21 A 27 DE JUNHO DE 2020 | TESTEMUNHO DE FÉ
ARQUIDIOCESE
Caminho vocacional, caminho de esperança
Celebrando no dia 21 a memória de São Luís Gonzaga, a Igreja o apresenta como patrono de toda a juventude e, de maneira mais especial, como patrono dos seminaristas em preparação para a vida sacerdotal. Em nossa arquidiocese o Seminário São José, com seus 280 anos, é a casa onde são formados os ‘jovens levitas’, como tradicionalmente eram chamados os estudantes dos seminários, inserindo-se num belo caminhar da história da Igreja e da formação sacerdotal. A REFORMA TRIDENTINA E OS PRIMEIROS SEMINÁRIOS Em 15 de julho de 1563, na sessão XXIII do Concílio de Trento, o Papa Pio IV promulgava o decreto dos padres conciliares acerca do Sacramento da Ordem, cujo último capítulo, XVIII, tratava “Do método de erigir um seminário de clérigos e educá-los nele”. Vendo na Igreja a necessidade de bem preparar aqueles que futuramente exerceriam o pastoreio de Cristo em meio a suas ovelhas, os padres conciliares pedem que “todas as catedrais metropolitanas e igrejas maiores tenham a obrigação de manter e educar religiosamente e insistir na disciplina eclesiástica, segundo as faculdades e extensão da diocese, certo número de jovens”, formando, assim, um colégio “que seja um plantel perene de ministros de Deus”. Nessa casa que deve ser uma “sementeira” de onde germinem santos sacerdotes, determina o concílio que os alunos “aprenderão gramática, canto, cálculo eclesiástico e outras faculdades úteis e honestas, aprenderão a sagrada Escritura, os livros eclesiásticos, homilias dos Santos e as formas de administrar os sacramentos, em especial o que conduz a ouvir as confissões e os demais ritos e cerimônias”. A Igreja vai, assim, respondendo aos anseios dos tempos com uma preparação cada vez mais aprimorada aos sacerdotes para que bem sirvam o povo de Deus. Um dos primeiros bispos a colocar em prática as determinações do Concílio de Trento sobre a formação dos seminários foi o arcebispo de Milão, São Carlos Borromeu, que já no ano seguinte, em 10 de de-
zembro de 1564, inaugurava o Seminário Conciliar de Milão, inicialmente aos cuidados dos padres jesuítas. Grande incentivador das vocações sacerdotais, procurará por todos os meios ajudar o bom discernimento nas várias situações, criando o seminário menor, mas também um instituto especializado para as chamadas “vocações tardias”, além de um instituto para preparar sacerdotes para trabalhar no meio rural, tudo isso para que povo de Deus fosse bem assistido por sacerdotes capazes de exercer o pastoreio com dedicação, humildade e caridade. Ilustra bem o conselho que ele dá aos novos sacerdotes durante uma ordenação em 1578: “Não fiqueis satisfeitos apenas com vosso progresso no caminho para o Senhor, no caminho da virtude; esforçai-vos para que o resto das pessoas se santifique através do vosso exemplo e da vossa palavra”. OS PRIMEIROS SEMINÁRIOS NO BRASIL No Brasil, tivemos que esperar até o ano de 1739, quase 200 anos depois das disposições do Concílio de Trento sobre a formação dos seminários, para termos a primeira casa diocesana para a formação do clero. Essa bela e santa empreitada coube ao então bispo do Rio de Janeiro, Dom frei Antônio de Guadalupe, OFM, que fundou o Seminário São José em 5 de setembro de 1739, inicialmente no Morro do Castelo, em prédio hoje desaparecido junto com o morro, demolido na década de 20. A fundação do Seminário São José abre, assim, as portas para a fundação de outras casas de formação no Brasil, como o seminário de Mariana, fundado por Dom frei Manuel da Cruz em 1750, e o Seminário Nossa Senhora da Graça de Olinda, fundado por Dom Azeredo Coutinho, em 1800. O Seminário São José: personagem ilustre das histórias do Rio e do Brasil “Mas tu gostavas tanto de ser padre, disse ela; não te lembras que até pedias para ir ver sair os seminaristas de São José, com as suas batinas?” Assim se expressava a mãe do personagem Bentinho em um dos mais famosos romances do grande Machado de Assis,
REPRODUÇÃO: GOVINFO.GOV/CONTENT/PKG/GPO-CDOC-103SDOC27/PDF/GPO-CDOC-103SDOC27-10-5.PDF
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São Luis Gonzaga recebendo a primeira comunhão das mãos de São Carlos Borromeu, Constantino Brunidi, séc. XIX
Dom Casmurro, publicado em 1899. O seminário, fundado por Dom frei Antônio de Guadalupe no Rio de Janeiro, logo se tornou uma referência na sociedade carioca, tornando-se até, como vemos, “personagem” de obra machadiana. Na obra,
Bentinho acaba saindo do seminário, pois, como lembrará Machado, “15 anos, não havendo vocação, pediam antes o seminário do mundo que o de São José”. Também fora do mundo da ficção o seminário São José
formará grandes nomes para a sociedade brasileira, sendo reconhecido pela educação primorosa oferecida aos alunos. Um exemplo a ser citado é de Joaquim José Rodrigues Torres, o Visconde de Itaboraí, exímio estadista do Império,