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A percepção de valor
CRIA ÇÃO
CAPÍTULO 3
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Para organizações que produzem e comercializam produtos, como é o caso de grande parte das cooperativas da agricultura familiar, um produto pode ser uma forma tangível de valor.
Para que isto se suceda, é importante que a organização tenha domínio de todo o processo de sua produção, inclusive com critérios e modelos de produção que possam trazer ao produto, além da qualidade esperada pelo mercado, atributos que possam gerar ou criar valor. Algumas orientações são possíveis para se tentar criar valor a um produto da agricultura familiar:
1. GESTÃO DA PRODUÇÃO PARA SE TER UM PRODUTO DENTRO DAS CARACTERÍSTICAS EXIGIDAS PELO MERCADO
Processos produtivos podem ser complexos para determinados produtos. Exigem, na maioria das vezes, uma gestão adequada para que seu resultado – o produto – esteja dentro do que o mercado demanda. Engloba a definição do modelo de produção a ser implantado pela organização, as compras de insumos dentro de padrões e níveis aceitáveis de qualidade, as boas práticas utilizadas, um sistema de qualidade que garanta a qualidade do que é produzido, a padronização dos lotes de produção, entre outros. Dificilmente um processo produtivo deficiente ou com falta de gestão originará um produto dentro de determinados padrões exigidos pelo mercado. Por exemplo, quando mencionamos o atributo qualidade, ele não é mais uma forma de se agregar ou criar valor, mas um atributo básico a ser oferecido em qualquer tipo de produto destinado ao mercado. Algumas formas de se garantir que o processo produtivo gere um produto com valor agregado são: Portanto, essas etapas devem ser desenhadas e planejadas com todo cuidado. Grande parte de atributos geradores de valor podem estar no processo produtivo.
• compra de sementes, mudas, matrizes de boa qualidade;
• existência de boas práticas nos processos produtivos para se garantir boa produtividade, homogeneidade nos lotes de produção etc.; uma produção menos dispendiosa a um custo relativamente baixo ou competitivo, reduzindo perdas nos processos produtivos;
• seleção e classificação dos produtos dentro dos padrões exigidos pelo mercado;
• armazenamento e acondicionamento dos produtos em estoques e embalagens que permitam a sua integridade no transporte; a manutenção de um estoque básico de produtos acabados para atender aos pedidos dos clientes na medida em que são feitos.
2. ORIGINALIDADE OU CERTA ESPECIFICIDADE INERENTE AO PRODUTO
Algumas características ou atributos podem ser fatores de diferenciação ou de criação de valor em produtos da agricultura familiar. Podem ser produtos com certa originalidade, produzidos em regiões ou localidades com certas características de solo ou climáticas que trazem ao produto determinada especificidade de aparência, cor, sabor, textura. Essas características podem agregar valor, desde que passíveis de serem percebidas pelo cliente. Podemos considerar também uma gama enorme de produtos regionais dos diversos biomas brasileiros, que em geral também apresentam essas especificidades. Uma vez bem definidas, comprovadas e comunicadas de forma adequada no mercado, podem ser percebidas como elementos de valor. Afinal, podem ser tratadas como algo original ou diferenciado em relação aos produtos concorrentes da mesma categoria de produto existente ou ainda como algo que não se faz presente no mercado. Importante mencionar que algumas dessas especificidades, quando avaliadas em termos de nutrientes em maior ou menor grau, devem ser comprovadas por testes e exames laboratoriais, principalmente se estiverem conectadas às informações de saudabilidade, imunidade, ou baixos teores de gordura, açúcar, sal etc.
Outra especificidade que pode ser trabalhada na criação de valor em um produto da agricultura familiar é a ausência de agrotóxicos, componentes e conservantes químicos, ausência de açúcar ou sal, gorduras saturadas ou trans, lactose, glúten, transgenia, entre outros. São preocupações do consumidor contemporâneo, que busca mudar hábitos no consumo de alimentos a fim de melhorar ou preservar sua saúde.
4. CUSTO BAIXO DE PRODUÇÃO E PREÇO DE VENDA DO PRODUTO
Custos baixos de produção refletem em baixos preços praticados pelo produto no mercado. Isto gera valor aos canais de distribuição em toda a cadeia, o que para os canais de distribuição permite colocar suas margens e ainda praticar preços mais competitivos para o produto em relação à concorrência. Os canais de distribuição acabam por ter mais flexibilidade para trabalhar seus custos e margens, em função das demandas dos mercados. Importante que a organização possa ter o conhecimento real de seus custos de produção e calcule adequadamente seus preços de venda, pensando também na cadeia de distribuição e no preço final do produto até as gôndolas e prateleiras dos varejos. E vale uma pergunta: o preço final praticado para o produto nos pontos de venda atende aos preços que os clientes estão dispostos a pagar pelo produto?
Estratégias de precificação adotadas pelo marketing também podem contribuir para a criação de valor. E aí são levados em consideração outros parâmetros para a definição do preço de venda. Convém avaliar as estratégias de precificação e compreender como elas podem ajudar a definir os preços do seu produto.
5. CERTIFICAÇÕES DIVERSAS
Certificação agrega valor ao produto. Importante entender qual(is) seria(m) a(s) certificação(ões) importante(s) para o produto e a sua organização em função do mercado o qual ela deseja acessar e operar. Cada mercado tem uma lógica de operar e, em função desta lógica, algumas certificações são mais importantes e prioritárias que outras. Para alguns produtos as certificações criam e agregam valor. Mercados nacionais podem demandar determinadas certificações e mercados internacionais podem ou não demandar outras. Para o mercado onde sua organização quer operar qual certificação é mais importante ou prioritária no momento? Algumas certificações que podem criar valor são: orgânica, fair trade, segurança alimentar, entre outras. Mercados muito específicos ainda demandam por outras certificações a exemplo dos mercados que atendem povos de origem e religião judaica (Certificação Kosher) ou muçulmanos (Certificação Halal).