Revista Mulher de Classe

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Marcelo Camargo, da Agência Brasil

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!"#$%& !" ()*+,-./*0 MANUELA D´ÁVILA, deputada estadual (PCdoB-RS)

!"#$%&'!"#$!%&#$ Às bandeiras históricas do movimento das mulheres no Brasil, agora se soma com força a luta contra a

04

retirada de direitos sociais garantidos na Constituição Cidadã. O golpe institucional de 2016 abalou conquistas importantes obtidas nos últimos governos progressistas e

#" 1020 Mulheres se mobilizam em todo o mundo contra violência

vai contribuir para aprofundar ainda mais a desigual-

e perda de direitos

dade entre homens e mulheres. Já derrubou uma presidenta democraticamente eleita, formou uma equipe de governo majoritariamente masculina e fechou o ministério das Mulheres,

08

pondo fim às políticas de gênero que vinham sendo construídas no país. Nos atos do dia 8 de março, o grito que mais se ouviu nas ruas foi contra o fim da aposentadoria e as

$!" 34)5-546,7.)./75

mudanças que irão penalizar duplamente as mulheres:

por Mary Castro

com mais tempo de trabalho e de contribuição.

$#" 8/479:;,+,/4+9+0./ Como o desmonte da previdência social vai afetar suas vidas

Impacto que afetará de forma dramática a trabalhadora do campo, com o fim da diferença de idade para aposentadoria entre rurais e urbanos. Para agravar esse cenário, avança no Congresso o projeto de terceirização irrestrita, que afeta indiscriminadamente

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estado de bem-estar social construído no Brasil. Os atos lheres de que as trabalhadoras não vão aceitar marcha

por Marilene Betros

ré em seus direitos. A força para resistir está na mobilização social, na

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pressão política e nas greves e paralisações. É urgente e

por Fátima Oliveira

inadiável. Vamos à luta!

%#" D)*,+)0>.5)0: da revolução russa

Não vamos permitir o desmonte do já precário do 8 de março foram um recado contundente das mu-

%!" <5+49704,=9>0?@54>.=0=@A

As mulheres e o centenário

todos os brasileiros.

28

'%" 1.),70 Os trabalhadores e trabalhadoras e o fim do Estado de bem-estar social

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Adilson Araújo Presidente Nacional da CTB

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'!()%*#"#!(")*"+,-' Por Ivânia Pereira, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB

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em mais de 18 estados, e a tônica

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dominante foi o repúdio à reforma

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da previdência e suas consequências

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danosas a todas as trabalhadoras

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brasileiras. Desde a redemocratização deste país não vivíamos um momento

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Arquivo Pessoal

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J%0-/$#.)$!:#4#% ./012"34521/ A deputada estadual Manuela D’Ávila defende as cotas na política e diz que o sindicalismo tem de incorporar a luta pela igualdade sexual para não perder a diálogo com a classe trabalhadora. Por Marcos Aurélio Ruy Para a deputada estadual gaúcha Manuela

ingressou no movimento estudantil em 1999 e

D’Ávila (PCdoB-RS), 35 anos, o movimento sindi-

foi vice-presidenta da União Nacional dos Estu-

cal não pode adiar o debate envolvendo ques-

dantes (UNE) em 2003. No ano seguinte, elegeu-

tões de gênero. “Quem não perceber isso estará

-se a vereadora mais jovem de Porto Alegre.

cada vez mais distante de suas bases. Não há

Em 2006, aos 26 anos, ela foi eleita deputada fe-

como abstrair a dimensão de ser mulher na fá-

deral e ganhou da mídia o título de “musa do Con-

brica, no campo ou no escritório com as respon-

gresso”, em muitas reportagens que celebravam a

sabilidades sociais que nossa cultura patriarcal

beleza da parlamentar. “Isso me fortaleceu, fez com

ainda impõe às mulheres”, diz a parlamentar.

que eu trabalhasse ainda mais para desconstruir

Formada em Jornalismo pela Pontifícia Uni-

esses estereótipos”. D’Ávila se destaca na luta pela

versidade Católica do Rio Grande do Sul, D’Ávila

defesa dos direitos humanos e como ativista pela

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igualdade de gênero. Ela concedeu, por email,

o Brasil é um dos países que mais estupra e

uma entrevista à revista Mulher de Classe:

assassina mulheres, como vê isso?

Mulher de Classe: Muito difícil ser parlamentar num país predominantemente machista? Manuela D’Ávila: Sim, é muito difícil. Sempre

MD: Isso reflete muito da cultura do estupro na sociedade brasileira, da cultura de culpabilização das vítimas, de não falar sobre o assunto,

foi. E parece que crescem cada vez mais as difi-

de fazer reproduzir silêncios que na verdade

culdades com essa onda conservadora.

são cúmplices da violência. O Brasil é um país

MC: Você despontou no movimento estu-

machista, e dentro do machismo existe a ideia

dantil, como vê as ocupações de escolas e as

da posse da mulher, e da posse da mulher para a

lideranças femininas nessas lutas?

violência física e sexual são alguns passos.

MD: Essas ocupações, sobretudo as ocupações das escolas, têm ensinado a geração mais velha como é possível reinventar o movimento

MC: O golpe que derrubou a presidenta Dilma acirrou a violência? MD: O golpe fragilizou todas as nossas insti-

estudantil. É incrível que a maior parte delas

tuições e, evidentemente, a violência aumentou

é dirigida por jovens meninas, que enfrentam

com isso. A quem a gente deve algum grau de

dificuldades muito grandes, inclusive nos seus

obediência se as instituições não são respeita-

núcleos familiares, que reproduzem o machismo

das? Eu acredito que o golpe acirrou a violência

na ocupação das escolas. Uma reinvenção de

contra a mulher. E mesmo antes disso, o proces-

práticas do movimento estudantil.

so de construção do golpe, que foi um processo

MC: Apesar das políticas públicas de acolhi-

com que essa violência crescesse.

Ricardo Stuckert

mento das mulheres e de combate à violência,

absolutamente ceticista e misógino, também fez

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ALRS

ciamento público para candidaturas de mulheres, porque as pessoas dizem que mulheres não votam em mulheres. As votações de mulheres para a Presidência da República comprovam que isso não é verdade. As mulheres votam sim em mulheres. MC: Qual o papel da mídia?

MC: Poucas têm sido eleitas. Por quê?

MD: A maior parte da mídia é cúmplice dessa

MD: O problema é que elas precisam conhe-

construção do discurso machista relacionado com a

cer essas candidaturas, portanto, é preciso que as

presidenta Dilma. Basta lembrar das capas das gran-

mulheres apareçam na televisão e que tenham

des revistas. Na realidade, em um país que tem uma

os mesmos instrumentos que os homens.

mídia com um comportamento misógino contra a

MC: Quando foi eleita pela primeira vez, a

presidenta da República, o que podemos esperar do

mídia te apresentou como a “musa do Con-

tratamento dado à mulher comum que trabalha em

gresso”. Como lidou com isso?

casa, que auxilia nos serviços da sociedade?

MD: Naquela ocasião, em 2006, uma década

MC: Você postou em suas redes sociais uma

atrás, quando eu assumi, foi tudo muito difícil, che-

foto amamentando sua filha. Foi atacada e sua

gar em Brasília tão jovem como eu cheguei, com 24

resposta viralizou na internet. Como vê uma so-

para 25 anos, sem ter nenhum parente político, sem

ciedade em que o ato de amamentar é agredido?

ser filha, sem ser neta, sem ter nenhum padrinho

MD: Tudo aquilo que é considerado público

político, sem ser casada com um político, eu era a

é retirado das mulheres. Às mulheres cabem os

única deputada com menos de 30 anos sem ter um

atos privados, e amamentar deve ser mantido

sobrenome importante, e aí eles ainda colocam esse

no ambiente privado, porque na mentalidade

rótulo. Isso me fortaleceu, fez com que eu trabalhas-

machista é assim.

se ainda mais para desconstruir esses estereótipos.

MC: O que as mulheres precisam fazer para mudar essa cultura machista?

MC: Como mãe de uma menina, o que a sra. espera do futuro na questão de gênero?

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MD: Ser mãe de outra mulher é algo bastante

vimentos sociais em geral, cada vez mais percebem

desafiador, porque a gente vê e passa o tempo

a relevância da pauta de gênero para a conquista

inteiro em um estado de vigilância com relação

dos trabalhadores, porque não há como abstrair a

à perpetuação desses padrões, dos padrões

dimensão de ser mulher na fábrica, no campo, no

estéticos, dos padrões de felicidade, dos padrões

escritório, com a desigualdade que isso impõe, seja

de divisão de brinquedos que refletem a divisão

pela não contratação na idade ideal, pela demis-

social dos trabalhos.

são pós maternidade ou pelas responsabilidades

MC: Ser mãe de menina aumenta a respon-

sociais que nossa cultura patriarcal ainda impõe

sabilidade para ajudar a romper as barreiras

às mulheres. Então quem tem que levar na creche,

da opressão machista?

quem tem que levar no posto de saúde é a mulher,

MD: A gente deve ser vigilante com a gente

isso faz com que ela falte mais dias ao trabalho.

mesmo, mas também com os outros, desde as

Tudo isso junto é uma pauta urgente do movimen-

divisões das cores, das divisões de brinquedos, até

to sindical, e aqueles que não a pautarem estarão

a ideia de que menina não brinca com carrinho, e

cada vez mais distantes das suas bases.

depois ela não pode dirigir, porque ela nunca brincou com aquilo, aquilo não é familiar. Então, é algo que exige muito cuidado porque o movimento da

MC: O que fazer para acabar com a ideologia patriarcal? MD: Acho que nós temos que começar tudo

sociedade é muito forte para colocar a mulher no

junto ao mesmo tempo, desde legislações mais

lugar que acreditam que seja o lugar da mulher.

punitivas, até um amplo debate sobre gênero

MC: Acredita que o movimento sindical e

nas nossas escolas e vigilância com conteúdo

os partidos políticos agem para combater o

televisivo e midiático. São muitas as ações neces-

patriarcado?

sárias para que a gente tenha um país com uma

MD: Eu acho que o movimento sindical e os mo-

outra cultura com relação às mulheres.

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Joca Duarte/CTB

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Ato na Praça da Sé, em São Paulo, no Dia Internacional da Mulher

Um dos gritos de guerra mais ouvidos em Em todo o país, milhares de mulheres

todo o território nacional foi: “Temer sai, apo-

saíram às ruas para protestar contra o

sentadoria fica”. O desmonte da Previdência

fim da previdência pública

Social promovido pela proposta de emenda à Constituição 287 (PEC 287/2016) penaliza duplamente as mulheres e é ainda mais degradante

Os movimentos sociais que ganharam as ruas do Brasil no Dia Internacional da Mulher levantaram as tradicionais bandeiras da luta feminista contra a violência, por igualdade, pela legalização do aborto e pelo fim da cultura do estupro, mas um dos focos mais destacados deste ano foi a denúncia do fim das garantias previdenciárias. É consenso entre as centrais sindicais brasileiras que a proposta para a previdência do governo federal retira direitos constitucionais da classe trabalhadora e é ainda mais cruel com as mulheres.

às mulheres do campo. “Começa com a irresponsabilidade de se igualar a idade mínima para a aposentadoria aos 65 anos. Ignoram que as mulheres, além de estarem no mercado de trabalho, têm de cuidar da casa e dos filhos”, afirma Ivânia Pereira, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB. Ela ressalta também o quanto a mudança irá impactar a vida das educadoras, uma vez que as professoras irão perder a aposentadoria especial de 25 anos. Pela lei atual, as mulheres se aposentam com 55 anos de idade e com 30 anos de contribuição.

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Se a nova regra for aprovada, elas terão de trabalhar pelo menos 10 anos a mais. “É terrível porque começamos a trabalhar com pouca idade, já que a nossa educação machista exige tarefas domésticas das meninas muito cedo”, diz Kátia Branco, secretária da Mulher da CTB-RJ. “Igualar a aposentadoria é uma crueldade e aumenta a desigualdade entre os gêneros no país”, conclui Branco. Ela argumenta também que as mulheres são as mais prejudicadas na mudança da pensão por morte, já que a reforma pretende reduzir

Agência PT/Paulo Pinto

a idade mínima entre homens e mulheres para

pela metade as pensões pagas às viúvas, acres-

somente aos 65 anos nos torna praticamente

centando 10% por dependente com menos de

escravas em pleno século 21. Esse governo não

18 anos.

conhece a realidade da agricultura familiar que é

“Escravas em pleno século 21”

responsável por 70% da produção de alimentos

As consequências da reforma previdenciária

no país”. Além de todas essas questões, Ivãnia Pe-

na vida das trabalhadoras rurais são devastado-

reira afirma que são as mulheres mais pobres as

ras, afirma Lenir Piloneto Fanton, secretária da

que mais sofrem. “Afinal, são elas que trabalham

Mulher da CTB-RS. “No campo começamos a tra-

em situações extremamente precárias, moram

balhar muito cedo. Temos uma tarefa extenuan-

longe e ganham os menores salários”.

te, além dos afazeres domésticos e trabalhamos Por Marcos Aurélio Ruy

Joca Duarte/CTB

na roça de sol a sol. Ter o direito à aposentadoria

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Joca Duarte/CTB

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80.)-%#-/# )*"6$% No 8 de março, as mulheres negras saíram às ruas por igualdade e justiça

O Mapa da Violência 2015 constatou que entre os anos de 2003 e 2013, o assassinato de mulheres negras aumentou 54,2% no Brasil. “O fato mostra a necessidade de se fazer o recorte racial até nas comemorações do 8 de março (Dia Internacional da Mulher)”, afirma Mônica Custódio, secretária da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Segundo a sindicalista, os índices alarmantes de violência contra as mulheres negras também são um indicador de que hoje há mais denúncias. “A nossa dor antes era invisível, começou a ganhar visibilidade na última década”. Além do crescimento de 54% de assassinatos em 10 anos, o Ministério da Saúde verificou que mais de 59% dos registros de violência doméstica no Ligue 180 foram feitos por mulheres negras em 2015. Elas são as maiores vítimas também da mortalidade materna (53,6%) e de violência obstétrica (66%), segundo levantamento da Fiocruz em 2014. Já o Dossiê Mulher 2015 mostra que mais de 56% das vítimas de estupro no Rio de Janeiro são negras. De acordo com Custódio isso ocorre porque as mulheres negras vivem em condições

de maior vulnerabilidade. “Sem a presença do Estado e sem acesso a políticas públicas”. Para ela, com as políticas públicas criadas nos governos Lula e Dilma, as mulheres negras buscaram mais estudo para aprimorar-se e ter oportunidade de vida melhor. “As estatísticas comprovam que as mulheres passaram a estudar e se dedicar mais ao aprimoramento de sua mão de obra. As negras sabiam que tinham que ir ainda mais fundo para ter alguma possibilidade de condições iguais no mercado”, conta. Mas os salários não subiram. As mulheres negras ainda enfrentam mais dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho e sofrem mais discriminação. “O movimento sindical precisa acordar para essa disparidade e encampar para valer as lutas por igualdade de gênero e raça”. Elas ganham 40% a menos do que o homem branco, seus filhos morrem muito jovens e de forma violenta e sofrem por não poderem fazer nada. “Por isso fomos às ruas mais uma vez lutar pela igualdade de gênero e racial. Queremos pôr fim ao esmagamento diário do qual somos vítimas”.

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78.9/""0!-4#$$0 Dirigentes sindicais e lideranças de movimentos sociais realizam encontro sobre a diversidade social e criam Coletivo LGBT

Marcos Ruy

Por Marcos Aurélio Ruy

O Rio de Janeiro sediou o “Encontro Nacional

da Igualdade Racial da CTB, Mônica Custódio,

da CTB: Visão Classista sobre a Diversidade So-

uma das organizadoras do evento, reafirmou a

cial” que reuniu mais de cem militantes dos mo-

importância de se trabalhar por uma união de

vimentos social e sindical para um debate sobre

todos e todas pela resistência. “É essencial para

gênero, igualdade racial e juventude. A secretária

mantermos as nossas conquistas dos últimos

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anos e para podermos avançar”, diz ela. E resistência é palavra de ordem para os tempos atuais. Celina Arêas, secretária de Formação e Cultura da CTB, diz que é hora de agir, mas para isso é preciso criar oportunidades, como a desse encontro, para que se possa refletir sobre a melhor estratégia, a melhor ação. “O encontro é uma oportunidade para se traçar novas estratégias de enfrentamento desse governo golpista. Se não houver movimento, se não houver participação, só haverá retrocesso!” Mídia O papel da mídia neste contexto de ódio e violência predominante na conjuntura social e política foi um dos temas fortes do encontro. “Não podemos mais aceitar que a mídia, principalmente rádios e TVs que são concessões públicas, continue criminalizando os movimentos sociais e violência contra elas”, disse Ivânia Pereira, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB. Ao analisar a comunicação como ferramenta

Marcos Ruy

tratando as mulheres como objetos e insuflando a

importante da luta política, a socióloga Mary Garcia Castro defendeu um diálogo mais direto entre lideranças e a população como um todo. “O movimento sindical, assim como os partidos políticos devem se reciclar e falar a linguagem

0%':;+<" +=)*%"*>"-%'?:#$@;' Pesquisa da Transgender Europe coloca o

do povo para dessa forma impedir o avanço das

Brasil na incômoda posição de campeão da

ideias fascistas”.

violência contra pessoas transexuais. De acor-

Ideias fascistas que se expressam na intole-

do com o levantamento, entre 2008 e 2016 fo-

rância de gênero, realidade que vem crescendo

ram assassinados 900 trans no país, num total

nas estatísticas nacionais (leia quadro ao lado),

de 2.016 no mundo. Ou seja, o Brasil responde

com aumento no número de casos de violência

por 46,7% dos homicídios de pessoas trans

contra lésbicas, gays, bissexuais ou transexuais.

registrados mundialmente. Em 2015, o Disque

Para dar conta dessa realidade, a CTB criou o

100 (serviço para denúncias de violações dos

Coletivo LGBT. Carlos Rogério Nunes, secretário

direitos humanos) recebeu 1.983 ligações

de Políticas Sociais da central, afirma que a cria-

denunciando casos de violência contra trans,

ção do coletivo é um avanço para o movimento

um crescimento de 94% em relação a 2014.

sindical. “É um passo importante na luta para

A maioria das denúncias refere-se a casos de

apoiar a inclusão dessas pessoas tão discrimina-

discriminação.

das no mercado de trabalho”.

(!

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/"5/7/"A2B858.B/"5&0!"0$-0&!"#!:#<04# Por Mary Garcia Castro, socióloga, membro da União Brasileira de Mulheres (UBM) - castromg@uol.com.br

Este tema é um desafio dos mais oportunos para nós da UBM, da corrente feminista emancipacionista, que defendemos que gênero e raça se realizam em uma estrutura de classe. E mais que características, gênero e raça são processos históricos pautados em hierarquias, opressões e explorações, que se é tratada/o em instituições diversas, no mercado de trabalho e pelo Estado. Os governos preocupa-

Geledés

se corporificam em relações sociais e modos como

dos com bem-estar social e de orientação social democrata modelam políticas compensatórias,

a interseccionalidade de raça, classe e gênero, insis-

no entanto, se omitem de políticas redistributivas.

tindo que sexismo, racismo e situação de classe se

Consideram a pobreza um grande mal e não as

realizam por opressões que se combinam. Angela

desigualdades sociais e a produção de riquezas para

Davis (foto), uma das precursoras deste feminismo,

poucos.

observa, a partir do ambiente de esquerda norte-

Agora que o governo impostor se apossou do

-americano, nos anos 1980:

Estado brasileiro, até as políticas compensatórias

“As organizações de esquerda têm argumentado

estão em risco e com a PEC da maldade, que conge-

dentro de uma visão marxista e ortodoxa que a

la investimentos sociais por duas décadas, não vai

classe é a coisa mais importante. Claro que classe

ter nem como fiscalizar a aplicação da lei Maria da

é importante. É preciso compreender que classe

Penha, o combate à violência contra as mulheres e

informa a raça. Mas a raça também informa a classe.

os programas por uma educação não sexista. Com a

E gênero informa a classe. A gente precisa refletir

chegada desta onda fundamentalista conservadora

bastante para perceber as intersecções entre raça,

que proíbe até de se falar em gênero nas escolas,

classe e gênero. Ninguém pode assumir a primazia

por considerar o tema uma “ideologia”, isso tudo já

de uma categoria sobre as outras.”

era. Mas o mundo se move e as mulheres se agitam. Voltando ao desafio: sim, existe um novo feminismo que está descendo da favela e, por vielas próprias, enfrentando a ordem capitalista patriarcal. É um feminismo que não equaciona o projeto do femiimediata a emancipação política e como horizonte a emancipação humana. Identifica-se com o que vem sendo chamado de “feminismo negro”, advoga

Verge Campus

nismo emancipacionista, que tem como frente mais

Um dos princípios básicos do feminismo é Um

("

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12"&)( !"""#$%&'(")'"*%+,,'

Um dos princípios básicos do feminismo é descolar

dos filhos, depois da chacina de Acari, em 1990,

do corpo, da materialidade das condições de vida

quando 11 jovens foram sequestrados, assassinados

das mulheres, muitas assujeitadas, dóceis e passivas,

e sumidos por forças policiais, no Rio.

outras tendendo a rebeliões. Então primeiro há que

As Mães de Acari desencadearam um movimen-

se conhecer quem é a mulher da favela, suas con-

to internacional. Hoje são vários os movimentos de

dições de vida, aqui também englobando aquela

mães contra “o terrorismo de Estado”, a violência

nas áreas urbanas periféricas, os ditos ‘bolsões de

policial nas periferiase envolve o engajamento

pobreza’, e como ela vem se fazendo feminista, ou seja, lutando individual e coletivamente por direitos que desestabilizem hierarquias entre homens e mulheres e reivindicando políticas de Estado contra violências e condições infra-humanas de vida. Mães públicas Nas falas de mulheres jovens que afirmam

@+#%$%&.56$%#'%&$?'%'%+#%&.,3')'#% #'%+A4*+&9%B4&/%'C4#*'%.&%5$?$% ('&454#&$%6'#-'56$%6+#%(+?',+#%'/%7$)% ?4',+#%7)87)4+#/%'5()'5*+56$%+%$)6'&% -+74*+,4#*+%7+*)4+)-+,9%D&%('&454#&$%1.'% <%7)'-4#$%+7$4+)%'%#'A.4)

orientação libertária: “Vou pro funk e fico com quem com a coisa pública, como a busca do corpo do filho

crítica individualizada, algumas ações coletivas de

morto e por justiça pelo assassinato legitimado pelo

moldes comunitários, tanto de ajuda mútua no

Estado. Sim há um feminismo que vem das favelas

cuidar dos filhos da vizinha ou de se unirem contra

que se anuncia, em que os direitos do eu e do nós

um marido violento, como as ações em movimento

se acentuam e que há que se apoiar e seguir. Além

social. Vem chamando atenção as associações de

do Complexo do Alemão, outros casos são registra-

mães de jovens mortos pela polícia que se unem

dos de um feminismo “por mim e por muitos”. Entre

para pedir justiça. O caso das mães públicas é um

outros movimentos contemporâneos, cito as Mães

tipo singular de feminismo. Cito as Mães de Acari,

de Maio, as Mães de Copacabana, as Mães do Rio.

(foto) que por quase 15 anos gritaram pelos corpos

Mães públicas, mães de muitos.

arquivo memória

eu quero. O corpo é meu”. Junto dessa consciência

(#

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!"#$%&'(%')#*++%''',''34,&"'4#&

Por Carina Vitral, (à dir) presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE) e Camila Lanes (abaixo), presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) O golpe de estado ocorrido no Brasil nesse fatídico ano de 2016 está provando ser mais do que uma

Vitor Vogel/UNE

\)4,/$7#$ C2B2B"!" DE725CEF2

ofensiva para alcançar o poder no país. Não se trata apenas de cassar, por meio de um impeachment ilegítimo, o voto de mais de 54 milhões de brasileiros nas

estudantil, professores, pais e demais representantes

últimas eleições presidenciais. Trata-se, na verdade,

do setor educacional.

de uma ação de desmonte de todo o projeto popular

O plano apresenta 20 metas para o desenvolvi-

e de ampliação de direitos que foi conquistado pelo

mento do ensino no país, sendo a principal delas a

movimento social nos últimos anos, com o recrudesci-

destinação de 10% do PIB para a educação, coeficien-

mento das garantias da constituição cidadã de 1988.

te que está agora sendo apagado do horizonte pela

Nesse sentido, um dos grupos mais afetados tem

ação dos golpistas. Uma das principais ameaças é a

sido o da juventude, representada atualmente em

Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que o

uma população de mais de 50 milhões de habitantes,

governo pretende aprovar congelando por mons-

grande parte moradora dos centros urbanos e das

truosos 20 anos os investimentos públicos nas áreas

periferias. Os jovens, que tiveram acesso somente

sociais como a educação.

na última década a políticas mais justas na área da

A PEC 241 é uma das mais trágicas vertentes do

educação, do acesso à universidade, ao emprego, à

golpe para o público da juventude. Representa o

participação social, encontram no projeto golpista de

sucateamento da única área capaz de gerar oportu-

Michel Temer um cruel inimigo.

nidade, desenvolvimento e inclusão, impedindo a

Uma das principais vítimas é a área da educação,

reforma das escolas, salas de aula, bibliotecas, labora-

que recebeu como ministro justamente o represen-

tórios, a valorização dos professores, a implantação de

tante de um partido que foi ao STF contra a inclusão

novas políticas e soluções para os antigos problemas

dos pobres no ensino superior por meio do Programa

escolares. No âmbito do ensino superior, o estrago é

Universidade Para Todos (Prouni). Logo nos primeiros

igualmente terrível: O congelamento dos investimen-

dias, o ministério demonstrou seu descompromisso

tos impede os gastos com a assistência estudantil,

com as determinações do Plano Nacional de Educa-

essencial para a permanência dos filhos dos trabalha-

ção (PNE), aprovado em 2014 no Congresso Nacional

dores na universidade, o desenvolvimento da pesqui-

e fruto da luta de toda uma geração do movimento

sa, da extensão, a manutenção dos restaurantes, das

($

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34,&"'4#& !"""#$%&'(")'"*%+,,'

moradias universitárias, as políticas afirmativas. O desejo de retirar a responsabilidade constitucional do estado sobre a educação já foi expresso nos primeiros dias dessa não gestão, com a insinuação da cobrança de mensalidade nas universidades federais,

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maculando o seu caráter público. Programas essen-

'C7)'##$%5$#%7)4&'4)$#%64+#%6'##+%

ciais dessa área já foram cortados como o Mais Educa-

5H$%A'#*H$/%-$&%+%45#45.+GH$%

ção e organismos de participação e controle como o

6+%-$2)+5G+%6'%&'5#+,46+6'%

Conselho Nacional de Educação desmantelados. Outra triste consequência do golpe para os mais jovens é a ascensão do obscurantismo e da ameaça

5+#%.54?')#46+6'#%('6')+4#/% &+-.,+56$%$%#'.%-+)I*')%7=2,4-$:

ao estado laico com a influência de setores conservadores sobre a educação. O radicalismo de alguns

mocrática, nos moldes dos regimes mais atrasados e

grupos da chamada bancada evangélica do parla-

violentos do planeta.

mento busca proibir o debate escolar sobre temas

Enquanto isso, as mobilizações da juventude para

como o machismo, a violência contra as mulheres,

resistir e exigir os seus direitos são reprimidas com vio-

a diversidade e a LGBTfobia. Há os que, além disso,

lência nas ruas do país. A agressão contra uma jovem

defendam o criacionismo no currículo obrigatório da

que perdeu a visão recentemente nas ruas de São

escola pública brasileira.

Paulo e o episódio de um capitão do exército infiltra-

Na mesma corrente, o autoritário movimento

do nos movimentos de juventude para forjar crimes e

chamado Escola Sem Partido, que tem a simpatia

realizar prisões são alarmantes e trazem à memória os

do atual ministério, prevê a censura de conteúdos

piores anos da história brasileira recente.

críticos, ideológicos, políticos e ligados aos Direitos

O retorno de expedientes típicos da ditadura mi-

Humanos no ambiente escolar. A proposta também

litar mostra que é necessário organização e unidade

ganhou espaço no debate político dos estados e mu-

cada vez maiores dos jovens neste momento. Por

nicípios. O retrocesso de tal iniciativa leva ao horizonte

outro lado, demonstra que os golpistas têm muito

a formação de uma nação fundamentalista e antide-

receio do potencial de resistência da juventude e da sua capacidade de inverter a narrativa do quadro político do país. Tudo isso leva à necessidade de uma grande mobilização, de forma maciça, como nas históricas manifestações de junho de 2013. O jovem brasileiro sabe que está na mira dos que surrupiaram o poder e que não desejam o seu protagonismo político. São jovens mu-

Barbara Mello/FecBahia

lheres, homens, negros, indígenas, jovens do campo e das periferias das cidades que não aceitarão menos acesso do que lhes foi garantido até aqui. Em todos os momentos da história brasileira, a juventude nas ruas foi responsável por definir os rumos de todo o país. Não há porque tal roteiro ser diferente neste momento. Vamos à luta!

(%

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.*>"%*)* F2"G1/C2H9/" Mulheres dominam no campo, mas ainda enfrentam a desigualdade, a desvalorização e, agora, o desmonte da seguridade social

MDA

Por Cinthia Ribas

O sol mal raiou e elas já estão na ativa para cuidar

tão, se restringiam ao universo masculino. Mas para

da roça, da família ou da casa. Sejam assalariadas

encarar esse novo mundo, as mulheres precisaram

rurais ou agricultoras familiares, o fato é que as tra-

dividir o seu tempo, para conseguir administrar vida

balhadoras rurais ainda têm que se desdobrar para

profissional, familiar e pessoal. No campo não é

conseguir cumprir suas múltiplas tarefas.

diferente.

A partir da década de 1970, a mulher foi conquis-

Segundo dados do último censo do Instituto

tando o mercado de trabalho e aos poucos, a mão

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje as

de obra feminina foi criando novas competências e

mulheres do campo são responsáveis por quase

ocupando diversas áreas profissionais que, até en-

metade da renda familiar (42,4%), valor superior ao

(&

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EBC

#.7')4$)%+$%

5+#%-46+6'#9% No entanto, a grande contribuição da mulher no trabalho rural acontece principalmente no seio da das que vivem nas cidades (40,7%). Em 2000, ainda

agricultura familiar. No Brasil, esse tipo de agricul-

de acordo com o IBGE, as mulheres chefiavam 24,9%

tura é responsável por produzir 70 % dos alimentos

dos 44,8 milhões de domicílios particulares. Em

consumidos. O papel da mulher nessa produção de

2010, essa proporção cresceu para 38,7% dos 57,3

alimentos é central, mas ainda carece de visibilidade

milhões de domicílios.

e reconhecimento.

Mas nem por isso elas deixam de enfrentar um

“Todas as mulheres do campo produzem, e

cenário de desigualdade. “Se no meio urbano a

muito. E foram, durante muito tempo, condenadas a

gente ainda convive com desigualdades entre

uma invisibilidade. O trabalho da mulher sempre foi

homens e mulheres, isso é ainda mais grave no meio

muito presente no meio rural, mas nunca foi consi-

rural”, garante Lúcia Moura, vice-presidente da CTB

derado ou valorizado. Esse cenário tem se modifica-

e secretária da Terceira Idade da Confederação dos

do. Avançamos, mas ainda falta muito. Há um longo

Trabalhadores da Agricultura (Contag).

caminho a ser trilhado”, alerta a dirigente.

Desvalorização Acredita-se que há muito mais homens traba-

A canavieira Maria de Fátima da Silva, 36, é um exemplo. “Eu pego de sete da manhã e largo às

lhando no meio rural do que mulheres, o que não é

duas. Trabalho na equipe do adubo, onde a maioria

verdade, já que a maioria das tarefas do campo, nas

é mulher. A rotina da gente é bem puxada.” Dias

mais diversas condições, é desenvolvida por elas:

melhores fazem parte dos desejos de Fátima. “Eu

assalariadas, agricultoras familiares, assentadas da

espero que melhore, porque a gente trabalha muito,

reforma agrária, extrativistas, coletoras, entre outras.

e o dinheiro ainda é pouco”, conclui.

Porém não recebem o mesmo tipo de reconheci-

A Constituição Federal brasileira estabelece

mento profissional que um homem na mesma con-

no art. 5º que homens e mulheres são iguais em

dição. Quando são assalariadas, o salário é menor;

direitos e obrigações e reconhece no dispositivo 7º

quando agricultoras familiares, não têm a profissão

a igualdade de direitos entre os trabalhadores rurais

reconhecida, e continuam a ser chamadas de aju-

e urbanos. No entanto, a efetividade desses dispo-

dantes dos maridos ou esposas de agricultores.

sitivos constitucionais está longe de alcançar sua

('

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!"#$%&'(%')#*++%''',''&"')&,$-'*

plenitude. No campo, a realidade é outra. As condições do

novas (possíveis) regras seriam equipadas a exigência de idade para homens e mulheres do campo,

trabalho no campo são ainda mais precárias do que

passando para 65 anos. Mesmo com dados indican-

nas cidades e as mulheres rurais não contam com

do que as mulheres do campo trabalham mais que

determinadas facilidades que normalmente passam

os homens, não haverá diferenciação.

despercebidas no dia-a-dia da vida urbana. O que

As discussões no governo em torno da reforma

agrava a desgastante rotina campesina. São horas

da Previdência rural estão centralizadas no aumento

numa lida diária e anos nessa rotina estressante

do percentual de contribuição. Mas outras mudan-

submetida a intempéries do tempo, expostas ao sol

ças nas regras gerais — que abrange as aposentado-

ou chuva, pela própria natureza do trabalho.

rias urbanas - vão incidir no campo: a unificação da

Previdência injusta

idade entre os trabalhadores, independentemente

Com essa rotina desgastante, não é de se estra-

da atividade e do sexo, e a desvinculação dos bene-

nhar que os trabalhadores e trabalhadoras rurais go-

fícios previdenciários em relação ao salário mínimo

zassem de uma aposentadoria especial, que garante

— com isso o reajuste poderia ter percentual inferior

o direito ao benefício como segurados especiais aos

ao do piso nacional. “Ou seja, como sempre as mulheres serão as

Agência Brasil

60 anos (homens) e 55 anos (mulheres). Eles podem

continuar acessando a aposentadoria, mesmo sem

maiores prejudicadas. Porque além da falta de valorização

ter cumprido a exigência feita ao trabalhador urba-

ao longo da vida, tem a questão da dupla jornada, o que

no, que deve contribuir com a Previdência por 30

para as mulheres do campo é ainda mais desgastante. As

anos (mulheres) e 35 anos (homens).

mulheres, além de trabalhar fora, têm as tarefas de casa,

No entanto, com a reforma da previdência ace-

cuidam da família e ainda tem que arrumar tempo para

nada pelo presidente ilegítimo Michel Temer esse

cuidar da saúde e no final de tudo não são reconhecidas”,

cenário tende a mudar para pior. De acordo com as

conclui Lúcia Moura.

*)

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5...04+6&).#&.%+*--&

O Sinpro Minas homenageia as mulheres e está sempre na luta por seus direitos e contra a reforma da previdência, que penaliza todas/os as/os trabalhadores, em especial a mulher professora.

89:;95<6=-;=8->?=.@88=?@8 ;=-@86<;=-;@-A9:<8-B@?<98 !!!"#$%&'()$%*#"('+",'--.$/$*0(-1-.$2334-5(%233-3-567

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RESISTIR PARA AVAN« AR

*(

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Memorial da Democracia

04+6&).#&.%+*--&...5..04"#(.-$"#$%*+

C#./*A)$" I,*":*"*?6$?-%'> mundial quanto da trajetória dos comunistas. Para Por Abgail Pereira, dirigente da UBM e ex-secretária de turismo do Rio Grande do Sul

resgatar um período relativamente recente e importante do país, as grandes jornadas de lutas sindicais ocorridas no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980 no bojo da luta pelas Diretas foram determinantes tanto para a retomada da democracia quanto para o processo que levou à Constituição Cidadã de 1988. Naquele momento, como tantas outras

O atual cenário político-econômico de nosso país traz à tona, com ainda mais força, o papel da luta sindical na manutenção de conquistas históricas da classe trabalhadora. A chegada ao poder de um governo ilegítimo, voltado para os interesses da elite financeira e que ignora as necessidades e direitos do povo, torna urgente a mobilização organizada dos trabalhadores e trabalhadoras junto às suas entidades representativas, como forma de engendrar e fortalecer uma ampla frente capaz de enfrentar este cenário sombrio. Em momentos como este, torna-se ainda mais evidente a natural ligação entre a luta sindical e a luta política. Tal ligação não é nova e faz parte tanto da história do sindicalismo nacional e

companheiras, ingressei no movimento feminista e, mais tarde, no PCdoB, tendo participado de toda essa jornada de lutas. Aquela experiência contribuiu para o fortalecimento e a renovação dos sindicatos e consolidou em nós a certeza de que o sindicato é o principal instrumento dos trabalhadores na luta contra a exploração capitalista. Seu programa de ação deve contemplar tanto as questões mais específicas da categoria e as relações coletivas de trabalho como as lutas relativas às questões político-econômicas que envolvem a classe trabalhadora em sentido mais amplo. Forjar a unidade de classe para enfrentar essa disputa — especialmente em momentos adver-

**

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04"#(.-$"#$%*+ !"""#$%&'(")'"*%+,,'

sos como o atual — é a tarefa mais complexa do movimento sindical e também a mais importante,

As grandes jornadas de lutas sindicais

responsável pelo êxito das reivindicações.

no bojo da luta pelas Diretas foram de-

Aspectos da luta sindical

terminantes para o processo que levou à

As formas de luta que desenvolvemos no meio

Constituição Cidadã de 1988 e à retoma-

sindical são definidas de acordo com o grau de

da da Democracia”

unidade e participação da categoria e evoluem com o avanço da consciência de classe dos trabalhadores. A arte de negociar é um desses aspectos e

a importância de defender a participação efetiva

nada mais é do que a capacidade dos dirigentes de

do Estado na garantia dos direitos individuais e

aplicar a tática adequada à correlação de forças de

coletivos, a fim de resguardá-los de perdas quando

cada momento. O maior aprendizado advindo da

a economia estiver em baixa, momento em que o

militância sindical é que a luta econômica é apenas

ônus da crise recai sobre os assalariados.

uma luta de resistência e deve ser contínua. Afinal,

Desta forma, as políticas pública e econômica

a própria dinâmica sócio-política faz com que con-

adotada pelos governantes nos âmbitos nacional,

quistas importantes logo fiquem defasadas. Aspecto

estadual e municipal são fundamentais para a vida

igualmente importante da luta sindical diz respeito

da classe trabalhadora, uma vez que decorrem

ao enfrentamento de adversidades que constituem

destas políticas a capacidade de crescimento da so-

a essência da sociedade capitalista. A desigualdade

ciedade, a geração de emprego e renda, o fortaleci-

produzida pelas ambições do poder econômico e

mento das empresas, o incremento do consumo e o

todas as suas mazelas — como o descumprimento

acesso a bens e serviços nas áreas de habitação, saú-

das leis; a falta de democracia; o desrespeito à di-

de, educação e cultura, fatores determinantes para o

mensão humana do trabalhador e da trabalhadora;

estabelecimento de uma conjuntura favorável — ou

os assédios moral e sexual que vitimam principal-

adversa, quando tais aspectos estão ausentes — nas

mente as mulheres; as tentativas de impedir a orga-

negociações mediadas pelos sindicatos.

nização sindical, entre outras situações — exigem,

Para finalizar, neste momento, em que vivemos

para seu enfrentamento, a clareza de objetivos, o

uma situação de excepcionalidade na vida políti-

planejamento e a dedicação da direção dos sindica-

ca do país, quero citar o extrato de um poema de

tos. Em muitas lutas, é preciso ampliar as forças para

Carlos Drummond de Andrade, em A Rosa do Povo:

além da ação das categorias representadas, buscan-

“Outros homens” — e eu acrescentaria “outras mu-

do apoio em outros movimentos, no parlamento

lheres”, que certamente faziam parte da concepção

e no poder executivo. É nesse contexto de pressão

poética do autor — “em outras casas, continuarão

contínua que nos deparamos com as limitações da

a mesma certeza”. Creio que o pensamento reflete

luta sindical e com a necessidade que se coloca, para

como deve ser a conduta dos comunistas: somos

os trabalhadores, de desenvolver a luta política, de

partidários de uma única causa, não importa em que

forma a garantir que direitos fundamentais como

espaço atuamos. Nossos caminhos se encontram,

a recomposição do poder de compra dos salários,

onde quer que estejamos, porque nossa prática é

jornada de trabalho, entre outros, não precisem ser

pautada pela defesa dos interesses maiores de nosso

continuadamente renegociados.

povo, fundamentada nos princípios da defesa da

O papel do Estado na vida dos trabalhadores

liberdade, da democracia e do desenvolvimento

Ao longo de nossa trajetória, aprendemos sobre

econômico com valorização da classe trabalhadora.

*!

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EBC

!"#$%&'(%')#*++%''',''&#4%*78(

T$-)4#!$0.!,#%7/")! J

2FEK!H9/"K8F!F9 Por Marilene Betros, professora, coordenadora-geral em exercício da APLBSindicato e titular da Secretaria da Mulher da CTB-BA

Conquista/BA, Cachoeiro de Itapemirim/ES e, Foz do Iguaçu/PR; tendo sido aprovado já em Santa Cruz do Monte Castelo/PR e Picuí/PB. Alagoas tornou-se o primeiro estado no Brasil a ter uma lei (7.800/2016) que exige neutralidade do professor sob a denominação de Projeto Escola Livre. Historiando o assunto, o Movimento Escola sem Partido surgiu em 2004 por iniciativa do advogado

Ao falar do Movimento Escola sem Partido e suas

Miguel Nagib, com a justificativa da necessidade de

derivações é impossível não perceber que se trata de

reação - de acordo com suas declarações - “à instru-

uma proposta de desconstrução da pluralidade do

mentalização do ensino para fins político-ideológi-

ensino nacional. Entendo que esse movimento está

cos, partidários e eleitorais”, tendo como principais

tentando conquistar espaço pela imposição de pro-

vítimas dessa prática os “jovens inexperientes e

jetos de lei, no âmbito federal. No âmbito estadual e

imaturos, incapazes de reagir, intelectual e emocio-

municipal, o Projeto de Lei Escola sem Partido

nalmente, a um professor que esteja determinado

tramita atualmente nas Assembleias Legislativas de

a ‘fazer a cabeça’ dos alunos”. Entendo que essa

pelo menos 8 estados e nas Câmaras de Vereado-

argumentação é frágil e deixa evidente a ideologia

res dos municípios de Curitiba/PR, Joinville/SC, Rio

conservadora, embasada no fundamentalismo cris-

de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Toledo/PR, Vitória da

tão, camuflada em suposto pluralismo, que insiste

*"

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&#4%*78(

!"""#$%&'(")'"*%+,,'

em evitar que nossos estudantes desenvolvam um

uma diferença de 60% (dados da RAIS, Ministério do

pensamento crítico.

Trabalho e Emprego, 2011).

Observamos que esse projeto, travestido de uma proposta baseada na neutralidade, traz a defesa de uma escola antidemocrática, onde não há espaço para discussão da cidadania, como preconizado na nossa Constituição e estabelecido na Lei de Diretrizes de Bases da Educação (9.394/96). Nessa proposta, não cabe discutir política, filosofia, sociologia, história numa visão ampla, e como elementos que irão instigar o olhar crítico dos/as estudantes. Que leitura de mundo farão eles? Ampliando a frase de Otávio Mangabeira, “Pense num absurdo, no Brasil tem precedente”, pois não temos notícias de nenhum país que tenha leis absurdas como essa da Escola sem Partido. A mudança de governo, a partir de um processo 4486/2016 for aprovado, o resultado da votação da Base Nacional Curricular Comum não será pautado

Sinsej

falacioso de impeachment, demonstra que se o PL

pelos interesses de mudanças positivas na educação brasileira, mas, sim, em

As desigualdades de gênero, quando combi-

interesses de disputa política. Por isso, não tenho

nadas com outras formas de desigualdade, resul-

dúvida em afirmar que as investidas desse movi-

tam em formas múltiplas de violação de direitos.

mento estão se expandindo dentro do contexto de

As mulheres que vivem no meio rural possuem

crise político-econômico-social e pautando-se numa

maiores dificuldades de acesso à educação, visto

disputa política “direita-esquerda”, quando a estrutu-

que as escolas se encontram mais distantes e

ração do ensino de qualquer nação não

não existe facilidade de transporte que as leve

pode se pautar dessa forma. Assim, é preciso um amplo movimento nacional para barrar esse retrocesso.

até os locais de estudo. O Estado pode contribuir para a promoção dos direitos das mulheres por meio de diversas

Educação para a igualdade e cidadania

intervenções no sistema educacional. Primeiro,

Embora tenhamos avançado muito na inclusão

deve garantir o acesso a ele. Além disso, deve in-

das mulheres no sistema de ensino nas últimas

cidir na formação de professores/as para que os

décadas, a desigualdade de gênero repercute nas di-

espaços de ensino não reproduzam estereótipos

ferenças de remuneração entre homens e mulheres.

e preconceitos, mas combatam todos os tipos de

Em média, as mulheres têm maior escolaridade que

preconceitos, sejam eles referentes a sexo, raça,

os homens. Entretanto, ainda recebem menos que

etnia, cor, cultura, orientação sexual, identi-

eles, tendo o mesmo nível de formação. Entre os tra-

dade de gênero ou geração. Isso é fundamen-

balhadores com nível superior, os homens recebiam

tal para a construção de uma sociedade mais

em média R$ 5.572,28, e as mulheres, R$ 3.357,34,

igualitária.

*#

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04+6&).#&.%+*--&...5..&,&"'(

]^!C)*:0%Q*-/#!I#-/)*#4! "0!.'L)*")':"B,+M*%*: Em maio de 2016, o Conselho Nacional de

socioeconômico e ambiental e seus reflexos na

Saúde (CNS) convocou a 2ª Conferência Na-

vida e na saúde das mulheres; II. O mundo do tra-

cional de Saúde das Mulheres (2ª CNSMu). O

balho e suas consequências na vida e na saúde

encontro será em agosto deste ano e deverá

das mulheres; III. Vulnerabilidades nos ciclos de

contar com 1.800 participantes. Com o tema

vida das mulheres na Política Nacional de Aten-

central “Saúde das mulheres: Desafios para a

ção Integral à Saúde das Mulheres; IV. Políticas

integralidade com equidade”, a conferência terá

Públicas para Mulheres e Participação Social.

como objetivo propor diretrizes para a Políti-

As etapas Municipais e/ou Macrorregionais,

ca Nacional de Atenção Integral à Saúde das

da 2ª CNSMu acontecem de 1º de janeiro até 21

Mulheres.

de maio; a Etapa Estadual de 22 de maio até 20

O eixo principal da conferência será a Imple-

de junho e a Etapa Nacional, de 1º a 4 de agos-

mentação da Política Nacional de Atenção Inte-

to. Estão previstas para acontecer, até o mo-

gral à Saúde das Mulheres. Serão quatro eixos

mento, as Conferências nos Estados da Bahia,

que nortearão os debates durante a conferên-

Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco, Rio

cia: I. O papel do Estado no desenvolvimento

Grande do Sul e São Paulo.

Sindicatos liados

Sindicato dos FarmacÍ uticos do Estado da Bahia

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-*9#& 5...04+6&).#&.%+*--&

dade ou incapacidade de procriação/“reprodução” Por Fátima Oliveira, médica, feminista e escritora. Do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho Consultivo da Rede de Saúde das Mulheres Latinoamericanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da Paz 2005 pelo Prêmio Mil Mulheres ao Nobel da Paz.

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e explicitam a luta da mulher pela reapropriação do próprio corpo, território tão próximo e tão inatingível! E Direitos Sexuais são direitos das pessoas de decidir sobre o exercício ou não de sua sexualidade, sem riscos para a sua saúde e para a sua vida. Em 2003, a Área Técnica de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, com a colaboração de movimentos sociais (feministas, trabalhadoras rurais, negras, lésbicas e de portadoras de deficiências), elaborou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) – ações com a visão filosófica e política do PAISM, com duas áreas mais visíveis: o Pacto Nacional pela Redução da Morte Materna e Neonatal e a Política Nacional de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. Do quase “céu de brigadeiro” do governo Lula eis

Saúde da mulher, direitos sexuais e direitos re-

que no governo Dilma, o Ministério da Saúde, em

produtivos são terminologias proscritas da agenda

mãos fundamentalistas, elaborou o Rede Cegonha

da saúde pública brasileira – uma derrota significa-

– que se dizia de combate à morte materna, sem

tiva! Só em 1930 o Brasil oficializou ações para o pe-

mencionar atenção ao aborto inseguro, mas tentou

ríodo gravídico-puerperal (saúde materno-infantil) e mais de meio século depois o Ministério da Saúde criou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM, 1983/85) – ícone do feminismo por ser o mito fundador das políticas públicas em saúde da mulher com vistas a atendê-la “de modo integral em todas as fases de sua vida: infância, adolescência, idade adulta e terceira idade”.

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O conceito de integralidade em saúde não é estanque. Evolui. Não é apenas atenção integral em todas as fases da vida, mas um conjunto de variáveis

blindar 100% o nascituro [MP 557/2012 (Perdeu! Ga-

que asseguram bem-estar e cidadania, que recebeu

nhamos e não levamos!)] – e destroçou a PNAISM,

aportes de vulto da Conferência Internacional sobre

retomando o conceito de saúde materno-infantil

População e Desenvolvimento (CIPD, Cairo 1994),

– conservador e equivocado – que adoça a boca

que alocou os direitos reprodutivos como parte

dos segmentos do fundamentalismo cristão e é do

integrante e indissociável dos direitos humanos.

agrado absoluto do catolicismo oficial, que se apre-

Cairo 1994 é marco que relega as velhas políticas

senta segundo as conveniências, ora como Estado

de população de teor natalistas e antinatalistas a

(Vaticano), ora como religião (Santa Sé). Estamos

um lugar secundário, pois Direitos Reprodutivos são

em plena Era do Leilão de Ovários e a luta contra as

direitos das pessoas de decidir sobre a sua capaci-

trevas é de âmbito local: Estados e Municípios.

*%

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reprodução

04+6&).#&.%+*--&...5..$"'&)"*%$("*+

B,+M*%*:!*)!:%)*7 No centenário da revolução russa, o que o feminismo mundial tem a aprender com a luta das operárias bolcheviques pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária Por Erika Ceconi

“Elas marchavam alegremente, generosamente,

Em 1918, o governo socialista comandado

cheias de determinação. Elas iam a qualquer parte a

pelo revolucionário comunista Vladimir Lênin

que fossem enviadas. Para a Guerra? Elas colocavam

(1870-1924) promulgou um novo Código da

o quepe de soldado e tornavam-se combatentes no

Família baseado nos princípios do amor livre,

Exército Vermelho”, assim Alexandra Mikhaylovna

autonomia financeira, socialização do trabalho

Kollontai (1872-1952), líder da Revolução Russa de

doméstico e a extinção da família. Estas ideias

1917, descreve o protagonismo das mulheres no

foram estabelecidas dentro da lei, como explica

momento em que a classe trabalhadora derrubou

a historiadora norte-americana Wendy Goldman

o czarismo para a construção de uma sociedade

no livro “Mulher, Estado e Revolução” (Editora

mais justa e igualitária. Há cem anos a classe

Boitempo). Em sua análise, ela afirma que essa

operária russa chegava ao poder dando origem

legislação ajudou a apagar séculos de patriarca-

à primeira nação socialista do mundo com a

do e poder autoritário no país. “Os bolcheviques

formação União das Repúblicas Socialistas So-

lutavam para que, sob o socialismo, a instituição

viéticas (URSS). Este marco no século 20 trouxe

‘família’ definhasse; para que o trabalho do-

profundas mudanças sociais e políticas sentidas

méstico não remunerado das mulheres fosse

até os dias de hoje, entre elas a importância e a

substituído por lavanderias, creches e refeitórios

urgência em se reconher os direitos da mulher.

comunitários”, escreve Goldman. A nova legisla-

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$"'&)"*%$("*+ 5...04+6&).#&.%+*--&

ção substituiu o casamento religioso pelo civil e facilitou o divórcio, que poderia ser pedido por qualquer um dos cônjuges. A União Soviética foi o primeiro país a legalizar o aborto em 1920 e pioneiro em instituir o direito ao voto feminino. Na opinião da coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM), a historiadora goiana Lúcia Rincón “a liberação e o estímulo das mulheres no mundo do trabalho era uma atitude revolucionária de respeito e de resgate da dignidade

simples”. Neste contexto, o papel dos movimen-

humana”. Segundo ela, que é membro efetivo do

tos sociais é fundamental no apoio às reivindica-

Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, esse

ções feministas. “Os movimentos sociais tiveram

olhar revolucionário para a situação das mulheres e

ao longo dos anos, na atitude dos revolucioná-

a sua particularidade na sociedade capitalista signi-

rios e das revolucionárias de 1917, uma referên-

ficou um avanço muito grande para o conjunto das

cia de que na situação de maior adversidade

mulheres em todo o mundo.

o que ajuda o país a avançar é o estímulo à

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integração das mulheres”, destacou. Na opinião

Quase um século após estas importantes con-

dela, a exemplo do projeto socialista desenvolvi-

quistas, as mulheres ainda se deparam com cenário

do pela União Soviética, o campo político precisa

desigual em relação aos homens. “Não adianta

tratar a condição da mulher como prioridade. A pesquisadora americana Wendy Goldman

dizer que nós não vivemos mais como cidadãs de segunda categoria. Essa é a realidade para a maioria

também acredita que a Revolução Russa deixou

da população expressa, com todo o escancaramen-

às sociedades este legado de resistência à opres-

to possível, nos percentuais da participação das

são e às desigualdades causadas pelo sistema

mulheres nos cargos de poder”, criticou.

capitalista, em especial contra a mulher. “O

O fato, diz a pesquisadora, é que esta socieda-

movimento dos trabalhadores e trabalhadoras

de patriarcal, “em que nós estamos subalterniza-

que se organizou em todo o mundo é um sinal

das e exploradas duas vezes, é algo que precisa

disso. Mas ainda há muito a avançar e temos de

ser destruído na prática e na cultura e isso não é

trabalhar para isso”.

“Os bolcheviques lutavam para que, sob o socialismo, a instituição ‘família’ definhasse; para que o trabalho doméstico não remunerado das mulheres fosse substituído por

reprodução

lavanderias, creches e refeitórios comunitários”, Wendy Goldman

*'

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arquivo pessoal

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K/5312../"F!"AF8B"

9T'LK9N'!`_P'!JT`'!K\_'`8'8T O XVI Congresso realizado de 15 a 18 de setemPor Lúcia Rincon, presidenta da UBM e dirigente da CTB

bro do ano passado, em Bogotá (Colômbia), contou com a presença de 64 organizações, 44 países nas Américas, Ásia, Europa, África, países árabes e 255 delegadas. Sob o tema “Mulheres unidas pela paz e em luta contra o imperialismo”, a FDIM aponta para o mundo a firme convicção em continuar a empreender sua ação pelos direitos das mulheres contra a discriminação e

A Federação Democrática Internacional de

opressão, pela autodeterminação, a soberania na-

Mulheres (FDIM) nasceu das cinzas da Segunda

cional e a independência dos povos e para a paz.

Guerra Mundial, em 1 de dezembro de 1945, em

É no contexto internacional de resistência

Paris, pela ação das mulheres que estiveram na re-

dest@s trabalhador@s que a FDIM reafirma o

sistência contra o fascismo nazista e completou 70

direito da mulher ao trabalho, à igualdade de

anos em dezembro passado. Em todos esses anos,

remuneração para a mesma função e às garantias

a FDIM agrega mulheres no mundo, sem distin-

trabalhistas. O desemprego, a pobreza, a desigual-

ção de nacionalidade, etnia ou crenças religiosas,

dade salarial e o trabalho precário sempre afetam

na luta emancipadora dos povos para a paz e a

mais profundamente as mulheres e torna-se

solidariedade com as mulheres na defesa de seus

necessário buscarmos as raízes desta desigualda-

interesses legítimos e direitos.

de. Desde que a mulher foi recolhida ao mundo

!)

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doméstico e a reprodução humana tornou-se

10,6% menor do que dos homens. Cerca de 200

sua principal tarefa, esta também se tornou sua

milhões de mulheres idosas vivem sem uma ren-

carga mais pesada e a marca de uma história de

da regular para garantir sua sobrevivência, ao lado

opressão. Como Engels assinalou: “A emancipação

de 115 milhões de homens. Portanto, a cobertura

das mulheres e sua igualdade com o homem,

(tanto efetiva como legal) é menor para mulheres

são, e continuarão a ser impossíveis enquanto ela

que para homens.

permanecer excluída do trabalho produtivo social

Quanto aos salários, confirmam-se as esti-

e confinada ao trabalho doméstico, que é um

mativas anteriores da OIT, que, globalmente, as

trabalho privado”.

mulheres ganham ainda, em média, 77% do que

Como trabalhadoras são duplamente opri-

ganham os homens. E, a continuar a tendência

midas: pela sua posição de classe e de gênero.

atual, confirmam-se as estimativas que seriam ne-

Seguem assumindo sozinhas a responsabilidade

cessários mais de 70 anos para acabar completa-

pela casa e pelos filhos, às custas de sua partici-

mente com as disparidades salariais entre homens

pação na vida produtiva do país, e isto dificulta

e mulheres. Uma diferença de remuneração não é

emancipar plenamente a mulher. A sua presença

uma questão de natureza puramente econômica,

tem aumentado em setores em que predomina o

mas afeta também as relações de poder. Por um

emprego vulnerável e precário e os empregadores

lado, o salário contribui para a independência

utilizam a mulher que trabalha como um exército

econômica, um fator crucial para a autonomia,

de reserva. Com salários menores, somos explora-

para se ter voz ativa na família e na comunidade.

das para reduzir o custo da mão de obra em geral.

A igualdade de remuneração para um mesmo

Nos países de baixa renda, a taxa de precariedade

trabalho não é só uma questão de justiça social,

alcança 86% entre as trabalhadoras e 77% entre

tendo também um importante valor social, espe-

os trabalhadores.

cialmente para empoderar as mulheres na família e comunidade. Como destacou o texto do Congresso: “A luta

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de cada uma de nós, em nossos países, é pela independência nacional, por soberania, por um estado forte e soberano com desenvolvimento econômico, que gera oportunidades para que as mulheres participem no processo de produção, e, ampliando sua participação na sociedade, sejam mais respeitadas. Isso não importa ao império, mas seguiremos fortes e unidas, avançando passo

A luta pela igualdade no mercado trabalho recoloca a necessidade de se considerar a questão da maternidade como uma responsabilidade

a passo na nossa determinação de sermos Independentes, democráticas e anti-imperialistas.” Registre-se que, por proposição da UBM,

social. Em geral, a disparidade entre homens e

foi muito aplaudida e aprovada em Plenária,

mulheres no emprego foi reduzida em apenas

uma moção de repúdio ao golpe no Brasil e de

0,6% desde 1995 em todo o mundo. No entanto,

solidariedade ao povo brasileiro, em particular

a proporção de mulheres acima da idade de apo-

às mulheres e à presidenta legitimamente eleita,

sentadoria que recebe uma pensão, é, em média,

Dilma Rousseff.

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reproduçãodeALiberdadeguiandooPovodeEugèneDelacroix

`03#")!"#! K$>,?' O protagonismo das operárias francesas no revolucionário processo da Comuna de Paris Por Ivânia Pereira, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB A Comuna de Paris de 1871 foi e continua sendo

experiência uma oposição antagônica entre a casa

uma das mais relevantes experiências da luta dos

e a fábrica, os valores tradicionais e a modernidade.

trabalhadores e dos movimentos sociais e populares

Isso levou as mulheres a se organizarem nos locais de

por conquistas sociais, políticas e pela construção do

trabalho, participarem de sindicatos e clubes políticos

socialismo. Foi ainda, de todas as lutas revolucionárias,

e a se mobilizarem politicamente.

a que as mulheres tiveram grande participação, e

Em 18 de março de 1871, considerado o dia do

evidência, tanto por seu número e vigor como por seu

deflagrar da Comuna nas colinas de Montmartre, as

conteúdo político. A Comuna foi o primeiro processo

mulheres se puseram diante das tropas, chamando

revolucionário da história que resultou na experiência

o proletariado e a Guarda Nacional para defender

de um “governo” proletário, mesmo que breve. Em

a cidade. Não é a toa que o símbolo da República

verdade, desde logo os communards compreen-

Francesa (foto) foi concebido por uma mulher. De fato,

deram a impossibilidade de sustentar um governo

a França é caracterizada por sua tradição da presença

proletário sobre uma estrutura estatal burguesa -

e participação feminina nas lutas políticas. As forças

ensinamento de grande valia para a nossa história nos

conservadoras e reacionárias derrotaram militarmente

dias de hoje.

a Comuna de Paris de 1871, matando de 20 a 25 mil

Em 1871, as trabalhadoras padeciam de dupla

homens e mulheres. Após o conflito sangrento, 1.051

exploração e discriminação e estavam excluídas de

mulheres foram submetidas a conselhos de guerra,

direitos políticos básicos, como por exemplo o direito

realizados entre agosto de 1871 e janeiro de 1873: oito

ao voto. Para muitas mulheres, a Comuna se apre-

foram sentenciadas à morte; nove a trabalhos força-

senta não só como uma possibilidade de conquistar

dos e 36 a serem deportadas à colônias penitenciárias.

uma República social, mas de conquistar igualdade

A destacada participação feminina em atividades

de direitos para as mulheres. O desenvolvimento do

consideradas até então, como masculinas, reafirma

modo de produção capitalista em meados do século

a força revolucionária da mulher, já esboçada a partir

XIX, contribuiu para dar o caráter proletário à partici-

da revolução de 1789, e que se transformou em uma

pação das mulheres que já tinham atuação efetiva nos

onda histórica mundial indestrutível. As mulheres

movimentos sociais e populares em geral.

passam a contribuir com grande parte da força que

Com a produção artesanal se expandindo pela Eu-

coloca em movimento a máquina da revolução prole-

ropa, protagonizada principalmente pelas mulheres,

tária, indicando que não mais deixariam a cena da luta

se desenvolveu a indústria têxtil. Deste modo, ao lado

dos explorados e oprimidos por uma nova sociedade

da proletarização das mulheres, surgiu a partir dessa

de igualdade e sem exploração.

!*

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_.!A).0.!:*>");%*;-$: Novo filme de Ken Loach ilumina o drama dos trabalhadores(as) em um mundo que aboliu o bem-estar social

Por Marcos Aurélio Ruy Quem ainda não compreendeu o estrago que o presidente golpista Michel Temer vai fazer na vida do brasileiro com a reforma da previdência precisa urgente ir ao cinema assistir à obra-prima do inglês Ken Loach, “Eu, Daniel Blake”, Palma de Ouro no imum modo diferente, o filme britânico tem a mesma percepção social que se vê no clássico brasileiro “Vidas Secas” (1963), em que o diretor Nelson Pereira

divulgação

portante Festival de Cannes, na França, em 2016. De

dos Santos captou toda a dimensão humana do livro homônimo do grande escritor alagoano Gra-

à sua família e, por não conseguir emprego, parte

ciliano Ramos. “Vidas Secas” fala da aridez do sertão

para uma via alternativa. Assim como um vizinho

nordestino, provocando a secura das vidas, desuma-

de Blake, imigrante, busca maneira de sobreviver à

nizando as relações, transformando as pessoas em

margem do mercado de trabalho.

nada, menos valorizadas que bichos. Na época, há

O drama se passa em um país do primeiro

mais de 50 anos, o jornalista Vincent Canby escreveu

mundo e, mesmo assim, a intromissão imperialista

no jornal norte-americano “The New York Times”

não escapa ao olhar crítico do diretor, que mostra

que o filme era “um chamamento às armas”.

uma empresa norte-americana e terceirizada,

Sob a ótica urbana, “Eu, Daniel Blake” também

responsável por decidir sobre a seguridade social

retrata uma realidade árida e desumanizada. E narra

da classe trabalhadora inglesa - reflexo da política

uma história contemporânea e muito familiar a um

da primeira-ministra Margaret Thatcher (1979-

número cada vez maior de pessoas em todo o mun-

1990) que promoveu a derrocada do estado de

do. A trama se passa em uma cidade nas proximida-

bem estar social britânico. Dá para imaginar a

des de Londres e é protagonizada pelo marceneiro

situação indefinidamente pior em países pobres

Daniel Blake (Dave Johns). Após ser afastado do tra-

ou emergentes. A obra impressiona qualquer um

balho por razões médicas, começa o seu infortúnio

que ainda possua alguma esperança. E como na

para receber o seguro saúde. Somente isso já daria

avaliação do crítico sobre “Vidas secas”, “Eu, Daniel

à obra impacto suficiente para mexer com corações

Blake” também evoca um chamamento à ação

e mentes do público. Mas vem mais. Blake encontra

revolucionária. Porque no final, só fica faltando o

Katie (Hayley Squires), mãe de duas crianças que

diretor aparecer para dizer que a realidade é ainda

os “pais” não assumiram. Desempregada, Katie en-

pior do que a que ele mostra na tela. E aí, o que

frenta dificuldades ainda maiores para dar sustento

você vai fazer a respeito?

!!

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C).!+;6*?&'"N$(-;6' Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.

`?9%]42')6+6'/%ZZn%a%Lt%+56+)% ]42')6+6'%a%BH$%\+.,$%a%B\ VR\%WZ[WnSWWW% j$5'f%KZZO%nZWoSWuWW RS&+4,f%&.,3')v-*29$)A92)

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