Revista Pensamento Ibero-Americano nº 6. Ignacio S. Galán

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84 / Pensamiento Iberoamericano El aumento de las desigualdades: ¿qué podemos hacer al respecto? / 84

Gere inovação para alcançar os ODS

Ignacio Sánchez Galán* Iberdrola

É essencial que as empresas se antecipem às transformações e que não se desliguem das exigências sociais e das suas novas e emergentes necessidades. Devem aperceber-se de que os países em crescimento irão exigir um enorme incremento de abastecimento energético, e que este terá de ser diferente, devido aos problemas do clima e da qualidade do ar que já se manifestam em todo o planeta, não sendo esta mais do que uma grande oportunidade empresarial. Consciente de tudo isto, a Iberdrola baseou a sua política de sustentabilidade em cinco pilares que contribuem para alcançar os ODS.

Entre as muitas e variadas definições de “empresa” que se encontram habitualmente na literatura sobre esse conceito, gostaria de me concentrar na de um dos fundadores da economia social de mercado alemã, Wilhelm Röpke, para quem o principal objetivo de uma empresa deve ser produzir valor, tendo em conta o sentido moral do termo e não só o relativo à produtividade económica. Face a uma conceção utilitária da vida, Röpke propõe um desenvolvimento empresarial intimamente ligado ao desenvolvimento humano, e pede aos Estados enquadramentos legais que promovam este último. Da urgente necessidade de que estas ideias não sejam apenas um

* Ignacio S. Galán é presidente da Iberdrola e das sociedades subholding do Grupo Iberdrola no Reino Unido (ScottishPower), Estados Unidos (Avangrid, sociedade cotada na Bolsa de Nova Iorque) e Brasil (Neoenergia). É presidente do Conselho Social da Universidade de Salamanca, professor convidado da Universidade de Strathclyde e membro do Conselho Assessor Presidencial do Massachusetts Institute of Technology. Também faz parte do grupo de primeiros executivos de companhias elétricas do Fórum Económico Mundial (Davos) e é membro do Conselho e Comité Executivo da European Round Table of Industrialists.


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desejo, surgiram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um quadro comum para abordar os mais importantes desafios da humanidade neste século XXI. A partir da Cúpula da Terra de 1992, que deu lugar ao plano de ação global para promover o desenvolvimento sustentável —conhecido por Agenda 21—, passando pela criação da Comissão para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e pelos revolucionários oito Objetivos de Desenvolvimento do Milénio —precursores dos ODS—, a finalidade última foi sempre a de garantir a sustentabilidade dos nossos sistemas económicos e sociais. Com estas iniciativas em curso e muitas mais, chegamos à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, aprovada em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Como afirma Alicia Bárcena, secretária executiva da Comissão Económica para América Latina e o Caribe, a Agenda 2030 “estabelece uma visão transformadora para a sustentabilidade económica, social e ambiental dos 193 Estados membros que a subscreveram”1. Os 17 ODS, a par das 169 metas, constituem uma “oportunidade histórica para a América Latina e o Caribe, pois incluem temas altamente prioritários para a região, tais como, entre outros, a erradicação da pobreza extrema,

redução da desigualdade em todas as suas dimensões, crescimento económico inclusivo com trabalho decente para todos, cidades sustentáveis e alterações climáticas”. É extremamente importante referir que na elaboração da Agenda 2030 participaram todos os setores da sociedade, desde o mundo académico até aos jovens, governos, empresas públicas, empresas privadas, ONG e diferentes âmbitos da cultura. De facto, Alicia Bárcena destaca que a Agenda 2030 dá prioridade à dignidade e à igualdade das pessoas e exige que todas as instâncias e setores sociais se envolvam nela. E, em consequência, “convida os representantes dos Governos, sociedade civil, âmbito académico e setor privado a que se apropriem desta ambiciosa agenda e a debatam e utilizem como um instrumento para a criação de sociedades inclusivas e justas, ao serviço das pessoas de hoje e das futuras gerações”. Por isso, a partir do denominado pós-2015, depois da Conferência Rio+20 das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o setor empresarial envolveu-se, entre outras, em iniciativas como a constituição do Grupo de Alto Nível de pessoas eminentes sobre a Agenda de Desenvolvimento pós-2015, da Rede

1. Bárcena, Alicia. 2018. “Prólogo”. A Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Uma oportunidade para a América Latina e o Caribe. Publicação das Nações Unidas. https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/40155/10/S1700334_es.pdf


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de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável e do Pacto Mundial das Nações Unidas. Tudo isto, para dar resposta aos complexos problemas colocados pela Agenda 2030. E é nesse sentido que as grandes empresas suportam uma maior responsabilidade, dado que têm capacidade para criar soluções a nível global em conjunto com outros agentes. Tal como a Iberdrola, as grandes empresas devem comprometer-se a introduzir modelos mais sustentáveis a fim de conseguirem alcançar os ODS. Para isso, a Iberdrola apostou decididamente em criar inovação, não só nos laboratórios, mas também aproveitando o conhecimento de outras organizações periféricas, tanto do chamado “contexto próximo” quanto do “contexto remoto”. A mudança do contexto remoto é uma condição indispensável criada pelos ODS, já que estes apelam a todo o tipo de organizações do planeta. Como referiu a ONU, todos os desafios globais são locais. O setor empresarial demonstrou que é capaz de oferecer respostas conjuntas e soluções concretas às alterações estruturais que estão a ocorrer no mundo. Sem dúvida, a contribuição da empresa é fundamental para realizar este esforço comum, pois a sua capacidade para promover o crescimento e a criação de emprego constitui a base do desenvolvimento económico e social. Cada empresa influencia de forma direta diferentes objetivos conforme

o setor a que pertence, embora todas elas possam contribuir para o conjunto dos ODS de maneira indireta. Por sua vez, as empresas e, por conseguinte, todos os seus grupos de interesse, beneficiam do cumprimento dos ODS. Por um lado, porque com a sua aplicação se criam mercados mais estáveis, regulados e competitivos, sistemas financeiros mais transparentes, matérias primas e energia acessíveis, consumidores com maior poder aquisitivo e empregados mais qualificados —definitivamente, o cenário ideal para que o setor privado possa desenvolver a sua atividade—. E, por outro lado, a implantação destes modelos de intervenção sustentáveis otimiza a sua competitividade e rendimento a longo prazo. É que as empresas serão responsáveis e sustentáveis ou não o vingarão. Assim, os ODS representam uma grande oportunidade para as empresas, sempre que estas sejam capazes de se adequar ao novo contexto e procurar, através da renovação dos seus objetivos, a consecução dos referidos ODS por meio de parcerias com outros agentes. Tudo isto sem esquecer o evidente efeito interno de motivação das estratégias sustentáveis nos empregados, que em muitos casos veem cumpridas as suas necessidades de contribuição social pessoal no âmbito da própria empresa onde trabalham. Além disso, este elemento resulta numa otimização dos processos


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de atração e retenção do talento, que é um elemento importante, fator de melhoria de custos e de competitividade.

As estratégias sustentáveis têm um evidente efeito interno de motivação nos empregados, que em muitos casos veem cumpridas as suas necessidades de contribuição social pessoal no âmbito da própria empresa onde trabalham. É essencial que nos antecipemos às transformações e que não nos desliguemos das exigências sociais e das suas novas e emergentes necessidades. Damo-nos conta de que os países em crescimento irão exigir um enorme incremento do abastecimento energético, e que este terá de ser diferente, devido aos problemas do clima e da qualidade do ar que já se manifestam em todo o planeta, não sendo esta mais do que uma grande oportunidade empresarial. Além disso, os ODS criam novos negócios através de trajetórias de inovação e sustentabilidade, não só nos países mais desenvolvidos, mas também noutros de rendimentos mais baixos, onde muitas vezes é possível evitar os erros cometidos nos primeiros.

Conscientes de tudo isto, em 2013 a Iberdrola configurou uma política de sustentabilidade em torno de cinco pilares relacionados com a sustentabilidade energética e a sustentabilidade empresarial e definiu três níveis de contribuição: um direto, colocando a ênfase no ODS 7, porque o nosso principal objetivo é fornecer energia sustentável e de qualidade e por isso aumentámos a percentagem de energia renovável (ODS 7.2); fazemos tudo o que está ao nosso alcance para melhorar a eficiência energética (ODS 7.3); e queremos garantir o acesso universal à energia (ODS 7.1). Nesse sentido, estamos muito orgulhosos de poder afirmar que a partir de 2014 a Iberdrola, através do seu programa “Eletricidade para todos”, levou energia elétrica a cerca de 4 milhões de pessoas em países desfavorecidos da América Latina e África. O objetivo agora é alcançar 16 milhões de beneficiários no ano de 2030, um objetivo que anunciámos na I Conferência Ibero-Americana sobre Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, realizada em Salamanca, em junho de 2018. Este programa da companhia é a nossa resposta ao apelo da comunidade internacional para que a energia, como modelo ambientalmente sustentável, economicamente assumível e socialmente inclusivo, seja de acesso universal, relacionando-se assim com o ODS 7.1. Para o cumprir, a Iberdrola financia projetos, implementa investimentos nos países onde tem


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presencia ativa e colabora com agências de voluntariado e ONG.

A Agenda 2030 permite que as áreas rurais agora se transformem em aceleradores de inovação tecnológica e organizativa, de acordo com os processos de inovação reversa. Outro dos seus principais objetivos está ligado ao ODS 13 (ação pelo clima). A Iberdrola é uma referência mundial na luta contra as alterações climáticas, tal como já pude referir nos mais importantes eventos internacionais sobre a matéria, como na Assembleia Geral das Nações Unidas e nas Cúpulas do Clima (COP). A estratégia de investimento (e desinvestimento em ativos emissores como o petróleo e o carvão) permitiunos reduzir a intensidade de emissões de CO2 em 75% desde o ano 2000 na Europa, até a situar 38% abaixo da média dos nossos concorrentes europeus e 70% da média do setor em Espanha. O nosso objetivo é reduzir em 50% as emissões até 2030, sendo neutros em carbono em 2050. Simultaneamente, contribuímos com a nossa atividade empresarial para o cumprimento das restantes metas, como a educação de qualidade (ODS

4), através do Programa Internacional de Bolsas e da formação da nossa equipa humana; criação de emprego e crescimento económico (ODS 8), criação de postos de trabalho para mais de 400.000 pessoas em todo o mundo; inovação (ODS 9), sendo uma das quatro companhias elétricas do mundo que mais recursos dedicam a esse âmbito; e igualdade de género (ODS 5), através de cuja aposta somos uma das quatro únicas empresas espanholas incluídas no índice “Bloomberg Gender-Equality”. Como empresa socialmente responsável, também desenvolvemos numerosas atividades internas e externas encaminhadas para o fomento de outros muitos objetivos, especialmente em matéria de proteção da biodiversidade, saúde e bem-estar, assim como para a de redução das desigualdades. Todo este compromisso para com os ODS ajuda-nos a enquadrar a nossa relação concreta com a Ibero-América —onde temos grande presença no México e Brasil— de forma diferente, desta vez baseada na horizontalidade e aprendizagens partilhadas, com iniciativas provenientes das duas margens. A Agenda 2030, cujos objetivos são já por si ambiciosos, é para a nossa companhia uma prioridade, se possível ainda maior na América Latina, tendo a resposta de muitos países sido verdadeiramente exemplar: de 2016 a 2018, 22 países da América Latina e do Caribe


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apresentaram-se ao exame nacional voluntário do Conselho Económico e Social das Nações Unidas e deles, três (Colômbia, México e Uruguai) apresentaram por duas vezes os seus avanços, algo realmente significativo se tivermos em conta que só 8 países a nível mundial o fizeram. Talvez o mais interessante da nova Agenda 2030 seja que nesta ocasião os objetivos se enquadram à escala planetária para todos os países por igual e, consequentemente, a transferência de conhecimentos e recursos pode passar de uma nação para outra de forma multidirecional, independentemente da sua posição económica. Por outro lado, a Agenda 2030 permite que as áreas rurais agora se transformem em aceleradores de inovação tecnológica e organizativa, de acordo com os processos de inovação reversa. Em suma, o desafio é conseguir que tanto os países desenvolvidos quanto os que estão em desenvolvimento alcancem um desenvolvimento sustentável (porque será cada vez más verde), inclusivo (porque chegará a todos) e inteligente (ao colocar a ciência e a inovação ao serviço dos desafios das sociedades contemporâneas). O Acordo de Paris exige o cumprimento do 9º Programa Quadro de Investigação e Inovação através de uma nova estrutura com três pilares fundamentais: ciência aberta, competitividade industrial e inovação aberta.

A Iberdrola demonstra com ações e com factos que soube chegar a milhões de pessoas, que contribuiu para melhorar a sua qualidade de vida e que lhes abriu novas oportunidades de desenvolvimento. A colaboração do setor privado espanhol e das políticas que já estão a ser implementadas na América Latina para que a Agenda 2030 seja um êxito, serão visíveis na XXVI Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo que terá lugar em La Antigua Guatemala nos dias 15 e 16 de novembro de 2018. Nesse contexto, o empenhamento da nossa companhia é absolutamente firme e vai mais longe, pois propusemonos ser embaixadores dos ODS junto dos nossos acionistas, empregados, clientes e sociedade em geral, já que estamos totalmente convencidos da urgência de que todos nos sintamos chamados à ação. Escrevi algumas vezes que a melhor forma de prever o futuro é criálo. Estamos convencidos de que o cuidado do planeta não é uma questão de filantropia, mas um dever moral. Porque, tal como afirmou Gandhi, acreditamos na necessidade de protagonizar as transformações que queremos ver no mundo: a força não vem de uma capacidade física, mas de uma vontade indomável. A Iberdrola deu já muitas mostras disso ao longo da sua dilatada e frutífera trajetória no complexo, mas apaixonante, mundo empresarial.


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