QUASE 70% DOS BANCÁRIOS(AS) DO RN APRESENTAM SINTOMAS QUE PODEM INDICAR TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS
Pesquisa feita nos últimos dois anos traz números preocupantes
Precisamos discutir e construir critérios e uma cultura que dê segurança para conhecer e identificar as causas do adoecimento do trabalhador. Essa construção precisa ser feita a partir do conhecimento técnico e científico, da vontade política das categorias laborais, econômicas, e de toda a sociedade.
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a noite de 17 de maio, o auditório do SEEB-RN recebeu bancários(as), estudantes, líderes sindicais e representantes do MPT-RN e TRT-RN para ouvir da psicóloga Dra. Alda Karoline Silva, responsável pela pesquisa que investigou a situação da saúde mental dos(as) bancários(as), relatos estatísticos duros: 67,7% das pessoas entrevistadas apresentaram provável transtorno mental comum (TCM). Dados foram levantados em pesquisa realizada entre 2020 e 2021 em agências bancárias de Natal, Região Metropolitana, Agreste, Central, Salineiras e Seridó. “Não tenho mais interesse em viver. Já tive vontade de me suicidar dentro da agência bancária”, relatou em depoimento emocionante bancária de 30 anos que vem lutando contra a depressão. Outra bancária desabafou: “Eu me sentia culpada por achar que o adoecimento mental era individual, mas hoje, aqui, aprendi que esse problema é da categoria. Isso me deu um grande alívio”. O coordenador geral do SEEB-RN, Eduardo Xavier, lembrou na abertura do evento que a cada dia que passa o bancário é mais espremido. Uma agência que tinha 30 trabalhadores, hoje tem 10. O serviço que era feito por 3, hoje é feito por 1. Dessa forma, a sobrecarga, as cobranças excessivas e o assédio moral têm contribuído para o progresso desta doença, e isso angustia a todos que fazem parte da categoria.
Enquanto isso, a busca pelo aumento da lucratividade é cada vez maior nas instituições financeiras, e isso tem levado os trabalhadores ao esgotamento. “Para quem está vivenciando esse drama de perto, sabe que é uma doença que maltrata não apenas o indivíduo, mas também toda a família que compartilha esse sofrimento”, assinalou Robério Paiva, diretor de Saúde e Condições de Trabalho. A pesquisa também apontou que 90% dos bancários(a) sinalizaram a presença de desgaste emocional, sendo o trabalho um fator que contribui diretamente para esse quadro. A maioria percebe que frequentemente a forma de organização do trabalho gera desgaste emocional e que o trabalho frequentemente produz sofrimento. No mesmo ano que foi iniciada a pesquisa entre bancários(as), o INSS apontou que em 2020 o Brasil registrou mais de 576 mil novos pedidos de auxílio e aposentadoria por invalidez, devido a transtornos mentais. “É alarmante e triste a situação dos bancários(as) do RN. Que essa pesquisa seja o pontapé inicial para que essa situação não seja algo normalizado. Que esses números e essa iniciativa sejam um grito de esperança para essa categoria de trabalhadores”, finaliza Dr. Oderley Santiago, especialista em Direito Trabalhista e Previdenciário do SEEB-RN.
Dr. Luis Fabiano Pereira - Procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho
O assédio institucional pela pressão de metas impossíveis tem causado um adoecimento geral na categoria de bancários. É uma categoria que está adoecida. O ambiente de trabalho tem que ser de vida e não de morte.
Dra. Simone Jaill – Juíza do TRT-RN
O ambiente é provocativo desses transtornos. Não é o indivíduo, é uma categoria. Infelizmente, a luta é vencida pela patologia. Trabalho também é fonte de vida e as pessoas perdem a força para lutar por isso.
Dra. Alda Karoline Silva – Psicóloga responsável técnica pela pesquisa