater o isolamento, conviver. “Tenho uma senhora que veio porque queria escrever uma carta ao namorado e quer mesmo ir para a informática aprender a escrever, mas não importa a motivação; importa é que vieram”. Para a professora, reformada do ensino básico, a experiência está a ser muito gratificante. “A minha melhor recompensa vai ser dar um bocadinho de alegria a estas pessoas. Eu tenho aqui senhoras que estão sozinhas e que sentem muita necessidade de ler e de escrever. Dizem-me que estar aqui é uma lufada de ar fresco nas suas vidas.

Isto ajuda-os a passar o tempo e puxa por eles. Noto que, mesmo a nível da escrita, vou ter umas letras lindas! Estou tão contente”, confessa a responsável. Para além de ensinar a ler e a escrever, este Curso de Alfabetização vai permitir o acesso às novas tecnologias da informação, através da Sala Multimédia do Centro de Formação, com custos suportados

Alunos do Curso de Alfabetização

pela Santa Casa. Preparar aqueles que o desejem para se dirigirem a um Centro Novas Oportunidades é uma possibilidade para os alunos. “É uma porta que se abre. É para eles também um motivo de orgulho ter o quarto ano”, acredita Rosa Peixoto, a quem também cabe aqui um papel de “aluna”: “Eu também vou aprender muito com eles”.


10

Fevereiro de 2009 Santa Causa

Centro de Formação Educação

Se tens entre os 15 e os 23 anos e queres completar o 9.º ano de escolaridade, procura-nos. Cursos disponíveis: Instalação e Operação de Sistemas Informáticos Práticas de acção educativa

Educação: um tesouro a descobrir Em 1998, a UNESCO editou o livro “Educação: um tesouro a descobrir” a partir do Relatório da Conferência Internacional sobre a Educação para o Século XXI, coordenado por Jacques Delors. Esse relatório, conhecido como Relatório Delors, estabeleceu os quatro pilares considerados por uns, ao mesmo tempo, como “pilares do conhecimento e da educação continuada”, e por outros como pilares da educação contemporânea. São eles: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Gadotti apresenta-as como sendo: 1. Aprender a conhecer - tem a ver com o prazer da descoberta, da curiosidade, de compreender, construir e reconstruir o conhecimento. `Aprender a conhecer é mais do que aprender a aprender... não basta aprender a conhecer. É preciso aprender a pensar, a pensar a realidade... é preciso pensar também o novo, reinventar o pensar, pensar e reinventar o futuro.”; 2. Aprender a fazer - “Saber trabalhar colectivamente, ter iniciativa, gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são, acima de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações interpessoais tidas no trabalho.”; 3. Aprender a viver juntos - significa compreender o outro, ter prazer no esforço comum, participar em projectos de cooperação.; 4. Aprender a ser - tem a ver com o “desenvolvimento integral da pessoa: inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autónomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa.”.

Logicamente a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, preocupada com a população que procura diariamente servir, empenhou-se em desenvolver programas de apoio na área educativa e através do seu Centro de Formação apresenta-se como entidade apta a ser mais um agente facilitador na procura de competências. Em concreto, na ministração de cursos técnicos, EFA, validação de competências tendo em vista o acesso ao Programa Novas Oportunidades, etc. Nesse sentido, fezse rodear de um conjunto de competentes formadores, com vasta experiências em diversas áreas, que se mostram disponíveis para ser uma imprescindível ajuda para todos aqueles que se dirijam ao Centro de Formação. Hoje, mais do que nunca, fala-se de formação, embora sem referir qualificação, e é neste âmbito, que a construção de competências assume particular importância. A Construção de Competências na Formação A abordagem por competências tem-se desenvolvido em todos os países. Perrenoud define competência como uma capacidade de agir eficazmente num determinado tipo de situação, apoiado em conhecimentos, mas sem se limitar a eles. Dessa forma, estabelece uma diferença entre competências e conhecimentos. Enquanto os conhecimentos são representações da realidade que construímos e armazenamos ao sabor de nossa experiência e da nossa formação, as competências são capacidades para os utilizar, integrar ou mobilizar, visando a solução dos diversos problemas com os quais o indivíduo se depara diariamente. Construir uma competência implica encontrar, identificar e mobilizar conhecimentos que darão suporte à solução de problemas. Vale salientar que as competências aqui

Competência é inseparável da acção e os conhecimentos teóricos e/ou técnicos são utilizados de acordo com a capacidade de executar as decisões que a acção sugere. A competência é a capacidade de resolver um problema numa dada situação. A competência baseia-se nos resultados.

discutidas não são apenas técnicas, manuais, pelo contrário. 0 termo aqui adoptado insere-se no contexto mais amplo possível, e tem a ver com o desenvolvimento de competências éticas, políticas, técnicas, que habilitem o futuro profissional a tornar-se, na prática, o agente de transformação social, o ser crítico-reflexivo, que utilize a ferramenta da acção-reflexão, que aprenda a conhecer, a fazer, a ser e a viver colectivamente, pois, acredita-se serem estas competências fundamentais a todo ser humano livre e autónomo. Se a construção de competências pertence aos trabalhadores como sujeitos deste processo, a sua mobilização e articulação em situações concretas dependerá da possibilidade da constituição de “organizações qualificadoras”, e a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso é assumidamente uma Organização Qualificadora. Este tipo de organização do trabalho não somente usa, utiliza as competências dos trabalhadores, mas fabrica-as, produz essas competências. Como pode a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso contribuir para construir novas competências? Dando possibilidades aos trabalhadores de intervirem na gestão do trabalho e nas decisões que afectam o processo produtivo, propiciando-lhes espaços para participação, para propor modificações e sugestões de melhoria, permitindo a discussão sobre concepções, métodos e procedimentos de trabalho, estimulando o aumento da autonomia e do poder de decisão – o novo Centro de Formação da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, que como espaço formativo, quer seja de educação geral ou profissional, deverá, em igual forma, propiciar a construção destas competências, e isto implica a rediscussão dos seus métodos de gestão e da formação

dos seus próprios funcionários. Participe, seja parte activa na sua formação! Competência é inseparável da acção e os conhecimentos teóricos e/ou técnicos são utilizados de acordo com a capacidade de executar as decisões que a acção sugere. A competência é a capacidade de resolver um problema numa dada situação. A competência baseia-se nos resultados. Nelson Ferreira Licenciado em Enfermagem Formador Residente do Centro de Formação da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso Coordenador da Equipa de Enfermagem da Unidade de Convalescença do Hospital António Lopes Pós Graduado e Mestrando em Gestão de Serviços de Saúde

Referências bibliográficas • Gadotti M. Perspectivas actuais da educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 2000. 24-26; Porto. Porto: Universidade do Porto-Portugal; 2000. • Magalhães LMT. 0 ensino superior em enfermagem e o desafio da mudança: os referenciais de um novo processo de formação. [tese] São Paulo (SP): Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2000. • Morin E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; 2000. • Perrenoud P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 1999. • Perrenoud P. Construindo competências. Rev NovaEscola 2000 [Online]; Disponível em: <http://www. novaescola.com.br>. (25 de Março de 2001) • PERRENOUD, Philippe. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000. • VEIGA, Ilma Passos (Org.). Formação de professores: política e debates. Campinas: Papirus, 2002. • SANTO, Ruy César do Espírito. Desafios na formação do educador Campinas: Papirus, 2002.


11

Fevereiro de 2009 Santa Causa

Misericórdia Instituição

Plano de Actividades e Orçamento aprovados por unanimidade

N

o passado dia 15 de Novembro, reuniram em Assembleia Geral os Irmãos da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, com o objectivo de aprovarem o orçamento suplementar para 2008 e o Plano de Acção e Orçamento para 2009.

Objectivos para 2009. Durante a sessão, os Irmãos ficaram a conhecer os objectivos para o ano de 2009, que fecha um ciclo de gestão. A actual Mesa Administrativa assumiu o compromisso, perante os Irmãos da Misericórdia, de cumprir dois mandatos à frente dos desígnios desta Instituição. É hora de relembrar o passado, assumindo o presente, para que se possa projectar o futuro de uma forma séria e rigorosa. A grande aposta da Mesa Administrativa para o ano de 2009 incide nas valências de saúde. No ano em curso, atingir-se-á o ponto de equilíbrio orçamental do Hospital António Lopes, depois de sucessivos anos de gestão deficitária. O ano de 2009 será o ponto de arranque para a consolidação económico-financeira desta valência. Mas estes objectivos de gestão não desviam a Mesa Administrativa da premissa que norteia o HAL: a prestação de cuidados de saúde de qualidade superior através da oferta de um serviço altamente humanizado. As respostas do Estado são cada vez mais escassas. Compete à Misericórdia povoense estar atenta a essa realidade, apostando na racionalização dos recursos e na formação dos seus activos. Não foi por acaso que a Unidade de Convalescença do HAL foi considerada uma referência modelar no âmbito da Rede Nacional de Cuidados Continuados. No início deste ano, iniciar-se-á a construção do edifício da Clínica Social da Misericórdia,

nos terrenos anexos ao Hospital António Lopes. Depois de alguns atrasos de ordem burocrática, irá avançar-se, finalmente, para a execução deste empreendimento que irá suprir uma lacuna no acompanhamento dos doentes com as patologias de Parkinson e Alzheimer. Um outro projecto que está em mãos é a construção de uma Unidade de Cuidados Continuados de Longa Duração na “Casa do Feitor”. Para o efeito, foi apresentada à ARS Norte uma candidatura ao Programa Modelar, que visa o financiamento de Unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI). Esta candidatura foi aprovada, significando que a Instituição da Póvoa de Lanhoso irá integrar com duas unidades (Unidade de Convalescença e Unidade de Longa Duração) a.RNCCI. A Instituição tem outros objectivos para o corrente ano. Tendo em vista a valorização do património e, também, o potenciar de melhores condições de frequência às nossas crianças, foram feitas diversas benfeitorias nos edifícios afectos às valências de infância. Para o ano de 2009, para além das actividades lectivas, que têm um calendário próprio, prevê-se a continuidade daquela política de investimentos. Fruto da desresponsabilização do Estado, que tem vindo a reduzir significativamente as comparticipações dos utentes das valências de infância, esta é uma área de gestão deficitária. A agravar tudo isto e fruto da entrada em vigor das novas normas de transporte colectivo de crianças, a Misericórdia teve de adquirir um mini autocarro custou cerca de 100 mil euros. Relativamente às valências seniores, nomeadamente ao Lar de São José, há uma política de investimento contínuo na melhoria das condições dos utentes. Foi feita uma candidatura ao concurso “Apoio a Idosos”, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, com o objec-

tivo de conseguir melhorias no serviço, nomeadamente ao nível de equipamentos diversos e criação de uma Sala de Snoezelen, que consiste num espaço de estimulação sensorial, relaxamento, lazer e diversão. O ano de 2009 ficará, portanto, marcado por um investimento significativo na optimização deste edifício.

Orçamento Suplementar de 2008 aprovado. Com uma presença muito significativa de Irmãos, o Orçamento Suplementar para o 2008 foi aprovado com duas abstenções, prevendose proveitos e ganhos de 8.283.500,00 € e custos e perdas de 8.079.500,00 €. Esta revisão orçamental projecta um resultado líquido positivo de 204 mil euros. Já o Orçamento para 2009, aprovado por unanimidade, reflecte proveitos e ganhos de 8.528.00,00 € e custos e perdas de 8.294.000,00 €. O resultado líquido previsional do exercício ascenderá a 234 mil euros. De lembrar que para o ano de 2008, a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso elegeu três grandes áreas de actuação, tendo em vista a consolidação sócio-económica da Instituição: o potencial humano, os factores de competitividade dos diversos serviços e a valorização do património. Foram áreas onde houve a preocupação de melhorar e inovar. Os recursos humanos são o activo mais importante da Instituição. São eles que, no dia-a-dia, constroem e solidificam a imagem da Misericórdia. Daí o empenhamento da Mesa Administrativa na criação de meios que possibilitam a optimização desses recursos, tendo em vista a melhoria dos serviços e, também, o aumen-

to da competitividade. São estes factores de competitividade, resultantes de programas de formação dos seus activos, que diferenciam a Misericórdia daqueles que concorrem directamente consigo no mesmo segmento de actividade. Tratou-se de uma aposta ganha porque há hoje a consciência de que, na hora da decisão, o factor “qualidade” é aquele que se sobrepõe a todos os outros. No passado dia 5 de Setembro foi inaugurado o Centro de Formação da Misericórdia. Trata-se de uma valência de rendimento que irá gerar recursos para que a Instituição possa cumprir a sua missão misericordiana. Foram aprovadas três candidaturas, duas para formação dos activos da Instituição e uma para externos. Para estas três áreas de formação foi aprovada uma verba a rondar os 485 mil euros. Mas como a Misericórdia não quer cingir a a sua actividade à “formação financiada” e, cumprindo o seu desiderato de serviço comunitário, irá avançar com os cursos de alfabetização, gratuitos e em regime de voluntariado. No mesmo Centro de Formação e aproveitando as condições de excelência existentes, foi criada uma sala multimédia, com 12 postos de trabalho e o acompanhamento permanente de um formador. Outra aposta que se revelou de vital importância para a Instituição foi a implementação do Sistema de Gestão de Qualidade. Depois das valências sociais e da valência hospitalar, chegou a hora de projectar a certificação de qualidade para as valências da Farmácia e Centro de Formação. Durante o ano de 2009 esta será a primeira Misericórdia do país a ver concluído o processo de certificação de todas as suas valências, ao abrigo da norma ISO 9001:2000. Este é mais um factor de diferenciação e competitividade que joga a favor da Misericórdia povoense.



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.