Revista de Lavras do Sul

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novembro de 2015

Manejo conservacionista mantĂŠm a biodiversidade do Pampa


faleconosco@grupodb.com.br (55) 3281.0123 /DagobertoBarcellos www.grupodb.com.br

Onde tem gente

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O calcário DB possui alto índice de pureza e alto grau de finura facilitando a sua absorção e garantindomaior força no PRNT. Um produto que atende as necessidades da agricultura de precisão.

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ediTorial da biodiversidade e que só existe graças ao manejo conservacionista empregado pelos produtores locais. Aliado à produção sustentável, o investimento em genética de raças de origem britânica tem garantido aos produtores lavrenses uma valorização acima da média nos remates de gado que ocorrem em praticamente todos os finais de semana no parque do Sindicato Rural, onde o preço médio dos animais teve alta de 36% entre janeiro e agosto enquanto o número de exemplares vendidos teve incremento de 9,5% em relação ao mesmo período do ano passado - isso sem contar o fatu-

ramento, que aumentou 49%, saltando de R$ 17,5 para R$ 26,1 milhões. Outra grande notícia é o lançamento oficial de um selo de qualidade para a carne bovina produzida em fazendas cujo sistema produtivo conserva as pastagens naturais do Pampa, permitindo aos consumidores identificar e selecionar a carne produzida de forma alinhada à conservação do meio ambiente e à manutenção das características originais do bioma que recobre 63% do território gaúcho e estende-se ainda pela Argentina, Uruguai e Paraguai, numa área que ultrapassa 100 milhões de hectares.

Foto: Felipe Ulbrich

Lavras do Sul é o município com o maior índice de conservação ambiental do Estado, o que foi comprovado pelo primeiro levantamento de avifauna em propriedades que integram a Alianza del Pastizal: apenas num dos sete estabelecimentos visitados foram avistadas 122 espécies, enquanto o número de espécies associadas aos campos variou de 34 a 38, algumas delas inclusive ameaçadas mundialmente. O estudo confirmou também a existência de um mosaico de ambientes formado por áreas de pastagens baixas, campos heterogêneos e, ainda, pastos mais densos, condição fundamental para a manutenção geral

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Foto: Felipe Ulbrich

Foto: Nina Boeira

Foto: Felipe Ulbrich

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Valorização acima da média....................................................................................................6 De onde virão os terneiros?..................................................................................................14 Somando forças para crescer...............................................................................................20 Carne do Pampa com selo de qualidade.............................................................................22 Carinho para quem precisa de atenção especial................................................................27 Mosaico de ambientes garante a riqueza do Pampa.........................................................31 Vocação para a pecuária – Parte 5............................................................................................40 Na disputa pelo ouro.............................................................................................................46 Gente de Lavras no mundo...................................................................................................50 Arte que vem do campo........................................................................................................54 Dirigente atuante, entidade forte .......................................................................................56 Incansável defensor do Pampa.............................................................................................58 Construindo uma empresa brasileira de fertilizantes........................................................60 Pavimentação da ERS 473 encontra-se paralisada...................................................................62 Programa ABC é apresentado aos produtores ...................................................................64 SIA treina equipe técnica em Lavras do Sul........................................................................65 Amor incondicional aos animais..........................................................................................66 Lenda da Cigana....................................................................................................................68

AGENDA DE REMATES 2016.................................................................................................74

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Revista Oficial do Foto: Tiago Steffen

Sindicato Rural de Lavras do Sul Novembro de 2015

facebook.com/sindicatoruraldelavrasdosulrs srural@farrapo.com.br Fone: (55) 3282.1256

EXPEDIENTE Diretor Executivo Henrique Borges

Foto: Felipe Ulbrich

Edição e Reportagem

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Jairo Nether Contato com a Redação redacao@futurars.com.br Projeto Gráfico Adelino Bilhalva Diagramação Silvio Oliveira Fotografia Felipe Ulbrich, Glayson Bencke, Jairo Nether, Nina Boeira e Divulgação

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Sindicato Rural Fotos Capa Felipe Ulbrich (gado) e Glayson Bencke (pássaros)

Porto Alegre/RS - (51) 3084 4717


Mercado

valorização acima da média Produtores investem em raças britânicas para padronizar os rebanhos, garantindo preços bem mais atrativos na hora da venda

Fotos: Felipe Ulbrich

O

valor arrecadado nos remates de bovinos realizados no parque do Sindicato Rural de Lavras do Sul chegou a R$ 26,1 milhões entre os meses de janeiro a agosto, com 19.402 animais comercializados, registrando um incremento de 49% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a movimentação foi de R$ 17,5 milhões para 17.728 animais. Já o preço médio dos animais teve alta de 36% no período enquanto o número de animais vendidos cresceu 9,5%, saltando para 19.402 animais. Nos primeiros oito meses do ano foram arrecadados ainda R$ 436 mil com

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a venda de 2.735 ovinos contra R$ 409 mil para 2.800 animais no mesmo período em 2014. “Ficamos contentes com este resultado positivo, pois um dos objetivos do Sindicato Rural sempre foi transformar Lavras em uma referência na comercialização de animais de qualidade. Isto está acontecendo e se deve ao trabalho em conjunto realizado pelo Sindicato, escritórios de remates, Inspetoria Veterinária, Prefeitura Municipal e, principalmente, produtores rurais, que vem investindo em raças britânicas e seus cruzamentos”, observa o dirigente da entidade, José

Jorge Afonso Fabrício de Souza


Antônio Fabrício de Souza, citando remates incorporados à agenda nos últimos anos - como Seleção Brangus e Alianza del Pastizal - que estão contribuindo para melhorar cada vez mais os índices de comercialização. “Lavras tornou-se um polo regional, comercializando gado não só de quem é daqui, atraindo tanto compradores como vendedores de fora”, emenda Jorge Afonso Fabrício de Souza, primeiro tesoureiro do Sindicato Rural. “Outro diferencial do município é a realização de remates de gado geral em praticamente todos os finais de semana”, prossegue, ressaltando que a oferta deste ano foi maior mesmo com a diminuição da área destinada à pecuária devido à introdução da soja. Segundo ele, está havendo uma evolução do sistema de criação, através da integração lavoura x pecuária, tendo como resultado a comercialização de animais mais jovens e melhor acabados para atender a demanda de consumidores cada vez mais exigentes. “Os produtores estão se beneficiando com a lavoura de soja, pois ganham tempo engordando o gado nestas áreas.” De acordo com o presidente do Sindicato Rural, Jozé Ângelo Etchichury,

outro fator que garante o sucesso nas vendas é o constante investimento na melhoria das estruturas do parque de exposições, viabilizados a partir da receita obtida pela entidade em cada leilão, já que o Sindicato recebe um percentual sobre a arrecadação dos escritórios de remates em cada evento. O dirigente destaca a construção de um novo pavilhão para os equinos, com 82 cocheiras contra apenas 33 da estrutura antiga, obra realizada em conjunto com o Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos e que se encontra quase pronta. “Também ampliamos o espaço das mangueiras e finalizamos o calçamento das ruas internas do parque”, prossegue, reforçando a importância da parceria mantida com os núcleos de produtores do município. Melhorias no galpão dos tropeiros também foram realizadas e as áreas sociais foram ampliadas visando atender o compromisso assumido pela entidade - através do seu Estatuto Social - de desenvolver o agronegócio elevando os índices de produtividade da atividade rural através do aperfeiçoamento dos métodos de trabalho e de comercialização, elevando o bem estar sócio-cultural dos produtores rurais.

COMERCIALIZAÇÃO DE BOVINOS 2015 ANIMAIS

R$

JAN.

1.950

3.365.720,00

FEVER.

1.813

2.728.300,00

MARÇO

1.608

2.475.990,00

ABRIL

2.682

4.062.650,00

MAIO

6.825

8.078.480,00

JUNHO

1632

1.992.190,00

JULHO

558

695.930,00

AGOSTO 2.334 TOTAL 19.402

2.712.865,00 26.112.125,00

COMERCIALIZAÇÃO DE BOVINOS 2010/2015 ANIMAIS

R$

2010

26.670

16.883.232,00

2011

31.795

23.052.543,00

2012

34.312

26.745.981,00

2013

32.979

29.679.309,00

2014

28.033

30.437.224,00

*2015

19.402

26.112,125,00

*Computadas apenas as vendas de janeiro a agosto de 2015.

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Mercado

pecuária ForTe Com um rebanho de 225 mil cabeças, Lavras do Sul é um dos municípios gaúchos que mais se destaca na comercialização de bovinos. “Nossa Inspetoria é uma das que mais movimenta gado no Estado, perdendo apenas para a de Alegrete. Só em remates de gado geral são, em média, mais de 28 mil cabeças ao ano, sendo que a perspectiva para este ano é chegar a 35 mil animais até dezembro”, observa Gaspar Itajara Soares da Silveira, informando ainda que o município abriga ainda 110 mil ovinos e 16 mil equinos. Segundo ele, o sucesso comercial do município se deve especialmente

pela estreita parceria da entidade com o Sindicato Rural, núcleos de criadores, prefeitura municipal e escritórios de remates - sem contar, é claro, aos constantes investimentos em genética feitos pelos produtores locais. O chefe da Inspetoria Veterinária do município destaca ainda a força do segundo distrito, onde foi inaugurado em janeiro do ano passado o Centro Integrado de Atenção ao Produtor, no Ibaré, para atender um plantel de pelo menos 130 mil bovinos. Silveira informa ainda que será intensificado o combate aos morcegos, através de ações de controle nas furnas da região.

Gaspar Itajara Soares da Silveira

Feira de ovinos Realizada em 6 de dezembro, a Feira de Ovinos 2014 movimentou R$ 420,5 mil com a venda de 2.336 animais. A mostra deste ano está marcada para o dia 17 de dezembro, quando ocorre mais uma edição do Concurso de Carcaças Ovinas, cuja renda será revertida novamente em favor da Apae de Lavras do Sul.

Calçamento das ruas internas do parque de exposições já foi concluído, sendo que o novo pavilhão para os equinos também está quase pronto

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Fotos: Felipe Ulbrich

Mercado

Galpão dos tropeiros também recebeu melhorias

Tratamento igual para todos Conscientes de que é preciso trabalhar em sintonia com o meio ambiente, os produtores lavrenses vêm melhorando a qualidade de seus rebanhos com investimentos em genética de ponta e adoção de práticas simples, como o diferimento das pastagens, ação adotada pelo pecuarista João Bonifácio, que dividiu a estância O Tempo é Ouro em 11 potreiros, de 3,7 hectares cada, remanejando os animais a cada três dias para manter seus campos em perfeito estado de conservação. “Meu gado é criado exclusivamente em campo nativo. Há mais de 70 anos não entra arado nas nossas terras”, observa o produtor, que já realizou dias de campo em parceria com a Emater e a Embrapa e há dois anos participa também da Alianza del Pastizal. Bonifácio lembra que iniciou na pecuária financiando as primeiras vacas, sendo que com a venda dos primeiros produtos foi adquirindo novos ventres, mantendo atualmente 32 fêmeas na cria, com um índice de quase 100% de assinalação. Em 2014, o produtor 10 -

estreou como vendedor na Feira de Outono de Terneiros de Corte, em maio, onde obteve excelentes resultados. “Vendi meus animais bem acima da média, a R$ 6,30 o quilo”, emenda, o produtor, que há três anos utiliza um touro Braford registrado. “Em Lavras, in-

dependente do tamanho da propriedade, todo mundo é tratado de forma igual. O Sindicato Rural não difere o pequeno do grande produtor, todos são tratados da mesma maneira”, garante, lembrando que mantém amizade de longa data com produtores ligados a entidade.

João Bonifácio vende seus terneiros na feira de Outono do Sindicato Rural


O Maio de Ouro, que concentra grandes eventos do Sindicato Rural, registrou um faturamento de R$ 8 milhões em 2015 com a venda de 6.886 animais em cinco remates. A novidade ficou por conta de um pregão com gado para invernada, uma vez que este ano o mês teve cinco finais de semana. Destaque para a 35ª Feira de Outono (II Etapa), que movimentou R$ 2,7 milhões com a venda de 2.564 terneiros, e para a XIX Feira Alternativa de Terneiros, Terneiras e Vaquilhonas, que arrecadou R$ 1,4 milhão com a comercialização de 1.675 animais. Outros dois remates também ultrapassaram a marca de R$ 1 milhão: Cite 27, com R$ 1,2 milhão para 870 animais, e Ventres, com R$ 1,7 milhão para 1.253 animais. “Tivemos 97% dos animais vendidos, com aumento de 17% no preço médio e 13,5% no faturamento

em relação ao ano anterior”, comemora José Antônio Fabrício de Souza, dirigente do Sindicato Rural. “Mesmo com diminuição da oferta, devido à inclusão da feira de abril, o faturamento foi maior”, emenda. Zeca lembra ainda que um dos jurados da feira de outono afirmou ser muito difícil juntar um número tão grande de lotes padronizados como os que passaram pela pista do recinto de leilões do Sindicato Rural naquela ocasião. “Isso se deve a orientação correta nos acasalamentos das raças britânicas ou seus cruzamentos, essa genética, sem dúvida, influencia nos resultados e garante uma melhor comercialização”, prossegue, citando ainda o grande número de propriedades lavrenses atendidas pelo Programa Juntos para Competir, o que tem resultado em melhorias na alimentação, manejo e genética dos rebanhos.

Foto: Nina Boeira

maio de ouro apresenTa crescimenTo de 13,5%

José Antônio Fabrício de Souza

MAIO DE OURO 2015

35ª FEIRA DE OUTONO II ETAPA 150 lotes, 2564 terneiros faturamento total: R$ 2.775.250,00

XIX FEIRA ALTERNATIVA DE TERNEIROS, TERNEIRAS E VAQUILHONAS 122 lotes, 1675 animais faturamento total: R$ 1.469.680,00

REMATE CITE 27 65 lotes, 870 animais faturamento R$ 1.276.180,00

REMATE DE VENTRES 95 lotes, 1253 animais faturamento R$ 1.735.770,00

Foto: Nina Boeira

REMATE INVERNADA 44 lotes, 524 animais faturamento: R$ 832.750,00

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Mercado

ExpoLavras impulsiona o agronegócio regional

REMATES EXPOLAVRAS 2014 REMATE SELEÇÃO BRANGUS 2014 – Condomínio Rural Weiler 337 bovinos - R$ 848.970,00 REMATE DE CAVALOS CRIOULOS NCCCLS 5 animais - R$ 24.000,00 REMATE DAS CABANHAS SÃO CRISPIM E PRIMAVERA 15 animais - R$ 30.480,00 REMATE DE VENTRES BOVINOS 1685 animais - R$ 2.241.290,00 REMATE DOMA E LAÇO (Cabanhas Macanudo e Don Marcelino) 36 cavalos crioulos - R$ 126.090,00 REMATE DE TOUROS 36 animais - R$ 209.200,00

Fotos: Nina Boeira

31ª FEIRA DE PRIMAVERA DE TERNEIROS DE CORTE II ETAPA 1558 animais - R$ 1.987.270,00

Entre os dias 29 de outubro e 03 de novembro o Parque Olavo de Almeida Macedo recebe mais uma edição da ExpoLavras, feira anual com remates especializados de bovinos e equinos que visa também a comercialização de insumos, máquinas e implementos agrícolas, promovendo ainda ações sociais e culturais, com a apresentação de artistas locais. O acesso é gratuito durante todos os dias, todavia ocorre uma arrecada12 -

ção voluntária cuja renda é destinada, na íntegra, à Apae de Lavras do Sul. “Nosso objetivo é proporcionar bons negócios tanto para os compradores como para os vendedores, fomentando o agronegócio regional”, reforça o presidente do Sindicato Rural, Jozé Ângelo Etchichury, lembrando que em 2014 a exposição movimentou R$ 5,46 milhões com a venda de 3.672 animais em sete remates.

Jozé Ângelo Etchichury


Feiras especializadas mavera é a venda de fêmeas na feira de terneiros que ocorre no mês de outubro em Lavras do Sul. “Trata-se de uma oferta qualificada, com fêmeas em bom estado corporal que poderão ser colocadas na cria logo em seguida”, reforça Jacques Brasil de Souza, presidente da Associação dos Núcleos de Produtores de Terneiros de Corte (ANPTC-Sul), entidade que congrega ainda os núcleos de produtores de terneiros de Caçapava do Sul, Pinheiro Machado, Cachoeira do Sul, Santana da Boa Vista e São Sepé, que, juntos, ofertam aproximadamente 25 mil animais todos os anos em suas feiras.

Jacques Brasil de Souza

Fotos: Nina Boeira

Presidente do Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte de Lavras do Sul (NPTC), José Carlos Paiva Severo lembra que, em 2013, houve a divisão da Feira de Primavera de Terneiros de Corte em duas etapas, uma durante a ExpoLavras e outra realizada um mês antes. “A etapa extra se fez necessária para antecipar a venda de quem precisa liberar as pastagens mais cedo para o plantio de soja, e foi adotada também para a feira de outono, decisão que se mostrou muito acertada”, observa o dirigente, que agora comercializa parte de sua produção em abril e o restante em maio. Já a novidade a partir desta pri-

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Seminário

de onde virão os terneiros?

Foto: Nina Boeira

Retomada do seminário cujo objetivo é elevar a produtividade da pecuária no Estado ocorreu em Lavras do Sul

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Sistema Farsul reabriu as discussões do seminário “De Onde Virão os Terneiros?”, escolhendo Lavras do Sul para sediar o evento, cujo objetivo é elevar a produtividade da pecuária no Estado, especialmente em um momento no qual a soja avança sobre áreas de criação, exigindo novas práticas e mais tecnologia no campo. O primeiro dia foi dedicado a visitas a

três propriedades do município, com dia de campo na Invernada da Caneleira, Estância do Sobrado e Fazenda Santo Antônio, onde foram mostrados terneiros desmamados e novilhos de sobreano, além de novilhas de 2,5 anos prenhas. No dia seguinte, foram realizadas palestras que versaram sobre o melhoramento genético e seleção animal, aumento da produção de terneiros, sanida-

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de, boas práticas agropecuárias e sustentabilidade, entre outros temas. “Esse simpósio já deveria ter sido feito há mais tempo, pois Lavras deve ser o maior centro produtor de terneiros do Rio Grande do Sul, com certeza. Pelo fato de ser o maior fornecedor de terneiros, o elo mais importante da cadeia, esse seminário não poderia ficar longe daqui”, destaca o vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Gedeão Pereira, justificando a escolha do município para a retomada do evento criado em 2012. O dirigente reconhece que houve um incremento espantoso no plantio de soja na Metade Sul, onde já são cultivados mais de um milhão de hectares, porém, não acredita que a cultura seja uma ameaça para a região. “Não vejo como um problema, pelo contrário, ela vem para favorecer a pecuária. Estamos atrás de um modelo, porque não sabemos qual é o limite da soja. Precisamos adaptar a pecuária, fazer essa integração, pois ela integrada à lavoura de arroz já existe muito tempo”, pondera. “Não sabemos o seu limite, não tenho essa resposta, e acho que ninguém tem. Sempre digo que quando sabemos as respostas, mudam as perguntas. E o que estamos vendo agora é que as perguntas mudaram, estamos atrás de uma resposta para essa nova realidade do Pampa gaúcho”, emenda Pereira. Tradicional comprador das feiras de terneiros do município, desde as primeiras edições, ele destaca a evolução da pecuária lavrense, lembrando que no passado era muito difícil encontrar um terneiro com 160 kg, peso mínimo exigido para participar da feira, sendo que hoje muitos lotes ultrapassam facilmente os 200 quilos. “O que vimos foi uma pecuária conduzida em campos naturais, com índices top de eficiência produtiva e que serve para qualquer lugar no mundo. Porque rodeios de cria acima de 90% de prenhez, desmamando terneiros acima de 200 kg e entourando com dois anos, eu diria que está quase no limiar fisiológico. Ainda não está, porque isto significa entouramento aos 14 meses, que é uma semente que este simpósio está plantando 16 -

aqui, o que seria o último passo para a eficiência máxima. Mas, dentro da proposta de Lavras, de campos naturais, já se atingiu os limites top de produção”, conclui o vice-presidente da Farsul. Questionado se a expansão da soja pode contribuir para a diminuição da oferta de terneiros futuramente, o presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais do RS, Jarbas Knorr garante que não há preocupação. “Nós estamos agradecendo a soja, pois ela botou dinheiro no bolso do produtor rural e isso fez com que ele, capitalizado, pudesse comprar terneiros melhores, pagando até um pouco mais. Antigamente o produtor tinha só o bovino, hoje ele tem uma renda dupla, tem a pecuária e tem a agricultura, que vem também facilita o engorde dos animais”, argumenta. Fernando Adauto Loureiro de Souza observa que existem muitos produtores que estão plantando soja sem abandonar pecuária. “Entendo que talvez mude um pouco o perfil do produtor rural, o perfil da atividade. Agora, quanto a reduzir rebanho, diminuir a oferta de gado, acho pouco provável. Não vejo grandes riscos, até porque o plantio já vem acontecendo a algum tempo e nós não temos sentido isso em nossas estatísticas”, reforça o titular da Estância São Crispim.

Gedeão Pereira

Fotos: Nina Boeira

Seminário

Jarbas Knorr


Aprendizado constante

Renato Müller

Foto: Nina Boeira

Max Soares Garcia

Fotos: Jairo Nether

Após participar da etapa realizada em Santa Maria, em 2012, o produtor Renato Müller também rumou a Lavras do Sul atrás de novos conhecimentos para melhorar a eficiência da atividade agropecuária. “O processo de aprendizagem é constante. Vim porque tenho uma estância onde faço a integração x lavoura pecuária, processo que depende muito do resultado da cria desenvolvida em Caçapava do Sul. Quando levo os animais para a resteva da soja, em Júlio de Castilhos, onde tem comida em abundância, fica bem mais fácil”, explica. Vindo de Pinheiro Machado, o vice-presidente da ANPTC-Sul, Max Soares Garcia, também elogia o trabalho realizado pelos produtores lavrenses, ressaltando que todos que participaram do dia de campo voltaram para casa com novos conhecimentos sobre manejos simples que poderão alavancar os índices produtivos dos seus sistemas de criação.

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Seminário

Promoção da Farsul e Casa Rural, o seminário realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado (Senar-RS), nos dias 8 e 9 de abril, constituiu a 64ª etapa do Fórum Permanente do Agronegócio e contou com o apoio do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Agronomia da UFRGS, Sindicato Rural de Lavras do Sul e Associação dos Núcleos de Produtores de Terneiros de Corte (ANPTC-Sul). “Foram apresentados diferentes tipos de campos, todos com gado de cria de excelente qualidade e altos níveis de produtividade”, salienta Jacques Brasil de Souza, presidente da ANPTC-Sul e administrador da Estância do Sobrado, de Berenice Brasil de Souza e filhos. Segundo ele, há cerca de três anos a estância vem mantendo uma média de 85% de repetição de cria, sendo que em novilhas de primeira cria o índice chega a 90%. Resultados que são obtidos com

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técnicas simples, como o diferimento de pastagens e o melhoramento do campo nativo, onde são criadas as fêmeas logo após o parto. Presidente do Sindicato Rural de Lavras do Sul, Jozé Ângelo Etchichury explica que o objetivo da visita a sua propriedade foi mostrar que é possível se adaptar às condições de meio existentes e melhorar a produção, mesmo em campos com maior grau de dificuldades como os seus. “Com manejo adequado é possível produzir com qualidade”, define o titular da Invernada da Caneleira, focada na produção de terneiros a partir do cruzamento com raças britânicas. A última propriedade visitada foi a fazenda Santo Antônio, que no ano passado registrou um índice de prenhez de 95%, obtendo 100% em dois potreiros. Segundo Eloí de Tarso Teixeira, contribuíram para estes resultados o ajuste

Fotos: Nina Boeira

pecuária em evolução

Eloí de Tarso Teixeira com a esposa Marlei

de lotação da carga animal e a redução da idade de entoure das novilhas, que baixou de três para dois anos de idade. “Após desmamadas, as fêmeas entram em reprodução com cerca de 350 Kg, recriando melhor os terneiros e obtendo bom índice de repetição de cria”, ensina


dos índices apresentados. “Foi mostrada uma genética adaptada ao ambiente, com oferta de pasto e um conjunto de práticas sanitárias, e a prova de que estão usando estes componentes são os indicadores reprodutivos. As propriedades foram muito bem escolhidas, porque de fato estão combinando estas variáveis que compõem o sistema de produção: genética, oferta forrageira, sanidade e práticas de manejo. Estão muito acima da média, se todos de uma hora para outra fizessem o que eles estão fazendo e chegassem a esses indicadores nós teríamos um grande problema, pois teríamos uma superoferta de terneiros”, acrescenta. Lobato pondera ainda que não vê com preocupação a acelerada expansão da soja no Estado. “Não acredito que a soja seja preocupante, pelo contrario, os produtores que estão usando a soja para melhorar o nível nutricional dos seus rodeios estão tendo indicadores maravilhosos. Esses produtores que estão usando a soja e fazendo a administração

José Fernando Piva Lobato

de sua propriedade, se beneficiam do azevém da resteva de soja, estão mudando a época de monta, por decorrência de parição, porque as vacas estão parindo não em setembro, mas no final de junho e julho, em cima do azevém. Estão mudando aquilo que era proibido de fazer: vaca parir em junho, julho e agosto porque não tem pasto. Ao contrário, as vacas estão parindo num oásis e isto mudou os indicadores reprodutivos desses produtores. Não há nada pronto, temos sim uma pecuária em evolução.”

Foto: Jairo Nether

o produtor, que trabalha com bovinos Hereford de Bradford, em ciclo completo, além de ovinos Corriedale e Texel. Para o produtor lavrense Fernando Adauto Loureiro de Souza, o grande destaque do dia de campo foi perceber o avanço dos companheiros em termos de genética e, sobretudo, da produtividade de seus rebanhos, com índices de natalidade muito acima da média. “Na última propriedade que visitamos o índice de prenhez é acima de 90%, o que pode ser considerado excelente em qualquer rebanho do mundo submetido às melhores condições alimentares. Aqui isso é feito em condições rigorosamente sustentáveis de campo natural, o que demonstra que esse grupo de produtores está no rumo certo, buscando alta produtividade com um custo baixo.” O engenheiro agrônomo do Departamento de Zootecnia da UFRGS e coordenador do seminário, José Fernando Piva Lobato, confirma que os estabelecimentos visitados estão na direção correta, comprovando isso através

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Parceria entre entidades

Somando forças para crescer

Foto: Divulgação/Sebrae

O Sindicato Rural de Lavras do Sul participa do Projeto Líder, realizado na Associação Rural de Bagé, no qual se instiga lideranças de diferentes setores a propor ações e projetos visando o desenvolvimento regional

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obilizar e integrar lideranças para o planejamento estratégico e a gestão do desenvolvimento através de pequenos negócios. É este o objetivo do projeto “Projeto Líder - Liderança para o Desenvolvimento Regional, desenvolvido e executado pelo Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas, que desde abril reúne representantes de 21 municípios das regiões da Campanha e Fronteira Oeste tendo como sedes Bagé e Uruguaiana, respectivamente. “A ideia é desenvolver os

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líderes - não criar novas lideranças - visando desenvolver cada região como um todo”, explica Angelo Aguinaga, do Sebrae/RS. Segundo ele, o projeto que teve início em Pelotas serve de modelo para todo o país e deverá ser estendido também a outros estados brasileiros a partir de 2016. “Muita coisa boa já aconteceu, todos tem hoje uma relação mais próxima, trocam informações em prol de suas regiões. A expectativa é de que realmente algum projeto seja posto em prática, que consigam construir uma agenda


sustentável, através de uma pecuária a pasto e muito produtiva. Francisco Abascal elogia a iniciativa do Sebrae/RS e garante que a experiência está sendo muito boa, pois reúne lideranças de todos os setores em busca de fórmulas e soluções que levem ao desenvolvimento da região. Citando ainda a participação do prefeito Alfredo Borges, o ex-presidente do Sindicato Rural de Lavras do Sul, destaca ainda que a representação do município é uma das maiores no Projeto Líder, tendo inclusive dois integrantes que representam a nova geração de produtores lavrenses: o atual vice-presidente da entidade, Jacques Brasil de Souza e a produtora Yara Bento Pereira Suñe, que também faz parte da nova diretoria da Farsul, que assumirá no início de 2016. “Estamos aproveitando esse contato com prefeitos e representantes da indústria e do comércio para mostrar o que pode ser feito para desenvolver a região a partir de três pilares: agronegócio, turismo e energia”, explica produtora rural, reforçando que o projeto é totalmente apartidário. “Todos trabalham juntos, de forma integrada. Está acima de qualquer disputa política ou questões pessoais”, completa.

Angelo Aguinaga

Foto: Divulgação/Yara Suñé

única levando em conta o desenvolvimento regional”, prossegue, lembrando que as atividades devem ser finalizadas em maio de 2016. Antes, porém, em março, deve ser realizado um grande encontro reunindo os dois grupos, mais os gestores capacitados em 2008 no Sul do Estado. Cada encontro reúne cerca de 40 gestores de instituições públicas e privadas, como prefeitos e presidentes de sindicatos rurais, bem como lideranças do meio empresarial e do terceiro setor, sendo que ao final do Projeto Líder cada região terá desenhado seu plano estratégico, definindo seu sistema de governança e criando um método de acompanhamento e controle de gestão do desenvolvimento. Rodrigo Borba Moglia, presidente da Associação e Sindicato Rural de Bagé, destaca que o setor do agronegócio tem sido bastante assíduo em todos os encontros, tanto pela participação dos dirigentes sindicais quanto de empresários que compõem o grupo. “Com isso temos encaminhado importantes demandas e projetos que no futuro poderão impulsionar ainda mais nosso setor”, emenda. De acordo com o engenheiro agrônomo, é fundamental a participação de sindicatos como o de Lavras do Sul, especialmente por compartilhar com todo o grupo uma visão de desenvolvimento

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Sustentabilidade

carne do pampa com selo de qualidade Fotos: Felipe Ulbrich

Iniciativa pretende valorizar fazendas cujo sistema prevê a produção sustentável em pastagens naturais

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A

Alianza del Pastizal e o grupo Marfrig lançaram em agosto um selo de qualidade para a carne bovina produzida em fazendas gaúchas cujo sistema produtivo conserva as pastagens naturais do bioma Pampa, que ocupa cerca de 100 milhões de hectares partilhado pelo Rio Grande do Sul, Argentina, Uruguai e Paraguai. Conforme o gerente de Sustentabilidade do Marfrig, Mathias Almeida, faltavam apenas detalhes para a carne começar a ser ofertada numa grande rede de supermercados do país. Segundo ele, até o final de 2015, o selo deve estar rotulando embalagens com

a produção dos 110 criadores que já integram a Alianza del Pastizal no Rio Grande do Sul, onde a área certificada chega a 120 mil hectares, sendo 80 mil de campos nativos - considerando os quatro países que integram o bioma, são mais de 400 mil hectares. “Nosso objetivo não é produzir volume, mas sim qualidade”, acrescenta, reforçando que a carne produzida no Pampa é rica em ômega 3, como o salmão, por exemplo. “Nossa intenção é incentivar a produção sustentável e evitar, de certa forma, que o bioma seja convertido em uma monocultura”, prossegue Almeida, informando ainda que será buscada também uma

forma de compensar os produtores que conservam seus campos, produzindo de forma sustentável. Durante o evento, o CEO do Marfrig Global Food, Martín Secco Arias, disse que os produtores precisam acreditar no projeto e se comprometeu a fazer tudo o que for possível para concretizá-lo. “Faremos todo o esforço necessário para que esse produto chegue às gôndolas de todos os lugares onde o Marfrig coloca sua carne”, disse, lembrando que a empresa possui projetos semelhantes também em outros países, como o Uruguai, onde há 20 anos produz carne orgânica certificada para o mercado americano.

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Sustentabilidade

Conservação é boa para todos a Alianza passam por avaliação e certificação de seus processos produtivos. O biólogo Pedro Develey - um dos idealizadores da iniciativa que visa a conservação das pastagens naturais do Pampa lembra que a proposta enfrentou resistência quando foi apresentada pela primeira vez, há 11 anos, pois quando se falava em conservação as pessoas tinham a ideia de que isso poderia emperrar seus negócios. “Hoje, os produtores entendem que a conservação é boa para todos”, observa o diretor de conservação da BirdLife/SAVE Brasil. Ele reforça, no entanto, que será preciso uma estratégia de comunicação para consolidar a marca, pois para pagar mais, o consumi-

dor tem que entender e comprar a ideia. “É preciso mostrar que esta carne realmente é diferenciada”, defende. Para o produtor Fernando Adauto Loureiro de Souza, membro da Mesa Diretiva da Alianza del Pastizal, o lançamento de um selo para a carne produzida de forma sustentável dentro do bioma Pampa representa um grande passo para a concretização da ideia lançada em 2007, durante o I Encuentro de Ganaderos de Pastizales Naturales del Cono Sur de Sudamerica. “É uma carne que possui uma composição muito mais saudável, com menos colesterol, comparável a carne de peixe”, completa.

Foto: Tiago Francisco/Divulgação Farsul

De acordo com o coordenador da Alianza del Pastizal no Brasil, Marcelo Fett Pinto, os animais serão abatidos na planta do frigorífico Marfrig em Bagé. Ele ressalta, porém, que para participar da iniciativa as propriedades devem manter no mínimo de 50% de seus campos nativos conservados. "O selo da Alianza del Pastizal permitirá aos consumidores identificar e selecionar a carne produzida de forma alinhada à conservação do meio ambiente, e importantes superfícies de campos nativos, vegetação original e predominante do pampa sul-americano", destaca o engenheiro agrônomo, reforçando ainda que já que todas as propriedades que integram

Troféu Campeador A Alianza Del Pastizal, na pessoa do seu coordenador do Brasil, Marcelo Fett Pinto, foi agraciada com o Troféu Campeador. O prêmio da RBSTV é destinado a grandes, médios e pequenos produtores, pesquisadores da área, profissionais,

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técnicos e lideranças que trabalham no meio rural e que, juntos, fazem crescer a economia do Rio Grande do Sul. A distinção tem como objetivo reconhecer, estimular e cultivar, por meio de indicações de entidades ligadas ao agronegócio, novas e boas ideias para

o desenvolvimento do setor, além de valorizar o que está sendo feito de melhor no campo. Os cases foram avaliados pelos critérios de contribuição econômica e social para o Estado, valorização do agronegócio, sustentabilidade, preservação do meio ambiente e ineditismo.


II Remate Alianza del Pastizal movimenta R$ 2,4 milhões

Foto: Nina Boeira

A segunda edição do remate de gado certificado pela Alianza del Pastizal, através do ICP - Índice de Conservação de Campos Naturais, arrecadou R$ 2,4 milhões com a venda de 1.478 animais. O pregão realizado em abril, no parque de exposições do Sindicato Rural de Lavras do Sul, registrou incremento de 60% em relação ao ano anterior, quando foram comercializados 1.115 animais por R$ 1,5 milhão. “Tivemos pista limpa, tanto compradores como vendedores saíram satisfeitos”, comemora Marcelo Fett Pinto. Segundo Fernando Adauto Loureiro de Souza, um dos organizadores do evento, o remate superou as expectativas iniciais em todos os aspectos. “Aumentou o número de animais, sem reduzir a qualidade e com médias muito boas. Pode se dizer que está consolidado, pois tivemos também um maior número de vendedores”, acrescenta.

Apoio à atividade agropecuária renda aos pecuaristas lavrenses é a busca de investimentos para a produção de energia eólica. “Temos cerca de dez torres já instaladas para a medição dos ventos, sendo que duas empresas já se encontram habilitadas a participar de leilões de energia”, emenda. Borges também destaca

a participação no Projeto RS 2030, da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), que discute o futuro do Rio Grande do Sul e busca detectar as deficiências de cada região, bem como o que pode ser feito em prol de seu desenvolvimento.

Fotos: Felipe Ulbrich

Entre as ações voltadas ao meio rural, o prefeito de Lavras do Sul destaca a manutenção das estradas vicinais para escoar a produção agropecuária, afinal, a produção de soja deve aumentar cada vez mais no município. Segundo Alfredo Borges, o incremento no plantio da oleaginosa na região não é motivo de preocupação, já que muitas áreas não são propícias à agricultura. “Pela sua caracterização geográfica, Lavras deve permanecer com, no mínimo, 70% de sua área voltada à exploração pecuária. Trata-se de uma parceira que não tira o espaço, mas sim que agrega valor”, observa. O prefeito ressalta ainda a parceria com o Governo do Estado, através do Programa Dissemina, responsável pela inseminação de pelo menos 200 bovinos - a maioria gado leiteiro - de agricultores familiares do município, com custos subsidiados. Outra iniciativa que pode agregar

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Fotos: Felipe Ulbrich

Ação Social

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Carinho para quem precisa de atenção especial Maior parte da verba da Apae de Lavras do Sul provém do Concurso de Carcaças, realizado durante a Feira de Ovinos, e da bilheteria da ExpoLavras

H

parte dos recursos, porém, é obtida com o leilão das carcaças inscritas no concurso realizado durante a Feira de Ovinos, que em sua última edição arrecadou R$ 14,5 mil com a venda dos 20 exemplares que participaram da disputa. “O apoio do Sindicato é imprescindível para o bom funcionamento da entidade, tendo em

Foto: Divulgação/Apae

á pelo menos uma década o Sindicato Rural é parceiro da Apae de Lavras do Sul, promovendo ações que visam angariar recursos para a sua manutenção. Durante a ExpoLavras, onde o acesso é gratuito, é realizada uma arrecadação voluntária cuja renda é destinada, na íntegra, à instituição. A maior

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Ação Social vista que a renda obtida através dessa parceria representa aproximadamente 85% do orçamento anual da instituição”, observa a presidente da Apae, Helen Franco, que ingressou como voluntária, em 2005, e assumindo a direção da entidade no ano passado. Patrícia Garcia Teixeira, secretária da Apae há 12 anos, conta que são atendidos 27 portadores de necessidades especiais atualmente, a maior parte adultos, que participam de uma intensa programação semanal. Na segunda-feira, fazem exercícios numa academia de ginástica, sendo que no dia seguinte participam de oficinas de canto. Quarta-feira é dia de artesanato e apresentações artísticas; na quinta participam de oficinas de dança. Já as tardes de sexta-feira são resevadas a atividades no parque do Sindicato Rural, que há pouco mais de dois anos doou um cavalo com encilhas para a prática de exercícios que desenvolvem a psicomotricidade. Como entidade não possui uma verba fixa, contando apenas com pequenas taxas mensais dos sócios e verbas eventuais obtidas em programas governamentais, a maior parte do trabalho desenvolvido em prol da entidade é realizada por voluntários, como Carlos Heran Crespo, responsável pelo atendimento odontológico, realizado num pequeno consultório

cujos equipamentos foram doados pelo produtor Edelcir Severo. “Sinto-me realizada em poder ajudá-los. Tudo o que vem deles é muito sincero, sentem-se valorizados”, acrescenta Patrícia, lembrando que a entidade virou Apae em 23 de março de 2002, atuando até então apenas como centro de apoio. Cedida pelo município há nove anos, Elene Umpierre Crespo é responsável pelo atendimento psicopedagógico a 14 crianças, entre elas a pequena Bibiana, de apenas cinco anos, a mais nova entre os assistidos atualmente pela Apae de Lavras do Sul. Ela conta que no início achava que não teria condições de trabalhar com portadores de necessidades especiais. “Foi um desafio. Percebi que

as necessidades deles eram grandes e eu tinha pouca experiência, razão pela qual decidi fazer uma especialização em psicopedagogia. Hoje não saberia mais viver sem esse trabalho”, revela, garantindo que quando se aposentar seguirá atuando como voluntária da entidade.

Patrícia Garcia Teixeira

Elene Umpierre Crespo e Bibiana

Integração com a comunidade O médico veterinário Crispim Raimundo de Souza Filho, de 63 anos, é um dos inúmeros voluntários que emprestam parte de seu tempo livre para ajudar a quem precisa. Proprietário da Estância do Continente, ele conta que pelo fato de morar na fazenda acabava tendo pouco contato com a comunidade, por isso resolveu fazer também sua parte em prol da entidade. Quando soube que o Sindicato Rural havia doado um equino para a prática de exercícios que levam em conta os princípios 28 -

da equoterapia, resolveu seguir o mesmo exemplo, sendo que além da doação, colocou-se à disposição para ajudar no desenvolvimento das atividades práticas, trabalho que realiza já há dois anos. “Todas as sextas, às 14h, já estou com o cavalo encilhado a espera dos alunos”, conta, orgulhoso, lembrando que seu pai foi o primeiro presidente do Sindicato Rural de Lavras do Sul. “Fico feliz em poder participar dessa ação, hoje me sinto mais integrado à comunidade”, completa.

Crispim Raimundo de Souza Filho


Sintonia com o mercado, harmonia com o meio ambiente.

NĂşcleo de Produtores de Terneiros de Corte de Lavras do Sul - RS - 29


Foto: Marcelo Fett Pinto

Especial

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Mosaico de ambientes garante a riqueza do Pampa Levantamento da avifauna realizado em propriedades membro da Alianza del Pastizal, em Lavras do Sul, comprova o potencial para a conservação e a observação de aves na região

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Especial

O

Fotos: Glayson Bencke

s resultados preliminares do primeiro levantamento de avifauna em propriedades lavrenses que integram a Alianza del Pastizal - e com ICP calculado - surpreenderam o ornitólogo Glayson Bencke, com larga experiência em observação e contagem de aves nas mais variadas regiões gaúchas. “Logo na primeira amostragem identificamos 130 indivíduos, de várias espécies. É um número bastante alto, surpreendeu até mesmo alguns dos proprietários”, reconhece o biólogo do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. “Além do alto número de indivíduos, tivemos um número expressivo de espécies registradas”, prossegue, informando que foram avistadas 122 apenas numa das sete propriedades visitadas. Responsável pelo estudo ao lado de Felipe Zilio e Tiago Steffen, ele ressalta que - apesar de surpreendentes - os

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Veste-amarela (macho)


números absolutos não dizem muito sobre a qualidade dos campos, já que incluem todas as aves encontradas, razão pela qual chama a atenção especialmente àquelas exclusivas dos campos nativos. “A riqueza de campo foi, em geral alta, variando entre 34 e 38 as espécies associadas ao campo”, prossegue o especialista, informando que a metodologia empregada foi a mesma em cada propriedade, sendo delimitada por imagem de satélite uma área de 2 km x 2 km, totalizando 400 hectares para a realização do levantamento e contagens. Conforme o biólogo, para a manutenção geral da biodiversidade, é preciso manter um mosaico de ambientes, já que existem aves que se adaptam a campos baixos, enquanto algumas - entre elas a maior parte das espécies ameaçadas - dependem de outras configurações de habitat,

Veste-amarela (fêmea)

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Noivinha-de-rabo-preto (fêmea)

não estamos desperdiçando incentivos com estabelecimentos que não protegem. Pelo contrário, todas as propriedades que visitamos mostram uma boa representatividade da avifauna dos campos nativos, algumas com mais espécies ameaçadas, outras com maior riqueza. Cada uma se destacou num dos quesitos avaliados, o que comprova que a riqueza está no conjunto e que a diversidade de manejos dentro e entre propriedades é muito importante para a conservação do ecossistema”, pondera. De acordo com Bencke, o levantamento confirmou ainda o grande potencial para a observação de aves na região, mesmo Lavras estando longe dos grandes centros urbanos. “Num raio de poucos quilômetros a partir do centro da cidade é possível avistar uma quantidade satisfatória de espécies do Pampa. Então, poderia ser montado um pacote turístico que envolvesse três ou quatro propriedades, aliando a observação de aves à cultura, culinária típica e artesanato, por exemplo.”

Foto: Divulgação

sobretudo a altura e a densidade da vegetação. “São aves de capinzais ou de campos engrossados, onde a carga animal é baixa ou até mesmo inexistente. Se não houver esse ambiente elas não persistem na paisagem ou têm populações tão pequenas que correm risco”, acrescenta, citando ainda aquelas que dependem - exclusivamente ou em combinação - de alguns microambientes específicos, como os gravatazais existentes em pequenos banhados, que servem como maternidade para muitas espécies e de refúgio para tantas outras. “Para maximizar a conservação das aves campestres é preciso manter esse grande mosaico, com áreas de pasto curto, onde vai estar o quero-quero, o caminheiro, a coruja buraqueira e a perdiz; campos mais heterogêneos, com touceiras combinadas com pasto mais baixo, onde estarão se alimentado o veste-amarela (Xanthopsar flavus) e a noivinha-de-rabo-preto (Xolmis dominicanus); e áreas de campos densos e bem conservados, para as aves que não toleram o pastoreio, como a corruíra do campo e o caboclinho”, observa Bencke. Segundo ele, o estudo foi motivado pela introdução recente do Índice de Conservação de Campos Naturais (ICP) que mede a contribuição das propriedades para a conservação - como instrumento para a concessão de incentivos. “Ajudamos a estabelecer o índice, agora queremos ver se ele está mostrando o que queremos que ele mostre sobre as propriedades. É uma contraprova, para ver se estamos realmente medindo a contribuição de cada estabelecimento e se valores altos do ICP correspondem realmente a áreas bem conservadas, com uma representatividade expressiva de aves da região”, acrescenta o biólogo da FZB, reforçando que - apesar da amostragem ser ainda pequena para interpretações conclusivas – os resultados são muito promissores. “Comprovamos que

Foto: Glayson Bencke

Especial

Glayson Bencke


propriedades visiTadas Cerro Alegre, de Ana Tereza Chiapetta Estância Velha, de João Brasil Fernandes Estância São Crispim, de Fernando Adauto Loureiro de Souza Estância São Norberto, de Sucessores de Norberto Gomes Lo Iácono Estância do Sobrado, de Berenice Brasil de Souza e filhos Cabanha São Crispim, de Bóris Soares Delabary. Estância Camila, de José Antônio Fabrício de Souza

SOMENTE COM A UNIÃO DE TODOS, FAREMOS O NÚCLEO CADA VEZ MAIS FORTE E ATUANTE.

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Especial

espécies ameaçadas

Fotos: Glayson Bencke

Nas propriedades lavrenses foram encontradas aves sensíveis à degradação ambiental, como o caboclinho-de-chapéu-cinzento (Sporophila cinnamomea), espécie ameaçada mundialmente que só vive no Pampa, migrando para o Brasil Central durante o inverno. “Ficamos muito surpresos por encontrar também o caboclinho (Sporophila pileata),, igualmente ameaçado, pois não era conhecida sua ocorrência nessa região do Estado, apenas nas Missões e Norte da Campanha. Foram os primeiros registros na Campanha Meridional”, comemora o ornitólogo, alertando, porém, que se não houver pelo menos manchas significativas de capinzais altos, ele não terá alimento e não se reproduzirá na região. Foram observadas ainda outras aves ameaçadas em escala global, como o veste-amarela. “Foi uma felicidade encontrar a ave símbolo da Alianza del

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Caboclinho-de-chapéu-cinzento

Caboclinho


Pastizal reproduzindo-se em Lavras. Logo na primeira amostragem encontramos um grupo com filhotes no ninho, algo difícil de ver, pois suas colônias são muito sensíveis ao pisoteio pelo gado, bem como ao parasitismo pelo chopim ou vira bosta”, completa, citando ainda a noivinha-do-rabo-preto, que apesar de ser uma espécie totalmente diferente anda bastante associada ao primeiro, pois depende dos gravatazais para a reprodução e para dormir, alimentando-se em campos mais heterogêneos, com densidade média de pastejo e touceiras onde possam se empoleirar. Outro pássaro que chamou a atenção foi a corruíra-do-campo (Cistothorus platensis), principalmente pelo fato de não haver tantos capinzais altos e densos na região. “É tão restrita aos capinzais que até o ninho ela faz no meio do capim.”

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Estâncias de Lavras

Vocação para a pecuária – Parte 5 Utilizando o Pampa de forma sustentável, produtores lavrenses provam que é possível produzir sem degradar o ambiente natural

Fotos: Felipe Ulbrich

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hega ao fim a série que ao longo dos últimos cinco anos resgatou parte da história das estâncias centenárias de Lavras do Sul, que muito contribuíram - e contribuem - para o desenvolvimento de uma pecuária pujante, que faz do município uma referência na produção e comercialização de bovinos de corte. Desta vez trazemos um pouco do trabalho realizado pela Estância dos Eucaliptos, Fazenda Santa Rosa, Sítio do Carmo e Fazenda Estância Velha, todas com pelo menos um século dedicado à produção de gado de forma sustentável no Pampa. A partir da próxima edição apresentaremos novas propriedades rurais, algumas mais jovens, mas que da mesma forma investiram em tecnologia e genética de ponta para produzir ainda mais e melhor, utilizando de forma consciente os campos nativos da região.

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Fazenda Estância Velha A data de construção da sede da Fazenda Estância Velha não é conhecida. Sabe-se, porém, que é anterior a 1890, ano do casamento de Joaquina e Manoel Fernandes. “Ele veio de Portugal para reformar a casa antes de casar”, conta Regina Carvalho Fernandes, que adquiriu a propriedade em 1986 junto com João Brasil Fernandes, com quem ainda mantém parceria na criação de ovinos Ideal e bovinos Angus. Parte da produção é vendida todos os anos na feira de terneiros promovida em maio pelo Sindicato Rural. “Já ganhamos inclusive alguns prêmios de melhor lote da exposição”, acrescenta. Aos 70 anos, ocupa parte do tempo

fazendo quitutes que são vendidos na cidade, mas já trabalhou com turismo rural e pedagógico, recebendo turmas de escolas para um café campeiro com produtos da fazenda. A professora aposentada fez questão de mostrar a mangueira de pedras construída pelos escravos ainda em uso e em excelente estado de conservação. “Lembro de marcações de gado que reuniam mais de 70 pessoas”, emenda, dizendo que o bisavô

falava que cabiam 500 bois gordos na mangueira. No campo, ela conta com o auxílio do neto Arthur, estudante de zootecnia que faz uso de práticas como diferimento de pastagens para poder aumentar a lotação animal e ainda assim manter os campos conservados. “Nosso objetivo sempre foi conservar”, afirma o jovem de 22 anos, informando que a propriedade faz parte da Alianza del Pastizal.

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Estâncias de Lavras

Estância dos Eucaliptos Em 1953, Dalmiro Garcez Caminha adquiriu de Francisco e Afta Ribeiro Lemos a Estância dos Eucaliptos. Hoje, a propriedade pertence ao filho Jacy Coelho Caminha, que administra a PAP Coelho Leal junto com os filhos Jocy e Vera Lúcia, contando ainda com o apoio do neto Gustavo e da nora Jane Mari. “Trabalhamos todos juntos”, explica o produtor de 87 anos. Casado há 62 anos com Noeli Terezinha Leal Caminha, ele conta que a família se dedica a atividade pecuária há mais de um século, trabalhando com ciclo completo desde a época do avô. “Chegamos a ter agricultura no passado, com trigo e soja, mas a aposta agora é na pecuária”, emenda, explicando que a invernada dos ani42 -

mais é feita em outra propriedade. Além das 1200 cabeças de bovinos cruza Hereford, também são criadas cerca de 700 ovelhas Corriedale, utilizadas para o consumo e também para comercialização da lã. “Sempre gostei da lida campeira. Agora, por problemas de saúde não posso mais, mas tenho muito orgulho de ter conseguido vencer na vida e deixar esse patrimônio para os meus filhos”, prossegue Jacy, que passa a semana no campo, junto com o filho, e aos finais de semana ruma a Bagé para ficar ao lado da esposa. A sede da estância, em estilo português, já existia na época da aquisição, sendo que ao longo dos anos diversas reformas foram feitas.

O banheiro das ovelhas é datado de 1949, sendo que a estrutura para banhar os bovinos é ainda mais antiga, segundo Jacy. “Estamos fazendo uma reforma geral nas cercas da propriedade, depois faremos nova manutenção na casa”, completa.

Jocy e Jacy Caminha


Fazenda Santa Rosa Pedro Severo de Leon conta que a Fazenda Santa Rosa pertence à família desde a época de seus bisavós, que vieram de Dom Pedrito e construíram a casa entre 1895 e 1897, conforme as lembranças da mãe, Zilá Severo de Leon, que aos 90 anos volta e meia lhe acompanha em incursões pela fazenda. Segundo ele, os pais passaram a morar na propriedade em 1949, sendo que com 18 para 19 anos passou a trabalhar junto com o pai, que faleceu em 2001. “Meu pai se especializou em feira de terneiros”, ressalta. No tempo dos bisavós, o gado era Shorthorn, depois foi introduzido o Hereford e, mais recentemente, o Angus. Segundo ele, a fazenda já chegou a ter 1500 reses e mil ovelhas

Corriedale e Romney Marsh. Hoje, o rebanho ovino é de apenas 200 animais, mesmo número dos terneiros comercializados anualmente. O pecuarista possui ainda parceria em criatório de cavalos Crioulos e há dois anos passou a investir em soja também. “Estamos iniciando, no primeiro ano o rendimento foi 35 sacas, produção que saltou para 45 no segundo. Este ano nosso objetivo é colher 50 sacas”, revela o produtor, casado com Sandra Mara e pai de Pedro Junior, de 15 anos. Em frente a casa, construída em estilo português, o antigo arado usado pelo avô José Trajano Severo adorna o jardim. “Era puxado por duas juntas de bois, lembro que um deles chamava Formão”, completa.

Pedro Severo de Leon

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Estâncias de Lavras

Sítio do Carmo Construída em 1870, por Vicente Macedo, a sede do Sítio do Carmo enche os olhos de quem circula pelas estradas do Segundo Distrito de Lavras do Sul. Em impecável estado de conservação, a casa em estilo francês abrigou um armazém no início do século e foi adquirida por Ari Coelho Caminha, em 1969, para servir de morada à filha Célia, que reside no local desde então. Célia Caminha lembra que em 1970 iniciou uma parceria ao lado do pai, do marido e dos filhos Adalberto e Marli. Ovinos da raça Corriedale eram criados com fins de seleção genética e o gado de cria era Hereford. Hoje, a propriedade

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trabalha com bovinos Angus e Brangus, comercializando terneiros para invernadores bem como reprodutores das duas raças. O neto Alvim, formado em administração rural, lhe presta o auxílio tanto na parte administrativa como no campo e a filha, que mora em Bagé, procura estar ao seu lado sempre que possível. “É a vida dela, sinto muito orgulho. É uma guerreira, pois ficou viúva com 29 anos e mesmo com dois filhos para criar assumiu as rédeas da propriedade”, observa Marli, contando que a mãe acompanha de perto todo o trabalho e investe em genética para melhorar os planteis. Aos 74 anos, Célia ainda ajuda a

banhar o gado e fez questão de mostrar à nossa equipe o banheiro de imersão construído há cerca de três anos. “É mais prático e garante maior economia de produto”, ensina Célia Caminha, afirmando que tem vocação para a pecuária. “Adoro o gado de cria, essa é minha paixão.”

Célia Caminha e a filha Marli


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Remate

Alianza del Pastizal 23 de abril de 2016

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Equinos

Na disputa pelo ouro

Fotos: Felipe Ulbrich

Freio de Ouro 2015 contou com três representantes lavrenses, sendo que PO Bandidazo garantiu a quarta colocação

A

prova máxima da raça Crioula, disputada durante a Expointer, confirmou a qualidade dos criatórios lavrenses, que classificaram três animais para o Freio de Ouro 2015. A melhor colocação ficou com PO Bandidazo, de Gonçalo Porto Silva, da Cabanha Don Marcelino, que obteve a quarta colocação entre os machos.

Estância do Macanudo, de Mauro e Telmo Ferreira, conquistou o 11º lugar na categoria fêmeas, onde Bandeira da São Crispim, de Bóris Delabary, obteve a 24ª colocação após classificar-se pelo segundo ano consecutivo para a grande final sob a condução de Gustavo Delabary, que inicia sua terceira gestão à frente do Núcleo de CriadoGustavo Delabary

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PO Bandidazo obteve a quarta colocação entre os machos

Foto: Everton Souza Marita

res de Cavalos Crioulos de Lavras do Sul, entidade que foi tema de matéria na edição de agosto da Revista Cavalo Crioulo, órgão oficial de divulgação da Associação Brasileira de Cavalos Crioulos (ABCCC). Segundo ele, o núcleo lavrense tem contribuído muito para a melhoria das manadas da região, orientando bem os pequenos criadores, especialmente durante as revisões coletivas, onde técnicos da ABCCC são convidados a palestrar e repassar conhecimento técnico aos crioulistas locais. “Os resultados positivos na Expointer confirmam isso, provam que nossa seleção está no caminho certo”, emenda, lembrando ainda que a Cabanha Macanudo também classificou a Brahma Extra do Macanudo e o potro Índio Velho do Macanudo para a Morfologia da Expointer.

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Equinos

Credenciadora de alto nível

Novidade no calendário

Gustavo Delabary destaca ainda a importância da credenciadora ao Freio de Ouro realizada no município com o apoio do Sindicato Rural e da prefeitura, que em janeiro reuniu 31 concorrentes em pista sob a avaliação dos jurados César Augusto Rabassa Hax, Mário Moglia Suñe e Renato Morrone. O melhor desempenho foi alcançado pela égua BT Basteira, finalista da modalidade no ano passado e Freio de Prata em 2015. Na categoria machos quem se consagrou foi o próprio presidente do NCCC, que ocupou o lugar mais alto do pódio após vencer a prova com o inédito Diabo da São Crispim, filho do Freio de Ouro, LS Balaqueiro. “A qualidade da prova está cada vez maior, os animais que saem daqui normalmente andam bem”, emenda o dirigente, lembrando que a edição deste ano contou também com disputas do Freio Jovem e Freio do Proprietário.

Além da Credenciadora Mista ao Freio de Ouro, o NCCC de Lavras promoveu este ano o seu tradicional rodeio, além de três revisões coletivas que contaram também com concentração de machos. Já para a ExpoLavras 2015 - com remates e exposição morfológica - a novidade fica por conta de uma prova de potros com premiação em dinheiro. Também está previsto para 2016 um novo leilão de coberturas, cuja verba será usada na conclusão do novo galpão de equinos, que se encontra em fase final. “Já temos 62 cocheiras prontas, e em uso, falta concluir outras vinte”, prossegue Delabary, informando que gostaria de ver a obra concluída até janeiro de 2016, o que possibilitará a realização de eventos ainda mais expressivos. “A falta de espaço limita o tamanho da exposição, pois a maioria dos criadores quer participar também com animais nas categorias incentivo”, completa o presidente do NCCC de Lavras do Sul, que em julho comemorou cinco anos de sua fundação com um jantar-baile animado por Afonso Taborda.

Caco Souza e Aluizio Perez vencem Nacional de Paleteada

Foto: Everton Souza Marita

O Campeonato Nacional de Paleteada da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), realizado durante a Expointer 2015, foi vencido por Aluizio Perez, montando Laçador Gringa, e Carlos Loureiro de Souza, com Manta Pampa Tupambaé, dupla que terminou em segundo lugar no ano passado. A prova que definiu no detalhe a melhor dupla na condução do gado contou com 42 conjuntos, julgados por Eduardo Neto de Azevedo e Leandro Amaral. Conforme o coordenador da Subcomissão de Paleteada da ABCCC, Mário dos Santos Suñe, mais uma vez o nível dos competidores foi altíssimo, com a prova sendo decidida no detalhe.

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- 49 Foto: Everton Souza Marita


Gente de Lavras

Gente de Lavras no mundo

Foto: Jairo Nether

Foto: Divulgação

A partir desta edição a revista Lavras Rural ganha uma nova sessão - GENTE DE LAVRAS, um espaço que vai resgatar homens e mulheres que nasceram em Lavras do Sul e, que com sua trajetória pessoal e profissional alcançaram destaque e projeção no cenário brasileiro e mundial. É, na verdade, um resgate e, um registro para a história de alguns lavreenses, cuja vida e origem é desconhecida da grande maioria da comunidade. Nesta edição apresentamos os dois primeiros, são eles: Paulo Olimpio Gomes de Souza e José Neri da Silveira.

Ainda menino, no centro de Lavras

Paulo Olimpio Gomes de Souza Após distanciar-se da terra natal, advogado lavrense revela que pretende retomar os vínculos e levar os filhos e netos para conhecer as origens da família

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ilho de João Olimpio e Olenka Gomes de Souza, o advogado Paulo Olimpio Gomes de Souza nasceu em 22 de junho de 1940, em Lavras do Sul, onde viveu até os oito anos de idade, quando a família mudou-se para Sarandi, no Norte gaúcho, onde o pai foi exercer atividades advocatícias. Ele conta que passou a infância na Estância Cerro do Tigre, do avô Samuel José de Souza, onde foi alfabetizado 50 -

pela mãe, pela avó e pela tia Olívia, que mantinha uma escola rural na Fazenda da Nazária. “Nas férias, retornava ao município, onde mantinha convívio afetivo com familiares e amigos, desfrutando também do tradicional carnaval lavrense”, prossegue, reforçando que dentre as boas lembranças que guarda de lá estão os banhos na praia do Paredão, onde fez boas amizades e conheceu também a esposa Tânia, que se deslocara desde Porto

Alegre para visitar a irmã. “A terra do ouro me propiciou esta pepita”, brinca, parafraseando o slogan pelo qual Lavras do Sul é conhecida. Após a morte dos avós, acabou se distanciando da cidade da qual guarda sempre saudades. No entanto, revela que pretende reatar os vínculos com a terra natal. “Quero levar meus filhos e netos para conhecer as origens da família”, completa.


Atuação profissional Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em 1963, foi Promotor de Justiça de 1967 a 1991, onde galgou os cargos de presidente da Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, por dois mandatos; presidente da Confederação Nacional do Ministério Público; procurador geral de Justiça do Rio Grande do Sul, também por dois mandatos; e superintendente dos Serviços Penitenciários do Estado do Rio Grande do Sul, por três anos. Quando ainda era Procurador de Justiça, promoveu a acusação do deputado Antônio Dexheimer, suspeito de assassinar em

1988 o colega de bancada José Antônio Daudt, num dos julgamentos mais notórios do tribunal gaúcho e que levou três anos para ser concluído. Paulo Olimpio Gomes de Souza também atuou como docente por 31 anos, coordenando o Departamento de Direito Criminal da PUC/RS, de 1984 a 1999, e atuando como professor na mesma instituição e também na Unisinos, Escola Superior da Magistratura, Instituto dos Advogados e Escola Superior do Ministério Público. Em 1992, após aposentar-se no Ministério Público, passou a exercer a profissão de advogado, a qual se dedica atualmente.

A batida que nos faz vibrar. Dou-lhe uma. Dou-lhe duas. Dou-lhe três. Quando bate o martelo acontece uma mistura de sensações. O que ouve o vendedor é diferente do que ouve o comprador. Ouvidos e olhos atentos guiados pelo mesmo som. O inicio e o fim, a agitação e o silêncio, tudo ao mesmo tempo. Abascal e Borges Remates. Há 22 anos vibrando a cada batida de martelo.

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Foto: Jairo Nether

Gente de Lavras

José Néri da Silveira

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localidade denominada Tabuleiro, distante 24 km do centro de Lavras do Sul, ainda abriga a residência onde nasceu o ex-ministro José Néri da Silveira, em 24 de abril de 1932. Filho de Severino Silveira e Maria Rosa Machado Silveira, ele lembra que o pai mantinha um estabelecimento comercial e dedicava-se também à agricultura, sendo que antes ingressar na escola por muitas vezes trabalhou ao seu lado no plantio e na colheita do trigo. “Tive uma infância feliz”, resume, informando que nos finais de ano busca reunir amigos e familiares na velha casa onde se criou. “Mantenho a propriedade por questões afetivas, para manter viva a memória da família”, emenda o advogado, reforçando que gosta muito de Lavras, onde ainda tem familiares e muitos amigos. Ele também se diz muito grato com o reconhecimento afetuoso prestado pela prefeitura, que deu seu nome à Casa de Cultura do município. Silveira conta que fez os estudos primários com a professora Maria Amália Soares Delabary, na zona rural de Lavras, e o secundário no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, em Bagé, terminando, em 1955, o curso de Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 52 -

em Porto Alegre. No ano seguinte, concluiu o curso de Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), e, em 1957, o de Licenciatura em Filosofia, também pela PUC/RS. Casado com Ilse Maria Dresch da Silveira, com que tem sete filhos, ele revela que sempre teve vocação também para o magistério - como docente, entre 1960 e 1963, foi professor de Direito Civil, na PUC/ RS, e Assistente da cadeira de Introdução à Ciência do Direito, na Ufrgs, em Porto Alegre, tendo lecionado ainda na Universidade do Distrito Federal (UDF), em Brasília, entre 1970 e 1977.

Aniversário de 70 anos em família

Fotos: Divulgação

Ex-ministro foi homenageado pela prefeitura de Lavras do Sul, que deu seu nome à Casa de Cultura do município

José Néri da Silveira e Ilse Maria


Atuação profissional José Néri da Silveira atuou como advogado por dez anos, até ingressar no serviço público estadual, em 1953, lotado no então Departamento de Serviço Público, onde permaneceu até 1961. Nos dois anos seguintes, desempenhou o cargo de Assistente Jurídico na Secretaria de Administração da Prefeitura de Porto Alegre, assumindo logo em seguida o cargo de Consultor Jurídico na Procuradoria Geral do Estado. Em 1965, o governador Ildo Meneghetti o nomeou Consultor Geral do Estado, cabendo-lhe a tarefa de organizar a Consultoria Geral, recentemente criada. Em 1967, integrou a Comissão de Juristas designada pelo governo gaúcho para elaborar projeto de adaptação da

Constituição do Estado à Constituição Federal. No mesmo ano foi nomeado Juiz Federal pelo presidente Castelo Branco, permanecendo no cargo por dois anos e sete meses, até sua posse como Ministro do Tribunal Federal de Recursos, em 9 de dezembro de 1969, desenvolvendo a função até 1981, quando foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, onde permaneceu até a aposentadoria, em 2002. Como membro do STF, entidade que também presidiu por dois anos, foi Juiz eleitoral por muito tempo no Rio Grande do Sul, integrando e presidindo, posteriormente, também o Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, época em que exerceu ainda a função de Corregedor da Justiça Eleitoral.

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Fotos: Felipe Ulbrich

Ovinocultura

Arte que vem do campo Grupo de artesãs utiliza a lã ovina para produzir roupas, mantas, tapetes e colares, entre outros acessórios personalizados

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ssumir responsabilidades sempre fez parte do espírito das mulheres lavrenses, seja em cargos públicos ou à frente de estabelecimentos rurais. Algumas fizeram carreira na política, outras se dedicaram fervorosamente à docência. Muitas delas, porém, encontraram na tecelagem uma forma de se

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valorizar profissionalmente, gerando divisas a partir da lã, matéria-prima abundante nos campos da região. “Temos que repensar o lugar que vivemos e exercitar a criatividade, já que não há muitas alternativas, principalmente pela localização geográfica do nosso município”, observa a assessora cultural da prefeitura

de Lavras do Sul, Rosa Helena de Carvalho Teixeira, reforçando que, por esta razão, há um número significativo de mulheres lavrenses que se dedicam à tecelagem. Artista plástica há mais de três décadas, Rosa Helena destaca o trabalho realizado pelo grupo de artesãs denominado Tecelagem Lavrense, que desde


o início sempre contou com o apoio do poder público, sendo também coordenado pela Emater, que oportunizou cursos e continua buscando formas de incentivo. Ela destaca ainda que o grupo de tecelãs - há várias décadas já - é parceiro do Sindicato Rural, acompanhando todos os eventos, e representando Lavras também fora do município, como nas feiras realizadas durante a Expointer, em Esteio. “No Ibaré, no segundo distrito do município, encontramos grupos de tecelãs que trabalham artesanalmente, fazendo a lavagem da lã em sangas naturais”, revela, informando que as artesãs utilizam ainda produtos naturais para tingir a lã, como beterraba, casca de cebola e carqueja, por exemplo. Rosa Helena observa que a maioria das mulheres ainda trabalha apenas com o fio, mas revela que uma nova técnica vem sendo introduzida no município, sendo utilizada também por ela em suas criações. “A feltragem é utilizada para produzir mantas, tapetes, colares e acessórios personalizados”, conta, explicando que a técnica consiste em friccionar a lã com água quente e sabão. “A feltragem deixa a lã supermacia, permitindo que se desenhe sobre a lã”, emenda conta a artista plástica, que durante a visita de nossa reportagem à Lavras promoveu um desfile, com roupas e acessórios feitos a partir da lã, estrelado pelos alunos da Creche Municipal Professora Noemia Nogueira Teixeira. Conforme a artesã, a feltragem é uma técnica milenar, que antecede a tecelagem e teve origem na Ásia, sendo usada em diversas culturas, como os guerreiros chineses e os soldados romanos. Segundo ela, há também muitas lendas sobre a origem do feltro. Diz-se, por exemplo, que na Arca de Noé se encontravam, entre outros animais, ovelhas num espaço muito pequeno. Devido ao calor, as

ovelhas perdiam a lã e, devido à ação da urina e do pisoteio dos animais, após o desembarque, um grosso tapete de feltro tapava o chão da Arca. Outra teoria sugere que pastores usavam a lã cardada para aquecer os pés, o que com o calor, suor e a fricção - resultou no feltro, o primeiro tecido produzido pela humanidade.

Rosa Helena de Carvalho Teixeira

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Ex-Presidentes

dirigente atuante, entidade forte adão Teixeira da silveira quem também fundou o primeiro escritório de remates, o Ronda do Pampa. Além de presidir o Sindicato Rural, entre 1973 e 1975, foi também vereador e, por duas vezes, prefeito municipal (1973 e 1983), vindo a falecer durante o segundo mandato, em 18 de fevereiro de 1984, com apenas 54 anos. “Ele se dava bem com todo mundo, era um agregador, se caracterizava pela bondade e dedicação”, prossegue Tajaca, lembrando ainda que ruas de Lavras, Bagé e Caçapava do Sul hoje levam o nome do pai. “Foi uma das perdas que mais senti na vida. Era meu sócio, meu amigo e meu pai”, emenda.

Fotos: Divulgação

Nascido em 3 de julho de 1929, em Caçapava do Sul, Adão Teixeira da Silveira mudou-se para Lavras para atender as fazendas do avô, dedicando-se posteriormente à criação de gado de corte na Fazenda do Salso, vendida pouco antes de sua morte. Em 1950, casou com Eloá Soares da Silveira, com quem teve seis filhos: Gaspar, Dóris Beatriz, Ana Denise, Carmem Vera e Luis Carlos, além de Hélio José, morto com apenas dez anos. Gaspar Itajara Soares da Silveira lembra que o pai foi um dos fundadores do Sindicato Rural, ao lado de Osvaldo Rodrigues, e também do Cite 27, junto com o irmão Potiguara, com

poTiguara Teixeira da silveira O pecuarista Potiguara Teixeira da Silveira - que junto com os irmãos Adão e Paraguassu, fundou o escritório que realizou os primeiros remates de Lavras do Sul - presidiu o Sindicato Rural do município em 1977. Casado com Januza Mazzini, teve quatro filhos (Potiguara, Hilda Inês, Mário Antonio e Násila Maria), vindo a falecer em 10 de dezembro de 2002, aos 70 anos. “Meu pai fazia cruzamento de zebuínos com charolês para produção de gado de corte”, explica Potiguara Mazzini Silveira, que hoje administra as fazendas deixadas por ele aos filhos. Ele lembra ainda que pavilhão onde 56 -

fica o refeitório do parque do Sindicato Rural foi construído na gestão do pai, que nasceu em Caçapava do Sul, mas sempre viveu em Lavras. “Tinha só primeiro grau completo, a vida dele era o campo”, prossegue, informando que o pai também atuou como corretor de gado, tendo sido eleito também vereador, em 1964. “Era um homem quieto, falava pouco, mas se dava bem com todo mundo e vivia para a família”, completa Potiguara, que manteve sociedade com pai na atividade pecuária e também no escritório de remates que ele e os irmãos fundaram.


José dilTon abascal havia um escritório de remates”, prossegue o produtor, que ajudou a fundar o escritório Abascal e Borges. “Houve um progresso muito grande na estrutura física, agora tem leilão toda semana”, emenda, reforçando que o sucesso alcançado por Lavras do Sul no que se refere à comercialização de bovinos de corte deve-se ao trabalho de cada um dos presidentes que o sucederam no cargo. Prestes a completar 80 anos, em 8 de junho de 2016, ele mantém com a irmã Diva Maria Abascal a PAP Bela Vista, formada por duas fazendas voltadas a produção de gado Angus, ambas administradas pelo filho Dirceu. “Usamos a inseminação artificial há 32 anos, fomos pioneiros no uso dessa tecnologia na região”, orgulha-se Abascal, casado há 52 anos com Vera Beatriz e pai

também de Thais e Silvia. O produtor, que nasceu e se criou nos campos lavrenses, hoje mora em Bagé.

Foto: Felipe Ulbrich

José Dilton Abascal assumiu a presidência da entidade 1975, permanecendo no cargo por dois anos, tendo como parceiros de diretoria Osvaldo Rodrigues e Nilton Souza, seu vice-presidente e braço direito. “Eram os quem mais trabalhavam”, recorda, contando que Nilton ia sempre a cavalo até o Sindicato. Ele conta ainda que durante seu mandato a entidade oferecia assistência médica, sendo que um médico de Bagé deslocava-se a Lavras uma vez por semana para atender os associados. Lembrando que sua gestão foi uma das primeiras a utilizar a área onde hoje se encontra o parque de exposições, ele conta que o trabalha era bem difícil à época. “As mangueiras eram de arame. Os leilões eram feitos em uma casinha de madeira e só

nilTon José de souza Foi na gestão de Nilton José de Souza que foi construído o recinto de leilões do parque de exposições do município, que em 1985 foi inaugurado. Em entrevista concedida em 2010 para essa mesma revista, o produtor contou que a pista antiga estava com 80% da estrutura comprometida, razão pela qual mandou que derrubassem tudo e improvisassem uma arquibancada e uma mangueira, afinal, não podia parar com os remates. Como o Sindicato não tinha a verba necessária para a obra, ele convocou então uma assembleia para expor a situação aos associados, saindo de lá com Cr$ 7.500,00, dinheiro suficiente para cobrir os custos da planta. Para concluir

a obra, Souza pediu novas doações, recebendo ajuda de produtores de pelo menos oito municípios gaúchos. Nascido em 23 de maio de 1931, casou-se com Nilza Pires de Souza e teve três filhos, Luis Alberto (Lafaiete), Norma Beatriz e Vera Maria, vindo a falecer em 12 de abril de 2015. E consenso na diretoria do sindicato rural o reconhecimento ao belo trabalho desempenhado pelo “Tio Nilton”, como era carinhosamente chamado por todos. O filho Lafaiete ressalta que o permaneceu por 14 anos consecutivos à frente do Sindicato Rural de Lavras do Sul. Por isso, o local de remates tem o nome de Nilton José de Souza. - 57


Perfil

Incansável defensor do Pampa Grande incentivador da criação de gado em campo nativo, Carlos Nabinger ministra disciplinas sobre pastagens na Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul há mais de três décadas

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Foto: Jairo Nether

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ascido em Cachoeira do Sul, na região central do Estado, Carlos Nabinger se criou em São Gabriel, na Campanha gaúcha, para onde a família do pai se mudou quando ele tinha apenas três anos de idade. Por conta do trabalho do pai, que sempre trabalhou em empresa ligada a atividade pecuária e produção de arroz, foi tomando logo cedo gosto pelas coisas do campo. Nabinger conta que o pai queria que ele fosse engenheiro, porém, contrariando-o, decidiu fazer o curso de técnico agrícola, iniciado em Alegrete - onde permaneceu menos de um ano - e concluído na Escola Técnica (ETA) de Viamão, em 1969, onde teve a sorte de conviver com o professor o Anacreonte Ávilla, que realizava estudos sobre diversos de tipos de pastagens, tendo inclusive experimentos com campos nativos. “Ali começou a nascer o senso de investigação”, recorda. O gosto pelas coisas da terra foi reforçado após uma temporada de trabalho no Vale do Taquari, o que o levou a ingressar no curso de agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), onde conheceu a pessoa que lhe fez gostar ainda mais dos campos nativos: Ismar Leal Barreto, seu orientador no mestrado em fitotecnia, que lhe conseguiu seu primeiro emprego e a quem substituiu quando


ingressou como professor da Faculdade de Agronomia, em 1977. Sua relação com Lavras do Sul se iniciou no final da década de 1980, quando estava na França fazendo o mestrado em zootecnia. Lá, conheceu Fernando Adauto Loureiro de Souza, que participava de uma gira técnica junto com outros produtores gaúchos. De volta ao Brasil, reencontrou o amigo em seminário, sendo que desde 1996 leva todos os anos seus alunos para atividades em Lavras do Sul. “Costumo dizer que o Adauto é a aula magna da minha disciplina, pois tudo o que eu falo para os alunos ele aplica na prática”, prossegue o engenheiro agrônomo, que também coordenou o Diagnóstico da Pecuária de Corte do Estado, trabalho que culminou no lançamento do programa Redes de Referência em Pecuária de Corte no Rio Grande do Sul, beneficiando inúmeros

produtores lavrenses através de uma unidade instalada na Fazenda Sossego. Escolhido diversas vezes como paraninfo ou professor homenageado das turmas de agronomia da Ufrgs, recebeu também inúmeras distinções, entre eles o Troféu Destaque Pesquisa Agropecuária 2006, Sistema Guaíba de Comunicações/Brasil Telecom e, no ano seguinte, o Prêmio Futuro da Terra - Categoria Preservação do Meio Ambiente/DPFA/ UFRGS, Jornal do Comércio e Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul. Por incentivar a produção em campo nativo, Nabinger foi agraciado com o prêmio Alianza del Pastizal durante a abertura oficial do V Encuentro de Ganaderos de Pastizales Naturales del Cono Sur de Sudamerica, em 2011, durante o seminário O Pampa e o Gado, evento onde se faz presente todos os anos, desde sua primeira edição.

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Mineração

Construindo uma empresa brasileira de fertilizantes Águia Metais, que possui três projetos para a produção de fosfato com alta qualidade e baixo custo, pretende iniciar a exploração em Lavras do Sul até 2018

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Amostra de rocha da qual será extraído o fosfato e o calcário calcifico

Fotos: Felipe Ulbrich

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grupo de mineração australiano Aguia Resources irá instalar uma mina para exploração de fosfato em Lavras do Sul tendo como foco a produção de fertilizantes a partir de fontes domésticas de fosfato e potássio para abastecer o crescente setor da agricultura brasileira. “O Brasil é uma potência agrícola global, mas totalmente dependente das importações de fertilizantes, importando 55% do fosfato e 94% do potássio, sendo que o Rio Grande do Sul importa 100% dos dois minerais”, observa Alfredo Rossetto Nunes, gerente de exploração da Águia Metais, braço brasileiro da Companhia sediada em Belo Horizonte (MG). “O país é o quarto maior consumidor de fertilizantes, mas tem apenas 4% da produção mundial”, emenda, reforçando que a Águia está criando uma empresa brasileira de fertilizantes. O geólogo revela que o grupo possui três projetos para exploração de fosfato no Rio Grande do Sul que apresentam alta qualidade e baixo custo de produção. O mais adiantado deles contempla a instalação de uma mina a céu aberto na localidade de Três Estradas,


em Lavras do Sul, com investimento de US$ 168 milhões e uma vida inicial de 15 ou mais anos de produção de 500 mil toneladas de fosfato super simples (SPP) por ano. Segundo ele, existe ainda a possibilidade de produzir até 630 mil toneladas por ano de calcário calcítico, como subproduto. “É um projeto atraente, com tempo de retorno do investimento estimado em 3,2 anos”, acrescenta Nunes, explicando que, após a extração, o concentrado de rocha fosfática será transportado em caminhões para o porto de Rio Grande para ser processado e granulado numa planta de SSP, retornando à Lavras para ser posteriormente distribuído. Em 2016, serão realizados os estudos de licenciamento ambiental da obra visando o início de sua construção no ano seguinte. De acordo com Nunes, a produção deve ser iniciada a partir

Alfredo Rossetto Nunes, gerente de exploração da Águia Metais

do segundo semestre de 2018, gerando cerca de 200 empregos diretos. “Pelo menos 75% da mão de obra deve ser local”, garante o gerente de exploração da Águia Metais, informando ainda

que, em breve, devem ser iniciadas as sondagens em outras duas áreas - Joca Tavares, em Bagé, e Cerro Preto, Dom Pedrito -, ambas também com grande atrativo comercial.

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Estradas

Pavimentação da ERS 473 encontra-se paralisada

Foto: Divulgação/Jornal Folha do Sul

Sem recursos para continuar a obra, secretário dos Transportes e Mobilidade garante que o trabalho de manutenção será retomado após o período chuvoso

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tais, empresa que irá instalar uma mina para exploração de fosfato em Lavras do Sul, a falta de pavimentação implica em aumento nos custos de produção, já que o concentrado de rocha fosfática será transportado em caminhões até Rio Grande para ser processado e granulado, retornando ao município para posterior distribuição. “Com o asfalto, nossos gastos com transporte seriam muito menores”, garante.

Foto: Foto: Divulgação/STM

O agronegócio, base econômica da região, é um dos setores que mais sofre, pois a estrada é uma das principais rotas para escoar a produção agropecuária lavrense. “Também são prejudicados os estudantes universitários que se dirigem diariamente ao município vizinho, bem como as pessoas que para lá se deslocam em busca de auxílio médico”, observa Yara. Segundo Alfredo Rossetto Nunes, gerente de exploração da Águia Me-

Foto: Divulgação/Yara Suñé

Lideranças da região da Campanha participaram de uma audiência com o secretário Pedro Westphalen

Yara Bento Pereira Suñé representou o Sindicato Rural de Lavras do Sul na reunião

Foto: Felipe Ulbrich

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niciada em 2012, a pavimentação da ERS 473 encontra-se parada. O prazo para a conclusão da primeira das três etapas previstas, um trecho de 22,7 quilômetros entre Bagé e Torquato Severo, encerrou em agosto de 2014, porém, até o momento foi aplicada apenas a sub-base em 1,7 quilômetros e postos cinco bueiros. Segundo a assessoria de imprensa do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), a empresa Sultepa, responsável pela obra, se desmobilizou em fevereiro deste ano, sem autorização do departamento, e se o trabalho não for retomado, o contrato poderá ser rescindido e uma nova licitação aberta. Em busca de uma solução para o problema, lideranças da região da Campanha participaram, no início de julho, de uma audiência com o secretário dos Transportes e Mobilidade, Pedro Westphalen, onde solicitaram a pavimentação da estrada que liga as cidades de Bagé, Lavras do Sul e São Gabriel. Conforme a diretora Yara Bento Pereira Suñé, que representou o Sindicato Rural de Lavras do Sul na reunião, cada município apresentou suas demandas, sendo que ao final do encontro todos assinaram um documento solicitando prioridade para o asfaltamento da ERS 473. Em resposta aos representantes municipais, Westphalen salientou que propôs ao governador do estado, José Ivo Sartori, fazer com que cada região tenha sua obra prioritária realizada, garantindo - apenas - que a manutenção e restauração da estrada continuarão sendo feitas, o que foi reafirmado pelo secretário em meados de outubro. “Passado o período chuvoso, serão retomados os trabalhos de manutenção”, adianta, reforçando que fará todo o esforço possível para que o tão sonhado asfaltamento da estrada torne-se uma realidade. “É uma prioridade nossa, mas a obra só será retomada a partir do momento que o governo tiver um fundo de recursos para isso.”, completa.

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Eventos

Programa ABC é apresentado aos produtores

Foto: Divulgação/Sebrae

Linha de crédito incentiva o investimento em tecnologias sustentáveis com a adoção de boas práticas agrícolas e a integração de sistemas capazes de aumentar a produção

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urante o “Seminário de Crédito ABC: quanto custa e quanto vale produzir e conservar no Pampa”, realizado em dezembro na sede do Sindicato Rural de Lavras do Sul, foram apresentadas práticas sustentáveis de produção e manejo de bovinos de corte em campo nativo e a conservação do uso de solos dentro dos conceitos da agricultura de baixo carbono. Os participantes também tiveram acesso à linhas de crédito e financiamento do Programa ABC disponíveis para implantação de melhorias de sistemas de produção das propriedades rurais, bem como a oportunidade de conhecer os benefícios do pagamento por serviços ambientais. “Lavras se preocupa muito com conservação ambiental, essa linha de crédito tem tudo a ver com a região”, ressalta Angelo Aguinaga, afirmando tratar-se do

mais vantajoso programa para agronegócio como um todo, sem contar que a taxa de juros é uma das menores do mercado. O técnico do Sebrae/RS conta que foram realizados seis seminários no Rio Grande do Sul, sendo que Lavras foi o único município contemplado com a ação entre as 21 cidades que compõe as regionais Campanha e Fronteira Oeste. “O trabalho realizado pelo Sindicato Rural e pelos produtores locais pesou na decisão da escolha”, emenda Aguinaga, lembrando que o evento foi realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Sindicato Rural de Lavras do Sul, Banco do Brasil, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa/RS), Cite 27, ANPTC-Sul e Alianza del Pastizal.


sia treina equipe técnica em lavras do sul A

2ª Jornada de capacitação e alinhamento técnico-operacional da SIA – Serviço de Inteligência em Agronegócios reuniu mais de 40 participantes da equipe técnica e administrativa da empresa, além de estagiários e profissionais convidados. O evento, realizado entre os dias 17 e 19 de junho, no Parque de Exposições do Sindicato Rural de Lavras do Sul, foi pautado por assuntos como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), onde foram discutidos pontos que frequentemente são levantados pelos produtores atendidos pela empresa em relação a legislação vigente, e suplementação de bovinos de corte, que abordou a temática do uso de suplementos minerais, protéicos, energéticos e suas combinações em diferentes tipos e condições de pastagens naturais e cultivadas. Também foram realizadas palestras sobre

os serviços ecossistêmicos do Pampa e a proposta da Alianza del Pastizal, além de uma dinâmica de grupo onde foi aplicado um treinamento em consultoria e postura corporativa. Os participantes deslocaram-se também para a Estância São Crispim, de Fernando Adauto Loureiro de Souza, onde foram apresentados ao sistema de produção da propriedade e puderam conferir dados do experimento sobre terminação de novilhos de corte da raça Hereford em pastagem natural melhorada com sobressemeadura de azevém e adubação. O evento foi encerrado com um treinamento em inter-relações pasto e suplemento e formulação de ração para bovinos de leite com base no manejo das pastagens. Davi Teixeira destaca que a jornada teve excelente rendimento e contribuiu muito para qualificação técnica e fortalecimento do espírito de grupo da Equipe SIA. “Lavras

representou uma grande novidade para muitos integrantes da nossa equipe técnica, pois são consultores da metade Norte e de outros estados ligados à pecuária leiteira. A paisagem da Campanha encantou a todos, assim como a culinária campeira do amigo Chuchu e sua turma, o sanduíche de carne de panela do Café Preto e as tertúlias musicais no Telúrica. Todos renderam bastante nas atividades propostas no treinamento, motivados pelo ambiente proporcionado pelos amigos lavrenses”, observa o diretor executivo da entidade, reforçando que o Sindicato Rural é um grande parceiro da SIA. “A receptividade dos produtores e da equipe de trabalho da casa é algo que encanta e cativa. Quando pensamos em fazer um treinamento em algum lugar com ligação direta ao nosso trabalho, não tivemos dúvida de que este lugar deveria ser Lavras. Nos sentimos verdadeiramente em casa", completa.

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Foto: Divulgação/SIA

Receptividade dos produtores e trabalho feito pelo Sindicato Rural em prol da conservação dos campos nativos foram determinantes para a escolha do município


Geral

Amor incondicional aos animais Neka Souza, que já salvou inúmeros animais, abriu as portas de casa para uma capivara fêmea, que convive e interage com ela há mais de um ano

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Pincha interage com a dona da casa e também com os outros animais da fazenda

com muito carinho há pelo menos um ano. “Usei mamadeira no início, depois ensinei a comer, fui descobrindo o que ela gostava”, emenda, ressaltando que Pincha interage muito bem também com os outros animais da fazenda, especialmente os cachorros e cordeiros. Certa feita, Pincha desapareceu, ficando mais de uma semana fora. “Eu achava que nunca mais iria vê-la, mas ela retornou. É muito amigável, mas tímida, está sempre em volta, pedindo atenção”, completa Neka Souza, que cria ainda gansos e marrecos no pátio de casa.

Fotos: Felipe Ulbrich

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médica veterinária Maria de Lurdes Souza mantém uma relação especial com os animais do Pampa, dedicando aos exemplares da fauna que encontra perdidos pelo campo o mesmo carinho e atenção que dá aos cordeiros guaxos que cria no pátio da fazenda Três Butiás, onde se dedica - em parceria com as três irmãs - à produção de terneiros que são comercializados nas feiras de Lavras do Sul. Neka Souza lembra que já salvou exemplares de várias espécies, interagindo com alguns por bastante tempo. Primeiro foi um zorrilho, que apareceu no galpão da fazenda quando ainda era filhote e viveu com ela por cerca de três anos. “Da mesma forma como apareceu, volta e meia ele sumia, mas sempre acabava voltando. Parece um bicho que passa medo, mas é bem simpático, brincava até com os gatos”, recorda. A produtora já interagiu também com filhotes de ema, que ensinava a comer na mão, e tatu, todos criados em liberdade, como a capivara ‘Pincha’, que anda com desenvoltura por todos os cômodos da residência. “Deixo as portas abertas para que ela circule livremente”, prossegue, explicando que à noite o animal sai para pastar, mas volta para dormir na casa. Segundo ela, a capivara deveria ter no máximo um mês quando os cachorros a pegaram no mato e a levaram para casa, onde foi cuidada e vem sendo tratada



Cultura

Lenda da Cigana

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Fotos: Felipe Ulbrich

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Lenda da Cigana povoa o imaginário dos lavrenses desde os idos de 1920, logo após a construção do novo cemitério, quando um grupo de ciganos montou seu acampamento nos arredores do município. Eles teriam movimentado a cidade, oferecendo tachos de bronze, figas protetoras, brincos e colares multicoloridos, sendo que uma jovem cigana, que diziam ser muito bonita e graciosa, logo foi cobiçada pelos rapazes da região. Um deles, mais afoito, teria lhe proposto a compra de um beijo, no que teria sido atendido após desembolsar um bom valor em dinheiro. Tempos depois se espalhou pela cidade a notícia do casamento da tal jovem, prometida para um dos integrantes do grupo. A festança, que rolou até altas horas, foi acompanhada de longe pelo povo da cidade, que amanheceu em polvorosa com a notícia de que a noiva estava morta. E de morte natural, conforme atestaram as autoridades. Para muitos, teria sido assassinada pelo noivo; outros diziam que teria se suicidado por ter sido forçada a casar-se contra a vontade. Apesar das especulações, ninguém soube ao certo o que realmente aconteceu, pois logo após sepultá-la no cemitério municipal o grupo de ciganos levantou acampamento e foi embora. Conforme descrito no livro "Lavras do Sul: a Bateia do Tempo", de Edilberto Teixeira, anos mais tarde, “alguém versado nos códigos de honra ciganos objetivou que, entre eles, ao noivo é permitido matar sua consorte caso ela não seja mais virgem”. Com o passar dos anos a cigana foi canonizada pelo povo e seu túmulo virou local de oferendas por graças alcançadas por homens e mulheres que ali depositam bebidas, flores, perfumes, fitas coloridas e toda sorte de oferendas, agradecendo

a preces atendidas. Ainda segundo a publicação, "existem dois pedidos, os mais celebrados, aos quais a cigana não deixa de atender: o das mulheres que são vítimas de seus maridos alcoolistas e o dos homens privados de sua antiga virilidade", razão pela qual muitas vezes, sobre sua lápide e ao seu redor, há um cheiro forte de cachaça e urina.


Em destaque

Sociedade Esportiva Independente completa 30 anos Declarada de Utilidade Pública Municipal, em agosto de 1997, a Sociedade Esportiva Independente completou 30 anos em 16 de julho. Para comemorar a data, a entidade se faz presente com um estande na ExpoLavras 2015 com uma exposição de imagens e vídeos para divulgar a comunidade o trabalho que é realizado. “Vamos lançar durante a feira uma campanha de arrecadação, já que não é cobrada mensalidade alguma”, informa Antonio Ricardo Soares Machado, atual presidente e sócio-fundador da instituição junto com Luiz Antonio Fontoura, Paulo Fernando Machado, Vladimir Moreira, Carlos Roberto Teixeira, Jorge Antônio Gonçalves e Honório Augusto Salazart.

O dirigente explica que a escolinha de futebol atende cerca de 150 pessoas ao ano, somadas as categorias pré-mirim, mirim, infantil, juvenil, adulto e master. Segundo ele, os integrantes da sociedade esportiva participam de diversos torneios regionais, somando mais de três mil jogos desde a fundação. “Não existe mensalidade e todas as despesas de viagens são custeadas através dos patrocínios obtidos e ainda com a verba dos eventos que promovemos para angariar fundos”, ressalta Machado, informando que pelo menos dois dos fundadores ainda encontram-se na ativa. Ele destaca ainda que, desde o primeiro jogo, é feito um rigoroso controle estatístico, sendo conhecidos todos os resultados,

bem como os goleadores de cada categoria. Como forma de incentivo, a cada 100 gols marcados, o jogador recebe um troféu; quando a equipe soma 500 gols, outro troféu é entregue. “Já foram marcados mais de nove mil gols”, completa Machado.

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Lavras recebe treinamento sobre o Cadastramento Ambiental Rural reza e segurança para o produtor inserir o seu imóvel no CAR. Para Frederico Souza, um dos doze participantes da capacitação realizada pelo Senar/RS em Lavras do Sul, as principais vantagens para quem fizer o CAR são - além da comprovação da regularidade ambiental do imóvel - o acesso ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) e ao crédito agrícola. “No curso, ficou claro que - embora o cadastro possa ser feito por qualquer pessoa - o processo é complexo, sendo que e as informações declaradas são de grande importância. Portanto, sugiro que os proprietários de imóveis rurais busquem suporte técnico especializado”, acrescenta o engenheiro agrônomo, alertando que será obrigatório o protocolo de entrega do Cadastro para financiamentos bancários a partir de 2017. Lídia Machado Severo observa que apesar do programa ser autoexplicativo - muitas dúvidas são geradas no decorrer do cadastro, razão pela qual fez o curso. “Participei com o intuito de aprender a operar melhor o programa onde é reali-

zado o CAR”, explica a médica veterinária, que já realizou alguns cadastros desde então. Segundo ela, a região foi beneficiada com o Decreto N° 52. 431, já que as regras para quem está no bioma Pampa são distintas. “Após o cadastro realizado, o produtor vai ter um raio-x da sua propriedade, podendo usar todas as informações geradas para auxiliar no manejo e planejamento da propriedade rural, como, por exemplo, ter o número de hectares de área pastoril, podendo utilizar essa informação para fazer o ajuste de carga animal, medir a produção de quilos de carne ou grãos por hectare, entre outros”, completa Lidia.

Frederico Souza

Fotos: Felipe Ulbrich

Foto: Divulgação

No início de agosto, o Sindicato Rural promoveu um curso de capacitação sobre o Cadastramento Ambiental Rural (CAR), cujo prazo foi prorrogado pelo governo federal até 5 de maio de 2016. De acordo com Cristiano Gotuzzo, instrutor responsável pela capacitação, o Rio Grande do Sul cadastrou aproximadamente 42 mil imóveis (cerca de 7%), número que vem aumentando rapidamente após o lançamento da versão estadual do cadastro (CAR RS). “Ainda é um número bastante baixo, mas acreditamos que até o final do ano teremos uma boa adesão por parte dos produtores”, projeta o engenheiro agrônomo. Segundo ele, a orientação do Senar/RS é que o produtor procure um profissional que conheça o tema profundamente para realizar o cadastramento, uma vez que a legislação é bastante complexa e - se mal interpretada - pode causar problemas futuros. “Os produtores devem aderir ao CAR para ficarem dentro da lei, pois é obrigatório para todos os imóveis rurais”, acrescenta, reforçando que o Decreto Estadual 52431/2015 – que regulamenta o bioma Pampa - trouxe cla-

Lídia Machado Severo

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Santana do Livramento recebe o Pampa e o Gado 2015 com ênfase na produção pecuária em campo nativo. “O objetivo é trocar experiências na área de pecuária”, resume. Pedro Ferreira Develey, diretor executivo da BirdLife/SAVE Brasil, observa que o Seminário o Pampa e o Gado é de grande importância para fortalecer ainda mais a pecuária em campos nativos no Pampa, que alinha produção de qualidade com conservação do meio ambiente. “As expectativas são as melhores possíveis, pois os dois eventos,

juntos, permitem o encontro de diferentes públicos, enriquecendo as discussões e aumentando as possibilidades de aprendizados e troca de experiências”, completa, reforçando que virão participantes dos Estados Unidos e Canadá querendo aprender como os modelos de integração pecuária e conservação dos campos nativos do Pampa podem ser aplicados nas pradarias norte-americanas. “Os cowboys vão aprender com os gaúchos”, completa.

Foto: Nina Boeira

Em 2015, o seminário O Pampa e o Gado, promoção anual do Sindicato Rural de Lavras do Sul, ocorre em Santana do Livramento, nos dias 6 e 7 de novembro, junto com IX Encuentro de Ganaderos de Pastizales Naturales del Cono Sur de Sudamerica, evento organizado pela Alianza del Pastizal. Coordenador da entidade no Brasil, Marcelo Fett Pinto revela que são esperados cerca de 400 estudantes, técnicos e produtores do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai. Já o presidente do Sindicato Rural de Livramento, Luis Cláudio Pereira, destaca que os eventos contarão com palestrantes oriundos dos quatro países que integram o Cone Sul, bem como conferencistas dos Estados Unidos e Canadá. “O pecuarista é o maior dos ambientalistas, é ele o grande responsável pela conservação dos campos nativos”, observa o produtor, que está certificando sua propriedade para integrar também a Alianza del Pastizal. Membro da mesa diretiva da Alianza del Pastizal, Fernando Adauto Loureiro de Souza explica que o Sindicato Rural de Lavras do Sul concordou com a realização do seminário no município da Campanha gaúcha pelo fato dos temas serem afins,

Lavrenses participam de palestra com Roberto Rodrigues Produtores rurais e membros do Sindicato Rural de Lavras do Sul participaram da palestra “O futuro do Agro brasileiro no mundo”, proferida pelo ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, durante o 2º Simpósio Produção de Soja na Região da

Campanha, realizado no mês de maio em Bagé. Rodrigo Moglia, presidente da Associação Rural do município, destaca que o palestrante discorreu sobre a importância do agronegócio para o país e finalizou sua explanação mostrando para a plateia que o produtor

rural não sabe a força que tem dentro do país. “Basta nos organizarmos em torno dos nossos sindicatos rurais e associações para pleitearmos, junto aos nossos representantes, condições melhores para continuarmos produzindo”, completa.

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Fotos: Nina Boeira e Divulgação Sindicato Rural

Sociais

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Foto: Nina Boeira

Agenda

agenda de remaTes 2016

abril

09/04 - Feira de Outono de Terneiros de Corte Iª Etapa (36ª Edição)

23/04 - Remate Alianza Del Pastizal (3ª Edição)

novembro 1º/11 - Feira de Primavera de Terneiros de Corte IIª Etapa (33ª Edição)

12/11 - Feira Alternativa de Primavera de Terneiros e Terneiras (19ª Edição)

maio 07/05 - Feira de Outono de Terneiros de Corte IIª Etapa (36ª Edição) 14/05 - Feira Alternativa de Outono de Terneiros e Terneiras (20ª Edição) 21/05 - Remate do Cite 27 (26ª Edição) 28/05 - Remate de Ventres (3ª Edição)

dezembro 17/12 - Feira de Ovinos (16ª Edição)

evenTos especiais

1º/10 - Feira de Primavera de Terneiros e Terneiras

07 a 08/07 - VIII Seminário O Pampa e o Gado 27/10 a 1º/11 - ExpoLavras 2016 (72ª Edição) 27/10 - Seleção Brangus – Weiler 29/10 - Remate de Ventres 30/10 - Remate de Touros 30/10 - Remate Doma e Laço (Crioulos das Cabanhas

Iª Etapa (33ª Edição) 22/10 -Remate de Criadores de Hereford e Braford (2ª Edição)

Macanudo e Don Marcelino) 1º/11 - Feira Terneiros

ouTubro

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