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Um modelo a ser seguido Conhecer as maiores referências em genética Holandesa e Jersey, rebanhos com mães e filhas de touros consagrados, sistemas de produção altamente especializados e, completando a programação, duas das mais prestigiadas exposições de gado leiteiro. Assim foi o tour pelo Canadá, promovido pela Semex
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urante 10 dias, um grupo de mais de 30 brasileiros - entre produtores, técnicos e interessados no setor lácteo -, teve a oportunidade de visitar tradicionais fazendas leiteiras no Canadá, em um tour organizado pela Semex Brasil. O grupo também participou de duas grandes exposições de gado leiteiro no país, a Supreme Dairy Show e The Royal Agricultural Winter Fair, além da programação cultural do roteiro, que incluiu um Jantar de Gala e visitas ao Parlamento do Canadá e às espetaculares cataratas do Niagara.
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Além de conhecer rebanhos altamente selecionados, com mães e filhas de touros consagrados, o grupo acompanhou de perto as rotinas das fazendas, desde o manejo da alimentação, preparação para exposições, infraestrutura e maquinários. Nas exposições, pôde conferir o trabalho genético que vem se destacando, inclusive vendo em pista animais de várias das propriedades visitadas, comprovando a superioridade destes animais não só em tipo, mas também em produção e longevidade.
Fontes da seleção Ao todo, treze fazendas localizadas nas províncias de Ontário e Quebec foram visitadas. Em todas elas, o grupo brasileiro foi calorosamente recebido pelos anfitriões, que apresentaram a história e todas as estruturas das fazendas. Na grande maioria, a quase totalidade dos serviços é realizada pelos integrantes da própria família. A atividade vem sendo desenvolvida ao longo das gerações, e a paixão pelo rebanho leiteiro é passada de pai para filho. Em muitas delas,
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as crianças participam das rotinas, seja ajudando os pais ou ainda brincando em meio às vacas, divertindo-se com aquele ambiente que será, futuramente, o celeiro de sua história. A seguir, conheça um pouco sobre cada uma das fazendas visitadas. Ferme Intense Localizada em Ste-Brigitte des Saults, Quebec, a Ferme Intense tem como principal atividade a venda de genética. Kevin Jacobs e sua esposa Stéphanie Benoit, a terceira geração da família envolvida na atividade, apresentaram o rebanho predominantemente da raça Holandesa, acomodado em estruturas recentemente construídas. As 25 vacas em lactação estão em um galpão central, em sistema de tie stall, e produzem em média 30 litros por vaca/dia. Galpões ao lado alojam as novilhas e bezerras geneticamente selecionadas para comercialização. A Ferme Intense realiza um trabalho intenso de coleta e transferência de embriões, principal fonte de renda da propriedade. Em seu critério de seleção, Kevin preconiza a conformação (tipo). “As vacas precisam ter boas pernas e pés, úberes bem inseridos, e uma conformação que dê condições para produção e reprodução. Acredito que o volume produzido seja uma consequência, pois se a vaca tem boa estrutura corporal e recebe alimentação adequada, ela tem condições de expressar seu potencial produtivo”, afirma Jacobs. Atualmente, os principais touros utilizados nos acasalamentos são o Doorman, Sid e Goldwyn. Em frente à Ferme Intense está a fazenda do pai de Stéphanie, onde são ordenhadas 200 vacas. As duas áreas somam um total de 688 hectares, onde toda a comida necessária é produzida. As vacas em lactação recebem dieta total, e às bezerras e novilhas é fornecida dieta balanceada de acordo à idade. Kevin explica que o pagamento do leite produzido é feito de acordo ao teor de sólidos. Atualmente a fazenda recebe o valor de C$ 2,80 por quilo de gordura entregue ao laticínio (o equivalente a US$ 0,70/litro de leite). O jovem casal mostra-se entusiasmado com a atividade e pretende aumentar o rebanho. Será necessário adquirir mais cotas, assim que houver disponibilidade. Outra meta de Kevin e Stéphanie é pro-
duzir touros geneticamente superiores, e que tenham sua genética multiplicada. “Com a técnica da genômica é preciso estar muito à frente quando se fala em seleção genética. Mas, obviamente, ter um touro de seu plantel nos principais sumários é o sonho de todo criador”, afirma o jovem produtor. Ferme Comestar Conhecida mundialmente por ter sido a casa da renomada Comestar Laurie Sheik (VG-88 23*), base para construção de seu rebanho, a Comestar possui atualmente 750 animais, sendo 200 vacas em lactação, com produção média de 11.800 quilos por lactação (4,3% de gordura e 3,2% de proteína, na média anual). A fazenda, de 506 hectares, está localizada em Victoriaville, Quebec. Atuando há mais de 35 anos com o sufixo
Comestar, a propriedade familiar é conduzida por Marc Comtois, seus três filhos e um genro. O grupo brasileiro foi recebido pelos irmãos Steve e Katween Comtois. O rebanho em lactação é mantido em tie stall, sendo realizadas duas ordenhas diárias. “Temos planos de construir um free stall para as vacas em lactação e instalar robôs de ordenha”, conta Steve. A criação das bezerras está sob os cuidados de Katween, do nascimento até os 5 meses de idade. “Eles recebem leite até os 80 dias de vida, em mamadeiras, sendo que até os 60 dias são alojados em casinhas individuais. Em seguida são reunidos em grupos de 3 ou 4, em casinhas maiores, por onde ficam por mais 40 dias, e em seguida vão para lotes maiores em piquetes, onde passam a receber uma dieta composta por ração, feno e silagem”, diz Katween. Ela explica que
Ferme Intense: O plano genético da fazenda preconiza a conformação (tipo)
Ferme Comestar: os cuidados no inverno são redobrados, desde a alimentação até as instalações e proteção dos bezerros
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os cuidados no inverno são redobrados, desde a alimentação até as instalações e proteção dos bezerros. “No verão os bezerros recebem leite duas vezes ao dia (6 litros por dia, no total), e no inverno passamos a três vezes ao dia (9 litros por dia). Usamos leite das vacas, pasteurizado, e também leite em pó.”, afirma. No trabalho de formação do rebanho da Comestar foram utilizadas algumas famílias, as quais predominam no rebanho até hoje. Desta forma, os Comtois têm muita segurança no tipo de genética utilizada em função dessas linhagens já bastante conhecidas. Além da produção leiteira, a Comestar tem como prioridade a venda de genética. Cerca de 100 vacas estão em protocolos para produção e coleta de embriões anualmente. Em 10% destes acasalamentos são utilizados touros genômicos, mas a fazenda ainda prioriza os touros provados. Os reprodutores que compõem os acasalamentos são, principalmente, Seaver, Sid, Windbrook, Goldwyn e Doorman. O teste genômico é feito naqueles animais que a fazenda acredita ter um grande potencial. A Comestar tem um contrato de exclusividade com a Semex, e os touros selecionados para provas genômicas são enviados à central. As novilhas detectadas com altos índices no teste genômico entram em protocolos para coleta de embriões. Ou seja, antes do primeiro parto essas novilhas são coletadas pelo menos uma vez. A Comestar é produtora de touros renomados, muitos deles com mais de 1 milhão de doses de sêmen vendidas. Recentemente produziu touros mundialmente reconhecidos, como o Top Gun, Lavanguard e Lauthority. Participante ativa de feiras e exposições, a Comestar apresenta com frequência seu trabalho de seleção nas pistas de julgamento. Ferme Petitclerc Também sob controle familiar, a Petitclerc possui um rebanho total de 280 animais da raça Holandesa, sendo 100 vacas em lactação, com produção média de 11.800 quilos por lactação (4,2% de gordura e 3,25% de proteína). A fazenda está localizada em Saint-Basile, Quebec. Toda a alimentação é produzida na fazenda, com áreas de cultivo que ultrapassam » 42
Ferme Petitclerc: A produção média do rebanho é de 11.800 quilos por lactação, com 4,2% de gordura e 3,25% de proteína
os 141 hectares. O rebanho recebe dieta total composta principalmente por présecado de alfafa e silagem de milho. Maxime, quem recebeu o grupo, conta que a propriedade é conduzida por ele, seu irmão Dominic e o pai Réjean. “Eu e meu irmão estudamos Animal Science e assim que nos formamos voltamos para trabalhar na fazenda”, diz. A base do rebanho Holandês vem de vacas consagradas, como Petitclerc Storm Amy EX-92-2E 10*, Petitclerc Skychief Francy EX-3E 12* e Brabantdale Jasper Spades VG-88-4A. Um forte trabalho de seleção é comprovado pela alta classificação linear das vacas, sendo que o rebanho atual é composto por 25 vacas classificadas como Excelentes (EX), 75 vacas classificadas como Muito Boas (MB), e 20 vacas Boas para Mais (B+). Cerca de 100 vacas do rebanho estão em protocolos para coleta de embriões. Nos acasalamentos, utilizam touros genômicos e também touros provados. Os mais usados são Doorman, Goldwyn, Fever e Sid. Participante assídua de exposições, a fazenda Petitclerc recebeu o título de Master Breeder (Principal Criador) em 1987 e 2001. Ao longo destes anos de criação, tem conquistado prêmios nas principais exposições do Canadá e Estados Unidos. Ferme Jacobs A paixão da família Jacobs pela agricultura e pecuária leiteira vem desde 1951, quando seu fundador Léo Jacobs chegou ao Canadá. Atualmente a propriedade é
conduzida pelos irmãos Yan e Ysabel, ao lado do pai Jean Jacobs. Nos 405 hectares da propriedade, situada em Cap-Santé, Quebec, é produzida toda a alimentação para os 600 animais do rebanho. O principal ingrediente da dieta total é o pré-secado de alfafa, além de grão úmido e silagem de milho. Em sistema de tie stall, 150 vacas da raça Holandesa estão em ordenha e produzem em média 11.000 quilos de leite por lactação, com 3,8% de gordura e 3,2% de proteína. Obcecados por animais de excelente conformação, os Jacobs participam das maiores exposições tanto no Canadá como nos EUA, colecionando uma infinidade de premiações. Por três vezes receberam o título de Master Breeder (1984, 1998 e 2012). “O prefixo Jacobs conquistou a faixa de Criador na World Dairy Expo em 2011 e 2012, e na The Royal em 2008 e 2012, o que nos deixa muito honrados”, afirma Jean Jacobs. Algumas vacas contribuíram fortemente na base do rebanho, como a Jacobs Goldwyn Britany EX-96-2E, Bonaccueil Maya Goldwyn EX-94 e Jacobs Goldwyn Emory EX-93, as três muito conhecidas pelo mundo todo. No momento, a principal família do rebanho provém da vaca Spirit Valsie, mãe da Reservada Grande Campeã da Supreme Dairy Show (Jacobs Goldwyn Valana) vista pelo grupo de brasileiros. Em relação aos acasalamentos, Yan explica que o maior resultado no rebanho foi
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Ferme Jacobs: No tie-stall estão vacas de excelente conformação, com diversos títulos conquistados no Canadá e EUA
obtido com o touro Goldwyn. “Registamos mais de 200 filhas de Goldwyn aqui na fazenda. Ainda temos doses de sêmen dele e continuamos usando”, conta. Atualmente os principais touros utilizados são Doorman, Sid e Mascalese. A Jacobs comercializa vacas e novilhas ao longo do ano. Yan conta que o momento está favorável, com o mercado extremamente aquecido. “Uma novilha comum, recém-parida, é vendida atualmente por 4 mil dólares. Mas normalmente o preço não é tão alto. O que ocorre é que o mercado de corte também está aquecido, então muitas vacas foram abatidas”, explica. Algo que chama muito a atenção nesta família é o envolvimento das crianças, desde muito pequenas na atividade. Nas exposições, cuidam das bezerras, entram em pista e, em casa, estão diariamente ajudando os pais, enquanto fazem disso também uma diversão. E é deste jeito que a paixão pela atividade vai passando de geração para geração. Ferme Bergeroy A fazenda Bergeroy foi inaugurada em 1956, em St-Samuel-de-Horton, Quebec, pelos proprietários Jacques e Claire Bergeroy. Desde janeiro de 1990, os filhos Claude e René, junto à esposa de René, Guylaine, assumiram seu comando. A atividade leiteira na Bergeroy era desenvolvida em cinco fazendas, com as vacas mantidas em sistema de tie-stall. Vendo a necessidade de melhorar o conforto dos animais e facilitar o trabalho
diário, decidiram reunir todo o rebanho em lactação em uma só propriedade, mudando também o tipo de instalações. Em março de 2014 foi inaugurada a nova sede da Bergeroy, onde os animais ficam alojados em free stall com camas de areia e divisórias feitas de uma espécie de plástico que evita escoriações e proporciona maior conforto (“free stall verde”). Segundo os proprietários, “com este novo sistema a expectativa é ter vacas que durem mais tempo, ou seja, com maior longevidade”. As 330 vacas em ordenha, da raça Holandesa, têm produção média de 11.350 quilos de leite por lactação, com 3,8% de gordura e 3,4% de proteína. Mesmo com
o estresse da mudança, a produção das vacas em lactação não reduziu. Para o próximo ano, espera-se que a produtividade aumente. A nova sala de ordenha foi muito bem planejada, visando proporcionar o máximo conforto para as vacas e também para as pessoas envolvidas no trabalho diário. São realizadas duas ordenhas diárias, mas a fazenda pretende passar para três ordenhas no próximo ano, começando pelo lote de mais alta produção. Além da família, 12 funcionários trabalham na fazenda, considerando a produção de leite e a lavoura. Uma interessante constatação do efeito do conforto das novas instalações pôde ser visto na contagem de células somáticas: no sistema de tie-stall, a CCS média era de 280 a 320 mil cél/ml; já o histórico dos últimos 7 meses, no free stall, apresenta média de 130 mil cél/ml. Dos 911 hectares da fazenda, cerca de 250 são utilizados para produzir todo o alimento do rebanho (milho, soja e feno), sendo que 20 hectares são reservados para áreas de pastejo. No restante da área são cultivados grãos para venda. Com animais de estrutura diferenciada, o rebanho da Bergeroy está constituído por 30 vacas Excelentes, 150 vacas Muito Boas e 60 vacas Boas para Mais. Ferme La Présentation O prefixo “La Présentation” está prestes a completar 100 anos e é particularmente muito bem conhecido pelos seus três títu-
Ferme Bergeroy: os animais ficam alojados em free stall com camas de areia e divisórias móveis que evitam escoriações e proporcionam maior conforto
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los de Master Breeder. Seis sócio-proprietários estão no comando da fazenda, situada em Grand Rang La Présentation, Quebec. A nova infraestrutura para alojamento do rebanho em lactação chamou a atenção do grupo de brasileiros: um free stall com 110 vacas Holandesas e sistema de ordenha robotizado, com três robôs. Outras 50 vacas ainda estão alojadas em um tie stall. São vacas em tratamento, e que são mantidas separadas. O novo galpão foi muito bem projetado para facilitar a movimentação dos animais, com fácil acesso aos cochos e bebedouros. Durante a ordenha, as vacas recebem 50% do concentrado, e o restante é servido na dieta total (à base de pré-secado de alfafa, feno, silagem de milho, grão úmido, concentrado e núcleo mineral). Para evitar que entrem repetidamente no robô em busca de ração, o sistema é programado para recusar a entrada do animal com intervalo menor a 5 horas em relação à última ordenha (cada fazenda pode programar o intervalo de ordenha de acordo à produção de seu rebanho). A média diária é de 3,4 ordenhas por vaca, mas durante o ano variou de 2,9 a 3,7 ordenhas, com uma média de 4 recusas por vaca (ou seja, as vacas chegam a ir até 7 vezes aos robôs, mas nem todas as vezes conseguem entrar). A dieta do rebanho é balanceada para uma produção média de 30 litros por vaca/dia, sendo que 50% do concentrado entra na dieta total, que será servida no cocho, e 50% vai no robô, com um limitante que nenhuma vaca receberá mais do que 5 quilos de concentrado de uma vez no robô. O concentrado, feito na fazenda, possui aveia, farelo de soja e grão de milho úmido. A produção de alimentos foi outro ponto de interesse do grupo. Nos gigantescos silos herméticos (sem entrada de ar) é armazenada a alfafa pré-secada, colhida com 40% de umidade. A silagem de milho, colhida com 65% de umidade, é armazenada em silos herméticos convencionais, de rosca sem fim. A capacidade de armazenamento é de mais ou menos 1500 toneladas de silagem de milho, e em torno de 700 toneladas de pré-secado de alfafa. O custo de cada silo é de aproximadamente US$ 130 mil (custo de construção da estrutura).
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Ferme La Présentation: gigantescos silos herméticos armazenam a alfafa pré-secada e a silagem de milho produzidas na fazenda
Ferme Mystique: mais de 15 vacas com produção acima de 100.000 quilos de leite denotam a longevidade e produtividade do rebanho
A produtividade média da lavoura de milho é de 55 toneladas MV/hectare, e o custo total de produção (incluindo todo o operacional, maquinário, funcionários), fica em torno de US$ 70/tonelada de silagem. A La Présentation investe constantemente no melhoramento genético do seu rebanho, utilizando para isso a produção de embriões com preferência por touros genômicos. O rebanho atual possui 7 vacas Excelentes, 95 vacas Muito Boas e 90 Boas para Mais. Ferme Mystique De propriedade de François Paiement e Nadine Lalande, a primeira geração na atividade, a Ferme Mystique está localizada em Mirabel, Quebec. Nos 250 hectares
de terra são produzidos os alimentos para o rebanho, principalmente alfafa, milho e soja. Do rebanho total de 250 animais, 70 vacas estão em ordenha, com produção média de 11.000 quilos de leite por lactação (4,2% de gordura e 3,4% de proteína). A Mystique é especialista em alta qualidade genética da raça Holandesa. Para formação de seu rebanho, em 1987, a fazenda investiu na compra de animais de influentes famílias genéticas como Regancrest-PR Barbie, Lylehaven Lila Z e High Point Mary Lee. O rebanho possui 17 vacas Excelentes, 60 vacas Muito Boas e 10 vacas Boas para Mais. No escritório da fazenda, uma das paredes contempla certificados de
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mais de 15 vacas com produção acima de 100.000 quilos de leite, denotando a longevidade e produtividade do rebanho. Um exemplo é a vaca Rudolph Maxie EX, que em sua vida produtiva acumula mais de 106.000 quilos de leite, e está em lactação. Em 2002, a Mystique recebeu o título de Master Breeder, o máximo reconhecimento para criadores do Canadá. Ferme Blondin Simon Lalande é o proprietário da Ferme Laitière Blondin, a qual conduz juntamente à sua esposa Kim Côté. A fazenda, de 243 hectares, está localizada em St-Placide, Quebec. Possui um rebanho total de 550 animais, da raça Holandesa, com uma média de 100 vacas em lactação ao longo do ano. A produtividade é de 10.500 quilos de leite por lactação, com 4,2% de gordura e 3,2% de proteína. A principal receita da propriedade vem da venda de genética, através de embriões, novilhas, vacas paridas e alguns touros que são enviados à central. Ao ano são vendidos entre 800 a 1.000 embriões, sendo 80% deles exportados para diversos países. A principal família do rebanho, sobre a qual a Blondin expande seu trabalho de seleção, é a da vaca Blondin Skychief Supra EX-93 3E 24*. Várias fêmeas desta linhagem foram ganhadoras de exposições e também muito boas em produção. Outra família importante do rebanho
Ferme Blondin: Meadow Green Jeany Outside EX-96, um dos destaques do rebanho
é a da Talent Licorice, uma vaca fator vermelho que foi extremamente importante durante um bom tempo, e agora possui várias filhas (também fator vermelho) em produção. Uma das vacas mais populares do rebanho da Blondin é a Vàl-Bisson Shottle Imelda, mãe do touro Doorman, que tem sido largamente utilizado nos acasalamentos atuais. Imelda está em lactação e em protocolo de coleta de embriões. Grande parte do trabalho de promoção da genética Blondin é através de exposições, e por isso a fazenda participa de 7 a 10 exposições no ano, no Canadá e Estados Unidos. A Ferme Blondin recebeu o prestigiado título Master Breeder em 2002 e, em muitas ocasiões, seu rebanho trouxe para casa as faixas de
Expositor e Criador. Atualmente o rebanho possui 15 vacas classificadas como Excelentes, 95 Muito Boas e 10 Boas para Mais.
dense, e pode ser vendida a outro produtor caso haja desistência da atividade ou redução do número do rebanho. O valor atual de uma cota é de US$ 25 mil. Atualmente não há cotas disponíveis para serem adquiridas. Os produtores que desejam aumentar seu rebanho em lactação precisam esperar que algum outro produtor queira vender alguma de suas cotas, ou então que o governo libere novas cotas, caso haja demanda do mercado consumidor. Outro ponto importante é que, devido à grande organização das associações e federações ligadas à atividade, os produtores têm um orçamento anual de preços
do leite, com o qual podem planejar a produção do ano todo. Ou seja, o produtor sabe quanto receberá pelo leite entregue em todos os meses do ano. Do lado dos consumidores, existe a cultura de se preservar o produto canadense, ou seja, ter a certeza de que o leite consumido é produzido apenas dentro do país. Por esse motivo, os consumidores apoiam o sistema de controle da oferta de leite e também da administração de preços que visa garantir um retorno justo aos produtores. Por outro lado, o sistema de produção canadense exige qualidade do leite fornecido e estabilidade na entrega.
Avonlea Genetics Inc. Nos 40,5 hectares da Avonlea Genetics, localizada em Brighton, Ontário, a raça Jersey é criada há 80 anos, estando agora sob o comando da terceira geração da família. Fundada em 1934 por Bill e Jack Featherstone, a fazenda é conduzida por Andrew Vander Meulen e sua esposa Jennifer, que expressam um enorme orgulho dos animais criados. Ao longo dos anos, a Avonlea tem trabalhado intensivamente para produzir vacas longevas, produtivas, com ênfase no tipo funcional, e sem perder de vista o fator
Produção controlada O Canadá possui um sistema particular para produção de leite. Há mais de 40 anos o país instituiu um sistema de cotas de produção, através do qual regula a oferta e demanda do produto. Com mercado fechado, ou seja, a produção de leite é destinada apenas para o mercado interno, os produtores podem produzir apenas dentro das cotas liberadas pelo governo, que equilibra a produção evitando excedentes. De forma simplificada, uma cota equivale à uma vaca em produção. Ou seja, para ter 10 vacas em lactação, o produtor precisa ter 10 cotas. Essa cota é paga uma única vez ao governo cana-
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mais importante: as famílias das vacas. O rebanho Avonlea é construído sobre três principais famílias de vacas Jersey: a família da Kitty, da Robin e da Ginger. Atualmente a fazenda mantém 35 vacas em lactação e realiza um trabalho intenso de produção de genética para venda, de onde vem a maior renda da propriedade. Jennifer explica que chegaram a ter 70 vacas em ordenha, mas decidiram reduzir as vacas em lactação e gerar essa diferença de renda através da venda de animais e embriões. As vacas são mantidas em free stall, com piquetes para descanso. A produtividade média do rebanho é de 23 litros/vaca/dia, com 5,5% de gordura e 4% de proteína. Toda alimentação é fornecida no cocho, como dieta total. À base de muito volumoso de gramínea, a dieta do rebanho é extremamente eficiente em termos de custo, comparada às demais fazendas visitadas. Segundo Andrew, o objetivo é ter uma dieta com qualidade e o menor custo possível, mantendo o rebanho com produção média de 7.000 quilos por lactação. A fazenda realiza um programa bastante intenso de coleta de embriões, os quais são vendidos tanto no Canadá como também em outros países (já exportaram embriões pra mais de 35 países diferentes). As doadoras de embriões são vacas de muita solidez de pedigree, com várias gerações conhecidas. Isso também vale para a escolha dos touros, sendo que os mais utilizados atualmente são Excitation, On Time e Comerica. A Avonlea coleciona diversos títulos conquistados nas principais exposições do Canadá, além de premiações por Vida Produtiva, Líder em Produção e Teor de Sólidos (gordura e proteína). Possui também Dois Grandes Campeonatos Nacionais e por duas vezes recebeu o título de Master Breeder do Canadá. Andrew Vander Meulen foi o responsável pelo julgamento da raça Jersey no Agroleite 2014, em Castro, PR. Crovalley Holstein Esta tradicional fazenda leiteira do Canadá foi totalmente reconstruída em 1980, após ter sido destruída por um incêndio em 1977. Além da infraestrutura, todas as vacas morreram no incêndio. O proprietário John Crowley, junto a sua esposa e filhos, reiniciou a formação do » 46
Avonlea Genetics: Andrew Vander Meulen exibe belo exemplar do rebanho Jersey, ao lado do Diretor Presidente da Semex Brasil, Nelson Ziehlsdorff
Crovalley Holstein: a filosofia de seleção prioriza conformação e eficiência produtiva
rebanho com a compra de algumas novilhas Holandesas de criadores renomados do Canadá. Desde então, tem trabalhado intensivamente com a coleta e transferência de embriões, o que ajudou muito a aumentar o rebanho a partir das famílias com as quais a fazenda queria trabalhar. A Crovalley está situada em Hastings, Ontário, e possui 566 hectares, nos quais são produzidos milho, soja, alfafa e trigo. É uma empresa familiar, pais e filhos que conduzem a fazenda. No verão há dois funcionários que trabalham durante meio período na lavoura, mas no restante do ano é só a família. O rebanho total é de 300 animais. As 80 vacas em lactação são mantidas em tie stall, produzem em média 11.000 quilos de leite por lactação, com 4,0% de gordura e 3,4% de proteína. A filosofia de seleção da Crovalley prioriza a conformação e eficiência produtiva. Seu foco sempre foi a produção de
animais de pista de alta qualidade, mas ultimamente tem aliado a alta classificação dos animais à alta produtividade. Hoje são 42 vacas Excelentes, 68 Muito Boas e 6 vacas Boas para Mais. A Crovalley tem uma demanda constante de embriões, tanto para o mercado nacional como para o exterior. Nos últimos três anos, mais de 200 embriões foram vendidos para compradores internacionais. Bosdale Farms Inc. A atividade leiteira da Bosdale, desenvolvida com trabalho totalmente familiar, consiste em 150 vacas em lactação, mantidas em um tie stall construído em 2005. A fazenda, que recebeu duas vezes o título de Master Breeder da Raça Holandesa, está localizada em Cambridge, Ontário, e possui 445 hectares. A suinocultura é outra atividade desenvolvida pela Bosdale. A produtividade média do rebanho é
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de 10.800 quilos de leite por lactação, com 4,1% de gordura e 3,4% de proteína (média de 33 litros/vaca/dia). As vacas recebem uma dieta total composta por silagem de milho, pré-secado de alfafa, grão de milho úmido, grãos de destilaria e núcleo mineral, além do feno. Em relação à classificação, o rebanho possui atualmente 50 vacas Excelentes, 120 Muito Boas e 20 vacas Boas para Mais. Os principais touros utilizados são Fever, Seaver, Contrast e Windbrook. A produção de embriões para venda é uma importante fonte de renda. A Bosdale tem exportado embriões para Austrália, Reino Unido, Brasil, Itália, Holanda, Alemanha, Japão, entre outros países. Heritage Hill Farms Fundada em 1942 nas proximidades de Toronto, a Heritage Hill foi transferida para esta nova área de 178 hectares, em New Dundee, Ontário, há quatro anos. Está na sétima geração familiar de produtores de leite, que demonstra grande atenção ao conforto animal. Os animais ficam confinados o ano todo em free stalls recém construídos. As camas são de esterco compostado, com divisórias móveis que evitam lesões (conhecido como free stall verde, devido à cor das estruturas). As 62 vacas em ordenha produzem, em média, 35 litros/dia, com 4,2% de gordura e 3,3% de proteína. Toda a alimentação do rebanho é produzida na fazenda: silagem de milho, feno e pré-secado, milho grão, soja e trigo. Atualmente o rebanho possui duas vacas classificadas como Excelentes, 36 Muito Boas e 34 Boas para Mais. Os principais touros utilizados são Fever, Seaver, Stanleycup, Steady, Doorman e Jett Air. A fazenda produz embriões para exportação, principalmente para Finlândia. Fradon Holsteins Ltd. As novas instalações da Fradon Holsteins, construídas dentro dos 41 hectares em Woodstock, Ontário, foram inauguradas em junho de 2014. O rebanho possui 85 vacas em ordenha, sendo 25 vacas classificadas como Excelentes, 40 vacas Muito Boas, e de 15 a 20 vacas Boas para Mais. A produção média é de 10.000 quilos de leite por lactação, com 4,2% de gordura e 3,3% de proteína. O rebanho é predominantemente Holandês Preto e Branco, mas pos-
Bosdale Farms: 150 vacas Holandesas em lactação são mantidas em tie stall
Heritage Hill Farms: no free stall recém-construído, o conforto animal é prioridade
Fradon Holsteins: nas novas instalações da fazenda, as vacas em lactação são alojadas em compost barn
sui vários exemplares Vermelho e Branco. As novas instalações proporcionaram maior conforto e bem-estar ao rebanho. As vacas em lactação migraram do tie stall, da fazenda anterior, para o compost barn, e as bezerras desmamadas e
novilhas ficam em camas sobrepostas. A principal família do rebanho descende da vaca Fradon Rudolph Jodie, nomeada vaca do ano em 2008, com 10 filhas classificadas EX e 13 filhas MB. A venda de embriões é um negócio importante den» 47
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tro da fazenda. Semanalmente é feita a aspiração folicular das vacas doadoras, para posterior fertilização in vitro (FIV). Parte dos embriões produzidos é utilizada na própria fazenda e o restante congelado para comercialização. Os principais touros utilizados são Lauthority, Sid e Sympatico.
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Dr. Claudio Aragon participou como jurado auxiliar no julgamento dos animais da raça Jersey
THE ROYAL AGRICULTURAL WINTER FAIR As vencedoras Grande Campeã Holandês Preto e Branco: RF Goldwyn Hailey Grande Campeã Holandês Vermelho e Branco: Blondin Destry Sally Grande Campeã Jersey e Campeã Suprema: Arethusa Response Vivid ET Fotos: Eduardo A. Fey
Shows de genética Na agenda do grupo brasileiro estavam programadas também visitas a renomadas exposições de gado leiteiro do Canadá. Assim que chegou ao país, o grupo pôde conferir os julgamentos do Supreme Dairy Show, em Saint-Hyacinthe, Quebec, com animais de cinco diferentes raças, vindos do Canadá, Estados Unidos e outros países do mun do. Além de apreciar o que há de melhor em genética leiteira, os brasileiros puderam conversar com os expositores, muitos deles donos das fazendas visitadas pelo grupo. O trabalho dos preparadores dos animais também chamou a atenção, já que muitas das técnicas de preparo realizadas no Brasil não são permitidas nos julgamentos canadenses. Entre os animais premiados, destaque para a vaca Fortale Barbwire Pomlie, de propriedade do empresário brasileiro Nelson Eduardo Ziehlsdorff em parceria com a Ferme Intense Inc., que sagrou-se Campeã da Categoria Fêmea 2 Anos Júnior (Holandês Vermelho e Branco). Esta vaca já havia conquistado o mesmo título na Exposição de Montmagny 2014, em Quebec, além de ser Reservada Campeã Vaca Jovem e 3a Melhor Vaca da mesma Exposição. No mesmo evento, Nelson Ziehlsdorff recebeu o prêmio “International Friend in Dairy Cattle Breeding” (Amigo Internacional das Raças Leiteiras), um reconhecimento pela contribuição do criador estrangeiro na promoção das raças leiteiras de Quebec. O título de Grande Campeã da raça Holandesa foi para a vaca RF Goldwyn Hailey, e a faixa de Reservada Grande Campeã ficou com Jacobs Goldwyn Valana. Os resultados da Supreme Dairy Show consagraram o touro Goldwyn como o melhor touro nas categorias adultas. Já nas categorias jovens, o destaque foi para o touro Doorman. A segunda exposição canadense visitada pelo grupo gerava muita expectativa. The Royal Agricultural Winter Fair é a maior feira indoor agrícola e equestre do mundo.
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1. RF Goldwyn Hailey 2. Arethusa Response Vivid ET
Sua 92a edição aconteceu entre os dias 07 a 16 de novembro, em Toronto, Ontário. Durante dois dias o grupo pôde acompanhar os julgamentos das raças Holandesa e Jersey, além dos shows equestres, exposição de diversos animais, atividades para a família e inúmeras novidades apresentadas pelas empresas expositoras. Motivo de grande orgulho para os brasileiros, o Dr. Claudio André da Cruz Aragon fez parte do time de jurados da maior exposição de gado leiteiro do mundo, pelo segundo ano. Durante a Royal 2014, o Diretor Técnico de Raças Leiteiras da Semex Brasil participou como jurado auxiliar no julgamento dos animais da raça Jersey. Foram avaliados cerca de 240 animais, distribuídos em 20 categorias. “Fui convidado pelo Andrew Vander Meulen para ser seu auxiliar
aqui na The Royal, o que foi uma honra bastante grande pra mim”, disse o Dr. Aragon, que já participou como jurado em outras exposições ao redor do mundo, como Expo Nacional Uruguai, Trois Rivières Holstein Show, Québec Spring Show, Melbourne Royal Jersey Show Austrália, Ontario Summer Show, além de várias exposições no Brasil. Dr. Aragon enalteceu a qualidade dos animais inscritos no evento. "Mais uma vez a raça Jersey brilhou na Royal. Uma excelente exposição de animais jovens, culminando com a Campeã Fêmea Jovem que foi uma das mais completas bezerras que tive oportunidade de ver. As categorias de vacas em lactação, com destaque para as categorias de vacas 2 anos, foram simplesmente fantásticas”, ressaltou.
— janeiro 2015
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1. Supreme Dairy Show, em Saint-Hyacinthe, Quebec 2. The Royal Agricultural Winter Fair, em Toronto. Maior feira indoor agrícola e equestre do mundo
Novas experiências O tour realizado pela Semex Brasil tem como principal intuito mostrar aos produtores e técnicos brasileiros os modelos de produção leiteira do Canadá, tanto das fazendas comerciais como das produtoras de genética, e também a origem dos touros que têm seu sêmen comercializado no Brasil. O Diretor Presidente da Semex Brasil, Nelson Eduardo Ziehlsdorff, conta que esse tour é realizado há mais de sete anos, com o objetivo de proporcionar aos criadores do Brasil um intercâmbio entre a filosofia, a política e organização de produção dos dois países, de forma muito assertiva e rentável para o dia a dia dos produtores. “Acreditamos que a formatação da cultura do Canadá é muito
similar a do Brasil, onde a família é envolvida no processo, nas rotinas diárias. Vemos aqui muitas fazendas com 60, 70 vacas no leite, com a família à frente do negócio”, afirma Ziehlsdorff. O empresário explica que a busca por seleção é muito apurada no Canadá, assim como a melhoria da qualidade dos alimentos a serem fornecidos aos animais. “Desta forma eles conseguem expressar todo potencial genético dos animais na fazenda. Buscando sempre o tipo funcional com longevidade, que é o que nós estamos buscando atualmente no Brasil”. Claudio Aragon ressalta que “as pessoas que participam da viagem conseguem adaptar muitas coisas vistas nas fazendas canadenses e, principalmente, têm muito mais segurança de usar
a genética disponível, porque tiveram a oportunidade de ver de onde vem essa genética, e muitas vezes podem ver até filhas dos touros que estão usando em suas fazendas”. Em dias intensos de conhecimentos e novidades, o grupo conheceu a realidade das fazendas leiteiras do Canadá. Dos sistemas e instalações utilizados até o trabalho de seleção genética, o que pôde ser visto foi um total comprometimento das pessoas envolvidas, na busca pelos melhores resultados. Com muito profissionalismo e competência, essas empresas de perfil totalmente familiar certamente são um modelo a ser seguido. Marlizi Marineli Moruzzi
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